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Resenha Teoria Politica Contemporânea
Resenha Teoria Politica Contemporânea
Charles Taylor analisa de que forma o multiculturalismo pode funcionar dentro de uma
democracia liberal. O reconhecimento, para Taylor, paira de forma grandiosa sobre a
política contemporânea. De movimentos nacionalistas a demandas de grupos minoritários
ou subalternos no feminismo e multiculturalismo, a invocação do reconhecimento é um
dos pilares do discurso político atual, e em parte por um bom motivo – nossa identidade
é parcialmente moldada pelo reconhecimento ou pela ausência dele, causando grandes
danos às populações que são afetadas pela ausência ou interpretação incorreta desse
processo: o não reconhecimento não é apenas falta de respeito, mas a privação do que o
autor considera ser “uma necessidade humana vital” (TAYLOR, 2000, p. 46) que está
interligada também à percepção do indivíduo como sendo detentor de direitos e é
fundamentada na relação cultural. Para analisar o reconhecimento e sua importância,
Taylor procura compreender como que o discurso de reconhecimento ganhou o
significado que possui atualmente, e para isso extrai duas mudanças que tornaram a
preocupação com essas ideias em algo inevitável.
A primeira é o colapso das hierarquias sociais, que eram as bases para a honra. A
exigência por reconhecimento é, historicamente, um fenômeno novo que surgiu como
resultado da perda de valor da honra e do aumento do valor da dignidade. A dignidade se
manifesta nos discursos de universalismo, igualdade, direitos, cidadania, etc. O
reconhecimento, a autenticidade e a identidade nos levam a uma direção diferente: a
política da diferença. A política da diferença exige reconhecimento por coisas que não
compartilhadas universalmente. Isso pode ser apoiado pela política da dignidade, mas
pode ser também facilmente combatido por ela. Este é o primeiro ponto de tensão no
cerne do multiculturalismo no mundo moderno: no debate sobre onde conceder
reconhecimento, a universalidade pode ser um aliado ou inimigo da identidade e,
portanto, para o reconhecimento em si. Uma segunda tensão é que o reconhecimento
universal de valor e respeito por um indivíduo ou cultura entra em conflito com a
particularidade da cultura individual. Autores chaves nesse processo de investigação no
que concerne ao senso de moralidade, identidade, originalidade e autenticidade, que são
questões que compõem e dialogam entre si na análise de Taylor sobre o reconhecimento
foram Rousseau, Herder e, posteriormente, Hegel. Taylor, entretanto, rejeita a
homogeneidade social trazida na ideia hegeliana do “eu” no “nós” e “nós” e “eu”, o que
considera terreno fértil para o sufocamento da diferença.
Em primeiro lugar, o princípio do respeito igual exige que as pessoas sejam
tratadas de uma forma que ignore a diferença. A intuição fundamental de que
este respeito depende das pessoas centra-se naquilo que é comum a todas elas.
Em segundo lugar, temos de reconhecer e até mesmo encorajar a
particularidade. A crítica que a primeira faz à segunda consiste na violação que
esta comete do princípio de não-discriminação. Inversamente, a primeira e
criticada pelo facto de negar a identidade, forçando as pessoas a ajustarem-se
a um molde que não lhes é verdadeiro. Já seria suficientemente mal se se
tratasse de um molde neutro - ou seja, que não pertencesse a ninguém, em
particular. Mas, geralmente, as pessoas levam a reclamação mais longe.
Queixam-se do facto de o conjunto, supostamente neutro, de princípios que
ignoram a diferença e que regem a política de igual dignidade ser, na verdade,
um reflexo de uma cultura hegemônica. Se assim é, então só a minoria ou as
culturas subjugadas são forçadas a alienarem-se.
(2000, p. 63)
Seguindo Hegel e Mead, Honneth identifica três esferas de interação que são
conectadas aos três padrões de reconhecimento necessários para o desenvolvimento de
uma relação positiva do indivíduo consigo mesmo. Estes são o amor, o direito e a
solidariedade, que dão nome ao capítulo. A esfera do amor refere-se ao âmbito das
necessidades físicas e emocionais que devem ser supridas pelos outros; ela assume a
forma de nossas relações primárias (ex: familiares, amorosas). Essa esfera fornece uma
autoconfiança básica, que pode ser rompida por meio do abuso físico. A esfera do direto
refere-se ao desenvolvimento da responsabilidade moral, desenvolvida através das nossas
relações morais com os outros; sendo um modo mútuo de reconhecimento onde o
indivíduo aprende a ver a si mesmo pelo ponto de vista do outro na interação como
portador de direitos iguais. A negação de direitos por meio da exclusão social e legal pode
ameaçar a autopercepção do indivíduo como um membro da sociedade plenamente ativo,
igual e respeitado dentro dela (o que justifica a base dos movimentos sociais). A esfera
da solidariedade, por sua vez, refere-se ao reconhecimento de nossas características e
habilidades; sendo crucial para o desenvolvimento da autoestima e para a formação do
senso de individualidade, já que para o autor são as caraterísticas e habilidades que
definem as diferenças pessoais. Um arranjo de um estado onde o reconhecimento é pleno
permite uma distinção entre lutas progressivas e emancipatórias e aquelas que são
reacionárias e/ou opressivas. Portanto, ao possibilitar a autorrealização de seus desejos,
características e habilidades, podemos avaliar as lutas sociopolíticas atuais e analisar suas
direções futuras, de modo a garantir o florescimento das condições de autorrealização.
BIBLIOGRAFIA
1. TAYLOR, Charles. A política do reconhecimento. In:_____. Argumentos
filosóficos. Loyola: São Paulo, 2000.
2. HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento: a gramática moral dos
conflitos sociais. São Paulo: 34, 2003, capítulo 5.