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Uma das razões de nossa moral estar hoje tão deturpada é porque, vários anos atrás, nossos pais, avós
e bisavós fizeram várias concessões aos inimigos da liberdade justamente em termos morais. Para
ser mais específico, eles permitiram que os inimigos da liberdade pudessem se arvorar os únicos
detentores da superioridade moral.
Essas ideias, cujo centro irradiador foi a Alemanha do século XIX, afirmavam defender a compaixão
e o esclarecimento. O objetivo, obviamente, era transformar a estrutura do mundo, o que levou
àquele pensamento mais moderno e progressista de que poderes totais deveriam ser dados ao governo
para que este -- desde que, obviamente, sob o comando destes progressistas iluminados --
controlasse, direcionasse e alterasse as pessoas, tudo para torná-las seres humanos melhores.
Obviamente, o que eles fizeram foi substituir o mais benevolente e radical sistema que o mundo já
viu pelo mais diabólico e destrutivo dos ideais -- a ser implementado pela mais antiga das
ferramentas: a força bruta.
Se quisermos recuperar a superioridade política na batalha pela liberdade, temos também de resgatar,
de maneira clara e inequívoca, a superioridade moral. Eis a seguir, portanto, parte do que vejo como
a defesa moral do capitalismo e daqueles princípios de livre mercado que permitem que as forças
produtivas e criativas do capitalismo floresçam e prosperem em sua totalidade.
Toda a função e finalidade do capitalismo é facilitar a criação e produção de valor -- bens e serviços
que contribuem para a vida de uma pessoa e para seu bem-estar. O capitalismo estimula que os
esforços criativos e produtivos sejam direcionados para a satisfação dos desejos e das necessidades
dos outros.
Costumamos aceitar como natural, como um presente da natureza, o formidável processo de criação
de valor -- algo que nos foi legado por gerações anteriores -- que ocorre por meio da livre troca de
bens e serviços. Nós nos acostumamos de tal modo às nossas atuais condições de vida, que a maioria
das pessoas jamais parou para considerar como tudo seria caso não houvesse capitalismo.
Se o fizessem, constatariam o óbvio: ainda estaríamos vivendo e manuseando uma única ferramenta
de pedra, a mesma que os ancestrais da humanidade utilizaram por milhões de anos. E o nosso único
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modo de adquirir riqueza seria por meio de guerras, as quais seriam mais brutais do que a maioria de
nós poderia imaginar.
Se você quer criar algo de valor, você tem de pensar, tem de utilizar suas faculdades mentais. Você
tem de estar disposto a dedicar muito tempo para aprender novas habilidades e saber como praticá-
las; tem de saber conectar longas relações de causa e efeito a fim de trazer ao mundo algo que não
existia antes. E esse algo de tem de ser proveitoso ou desejável para outras pessoas.
Como você tem de considerar as necessidades e desejos de terceiros, isso significa que você tem de
criar empatia. Você tem de se tornar capaz de perceber e entender o que vai dentro das outras
pessoas, o que significa que você tem de desenvolver habilidades que lhe permitam entrever o que
outras pessoas pensam, sentem e desejam.
Você tem ser capaz de estabelecer contato com outras pessoas de maneira pacífica, o que significa
que você deve saber ter bons modos e desenvolver outras habilidades sociais. O capitalismo estimula
um comportamento mais extrovertido, uma maior cautela quanto aos seus modos e mais atenção a
como seu comportamento afeta os outros.
É sobre esses fundamentos que se constrói a civilização, e esta é exatamente a definição de cultura.
A humanidade possui uma característica singular em todo o mundo: ela possui cultura. Lobos, uma
manada de búfalos e um conjunto de golfinhos também são organizações sociais; mas somente nós
humanos transferimos conhecimento e expressões tangíveis desse conhecimento ao longo de
gerações.
Fazemos isso porque temos a capacidade mental para fazê-lo. Porém, é o capitalismo que nos
estimula a utilizar essa capacidade mental, e a utilizá-la de tal maneira que sabemos como aperfeiçoar
tudo o que já foi criado anteriormente.
Temos dentro de nós os impulsos e os desejos que podem nos levar a prazeres de curto prazo e a
ações que podem causar grandes danos para nós mesmos e para outros. Podemos ser violentos,
podemos ser insultuosos, podemos ser absortos, e podemos ser totalmente desatentos para com os
efeitos que temos sobre os outros.
Ceder a estes impulsos e desejos regularmente significa criar uma vida destrutiva, perigosa, dolorosa
e curta. Estimular tal estilo de vida como cultura é criar um autêntico inferno na terra.
O capitalismo faz com que seja supremamente recompensador e lucrativo fazermos algo
completamente diferente. Afinal, também temos dentro de nós a capacidade de pensar, de planejar,
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de antever as potenciais consequências de nossas ações, de aprender com nossos erros e com as
respostas de terceiros.
Quanto mais utilizamos essa capacidade, mais desenvolvemos uma apreciação pela grande felicidade
e satisfação pessoal que pode advir do fato de sermos muito atentos ao que fazemos; e aprendemos,
com uma profundidade continuamente maior, como aquilo que nós fazemos afeta a nós mesmos e aos
outros.
O capitalismo cria as circunstâncias externas que faz com que utilizar essa capacidade seja um
benefício. São essas qualidades empáticas, recíprocas, de longo prazo e voltadas para o nosso
exterior que tornam possível uma grande diversidade de virtudes -- gratidão, coragem, empatia,
produtividade, criatividade, perdão, bondade, integridade, compaixão e perseverança, para citar
apenas algumas.
A noção da "competição selvagem", em que impera a "lei do mais forte", é uma antiga, duradoura e
permanente imagem criada pelos inimigos do capitalismo. No entanto, é justamente o tipo de força
bruta empregada pelo estado e pelos defensores do estatismo que estimula tal comportamento
violento.
A competição dentro do capitalismo pode ser intensa e difícil, e insucessos (como falências) são parte
integrante deste sistema. Porém, para ser bem sucedido em qualquer empreendimento, você tem de
aprender a cooperar com outras pessoas, saber trabalhar em conjunto com elas e aprender com seus
próprios erros e fracassos. Quanto melhor você se tornar nisso, maior será o potencial que você
criará para o futuro.
São os seus concorrentes que lhe obrigarão a aprimorar suas habilidade, a preservar suas melhores
práticas e a fornecer os melhores produtos e serviços para os seus consumidores. Neste sentido, seus
concorrentes são seus aliados -- eles não estão no ramo para destruir você pessoalmente; eles estão
concorrendo com você, envolvidos em uma relação ativa que irá manter cada um de vocês dentro de
suas margens de crescimento.
Recordo-me vivamente de minha (conservadora) avó dizendo que "o socialismo pode ser uma boa
ideia na teoria, mas ele simplesmente não funciona." O que ela -- e milhões de outras pessoas -- não
entenderam é que a teoria é também igualmente péssima e nojenta.
O contraste entre o capitalismo e todas as formas de estatismo é tão nítido quanto a diferença entre o
que acontece quando uma madeireira é dona de sua própria terra vis-à-vis quando ela faz uma
locação de curto prazo para explorar uma terra cujo dono é o estado.
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Quando uma empresa é dona de sua própria terra, ela possui vários incentivos para cuidar muito bem
daquela terra. Sua preocupação é com a produtividade de longo prazo. Assim, ela vai ceifar apenas
um número limitado de árvores, pois não apenas terá de replantar todas as que ceifou, como também
terá de deixar um número suficiente para a colheita do próximo ano.
Já quando a madeireira possui um arrendamento de curto prazo, seu incentivo é ceifar o máximo de
árvores o mais rápido possível antes que o período de locação expire.
O estatismo gera em termos pessoais e culturais algo comparável a uma devastação florestal.
O capitalismo estimula o homem ambicioso a pensar: "O que eu posso criar ou produzir que viria a
ser de grande valor e benefício para as outras pessoas, de modo que elas iriam voluntariamente e com
prazer abrir mão de seu dinheiro arduamente ganho em troca desta minha criação? Como eu poderia
me comunicar com elas e persuadi-las de que minha criação possui esse valor? Como elas poderiam
fazer o melhor uso possível desta minha criação?"
Já o estatismo estimula o homem ambicioso a pensar: "Como eu posso adquirir mais poder para
satisfazer minhas vontades, para utilizar a força para impor meus ideais -- bem intencionados ou
perversos -- sobre as outras pessoas?"
Em uma disputa honesta para se determinar qual arranjo possui uma superioridade moral
incontestável -- o capitalismo ou qualquer outra forma de estatismo --, simplesmente não haveria
disputa. Foi o capitalismo o que nos tornou humanos.
É o capitalismo que nos estimula a apresentarmos nossas melhores qualidades, a utilizar o que há de
melhor em nossa natureza humana, a considerar e respeitar toda a experiência de terceiros e a
trabalhar conjuntamente, e de maneira pacífica, para fazer com que as boas coisas aconteçam.
A defesa moral do capitalismo não é ambígua. Muito menos se trata de uma questão de opinião. Ela
é tão clara e nítida quanto a diferença entre guerra e paz, liberdade e escravidão, sacrifício humano e
empatia e amor.
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