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Os Cananeus

Parte B
Texto Base: Salmos 29
Os Mitos Cananeus
Como no caso mesopotâmico, o aspecto cíclico e anual do “eterno retorno” também
está presente no mito de Baal. A narrativa da vitória de Baal sobre as forças caóticas
reflete a preocupação humana com sua existência e subsistência. Baal era a divindade
que lutava permanentemente pela manutenção da vida que ele mesmo proporcionou.
Na origem dos tempos, foi ele quem venceu Yam, o dragão do caos, a força caótica do
mar, anterior á ordem do cosmos. Mesmo depois de concluída a obra criadora, o caos
continuou a ameaçar o mundo ordenado, ainda que de outras formas: pela falta de
chuvas, pelo deserto, pela infertilidade das mulheres, que atacava a vida e a
manutenção do que foi criado.
Esses elementos de caos eram trazidos pelo deus Mot. Aliás, “mot” era a palavra
cananeia correspondente ao hebraico “Morte”. A luta de Baal contra Mot
representava a batalha mítica dos deuses pela vegetação, pela fertilidade das lavouras
e dos animais, e pela vida contra a morte.
Os Templo Cananeu e o Templo Hebreu
O templo construído em Jerusalém tinha características cananeias e sírias típicas, o
que mostra o tamanho da influência dos engenheiros oriundo de Tiro. A estrutura
fundamental seguia o modelo consagrado na Síria, tendo um pórtico, uma nave
(santuário) e um santuário interior (Santo dos Santos). Um detalhe interessante que
apareceu no templo construído por Salomão foram duas colunas de bronze na
entrada, de caráter estético, sem função de sustentação (1 Reis 7:21).
Essas colunas chamam a atenção por serem características dos templos cananeus. No
templo de Baal de Tito, Heródoto viu duas impressionantes colunas desse tipo, uma de
ouro e outra de esmeralda.
Assim como no caso egípcio, a presença de um Santo dos Santos, área de acesso
restrito, tinha relação com um mesmo “discurso de separação” entre o divino e o
humano constante nas culturas antigas. Conceitualmente, essas arquiteturas
demonstravam que havia uma cisão entre os homens e Deus e que não era possível ao
homem comum e pecador chegar à santidade de Deus.
Castigo contra os Cananeus
Havia uma ordem divina para que o povo de Israel, ao entrar na Terra Prometida,
expulsasse ou exterminasse os cananeus. E a razão não era sua etnia, cultura,
estrutura estatal, navegação, escrita, nem mesmo por causa de algumas de suas
crenças.
A ordem tinha a ver com aspectos abomináveis da religião Cananéia (Deuteronômio
7.22-26).
No caso dos cananeus, foram dois elementos que, segundo o relato bíblico,
despertaram a ira divina: os sacrifícios infantis e a prostituição ritual.
Os primogênitos eram os herdeiros da maior parte da riqueza da família e levavam
adiante o nome do pai. Eles ficavam com a herança, pois representavam a própria
família, a totalidade do clã. Isso fica evidente quando analisamos a décima praga – a
morte dos primogênitos – e o que isso significou para o povo de Israel.
Diante do peso simbólico que o primogênito de uma família carregava, podemos
imaginar o significado do sacrifício de um primogênito para um ídolo como Baal ou
Astarte. Deus não poderia deixar impune o pecado daqueles que, em vez de cuidar e
proteger, assassinavam seus filhos.
O Sincretismo do Povo de Deus
A religião cananeia foi extremamente atraente para o povo hebreu. A abstração do
Deus sem imagens, um “absolutamente Outro”, pode ter sido difícil para eles. Também
podemos pensar na busca de outros deuses mais eficazes quando as dificuldades
apareciam. Se o hebreu passava por dificuldades, o que lhe custava fazer uma
oferenda a Baal para ver se a vida melhorava?
Luta de Senhores no Carmelo
A narrativa de 1 Reis 17 a 19 apresenta uma intensa “Batalha de deuses”. Como a
atuação do profeta Elias envolvia uma prolongada seca antes do embate (1 Reis 17:1),
a divindade atingida foi Baal, o deus da tempestade, das chuvas e da fertilidade da
terra. Três anos e meio sem chuvas representavam uma crise sem precedentes em
uma terra que dependia exclusivamente delas para suas plantações.
O Deus Supremo entre os Cananeus
Como já mencionado, os mais diversos povos possuem uma noção de sagrado, uma
disposição diante do mistério.
De acordo com Rudolf Otto, esse fundamento é inerente a humanidade. Outro fato
que Otto mencionou em sua obra é o fenômeno, presente em muitos mitos religiosos,
da crença em “superdeuses”, sem função direta na vida religiosa cotidiana, mas aos
quais se atribuem uma condição de divindade superior a todo restante do panteão.
Os missionários encontram esses fenômenos nas missões transculturais:
“quando a missão apresenta uma pregação teista, esses superdeuses, muitas vezes,
são facilmente reconhecidos como Deus, oferecendo referenciais para a pregação
missionária, sendo que, convertidos, depois admitem que conheciam, sim, a Deus, só
que não o adoravam”.
Há uma presença de Deus na formação cultural humana dando testemunho de si
mesmo, ao mesmo tempo que há a ação da queda e do pecado. Então, é preciso
discernir onde encontramos um ou outro.

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