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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA 1

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Terceira Câmara Cível
5ª Av. do CAB, nº 560 - Centro - CEP: 41745971 -
Salvador/BA

ACÓRDÃO

Classe : Apelação nº 0001105-26.2004.8.05.0141


Foro de Origem : Foro de comarca Jequié
Órgão : Terceira Câmara Cível
Relator :Des. Desª. Rosita Falcão de Almeida Maia
Apelante : Joselita Coutinho Veloso
Advogado : Marilene da Nova Carvalho (OAB: 8859/BA)
Apelado : Cartorio do 1ª e 2º Oficio de Imoveis da Comarca de Jequie
Apelado : Oficiais dos Tabelionatos do 1º e 2º Oficio da Comarca de Jequie

Assunto : Inventário e Partilha

RELATÓRIO:

Trata-se de recurso de apelação interposto por Joselita Coutinho Veloso contra a


sentença de fls. 98, que julgou extinto o feito, sem julgamento do mérito, com fulcro no art.
267, XI do CPC/73, sob o fundamento de ilegitimidade passiva ad causam do Cartório de
Imóveis da Comarca da Jequié.

Em suas razões, o apelante relata que propôs a presente ação para registro de partilha
amigável no processo de inventário, envolvendo os Cartórios de Registro de Imóveis do 1º e
2º Ofício da Comarca de Jequié, na pessoa de seus titulares, com extensão aos Oficiais dos
Tabelionatos do 1º e 2º Ofício da Comarca de Jequié ou seus substitutos, em razão da negativa
dos apelados em proceder ao registro das escrituras relativas aos terrenos deixados pelo “de
cujos”, sob a alegação de que não estariam absolutamente determinados, em afronta ao
princípio da continuidade e obrigatoriedade do registro e da matrícula, previstos no art. 169 da
Lei de Registros Públicos.

Pugnou pelo provimento do recurso para anular a sentença, determinando o


prosseguimento do procedimento para fins de dar continuidade à matrícula e ao registros
pleiteados nos termos da Lei de Registros Públicos.

Instada a se manifestar, a douta Procuradoria do Estado opinou às fls. , pelo


provimento parcial do recurso para anular a decisão impugnada, determinando o retorno dos
autos à origem para processamento regular do procedimento de dúvida suscitado pelo
particular.

Vieram os autos à Segunda Instância, onde, distribuídos a esta Colenda Câmara Cível,
coube-me a relatoria.

Em cumprimento ao art. 931, do NCPC, restituo os autos à Secretaria, com relatório,

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ao tempo em que solicito dia para julgamento, salientando a possibilidade de sustentação oral,
nos termos do art. 937, I, do NCPC.

Salvador, 25 de julho de 2018.

Rosita Falcão de Almeida Maia


Relatora

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Terceira Câmara Cível
5ª Av. do CAB, nº 560 - Centro - CEP: 41745971 -
Salvador/BA

ACÓRDÃO

Classe : Apelação nº 0001105-26.2004.8.05.0141


Foro de Origem : Foro de comarca Jequié
Órgão : Terceira Câmara Cível
Relator :Des. Desª. Rosita Falcão de Almeida Maia
Apelante : Joselita Coutinho Veloso
Advogado : Marilene da Nova Carvalho (OAB: 8859/BA)
Apelado : Cartorio do 1ª e 2º Oficio de Imoveis da Comarca de Jequie
Apelado : Oficiais dos Tabelionatos do 1º e 2º Oficio da Comarca de Jequie

Assunto : Inventário e Partilha

EMENTA:
APELAÇÃO CÍVEL. REGISTRO PÚBLICO. SUSCITAÇÃO DE DÚVIDA INVERSA.
POSSIBILIDADE. CARTÓRIO. CAPACIDADE PROCESSUAL. OFICIAL CARTORÁRIO.
SENTENÇA ANULADA RECURSO PROVIDO.
1. A Lei n. 6.015/1973 dispõe que o particular, ao discordar de exigência a ser satisfeita; ou da
negativa do registro, deve requerer ao oficial do registro que suscite a dúvida ao Juízo
competente, o que será feito de acordo com as regras do procedimento.
2. O particular pode judicializar a dúvida, diante da inércia do oficial do registro que, por ele
provocado a suscitá-la, não o fez.
3. O cartório extrajudicial não detém personalidade jurídica e, portanto, deverá ser
representado em juízo pelo respectivo titular.
4. Considerando que os oficiais dos tabelionatos do 1º e 2º Ofício da Comarca de Jequié
figuram no polo passivo da demanda, representando o Cartório do 1º e 2º Ofício de Imóveis
da Comarca de Jequié, não há se falar em ilegitimidade passiva ad causam.
5. Oportuno registar ainda que o processo não está em condições imediata de julgamento, já
que à requerente não foi oportunizada a prerrogativa de produzir provas, embora tenha
requerido, na peça inicial.
Sentença Anulada. Recurso provido parcialmente a fim de anular a sentença proferida,
determinando o retorno dos autos ao julgador a quo para o processamento regular do
procedimento de dúvida inversa.

ACÓRDÃO

Vistos relatados e discutidos estes autos de recurso de nº. 0001105-26.2004.805.0141,


sendo apelante o Joselita Coutinho Veloso e apelados Oficiais dos Tabelionatos do 1º e 2º
Ofício da Comarca de Jequié.

Acordam os Desembargadores componentes da Terceira Câmara Cível do Tribunal de


Justiça da Bahia, à unanimidade, DAR PROVIMENTO PARCIAL À APELAÇÃO e o
fazem pelos motivos seguintes.

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VOTO

Presente os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso interposto.

A controvérsia cinge-se a uma Suscitação de Dúvida Inversa, proposta por Joselita


Coutinho Veloso, referente à negativa de registro pelo Oficial do Tabelionato do 1º e 2º Ofício
de Registro de Imóveis da Comarca de Jequié, quanto à efetivação do registro das matrículas
dos terrenos deixados pelo “de cujus” no processo de Inventário e Partilha de n. 094/50.

O douto a quo julgou extinto o feito, sem julgamento do mérito, com fulcro no art.
267, XI do CPC/73, sob o fundamento de ilegitimidade passiva ad causam do Cartório de
Imóveis da Comarca da Jequié.

Pois bem.

A Lei de Registro Público n. 6.015/1973, em seu art. 198, dispõe que o particular, ao
discordar de exigência a ser satisfeita; ou da negativa do registro, deve requerer ao oficial do
registro que suscite a dúvida ao Juízo competente, o que será feito de acordo com as regras do
procedimento. Confira-se:

Art. 198 - Havendo exigência a ser satisfeita, o oficial indicá-la-á por


escrito. Não se conformando o apresentante com a exigência do
oficial, ou não a podendo satisfazer, será o título, a seu requerimento
e com a declaração de dúvida, remetido ao juízo competente para
dirimí-la, obedecendo-se ao seguinte (...):

Muito embora a Lei n.º 6.015/73 não disponha a respeito da judicialização da dúvida
pelo particular, doutrina e jurisprudência têm admitido a chamada "dúvida inversa", manejada
pelo particular, desde que comprovada a omissão do notário quanto ao requerimento de
dúvida formulado.

Por oportuno:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. REGISTRO PÚBLICO.


SUSCITAÇÃO DE DÚVIDA INVERSA. PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO. REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE.
PRÉVIO REQUERIMENTO AO OFICIAL. RECURSA OU
INÉRCIA NÃO COMPROVADA.
Diante a negativa de registro ou discordância das exigências
formuladas pelo Oficial de Cartório, pode o particular promover a
chamada dúvida inversa, mas desde que, formulado requerimento
escrito ao notário para fazê-lo, ele se recusar ou quedar-se inerte.
Julgado extinto o processo, sem resolução do mérito. Recurso
prejudicado. (TJMG - Apelação Cível 1.0396.16.003998-0/001,
Relator(a): Des.(a) Albergaria Costa , 3ª CÂMARA CÍVEL,
julgamento em 25/05/2018, publicação da súmula em 06/06/2018)

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Na hipótese, aplica-se, com efeito, o disposto no art. 198, “caput”, da Lei de Registros
Públicos, que atribui a competência do Poder Judiciário para dirimir a dúvida, tendo em vista
que o procedimento de dúvida inversa tem a mesma natureza, requisitos e objeto daquele
previsto expressamente na Lei 6.015/73, porquanto somente se diferencia quanto a quem o
suscita.

Por outro lado, a Lei Federal n. 8.935/94, a qual dispõe sobre os serviços notariais e de
registro, estabelece a responsabilidade pessoal dos titulares daqueles serviços:

Art. 3º Notário, ou tabelião, e oficial de registro, ou registrador, são


profissionais do direito, dotados de fé pública, a quem é delegado o
exercício da atividade notarial e de registro.

Art. 22. Os notários e oficiais de registro são civilmente responsáveis


por todos os prejuízos que causarem a terceiros, por culpa ou dolo,
pessoalmente, pelos substitutos que designarem ou escreventes que
autorizarem, assegurado o direito de regresso.

A partir da leitura desses dispositivos legais, vê-se que a legitimidade para responder
pela má prestação de serviços notariais é do titular do serviço cartorário e não do Cartório,
que, de fato, não possui personalidade jurídica, devendo ser representado em juízo pelo
respectivo titular.

Considerando que os oficiais dos tabelionatos do 1º e 2º Ofício da Comarca de Jequié


figuram no polo passivo da demanda, representando o Cartório do 1º e 2º Ofício de Imóveis
da Comarca de Jequié, não há se falar em ilegitimidade passiva ad causam.

Assim, revela-se imperiosa a anulação da sentença.

Oportuno registar ainda que o processo não está em condições imediata de julgamento,
já que à parte requerente não foi oportunizada a prerrogativa de produzir provas, embora tenha
requerido, na peça inicial.

Por tudo exposto, DOU PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO a fim de anular a


sentença proferida, determinando o retorno dos autos ao julgador a quo para o processamento
regular do procedimento de dúvida inversa.
Sala das sessões, de de 2018.

Presidente

Rosita Falcão de Almeida Maia


Relatora

Procurador(a) de Justiça

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