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COMO MELHORAR SUA GRAVAÇÃO DE ÁUDIO NO COMPUTADOR

Você vai aprender agora duas dicas que vão melhorar ​muito suas
gravações no Pro Tools.
Digo no Pro Tools por ser a plataforma que eu utilizo nas minhas
produções e a mais utilizada no mercado. Mas obviamente essas dicas
servem para qualquer software ou mesmo sistemas analogicos.
Existem muitos conceitos e técnicas de gravação, mas aqui vou
abordar duas das quais eu acho mais importantes. Uma delas é você
entender como ​medir o áudio que você está gravando e outra é
escolher ​o microfone certo para o que você quer gravar​. A segunda eu
acredito que seja onde aconteça mais confusão, pois várias pessoas
querem colocar "regras" que simplesmente não existem. Vou te ensinar
uma maneira diferente de pensar a respeito da escolha dos microfones.
Boa leitura!

MEDIÇÃO DE AUDIO

Medir áudio nada mais é do que uma maneira visual que representa
o que você está ouvindo.
Tudo começou com uma empresa americana de telefonia bem antiga
chamada ​bell telephone labs​. Há muito tempo atrás, a telefonia era feita
por meio de telefonistas que conectavam uma linha na outra através de
cabos. Hoje em dia também é assim, porém totalmente informatizado.
Porém existia um grande problema em mensurar o quanto de volume saia
de uma linha e chegava na outra. O nosso ouvido "escuta" eletricidade, ou
seja volts, milivolts e assim por diante. Números decimais dificultavam a
compreensão entre as pessoas na hora de pedir alguma alteração de
volume.
Essa empresa "inventou" um sistema que "transformava" os volts
decimais, em números mais amigáveis para o entendimento. Essa
transformação foi batizada de ​decibel em homenagem a Graham Bell, o
inventor do telefone. Na prática costumamos usar o termo "dB" quando
fazemos referência aos decibéis. Estou colocando tudo entre aspas porque
quero deixar claro que é somente uma convenção para facilitar a vida dos
profissionais. Na prática "escutamos" volts.
Com o surgimento do dB, fica muito mais fácil pedir para aumentar
ou abaixar o volume em 3dB, por exemplo, do que 0.002volts.
Existem vários tipos de dB, mas o que vou focar no momento é o
dBVU ​e o ​dBFS. ​Esses são os principais que precisamos saber.
O ​dBVU ou simplesmente ​VU como chamamos, tem como objetivo
mostrar de forma aproximada, a curva de resposta do nosso ouvido. O ​VU
é medido por um ponteiro. Depois do seu surgimento, equipamentos de
áudio como pré amplificadores de microfone e mesas analógicas,
começaram a ter esse medidor.

Repare que ele tem uma escala crescente, indo do -20 ao +3 e


quando ele passa do 0, existe uma área vermelha e uma luz de "peak"
Neste momento é muito importante você entender que o sinal é
basicamente feito de duas partes, a ​média do sinal​, também chamada de
RMS e o ​pico​ do sinal.
Todo sinal tem um ataque inicial. Dependendo do instrumento esse
ataque é mais rápido ou mais lento. Um bumbo de bateria por exemplo,
tem um ataque inicial muito mais alto que um violino.
O meter de ​VU mede exclusivamente a ​media ​do sinal, ou seja o
RMS. Ele é lento demais para medir picos, o que faz com que ele não seja
preciso para isso.
Lembra que eu comentei que o meter de ​VU tenta simular o nosso
ouvido? O nosso ouvido não escuta picos. Ele também é lento para isso.
Mas a média do sinal, o RMS, é o responsável pela ​pressão ​sonora que
escutamos. A sensação de música mais alta ou mais baixa tem relação
com a pressão sonora, o RMS, e não os picos.
Então quer dizer que os picos não são importantes? São!
Principalmente para o Pro Tools que "escuta" os picos. Já explico isso.
Então como podemos usar o meter de VU?
Como o assunto deste PDF é sobre gravação, vamos utilizar o
exemplo do pré de microfone. O pré amplificador de microfone é um
equipamento que amplifica o sinal do microfone antes de chegar na placa
de áudio. Algumas placas de áudio já possuem o pré amplificador
embutido, mas o principio será o mesmo.
Repare que o meter tem o número "0". Nós chamamos isso de 0VU,
e por convenção da indústria, o objetivo é você aumentar o ganho do
microfone até ficar por volta de 0VU. Com isso você estará no ponto de
melhor qualidade do seu equipamento, sem ter que forçá-lo a trabalhar
acima do ideal, o que pode gerar distorções no sinal. "0" em áudio significa
sem alteração, ou seja, tudo que está entrando, está saindo sem alteração
do sinal. Ausência de sinal, denominamos "- infinito"
Obviamente esse ponteiro vai subir e descer na medida que o sinal
está entrando. Por isso mencionei que ele deve ficar por volta de 0VU.
A área vermelha acima do 0, é chamada de ​headroom. ​É
justamente um "respiro", uma folga do equipamento antes de acontecer
qualquer distorção. Se o sinal uma vez ou outra bater até em +2 não tem
problema algum. Se você ficar por muito tempo na região do headroom,
abaixe um pouco o ganho do microfone.
Com o surgimento da digitalização do áudio novas medições
precisam ser feitas, as medições do ​pico ​do sinal.
Lembre-se. Pico é o ataque inicial do instrumento, o ponto de maior
volume, portando um sinal rápido que o nosso meter de VU não consegue
te mostrar com agilidade.
Antigamente no tempo do vinil e da fita K7 isso não era problema. Os
engenheiros de mixagem sabiam que o pico estava acontecendo, mas eles
simplesmente ignoravam ele. Isso somente era feito, pois eles sabiam que
na masterização do vinil, o engenheiro de master iria limitar o sinal de
qualquer forma para que a agulha que passava nos sulcos do vinil não
"pulassem" devido a um pico de sinal muito alto. E outro ponto é que a
própria fita de gravação também não tinha agilidade para registrar ataques
muito rápidos. Logo o sinal já estava mais "arrumado" e o meter de VU
bastava.
Porém, com o surgimento do áudio digital isso poderia se tornar um
problema, pois o clock que está dentro da interface (placa de áudio),
registra absolutamente tudo o que está acontecendo. Inclusive os picos.
Daí surge a necessidade de você saber exatamente onde estão os seus
picos para que eles não causem distorções no sistema.
Por padrão, o meter do seu software é um meter de pico.
Este é o meter do Pro Tools, mas o seu software terá um bastante
parecido com este. Repare que a principal diferença para o meter de VU é
que o "0" esta no topo da escala. Não temos mais o headroom de respiro.
Aqui as confusões já começavam a acontecer. Como os profissionais
estavam acostumados a deixar o sinal em 0VU, a tendência natural era
colocar o sinal próximo ao 0 no digital também. Porém, esse "0" do meter
do software é medido em ​0dBFS​, isso quer dizer full scale. Acima desse
"0" não existe mais conversão do sinal e as distorções começam a
acontecer.
Isso tem que ser feito, pois se um pico ultrapassar o ponto máximo
da conversão de áudio você simplesmente não ouviria é o sinal iria
distorcer. Por isso o sistema digital precisa de um meter de pico.
Mas e o headroom? O sistema digital acaba não tendo headroom
mesmo. O que podemos pensam é em "fabricar" um headroom. E isso é
muito simples. Por convenção da indústria adote essa fórmula

0VU = -18dBFS

Isso quer dizer que quando o sinal bater em 0VU no seu pré
amplificador, ele baterá por volta de -18dBFS no seu meter digital. Você
agora tem 18dBs de áudio de headroom antes do sinal começar a
distorcer. É muita folga!
O que eu vejo muita gente fazendo é gravando alto demais. Além da
falta de informação sobre o 0dBFS, os primeiros conversores que surgiram
não tinham a mesma capacidade dos atuais. Então se você gravasse com
ganho mais baixo, alguns ruídos digitais poderiam acontecer. O que era
verdade, mas hoje em dia isso já é uma lenda. O grande problema de
gravar alto é que você perde totalmente a folga (headroom) para a hora da
mixagem. Com o sinal muito próximo do 0dBFS, qualquer alteração
mínima de equalização, por exemplo, já causaria distorção.
Adote a fórmula que eu escrevi acima e garanto que você se sentirá
muito mais a vontade para mixar depois.
Mas temos um outro problema. Como vou adotar 0VU = -18dBFS se
eu não tenho nem um pré amplificador externo e o meter do meu software
somente mostra pico? Você pluga o cabo do microfone ou da guitarra ou
do baixo direto na sua interface de áudio e olha direto para o software,
certo?
A solução é muito simples. Você pode pegar um plugin de meter de
VU gratis na internet. Tem um que eu curto bastante que é de uma
empresa chamada TBProaudio. O link é este aqui

https://www.tb-software.com/TBProAudio/mvmeter2.html

Inserte ele no seu canal de gravação e deixe o sinal próximo a 0VU.


Você vai reparar que no meter do seu software, você estará próximo a
-18dBFS.
Se o Pro Tools é o seu software principal, nem precisa pegar nada. A
partir da versão 12 do Pro Tools, ele vem com 17 tipos de meters
diferentes nas próprias tracks, e um deles é o VU!
Mas fazendo isso, onde meus picos estarão batendo? Normalmente
eles ficam por volta de -10dbFS. O que nos daria uma ​média ​de sinal em
-18dBFS e um ​pico de no máximo -10dBFS. Ou seja, 8dBS de variação
dinâmica, o ponto mais baixo e o ponto mais alto do sinal. Tá bom demais!
Eu ainda prefiro utilizar os meters de pico padrão do software para
gravação de bateria e percussão em geral. Esses instrumentos têm pouca
média de sinal, o que incomoda ficar com os meters de VU com sinais
extremamente baixos. Um meter de pico, afinal são instrumentos que
somente possuem pico basicamente, se dá melhor nesse caso.
Qualquer outro instrumento eu uso o meter de VU!

ESCOLHENDO MICROFONES

Esse acredito que seja um dos assuntos que mais gera confusão na
hora de gravar qualquer instrumento ou voz.
Os microfones são os nossos "ouvidos eletrônicos" e sua escolha
muda as características de timbre e dinâmica do material gravado.
Mas, como saber qual microfone escolher para ter uma sonoridade
que eu considere ideal para o projeto? Essa pergunta se resume em
colocar o mic na frente do instrumento ou voz e ​ouvir se está de acordo o
que você procura. Simples assim e sem mistérios. É basicamente um
"chute" que com a experiência você vai aprendendo o que pode funcionar
melhor ou não, conseguindo dar "chutes" mais certeiros.
O mais importante de saber para acertar na escolha do mic e saber
que cada microfone é feito de uma eletrônica e materiais diferentes. Assim,
eles obviamente têm sonoridades diferentes. Entender o que esperar de
cada construção de microfone é crucial para a escolha certa.
Básicamente existem 4 tipos de microfones:
● Dinâmicos
● Condensadores
● Fita
● Valvulados

Os mics dinâmicos, são microfones que tem a eletrônica mais


simples de todos os outros. Uma bobina de cobre enrolada e um
diafragma, que nada mais é que uma membrana que imita nosso ouvido.
O ar chega na frente da membrana e a faz vibrar, transformando assim o
ar em sinal elétrico.
Os microfones dinâmicos são chamados de microfones "duros" uma
vez que a membrana não tem muita velocidade para captar as vibrações
do ar. Com isso, quais frequências você acha que seriam prejudicadas? As
mais rápidas, ou seja, as mais agudas.
Isso não quer dizer que eles não captam agudos, eles somente são
mais lentos e te entregam uma resposta de agudos diferente, o que pode
ser exatamente o que você procura.
Outra característica dos microfones dinâmicos está em relação ao
seu grande poder de sensibilidade. São microfones que aguentam a
pressão sonora na frente deles. Por isso são muito usados em
amplificadores de guitarra e nas peças individuais da bateria.
Mas também por sua sonoridade. A guitarra por exemplo é um
instrumento que predomina em uma faixa de frequência nas regiões
médias. Ela não possui graves e nem agudos predominantes. Os agudos
na guitarra costumam enfatizar harmônicos que o nosso ouvido
simplesmente não gosta na maioria das vezes. Como os microfones
dinâmicos são mais "duros" na resposta dos agudos, eles acabam
ajudando a moldar melhor o timbre da guitarra.
Isso não quer dizer que você não possa usar um condensador na
guitarra. Teste e veja qual sonoridade você está buscando.
Entendeu porque os mitos vão sendo instalados?. Por décadas
inúmeros profissionais usaram o mic sm57 da fabricante Shure nos
amplificadores de guitarra. Acaba que hoje esse mic tem o status de "mic
de guitarra"'. Fazendo até parecer que se você não tem um sm57 você não
consegue ter um bom som de guitarra. Esqueça isso! Eu já consegui
timbres maravilhosos de guitarra com microfones de fita. E também com
condensadores valvulados. Obviamente o sm57 é um mic maravilhoso, e
sempre é uma das minha primeiras opções para gravação de guitarra. Mas
eu sempre testo outras possibilidades também. Sempre tenho surpresas.

Já os mics condensadores possuem uma eletrônica diferente. Eles


possuem um "motor" dentro dele que faz com que a membrana se
movimente. Se ele tem um "motor" ajudando, dá pra imaginar que ele
consegue ser muito mais fiel nos agudos, que são as frequências mais
rápidas, que o os dinâmicos. Verdade! Por isso que as pessoas afirmam
que "voz só pode ser gravada com microfones condensadores".
Justamente porque a voz possui muita informação na região aguda.
De fato existem opções sensacionais no mercado como os modelos
da Neumann TLM103, 102 e o AKG 414, entre outras opções. Entregam
uma resposta fiel de agudos. Mas, se você precisa de um vocal agressivo
para um heavy metal por exemplo, não deixe de testar os dinâmicos.
Podem te entregar uma sonoridade mais fiel a este estilo musical.

Os microfones de fita possuem uma fita no lugar da membrana. Ela é


a responsável pela captação do ar e conversão para sinal elétrico.
Eu sou um grande fã de microfones de fita. Justamente porque a fita
por si só já possui uma sonoridade espetacular nos agudos. Ela é lenta,
mas com um timbre indescritível nos agudos. Não sei o termo técnico para
usar, mas eu diria que esses microfones "aveludam" o som. Instrumentos
que tem harmônicos irritantes nas altas frequências são facilmente
resolvidos com esses microfones. Trompetes, pratos de bateria, guitarras,
cavaquinhos, vozes com agudos extremos são alguns exemplos que ficam
"amaciados" com esses microfones na captação. Essa sensação se dá
também devido a "compressão" natural que a fita proporciona ao sinal.
Só tome muito cuidado pois esses microfones são extremamente
sensíveis. Qualquer pressão sonora muito forte pode romper a fita, o que
estraga de vez o microfone.
Alguns exemplos são o Royer 121-122, RCA, Coles 4038
(maravilhosos para overs de batera), Shure KSM303, Audio Technica
AT4081, entre outros.

Já os microfones valvulados possuem uma sonoridade


completamente diferente. Válvulas geram distorções amigáveis no médio
grave do sinal, o que faz com que esses microfones entreguem uma
sonoridade extremamente agradável e fiel a fonte a sonora.
Exemplos famosos são o Neumann U-87, AKG C12, Manley Gold,
Groove Tubes, Audio Technica AT4060, entre outros.

Resumindo tudo isso, você deve primeiro ouvir a sonoridade do


instrumento ou voz dentro da sala. A partir daí, com as características dos
microfones você escolhe os melhores candidatos.
Uma questão que sempre aparece é em relação ao posicionamento
do microfone. Existem algumas técnicas de microfonação estéreo, ou
ainda a construção dos alto falantes que naturalmente possuem
sonoridades diferentes nas bordas e centro, mas na maioria das vezes,
colocamos o microfone onde o som agradar mais. Pense sempre no efeito
proximidade, ou seja, quanto mais próximo da fonte sonora o mic estiver,
mais médio grave você consegue e menos atuação da sala vazando no
mic. Quanto mais longe da fonte sonora, menos medio grave você
consegue e mais reflexões do ambiente. Uma dica ótima para dosar na
hora de gravar!
Teste várias opções e não se apegue a preço também. Já consegui
sonoridades insterssantes com microfones chineses da Superlux
extremamente baratos. O ouvido manda sempre.
Prefira sempre gravar da melhor maneira sem processar nada do
sinal. Busque a melhor sonoridade com as características dos microfones
antes de colocar qualquer compressão ou equalização.
Tenho certeza que acertando a sonoridade, o processamento que
você possa vir a precisar fazer será mínimo, e você vai conseguir manter
muito mais a fidelidade do que você está gravando.

Espero que essas dicas tenham sido úteis para você! Minhas
gravações melhoram MUITO quando passei a pensar dessa forma e
espero que possam melhorar as suas gravações também!

Se você ainda não me segue nas redes sociais vou deixar os links
aqui! Eu sempre posto conteúdos por lá.

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Um grande abraço e boas gravações!

Fran Carbone

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