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“(...) nas etapas primitivas, dentro de um regime social que não conhecia
ainda nem classes nem Estado, os aspectos sérios e cômicos da divindade,
do mundo e do homem eram, segundo todos os indícios, igualmente
sagrados e igualmente, poderíamos dizer, “oficiais” (1993, p. 5).
Para concluir esse passeio pela Commedia dell’Arte, tem-se que chegar a uma
contradição coerente, que é o mais relevante: a Commedia dell’Arte é, como afirma Barni
(2003), inapreensível. Nada do que foi dito acima pode ser tido como absoluta verdade, visto
que os documentos (registros em cartórios, pinturas, cartas) mostram traços que ilustram a
silhueta de um movimento extraordinário, mas que não podem defini-lo. Para Bloch (2001),
documentos representam vestígios e o passado é uma estrutura em progresso, uma idéia
que contrapunha a visão de sua época com relação à história, que compreendia o passado
como um dado rígido. Para uma compreensão da poética dell’Arte, tem-se que escolher
quais linhas de descrição são as mais coerentes, e obviamente essas escolhas recaem em
opções políticas, ideológicas e estéticas. Como coloca Le Goff, no prefácio do livro
“Apologia da história, ou, O Ofício de historiador” de Marc Bloch: “A história é busca,
portanto escolha” (2001, p.8).
A Commedia dell’Arte descrita acima é a que apresento, uma poética
pertencente a um teatro popular, tendo como mote propulsor dramático relações humanas,
conflitos sociais e opressões, reflexo direto da história do seu tempo, alegre, sarcástica e
perspicaz, que retirou do riso a crítica.
Para efeitos de reflexão sobre um trabalho de pesquisa que busca a análise
acerca da ressignificação da Commedia dell’Arte, é importante ser afirmado que reviver um
movimento do passado é impossível, visto que o teatro como arte humana reflete seu
tempo. Tal como ela é apresentada hoje, a Commedia nunca existiu. Mas como afirma Dario
Fo (2004), a Commedia dell’Arte, não se encontra lá atrás, já que vive, pulsa e se renova
naqueles que dela extraem sentidos e fome.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BLOCH, Marc. Apologia da história, ou, O oficio do historiador. Prefácio, Jacques Le Goff;
apresentação à edição brasileira, Lilia Moritz Schwarcz; tradução, André Telles. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.
FO, Dario. Manual Mínimo do Ator. Trad.: Lucas Baldovino e Carlos David Szlak. São Paulo:
Senac São Paulo, 3ª edição, 2004.
PORTICH, Ana. A arte do ator entre os séculos XVI e XVIII. São Paulo: Perspectiva, 2008.