Revista Augustus | ISSN 1415-398X | Rio de Janeiro | v. 16 | n.

32 | Julho de 2011 | Semestral TEMAS LIVRES

Os aspectos da indisciplina educacional

Adriana Patricia Ronco

Doutorado em História pela Universidade Federal Fluminense
Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM)
adrianaronco@hotmail.com

Mestre Júlia Tadeu Silva dos Santos e Paula

Mestre em Educação pela Universidade Católica de Petrópolis
Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM)
jpaula@unisuam.edu.br

Alexandre Gomes da Silva

Aluno Curso de História (UNISUAM)
Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM)

Fernandes Gonçalves
Aluno Curso de História (UNISUAM)
Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM)

RESUMO

Este artigo propõe-se a analisar o conceito de indisciplina, fator que

causa sérios transtornos no contexto escolar, a partir do embasamento
teórico de destacados estudiosos da educação do século XX, tais como
Henri Wallon, Célestin Freinet, Jean Piaget, Vygostsky e Paulo Freire,
que no momento de crise no âmbito da escola e das próprias ideologias
desenvolveram teorias que contribuíram para a elaboração de soluções
na vivência escolar. A indisciplina, que será o eixo desta análise, pode
ser fruto de várias circunstâncias externas à pessoa, isto é, sociais,
econômicas, familiares, bem como internas, tais como as emocionais,
afetivas e intelectuais. Portanto, deve-se buscar conjuntamente apoio nas
teorias educacionais e atitudes criativas na busca de solução para este
problema educacional.

Palavras-chave: Indisciplina. Escola. Família. Sociedade.

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Os aspectos da indisciplina educacional

ASPECTS OF EDUCATIONAL INDISCIPLINE

ABSTRACT

This article considers to show that it is possible to neutralize the

indiscipline in the pertaining to school context from the theoretical
basement of the great educators of century XX, such Henri Wallon,
Célestin Freinet, Jean Piaget, Vygostsky and Paulo Freire. That at the
crisis moment they had developed theories that had contributed for the
elaboration of solutions in the pertaining to school experience. The
indiscipline can be fruit of some internal, emotional, affective and
intellectual circumstances external, that is, social, economic, familiar,
as. Therefore it must jointly be searched support in the jointly be
searched support in the theories and creative attitudes in a solution for
this educational problem.

Keywords: Indiscipline. School. Family. Society.

1 INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas tem-se visto nas
instituições educacionais a reprodução de diversos
conflitos antropológicos, que são denominados
como indisciplina escolar. As causas são inúmeras
e dificilmente se chega a uma conclusão.
O termo indisciplina, do ponto de vista do senso
comum, tem gerado uma equívoca interpretação
do seu significado real, inviabilizando a busca de
ações concretas, que minimizem o problema.
Dentro dessa visão, a indisciplina é entendida
como a ação de indivíduos que se comportam fora
dos padrões pré-estabelecidos como “normais”, ou
seja, a institucionalização do comportamento humano,
imposta pela lógica da classe dominante que determina
os padrões aceitáveis para o convívio social. Identificar
o erro no aluno indisciplinado torna-se mais fácil do
que encontrar a razão que gera a indisciplina.
Quando se busca a gênese que leva o
aluno à indisciplina, depara-se com aspectos
diversificados que envolvem questões sociais,
econômicas, políticas e familiares. Tendo como
base a apresentação dos aspectos supracitados será
estabelecido, a seguir, um limiar para o assunto
que fomenta a indisciplina na escola.

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2 ASPECTOS QUE GERAM A INDISCIPLINA
EDUCACIONAL
Para falar desses aspectos, a priori, é
necessário também reportar à ciência que
estuda esses aspectos, a sociologia. Durante a
Segunda Revolução Industrial, a sociedade em
crise começou apresentar um comportamento
despadronizado (ou seja, indisciplinado, fora das
normas reproduzidas coletivamente pelos sujeitos
sociais) em relação à época, de modo que este
fator levou o homem a estudar o comportamento
social de então, iniciando-se assim os estudos
sociológicos (HOBSBAWM, 1990).
Segundo Bernstein (BERNSTEIN apud
MORAIS; NEVES, 2007) existe uma reprodução
social na escola, que se estabelece entre as relações
de poder ou dominação por meio da aquisição
de conhecimento. Perpetua a estrutura social no
âmbito de classes sociais trabalhadoras, acadêmicas
e familiares na dinâmica: patrão/empregado, pais/
filhos, professores/alunos e vice versa.
Partindo do referencial teórico da sociologia,
os aspectos que geram a indisciplina educacional
TEMAS LIVRES
na escola começam no bojo da sociedade, que
reflete no microcosmo educacional, a saber:
aspectos religiosos, familiares, políticos e
educacionais. Decerto se observa na escola a
estrutura da sociedade, do macrocosmo, reflexos
e desdobramentos da indisciplina e de outros
âmbitos afunilando-se na interação da escola.
A seguir serão abordados os aspectos que
interferem na dinâmica educacional que podem
ocasionar a indisciplina escolar.
2.1 Aspecto religioso
Na visão antropológica a formação humana
sempre esteve ligada à religiosidade, como viés
de controle emocional, espiritual e social do
indivíduo:
A moral conduz, portanto, infalivelmente à
religião, ampliando-se desse modo até a ideia
de um legislador moral todo-poderoso, exterior
ao homem, na vontade do qual reside um fim
último (da criação do mundo), o que pode e deve
ser igualmente o fim último do homem (KANT,
2008, p. 16).
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Os aspectos da indisciplina educacional
Durante a década de 60, estudantes universitários
da sociedade europeia, principalmente na França,
reivindicaram liberdade moral, religiosa, cultural
e mudança econômica em sua sociedade; cuja
finalidade era a libertação de um sistema político
e religioso rigoroso. Uma das questões que teve
notoriedade foi a queima do soutien, o uso do
contraceptivo e do preservativo (ética feminista).
A Igreja Católica, determinante do
comportamento social da época (e hoje em países
de maioria católica), levantou-se contra esse novo
estilo de vida, que despadronizava a tradição,
sendo esse comportamento caracterizado como
“pecado”, já que impedia os propósitos originais
da criação, a perpetuação da vida, reconhecida no
momento da concepção intrauterina.
Devido à ética religiosa católica, os países
em vias de desenvolvimento, principalmente
nas Américas Central e do Sul, aceitaram a
resposta católica aos movimentos de revolução
sociocultural, deixando de realizar programas
de controle de natalidade. Provocando, em meio
à sociedade, o crescimento populacional sem
nenhuma estrutura organizacional, elevando a
porcentagem dos desfavorecidos a uma subvida
social, acarretando posteriormente problemas na
estrutura da sociedade (SANTOS, 2008).
2.2 Aspecto familiar
O alicerce que sustenta a sociedade é a família,
como consta na Constituição brasileira (art. 208),
que é a unidade existencial da sociedade. Quando
a família passa problemas de qualquer natureza,
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acaba por afetar a sociedade direta e indiretamente.
Exemplificando: quando o pai ou a mãe não
recebe afeto, este também, geralmente, não sabe
dar afeto aos seus filhos, reproduzindo um modelo
comportamental inadequado.
Com isso costumam ser excessivamente
agressivos, descontando nos filhos suas frustrações
e necessidades de maneira violenta, e, portanto,
esses pequenos sujeitos sociais maltratados
perpetuarão o mesmo senso de violência no espaço
social escolar, e não serão compreendidos no que
tange ao seu comportamento indisciplinado por
muitos educadores. No entanto, são tão somente
vítimas de violência doméstica. Agredidas,
espancadas, humilhadas, vilipendiadas na ausência
do amor familiar.
2.3 O aspecto político
Percebe-se que o modelo político nacional
pauta-se na descontinuidade, isto é, quando um
político inicia um mandato1, refaz todo o aparato
de projetos socioeducativos sob sua gestão,
interrompendo o trabalho que fora iniciado.
No fim de uma gestão, o sucessor não tarda
a abandonar a proposta em curso do anterior, ou
melhor, substituir “por outra”, com uma nova
roupagem, o que gera um sistema educacional
frágil, promovendo a síndrome da não-geração de
escolaridade.
A não-geração de escolaridade,
consequentemente, a médio e longo prazo, provoca
1 Um exemplo disto seriam os Centros Integrados de
Educação Pública (CIEPs) elaborados por Darcy Ribeiro na
década de 80, no Governo de Leonel Brizola.
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a não-geração de emprego ou a indústria do
subemprego, pois o indivíduo sem escolaridade
torna-se refém do mercado de trabalho.
A conjectura ora apresentada dificultará o
papel dos futuros chefes de família, ou seja, dos
mantenedores. E por mais estranho que possa
parecer, essa sucessão de fatos contribui para a
indisciplina no âmbito da escola.
Assim, questiona-se: como isto pode afetar um
aluno no seu comportamento, transformando-se
em indisciplina? O subemprego está relacionado
a uma remuneração ruim, condições de quase
miserabilidade, e com isso contribui para a
deficiência no processo de ensino-aprendizagem,
levando à desmotivação, indisciplina e por fim
à evasão.
O desemprego é gerado basicamente por
duas causas: falta de mão-de-obra qualificada
e de investimento na área do desenvolvimento
de trabalho; tais fatores abrem margem para
o assistencialismo estatal. Ou seja, o Estado
investe em projetos sociais sem uma expectativa
de mudança e empoderamento social, em que
os cidadãos possam construir ferramentas para
emergirem do risco social que se encontram,
perpetuando assim um sistema político
paternalista, cujo único objetivo é manter as coisas
hierarquicamente no devido lugar em que estão.
O desemprego e/ou subemprego são fatores
que podem vir a fomentar a indisciplina na Escola,
por ocasionarem falta de um padrão aceitável
de alimentação, vestuário e moradia, podendo
contribuir para o crescimento da violência urbana,
e essa violência acaba por entrar na escola,
TEMAS LIVRES
resultando em vítimas que perpetuam a estrutura
apresentada.
A seguir será abordado o aspecto educacional,
em que serão apresentados possíveis fatores que
geram a indisciplina, uma das principais causas
que prejudicam o processo de aprendizagem.
2.4 Aspecto educacional
As instituições educacionais do território
nacional, em sua totalidade, vêm enfrentando
diversas dificuldades no comportamento escolar
em seus limites de atuação do processo ensino-
aprendizagem.
Mesmo com a promulgação da Lei de Diretrizes
e Bases (LDB) e os Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN) verifica-se uma estrutura
educacional problemática, com baixos salários
dos docentes, falta de recursos pedagógicos e
financeiros, falta da uma formação continuada,
entre outros aspectos.
A indisciplina dentro das salas de aula tem
sido entendida pelos educadores como uma
monstruosidade educacional, levando muitos a
desistirem do magistério.
O respeito pelo professor tornou-se algo do
passado, ao ponto de sofrerem vários tipos de
violência na rotina da profissão, que ao longo dos
anos, acabam se constituindo em patologias que
ampliam as estatísticas do Instituto Nacional de
Seguridade Social (INSS).
Com isso, os docentes que, por compromisso
à profissão, são vistos como “heróis” pelos pais
de alunos, tornam-se elemento fundamental na
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Os aspectos da indisciplina educacional
formação educacional e social de seus filhos.
Mas não basta serem vistos como heróis
se existe uma inversão de papéis na dinâmica
educacional. A educação é compromisso de todos,
dos professores, gestores, políticos, comunidade
e principalmente da família; os docentes
fomentam a construção do conhecimento escolar
e da personalidade, mas o caráter do indivíduo é
dado pelos pais. Hoje, a problemática social do
indivíduo está sendo despejada sobre o professor,
havendo uma transferência de responsabilidade;
este passa a ter várias funções, não só mais de
educar, mas de ensinar valores para a vida.
Em alguns casos o educador não consegue
dar conta dessa demanda, ou seja, de gerar uma
aprendizagem significativa que promova todas as
dimensões do verbo educar.
E quando não consegue promover essa prática
para seu aluno o efeito colateral é a indisciplina.
Então, o que fazer?
3 AS POSSÍVEIS SOLUÇÕES PARA A
INDISCIPLINA NA ESCOLA
O século XX foi marcado por diversas crises e
revoluções que marcaram a história da humanidade;
para muitos as crises trouxeram diversas
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mortandades, miséria, guerras, enriquecimentos de
alguns países, em detrimento da miséria de outros,
atos desumanos em várias partes do globo terrestre.
Em contrapartida, essa mesma crise possibilitou
uma releitura da necessidade de instrumentalizar a
sociedade, para busca de possíveis soluções.
Percebe-se que estas crises contribuíram
positivamente para mudanças significativas no
ensino da humanidade. Mas como?
As duas grandes guerras mundiais, a ascensão
dos regimes fascistas e nazistas e ditaduras
totalitárias na Europa, a revolução comunista na
Rússia e as guerras pela descolonização da África,
na primeira metade do séc. XX, consolidaram-se
como molas propulsoras para o avanço pedagógico,
ou seja, os principais teóricos da educação sentiram
na própria pele os reflexos das crises, e souberam
aproveitar criativamente essa conjuntura e trazer
soluções para as demandas educacionais do seu
tempo; com isso, interessaram-se pelo estudo
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do comportamento humano e desenvolveram as
teorias psicopedagógicas, que servem de base e
sustentáculo do sistema educacional na atualidade.
São eles: Henry Wallon, Célestin Freinet, Jean
Piaget, Vygostsky e Paulo Freire, cujas teorias
contribuíram e contribuem até os dias atuais para
minimizar os impactos negativos da indisciplina
no cenário educacional, apesar de não terem
elaborado nenhum trabalho com esse objeto de
estudo.
Henry Wallon (1872-1962) foi um estudioso
que se dedicou ao entendimento do psiquismo
humano, seus mecanismos e relações mútuas, a
partir de uma perspectiva genética. Por meio de
seus estudos demonstrou que as crianças possuíam
emoções e se utilizou disto para formular sua
teoria, que contribuiu significativamente para o
pensamento pedagógico.
A criança em sala de aula expressa um
comportamento dito inadequado eticamente, por
falta de afetividade familiar (casa) e social (escola,
país, comunidade em que mora, bairros etc.), suas
emoções e sentimentos são canalizados de forma
negativa, causando a indisciplina.
As emoções, para Wallon, têm papel
preponderante no desenvolvimento da pessoa. É
por meio delas que o aluno exterioriza seus desejos
e suas vontades. Em geral são manifestações que
expressam um universo importante e perceptível,
mas pouco estimulado pelos modelos tradicionais
de ensino.
A teoria de Wallon oferece subsídios para os
educadores compreenderem e refletirem sobre
sua relação com seus alunos e a organização do
TEMAS LIVRES
trabalho em sala de aula.
Sugere ainda a utilização de procedimentos
pedagógicos diversificados para cada idade
conforme as formas de pensamento e afetividade,
o que consequentemente, minimizará os impactos
da indisciplina.
Três pontos importantes da função da escola são
instruir e desenvolver a integração das dimensões
afetivas, cognitivas e motoras. O saber escolar
deve nutrir-se do meio físico e social.
O pedagogo francês Celéstin Freinet (1896-
1966) foi um grande educador popular e um
inovador, a sua teoria na prática se especializava
para além dos muros da escola, ou seja, extramuros,
com aulas ao ar livre, em museus, lócus de
memória, que chamamos de aula-passeio; gerando
o crescimento pedagógico em uma relação aluno-
professor-meio social, e derrubando a teoria da
inatividade.
Por volta de 1925, Freinet encontrava-
se incapacitado de passar o dia dando aulas
expositivas para os filhos de camponeses, seus
alunos, nas aldeias do sul da França, em virtude
de um ferimento no pulmão durante a Primeira
Guerra Mundial. Conhecedor das ideias da Escola
Nova (na época, chamada de “Escola Ativa”),
buscava caminhos para adaptá-las ao trabalho com
crianças humildes.
A solução veio quando Freinet comprou uma
velha prensa, dessas de fazer jornais, e colocou-a
no coração de sua sala. As crianças começaram a
montar textos em que descreviam seus passeios
pela aldeia, seus sonhos, seu mundo. Essa técnica,
que ficou conhecida como correspondência
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interescolar, juntamente com os contatos com
a comunidade e o texto livre (desenha-se e/ou
escreve-se livremente sempre que houver vontade
de expressar algo), constitui um dos fundamentos
do método natural, criado por Freinet e relatado
em uma série de livros belíssimos.
O coração do trabalho de Freinet era a
criatividade, a motivação, a busca do interesse de
seus educandos; tais diretrizes colocam-se como
atuais no momento em que a educação está em
crise e precisa rever suas técnicas, seus métodos,
ou seja, seus valores. Não cabe mais culpabilizar
os alunos pela indisciplina, excluindo-os do
processo escolar, faz-se necessário promover sua
inclusão na ciranda do aprender.
Para Piaget (1955) o conhecimento deve ser
construído com o aluno da seguinte maneira:
todo indivíduo possui cultura e intelecto, e todo e
qualquer conhecimento pode ser moldado dentro
da própria sala de aula. Assim, o aluno apropria-se
do conhecimento segundo a sua visão de mundo, e
consegue com o professor, por meio da interação,
construir o conhecimento.
Aceitar o ponto de vista de Piaget, portanto,
provocará turbulenta revolução no processo
escolar (o professor transforma-se numa espécie
de ‘técnico do time de futebol’, perdendo seu ar de
ator no palco). [...] Quem quiser segui-lo tem de
modificar, fundamentalmente, comportamentos
consagrados, milenarmente (aliás, é assim que
age a ciência e a pedagogia começa a tornar-
se uma arte apoiada, estritamente, nas ciências
biológicas, psicológicas e sociológicas). Onde
houver um professor ‘ensinando’... aí não está
havendo uma escola piagetianas! (LIMA, 1980,
p. 131).
A teoria de Jean Piaget não oferece aos
educadores uma didática específica sobre como
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desenvolver a inteligência do aluno ou da criança.
Piaget mostra que cada fase de desenvolvimento
apresenta características e possibilidades de
crescimento da maturação ou de aquisições.
Assim, o conhecimento dessas possibilidades faz
com que os professores possam oferecer estímulos
adequados a um maior desenvolvimento do aluno,
levando-o a se perceber como parte integrante desse
processo, e não um mero receptáculo de um saber
cristalizado, o que consequentemente minimizará
os fatores que ocasionam a indisciplina escolar.
Vygotsky (1987) concebe o desenvolvimento
humano a partir das relações sociais que a pessoa
estabelece no decorrer da vida. Nesse referencial,
o processo de ensino-aprendizagem também se
constitui dentro de interações que ocorrem nos
diversos contextos sociais, não só em sala de aula.
Ao defender esse princípio Vygotsky (Ibid.)
aponta a necessidade do professor, enquanto
mediador do conhecimento, perceber que o aluno é
um ser social, provido de um saber contextualizado,
que ao interagir com o outro construirá novos
saberes e possibilitará aos seus pares a mesma
dinâmica.
Enquadrar os educandos em carteiras
enfileiradas, no papel de meros ouvintes causará
frustração, que terá como efeito colateral a
indisciplina. A sala de aula deve ser considerada
um lugar privilegiado de sistematização do
conhecimento e o professor um articulador na
construção desse saber.
Para Vygotsky (1987) todo indivíduo como ser
social tem a sua dependência de aprendizagem
e de construção do conhecimento com outro.
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Podendo ser o professor, ou outros alunos, e a
própria sociedade. Cabe ao educador criar espaços,
momentos e situações para o desenvolvimento
dessa prática, onde a indisciplina não terá espaço
e nem ambiente para se materializar. “O maior
estímulo para ter disciplina é o desejo de atingir
um objetivo” (TIBA, 1996, p. 173.).
Passando às obras de Paulo Freire (1987), célebre
educador brasileiro, verifica-se que a indisciplina
pode ser motivada pela educação bancária que
submete o sujeito a um saber instrucionista, cujo
princípio é a assimilação passiva.
Nela, segundo Freire, o professor age como
quem deposita conhecimento num aluno apenas
receptivo, dócil. Em outras palavras, o saber é
visto como uma doação dos que se julgam seus
detentores. Trata-se, para Freire, de uma escola
alienante, que provoca o insucesso do aluno: “[...]
ensinar não é transferir conhecimento, mas criar
as possibilidades para a sua produção ou a sua
construção” (FREIRE, 1987).
A indisciplina pode surgir como alternativa
para o “insucesso” escolar. Este fracasso não se
refere exclusivamente às notas nas disciplinas,
mas também em certos valores que o aluno não
percebe no cenário educativo.
As manifestações de indisciplina, muitas vezes,
podem ser vistas como uma forma de se mostrar para
o mundo, mostrar sua existência; em muitos casos o
indivíduo tem somente a intenção de ser ouvido por
alguém, então para muitos alunos indisciplinados a
rebeldia é uma forma de expressão.
Para Freire (1987, p. 54), o objetivo maior
da educação é conscientizar o aluno. Precisamos
TEMAS LIVRES
contribuir para criar a escola que é aventura, que
marcha, que não tem medo do risco, e que por isso
recusa o imobilismo. A escola em que se pensa, em
que se cria, em que se fala, em que se adivinha, a
escola que apaixonadamente diz sim à vida.
Isso significa que ao construir uma proposta
educativa, tendo como base esse fundamento, se
contribuirá para a melhoria do comportamento do
aluno na escola.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A indisciplina cresce continuamente no espaço
escolar, produto de uma sociedade em que os
valores humanos, tais como o respeito, o amor,
a compreensão, a fraternidade, a valorização
da família, entre outros, foram ignorados, fruto
das crises ocorridas no séc. XX. Porém, foi em
meio a esse caos que os teóricos da educação
experimentaram no decorrer de suas vivências
desenvolverem possíveis caminhos para solucionar
os produtos gerados pela crise.
Não houve nenhuma discussão teórica dos
autores educacionais anteriormente mencionados
que buscasse solucionar a problemática da
indisciplina. Entretanto, pode-se e deve-se utilizar
dessas ricas teorias para minimizar seus reflexos.
Com isso, professores e instituições de ensino devem
se fundamentar nesse apoio teórico para desacelerar
e sensibilizar os alunos do seu papel na escola, e
consequentemente de seu comportamento escolar.
Segundo Freire: “A pessoa conscientizada tem uma
compreensão diferente da história e de seu papel
nela. Recusa acomodar-se, mobiliza-se, organiza-se
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Os aspectos da indisciplina educacional
para mudar o mundo” (FREIRE, 1994, p. 179).
Decerto, haverá significativas mudanças e
melhorias, que amenizarão a problemática da
indisciplina na escola. Entretanto, é necessário que os
alunos desassociem o conceito de disciplina às regras
rígidas e punições pelos erros, e fazê-los entendê-la
como ferramenta que os conduzirá a seu objetivo
maior. Sem limites, é impossível que a liberdade
se torne liberdade e também é impossível para a
autoridade realizar sua obrigação, que é precisamente
a de estruturar limites (FREIRE, 1987, p.35).
A autoridade é ferramenta legítima do
processo ensino-aprendizagem, sem ela não se
faz educação; o aluno precisa dela, seja para
se orientar, seja para poder opor-se (o conflito
com a autoridade é normal, especialmente no
adolescente), no processo de constituição de sua
personalidade. O que se critica é o autoritarismo,
que é a negação da verdadeira autoridade, pois se
baseia na coisificação, na domesticação do outro.
(VASCONCELLOS, 1997, p. 232).
Devido a isso, só a punição não resolve, senão não
teríamos tantos problemas de violência na escola;
o que se faz necessário são ações que sensibilizem
os alunos a melhorarem as suas condutas e terem a
satisfação de colherem os frutos dessa opção.
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