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UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU

CENTRO CIÊNCIAS HUMANAS E DA COMUNICAÇÃO


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E FILOSOFIA

MARTIN STABEL GARROTE

RELATÓRIO ANALÍTICO DE ESTÁGIO


A QUESTÃO AMBIENTAL

BLUMENAU
2013
1

MARTIN STABEL GARROTE

RELATÓRIO ANALÍTICO DE ESTÁGIO


A QUESTÃO AMBIENTAL

Relatório Final de Estágio apresentado ao Curso de Ciências


Sociais, do Centro de Ciências Humanas e da Comunicação, da
Universidade Regional de Blumenau – FURB, como requisito
final para avaliação da disciplina de Estágio em Ciências
Sociais.

Professora orientadora: Rita de Cássia Marchi

BLUMENAU
2013
2

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................. 3

2 PRESSUPOSTOS DA TEORIA SOCIOLÓGICA PARA FUNDAMENTAR


A PRÁTICA DE ESTÁGIO........................................................................ 8
2.1 A SOCIOLOGIA E A QUESTÃO AMBIENTAL........................................ 13

3 APRESENTAÇÃO DOS CAMPOS DE ESTÁGIO................................. 17


3.1 EEB PADRE JOSÉ MAURÍCIO................................................................... 17
3.2 GRUPO DE PESQUISA EM HISTÓRIA AMBIENTAL DO VALE DO
ITAJAÍ – GPHAVI......................................................................................... 29

4 DA PROPOSTA DE ESTÁGIO E DA ANÁLISE CRÍTICA SOBRE O


MESMO......................................................................................................... 32
4.1 O ESTÁGIO NO ENSINO MÉDIO............................................................... 32
4.1.1 O contato inicial e as observações............................................................... 32
4.1.2 O planejamento das aulas da atividade de estágio.................................... 34
4.2 PLANOS DE AULA...................................................................................... 35
4.2.1 Plano de aula do dia 12/06/2012.................................................................. 35
4.2.2 Plano de aula do dia 19/06/2012.................................................................. 36
4.2.3 Plano de aula do dia 26/06/2012.................................................................. 37
4.2.4 Relato das aulas ministradas....................................................................... 38
4.3 PLANOS DE AULA DO ESTÁGIO (segundo semestre 2012).................... 39
4.3.1 Plano de aula do dia 25/10/2012.................................................................. 39
4.3.2 Plano de aula dos dias 30/10 e 01/11/2012................................................. 40
4.3.3 Plano de aula do dia 12/11/2012.................................................................. 41
4.3.4 Plano de aula do dia 20 e 29/11/2012.......................................................... 42
4.3.5 Relato das aulas ministradas (segundo semestre 2012)............................ 42
4.4 GRUPO DE PESQUISAS DE HISTÓRIA AMBIENTAL DO VALE DO
ITAJAÍ............................................................................................................ 44
4.4.1 A escolha do campo de estágio.................................................................... 45
4.4.2 A questão ambiental e a História Ambiental............................................ 46
4.4.3 Relato das atividades realizadas................................................................. 48

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................... 54

REFERÊNCIAS........................................................................................... 56

ANEXOS.......................................................................................................
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1 INTRODUÇÃO

Ao vermos a realidade nos centros urbanos e periferia, nas notícias de jornais e de


telejornais, vemos presente uma individualização do ser humano, quebra e ruptura de valores,
egoísmo, consumismo, corrupção, desigualdade e violência e principalmente o caos ambiental
resultante dos processos sociais sobre o ambiente. Vivemos hoje, portanto, em plena crise
social e ambiental. O que respalda o modelo de sociedade em que vivemos hoje,
fundamentado no que Karl Marx denomina “modelo burguês” é decorrente de uma história de
modificações que vão do fim do Feudalismo, ao Renascimento Cultural, Iluminismo,
Revolução Francesa e a Revolução Industrial. A sociedade que se desenvolveu durante esse
período passou a ser escrava dos meios de produção capitalista, dependente do mercado e do
capital, com uma massa proletária dominada pela classe burguesa.
É durante essa fase, que inicia no Renascimento até o surgimento da sociedade
industrial, que a Sociologia vai se constituir como uma ciência que estuda a sociedade. E ela
vai estudar justamente os problemas sociais decorrentes dos processos que iniciam com o
Renascimento, Iluminismo e as revoluções burguesas (Revolução Francesa e Industrial), no
final do século XVIII e início do XIX.
Estes problemas sociais vão receber atenção dos pensadores clássicos da Sociologia
como Karl Marx, Emile Durkheim e Max Weber. Esses pensadores fundadores da Sociologia
buscavam compreender os problemas sociais analisando as suas causas e soluções. Assim, a
Ciência Social é um meio de estimular aos indivíduos uma visão crítica sobre a realidade,
para que os sujeitos passem a conhecer o porquê da situação em que se encontram e como
podem mudá-la. Com o papel de estimular o senso crítico sobre a realidade sociocultural a
Sociologia passou a ser obrigatória em 2008 como disciplina no Ensino Médio em todo o
Brasil. O objetivo é propiciar ao estudante uma visão complexa sobre a sociedade e
ferramentas para analisá-la, de modo a despertar no sujeito o estranhamento dos fatos do
cotidiano e a tomada de decisão por mudanças a partir dele próprio como sujeito social.
No Brasil a disciplina de sociologia no ensino médio representa um avanço para
possibilitar que a sociedade alcance com ampla criticidade e participação, mudanças que
evidenciem um bem estar de vida e ampla democracia. Segundo Ferreira (2008) Florestan
Fernandes salientava que os primeiros esforços para a implantação do ensino de sociologia
visavam a adequação da sociedade à racionalidade capitalista, através da limitação das
funções universais da sociologia, tirando a capacidade de exercer crítica aos desajustes
conjunturais e estruturais que a ordem capitalista promove. Nesse modelo caberia à sociologia
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a constituição de capacidades de ajuste (sociais e individuais) à realidade instável e também


criar uma identidade nacional através da educação, num momento em que o país, formado por
imigrantes, negros, trabalhadores rurais, índios, mestiços, vivenciava mudanças profundas
operadas pela industrialização. Arriscamo-nos a constituir uma ponte entre momentos
históricos e indagar se houve no crescimento econômico desenvolvimento educacional, qual o
seu objetivo e que tipo de papel o Estado espera que a sociologia (e a filosofia) cumpra dentro
do ensino.
Segundo Sarandy (2001), o conhecimento sociológico certamente beneficiará nosso
educando na medida em que lhe permitirá uma análise mais acurada da realidade que o cerca
e na qual está inserido. Mais que isto, a sociologia constitui contribuição decisiva para a
formação da pessoa humana, já que nega o individualismo e demonstra claramente nossa
dependência em relação ao todo, isto é, à sociedade na qual estamos inseridos.
Ao seu favor, a sociologia cumpre um importante papel (não exclusivo) na formação
política da juventude (e também dos trabalhadores da educação) aproximando-os de
originários do pensamento político e social. Potencializa igualmente laboratórios escolares
vinculados à própria realidade como a vida social na vila, no bairro, comunidade. Relações de
gênero, religiosas, étnicas, comunicação de massa, e grupos de afinidades. E também estudos
sobre grupos de poderes locais, classes sociais, movimentos sociais e relações de poder, etc.
O arcabouço teórico e as pesquisas de campo podem ser elementos fundantes para uma
escola mais ativa e menos apática e cordata (FERREIRA, 2008).
Assim podemos iniciar uma reflexão sobre a importância, especificidade ou sentido da
sociologia no ensino médio, profissionalizante e superior no país. A disciplina contribui para
a formação humana na medida em que proporciona a problematização da realidade vivenciada
pelos estudantes a partir de diferentes perspectivas, bem como pelo confronto com realidades
culturalmente distantes. Nesse sentido o Ensino de Sociologia promove no estudante um
momento de desnaturalização das verdades sociais impostas como absolutas e que
determinam os rumos da história, e de estranhamento das relações sociais, ou dos fatos da
vida social (SARANDY, 2001). E com isso, os estudantes poderão se apropriar de um modo
de pensar distinto sobre a realidade humana, não pela aprendizagem de uma teoria, mas pelo
contato com diversas teorias e com a pesquisa sociológica, seus métodos e seus resultados.
Nesse sentido, o objetivo do ensino de sociologia como, aliás, deveria ser o de qualquer
ciência, é proporcionar a aprendizagem do modo próprio de pensar de uma área do saber
aliada à compreensão de sua historicidade e do caráter provisório do conhecimento,
expressões da dinâmica e complexidade da vida (SARANDY, 2001; SARANDY, 2004).
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Quando o aluno compreende que os cheiros, os gestos, as gírias, as tensões e


conflitos, as lágrimas e alegrias, enfim, o drama concreto dos seus pares, é em
grande medida resultante de uma configuração específica de seu mundo, então a
sociologia cumpriu sua finalidade pedagógica. No fim das contas, é a cidadania e a
democracia de nosso país que saem ganhando (SARANDY, 2001, p.12).
Desta forma, a realização da prática do ensino de sociologia iniciada pelo estágio
proporciona um panorama para definir as estratégias de como serão tratados os temas sobre a
sociedade junto a atores sociais potencialmente em conflito num mundo com padrões e regras
burguesas que hoje estão conflitantes com o modo de vida. A sociedade vive hoje um caos e
este deve ser bem entendido e assimilado com senso crítico. Desta forma o ensino de
sociologia promove elementos que possibilitam ao sujeito a construção da cidadania por meio
da formação dos cidadãos e da preparação básica para o trabalho por meio do entendimento
das suas novas formas de organização e da produção em tempos de globalização. Além disto,
a sociologia também promove uma compreensão da realidade na qual estamos inseridos
especialmente pelo desenvolvimento de seu modo específico de reflexão crítica. São esses
elementos que constituem a preocupação fundamental que deve nortear o ensino da sociologia
e justificar a sua inclusão na grade curricular do Ensino Médio (SARANDY, 2001;
SARANDY, 2004).
Neste relatório apresentaremos a experiência adquirida no Estágio em Ciências Sociais
realizado em 04 disciplinas: Estágios I, II, III e IV. Conforme a Matriz Curricular do Curso de
Licenciatura e Bacharelado em Ciências Sociais da Universidade Regional de Blumenau em
20101, o estudante deve realizar estágio de licenciatura, preparando-se como futuro professor,
e também para sua atuação como pesquisador em Ciências Sociais.
Os resultados do estágio, apresentados neste relatório, estão divididos em duas etapas
ou campos de estágio: a primeira, que consistiu na realização de observações e regências no
Ensino Médio foi realizada na Escola Estadual Padre José Mauricio no Município de
Blumenau, SC. A segunda etapa, que consistiu no estágio voltado para uma instituição de
educação não formal, foi realizada no Grupo de Pesquisas de História Ambiental do Vale do
Itajaí - GPHAVI , sediada na FURB.
A escolha dos campos do estágio (locais) ocorreu junto com a temática a ser
trabalhada nas aulas do estágio e na instituição de pesquisa escolhida. O tema norteador dos
estágios foi a Questão Ambiental, ou a problemática ambiental, vistos sob a ótica da
Sociologia Ambiental e/ou História Ambiental, que possibilitam análises e reflexões sobre o
caos social e ambiental que está evidente em nossa conjuntura no tempo presente. Este tema e

1
Grade curricular em que o estagiário se situa, mas que passou por reformulações a partir de 2012.
6

a região geográfica em que foi escolhida a escola campo de estágio e o grupo de pesquisa são
do interesse do estagiário porque contemplam também o tema do Trabalho de Conclusão de
Curso (TCC) do Bacharel em Ciências Sociais2. Desta forma buscou-se associar a prática de
estágio com a atividade técnica e científica e, em função disso, a escolha do campo da prática
do estágio esteve associada ao território a ser investigado na pesquisa de TCC, o Parque
Nacional da Serra do Itajaí, onde o GPHAVI3 concentra suas pesquisas. Portanto, a região do
PNSI e do campo de atuação do GPHAVI são de interesse científico do estagiário. E é na
região do parque e na da atuação científica do grupo que foi feita a busca de uma escola para a
primeira parte do estágio: a escola Padre José Maurício. A existência de uma UC na região da
escola apresenta à comunidade escolar a responsabilidade de práticas condizentes com a
conservação da natureza. E nessa temática, com uma abordagem voltada para a questão
ambiental, o ensino de sociologia pode proporcionar uma discussão a respeito da sociologia
ambiental e história ambiental da região.
Dentro da temática da questão ambiental, o estágio possibilitou proporcionar aos
estudantes dos Segundos Anos do Ensino Médio noturno da escola Padre José Maurício,
informações e questionamentos sobre as práticas de desenvolvimento de nossa sociedade no
sentido de amenizar o uso inconsciente da natureza. A temática escolhida possibilitou também
aos jovens identificar falhas da prática consumista e exploratória da região e os distúrbios ou
problemas ambientais na comunidade, o que os fez desenvolver o senso crítico relativamente
à questão da conservação da natureza.
A prática de estágio de ensino no Ensino Médio ocorreu na Escola Padre José
Maurício durante os meses de junho a novembro de XX, estando dividida em duas etapas: de
junho a julho (Prática de Estágio II) e posteriormente entre setembro a novembro de 2012
(Prática de Estágio III). Durante o primeiro período (de observação) foram realizadas diversas
visitas à escola para conhecer o espaço, a estrutura de ensino, as turmas, os professores. O
professor de sociologia da escola, Alcides Siebert, é professor bolsista do PIBID (Programa
Institucional de Bolsas a Iniciação a Docência, do Governo Federal), formado em Estudos
Sociais pela FURB e habilitado para lecionar Sociologia, História e Filosofia. Este professor
atua na instituição há 20 anos, e logo lhe ocorrerá a aposentadoria. Ele desenvolve na escola
atividades de ensino e pesquisa em Ciências Sociais. O professor realiza também atividades
na Universidade Regional de Blumenau, e foi nesse espaço que conheci o professor e negociei

2
O TCC em desenvolvimento analisa as interações socioambientais no processo histórico de ocupação humana
na região do Parque Nacional da Serra do Itajaí.
3
O GPHAVI será apresentado adiante, mas a instituição possui na região do PNSI mais de 20 pesquisas
realizadas e atividades de extensão com a promoção do conservacionismo através da Educação Ambiental.
7

minhas atividades de estágio supervisionado. Pretendi, como um todo, na prática de ensino de


ciências sociais, estabelecer um projeto que integrasse um mesmo tema, realizando uma
atividade que envolvesse a questão ambiental.
Depois da realização do estágio de docência na Escola Padre José Maurício, as
atividades do Estágio IV foram realizadas na sede do GPHAVI, que fica na Universidade
Regional de Blumenau durante o período de 01 de abril até 03 de junho de 2013.

2 PRESSUPOSTOS DA TEORIA SOCIOLÓGICA PARA FUNDAMENTAR A


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PRÁTICA DE ESTÁGIO

A Sociologia como área de investigação cientifica de análise da sociedade e como


disciplina acadêmica surgiu no século XIX. Ela é fruto da própria história humana e,
principalmente, da história que ocorreu entre os séculos XVI - XIX na Europa, momento em
que houve profundas mudanças políticas, sociais e culturais derivadas do processo de
revoluções burguesas, condicionadas pelo processo de industrialização, que causaram à
sociedade problemas nunca vivido, principalmente da relação do viver e trabalhar.
Para Martins (1994) as mudanças sociais promovidas através da Revolução Industrial
significaram mais do que a inovação e desenvolvimento tecnológico dos métodos produtivos.
Ela vai significar um triunfo da indústria capitalista, custeada pelo empresário capitalista que
foi pouco a pouco concentrando as máquinas, as terras e as ferramentas sob o seu controle,
convertendo grandes massas humanas em simples trabalhadores despossuídos de terra e
alimentos. Cada avanço com relação à consolidação da sociedade capitalista representava a
desintegração, o solapamento de costumes e instituições até então existentes e a introdução de
novas formas de organizar a vida social. A utilização da máquina na produção não apenas
destruiu o artesão independente, que possuía um pequeno pedaço de terra, cultivado nos seus
momentos livres. Este foi também submetido á uma severa disciplina, a novas formas de
conduta e de relações de trabalho, completamente diferentes das vividas anteriormente por
ele. Nesse cenário surge a ideia de escolas para a prole, com a finalidade de preparar a massa
para a vida industrial, pautada no consumo.
Segundo Tomazi (1993) as mudanças que ocorriam na sociedade passaram a chamar a
atenção dos pensadores do século XIX e estes realizaram estudos para compreender essas
mudanças. A sociologia passou a colocar essas mudanças sociais como objeto de estudo.
Surgiria assim uma era de conhecimento científico preocupada em compreender ou buscar
explicações para a ordem social e para o comportamento humano em função das mudanças
que estavam ocorrendo, e como os indivíduos se interligam organizando grupos ou
instituições.
A palavra Sociologia foi criada pelo teórico Augusto Comte, considerado o fundador
do positivismo. A origem do positivismo vem de Saint-Simon, professor de Comte. Saint-
Simon influenciou Comte e Marx, fazendo surgir antagonicamente o positivismo e o
marxismo. O positivismo de Saint-Simon / Augusto Comte defendia a tese de que a
organização leva ao progresso, desta forma era necessário através dos sociólogos e
empresários organizar a sociedade para que ela alcançasse progresso e bem estar social. Ou
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seja, para Comte a sociedade poderia progredir se os burgueses financiassem as mudanças


propostas pelos sociólogos. Essa inspiração parte na análise de Aristóteles, que afirma que o
sucesso da sociedade se daria através da organização proposta pelos filósofos financiados pela
aristocracia (TOMAZI, 1993; MARTINS, 1994).
No final do século XIX ocorria na academia diversas discussões tendo como tema a
sociedade e suas transformações. O exemplo disso foi o que ocorreu na França :
Incontestavelmente, nos anos 1880-1900, assistiu-se na França ao aparecimento
massivo de autores e de grupos de autores que reivindicavam o rótulo de sociólogos,
que procuravam autonomizar esta ordem de saber das abordagens preexistentes e
que tentavam desenvolver este ensino no seio da universidade. Foi o momento
decisivo. Por certo, o princípio da existência de uma nova ciência batizada de
Sociologia foi estabelecido já em 1856 por Auguste Comte, na 47ª Lição do Curso
de Filosofia Positiva. Do mesmo modo, a primeira Sociedade de Sociologia foi
fundada em 1872 por Émile Littré, o líder dos discípulos não-religiosos de Comte.
Essa sociedade contava com médicos, juristas e filósofos. Porém, periclitou muito
rapidamente, por falta de participantes e também de algum tipo de consenso sobre a
definição, o programa e os métodos desta nova ciência (MUCCHIELLI, 2001, p.40).

Durante o período de industrialização a sociedade foi condicionada ao modelo de vida


fabril e burguês, as mudanças decorrentes desse processo, na vida cotidiana, e todas as
problemáticas que surgiam na sociedade contemporânea, como a pobreza extrema, atos
desleais, corrupção, furtos, assaltos, desrespeito e violência, geraram fenômenos sociais nunca
presenciados ou analisados com um enfoque científico. Pairava nesse momento o
desenvolvimento científico, de inovação tecnológica, de invocação da razão, e do positivismo
de Comte respaldado nas ciências naturais (MARTINS, 1994; MUCCHIELLI, 2001).
O positivismo comteano está fundado em três premissas ou princípios fundamentais
para explicar a sociedade. O primeiro diz respeito à crença no conhecimento científico pela
razão. Passando a dar credibilidade e confiabilidade à produção da ciência, e as leis imutáveis
que regem o andamento da sociedade. A segunda premissa é a de analisar a sociedade
utilizando da ciência pura, as ciências naturais, uma vez que na natureza existem leis
imutáveis ao homem. Assim a sociedade deveria ser vista com um olhar biológico, a
sociedade como um organismo, assim como na Física, estabelecendo leis de funcionamento
ou ordenamento. E por último, a premissa política, que busca com estas explicações
estabelecer uma ordem para obter progresso e desenvolvimento à sociedade (MARTINS,
1994; MUCCHIELLI, 2001; LACERDA, 2010).

O positivismo procurou oferecer uma orientação geral para a formação da sociologia


ao estabelecer que ela deveria basicamente proceder em suas pesquisas com o
mesmo estado de espírito que dirigia a astronomia ou a física rumo a suas
descobertas. A sociologia deveria, tal como as demais ciências, dedicar-se à busca
dos acontecimentos constantes e repetitivos da natureza. [...] Comte considerava
como um dos pontos altos de sua sociologia a reconciliação entre a "ordem" e o
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"progresso", pregando a necessidade mútua destes dois elementos para a nova


sociedade (MARTINS, 1994, p.14-15).

Nesse contexto alguns pesquisadores passaram a desenvolver teorias para explicar, ou


para buscar respostas para as perguntas: O que é sociedade? Como ela se constitui? Qual é a
relação entre o indivíduo e a sociedade? Na busca por resposta desenvolve-se o que
denominamos hoje de sociologia clássica, fundada no positivismo de Comte, e respaldada por
complexas teorias de explicação e respostas as perguntas destes cientistas sociais. Essa nova
ciência que surgia no final dos 1800 e início do século XX estava fundamentada nas análises
de Karl Marx, Emilie Durkheim e Max Weber (MARTINS, 1994; MUCCHIELLI, 2001).
Nas suas análises sobre a sociedade Karl Marx se fundamentou na ideia que a história
humana foi construída pelo uso e transformação da natureza, pelo trabalho e pelas lutas de
classe entre os detentores dos meios de produção e os que exercem o trabalho. Foi o uso da
natureza que possibilitou a vida, e quem dominou os processos de transformação passou a
ditar controle e domínio sobre os que trabalhavam. A sociedade na história social de Marx
caminhou da escravidão, depois pela servidão, desenvolvida no feudalismo da Idade Média, e
agora no proletariado, a serviço do modo de produção burguês.

Marx constata a existência de classes na sociedade, e afirma que a luta entre elas
leva necessariamente á ditadura do proletariado, que deverá por fim á divisão em
classes.[...] Analisando especialmente o capitalismo em sua obra, Marx define
conceitos de análise importantes, como a mercadoria, forma assumida pelos
produtos e pela própria força de trabalho, valor de uso, e valor de troca, e tempo de
trabalho socialmente necessário.[...] Para Marx no capitalismo o mercado é o centro
das relações sociais de produção. É no mercado que a força de trabalho é
comercializada como mercadoria. Durante a produção, o trabalhador excede o tempo
de trabalho necessário, que é o necessário para produzir o equivalente ao seu salário,
gerando assim tempo de trabalho excedente, que cria riqueza para o dono dos meios
de produção, a mais-valia [...] Segundo Marx, no capitalismo o trabalhador é
alienado pelo próprio processo de produção e reprodução. O produto do trabalho é
sempre alheio ao trabalhador. A vida produtiva é apenas uma obrigação a ser suprida
para garantir a sobrevida. O trabalhador não tem consciência do seu próprio papel na
sociedade (SILVA, 2003, p.3-4).

A teoria das ciências sociais não foi discutida por Marx, mas ele e seus estudos
possibilitaram um dos primeiros passos para se analisar a sociedade. O conhecimento da
realidade social foi se convertendo após Marx, em um instrumento político, capaz de orientar
os grupos e as classes sociais para a transformação da sociedade. O papel da sociologia na
perspectiva que se inspira em Marx não foi a de estabelecer o bom funcionamento da
sociedade, como idealizaram os positivistas. Distante disso, ela deveria contribuir para a
realização de mudanças radicais na sociedade, e foi responsável em despertar a vocação
11

crítica da sociologia, unindo explicação e alteração da sociedade, e ligando-a aos movimentos


de transformação da ordem existente. “Ao contrário do positivismo, que procurou elaborar
uma ciência social supostamente neutra e imparcial, Marx e vários de seus seguidores
deixaram claro a íntima relação entre o conhecimento por eles produzido e os interesses da
classe revolucionária existente na sociedade capitalista, o proletariado” (MARTINS,1994,
p.18).
Na busca de respostas para o entendimento da sociedade, Emile Durkheim
institucionaliza a sociologia na academia lecionando-a como uma disciplina. Dentro do
positivismo ele vai explicar a sociedade através do fato social. O fato social é a maneira pela
qual o indivíduo sofre a coerção, moldando o seu modo de sentir, pensar e viver. Essa coerção
é gerada pelos costumes instituídos pelo grupo social no qual o indivíduo passa a estar
inserido. É uma forma exterior que gera subsídios e modelos para os comportamentos
individuais. Segundo Martins (1994, p.14):

[..] para Durkheim (1858-1917) a questão da ordem social seria uma preocupação
constante. De forma sistemática, ocupou-se também com estabelecer o objeto
de estudo da sociologia, assim como indicar o seu método de investigação. É através
dele que a sociologia penetrou a Universidade, conferindo a esta disciplina o
reconhecimento acadêmico. Sua obra foi elaborada num período de constantes crises
econômicas, que causavam desemprego e miséria entre os trabalhadores,
ocasionando o aguçamento das lutas de classes, com os operários passando a
utilizar a greve como instrumento de luta e fundando os seus sindicatos. Não
obstante esta situação de conflito, o início do século XX também é marcado por
grandes progressos no campo tecnológico, como a utilização do petróleo e da
eletricidade como fontes de energia, o que criava um certo clima de euforia e de
esperança em torno do progresso econômico (MARTINS, 1994, p14).

Durkheim buscava através do fato social a explicação da sociedade. O fato social é


constituído de três características: a primeira é que ele ocorre de forma exterior às
consciências individuais, ou seja, no coletivo. A segunda característica é a coerção, ou uma
socialização, onde são passadas aos indivíduos as informações desde bebe até a fase adulta.
Neste ponto entram as instituições que formam ou modelam o indivíduo para a sociedade,
como a escola, e por último o fato social é geral, pois diz respeito a todos (MARTINS, 1994;
SILVA, 2003).
Conforme analisado em Durkheim, o processo de mudanças da sociedade e a busca
pelas explicações escapavam da mera premissa de que a divisão do trabalho deveria promover
a cooperação e solidariedade entre as pessoas. As mudanças presenciadas por ele diziam outra
coisa, e não havia como explicar o comportamento das pessoas, e conhecer esse fato
impossibilitava a sociedade de seguir a uma ordem, pois não havia quem a estabelecesse. Esta
12

situação fazia com que a sociedade industrial mergulhasse em um estado de anomia, ou seja,
experimentasse uma ausência de regras claramente estabelecidas. Para Durkheim, a anomia
era uma demonstração contundente de que a sociedade encontrava-se socialmente doente. As
frequentes ondas de suicídios na nascente sociedade industrial foram analisadas por ele como
um bom indício de que a sociedade encontrava-se incapaz de exercer controle sobre o
comportamento de seus membros. Assim, preocupado em estabelecer um objeto de estudo e
um método para a sociologia, Durkheim dedicou-se a esta questão, salientando que nenhuma
ciência poderia se constituir sem uma área própria de investigação. A sociologia deveria
tornar-se uma disciplina independente, pois existia um conjunto de fenômenos na realidade
que se distinguia daqueles estudados por outras ciências, não se confundindo seu objeto, por
exemplo, com a biologia ou a psicologia. A sociologia deveria se ocupar, de acordo com ele,
com os fatos sociais que se apresentavam aos indivíduos como exteriores e coercitivos. O que
ele desejava salientar com isso é que um indivíduo, ao nascer, já encontra pronta e constituída
a sociedade (MARTINS, 1994)
Outro pensador que elaborou sistemática explicação ou respostas para compreender a
sociedade foi Max Weber. Para Weber a sociedade poderia ser compreendida se fosse
analisada a ação social. A ação social possui um sentido para aquele que a pratica, mas que
sempre está embasada na ação do outro. Uma ação social pode ser entendida como uma
relação social, onde cada indivíduo é participante de uma conduta plural orientando a sua
própria conduta, tendo como argumentos as atitudes e condutas dos outros do grupo (SILVA,
2003).
Weber inaugura a microssociologia, analisando casos específicos sem precisamente
analisar a totalidade social, mas relacionando os níveis micro e macro de analise. Desta forma
analisa os sentidos das ações sociais. Diversas análises de casos específicos poderiam dar um
panorama geral da sociedade. A sociedade e os indivíduos caminham juntos, e praticam ações
recíprocas e estas resultam na sociedade. Portanto, Weber defendia que o sociólogo deve
compreender as ações sociais encontrando os nexos causais que a determinam. Como a
sociedade é complexa ela deve ser analisada por tipos ideais definidos para nortear a análise:
a) Ação social racional com relação a fins, na qual a ação é estritamente racional. Toma-se um
fim e este é, então, racionalmente buscado. Há a escolha dos melhores meios para se realizar
um fim; b) Ação social racional com relação a valores, na qual não é o fim que orienta a ação,
mas o valor, seja este ético, religioso, político ou estético; c) Ação social afetiva, em que a
conduta é movida por sentimentos, tais como orgulho, vingança, loucura, paixão, inveja,
13

medo, etc; d)Ação social tradicional, que tem como fonte motivadora os costumes ou hábitos
arraigados. (MARTINS, 1994; SILVA, 2003, CABRAL, 2011).
Os grandes fundadores do pensamento sociológico estavam preocupados com
processos macrossociais oriundos da grande transformação da Europa no século XIX. Para
Marx, a emergência de um novo modo de produção, o capitalismo. Para Durkheim,
inicialmente, a passagem da solidariedade mecânica para a solidariedade orgânica. Para
Weber, tal processo macrossocial estava associado à secularização e ao correlato processo de
racionalização. As reflexões da Sociologia, em seu nascimento, buscavam compreender o
nascimento da modernidade na Europa, assim como as tensões então estabelecidas entre
modernidade e tradição. Assim, quando os três fundadores da Sociologia acionavam alguma
informação de natureza histórica, faziam-no no sentido de ilustrar ou explicitar as suas
reflexões de natureza macrossocial (HISTÓRIA E SOCIOLOGIA, 2011).
De acordo com Buttel (1986), a Ciência Social tem como propósito possibilitar uma
análise integrada de todos os aspectos institucionais da sociedade, tendo em conta as
interações entre os temas macro e micro da história da sociedade humana. Ocorre hoje uma
perspectiva holística nos estudos sociais que levantam questões amplas para analisar como os
humanos obtém seu sustento material e como interagem enquanto indivíduo-sociedade-
ambiente, avaliando sociedade e bases de seus recursos de sobrevivências. Nesse sentido, uma
das correntes das Ciências Sociais mais atuais é a Sociologia Ambiental.
Conforme Buttel (1986) na história da disciplina das Ciências Sociais sempre houve
um relacionamento ou uma ambivalência com a biologia e outras disciplinas que estudam o
ambiental e natural. Dentro do mundo ocidental a ciências sociais é fruto de uma fusão entre
biologia, ecologia e mundo não humano. A área fundamentou-se transpondo ou se utilizando
de conceitos e posturas metodológicas das ciências biológicas para analisar o humano no seu
contexto. Mas ao mesmo tempo em que se desenvolveu a teoria sociológica ela se moldou em
combater as reações contra o simplismo biológico como o determinismo ambiental.

2.1 A SOCIOLOGIA E A QUESTÃO AMBIENTAL

“A natureza criou o tapete sem fim que recobre a superfície da


terra. Dentro da pelagem desse tapete vivem todos os animais,
respeitosamente. Nenhum o estraga, nenhum o rói, exceto o
homem” (Monteriro Lobato)
14

A epígrafe acima, texto de Monteiro Lobato, evidencia o que pretendemos despertar


nos estudantes durante as aulas de sociologia. O processo humano de desenvolvimento e suas
implicações na natureza, ou seja, a problemática ambiental do nosso desenvolvimento pautado
na exploração dos recursos naturais para a indústria, e de sociedade de consumo.
Na elaboração da problematização da prática de ensino, para a escolha do tema e
organização dos conteúdos foi pensada a Sociologia Ambiental como lente norteadora. Essa
área conforme Ferreira (2006) e Herculano (2000) são frutos das interdependências entre a
ciência natural e a ciência social para investigar e dar luz a entendimentos de como a
sociedade vive e se desenvolve, e ao mesmo tempo, que consequências isso gera ao ambiente
que sustenta a sociedade humana.
A área da Sociologia Ambiental, segundo Ferreira (2006) surge durante uma situação
emergencial de degradação dos recursos naturais e do alto desenvolvimento industrial
vivenciada pela sociedade norte americana dos anos 1950 e 1960. Na academia aparecem
estudos desde os anos 1960, e tinham como foco buscar compreender a relação entre
sociedade e natureza. Nesse momento da história da disciplina Ciências Sociais e da
sociedade, a temática ambiental passava a entrar e figurar agenda dos governos, organismos
internacionais, movimentos sociais e empresariais. A partir de 1980 estudos de sociologia
ambiental praticaram análises para as divergências e conflitos entre o desenvolvimento e o
ambiente.
Para Herculano (2000), Sociologia Ambiental ou como vem sendo denominada pela
corrente estadunidense de Nova Ecologia Humana, desenvolvida após os anos 1980, busca
uma compreensão da inter-relação entre as variáveis: população, organização, ambiente,
desenvolvimento e tecnologia na análise da sociedade, tendo em vista uma fusão de
interdependência, encarando a espécie humana como uma fauna na cadeia ecológica da
natureza.
Nesse sentido foi pensado o tema da questão ambiental, um assunto que envolve a
história humana, sua organização, desenvolvimento e uso da tecnologia e as consequências
desse processo na qualidade do ambiente. O homem desde sua origem teve que alterar o
ambiente para sobreviver.
Ao longo de sua história muitos fatores promoveram ações humanas que o levaram a
agir de modo a romper com o equilíbrio ecológico. A velocidade de exploração humana
acelera a partir da Revolução Industrial, e o modelo de desenvolvimento humano passa a não
respeitar o prazo de recuperação da natureza. A falta de consciência dos humanos
proporcionou o uso indevido dos recursos naturais, usando a natureza como se fosse ilimitada,
15

mas ela passou a demonstrar traços de desgastes. Entre os principais fatores que ocasionaram
o desgaste ambiental e promoveram o que hoje se entende como crise ambiental são
decorrentes da ação humana: a poluição atmosférica, a poluição das águas, a poluição dos
alimentos e a ameaça atômica (FERREIRA, 1990, p.261-264).
Desde os anos 1960, a sociedade visualiza o esgotamento dos recursos naturais através
do desequilíbrio ecológico do planeta. Desde então surgem movimentos sociais em busca de
levantar críticas sobre as formas e processos de desenvolvimento que levaram a natureza ao
esgotamento. A partir dos anos 1970 tragédias ecológicas como o “derramamento de petróleo
no canal da mancha, o envenenamento das águas da baía japonesa de Minimata por mercúrio,
e a contaminação de uma cidade italiana por gases tóxicos expelidos por uma fábrica”
instigam o aparecimento de diversos grupos que passam a defender a causa ambiental.
Evidencia-se a problemática ambiental, ou a questão ambiental, como um tema que aborda as
consequências do desenvolvimento humano ao ambiente (FERREIRA, 1990, p.265).
A questão ambiental, ou ecológica conforme Leff (2003, p.7), é um assunto que se
torna relevante no cenário político, científico e educacional, como um dos maiores problemas
do século XX e XXI. A partir de 1970 iniciam-se discussões sobre a qualidade ambiental e as
formas de impactos na qualidade ambiental ocasionadas pelo modelo desenvolvimentista
pautado no economiscismo, no individualismo e no consumismo. O exemplo disso foi a
Conferência de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano de 1972, e que resultou em
outros eventos, como a ECO Rio 1992 e a mais recentemente a Rio + 20 em 2012 (Grifos
meus). Para Leff, a crise ambiental é de nosso tempo e possibilita uma ressignificação de
como devemos, espécie humana, nos comportar dentro da ecologia do planeta.
A questão ambiental é um tema que interlaça-se com os objetivos da sociologia
ambiental, pois abrange os acontecimentos relativos a sobrevivência humana, suas formas e
como isso afeta o ambiente. Para Lima (1999, p.133), o estudo da questão ambiental engloba
o conjunto de:

“contradições resultantes das interações internas ao sistema social e deste com o


meio envolvente. São situações marcadas pelo conflito, esgotamento e
destrutividade que se expressam nos limites materiais ao crescimento econômico
exponencial; na expansão urbana e demográfica; na tendência ao esgotamento de
recursos naturais e energéticos não-renováveis; no crescimento acentuado das
desigualdades sócio-econômicas intra e internacionais, que alimentam e tornam
crônicos os processos de exclusão social; no avanço do desemprego estrutural; na
perda da biodiversidade e na contaminação crescente dos ecossistemas terrestres,
entre outros. São todas realidades que comprometem a qualidade da vida humana
em particular e ameaçam a continuidade da vida global do planeta. De fato, a
questão ambiental revela o retrato de uma crise pluridimensional que aponta para a
exaustão de um determinado modelo de sociedade que produz,
16

desproporcionalmente, mais problemas que soluções e em que as soluções


propostas, por sua parcialidade, limitação, interesse ou má fé, acabam por se
constituir em novas fontes de problemas”.

A questão ambiental remete à realidade contemporânea o questionamento do nosso


pensamento, de nosso entendimento ontológico e da epistemologia de como o ser humano
viveu e desenvolveu gerando a crise ambiental. É um tema que instiga o questionamento da
ciência atual, que se preocupa em desenvolver produtos para o mercado, e não saberes para as
soluções que vem sendo discutidas por governos, agentes internacionais, ongs e outros
organismos que influem-se no paradigma da questão ambiental (LEFF, 2003, p.19).
Segundo Leff (2003, p.20) a crise ambiental:

[...] nos leva a interrogar o conhecimento do mundo, a questionar esse projeto


epistemológico que buscou a unidade, a uniformidade e a homogeneidade, esse
projeto que anuncia um futuro comum, negando o limite, o tempo, a história, a
diferença, a diversidade, a autoridade. A crise ambiental é um questionamento sobre
a natureza da natureza e do ser no mundo, da linha do tempo e a entropia como leis
de matéria e da vida, desde a morte como lei-limite na cultura, que constituem a
ordem simbólica, do poder e do saber.

Hoje na perspectiva do novo milênio, a ciência social deve romper novas


transformações para alcançar com a interdisciplinaridade uma ciência que integra os
conhecimentos do mundo natural e do mundo social. Este é o legado da Sociologia
Ambiental, se transformar como uma ciência que volte a ocupar o papel de relevância para
entender a crise ambiental e possibilitar discussões para reavaliar o poder humano de uso do
natural a fim de constituir um novo futuro dentro de uma racionalidade ambiental
(FERREIRA, 2006; LEFF, 2003). Ainda, conforme Florit (2000, p.11) a sociologia no
contexto do paradigma ambiental tem como responsabilidade “explicar por que as coisas são
como são, por que aparecem como aparecem, ou como os fenômenos sociais são produzidos e
reproduzidos”.
17

3 APRESENTAÇÃO DOS CAMPOS DE ESTÁGIO

O estágio em Ciências Sociais foi realizado em dois campos de estágio. Durante as


práticas II e III, a observação, participação e docência foram realizadas na EEB Padre José
Maurício e, na prática de Estágio IV, as atividades de estágio (pesquisa) foram realizadas no
Grupo de Pesquisas de História Ambiental do Vale do Itajaí - GPHAVI.

3.1 EEB PADRE JOSÉ MAURÍCIO

A EEB Padre José Maurício está localizada (Figura 1) no sul do município de


Blumenau, Bairro Progresso, Rua Progresso, nº2053. Conforme a Secretaria de Planejamento
de Blumenau - SEPLAN (2012) o bairro Progresso foi criado pela Lei nº717 de 1956 e seu
nome se originou devido a implantação da antiga Indústria Têxtil Garcia e, depois, Artex,
fundada em 24 de maio de 1936 por Teófilo B. Zadrozny e Otto Huber, “que em 1974
incorporou a Empresa Industrial Garcia”.

EEB Escola Padre


José Maurício

Figura 1: Mapa Bairros de Blumenau – localização da escola.


Fonte: Universidade Regional de Blumenau. Disponível em
http://www.furb.br/_upl/files/portal_academico/calouro/mapa_bairros_blumenau.jpg.

De acordo com a Prefeitura Municipal de Blumenau (2012) o Progresso localiza-se na


região Sul de Blumenau e faz limites ao Norte com os bairros Valparaizo e Garcia; ao Sul
18

com Gaspar e a Oeste e Leste com a Zona Rural da cidade. A área do bairro corresponde a
6,68 km² nos vales dos ribeirões Garcia, Jordão, Zox, Krohberger e do córrego Caeté. A
morraria não ultrapassa 200 metros de altitude, mas as encostas apresentam muita
declividade. A floresta é densa, com árvores que em alguns pontos chegam a 80 metros de
altura. No seu extremo sul, na região denominada Nova Rússia está presente o Parque
Nacional da Serra do Itajaí, que abrande mais outros 8 municípios do vale europeu, e conserva
mais de 50 mil hectares de Floresta Atlântica. A EEB Pe. José Maurício está localizada no
entorno da Zona de Amortecimento da UC. O que limita diversas práticas de exploração e uso
do solo na região. Mas ao mesmo tempo proporciona enorme qualidade ambiental, regulação
do clima e recreação, assim como serve de santuário para a conservação da biodiversidade da
floresta atlântica.
Conforme vemos nas figuras 1 e 2, a comunidade da EEB Pe. José Maurício está
inserida geograficamente na região sul de Blumenau e está espacializada no vale do rio
Garcia, dentro de vales profundos e com problemas geológicos que em momentos de
precipitações pluviométricas, favorecem o deslizamento das encostas. A geografia de vales
profundos, onde periodicamente, em ocasiões de alta pluviosidade ocorrem deslizamentos, e
com isso danos sociais, promove o que o geógrafo Yi-Fu Tuan (2005) denomina de
“paisagem do medo”.

Figura 2: Imagem aérea da comunidade da EEB Padre José Maurício.


Fonte: Google Earth – imagem apurada pelo autor.
19

A comunidade da escola caracteriza-se demograficamente por moradores de origem


da colonização da região, e alguns migrantes de outros bairros e municípios. Predomina,
assim, a descendência das etnias alemã, italiana e polonesa, e hoje ocorre notável
miscigenação e diversidades culturais e religiosas. A região cresceu rapidamente devido o
desenvolvimento, e a instalação de fábricas no bairro. Com isso houve acentuado crescimento
demográfico: “População: 8.115 habitantes em 1980; 11.767 habitantes em 1991; 13.012 em
2000 e 14.271 em 2010”. Assim como ocorreu o crescimento imobiliário: “1.813 residências
em 1980; 3.058 em 1991; 3.861 em 2000 e 4.180 em 2010” (SECRETARIA DE
PLANEJAMENTO – PMB, 2012). A situação demográfica foi acrescentada recentemente
após a inauguração e entrega de apartamentos populares, nas proximidades da Nova Rússia, o
que acarretou aumento de estudantes no ensino fundamental e médio.
O bairro tem 202 ruas, sendo consideradas como principais, as Ruas Progresso, Santa
Maria, Emílio Tallmann, Bruno Schreiber e Ruy Barbosa, classificadas hierarquicamente
como Vias Coletoras, segundo o Código do Sistema de Circulação do Município de
Blumenau (aprovado pela Lei Complementar nº 748 de 23 de março de 2010). Predominam as
residências unidomiciliares, e a principal aglomeração no espaço, são onde estão localizadas
as atividades econômicas, principalmente do setor secundário, composto basicamente por
comércios e estabelecimento de serviços diversos. Mesmo assim, ocorrem nas residências e
terrenos na região a presença de pequenas hortas de fundo de quintal e uma pecuária pouco
significativa e caracterizada como de subsistência. “No fundo dos vales da área rural existe
uma região agrícola muito rica, com plantações de banana, mandioca e outras culturas não
menos importantes. A pecuária é formada por criação de bovinos, suínos e gado de leite”
(SECRETARIA DE PLANEJAMENTO – PMB, 2012).
Conforme vemos na figura 3, tendo no centro a escola campo de estágio, sua
vizinhança é composta por residências de médio padrão, sendo a maioria de alvenaria. A
escola está localizada próxima de uma encosta que está ocupada por moradias (ao fundo na
imagem). Na parte superior nota-se a presença do Rio Garcia, a Rua Progresso e alguma
vegetação.
Conforme o Projeto político Pedagógico - PPP (2011) da escola, o terreno possui uma
área de 10,449,30 m2, tendo uma área construída de 2,246,80m2. A escola hoje pertence à
Rede Estadual de Ensino de Santa Catarina, e oferece as modalidades de Ensino Fundamental
e Ensino Médio, em três turnos: matutino, vespertino e noturno. Antes de possuir essa
configuração teve uma longa história de desenvolvimento e crescimento acompanhando a
história do bairro.
20

Figura 3: Vista aérea aproximada da EEB Pa José Maurício, campo de estágio.


Fonte: Imagem Google Earth – apurada pelo autor

A história da escola, de acordo com Adalberto Day (2012), inicia em 03 de maio de


1962, data de sua fundação (Figura 4). Seu primeiro nome foi Escola Reunida Padre José
Maurício, em uma pequena casa, onde hoje está o número 2053 da Rua Progresso. A diretora
do educandário inaugurado foi a professora Arnolda Ebel, atuando durante 10 anos (1962-
1972). Em maio de 1974, com a Lei nº 571, o educandário foi transformado em escola básica
e passou ter as oitavas séries do ensino fundamental.

Figura 4: Dia da inauguração do educandário.


Fonte: Acervo de Airton Mortiz, Disponível em: http://adalbertoday.blogspot.com.br/2008/09/xvi-mostra-
cientifica-e-cultural-de.html
21

Segundo Day (2012) e o PPP (2011) da escola, em 1963 o educandário passou a se


chamar Grupo Escolar Padre José Maurício, e em 1988 passou a se chamar Colégio Estadual
Padre José Maurício, tendo como diretora a professora Walkiria Sens Luchemberg até 1997.
Houve diversas reformas na escola, assim como foi construído o ginásio da escola. Em 1998
toma posse a professora Dulce Maria Lehem e sua direção vai até 2002, e termina as obras
iniciadas antes, terminando o ginásio coberto. Em 2000 o educandário muda novamente seu
nome e passa a se chamar Escola de Educação Básica Padre José Maurício (Figura 5).

Figura 05: Imagem da EEB Pa José Maurício


Fonte: Acervo Adalberto Day, Disponível em: http://1.bp.blogspot.com/-
pAePNnKlsjI/Tm1Gik6rRUI/AAAAAAAAKaQ/BVLX5COK0Bw/s1600/PJos%25C3%25A9Mauricio001.jpg.

A comunidade escolar, formada pelos estudantes, pais, professores, e funcionários,


“sob o aspecto sócio cultural, não destoa da característica conservadora da própria cidade de
Blumenau, dentro de suas tradições germânica e italiana com predominância da primeira”
(PPP, 2012). A comunidade possui uma percepção da educação vista como um trampolim
para acessar empregos e condições salariais melhores, estando grande parte atrelada aos
empregos na Industria Têxtil Artex (Hoje COTEMINAS), e nos serviços locais. Ocorrem
poucas alternativas de emprego na região. O imaginário da comunidade escolar, referente ao
estilo de vida, tem o trabalho como fruto do sucesso da família, gera a estabilidade
econômica, a aquisição de moradia fixa, e casa de veraneio na praia. Ocorre pouca
participação dos pais na vida escolar das crianças e jovens, e quando se apresentam é para
colaborar com a estrutura física (PPP, 2012).
Conforme conversas com os estudantes durante minhas observações do campo de
estágio, a escola apresenta ótima estrutura escolar para a prática do ensino-aprendizagem. O
22

mesmo evidencia-se no PPP (2012) da escola, afirmando que “existe um ambiente de trabalho
de qualidade e incentivo aos professores dispostos a desenvolverem trabalho diferenciado,
desde que não extrapolem os limites que o espírito escolar e do bairro tem condições de
impor”.
Segundo o PPP (2012) existe na escola as seguintes estruturas: 01 sala de direção, 01
sala de orientação, 01 sala de secretaria, 01 sala de professores, 01 sala de estudo para
professores, 21 salas de aula, 1 biblioteca que contém mais de 1500 livros no seu acervo, além
de disponibilizar espaço para pesquisa na internet, 01 sala informatizada, com computadores
em bom estado de conservação, 01 laboratório, 01 sala de vídeo com multimídia, 01 sala para
fanfarra, 01 cantina, 01 sala de livros, 01 sala para materiais de artes, 01 ginásio coberto, 02
quadras ao ar livre, 01 sala para armazenar a merenda, 01 almoxarifado, 01 depósito para
guardar móveis, 01 galpão, 21 banheiros, distribuídos entre alunos e professores, 01 cozinha,
01 pátio coberto, 01 pequeno estacionamento para uso interno. Nesse espaço escolar a escola
possui atualmente 1300 alunos, 48 professores, sendo 28 efetivos e 20 contratados. Abaixo,
imagens ilustram como é o campo de estágio EEB Padre José Maurício:

Figura 6: Entrada da escola


Fonte: Foto do autor
23

Figura 7: Estacionamento da escola


Fonte: Foto do autor

Figura 8: Corredor de acesso a sala dos professores e refeitório


Fonte: Foto do autor
24

Figura 9: Pátio externo da escola


Fonte: Foto do autor

Figura 10: Ginásio coberto e uma das quadras da escola


Fonte: Foto do autor
25

Figura 11: Pátio interno e o refeitório na escola


Fonte: Foto do autor

Figura 12: Bebedouros e banheiros da escola


Fonte: Foto do autor
26

Figura 13: Como é organizada a louça suja dos alunos no refeitório


Fonte: Foto do autor

Figura 14: Sala dos professores


Fonte: Foto do autor
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Figura 15: Sala de estudo dos professores


Fonte: Foto do autor

Figura 16: Uma das salas de aula da escola


Fonte: Foto do autor
28

O espaço físico da escola está em ótima conservação e não se notam pichações ou


vandalismo. Existe uma infinidade de trabalhos de alunos e de propagandas de eventos e
cursos expostos. As salas de aula possuem boa pintura, grandes janelas e ainda dois
ventiladores e dois aparelhos de ar condicionado cada sala. Os quadros brancos são para uso
de pincel atômico e estão em ótimo estado. O piso é de tacos pequenos e em boa conservação.
Em resumo, a escola apresenta ótima estrutura física para a qualidade do ensino e da
aprendizagem.
A escola possui também qualificado quadro de funcionários, sendo a maioria
especialista, havendo mestres e doutores. Todos os professores, do quadro e efetivos, possuem
licença pra lecionar. Além dos professores o pessoal administrativo da escola conforme o
Projeto Político Pedagógico – PPP (2011) está composto por: 01 diretor, 02 assessores de
direção, 02 assistentes de educação e 02 assistentes técnico administrativos, sendo os cargos
ocupados pelos seguintes profissionais:
- Simone Raquel dos Santos (Direção Geral);
- Ademar Jonas Mafra (Assessor de Direção);
- Zaias Antônio Silveira (Assessor de Direção);
- Zenilda Maria Silveira (Assistente de Educação);
- Gisandra Giseane Custódio Maes (Assistente de Educação);
- Patrícia de Matos Medeiros (Assistente Técnico Pedagógico);
- Marlene Krug (Assistente Técnico Pedagógico).

A escola tem como norteador o PPP (2012) e, conforme este documento, a


comunidade escolar deve atender os objetivos da unidade escolar que são:
- Buscar a integração interdisciplinar com enfoque em uma visão global e unificada do meio
físico e social, para que o aluno se torne uma pessoa autônoma, consciente, crítica e
participativa;
- Educar para a vida;
- Instigar o aluno a identificar e solucionar situações problemas;
- Valorizar e respeitas as habilidades individuais;
- Incentivar a auto-estima;
- dar condições para o desenvolvimento da criatividade;
- Exigir a corresponsabilidade para as ações e efeitos que dela resultarem (valores e
princípios);
- Promover o respeito às diversidades (culturais, físicas, sociais, políticas, raciais e de gênero).
29

3.2 GRUPO DE PESQUISA EM HISTÓRIA AMBIENTAL DO VALE DO ITAJAÍ -


GPHAVI.

O GPHAVI está sediado na Universidade Regional de Blumenau (FURB), Rua


Antônio da Veiga nº140, na região alta do Campus 1, Bloco R, sala R-109, conforme apontam
as figuras 17 e 18 , abaixo.

Figura 17: Localização da FURB – GPHAVI em Blumenau.


Fonte: Google Maps – com edição do autor

Figura 18: Localização do GPHAVI na FURB


Fonte: FURB, editado pelo autor.
30

O Grupo de pesquisa possui laboratório com bolsistas trabalhando diariamente e


sistematicamente há dez anos, produzindo conhecimento através de pesquisas de iniciação
científica, e projetos externos, sempre tendo nos estudos a temática da Questão Ambiental,
com uma abordagem teórica interdisciplinar denominada pelos historiadores de História
Ambiental e pelos sociólogos de Sociologia Ambiental. O objetivo dessas abordagens é
analisar a sociedade e sua interação com a natureza, e vice versa. No GPHAVI ocorrem
diversas atividades acadêmicas realizadas por estudantes bolsistas, professores pesquisadores
e orientadores de Iniciações Científicas, ocorrendo a produção do conhecimento de forma
interdisciplinar, tendo muita proximidade com o que a Sociologia Ambiental se propõe a
estudar, conforme Ferreira (2006).
O GPHAVI é um grupo interdisciplinar com base nas diversas áreas do conhecimento
social e ambiental, tendo como objetivo entender as relações entre sociedade e natureza nos
diversos períodos históricos da região do Vale do Itajaí. O grupo investiga sobre a produção
historiográfica acerca da História Ambiental praticada no Brasil, em Santa Catarina e, mais
especificamente, sobre o Vale do Itajaí. Produz conhecimento histórico ambiental sobre as
relações entre a sociedade e natureza através de estudos de caso com pesquisas realizadas na
instituição com programas de Iniciação Científica, Trabalhos de Conclusão de Cursos e por
editais de fomento. Este grupo analisa e implementa técnicas de pesquisa e análise de dados
que contribuam com a área da História Ambiental. Fornece apoio a estudantes em suas
pesquisas na graduação e pós-graduação e estabelece parcerias com pesquisadores e outros
grupos de pesquisa que tenham suas investigações ligadas com a área da História Ambiental.

Figura 19: Dependências do GPHAVI na sala R-109 na FURB.


Fonte: foto do autor
31

As atividades do GPHAVI possuem as seguintes linhas de pesquisas:


-História Ambiental: Identificar os processos e as sucessivas e crescentes modificações
do meio ambiente, resultantes da interação sociedade/natureza, desde a origem da humanidade
até o presente.
-História Oral: Resgatar na memória através da oralidade dos sujeitos da história, os
processos históricos de um determinado objeto ou região.
-História Regional: Identificar e compreender os processos históricos do
desenvolvimento de uma determinada região através dos aspectos econômicos, geográficos,
históricos, culturais e socioambientais.
-Ecologia e Conservação: Compreender as relações e interações entre as espécies e
elementos da natureza, as influências que o desenvolvimento humano causa a essa relações e
interações identificando meios que minimizem as influências negativas resultantes desse
processo de contatos entre natureza e sociedade humana.
-Desenvolvimento Regional: Identificar e compreender os processos do
desenvolvimento de uma determinada região através dos aspectos econômicos, geográficos,
históricos, culturais e socioambientais.
32

4 DA PROPOSTA DE ESTÁGIO E DA ANÁLISE CRÍTICA SOBRE O MESMO

O estágio em Ciências Sociais ocorreu tendo como atividades o ensino, em uma


instituição formal de educação, a EEB Padre José Maurício; e atividades de pesquisa ou
atividade do profissional sociólogo, em uma instituição não formal de educação, a ONG –
Grupo de Pesquisas de História Ambiental do Vale do Itajaí (GPHAVI). Apresentaremos
neste capítulo os resultados do estágio em ensino e pesquisa realizado nas duas instituições.

4.1 O ESTÁGIO NO ENSINO MÉDIO

A realização do estágio na escola foi realizado em duas fases, o que corresponde ao


cumprimento das atividades da disciplina de Estágio II, realizado entre maio e junho de 2012,
e o Estágio III realizado entre outubro e novembro de 2012.
Durante a primeira fase, foram iniciadas as observações no campo escola. Esta
primeira etapa foi realizada nos dias 24/05 e 05/6/2012, sendo observadas a cinco horas aulas
do professor regente em cada um dos dias, o que totalizou 10 horas/aulas de observações, o
suficiente para optar pelas turmas e séries. Após as observações foi iniciada a regência de
aulas entre os dias 12, 19 e 26 de junho/2012, totalizando 09 horas/aulas (primeiro semestre
de 2012), sendo a segunda etapa do estágio realizada entre os dias 25 e 30 de outubro e 01,
12, 20 e 29 de novembro de 2012, totalizando 18 horas/aulas de atividades de docência. Ao
todo foram realizadas 10 horas aulas de observação e 27 horas/aula de regência, o que
compreendeu 37 horas aulas de estágio na escola campo.

4.1.1 O contato inicial e as observações

Durante a primeira fase, o objetivo era o de realizar as observações, conhecer a escola,


conversar com o professor e a Diretora da instituição para autorizar o estágio e tomar ciência
do contrato de estágio com a FURB (Anexo 1). Durante essa etapa foi observada a escola,
foram realizadas conversas com estudantes, funcionários e os demais professores e foram
ainda registradas fotografias e anotações no caderno de campo, além da pesquisa no Projeto
Político Pedagógico da Escola (PPP).
Durante os dias 24/05 e 05/06 foram observadas aulas de sociologia nos 2º e 3º anos, e
devido a predisposição de tempo com o horário de aulas do campo de estágio, foi optado
lecionar nos segundos anos. Quando foram realizadas as observações das turmas, junto ao
33

professor Alcides, no intuito de adequar a carga horária na qual eu tinha disponibilidade para
realizar observação e regência, ao invés de escolher uma turma e nela desenvolver uma
proposta, adequei o estágio conforme minhas possibilidades, e nos espaços que o professor
regente me deixou optar. Foram escolhidos três turmas de segundo ano. O motivo foi estas
turmas terem aula de sociologia na terça-feira, sendo o dia com mais aulas de sociologia do
professor, o que facilitou muito. Após a aprovação da professora orientadora da disciplina de
estágio da FURB preparei um plano de ensino para essas três turmas de segundos anos e os
devidos planos de aula. Foram assim realizadas, nessa primeira fase, nove horas aulas de
regência, sendo organizadas as 9 aulas (para a 3 turmas) em 3 planos de aula. Na segunda fase
do estágio foram realizadas 18 horas aulas de regência, estando as aulas organizadas em 4
planos de aulas. Vale relembrar que em cada dia no qual compareci para aplicar as regências,
lecionei para três turmas, o que totalizou 3 horas aulas por encontro, sendo usado um plano
único de aula para as 3 turmas.
Durante as observações, na primeira fase, foram observadas 10 horas aulas do
professor, e a temática que ele tratava era a questão de gênero. Antes de minha atividade de
observação, o professor havia passado um filme tratando sobre um grupo de jovens,
mostrando o preconceito em relação ao homossexualismo. No primeiro dia de observação,
acompanhei o professor que me mostrou onde eram as salas de aula. Apresentou-me para a
turma e eu também expliquei sobre a prática da docência e sobre as Ciências Sociais. As aulas
seguiram com os estudantes relatando pontos que lhes chamaram a atenção, enquanto o
professor anotava os temas no quadro e ampliava o debate. O professor instigava os alunos
usando exemplos e pela participação da turma tanto a proposta quanto o método da aula gerou
diversos questionamentos sobre a questão de gênero.
Na minha segunda data de observação, acompanhando o professor e suas aulas auxiliei
na explicação sobre o que foi o Positivismo, os regimes totalitários e a questão territorial que
gera conflitos no leste europeu, desde as grandes guerras e correlacionando com o embate da
2º Guerra Mundial. O professor trabalhava o tema da Segunda Guerra Mundial, e relacionava
o positivismo extremo, com uso de castigos para instruir a ordem à sociedade gerada pelo
fascismo e nazismo. Os estudantes, em grupos, tiveram que destacar as características desses
fenômenos de conflitos da metade do século XIX. No final das aulas deixou um espaço para
que eu novamente explicasse o que ocorreria em nas próximas terças feiras, momento no qual
ocorreria a regência.
34

4.1.2 O planejamento das aulas da atividade de estágio

O planejamento das atividades foi realizado com orientação das professoras Luciane
da Luz (disciplina de Estágio II) e a professora Rita de Cássia Marchi (disciplina de Estágio
III). O estágio consistiu em cumprir horas aulas com as professoras nas respectivas
disciplinas, recebendo orientações e assessoria para o planejamento da intervenção, e no
campo estágio, realizando as observações e as regências com a presença das professoras em
algumas ocasiões. Foram durante as aulas de estágio na FURB que foram desenvolvidos os
problemas de pesquisa e a organização das ideias para sistematizar o projeto de estágio,
temas, atividades e calendário.
Depois de planejar previamente o que seria feito tornou-se necessário constatar se o
que foi pensado estaria de acordo com a realidade das turmas e conteúdos já planejados pelo
professor Alcides. A partir do momento que realizei as observações, readaptei os planos de
aula para as aulas que eu daria nas três turmas: Os documentos que comprovam a realização
do estágio constam no final deste relatório em anexos: a Planilha de Observação e Regência
do Estágio estão no Anexo 2, assim como a Ficha de Avaliação do Estagiário (Anexo 3) e o
material de apoio para as aulas que tratam da questão ambiental (Anexo 4).
O plano de ensino consiste no documento que orienta toda a prática de regência, seja de
um ano letivo de Sociologia, mas nesse caso sobre as 27 horas aulas da prática da regência de
ensino de Ciências Sociais em três segundos anos do noturno do Ensino Médio da Escola
Estadual Padre José Maurício, localizada no bairro Progresso, sul de Blumenau-SC.
O tema pensado para as regências foi a Questão Ambiental e será durante a intervenção
abordada a teoria da sociologia ambiental, assim como noções sobre a ecologia do planeta
(não no sentido ambientalista, mas sistêmico de interação seres vivos e não vivos), os
processos de desenvolvimento da nossa história, os impactos socioambientais e os
movimentos sociais que constituíram o movimento ambientalista, a ética ambiental e a crítica
ao modelo de ordem de mundo que Alain Touraine denomina de processo de
“desmodernização” (TOURAINE, 1998), o que possibilitará aos estudantes posicionamentos
críticos para que compreendam o que é cidadania e como agir frente a realidade de caos e
problemática ambiental, principalmente pelo fato da comunidade escolar estar próxima de
uma Unidade de Conservação (UC). Assim, o objetivo das aulas que foram lecionadas foi
elucidar o que é a questão ambiental e a problemática ambiental atual realizando discussões
sobre o exercício da cidadania e da ética ambiental.
35

Para tanto, foram analisados alguns processos de desenvolvimento, e a sua história


ambiental; o entendimento sobre o tema da questão ambiental e da problemática do
desenvolvimento ecologia global; identificar os movimentos ambientais e seus conceitos
sobre a problemática ambiental; e identificar a percepção dos jovens das turmas do estágio
sobre a importância do ambiente/natureza e problemática ambiental. Foram trabalhados
conceitos de ecologia, desenvolvimento, questão ambiental e percepção ambiental; A
problemática socioambiental dos dias de hoje; Desenvolvimento de atividade de pesquisa de
percepção da turma e debate; Leitura e atividades sobre o texto: A Força do Verde (em
anexo), leitura e realização de atividades sobre o resumo do capítulo “A Desmodernização”
de Touraine (em anexo), vídeo documentário “A Ordem Criminosa do Mundo”, onde temos o
escritor Eduardo Galeano e o sociólogo Jean Siegler realizando uma crítica à situação do
capitalismo e do mundo atual, e a partir das discussões levantadas nas aulas realizou-se
atividades que tangeram os temas da cidadania e ética ambiental com trabalhos em grupo e
apresentação em forma de seminário. Foram usados como recursos didáticos para a execução
das aulas, o quadro, giz, o multimídia, para usar com um documentário, folhas de papel, foto
cópias, canetas e lápis, um texto didático sobre a questão ambiental e um resumo de capítulo
de livro de Alain Touraine. Os estudantes foram avaliados através da ferramenta (texto) que
construíram usando a teoria apreendida nas aulas.

4.2 PLANOS DE AULA

4.2.1 Plano de aula do dia 12/06/2012

EEB Padre José Maurício


Prof. Martin Stabel Garrote
Disciplina: Sociologia
Turmas: Segundos Anos (turmas 04, 05 e 06).
Duração: 1h/a
Tema:
A questão ambiental

Objetivos:

a)reconhecer os conceitos e processos de desenvolvimento, e a sua história ambiental.


36

b)entender o que é a questão ambiental e a problemática do desenvolvimento a ecologia


global.

c)identificar os movimentos ambientais e seus conceitos sobre a problemática ambiental

Conteúdos:
a) Conceitos de ecologia, desenvolvimento, questão ambiental e percepção ambiental.
b) A problemática socioambiental dos dias de hoje.
Desenvolvimento:
Aula expositiva, explicando os conceitos e colocando-os no quadro. Resgatar exemplos da
comunidade e relacionar com as problemáticas do nosso desenvolvimento.
Avaliação:
Participação dos alunos na aula, levando em conta a atenção nas explicações, e a coerência de
seus comentários com o tema proposto.

4.2.2 Plano de aula do dia 19/06/2012

EEB Padre José Maurício


Prof. Martin Stabel Garrote
Disciplina: Sociologia
Turmas: Segundos anos (turmas 04, 05 e 06).
Duração: 1h/a
Tema:
Entender e perceber o que é ambiente e sua importância
Objetivos:

a)identificar a percepção dos jovens das turmas do estágio a importância do


ambiente/natureza e problemática ambiental.

Conteúdos:

a) A problemática socioambiental dos dias de hoje.


b) Desenvolvimento de atividade de pesquisa de percepção da turma e debate.
Desenvolvimento:
Foi realizada uma revisão dos conteúdos da aula anterior, e foi explicada a atividade que
individualmente deveria ser feita. Sobre os conteúdos foi aplicado 3 questões, trabalhando o
que foi estudo e coletando a percepção dos estudantes de cada uma das turmas.
37

Foram trabalhadas as seguintes questões:


- Explique o que é questão ambiental.
- De que forma você participa com o meio ambiente? Justifique sua resposta.
-Qual é a importância que você atribui ao ambiente? Justifique sua resposta.
Avaliação:
Os estudantes serão avaliados com a realização das questões propostas sobre o estudado e a
percepção ambiental. Sua participação.

4.2.3 Plano de aula do dia 26/06/2012

EEB Padre José Maurício


Prof. Martin Stabel Garrote
Disciplina: Sociologia
Turmas: Segundos Anos (turmas 04, 05 e 06).
Duração: 1h/a
Tema:
Estudo dirigido sobre a questão ambiental
Objetivos:

a) Compreender a história sobre o debate da questão ambiental, realizando uma interpretação


de texto.
Conteúdos:

a)Leitura e atividade em grupo sobre o texto: A Força do Verde.

Desenvolvimento:
Foi realizada a leitura e discussão do texto e em grupos os estudantes responderam as
seguintes questões sobre o texto “A força do verde”:
- Qual é a relação entre industrialização, modelo de vida burguês e a rápida aceleração da
destruição ambiental?
- Elabore um esquema apontando as ações humanas que promoveram a aceleração da
destruição ambiental?
- Conforme o texto, quais são os cavaleiros do apocalipse?
- Conforme o teu cotidiano cite 01 acontecimento que você teve notícia ou presenciou e que
esteja relacionado com cada um dos cavaleiros do apocalipse tratados no texto.
38

- Sabendo o que é a questão ambiental, e de toda a problemática que norteia a sobrevivência


humana, quais medidas poderiam ser tomadas para amenizar a situação?
Avaliação:
Atenção na leitura e explicações do texto, participação da atividade em grupo, e nota referente
ao questionário proposto em grupo.

4.2.4 Relato das aulas ministradas

As aulas ministradas em 12/06 foram as aulas em que os alunos ficaram mais quietos,
em isso valendo para todas as turmas. Durante minha explicação os jovens ficaram atentos,
vidrados na minha fala. Utilizei de desenhos no quadro, explicando o que era a ecologia e
como os seres humanos se integram nela. Expliquei a problemática do desenvolvimento e
suas consequências com a ecologia. Passei então a correlacionar os temas com teóricos da
sociologia, como Karl Marx (1990), tratando do materialismo histórico, e da história
constituída através da transformação do natural na produção cultural. Tratei de Leff (2000)
para aproximar o tema até então apresentado para a questão ambiental, explicando como Leff
trata a problemática ambiental e como, na vida moderna, o nosso modelo de vida prejudica o
desenvolvimento sustentável. Chegando na temática da modernidade e suas problemáticas,
correlacionai a explicação com Giddens e Pierson (2000) e Touraine (1999). No final da aula
os alunos comentavam e conseguiam visualizar práticas e ações que ocorriam na região com o
que foi explicado, assim como comentaram a preocupação deles em não ter na escola ou nas
aulas de sociologia, trabalhado a questão ambiental, pontuando-a como um dos principais
temas da atualidade.
Na segunda aula, que foi realizada no dia 19/06, fiz uma revisão dos conteúdos,
resumindo os temas já trabalhados, e fiz um feedback com os alunos, e estes responderam
bem, mostrando que assimilaram e que deram sentido ao que foi trabalhado sobre a questão
ambiental. Expliquei na ocasião o que era percepção, e passei para os alunos resolverem de
forma individual as questões de percepção sobre o ambiente. Os alunos participaram, e
notavelmente, em silêncio, cada um foi resolvendo e entregando seu trabalho. O que
demonstrou interesse por parte deles em rapidamente se prontificar em fazer a atividade e em
tempo hábil entregá-la. Os que não conseguiram terminar a atividade a tempo, ficaram de
entregar na próxima aula.
Na aula de 26/06 fiz um apanhado de tudo o que foi visto e feito, e em sala foi
realizada a leitura do texto “A Força do Verde” presente no livro didático de história, do
39

autor Ferreira (1990). Após a leitura fiz uma breve explicação do texto já orientando o estudo
dirigido. Foram passadas as questões no quadro e divididas as turmas em grupos. Cada grupo
recebeu um texto e numa folha respondeu e entregou as questões. O mesmo ocorreu conforme
a aula passada. Os alunos se dispuseram de forma notável a realizar tarefa e entregaram a
avaliação. As atividades dos alunos foram corrigidas e repassadas para o professor titular
Alcides, e este usou as atividades para conceituar os seus alunos dos segundos anos. A prática
de ciências sociais me despertou a vontade pela licenciatura em ciências sociais e pelo Ensino
Médio. Atuo há 10 anos na rede municipal com o ensino de história, e a experiência que tive
vem me causando transformações, assim como todo o conteúdo que estamos estudando
durante a graduação em Ciências Sociais na modalidade PARFOR.

4.3 PLANOS DE AULA DO ESTÁGIO (segundo semestre 2012)

4.3.1 Plano de aula do dia 25/10/2012

EEB Padre José Maurício


Prof. Martin Stabel Garrote
Disciplina: Sociologia
Turmas: Segundos anos (turmas 04, 05 e 06).
Duração: 1h/a
Tema:
A Ética Ambiental

Objetivos:

a) reconhecer o conceito de moral, ética;

Conteúdos:
a) Conceitos de moral e ética
b) Conceito de ética e bioética

Desenvolvimento:
Aula expositiva, explicando os conceitos e colocando-os no quadro. Resgatar exemplos da
comunidade e relacionar com as problemáticas do desenvolvimento humano e problemas
éticos relacionados com a exploração humana e não humana do meio ambiente.
40

Avaliação:
Participação dos alunos na aula, levando em conta a atenção nas explicações e a coerência de
seus comentários relativamente ao tema proposto.

4.3.2 Plano de aula dos dias 30/10 e 01/11/2012

EEB Padre José Maurício


Prof. Martin Stabel Garrote
Disciplina: Sociologia
Turma: Segundos anos 04, 05 e 06.
Duração: 2h/a
Tema:
Entender e perceber o que é ética ambiental e o comportamento por uma ética ambiental.

Objetivos:

a)reconhecer o valor da vida humana e não humana;


b)compreender o que é a ética de valorização da vida;
c)compreender o conceito de ética ambiental de Peter Singer;

Conteúdos:

a) A problemática socioambiental dos dias de hoje.


b) Os valores da vida, e os valores intrínsecos pautados na ética;
c) A ética da tradição tradicional e ambientalista;
d) A ética ambiental

Desenvolvimento:

Foi realizada uma revisão dos conteúdos da aula anterior sobre moral, ética e bioética, e foi
dada a sequência na explicação dos conceitos levantados por Peter Singer no seu livro Ética
Prática, no capítulo X (“O Ambiente”). Foram usados dois encontros para expor o tema,
sendo o primeiro para realizar a leitura do texto de Peter Singer (em anexo) e o segundo
41

encontro para realizar explicações sobre o texto e tentando captar dos estudantes exemplos
práticos de suas vidas e suas interações com a vida e o meio.

Avaliação:
Participação dos alunos na aula, levando em conta a atenção nas explicações e a coerência de
seus comentários relativos ao tema proposto.

4.3.3 Plano de aula do dia 12/11/2012

EEB Padre José Maurício


Prof. Martin Stabel Garrote
Disciplina: Sociologia
Turma: Segundos anos 04, 05 e 06.
Duração: 1h/a
Tema: Crítica ao sistema capitalista
Objetivos:

a) Assistir ao documentário “A Ordem Criminosa do Mundo”.


A ORDEM criminosa do mundo. TVE – España. Madrid, 2008.
Disponível em: < http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=
GYHMC_itckg> Acesso em:2012.

Conteúdos:

a)Vídeo documentário A Ordem Criminosa do Mundo.

Desenvolvimento:
Nesta aula os estudantes foram para o laboratório de informática e com o uso do multimídia
foi passado o documentário.
Avaliação:
Estar presente e assistir ao documentário.
42

4.3.4 Plano de aula do dia 20 e 29/11/2012

EEB Padre José Maurício


Prof. Martin Stabel Garrote
Disciplina: Sociologia
Turma: Segundos anos 04, 05 e 06.
Duração: 2h/a
Tema: A Crise Global e a cidadania nos dias de hoje – O conceito de “desmodernização” de
Alain Touraine.

Objetivos:

a) Compreender o processo de mudança de valores humanos para os economicistas e as


problemáticas da ética e da cidadania para podermos viver juntos no futuro.

Conteúdos:

a)Texto: Fichamento elaborado pelo estagiário sobre o capítulo “A Desmodernização” da obra


de TOURAINE, Alain. Poderemos viver juntos?: iguais e diferentes. Petropolis : Vozes,
1999.

Desenvolvimento:

A aula foi realizada em dois encontros. No primeiro foi distribuído o texto e feita sua leitura e
explicação. No segundo encontro os estudantes, em grupo, realizaram as atividades propostas
sobre o texto e apresentaram suas respostas.

Avaliação:
Apresentação das respostas da atividade feita em grupo sobre o texto de Alain Touraine.

4.3.5 Relato das aulas ministradas (segundo semestre 2012).

No início da aula do dia 25/10, escrevi as palavras “moral” e “ética” no quadro e


perguntei à turma o que eles sabiam sobre o seu sentido. Poucos participaram, alguns atentos,
outros inquietos, mas poucos estavam desatentos e os que me dirigiram a palavra dando as
43

respostas puderam gerar algumas bases para introduzir o assunto. Assim, através de um breve
resgate histórico exposto oralmente, deixei claro como as civilizações constituem seus
códigos morais e éticos, assim como definimos o que seria a moral e a ética. No final da aula,
que foi dialogada com a turma levantei alguns exemplos sobre a ação cidadã, já levantando
suas atenções para entenderem o que é cidadania e comportamento ético ambiental. Finalizei
a aula explicando as nossas próximas atividades.
A segunda aula proposta para as turmas foi desenvolvida em dois encontros. No dia
30/10 iniciei a aula fazendo uma revisão dos assuntos anteriormente estudados: moral, ética e
cidadania. Apresentei à turma o livro “Ética Prática” de Peter Singer. Expliquei como Singer
trata a questão da igualdade entre os indivíduos e os seres, apontando a lógica economicista
despertada pelo capitalismo, no qual avalia os valores intrínsecos das ações humanas, e foram
feitas leituras de trechos dos textos. No segundo encontro da segunda aula apresentei com
uma fala a ideia de ética de Singer, e como ele fundamenta que a ética de valoração da vida
deve ser planetária, ou ambiental, considerando humanos, outros animais não humanos e
todos os elementos que compõe a natureza do planeta. Terminei a aula colocando alguns
exemplos citando a caça, coleta de palmitos e poluição na região do Parque Nacional Serra do
Itajaí, e os estudantes comentaram e deram exemplos que possibilitaram uma aula dialogada,
inserindo na conversa os conceitos abordados nas aulas anteriores. Grande parte das
discussões tangeu os problemas políticos e de comportamento consumista da sociedade
contemporânea, que decorrem com a globalização e o modelo econômico neoliberal no qual a
sociedade se aprofunda no rompimento com os valores humanos construídos historicamente, e
que fundamentam a democracia a cidadania, a ética e a moral. Antes de terminar a aula
comentei sobre o documentário a ser trabalhado na próxima aula.
Na terceira aula, dia 12/11 antes de assistirmos ao documentário “A ordem criminosa
do mundo” resumimos em conversa com a turma os problemas do capitalismo. Na sequência
assistimos o documentário e combinamos que cada um anotaria no caderno apontamentos
para discutirmos na próxima aula. Na quarta aula, que estava dividida em dois encontros,
inicialmente no dia 20/11 foi feito um apanhado sobre as ideias e a crítica ao sistema
capitalista na forma na qual se apresenta no cotidiano dos estudantes e passei a retomar as
ideias de Alain Touraine, especificando agora o conceito de “desmodernização”, no qual este
autor realiza uma crítica ao sistema capitalista e às formas das mudanças de valores humanos
para econômicos, o que na era da globalização vem causando um caos socioambiental. No
final da aula foi distribuído um resumo sobre o conceito de desmodernização com algumas
atividades para serem realizadas em grupo. Para aplicar o assunto da questão ambiental
44

conforme a proposta do estágio e da mesma forma não atrapalhar o andamento dos assuntos
planejados pelo professor das turmas, os grupos deveriam ler o texto de Touraine (em anexo)
e correlacionar com temas específicos que já estavam sendo trabalhados na turma: Como
Surgiu o Estado Moderno; O poder e o Estado; Poder, política e Estado no Brasil; A
democracia no Brasil; Direitos e Cidadania; Os movimentos sociais; Direitos e cidadania no
Brasil; Os movimentos sociais no Brasil. Cada grupo ficou com um tema e no próximo
encontro ficaram responsáveis em apresentar o tema com um cartaz. No seguinte encontro, no
dia 29/11 cada grupo trouxe o cartaz, eles foram fixados nas paredes e os grupos apresentaram
seus temas.
A realização da prática da docência de sociologia no ensino médio na EEB Padre José
Maurício foi uma experiência única e que elucida o fundamental papel do professor como um
agente que desperta o entendimento crítico da realidade social. Ao tratar da Sociologia
Ambiental e da Questão Ambiental, os estudantes passaram a absorver a teoria, entender e
relacionar com os fatos de suas realidades o que os assuntos ministrados trataram. O ensino e
as discussões geraram reflexões e conscientizações produzindo um conhecimento nas turmas
que passou a pertencer à bagagem cultural dos estudantes, e de certa forma, nas ações sociais
que estes promoverão em suas vidas. Realizar a prática docente durante a graduação favorece
o professor de sociologia em suas práticas quando formado, e aprimora a docência em
Sociologia e a prática social do estudante e professor.

4.4 GRUPO DE PESQUISAS DE HISTÓRIA AMBIENTAL DO VALE DO ITAJAÍ

Na prática de Estágio do ensino de Sociologia no Ensino Médio foi trabalhado com os


estudantes do ensino médio a Questão Ambiental e as noções de ética ambiental uma vez que
a comunidade da escola se encontra no entorno do Parque Nacional da Serra do Itajaí. Nessa
fase do estágio o campo de estágio foi a EEB Pe José Maurício, sendo que o objetivo foi
apresentar a temática da Questão Ambiental aos estudantes e averiguar de que forma a
sociologia aborda a temática ambiental e pode contribuir para que o comportamento em
relação ao meio ambiente possa ser praticado sustentavelmente na localidade.
Dando sequência às atividades de estágio tendo como perspectiva ainda a temática da
Questão Ambiental e como ela é abordada nas Ciências Sociais foi planejado, para a
realização da última prática de Estágio, que consiste na realização de uma pesquisa numa
instituição não formal de educação (uma ONG), compreender de que forma no espaço da
45

Universidade Regional de Blumenau - FURB são realizados estudos que analisam a relação
sociedade natureza e suas problemáticas.
Para fazer o estágio e alcançar esse objetivo foi necessário identificar um laboratório
ou grupo de pesquisa para verificar como ocorre a produção do conhecimento dentro de um
ambiente acadêmico. Foi realizado um levantamento para averiguar qual laboratório ou grupo
de pesquisas está atuante e produzindo conhecimento sobre o tema da Questão Ambiental na
FURB. Conforme o relatório de Grupos de Pesquisas4 publicados no site da instituição, dos
15 grupos listados, apenas 3 possuem trabalhos na área do tema:
- GPHAVI – Grupo de Pesquisas de História Ambiental do Vale do Itajaí, que está
vinculado ao Departamento de História e Geografia.
- NEPEMOS – Núcleo de Estudos, Pesquisas e Extensão sobre Movimentos Sociais,
que está vinculado ao Departamento de Serviço Social.
- GIPADMA – Grupo Interdisciplinar sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente,
Vinculado ao Departamento de Ciências Sociais e Filosofia.

.4.4.1 A escolha do campo de estágio.

Entre os grupos levantados, foi definido que o GPHAVI seria o campo da pesquisa a
ser realizada na última etapa do estágio em Ciências Sociais. No grupo, o estagiário tem a
oportunidade de vivenciar um espaço de produção de conhecimento científico, histórico
social, abordando o meio ambiente de forma interdisciplinar. Realizar o estágio junto a um
grupo de pesquisa, no caso do GPHAVI, que além de ser uma instituição de produção de
conhecimento sobre sociedade e natureza, atua também enquanto Organização Não
Governamental – ONG possibilitou um conhecimento sobre as atividades de um cientista para
o estudante estagiário.
Este estágio também deu a oportunidade de vivenciar o que o sociólogo Bruno Latour
(1988; 2000) denominou de Antropologia da Ciência, ou seja, a possibilidade de um aspirante
ou estudante de uma ciência observar em um laboratório de pesquisas científicas, de que
forma o conhecimento é produzido, desde a origem do problema, as formas de abordá-lo, a
formulação de hipóteses, a coleta de fontes, sua análise, as respostas das hipóteses, a
formulação dos relatórios científicos e de seus respectivos materiais de divulgação a
comunidade científica.

4
Para ver a lista acessar http://www.furb.br/web/2937/inovacao-e-pesquisa/grupos-de-pesquisa/grupos-de-
pesquisa-furb/ciencias-humanas/7
46

E por último, proporciona ao estagiário a noção do ritmo de um cientista na produção


normal da ciência, suas atividades laboratoriais, de ensino, pesquisa e extensão, o que gera na
experiência do futuro sociólogo modelos e indicadores para que o estagiário em sua prática
como cientista social, possa ser mais efetivo à sociedade.
A realização do estágio em uma instituição como o GPHAVI também possibilita ao
estudante de ciências sociais interagir com estudantes e conhecimentos de outras áreas, pois
no GPHAVI estão atuando acadêmicos de engenharia florestal, biologia, história, educação
física e também de sociologia, o que fortalece o pensar interdisciplinar. Além disso, foi
possível obter uma noção de como é ser um pesquisador, vendo a ação deste na prática, o que
auxilia o cientista social em sua futura inserção no ensino superior, aprendendo como criar
grupos de pesquisa, como captar recursos para realizar projetos assim como os executar, o
que, em suma, fundamenta a formação do estudante de Ciências Sociais.
A escolha pelo GPHAVI também se justifica devido o grupo possuir em andamento
pesquisas nas comunidades do entorno do Parque Nacional da Serra do Itajaí - PNSI, região
abordada nas aulas realizadas nas práticas de estágio anteriores, o que possibilita à prática
dessa fase do estágio na convergência e continuidade com o que já foi realizado nas práticas
de estágio no Ensino Médio na EEB Pe. José Maurício. Como instituição Não Governamental
o GPHAVI realiza atividades de Educação Ambiental nas comunidades do PNSI
apresentando os resultados de seus estudos às comunidades, principalmente sobre os impactos
da exploração da biodiversidade local através da caça e extrativismo vegetal. Desta forma, a
ciência produzida no laboratório do GPHAVI age no sentido weberiano da Ciência Social, ou
seja, produz conhecimento científico, difunde o conhecimento a comunidade, traduzindo o
conhecimento do científico ao senso comum, o que possibilita a tradução pela sociedade em
geral, e paulatinamente desenvolve nos indivíduos o senso crítico, favorecendo mudanças
sociais (WEBER, 1999).

4.4.2 A questão ambiental e a História Ambiental:

A História Ambiental conforme Worster (1991) é uma área em crescimento na


academia, tendo como principal objetivo compreender como a sociedade humana, no passado,
passou a ser influenciada pelo ambiente, na constituição da cultura material e imaterial, e
também analisa de que forma a cultura constituída passa a exercer poder de dominação e
exploração no ambiente, e em que níveis ocorreram os impactos sociais à natureza ou
47

processos ecológicos, assim como avaliar como a sociedade humana é afetada pelo seu
próprio processo de interação com o meio ambiente.
A História Ambiental é uma área interdisciplinar e dentro do seu objetivo aborda a
temática da questão ambiental bem próximo do que se propõe a Sociologia Ambiental, ou
seja, tendo como pressuposto o discurso ecocêntrico no lugar no antropocêntrico
(FERREIRA, 2006). Conforme depoimentos do coordenador do GPHAVI, o professor 5
Gilberto Friedenreich dos Santos, o grupo atua há mais de dez anos na Universidade Regional
de Blumenau, já realizando com a linha de pesquisa da História Ambiental mais de 20
projetos de Iniciação Científica. É um espaço de produção de conhecimento científico sobre
as interações sociedade-ambiente, tendo como base a teoria da História Ambiental.
Os estudos denominados de História Ambiental começaram a surgir por volta da
década de 1970. Antigamente não se visava tanto a conservação ambiental, pois pensava-se
que os recursos naturais eram ilimitados. Assim, é somente a partir do momento que a
sociedade passa a se preocupar com a escassez de recursos, com as mudanças climáticas e das
paisagens, os grandes impactos ambientais e morte e diminuição da fauna e flora, é que a
questão ambiental passa a se tornar uma agenda mundial e a problemática ambiental passa a
ser agenda dos governos, assim como das carreiras universitárias, sendo na década de 70 a
incorporação da temática tanto na Sociologia como na História (WOSTER, 1982;
FERREIRA, 2006).
O debate ambiental surge, assim, na História em meio a uma época de reavaliação e
reforma cultural e, no campo da ciência social, através da crítica ao positivismo e na busca da
interdisciplinaridade com estudos sistêmicos. Assim a história ambiental nasceu, portanto de
um objetivo moral, tendo por trás fortes compromissos políticos, mas, à medida que
amadureceu, transformou-se também num empreendimento acadêmico, não tendo uma
simples ou uma única agenda moral ou política para promover (WOSTER, 1982). A História
Ambiental tem como objetivo principal aprofundar o conhecimento dos seres humanos e ver
como, através dos tempos, conseguimos afetar e sermos afetados por nosso ambiente.
(PÁDUA, 1986).
Através da análise no âmbito da historiografia ambiental é possível conhecer as
relações entre a sociedade e a natureza, observando nessas relações as consequências positivas
e negativas para ambas as partes. A história resgata os acontecimentos da vida humana, suas
tramas, e com o levante das relações antrópicas com o natural, através da História Ambiental,

5
Conversa especulatória realizada no GPHAVI em julho de 2013.
48

caracteriza-se a compreensão dos indivíduos sobre seus atos em relação ao ambiente. Desta
forma, a historiografia ambiental, além de levantar as características sociais e culturais de um
grupo, trata de uma história que demonstra como foi realizada a ação humana relativa à
natureza, e quais foram as suas consequências à sociedade e ao meio natural (DRUMMOND,
1991; WORSTER, 1991; LEFF, 2005; MARTINS, 2007).

4.4.3 Relato das atividades realizadas

Após a escolha do campo de estágio no GPHAVI fui ao laboratório conversar


com o coordenador do grupo, o professor Gilberto Friedenreich dos Santos e combinar o
período de realização do estágio. Conforme a disponibilidade dos horários do estagiário e os
de funcionamento do laboratório do grupo ficou acordado que o estágio seria realizado de 01
de abril até dia 03 de junho de 2013, totalizando dez semanas ao todo, sendo cumprido o
horário das 14 até 17 horas de segunda à sexta-feira, o que totalizou 150 horas de estágio.
A primeira coisa a ser feita foi a observação do campo de estágio. Através dela seria
possível conhecer o funcionamento do grupo e as pesquisas que ali eram realizadas. Ao iniciar
as observações, conheci os bolsistas, estudantes de graduação, que estavam atuando neste
primeiro semestre de 2013. Os bolsistas do GPHAVI estavam desenvolvendo pesquisas sobre
a exploração da madeira, sendo uma pesquisa que tinha como foco a localização do Alto Vale
do Itajaí, especificando o estudo na Canela Sassafrás. Havia também uma pesquisa estudando
a exploração da madeira na região do Parque Nacional da Serra do Itajaí, e por ser esta a
região do foco das minhas outras práticas de estágio, ficou combinado com o professor
Gilberto que seria válida minha participação no estágio do GPHAVI apenas nos projetos que
tratam da região do entorno do PNSI.
As pesquisas realizadas no GPHAVI são financiadas pelo PIPe, Programa de Incentivo
a Pesquisa, com recursos de bolsa pelo Governo do Estado de Santa Catarina, e parceria com
o Instituto de Conservação da natureza Chico Mendez – ICMBio. Através desse fomento de
bolsas por parte do Estado e dados logísticos por parte do ICMBio, o GPHAVI vem
desenvolvendo um levantamento das serrarias que atuaram no parque, tendo dois bolsistas
levantando material, e na outra pesquisa historiando a Serraria São Francisco, que foi a última
que explorou madeira na região do alto Progresso, Sul de Blumenau, onde está o parque e em
suas proximidades a EEB Padre José Maurício campo dos estágios anteriores como já citado.
As pesquisas que estavam sendo realizadas á época deste estágio eram:
49

a) História e memória ambiental das antigas serrarias do território do Parque Nacional da


Serra do Itajaí. A região do Vale do Itajaí-açu historicamente se caracterizou pela exploração
madeireira como uma das principais atividades econômicas nos séculos XIX e XX. A
exploração madeireira da mata nativa, Floresta Atlântica, teve no século XX seu auge, e a
seleção do tema justifica-se pela grande relevância histórica como uma das mais importantes
atividades econômicas para o crescimento dos municípios da região, do interesse da
administração do parque de resgatar a história da exploração madeireira dentro e na zona de
amortecimento do PNSI, e pelo fato da atividade ser responsável pela forte pressão antrópica
que contribuiu para a significativa redução da mata nativa e perda e desaparecimento de
espécies da biodiversidade local. O objetivo é levantar e compreender a história e memória
ambiental da exploração madeireira realizada pelas serrarias nos limites territoriais do Parque
Nacional da Serra do Itajaí e zona de amortecimento. Os objetivos específicos são: 1)
Identificar fontes históricas, escritas e não escritas, identificar sujeitos da história
(pesquisadores, membros da comunidade, funcionários de serrarias) com conhecimento sobre
serrarias, que atuaram ou vivenciaram a história no território do PNSI; 2) Levantar as serrarias
através de documentos históricos e memórias das pessoas para elaborar uma lista das serrarias
com locais e períodos de funcionamento que atuaram no território do PNSI; 3) Construir um
panorama histórico da atividade madeireira da Mata Atlântica do Parque Nacional da Serra do
Itajaí e zona de amortecimento; 4) Identificar e caracterizar ciclos de exploração da madeira
no território e zona de amortecimento do PNSI. Os resultados serão obtidos através da
identificação das fontes históricas, escritas e não escritas, e resgate da memória de sujeitos
históricos (pesquisadores, membros da comunidade, e funcionários de serrarias) com
conhecimento das serrarias que atuaram no território do PNSI e zona de amortecimento. Será
elaborada uma lista das serrarias que atuaram no território do PNSI e zona de amortecimento
com locais e períodos de funcionamento, serão levantadas informações sobre o processo
histórico da atividade madeireira e a diversidade de uso da madeira empreendida pelas
serrarias a fim de construir um panorama histórico da atividade madeireira da Mata Atlântica
do Parque e identificar e caracterizar ciclos de exploração da madeira no território e zona de
amortecimento do PNSI.

b) História e memória ambiental da Serraria São Francisco no Parque Nacional


da Serra do Itajaí. Esta pesquisa tem como foco de estudo a Serraria São Francisco que se
localizava na Segunda Várzea do Ribeirão Garcia, a montante da comunidade da Nova Rússia
(Primeira Várzea), região sul do município de Blumenau. A serraria foi uma das principais
50

empresas que exploraram a Mata Atlântica da região, e atualmente é a sede principal do


Parque Nacional da Serra do Itajaí (PNSI). A presença de vestígios da serraria é considerada
parte do patrimônio cultural material e imaterial do PNSI. O objetivo da pesquisa é
compreender a história e memória ambiental da exploração madeireira realizada pela Serraria
São Francisco na região sul de Blumenau no século XX, tendo como objetivos específicos:
1)Identificar fontes históricas, escritas e não escritas, assim como sujeitos históricos que
atuaram na exploração madeireira ou presenciaram as atividades da Serraria São Francisco; 2)
Resgatar a história da Serraria São Francisco a partir dos documentos e das memórias de
sujeitos históricos que fizeram parte direta ou indiretamente da exploração madeireira; 3)
Construir um panorama histórico da atividade madeireira da Serraria São Francisco
estabelecendo e caracterizando os ciclos de exploração da madeira. Para tanto se torna
necessário identificar fontes históricas, escritas e não escritas, e identificação de pessoas que
trabalharam na Serraria São Francisco e de pessoas que residem/residiram na comunidade
com conhecimento da história da serraria para organizar a relação de entrevistados; e saídas
de campo para a realização de entrevistas com a intenção de a memória sobre o processo de
exploração madeireira e a tecnologia empregada pela serraria. Os resultados da pesquisa serão
obtidos também com levantamento de bibliografias, periódicos, relatórios de governo, censos
governamentais e demais trabalhos científicos como monografias, dissertações, teses,
relatórios de pesquisa, e documentos nos arquivos públicos, arquivos pessoais dos
entrevistados, e outros dados que venham a enriquecer a pesquisa.
Depois das observações, do levantamento de material para conhecimento do GPHAVI
e vivenciando diariamente o cotidiano da pesquisa no grupo passei a conhecer as atividades
científicas e junto com os bolsistas realizar as tarefas propostas nos projetos das pesquisas.
Acompanhei os bolsistas em visitas à biblioteca da FURB, auxiliando-os no levantamento
bibliográfico, assim como discutindo as hipóteses levantadas nas reuniões e orientações junto
com o professor Gilberto.
Além de acompanhar o desenvolvimento das pesquisas desenvolvi um plano de
atividades para contribuir nas reuniões do grupo, que são quinzenais. Inicialmente apresentei
o documentário “Memórias do Parque” (de minha autoria), que trata da história da devastação
da Floresta Atlântica pelos próprios sujeitos que colonizaram a região do alto progresso. A
partir do vídeo foram discutidas algumas etapas para a coleta de fontes documentais, e de
entrevistas, pois os bolsistas já haviam realizado estudos prévios para caracterizar a região.
Foram feitas mais de dez visitas ao Arquivo Histórico José Ferreira da Silva, coletando
material de jornais de circulação da Blumenau Colônia e também mais de dez visitas à
51

Associação Catarinense de Preservação da Natureza – ACAPRENA, para investigar seus


documentos sobre a região do parque. Durante essas atividades no Arquivo Histórico e na
ACAPRENA o estagiário e os bolsistas do GPHAVI buscaram e identificaram material
relacionado ao objeto das pesquisas do grupo, foi feita leitura e fichamento das informações
das fontes e depois sua apresentação em reunião. As fontes fichadas, posteriormente foram
apresentadas nas discussões do grupo nas reuniões, momento que, além de apresentar o que
cada um fez durante a semana, discutia-se e construía-se a história das serrarias na região do
parque analisando as formas da exploração e suas consequências socioambientais.
Outra atividade em que o estagiário participou foi na realização de entrevistas e
reconhecimento do campo da pesquisa, ou seja, conhecer os sujeitos da história do local,
entrevistá-los e conhecer onde se passou a história. Também foram feitas três entrevistas com
moradores das comunidades do entorno do PNSI, sendo que uma delas foi realizada pelo
estagiário, conforme se vê na figura abaixo.

Figura 18: Estagiário entrevistando o Sr. Arno Smith

Além dessa entrevista realizada pelo estagiário, o mesmo acompanhou outras três
entrevistas, onde os bolsistas do GPHAVI realizaram as perguntas. Foram entrevistados dois
senhores que atuaram como lenhadores na exploração da madeira e também o ecólogo Lauro
Eduardo Bacca. Os dados que foram coletados com as entrevistas também eram apresentados
nas reuniões, sendo o estagiário incumbido da apresentação da entrevista que realizou. As
hipóteses discutidas com as fontes documentais eram comparadas com as das entrevistas e foi
52

possível averiguar como os estudantes de História, bolsistas do grupo, passavam a associar os


fatos para organizar e dar sentido a esta história.
O estagiário também ficou responsável por apresentar, nas reuniões quinzenais durante
seu estágio no GPHAVI, três artigos científicos. Dois foram sobre a teoria da História
Ambiental e um sobre a Sociologia Ambiental. Foram apresentados os seguintes textos:

- Para fazer História Ambiental – texto do biólogo Donald Worster que busca fazer uma
reconstituição histórica do surgimento da história do meio ambiente, como parte de um
esforço para proporcionar ao campo da História maior amplitude narrativa. Rejeitando a
História do meio ambiente como um modismo esotérico e passageiro, o autor realiza uma
pesquisa sobre o que foi recentemente organizado dentro deste campo específico de
conhecimento através das historiografias francesa e americana.

- A História Ambiental: temas, fontes e linhas de pesquisa – artigo do sociólogo José


Augusto Drummond, o artigo examina as origens e a situação atual da História Ambiental
avaliando outras disciplinas científicas intimamente relacionadas a esse novo campo e
proporciona informações sobre o periódico "Environmental Review". Em seguida, oferece
pequenos sumários dos principais livros sobre história ambiental publicados nos últimos vinte
anos, e menciona alguns escritores e ensaístas brasileiros da atualidade que, de diferentes
formas, hoje ou no passado, revelaram uma sensibilidade para variáveis ambientais.
Durante a última reunião do GPHAVI, no início de junho e, portanto, no final da
atividade dessa etapa do estágio, o estagiário apresentou o terceiro texto na reunião do grupo:
o texto do sociólogo Frederick Buttel (1986) “A sociologia ambiental e o meio ambiente: um
caminho tortuoso rumo a ecologia humana”. O estudo apresenta a epistemologia da
Sociologia Ambiental e a visão sistêmica ecocêntrica, que rompe com a dicotomia e dualidade
ao se pensar sociedade e natureza, e que a natureza é mais ampla que a sociedade, e desta
forma é indissociável, ou seja, que a sociedade é um elemento que compõe a natureza, e desta
forma deve ser analisada sem ser separada como vem sendo feita pelas Ciências Humanas ao
propor estudos sobre sociedade e natureza.
O estágio no GPHAVI possibilitou compreender algumas das ações pertinentes ao
sociólogo em sua atuação como profissional. O sociólogo analisa a sociedade e avalia as
implicações do uso social da natureza. A natureza está intrinsecamente ligada ao
desenvolvimento social, na formação da cultura, na ocupação e formas e uso do espaço
geográfico, assim como é a matéria-prima para a produção de bens materiais, na formação do
53

mercado, na divisão do trabalho e na divisão das classes sociais da sociedade contemporânea.


Com a Sociologia Ambiental o sociólogo pode, com seus estudos e pesquisas, elucidar a
complexidade da problemática ambiental, e com seus resultados e análises, conscientizar a
sociedade para agir diferente em relação ao uso dos recursos naturais. Desta forma, estagiar
no GPHAVI possibilitou o aprimoramento das atividades científicas, ensino e de extensão,
gerando uma bagagem de experiência para o ensino e a pesquisa em Ciências Sociais.
54

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo da prática de ensino é despertar no discente de licenciatura em Ciências


Sociais as habilidades necessárias para que quando esteja formado atue com excelência na sua
área de ensino e pesquisa. O ensino de ciências sociais possibilita despertar nos jovens uma
interpretação crítica sobre as principais questões que norteiam as sociedades humanas. Além
do ensino o cientista social também promove a crítica à realidade social através das pesquisas
científicas e, neste sentido, a prática do estágio, em uma de suas disciplinas, possibilita ao
estudante noções e conhecimentos da atividade de um cientista social em instituições não
formais de educação. Assim este relatório descreveu como ocorreu em um primeiro momento,
a prática docente de Ciências Sociais, e em um segundo momento, a atividade do pesquisador,
aperfeiçoando assim a formação.
Neste relatório foram expostas as experiências das atividades do Estágio em Ciências
Sociais. O estágio consiste em auxiliar o estudante na prática docente e na prática como
pesquisador. Assim foram realizados os estágios, inicialmente em uma escola, a EEB Pe José
Maurício, e em uma instituição de pesquisa, o GPHAVI. O objetivo da prática de estágio foi o
de proporcionar aos estudantes do ensino médio a compreensão da Questão Ambiental, e
analisar como a Sociologia Ambiental e Ética Ambiental auxiliariam os indivíduos na
orientação de suas práticas sociais em uma região protegida por uma Unidade de
Conservação, no caso o Parque Nacional da Serra do Itajaí, e averiguar como o Grupo de
Pesquisas de História Ambiental do vale do Itajaí (FURB) analisa a Questão Ambiental
através dos estudos com a abordagem da História Ambiental.
Um dos temas que afronta a vida social humana é a questão ambiental, ou seja, a
preocupação em viver e usar o ambiente sem esgotar seus recursos assim como promover
fenômenos catastróficos que inviabilizem o bem-estar social humano e dos demais seres do
planeta. Assim, tendo o ensino de sociologia, como vimos em Sarandy (2001), tem como
objetivo formar agentes de transformação social. E dentro da problemática ambiental que
vivemos hoje, buscou-se estudar com esta prática o tema da questão ambiental. O estágio foi
composto de duas fases, sendo na primeira (Estágio II e III) na escola, fazendo a observação
da prática de um docente e fazendo a experiência da docência, e na segunda fase (Estágio IV)
adquirindo conhecimento sobre a atividade científica. As atividades de ensino e de pesquisa
em Ciências Sociais me motivaram e despertaram a vontade de lecionar no ensino médio e
militar pela melhoria social. A partir dessa prática e experiência adquirida com o Estágio, a
55

pesquisa para o TCC será aprofundada e enriquecida com experiências realmente vividas e
experimentadas, a do ensino e da atividade científica.
56

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59

ANEXOS

ANEXO 1 – Contrato de Estágio – Estágio II


60
61
62
63

Contrato de Estágio – Estágio III


64
65
66

Contrato de Estágio – Estágio IV


67
68
69

ANEXO 2

Declaração de horas do estágio – Estágio II


70

Declaração de horas do estágio – Estágio III


71

ANEXO 3

Avaliação do professor sobre a prática de ensino – Estágio II


72

Avaliação do professor sobre a prática de ensino – Estágio III


73

ANEXO 4

Texto didático – Estágio II


74
75

Texto didático – A Desmodernização de Alain Touraine

Fichamento elaborado por Martin Stabel Garrote do capítulo A Desmodernização da


obra: TOURAINE, Alain. Poderemos viver juntos?: iguais e diferentes. Petropolis :
Vozes, 1999.

Conforme Touraine, hoje estamos em crise social e no progresso. Os anseios


históricos, as lutas sociais por melhores condições sociais, trabalhistas, culturais vivem em
crise. Temos confiança nos avanços tecnológicos, tanto na medicina como de maquinários
utilitaristas dos nossos serviços laborais ou cotidianos, mas ao mesmo tempo essas
tecnologias nos dão medo pela precariedade do uso, da informação das pessoas que as
administram. As entidades do Estado, que teriam como função humanizar está desarticulado,
e não cumprem suas funções sociais. As diferenças individuais causam cada vez mais
conflitos nos diversos grupos humanos, ocorre uma drástica alteração na tolerância, e situação
tende a piorar. Existe uma enorme falta de respeito a toda história da produção de
conhecimento humano adquiridos com acertos e erros, nas diversas experiências humanas,
nos diversos tempos e territórios. O modelo estabelecido como sociedade ideal, fruto da
história humana, está em ruínas, e tende-se cada vez mais a dúvida sobre o futuro ou sobre
como poderemos, sendo igual ou diferente viver juntos.
O pensamento clássico foi reescrito ou desenvolvido na pós modernidade. A sociedade
moderna foi preparada para a razão ser superior ás paixões, para que as leis punissem os
malvados, e que a educação ensinasse as crianças a controlar seus impulsos e vícios para uma
disciplina que os levassem a humanização, a seres praticantes do trabalho e da cidadania. Essa
seria a natureza do modelo clássico para a sociedade. Esse pensamento de sociedade clássico,
ou moderno, foi constituído com o tempo e influenciado/modificado por momentos históricos
de debate e produção intelectuais, como a renascença, o iluminismo, as revoluções burguesas,
a revolução industrial, revolução vegetal, crise ambiental entre outras atuais. Essa concepção
de sociedade, modelo burguês, projetou uma sociedade que visa a liberdade, individualismo e
o consumo, a fim de alcançar um estado de conforto, ou de bem-estar-social. Tendo o Estado
como uma agencia de estruturação e de função reguladora. Mesmo com o passar da história e
as diversas formas interpretativas dadas ao modelo, sua natureza não alterou. Esta sociedade,
visualizada pelo modelo clássico, efetiva o triunfo da razão sobre as tradições, da igualdade
entre os indivíduos, pautados sobre um conjunto de códigos morais que assegurariam a
76

estrutura, seu desenvolvimento e progresso. Na pós modernidade ocorre o fenômeno da queda


do modelo clássico, e ela se dá pela quebra do entendimento e da dissociação entre público e
o privado.
A queda do modelo clássico ocorre a partir da substituição de uma ideia de progresso
humano, da sociedade alcançar um estado de bem-estar-social pela equidade econômica, mas
foi pela questão econômica, de seu acumulo, que ocorreu a desmodernização. O Estado e as
suas instituições pararam de pregar o modelo clássico, e o substituiu por um modelo gerado
após a industrialização, com o anseio pelo lucro via exploração do trabalhador, e pela
propaganda via meios midiáticos, instigando o sujeito a curiosidade e a vontade de consumir
os produtos modernos. Ao mesmo tempo, ocorreu por parte do Estado e das instituições maior
dissociação entre o público e privado, o que ocasionou numa anarquia nos modelos
comportamentais e de ação dos sujeitos frente às realidades cotidianas (relação de exploração
do trabalhador, falta de recursos para o desenvolvimento de uma vida de bem-estar social) e
estruturas sociais. Passa a ocorrer uma oposição entre o indivíduo e a ordem social, entre o
prazer e a lei. A ideia de nação coletiva deixa de pairar nas mentalidades e a sociedade
gradativamente passou a individualizar e se tornar uma sociedade de consumo, do prazer e da
ruptura com o modelo clássico. Ocorre então uma dissociação entre o que foi projetado pelo
modelo clássico de sociedade, por um modelo deturpado, que rompe conhecimento, valores e
a alma. Esse processo de dissociação é o que Touraine chama de desmodernização. Ocorre
então um estado de crise, de crise humana, cultural e econômica/ambiental. Ela leva a
sociedade a uma queda, mas abre espaço para uma crítica e para novas elaborações da
racionalidade instrumental das coisas da vida e de identidade cultural.
Conforme a sociedade passa a ser uma sociedade do consumo, criando essa cultura,
ocorre o que foi denominado de globalização, que nada mais é do que a difusão no globo
terrestre de um modelo social pautado na exploração da mão-de-obra e de uma sociedade que
troca o conhecimento e os valores historicamente constituídos (modelo clássico) pela ordem
de ter, consumir, e do desrespeito a própria condição de sobrevivência da espécie humana
(crise ambiental). Invés de globalizar e de padronizar perspectivas racionalizadas que
configurassem uma sociedade do bem-estar-social (pautadas no modelo clássico), o Estado
falido, e suas instituições, assim como o capitalismo financeiro e meios de comunicação de
massa, difundem um modelo que cada vez mais, ao passar do tempo, gera crise e rupturas. A
sociedade humana com a ideologia liberalista, de ser livre, de amar, de ter ações em prol do
gozar, desfrutar, deixa de fazer, deixa de ser, e deixa de promover a humanidade. Com a
ideologia liberal preconizada pela burguesia pós-moderna, ocorre uma mascarização das
77

problemáticas por ela criada principalmente de uma economia selvagem com o uso do
espetáculo promovido pela mídia sobre os produtos fúteis criados por essa indústria.
O modelo de sociedade hoje, que rompe com o modelo clássico já expresso, deteriora-
se na medida em que ocorre uma dissociação entre o econômico e o cultural. Ou seja, a
justificativa do acumular capital, crédito, sem que haja ganhos reais para a qualidade de vida.
A globalização gera um estágio de mentalidade onde o indivíduo deve ter, consumir e ter
bens, propriedades. E este se dissocia do modelo clássico, que é um modelo onde o indivíduo
deve ser, e não ter. Desta forma, gera-se uma crise, e ocorre uma dissociação de uma
identidade coletiva, comunitária, e gera-se uma sociedade do consumo, do egoísmo pela
obtenção dos bens de consumo, dos valores sociais de bem-estar-social substituídos pelos
status promovidos pelas marcas e produtos que passam a se tornar fundamentais para a vida
cotidiana nessa sociedade controlada pela economia.
A desmodernização da sociedade embalou o declínio das instituições, que na ideologia
burguesa organizariam e dariam suporte estrutural e funcional. Desta forma a família foi
desestruturada, a Escola perdeu estrutura e funcionalidade com sua banalização, as Igrejas não
possuem mais seus dogmas aceitos e cumpridos pelos seus membros, o Estado tornou-se
injusto e controlado pelos grupos empresariais que controlam o mercado, e a fé na Justiça
deixou de existir. Isso ocorreu devido a formação de uma economia financeira e industrial,
que apenas visava aumentar os lucros, sem ética, e que passou a ser globalizada, e
controladora simbolicamente pelo sistema monetário virtual sem fronteiras sobre os territórios
(Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional e Organização Mundial do Comércio). O
sistema econômico e seus atores passam a controlar os sistemas políticos alienando-os com as
injeções de capitais, e alienando a sociedade pela mais valia do trabalho. Ocorre assim o que
Touraine chama de desinstitucionalização, que é o enfraquecimento ou a desapropriação das
normas codificadas e protegidas por mecanismos legais e pelo desaparecimento de
julgamentos de normalidade aos comportamentos regidos por instituições. É a perda dos
códigos morais e éticos em benefício do lucro sobre uma servidão moderna embutida a
sociedade humana e recursos naturais.
Como exemplos, claros dessa desistitucionalização, temos a família e a escola. A
família que antes era mais unida, mesmos por traços de tirania e patriarcado, com a onda do
capitalismo financeiro, os sujeitos que compõe a família visam mais o ter do consumo, dos
valores criados pela mídia, do que os valores históricos de nossa espécie, como a da
comunidade e coletividade do bem-estar, e os membros familiares separam-se em seus
microgrupos, isolando-se, ou como em grande parte não possuem tempo para estabelecer
78

laços de convívio devido haver alienação do tempo e detrimento da venda do serviço ao


trabalho, para obter dinheiro para sobreviver. Encerra-se com isso a autonomia dos indivíduos
frente a vida. A escola, que antes ensinava e colocava em prática códigos morais, práticas
nacionalistas e de integração, declina a tempo e está desarticulada com a família e o mercado,
que pouco a pouco sufoca as instituições gerando uma crise dos sujeitos frente suas
realidades, e a realidade é de anomia.. Com o tempo ocorre nessas estruturas funcionais da
sociedade a dessocialização das atividades humanas, houve a despolitização, e não houve
mais fundamento para a ordem social (modelo clássico). Houveram também programas e
políticas de agregação, mas o crescimento da lógica liberal financeira do capitalismo, e a
instauração da sociedade do consumo diminuiu as oportunidades a grande parte da sociedade,
no que acentua a crise.
Alain Touraine evidencia a problemática que vivemos atualmente, definindo-o como
produto de uma sobreposição de valores econômicos sobre valores humanos, da substituição
dos saberes tradicionais, que foram compostos pela nossa história de acerto e erro, por
conhecimentos fúteis, irrelevantes ao progresso e desenvolvimento da sociedade humana. A
grande questão é que o capitalismo pensado dentro dos padrões morais e éticos do princípio
do modelo ideológico burguês possibilitaria o bem-estar-social, mas, após a desarticulação do
mundo bipolar (Guerra Fria), o que se viu foi a aglutinação de empresas e os monopólios de
produtos e serviços, do controle desses sobre os sistemas políticos em puro benefício privado,
e individualizado a pequenos grupos sociais no globo. Essa prática econômica veio a gerar
como imaginário que é certo a valorização do lucro sem levar em consideração as
consequências sociais e ambientais. O sistema capitalista gera a poucos e em curto prazo o
bem-estar-social, ou pelo menos um status como em um sonho, mas ele decorre em
detrimento ao uso da grande maioria da sociedade, que passa a viver em péssimas condições
alienadas as migalhas dos processos de desenvolvimento desiguais. É notável pela experiência
ontológica de cada indivíduo social hoje, o crescimento das desigualdades. Percebemos em
nossa realidade que cada vez mais aumenta a pobreza, e aumentas as tecnologias, mas as
tecnologias não são desenvolvimento. O desenvolvimento deve criar dos indivíduos agentes
democráticos e autônomos frente as possibilidades do bem-estar-social. Neste sentido,
Touraine passa a questionar como poderemos nesta problemática mudar a situação e buscar
entre nossa interação social medidas públicas e democráticas para responder a pergunta que
norteia o título do livro: Iguais e diferentes: poderemos viver juntos?
79

QUESTÕES

1) Conforme o texto, qual é a problemática social apresentada por Alain Touraine em


relação ao capitalismo?
2) O que Touraine entende por modelo clássico de valores sociais, e sobre qual
premissas ele está pautado?
3) Conforme Touraine como ocorre a queda do modelo clássico na sociedade
contemporânea?
4) Qual é a grande problemática apontada em relação a Globalização e a ação do
sistema econômico liberal?
5) Alain Touraine explica a desarticulação social pelo capital através do terno
Desmodernização. Conforme o texto, o que você entendeu sobre ente conceito?
6) Qual é o principal argumento utilizado por Touraine para argumentar sobre a crise
social na qual nos encontramos hoje?

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