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ESCOLA SUPERIOR DE CRICIÚMA – ESUCRI

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

YURI DA SILVA DA ROSA

ATRITO NEGATIVO EM FUNDAÇÕES PROFUNDAS


ESTUDO DE CASO

Criciúma, junho de 2019


YURI DA SILVA DA ROSA

ATRITO NEGATIVO EM FUNDAÇÕES PROFUNDAS


ESTUDO DE CASO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para a


obtenção do título de Bacharel em Engenharia Civil da
Escola Superior de Criciúma, ESUCRI.

Orientador (a): Prof.ª Adailton dos Santos

Criciúma, junho de 2019.


YURI DA SILVA DA ROSA

ATRITO NEGATIVO EM FUNDAÇÕES PROFUNDAS


ESTUDO DE CASO

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela Banca


Examinadora para obtenção do título de Bacharel em
Engenharia Civil da Escola Superior de Criciúma,
ESUCRI.

Criciúma, junho de 2019.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________
Prof.º Dr. Me. ou Esp. Adailton dos Santos – Orientador

______________________________________
Prof.º Dr. Me. ou Esp. Clóvis Noberto Savi

______________________________________
Prof.º Dr. Me. ou Esp. Jorge Luiz Laureano
AGRADECIMENTOS

Nesta página deve constar o agradecimento àquelas pessoas ou


instituições que marcaram de forma significativa a realização do trabalho.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Mecanismo de formação de atrito. ............................................... 14


Figura 2 - Alívio de aquífero confinado. ........................................................ 15
Figura 3 - Rebaixamento do lençol freático. ................................................. 16
Figura 4 - Atrito Negativo Devido Ao Sub-adensamento Da Argila. ............. 17
Figura 5 - Atrito negativo provocado por amolgamento da argila. ................ 18
Figura 6 - Atrito negativo provocado por sobrecarga. ................................... 20
Figura 7 - Atrito negativo sujeito a flutuação natural do nível d’água............ 21
Figura 8 - Atrito negativo devido ao deslocamento de estruturas de contenção.
.................................................................................................................................. 22
Figura 9 - Ponto neutro. ................................................................................ 23
Figura 10 - Estaca isolada sujeita a atrito negativo ...................................... 33
Figura 11: Curva I - recalque do aterro e Curva II - Recalque da estaca,
variando com ponto neutro. ....................................................................................... 34
Figura 12 - Gráfico para determinação do atrito negativo............................. 41
Figura 13 - Gráfico para determinação do atrito negativo............................. 42
Figura 14 - Atrito negativo em estacas cravadas em camadas diferentes.... 43
Figura 15 - Atrito negativo em estacas causado por: (a) aterro coesivo, (b)
aterro granular. .......................................................................................................... 45
Figura 16 - Fator de influência para cálculo de atrito negativo em estacas. . 48
Figura 17 - Proposta de Soares. ................................................................... 49
Figura 18 - Métodos de Kezdy para cálculo de atrito negativo. .................... 50
Figura 19 - Fatores de correção. .................................................................. 54
Figura 20 - Taxa de desenvolvimento do atrito negativo. ............................. 56
Figura 21 - Fatores de redução. ................................................................... 57
Figura 22 - Fatores de redução. ................................................................... 57
Figura 23 - Grau de desenvolvimento dos recalques de estava versus fator
tempo. ....................................................................................................................... 58
LISTA DE ILUSTRAÇÕES – QUADROS

Quando 1 – Métodos de cálculos de atrito negativo......................................29


LISTA DE TABELAS
ABREVIATURAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas


ESUCRI – Escola Superior de Criciúma
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11
1.1 Justificativa.......................................................................................... 11
1.2 Objetivos ............................................................................................. 12
1.2.1 Objetivo geral ............................................................................... 12
1.3 Organização ........................................................................................ 12
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................. 13
2.1 Definição E Causas De Atrito Negativo ............................................... 13
2.2 Definições ........................................................................................... 13
2.3 Causas ................................................................................................ 14
2.3.1 Alívio de aquífero ou Rebaixamento do Lençol Freático .............. 15
2.3.2 Sub – Adensamento de Argilas .................................................... 16
2.3.3 Amolgamento Devido a Cravação de Estacas ............................. 17
2.3.4 Colocação de sobrecargas na superfície do terreno .................... 19
2.3.5 Flutuação Natural do Nível D’água ............................................... 20
2.3.6 Recalques Provocados pelo Deslocamento de Estruturas de
Contenção .......................................................................................................... 21
2.4 Ponto Neutro ....................................................................................... 23
2.5 Fatores Que Afetam O Valor Do Atrito Negativo ................................. 24
2.5.1 Características Das Estacas......................................................... 24
2.5.2 Características do Solos ............................................................... 25
3 INFLUÊNCIA DA CARGA ADMISSÍVEL DA ESTACA ......................................... 26
3.1 Métodos Para Se Estimar O Atrito Negativo ....................................... 28
3.2 Redução Do Atrito Negativo ................................................................ 30
4 MÉTODOS DE CÁLCULO DE ATRITO NEGATIVO EM ESTACAS ISOLADAS . 32
4.1 Método De Moretto E Bolognesi ......................................................... 32
4.2 Método De Buisson, Ahu E Habib ....................................................... 32
4.3 Método De Elmasry............................................................................. 36
4.4 Métodos De Johannessen E Bjerrum .................................................. 38
4.5 Métodos De De Beer E Wallays .......................................................... 39
4.6 Método De Bowles .............................................................................. 44
4.7 Método De Endo, Minou, Kawasaki E Shibata .................................... 46
4.8 Método De Poulos E Mattes................................................................ 47
4.9 Método De Soares .............................................................................. 49
4.10 Métodos De Kezdi ............................................................................. 50
4.11 Métodos De Poulos E Davis.............................................................. 51
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 60
RESUMO

Na Engenharia Civil, o estudo do comportamento de fundações profundas é um dos


assuntos mais estudados. Ainda que há um grande acervo de pesquisas já realizadas,
é um campo que sempre está em desenvolvimento na atualização de novos
conhecimentos. O campo de mecânica dos solos é muito cheio de incertezas, pois os
objetos de estudos se encontram na natureza de forma heterogênea, diferentemente
de outras áreas da engenharia no qual os problemas são aplicados em corpos bem
precisos e conduta bem definidas. No estudo de fundações, há diversos problemas
relacionados aos solos que podem prejudicar o comportamento e a segurança da
estrutura. Grande parte desses problemas estão associados aos solos
compreensíveis, que podem possuir características indesejáveis como: baixa
resistência, alta expansibilidade, alta compreensibilidade entre outros. Entanto, o
profissional deve estar atento a projetos em solos de desse tipo de solo. Nos
dimensionamentos de fundações profundas em solos compreensíveis, é fundamental
levar em conta determinadas particularidades que vão influir no dimensionamento,
uma dessas particularidades é o atrito negativo que se desenrola ao longo do fuste da
estaca, ocasionando um sobrecarga na estaca, devido a um procedimento de
adensamento da argila ao longo de um determinado tempo.

Palavras-chave: Atrito negativo. Ponto neutro. Fundações.


11

1 INTRODUÇÃO

O atrito negativo é uma manifestação do solo que ocorre em qualquer situação


onde o solo que envolve a estaca recalca mais que a própria estaca. Quando esse
fenômeno acontece, o solo transfere uma carga adicional para a estaca além da
própria carga estrutural. O atrito negativo do solo é característico de situações em que
as estacas são cravadas em solos compreensíveis em processo de consolidação.
Esse evento ocorre, por exemplo, quando as estacas são cravadas em solos coesivos
que tiveram aterro adicionado recentemente. Além disso, quanto mais compreensível
e mais espessa é a camada argilosa, maior será o atrito negativo e assim maior a
carga na estaca.

Os estudos sobre atrito negativo no Brasil ainda são escassos, entretanto,


existe um banco internacional relativamente amplo sobre esse assunto. Segundo
Santos Neto (1981) dentre os estudos, a primeira constatação sobre o tema foi
relatada por Terzaghi e Peck (1948). Em sua obra, Terzaghi e Peck descreveram
sobre um prédio que teve suas as fundações cravadas em um solo muito
compreensivo e que recalcaram após serem sobrecarregadas com aterro. Ademais,
outros trabalhos importantes sobre o assunto foram realizados por Combarieu (1985)
e nas obras no México de Zeevaert (1973,1983) comenta (Velosso 2010).

Na literatura são apresentados alguns procedimentos para a avaliação e


cálculo do atrito negativo. Todavia, as análises mais utilizadas são aquelas que foram
desenvolvidas com base no estudo experimental. Nesses estudos, os resultados de
cargas medidas possibilitaram saber o valor máximo do atrito negativo e sua
localização ao longo do fuste.

1.1 Justificativa

O atrito negativo é um fenômeno pouco estudado no Brasil, assim sendo,


existem poucos estudos brasileiros escritos sobre o assunto. Entretanto, esse
fenômeno já foi presenciado em vários projetos de fundações no país. O atrito
negativo esteve presente em obras importantes como na construção do terminal de
12

cargas geral do porto do Rio Grande, no metrô do Rio de Janeiro, nas obras da capital
em Brasília e entre outras. Dessa forma, o presente trabalho tem como justificativa
ampliar os estudos acerca desse fenômeno, e contribuir para que haja mais
embasamento sobre o atrito negativo de forma a reduzir os erros por projetos que
desconsiderem esse fenômeno, ou pra que o projetista tenha conhecimento de como
fazer os cálculos de maneira correta.

1.2 Objetivos

1.2.1 Objetivo geral

O presente trabalho tem como objetivo analisar os diversos métodos de


cálculo existentes na literatura técnica para determinar o atrito negativo em estacas
isoladas, por meio de um estudo de caso.

1.3 Organização

O presente trabalho foi divido em 4 capítulos.

Após a introdução, o capítulo dois foi feita uma breve revisão bibliográfica,
apresentando conceito sobre o assunto, as causas do fenômeno, o conceito do ponto
neutro, situações que levam às ocorrências do atrito negativo e os fatores que afetam.
No capítulo três são feitas considerações das cargas admissíveis nas
estacas, métodos estimativos do atrito negativo e fatores que amenizam o mesmo.
No quarto capítulo são apresentados os diversos métodos de cálculos de
atrito negativo.
13

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Esse tópico tem o objetivo de realizar uma revisão teórica, para uma melhor
compreensão do tema abordado.

2.1 Definição E Causas De Atrito Negativo

2.2 Definições

Para o aparecimento de atrito lateral é necessário um movimento entre


duas superfícies ou dos corpos em contato em sentido opostos. Quando a estaca se
desloca mais que o solo tem se o nome de atrito positivo. Quando o solo se desloca
mais que a estaca tem se o nome de atrito negativo conforme mostra a Figura 1.
Santos Neto (1981) afirma que o atrito negativo teve sua primeira
constatação na Holanda a quase 90 anos, por Terzaghi e Peck (1948) onde prédios
com fundações com estaca de ponta cravadas em uma argila muito mole recalcaram
excessivamente quando no local foi colocado uma camada de aterro.
Quando a estaca é cravada em um solo compreensivo em processo de
adensamento o recalque do solo é maior que o da estaca em um determinado local
ao longo do fuste, que se resulta em um acréscimo de carga que soma ao
carregamento transferido ao topo da estaca pela estrutura. O assentamento do solo
argiloso é um processo que demora meses ou anos para ocorrer, assim o atrito
negativo estará associado a um carregamento permanente.
Os casos mais frequentes são quando as estacas atravessam argilas muito
mole que receberam aterro recentemente. A argila mole em processo de
adensamento, sofre recalques e o atrito negativo desenvolve-se ao longo das
camadas do aterro e da própria argila mole. De acordo com Silva Azevedo (2017) há
casos que o deslocamento do sentido muda de sinal onde o valor fica nulo, esse local
de mudança de sentido é conhecido de ponto neutro onde acima do ponto se encontra
o atrito negativo e abaixo do ponto neutro o atrito positivo. Essa mudança de atrito
lateral de negativo para positivo acontece quando o recalque da camada
compreensível é igual ao recalque da estaca.
14

Ao não se considerar a presença do ponto neutro, o projeto se torna


conservativo, uma vez que o trecho de ocorrência de atrito negativo
aumenta e o trecho de ocorrência do atrito positivo diminui. Por outro
lado, ao se considerar o ponto neutro acima de sua posição real, pode-
se estar trabalhando contra a segurança, além de se ter uma
estimativa equivocada dos recalques. (AZEVEDO, 2017, p.19)

Figura 1 - Mecanismo de formação de atrito.

Fonte: SANTOS NETO (1981).

2.3 Causas

Segundo Santos Neto (1981), existem 6 grupos mais comuns que pode se
obter atrito negativo:

 Alívio ou rebaixamento do lençol freático.


 Sub – adensamento das partículas.
 Amolgamento do terreno devido a cravação de estacas.
 Colocação de sobrecargas na superfície do terreno.
15

 Flutuação natural do nível d’água.


 Recalques provocados pelo deslocamento de estruturas de contenção.

2.3.1 Alívio de aquífero ou Rebaixamento do Lençol Freático

Quando é provocado o alivio de pressões em camadas de areias abaixou


das argilas moles ou o rebaixamento do lençol de água em camada de areia acima
das argilas moles, pode se desenvolver o atrito negativo. O solo argiloso ao entrar em
processo de adensamento provocará o fenômeno atrito negativo nas estacas
executadas na obra e nas estacas das obras vizinhas.
Santos Neto (1981) cita que Barata (1970) fez o estudo do adensamento
das argilas no caso de alívio de pressões em aquíferos confinados. O seu modelo
admite a não ocorrência de poços artesianos no aquífero confinado e a possibilidade
de reduzir a poro-pressão no aquífero confirmado sem afetar o lençol superior, como
podemos ver a figura 2 apresenta a aplicação do seu modelo.
O bombeamento da água tende a diminuir o nível de água nos piezômetros
(NApiez.Inicial) que foram instalados até atingir o nível final (NApiez.Rebaixado), pela
baixa permeabilidade das argilas o rebaixamento não será de imediato nas colunas
d1, d2, d3. Com o início do rebaixamento do nível as colunas começam a apresentar
um excesso de poro-pressão criada pelo alívio de pressão do aquífero.
Consequentemente com o excesso dessa poro-pressão a camada arenosa devido ao
amolgamento começa a recalcar.

Figura 2 - Alívio de aquífero confinado.

Fonte: SANTOS NETO (1981).


16

Da mesma forma ocorre com os recalques devido ao rebaixamento do


lençol freático como mostra a figura 3.

Figura 3 - Rebaixamento do lençol freático.

Fonte: SANTOS NETO (1981).

Com o desaparecimento do excesso de poro-pressão e o aumento da


pressão efetiva 𝜎’, a camada argilosa tende a se deslocar.

2.3.2 Sub – Adensamento de Argilas

Essa situação é aferida quando a estaca é cravada em um solo


compreensivo que ainda está sofrendo adensamento devido a sua própria carga,
independentemente de qualquer solicitação externa, os recalques acontecerão e
sucessivamente o atrito negativo. A Figura 2 mostra em detalhes de como ocorre o
fenômeno.
17

Figura 4 - Atrito Negativo Devido Ao Sub-adensamento Da Argila.

Fonte: SANTOS NETO (1981).

2.3.3 Amolgamento Devido a Cravação de Estacas

Quando uma estaca é cravada em uma camada de solo argiloso, o solo


tende a se deslocar em todas as direções no sentido horizontal, provocando
amolgamento, ou seja, todo volume do solo que sofre a caravação vai deslocar na
mesma proporção do tamanho da estaca, fazendo assim “a argila perder parte de sua
resistência em pontos próximos à estaca” (SANTOS NETO, 1981, p.11).

O local amolgado depende da sensibilidade da argila, do processo de


execução do diâmetro da estaca.

“O ‘’grau de sensibilidade’’ (𝑆𝑡) das argilas é representada pela razão ao


cisalhamento não drenado do solo (𝑆𝑢) sobre ao cisalhamento não drenada do solo,
na condição amolgado (𝑆 ) que pode ser determinado através da equação’’
(CAPUTO, 1988, p. 50):

𝑆
𝑆𝑡 = Equação 1
𝑆

Em (1952) Skempton & Northey, apresentaram a primeira escala de


18

classificação da sensibilidade das argilas, elas foram classificadas por grau de


sensibilidade sendo: insensíveis se (𝑆𝑡) = 1, de baixa sensibilidade, 1 < (𝑆𝑡) < 2, média
sensibilidade, se < 2 (𝑆𝑡) < 4, sensíveis, se 4 < (𝑡) < 8 e extrassensíveis, se (𝑆𝑡) > 8.
No ano seguinte em (1953) Rosenqvist modificou a classificação de sensibilidade já
existente, ficando da seguinte forma: insensíveis se (𝑆𝑡) = 1, de leve sensibilidade, 1
< (𝑆𝑡) < 2 de mediana sensibilidade, se 2 < (𝑆𝑡) < 4, muito sensíveis 4 < (𝑆𝑡) < 8, de
levemente rápidas, se < 8 (𝑆𝑡) < 16, mediamente rápidas 16 < (𝑡) 32, de 32 < (𝑆𝑡) <
64 muito rápidas e (𝑆𝑡) > 64 extra rápidas.

Como bem nos assegura Alonso (2012) O valor do atrito negativo nessa
situação é similar ao peso próprio da argila almogada, no entanto a zona de almogada
é um assunto muito discutido, pois existe argilas que recuperam suas resistência
inicial em poucos dias após a cravação, que podemos chamar de cicatrização e por
essa compressão, como é o caso das argilas da obra da baixada Santista não foram
considerados qualquer parte de atrito negativo, considerando que não executem
aterros ou obras em cima das argilas - Figura 3.

Figura 5 - Atrito negativo provocado por amolgamento da argila.

Fonte: ALONSO (2012).

No entanto podemos considerar que a argila que estava na sua posição


original se moveu para as direções horizontais devido à cravação, fazendo que a
menor resistência ao cisalhamento seja da argila adjacente a estaca.
Entretanto a pressão total (pressão efetiva + pressão neutra) vai se
19

manter a mesma. Ao contrário a pressão efetiva diminui, pois é diretamente ligada a


resistência ao cisalhamento que por sua vez diminuiu devido a cravação, fazendo
assim ocorrer uma redução dessa pressão, originada por aumento de poro-pressão,
espontaneamente esse aumento se dá o início ao processo de adensamento como
confirma Santos Neto (1981).
Também deve-se considerar o aumento das pressões laterais, devido a
cravação das estacas.
Santos Neto (1981) cita que Fellenius (1971), Torstenson (1973) e Horvart
& Van Der Veen (1977) comprovaram este fenômeno a partir de experimentos com
estacas instrumentadas. Apesar de não haver dúvidas sobre a indução do atrito
negativo pela cravação, o grau de amolgamento induzido ainda é bastante discutido.
Casagrande (1950) e Elmasry (1963) chegaram à conclusão que até a
distância de 0,5 metros a argila que envolve a estaca está completamente amolgada
e até 1,5 metros está levemente amolgada, a altura de resultar elevados acréscimos
de compreensibilidade.
DESIGN MANUAL 7.2 - FOUNDATIONS, expõe que as argilas com grau
de sensibilidade abaixo de 2 e 3 podem ser desprezadas pois seu grau de
amolgadomento é pequeno. Para argilas com grau de sensibilidade maior que 4
deve se considerar o amolgamento entre 30 á 40 cm de diâmentro da estaca
cravada. Santos Neto (1981) cita que na maioria das vezes esse fenomeno de
amolgamento é desprezado pelos os engenheiros, a ponto que a dissipação da
poro-pressão seja em tempo curto antes do término da construção da
supraestrutura. Mas as vezes essa escolha pode ser totalmente inadequada, como
pode se tomar de exemplo a citação de Skempton (1950) a construção de um silo na
África do Sul com mais de 1000 estacas em uma argila extremamente
compreensível quando amolgada, que resultou em toda modificação do projeto,
tendo um prejuízo em torno de 200 mil dólares.

2.3.4 Colocação de sobrecargas na superfície do terreno

A colocação de sobrecarga sobre terrenos compreensíveis é um dos


motivos mais frequente que faz surgir esse fenômeno de atrito negativo e a que mais
produz os valores mais elevados, essa aplicação de sobrecarga gera recalques nos
20

terrenos tanto que instantâneo quanto ao longo do tempo como confirma, Azevedo
(2017). Quando a estaca cravada atravessa esses solos moles ela sofrera atrito
negativo ao longo do fuste ou em partes, a Figura 4 demostra esse fenômeno por
sobrecarga.

Figura 6 - Atrito negativo provocado por sobrecarga.

Fonte: SANTOS NETO (1981).

Conforme Santos Neto (1983) a sobrecarga pode ser uma situação muito
perigosa pois sempre está acompanhada com outras condições como:

 Amolgamento devido a cravação;


 Recalque devido ao sub adensamento da argila;
 Rebaixamento do lençol freático;
 Redução da pressão confinante nas imediações da ponta da estaca
com sua consequente redução da capacidade de carga de ponta.

2.3.5 Flutuação Natural do Nível D’água

Nesse caso ao atrito negativo pode aparecer em diversas situações:


Fundações de cais ou de construções próximas ao mar com aterro com solo
21

arenoso, que acompanha a variação da maré, quando baixa o nível de água o peso
do solo que estava imerso aumenta e com a subida no nível de água ele diminui.
Locais com grandes variações pluviométricas em todas estações e regiões que o
solo sofre importantes recalque devido a saturação e submetidos a sobrecargas. A
Figura 5 demonstra o fenômeno provocado por essa situação.

Figura 7 - Atrito negativo sujeito a flutuação natural do nível d’água.

Fonte: SANTOS NETO (1981).

Terzaghi e Peck (1967) afirma que cada aumento de pressão efetiva faz
aumentar os recalques do solo. A frequência dos recalques faz diminuir o ciclo de
aumento e aproxima-se a zero, mas o recalque final é na maioria das vezes bem
maior que o recalque inicial. (Apud SANTOS NETO, 1981)

2.3.6 Recalques Provocados pelo Deslocamento de Estruturas de Contenção

A realização de obras de fundações quase sempre envolve estruturas de


contenções. É quase sempre presente em construções de metrôs, estradas, de
pontes, estabilização de encosta, de canalizações, estacionamentos subterrâneos
entre outros.
As estruturas de contenções são necessárias quando executam
escavações de grandes portes, que podem ocasionar movimentos horizontais de
solos e ocasionar recalque nas estacas dos edifícios de terrenos adjacentes às
escavações.
22

Santos Neto (1981) cita que Peck (1970) e Soares (1981) entre outros,
averiguaram que mesmo contenções de grande rigidez como exemplo parede de
diafragma ocorrem o deslocamento, principalmente devido ao método executivo.
É difícil não perceber que o espaço deslocado pela parede de contenção
não vai ser ocupa pelo solo, que resultará em recalques em terrenos vizinhos. Nem
as obras sobre estacas profundas não ficaram livre desse fenômeno, mesmo que
tivesse cravadas a superfícies de solos resistentes.
Santos Neto (1981) cita que no RAND MCNALLY BUILDING em
CHICAGO, foram executadas cravação de estacas de madeira de 18 metros de
comprimentos apoiado em um solo de argila rija. Quando foram realizadas as
escavações para o metrô de CHICAGO o difícil recalcou conforme mostra a figura de
Peck (1970).

Figura 8 - Atrito negativo devido ao deslocamento de estruturas de contenção.

Fonte: PECK ,1970 apud SANTOS NETO (1981).

Santos Neto (1981) cita que de acordo com Peck, que esses recalques
são provenientes dos deslocamentos de estruturas de contenções, que de certa
forma foram responsáveis pelo aparecimento de sobrecargas no solo que causou o
fenômeno atrito negativo provocado pelos recalques das camadas compreensíveis
do terreno. Essas estacas fizeram as estacas próximas as escavações recalcassem
20,0 mm no terreno.
23

Na construção do metrô do Rio de Janeiro situações semelhantes a está são


muito comuns, com o agravamento de, na maioria das vezes, haver
necessidade de rebaixamento ou alívio do lençol freático para se executar as
escavações (SANTOS NETO, 1981, p.26).
2.4 Ponto Neutro

De acordo com Santos Neto (1981) em 1935 Terzaghi foi o primeiro a


constatar a existência de um ponto onde que o recalque da estaca é igual do solo e o
chamou de ponto neutro, onde a parte superior desse ponto se encontra o atrito
negativo e a inferior o atrito positivo. Embora esse ponto não ser considerado em
vários métodos de cálculos de Atrito Negativo o próprio Terzaghi não o considerava
apesar de ter constatado.
A profundidade do ponto neutro varia de acordo com a rigidez da camada
de solo onde a ponta da estaca está apoiada Okab (1977). Quanto maior for a rigidez
da camada do solo onde a ponta de estaca está apoiada menor será o recalque da
estaca. “E assim, o ponto onde o recalque do solo e o recalque da estaca serão iguais
fica cada vez mais distante da superfície, onde o recalque é máximo’’ (AZEVEDO, 2017,
p. 20)

Figura 9 - Ponto neutro.

Fonte: SANTOS NETO (1981).

Porém quando se tem uma série de camadas de solos compreensíveis


intercaladas com um solo de melhor qualidade, fica-se em dúvida de onde estaria
localizado o ponto neutro e as vezes até a camada que ocorre o fenômeno atrito
negativo, nessa situação Velloso (2004) afirma que é necessário fazer um perfil de
recalques do terreno provocados pelo aterro e incluir um linha para representar o
24

recalque estimado para a estaca, quando os perfis se cruzassem estaria o ponto


neutro.

2.5 Fatores Que Afetam O Valor Do Atrito Negativo

Existem diversos fatores que podem afetar o valor do atrito negativo ente
eles os principais fatores são:

 Características das estacas


 Características dos solos

2.5.1 Características Das Estacas

Segundo Santos Neto (1981) as características das estacas podem


influenciar muito no valor do atrito negativo, pode estar relacionado ao tipo de material
da estaca, os métodos de instalação, os tipos de estacas, a seção transversal, a
inclinação da estaca, se são estacas isoladas ou em grupos.
O tipo de material da estaca está associado à aderência da estaca-solo e
alternativa de ser usada como dreno vertical para a dispersão das poro-pressões.
Os métodos de instalação, se a instalação foi executava por escavação ou
cravação, sendo relacionada ao grau de amolgamento que estaca aplica no solo que
a envolve.
Os tipos de estacas, se são de ponta, de atrito, com ponta fechada ou ponta
aberta.
A seção transversal, está relacionado à estaca ser circular ou quadrada,
sendo que a circular tem um perímetro menor que uma estaca quadrada de mesma
dimensão e resultante de uma menor área lateral em contato com o solo.
A inclinação das estacas Santos Neto (1981) cita que segundo estudos de
Koerner et al (1971) afirma que a estaca inclinada tem um valor de atrito negativo
maior que fosse vertical. Em uma estaca inclinada além da interação lateral estaca-
solo, tem se também a parcela do peso do solo sobre a estaca. Fellenius (1971)
também citado por Santos Neto (1981) expõe que quando é previsto recalques na
25

construção deve se usar estacadas inclinadas.

2.5.2 Características do Solos

Segundo Santos Neto (1981), podem estar relacionados ao tipo de solo, a


compactação dele, o grau de sensibilidade, ao lençol freático, espessura da camada
compressível e características das curvas de tensão.
Tipos de solos se o principal solo é argiloso, arenoso ou siltoso.
A compactação do solo se é sub-adensado, normalmente ou pré-adensado
que pode ter grande influência nos recalques dos solos compreensíveis devido a uma
sobrecarga ou pelo seu próprio peso.
O grau de sensibilidade do solo que são classificadas por: insensíveis,
baixa sensibilidade, média sensibilidade, sensíveis, extrassensíveis que afeta
diretamente a extensão da zona almolgada no decorrer da cravação da estaca.
O lençol freático que é relacionado às alterações dos seus níveis.
A espessura da camada compreensível que é de suma importância para o
valor do Atrito Negativo devido as sobrecargas colocadas em cima dele.
As características das curvas de tensão em função de cada características
físicas dos solos.
26

3 INFLUÊNCIA DA CARGA ADMISSÍVEL DA ESTACA

Em todos as causas mencionados nos itens anteriores, certifica-se que o


atrito ocorre pelo adensamento de camadas de solo de baixa permeabilidade.
Portando, é um fenômeno que se desenvolve ao longo do tempo, crescendo até atingir
o valor máximo. Entretanto deve se avaliar o efeito desse fenômeno no valor da
resistência dos elementos de fundações, dentro dessa avaliação pode se recomendar
literaturas ou nas prescrições das normas brasileiras.
Na bibliografia sobre o assunto, fica claro que o atrito negativo é um
problema de recalque da fundação, pois não é capaz de levar à ruptura uma estaca
por perda de capacidade de carga do solo. Uma ruptura seria precedida de um
recalque da estaca com relação ao solo, o que inverteria o sinal do atrito.
Teoricamente pelo menos seria possível a ruptura estrutural da estaca, seja por
compressão, seja por flambagem (COMBARIEU, 1985, apud VELLOSO; LOPES,
2010).
Na antiga norma (ABNT 1996) de projeto de fundações, recomendava-se
calcular o atrito negativo segundo métodos teóricos que levem em conta do processo
real do sistema estaca-solo. No caso de estaca que prevê a ação do fenômeno atrito
negativo, a carga de ruptura Pr, do ponto de vista geotécnico é determinada pela
expressão:

Pr = 𝑃𝑝 + 𝑃𝑙 (+) = 2. 𝑃𝑎𝑑𝑚 + 1,5. 𝑃𝑎𝑛 Equação 2

onde:
𝑃𝑝 = parcela correspondente à resistência de ponta na ruptura;
𝑃𝑙 (+) = parcela correspondente à resistência por atrito lateral positivo na
ruptura (calculado no trecho do fuste entre o ponto neutro e a ponta da
estaca);
𝑃𝑎𝑛 = parcela correspondente ao atrito lateral negativo;
𝑃𝑎𝑑𝑚 = carga admissível.

Essa norma de 1996 explica que o coeficiente de segurança 1,5 ao invés


de 2,0 à parcela aplicada ao 𝑃𝑎𝑛 (atrito negativo), decorre do fato que o fenômeno
27

atrito negativo é antes um problema de recalque do que um problema de estrutura,


como citado anteriormente.
Na versão atual a norma (ABNT 2010), é indispensável a atuação do
atrito negativo quando o fenômeno está presente no projeto de fundações. Quando o
atrito negativo for de um valor significativo, é recomendável que sua avaliação seja
bem detalhada através da realização de provas de cargas nas estacas de
comprimento tal que o atrito positivo possa ser considerado igual ao atrito negativo.
Em termos de fator de segurança global: no caso de estacas ou tubulões
que prevê a ação do atrito negativo, a carga admissível 𝑃𝑎𝑑𝑚, deve ser determina
pela a seguinte expressão:
𝑃𝑝 + 𝑃𝑙(+)
𝑃𝑎𝑑𝑚 = − 𝑃𝑎𝑛 Equação 3
𝐹𝑆𝑔

onde:
𝑃𝑎𝑑𝑚 = carga admissível.
𝑃𝑎𝑛 = parcela correspondente ao atrito lateral negativo;
𝑃𝑙 (+) = parcela correspondente à resistência por atrito lateral positivo na
ruptura (calculado no trecho do fuste entre o ponto neutro e a ponta da
estaca);
𝑃𝑝 = parcela correspondente à resistência de ponta na ruptura;
𝐹𝑆𝑔 = fator de segurança global.

Em termos de valores projeto:

𝑃𝑝 + 𝑃𝑙 (+)
𝑃𝑟𝑑 = − 𝑃𝑎𝑛 × 𝛾𝑓 Equação 4
𝛾𝑥

onde:
𝛾𝑥: fator de minoração das resistências;
𝑃𝑟𝑑: carga resistente do projeto;
𝛾𝑓: fator de majoração das ações.
28

3.1 Métodos Para Se Estimar O Atrito Negativo

Diversos autores apresentaram métodos de cálculos de atrito negativo,


entre as propostas, observa-se a distinção entre os métodos que avaliam a situação
em grupos de estacas ou apenas estacas isoladas.
Entre as propostas a mais consideráveis são as de: Terzaghi e Peck;
Moretto e Bolognesi; Zeevaert; Elmasry; Johannessen e Bjerrum; Bowles; De Beer e
Wallays; Endo et al.; Johnson e Kavanagh; Poulos e Davis; Poulos e Mattes; e
Combarieu.
Entretanto, possui métodos que analisam apenas estacas isoladas ou
apenas estacas em grupos. No entanto existem métodos como de De Beer e Wallays
que considera as duas situações, porém o estudo de caso é focado apenas em
estacas isoladas.

Santos Neto (1981) cita que um modelo para cálculo do atrito negativo deve
considerar:
 Parâmetros de resistência do cisalhamento em condições drenadas;
 Aplicação específica para estacas isoladas e grupos de estacas;
 A localização do ponto neutro com função dos recalques relativos
estaca-solo;
 A redução da capacidade da ponta da estaca;
 História do carregamento da estaca;
 Os esforços cisalhantes mobilizados ao longo do fuste;
 Evolução do atrito negativo com o tempo.

Fica muito difícil incluir todos esses fatores de uma forma correta, assim
ficando impossível obter um modelo matemático com todos os parâmetros. Também
o fato de existir poucos estudos de alguns aspectos necessários, dificultam a
conferência dos modelos criados.
Segundo Santos Neto (1981), a evolução do atrito negativo com o tempo e
o histórico de carregamento da estaca são os fatores mais difíceis de se obter.
Santos Neto (1981) expõe que ponto mais importante para o cálculo do
atrito negativo é a determinação correta das tensões cisalhantes ao longo do fuste e
29

que depende da distribuição das pressões horizontas efetivas. O quadro 1 a seguir


apresenta um resumo dos principais métodos de cálculos.

Quadro 1 – Métodos de Cálculos de Atrito Negativo.


30

Fonte: SANTOS NETO (1981).

3.2 Redução Do Atrito Negativo

Em locais onde já se espera a ocorrência de carga de atrito negativo que


é um fator que encarece o estaqueamento, há sempre interesses de eliminar ou
diminuir esse fenômeno.
31

Existem vários processos que podem ser utilizados:


O pré-carregamento das camadas compreensíveis, porém esse método
só pode ser aplicado antes da cravação da estaca, visto que o pré-carregamento
deve ser mantido durante o tempo necessário para ocorrer o adensamento total da
camada compreensível.
Eliminação do contato direto solo-estaca, utilizando o encamisamento da
estaca com um tubo de maior diâmetro, instalando-se as estacas após a cravação
dos tubos e preenchendo os vazios entre a estaca e o tubo com a areia fofa ou
vedando as extremidades com resina epoxy plásticas.
Pintura da superfície externa com betume, esse processo parece ser o
mais eficiente, pode reduzir em até 90 % o atrito negativo, porem essa pintura deve
ser feita com uma técnica que garanta uma espessura mínima de betume que não
seja removida no momento de cravação. Para isso alguns autores indicam a
implantação de uma ponta alargada nas estacas para não ter o risco de a camada
de betume ser retirada pelo atrito lateral da estaca-solo, conforme Santo Neto (1981)
“e nas camadas com pedregulhosas pode ser necessário executar pré-furos”.
Santos Neto (1981) cita que Fellenius recomenda uma camada de 1mm e
1,5 mm.
Com o uso da pintura de betume pode-se considerar um acréscimo de 10
a 20% nos custos de fundações, mas no final esse processo pode ser extremamente
compensador, devido a maior carga que as estacas terão.
Zeevaert (1976) propôs instalar estaca que possam recalcar a mesma
ordem de recalque da camada compreensível, ele utilizou esse processo nas argilas
da Cidade do México.
Alonso (2012) expõe a diminuição de contato da estaca-solo, utilizando
estaca com pequenos diâmetros e a utilização de estacas com a menor seção
voltada para baixo, de modo que o solo compreensível de desencoste do fuste.
32

4 MÉTODOS DE CÁLCULO DE ATRITO NEGATIVO EM ESTACAS ISOLADAS

4.1 Método De Moretto E Bolognesi

Moretto e Bolognesi (1959) propuseram que o atrito negativo, fosse


calculado multiplicando a área do fuste da estaca pela resistência ao cisalhamento do
solo. (apud Santos Neto, 1981)
Dessa forma:

𝑃𝑎𝑛 = 𝐴𝑙 × 𝜏 Equação 5

onde:
𝑃𝑎𝑛 = parcela correspondente ao atrito lateral negativo;
𝐴𝑙 = é a área lateral da estaca que pode ser obtida pelo perímetro (U) e
pelo comprimento (L)
𝜏 = é a resistência ao cisalhamento inicial do solo

BADILLO E RODRIGUEZ (1969) sugerem que o valor do atrito negativo


máximo seja calculado com a coesão não drenada (𝐶 ) do solo da camada calculada
como a resistência ao cisalhamento da mesma.

Comentários gerais:

 Moretto e Bolognesi não levam em consideração o ponto neutro.


 Aplicação desse método é apenas para solos argilosos.
 Segundo Santos Neto (1981) afirma que a maior contribuição desses
autores é chamar a tenção para fato que o atrito negativo depende
do tempo para sua evolução.

4.2 Método De Buisson, Ahu E Habib

Santos Neto (1981) cita que BUISSON et al (1960) discordaram do modelo


de cálculo de Terzaghi e Peck e apresentam um método com a inclusão do ponto
33

neutro, o alívio das pressões confinantes na ponta da estaca, fornece o valor do


recalque na estaca sob trabalho e a sobrecarga devido ao atrito negativo.

Da Figura 10, tira-se, a partir das condições de equilíbrio vertical:

𝑃 + 𝐴𝑁 + (𝜏. 𝑈. 𝑧) − [ 𝜏. 𝑈. (𝐻 − 𝑧)] = 𝑄 Equação 6

onde:
𝑃 = carga que a estaca recebe da estrutura (incluindo o peso próprio);
𝐴𝑁 = sobrecarga do atrito negativo ao longo da espessura do aterro;
𝜏 = resistência ao cisalhamento do solo compressível não amolgado
𝑈 = perímetro da estaca;
𝑧 = altura, da superfície natural do terreno (sem o aterro);
𝐻 = espessura da camada compreensível e
𝑄 = reação oposta pelo terreno resistente na estaca (atrito positivo +
resistência de ponta), quando estiver atuando atrito negativo ao longo de z.

Figura 10 - Estaca isolada sujeita a atrito negativo

Fonte: SANTOS NETO (1981).


34

Tem-se então a seguinte equação:

𝑃 + 𝐴𝑁 + 𝜏. 𝑈. (2. 𝑧 − 𝐻) = 𝑄𝑧 Equação 7

Constata-se, na equação 6, que H pode ser obtido através de sondagens;


𝜏 pode ser determinado em laboratório; 𝐴𝑁 pode ser avaliado em função das
características do aterro e P e U são conhecidos. Tem-se, então, duas incógnitas: 𝑧
e 𝑄𝑧. Logo, uma segunda equação é necessária, Pode-se Obtê-la, considerando
que a penetração da estaca é igual ao recalque do terreno ao nível do ponto neutro.
Para isto, devem-se traçar duas curvas, conforme mostra a Figura 11.

Figura 11: Curva I - recalque do aterro e Curva II - Recalque da estaca, variando com ponto
neutro.

Fonte: SANTOS NETO (1981).

A curva I representa o recalque final de um ponto do terreno situado a uma


profundidade z, sendo z a variável independente. Para traçá-la escolhe-se um valor
arbitrário de z. A localização de z determina as forças de atrito (positivo e negativo)
que se desenvolvem no contato solo-estaca. Será, então, possível calcular o recalque
final do solo em cada ponto, sendo conhecida a pressão inicial que atuava no solo e
sua compressibilidade, isto é, para um ponto de profundidade z ocorre um recalque y.
Esta curva representa y quando z varia.
A curva II representa ·a penetração da estaca sob a carga P, quando o
35

Atrito Negativo atua até a profundidade z, sendo z a variável independente. Para o


traçado da curva II, utiliza-se a expressão:

(𝜏. 𝑈. (𝐻 − 𝑧)]
𝑄𝑧 = 𝐴. 𝐾. {𝛾 . 𝐻. 𝛾 . 𝑙 + 𝑞 − 𝐴𝑁 + [ } Equação 8
𝐴

onde:
𝐴 = área da ponta da estaca;
𝐾 = coeficiente admitido como sendo unicamente função da penetração da
estaca (K independente de z).

O termo no interior das chaves representa a pressão vertical atuante ao


nível da ponta da estaca, onde:

𝛾 = peso específico aparente da camada compressível, se forem camadas


diferentes, utilizar um peso especifico aparente ponderado, levando em
conta a espessura de cada camada:

𝛾 = (𝛾 . 𝐻 + 𝛾 . 𝐻 + 𝛾 . 𝐻 +. . . + 𝛾 . 𝐻 )/𝐻 Equação 9

𝛾 = peso específico aparente do terreno resistente;


𝑙 = comprimento da estaca no terreno resistente;
𝑞 = sobrecarga devida ao aterro; e
𝐴 = área tributária de cada estaca.

Comentários gerais:

 O método dos autores considera o ponto neutro.


 Exige uma execução de uma prova de carga.
 Santos Neto (1981) afirma que o desenvolvimento teórico dos
métodos parece ser bem realista.
 O seguinte método pode ser utilizado em solos argilosos.
36

4.3 Método De Elmasry

ELMASRY (1963) fundamentou experimentos com modelos de cálculos,


onde variava a espessura, o peso especifico, o teor de umidade e a sobrecarga em
uma camada compressível, em que foram cravadas estacas instrumentadas, com
5,0 cm de diâmetro, apresentando então, uma formulação empírica para o cálculo do
atrito negativo em estacas isoladas (apud OLIVEIRA, 2000).
A fórmula empírica que o autor apresentou para o cálculo do atrito
negativo é:

(ℎ𝑚(%). 𝑃 )
𝐴𝑁 = 𝐹 + 𝑘. [𝑎. 𝑃 . 𝐻. 𝑈 − 𝑏. λ . ] Equação 10
(𝛾 . 𝛾 )

onde:
𝐹 = parcela de atrito negativo devida ao adensamento da camada,
adensamento este causado pelo seu próprio peso (ou seja, considerando a
sobrecarga na camada compressível devida ao aterro igual a zero)

( (%). )
O termo “𝑘. [𝑎. 𝑃 . 𝐻. 𝑈 − 𝑏. λ . ( . )
]” representa o atrito negativo que

surge na estaca devido à pressão de consolidação imposto pelo aterro, onde:

𝑘, 𝑎, 𝑏, 𝑐 = constantes obtidas através de uma análise dimensional (com


aplicação da 𝜋 teórica);
𝑃 = pressão na camada compressível devida à sobrecarga;
𝐻 = espessura da camada compressível;
𝑈 = perímetro da estaca;
λ = (𝛾 . 𝐻)/𝑃 , onde 𝛾 é o peso específico aparente sexo da camada
compressível. Se forem camadas diferentes, usar um peso específico seco
ponderado, levando em conta a espessura de cada camada:
37

𝛾 = (𝛾 . 𝐻 + 𝛾 . 𝐻 + 𝛾 . 𝐻 +. . . + 𝛾 . 𝐻 )/(𝐻 + 𝐻 + 𝐻 . . ) Equação 11

ℎ𝑚 (%) = umidade natural da camada. Se forem camadas diferentes:

ℎ𝑚 (%) = (ℎ (%). 𝐻 . 𝛾 + ℎ (%). 𝐻 . 𝛾 +. . )/[𝛾 . (𝐻 + 𝐻 … + 𝐻 )] Equação 12

𝛾 = peso específico dos grãos.

De acordo com Elmasry, o valor de 𝐹 pode ser obtido em laboratório.

𝐹 = aderência estaca-solo, obtida experimentalmente em laboratório.


Pode, também, ser considerada igual a “0,3. 𝑅 /2)", onde 𝑅 é a resistência à
compressão não confirmada.
Sejam:

∅1 = 𝑃𝐶 . 𝐻. 𝑈 Equação 13

∅2 = (ℎ𝑚(%). 𝑃3𝑐 )/(𝛾𝑠. 𝛾𝑔 ) Equação 14

Tem-se, então:

𝐴𝑁 = 𝐹 + 𝑘. (𝑎. ∅ − 𝑏. λ . ∅ ) Equação 15

Elmasry sugure que se adote:


𝑎 = 2,0
𝑏 = 0,7
𝑐 = 2,0
𝑘 = 0,416

Logo:
38

𝐴𝑁 = 𝐹 + 0,416. (2,0. ∅ − 0,7. λ ,


.∅ Equação 16

Comentários gerais:

 O seguinte método pode ser utilizado em solos argilosos.


 Fácil aplicação do método.

4.4 Métodos De Johannessen E Bjerrum

Johannessen e Bjerrum (1965 apud OLIVEIRA, 2000) apresentaram sua


proposta baseados nos resultados de análises em estacas metálicas instrumentadas.
As estacas foram cravadas ao longo de uma camada espessa de argila, sobre a qual
foi colocado um aterro de 10,0 m de altura. Os autores apontam que a aderência no
contato solo-estaca( 𝜏 ) varia ao longo do fuste de acordo com a expressão:

𝜏𝑎 = 𝜎′ℎ × tan ∅′𝑎 Equação 17

ou ainda,

𝜏𝑎 = 𝐾 × 𝜎 × tan ∅′𝑎 Equação 18

onde:
𝜎′ℎ = pressão horizontal efetiva;
𝜎 = pressão vertical efetiva;
𝐾 = coeficiente de empuxo;
∅ = ângulo de aderência estaca-solo

Para estacas com a superfície rugosa, pode-se considerar ∅ = ∅ (ângulo


de atrito interno efetivo do solo). Portanto, ao longo da estaca:

𝜏𝑎 = 𝐾 × tan ∅′ 𝜎 dz Equação 19
39

onde z é a profundidade na qual deseja-se obter o atrito negativo.


O valor final da parcela do atrito negativo poderá se obitdo então através
do produto 𝜏 pelo perímetro da estaca (U):

𝑧
𝐴𝑁 = 𝜏 × 𝑈 = 𝑈 × 𝐾 × tan ∅ 𝜎′𝑣 dz Equação 20
0

para uma estaca circular de diâmetro D, o perímetro é calculado por 𝑈 = 𝜋 × 𝐷.

Comentários gerais:

 As conclusões dos autores foram ratificadas por Endo et al (1969).


 Acréscimo de pressão devido à colocação do aterro.

4.5 Métodos De De Beer E Wallays

De Beer e Wallays criaram um método a partir das ideias de Zeevaert


(1959), os seguintes autores levam em consideração que parte pressão efetiva inicial
(𝜎 ), se transfere para a estaca como afirma Santos Neto (1981.
No entanto, o modelo de De Beer e Wallays, usam gráficos para facilitar o
modelo proposto de Zeevaert.
Velosso e Lopes (2010) cita que De Beer e Wallays concluíram que para
cálculo do atrito negativo, o peso da sobrecarga e das camadas compressíveis são
feitas separadamente, onde:

𝛾 ). )] ). )]
𝑝 , = . 1 − 𝑒 [( + 𝑝 . 𝑒 [( Equação 21
𝑚

onde:
𝑝 , = pressão efetiva vertical final;
𝛾 = (𝛾 ) = peso específico do terreno;
𝑚 = (𝐾 . tan ∅ . 𝑈)/𝐴)
𝐾 = coeficiente de empuxo no repouso;
∅ = ângulo de atrito interno do solo;
40

𝑈 = perímetro da estaca;
𝐴 = área efetiva tributária para cada estaca;
𝑒 = base dos logaritmos neperianos;
𝑝 = pressão efetiva vertical inicial (ou seja, antes da colocação da estaca);
𝐻 = espessura da camada.

A sobrecarga devida ao atrito negativo é dada pela expressão:

𝛾 . . ∅.
𝐴𝑁 = 𝐴. {𝛾 . ℎ = 𝑝 −
𝑈
× 1− 𝑒 } Equação 22
𝐴 . 𝑘 . tan ∅

De acordo com os autores, esta fórmula representa a soma das duas


parcelas de atrito negativo, uma sendo influenciada pela a sobrecarga e a outra devido
ao peso próprio do terreno que envolve a estaca.

Fazendo-se, sucessivamente, 𝛾 = 0 e 𝑝 = 0 na expressão, obtém-se para


uma estaca qualquer.

. . ∅.
𝐴𝑁 = 𝐴 . 𝑝 . 1− 𝑒 Equação 23

1 − 𝑒 . . ∅.
𝐴𝑁 = 𝐴 . 𝛾 . . ℎ 1 −
𝑈 Equação 24
𝐴 . 𝑘 . tan ∅ . ℎ

onde:
𝐴𝑁 = parcela devida à sobrecarga;
𝐴𝑁 = parcela devida ao peso próprio do terreno.

Estas expressões podem ser colocadas em gráficos como mostra a figura


12.
41

Em função de :
e 𝑘. tan ∅, encontra-se, facilmente, o 𝐴𝑁 e 𝐴𝑁 .

Figura 12 - Gráfico para determinação do atrito negativo.

Fonte: DE BEER E WALLAYS, 1968 apud SANTOS NETO (1981).


42

Figura 13 - Gráfico para determinação do atrito negativo.

Fonte: DE BEER E WALLAYS, 1968 apud SANTOS NETO (1981).

Para o caso de uma estaca isolada os autores propõem que se considere:

.
𝐴𝑁 = na área de influência devido à sobrecarga e
.
𝐴𝑁 = . devido ao peso próprio.

No caso de terreno com duas camadas de solos distintos como mostra a


figura 14, os autores sugerem:

𝐴𝑁1 = 𝐴𝑁0,𝑖 + 𝐴𝑁𝛾,1 Equação 25

𝐴𝑁 , = corresponde à sobrecarga 𝑝 ;
43

𝐴𝑁 , = corresponde ao peso próprio da estaca 1.

A pressão vertical na base da camada 1, antes da cravação da estaca é:

𝑃0 , ℎ1 = 𝑃0 + 𝛾𝑘,1 . ℎ1 Equação 26

e depois da cravação devido à transferência de parte do peso do terreno


para a estaca:
𝛾𝑘,1
−𝑚1,1 ×ℎ1 −𝑚1,1 ×ℎ1
𝑝𝑣,ℎ1 = . 1−𝑒 + 𝑝0 − 𝑒 Equação 27
𝑚1,1

Figura 14 - Atrito negativo em estacas cravadas em camadas diferentes.

Fonte: DE BEER E WALLAYS, 1968 apud SANTOS NETO (1981).

Tem-se, então, o atrito negativo na camada 1:

𝐴𝑁1 = 𝐴1 (𝑝0,ℎ1 − 𝑝𝑣,ℎ1 ) Equação 28

na camada 2: A sobrecarga devido à carga externa e à camada


sobrejacente é:

𝑝02 = 𝑝𝑣,ℎ1 Equação 29

De posso disto, procede-se como na primeira camada.


44

No caso de solo argiloso onde se queira levar em conta a coesão (c), o


atrito negativo será dado por:

𝐴𝑁 𝑝 1 . . . ∅
= 1+ − × [1 − 𝑒 ] Equação 30
ℎ. 𝐴. 𝛾 , ℎ. 𝛾 , 𝑈. ℎ. 𝑘 . tan ∅
𝐴

onde:
. .
𝛾 , =𝛾 −

Comentários gerais:

 Conforme falando anteriormente, o método desses autores, são


adaptações do método de Zeevaert.
 O método é aplicado, entanto, em estacas isoladas ou em grupos.

4.6 Método De Bowles

BOWLES (1997) desenvolveu um método de cálculo de atrito negativo


com estaca isolada, com dois possíveis casos levando em conta os diferentes casos
de sobrecarga, um sendo com solos granulares e outro com solos coesivos.

Estacas isoladas, segue:

Para aterros coesivos, figura 15:

𝐴𝑁 = 𝑈. 𝐿 . 𝑆 Equação 31

onde:
𝑈 = perímetro da estaca;
𝐿 = espessura do aterro ou solo que se morre verticalmente e
𝑆 = resistência ao cisalhamento do solo na zona 𝐿 .
45

Para aterros granulares figura 15:

1
𝐴𝑁 = 𝐿 . 𝑈. 𝛾. 𝑘. 𝑓 Equação 32
2

onde:
𝛾 = massa específica do aterro
𝑘 = coeficiente de empuxo de terra (𝑘 𝑒 𝑘 ) são coeficiente de empuxo
ativo e passivo.
𝑓 = coeficiente de atrito. Pode ser usado igual a tan ∅ para estacas com
superfícies rugosa, sendo ∅ = ângulo de atrito interno do solo.

Figura 15 - Atrito negativo em estacas causado por: (a) aterro coesivo, (b) aterro granular.

Fonte: Bowles (1968).

Comentários gerais:

 Método de fácil aplicação.


 Dois métodos de cálculo com estacas isoladas.
46

4.7 Método De Endo, Minou, Kawasaki E Shibata

Segundo Santos Neto (1981) os autores, se basearam em resultados de


instrumentação de estacas metálicas, o método é proposto para o valor máximo de
atrito negativo, considerado o ponto neutro.

𝐴𝑁 á = ƞ. 𝑈. 𝛼 𝜎 . 𝑑𝑧 Equação 33

onde:
ƞ = coeficiente que depende da ponta da estaca (os autores sugeram
para estaca com ponta maciça ƞ = 1, para estaca com ponta aberta ƞ = 0,6);
𝑈 = perímetro da estaca;
𝛼 = 𝐾 tan ∅;
𝐾 = coeficiente de empuxo de terra;
∅ = ângulo de atrito estaca-solo

𝛽= = profundidade relativa do ponto neutro (os autores sugerem 0,73 <

𝛽 < 0,78);
𝑙 = profundidade do ponto neutro e
𝑙 = comprimento da estaca.

Santo Neto (1981) afirma que os métodos de ENDO et al é a mesma de


Johannessen e Bjterrum (1965), com o acréscimo do ponto neutro e o coeficiente
que depende da ponta da estaca.
Os autores propõem que para o cálculo da sobrecarga na ponta da estaca
devido ao atrito negativo:

( . ).
𝐴𝑁 = ƞ. 𝑈. 𝛼 𝜎 . 𝑑𝑧 Equação 34

Comentários finais:

 Os autores reiteram as propostas de Johannessen e Bjerrum


47

(1965).
 Métodos considera o ponto neutro.
 Simples aplicação.
 O método leva em consideração o tipo de ponta da estaca,
indicando seus valores de coeficiente.

4.8 Método De Poulos E Mattes

Os autores utilizam a Teoria da elasticidade para o método de cálculo de


atrito negativo. Eles também consideram a compressibilidade do solo e a influência
de uma camada rija, onde se apoia a ponta da estaca como nos afirma (Oliveira
2000).
“Os recalques no solo seriam causados pela tensão cisalhante ao longo
da estaca e pelo adensamento do solo” (Santo Neto, 1981, p.166).
Sob estas condições, a máxima sobrecarga devido ao atrigo negativo
ocorre na ponta e é dada por:

𝐴𝑁 = 𝐼 . 𝐸 . 𝑆 . 𝐿 Equação 35

onde:
𝐼 = fator de influência obtido de um gráfico – figura 16 em função de 𝐿/𝐷,
do fator de rigidez da estaca 𝐾 e do coeficiente de Poison, sendo:

𝑘= .𝑅

𝐸 = módulo de elasticidade da estaca;


𝐸 = módulo de elasticidade do solo;
.
𝑅 = 𝐴𝑝/( ) onde:

𝐴𝑝 = área real da estaca;


𝑅 = 𝑙 se estaca maciça;
𝑆 = recalque na superfície do solo;
𝑑 = diâmetro da estaca; e
𝐿 = comprimento da estaca.
48

Figura 16 - Fator de influência para cálculo de atrito negativo em estacas.

Fonte: PAULOS E MATTES,1969 apud SANTOS NETO (1981).

O gráfico acima mostra valores de 𝐼 quando o solo tiver coeficiente de


Poisson:
𝑣 = 0 e 𝑣 = 0,5

Comentários gerais:
 Santos Neto (1981), expõe “O inconveniente maior deste método é
a dificuldade de se determinar corretamente alguns dados
necessários para sua utilização, tais como: módulo da elasticidade
do solo, coeficiente de Poisson e os recalques que deverão ocorrer
no solo.”
 Método de fácil aplicação.
 Pode ter resultados elevados, devido a camada rija que a estaca
pode estar apoiada.
49

4.9 Método De Soares

Segundo Santos Neto (1981) o autor aceita o método de Johannessen e


Bjerrum para o cálculo de atrito negativo para uma estaca isolada, que considera a
resistência mobilizada ao longo do fuste da estaca.
No entanto para o cálculo de atrito negativo deve-se considerar a
resistência que foi mobilizada pelo deslocamento relativo estaca-solo, obtida em
gráfico tensão-deformação de um ensaio de cisalhamento direto drenado, onde a
pressão normal do plano de ruptura seja igual a pressão efetiva horizontar média
que atua na camada.
Utilizando-se a mesma deformação específica 𝜀 (%) ocorrida no terreno,
obtida dos recalques relativos estaca-solo conforme a figura 17.d, leem-se as
tensões de cisalhamento que estar deformações forneceram no ensaio, figura 17.e.

Figura 17 - Proposta de Soares.

Fonte: SANTOS NETO (1981).

Comentários gerais:

 Admite o ponto neutro.


 Aplicação trabalhosa, devido necessitar das previsões de
50

recalques do terreno e da estaca para determinar o ponto neutro.

4.10 Métodos De Kezdi

O método de Kezdi, utiliza as mesmas proposições de Soares (1974),


utilizando as tensões cisalhantes mobilizadas pelo descolamento relativo estaca-
solo.
Com a figura x, consegue-se descrever este método.

Figura 18 - Métodos de Kezdy para cálculo de atrito negativo.

Fonte: KEZDY, 1975 apud SANTOS NETO (1985).

onde se tem:
Figura 18.a - o perfil e as cargas atuando na estaca e no terreno;
Figura 18.b - a distribuição das pressões verticais ao longo do fuste.
Figura 18.c - o recalque da camada argilosa.
Figura 18.d1 – recalque da estaca:
𝛾 = penetração da ponta
𝛾 = compressão elástica da estaca
51

Figura 18.d2 – deformação máxima do solo no cisalhamento a partir do


qual ele romperia, sendo 𝑅 a resistência à compressão simples do solo não
amolgado (𝑅 /2 = resistência não drenada - 𝑐 ).

4.11 Métodos De Poulos E Davis

Segundo Santos Neto (1981) os autores utilizam a teoria da elasticidade


para o desenvolvimento de um método, porém aceitam a possibilidade de o atrito
negativo não ser completamento mobilizado ao longo do fuste da estaca.
De acordo com os autores, a máxima força que atua na estaca, quando
ocorre cisalhamento total na interface solo-estaca, é dada por:

𝐴𝑁 = 𝑃𝑁𝐹𝑆 . 𝑁𝑅 . 𝑁𝑇 + 𝑃𝑎 Equação 36

onde:
𝑃 = máxima sobrecarga devida ao atrito negativo quando ocorre plena
mobilização da resistência ao cisalhamento;
𝑁 = fator de correção para o caso em que não ocorra plena mobilização
da resistência ao cisalhamento;
𝑁 = fator de correção para o caso em que a estaca não seja cravada na
ocasião da colocação do aterro e, sim, após um certo tempo t; e
𝑃 = força axial que atua na estaca no tipo da camada compressível. A
adição de 𝑃 é correta se ocorre cisalhamento total ao longo da estaca e
somente aproximada em outros casos. Entretanto está generalização
leva, geralmente, a pequenos erros. Convém ressaltar que 𝑃 deve incluir
a sobrecarga devida ao atrito negativo nas camadas sobrejacentes ao
terreno compressível. Se estas camadas não forem coesivas, é
perfeitamente aceitável considerar que ocorre completo cisalhamento
entre a estaca e estas camadas.

𝑃 = pode ser obtido a partir da expressão:


52

𝐻
𝑃 = 𝜋. 𝑑. 𝜏′𝑎 . 𝑑𝑧 Equação 37
0

na qual:
𝑑 = diâmetro da estaca;
𝜏 = aderência solo-estaca;
𝐻 = espessura da camada

Para uma camada uniforme:

𝛾𝐿
𝑃 = 𝜋. 𝑑. 𝐿. [𝑐 + 𝐾 . tan ∅ . ( + 𝑞] Equação 38
2

onde:

𝐿 = espessura da camada compressível;


𝑐 , ∅ = parâmetro efetivo da aderência e ângulo de atrito estaca-solo;
𝐾 = coeficiente de empuxo de terra (admitido constante)
𝛾 = massa específica do terreno;
𝑞 = sobrecarga devido ao terreno.

Se a camada compressível, além do aterro, é subjacente a outras


camadas e tem uma pressão efetiva inicial 𝑝 atuando no seu topo, 𝜏
deve ser calculada usando-se uma aderência equivalente:

𝑐 𝑒 = 𝑐 + 𝑝0 . 𝐾𝑠 . tan ∅ Equação 39

Valores de 𝑁 e 𝑁 são representados na figura (x), em função de 𝑐 / ,


.
𝛾𝐿/𝑞 e 𝑇 = ×𝑀

onde:
𝑇 = fator tempo;
𝑡 = tempo transcorrido da colocação do aterro até a instalação da estaca.
𝐶 = coeficiente de adensamento obtido de ensaios de adensamento na
53

camada compressível;
𝑀 = coeficiente que depende do número de face drenantes;
𝑀 = 1 quando a camada tem uma face drenante;
𝑀 = 4 quando tem duas faces drenantes.

Os gráficos na figura 19 foram obtidos para 𝐾 = 1000,


𝐿/𝑑 = 50, 𝑉 = 0 e 𝑇 = 0, sendo:
54

Figura 19 - Fatores de correção.

Fonte: POULOS E DAVIS, 1975 apud SANTOS NETO (1981).


55

𝐾= .𝑅

𝐸 = módulo de elasticidade da estaca;


𝐸 = módulo de elasticidade do solo nas condições drenadas:
( ).( )
𝐸 = .( )

𝑣 = coeficiente de Poisson do solo nas condições drenadas;


𝑚 = coeficiente de variação volumétrica obtido de ensaios de
adensamento.

A variação do atrito negativo com o tempo pode ser obtida através da


equação:

𝑃𝑡 = 𝑈𝑛 . (𝐹𝑁 − 𝑃𝑎 ) + 𝑃𝑎 Equação 40

onde:
𝐹 = cálculo na equação (
𝑃 = força no topo da camada compressível;
𝑈 = grau de desenvolvimento do atrito negativo, obtido na figura 20 em
função de:
. .
𝑇 =

onde:
𝑡 = 𝑡 - 𝑡 = tempo transcorrido desde a instalação da estaca.
56

Figura 20 - Taxa de desenvolvimento do atrito negativo.

Fonte: PAULO E DAVIS, 1975 apud SANTOS NETO (1981).

O movimento da estaca no topo da camada compressível é dado por:

𝜌 = 𝜌 . 𝑄 . 𝑄 + (𝑃 . 𝐻)/(𝐸 . 𝐴 ) Equação 41

onde:
𝜌 = movimento axial da estaca se ocorre cisalhamento completo:

2. 𝑞. 𝐻2 . 𝑅𝐴 𝛾. 𝐿
𝜌𝐹𝑆 = . [𝑐′𝑎 + 𝐾𝑠 . tan ∅′𝑎 . ( + 1)] Equação 42
𝐸𝑝 . 𝑑 3𝑞

𝑄 = fator de correção a utilizar quando não ocorre cisalhamento


completo, obtido na figura 21 e 22; e
𝑄 = fator de correção devido ao tempo de instalação da estaca, obtido na
figura.

O movimento da estaca ao longo do tempo é obtido com a equação:


57

𝑃𝑎 . 𝐻 𝑃𝑎 . 𝐻
𝜌𝑡 = 𝑈𝜌 . 𝜌 − + Equação 42
𝐸𝑃 . 𝐴 𝑃 𝐸𝑃 . 𝐴 𝑃

. .
𝑈 = grau de deslocamento da estaca para um certo 𝑇 = , obtido

na figura 23.

Figura 21 - Fatores de redução.

Fonte: POULOS E DAVIS, 1975 apud SANTOS NETO (1981).

Figura 22 - Fatores de redução.


58

Fonte: POULOS E DAVIS, 1975 apud SANTOS NETO (1981).

Figura 23 - Grau de desenvolvimento dos recalques de estava versus fator tempo.

Fonte: POULOS E DAVIS, 1975 apud SANTOS NETO (1981).

Comentários gerais:
59

 Os autores utilizam a teoria da elasticidade para o desenvolvimento


do método.
 Segundo Santos Neto (1981), a difícil determinação do módulo da
elasticidade do solo, à aplicação do método pode levar erros
consideráveis.
 O método estima o deslocamento no topo da estaca devido à
compressão elástica do material face às sobrecargas.
60

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