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Apostila

CONCRETO ARMADO IV
De acordo com a NBR 6118/2014

Prof. Clauderson Basileu Carvalho

Belo Horizonte, Maio de 2019

O PRESENTE MATERIAL FAZ PARTE DE DUAS


APOSTILAS REFERENTES AO CURSO DE CONCRETO
ARMADO, TENDO ASSIM, NUMERAÇÃO DE FIGURAS E
TABELAS COERENTES COM AS OBRAS ORIGINAIS
1
1. PILARES

1.1. INTRODUÇÃO

De acordo com a NBR 6118/2014 o conceito de pilar seria:


Elementos lineares de eixo reto, usualmente dispostos na vertical, em que as forças
normais de compressão são preponderantes. Contudo, devido a excentricidades
acidentais, efeitos de segunda ordem (análise p-delta) e não conformidades geométricas
(desalinhamento ou desaprumo); bem como as próprias flexões provocadas pelas vigas,
as solicitações associadas à flexão são extremamente importantes, e não podem ser
negligenciadas. Além disso, e até pela definição estabelecida pela teoria das estruturas;
esforços cisalhantes, cortantes ou tangenciais também devem ser avaliados nos
dimensionamentos desses elementos, com a presença destes momentos.
Na engenharia estrutural clássica os pilares em concreto armado devem ser
verificados, além da capacidade resistente em relação aos esforços solicitantes (flexão,
cisalhamento e esforços axiais), o comportamento com relação à instabilidade estrutural,
mais precisamente às questões referentes à flambagem – fenômeno estudado em
resistência dos materiais, que indica a aplicação de uma carga inferior à carga de colapso,
e que leva os elementos a um comportamento instável.
Os esforços que solicitam a estrutura de uma edificação qualquer, intuitivamente
falando, são aplicados em 90% dos casos diretamente às lajes e vigas (elementos tratados
no volume 1 do presente material), para posteriormente serem descarregados em pilares
e conseqüentemente nos elementos de fundação e no solo propriamente dito, conforme
visto na figura 1.

Figura 1 – Fluxo dos carregamentos em uma edificação


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Os pilares de concreto armado podem apresentar-se de diversas formas de eixos e de
seção transversal, porém, a seção retangular ou seção quadrada são as mais comumente
empregadas. Exemplificando outra das formas comuns da engenharia moderna, temos a
de formato circular.
Quando um dos lados da seção é muito maior que o outro (bw  5h) utiliza-se a
denominação de pilar-parede. Os pilares-parede podem ser elementos de superfície plana
ou casca cilíndrica e também podem ser compostos por uma ou mais superfícies
associadas. Embora elas aconteçam em muitos empreendimentos da vida prática, não
serão tratadas neste estudo.
Os pilares de edifícios podem ser classificados de acordo com a posição que ocupam
no edifício, em planta, em (figura 2):

Figura 2 – Pilares de canto, intermediários e de extremidade ou borda


A NBR 6118/2014 abrange simplificadamente colunas com índice de esbeltez ()
limitado ao valor máximo de 90, a fim de utilizar-se expressão aproximada da curvatura,
no tratamento de excentricidades de segunda ordem, bem como poder desprezar a
deformação lenta do concreto, estudada nos fenômenos reológicos de fluência e retração.
Já para  de 90 a 200 a norma brasileira exige um maior rigor nos critérios de
dimensionamento; mas também abrange tal característica física.

Figura 3 – Seções transversais usuais em pilares das edificações


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Como revisão da disciplina resistência dos materiais tem-se que o índice de esbeltez
l fl
é:  
i
onde lfl é o comprimento de flambagem (figura 4), também conhecido como
comprimento destravado e i é o raio de giração dado por:

i I  para seções tranversais re tan gulares, temos : i  0,289h


A

Figura 4 – Pontos de inflexão para determinação do comprimento de flambagem

Pode-se dizer que, quanto maior a esbeltez, maior a possibilidade do elemento


comprimido flambar.

Figura 5 – Flambagem de uma placa

4
Análise de 2ª ordem (p-delta)
Os momentos fletores originados a partir de excentricidades de 2ª ordem são os
acréscimos de solicitações provenientes das deformações que ocorrem nas estruturas em
um “instante após” a aplicação do carregamento, conforme mostrado na figura 6.

Figura 6 – Teoria de segunda ordem

1.2. IMPERFEIÇÕES GEOMÉTRICAS – GLOBAIS E LOCAIS

Na verificação do estado limite último das estruturas reticuladas, devem ser


consideradas as imperfeições geométricas do eixo dos elementos do pórtico espacial
descarregado. Essas imperfeições podem ser divididas em imperfeições globais e
imperfeições locais.
Na análise global dessas estruturas deve ser considerado um desaprumo dos
elementos verticais conforme mostra a figura 7

n prumadas de pilares
Figura 7 – Imperfeições geométricas globais

5
onde
1mín = 1/300 para estruturas reticuladas e imperfeições locais;
1máx = 1/200;
H é a altura total da edificação, expressa em metros;
n é o número de prumadas de pilares no pórtico plano.
Para edifícios com predominância de lajes lisas ou cogumelo, considerar a = 1.
Já na análise local mais precisamente na verificação de um lance de pilar, deve ser
considerado o efeito do desaprumo ou da falta de retilineidade do eixo do pilar.

Figura 8 – Imperfeições geométricas locais


1 1 1
1    → Hi = altura do pilar em metros
300 100 H i 200

Admite-se que, nos casos usuais de estruturas reticuladas, a consideração apenas da


falta de retilineidade ao longo do lance de pilar seja suficiente nos estudos de estabilidade
(figura 8 – letra “b”).

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1.3. ROTEIRO PARA DIMENSIONAMENTO DE PILARES

a) Características geométricas
Comprimentos equivalentes e índice de esbeltez
b) Excentricidades
Inicial (eix; eiy) – Base e topo do pilar;
Acidental (eax; eay) – Seção intermediária:
Verificar o momento mínimo de 1ª ordem (M1d,mín)
Necessidade de excentricidade de 2ª ordem:
Esbeltez limite (λ1)
Efeitos de 2ª ordem: Métodos simplificados/aproximados
c) Situações de cálculo
Seção de topo, seção de Base, seção Intermediária
d) Dimensionamento das armaduras
Situação mais desfavorável, equações adimensionais, escolha do ábaco, taxa
mecânica de armadura (ω), ou equações pelo método “k”, área de aço
e) Detalhamento
Armadura Longitudinal, diâmetro das barras, taxas mínimas e máximas de
armadura longitudinal, número mínimo de barras, espaçamentos para armadura
longitudinal, detalhamento, armadura transversal, diâmetro, espaçamentos para
armadura transversal, proteção contra flambagem localizada das armaduras,
comprimento dos estribos, comprimento dos estribos suplementares, número de
estribos, número de estribos suplementares, desenho da seção transversal,
comprimento das esperas, comprimento total das barras longitudinais
f) Desenhos

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1.4. DIMENSÕES MÍNIMAS

Conforme o item 13.2.3 da norma brasileira de projetos em estruturas de concreto, a


seção transversal de pilares e pilares-parede maciços, qualquer que seja sua forma, não
pode apresentar dimensão menor que 19 cm. Porém, em casos especiais, permite-se a
consideração de dimensões entre 19 cm e 14 cm, desde que se multipliquem os esforços
solicitantes de cálculo a serem considerados no dimensionamento por um coeficiente
adicional γn, de acordo com a tabela 1. Em qualquer caso, não se permite pilar com seção
transversal de área inferior a 360 cm².
Esse “novo” coeficiente de majoração γn (que deve ser acrescentado ao coeficiente de
majoração tratado nas combinações dos esforços solicitantes em ELU) é calculado por:
γn = 1,95 - 0,05b
onde b é a menor dimensão do pilar
Tabela 1 – Valores do coeficiente adicional γn para pilares e pilares-parede
b cm 19 18 17 16 15 14
γn 1,00 1,05 1,10 1,15 1,20 1,25
O coeficiente γn deve majorar os esforços solicitantes finais de cálculo quando de seu dimensionamento

O comprimento equivalente do pilar, supostamente vinculado nas duas extremidades,


é o menor dos valores das designações ilustradas na figura 9.

Figura 9 – Esquema para cálculo do comprimento le


No caso de pilares engastados na base e livres no topo, o valor de le é igual a 2l.

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1.5. CLASSIFICAÇÃO DOS PILARES QUANTO A ESBELTEZ

 Pilares curtos →   1 → podem ser desprezados os efeitos de 2ª ordem.


 Pilares medianamente esbeltos → 1 <   90 → devem ser considerados os
efeitos de 2ª ordem em processo simplificado e pode-se desprezar o efeito da
fluência.
 Pilares esbeltos → 90 <   140→ devem ser considerados os efeitos de 2ª
ordem em processo aproximado e deve-se incluir os efeitos da fluência,
através de uma excentricidade complementar equivalente (ecc).
 Pilares muito esbeltos → 140 <   200→ os efeitos de 2ª ordem e a fluência
devem ser considerados e calculados em processo complexo e rigoroso, além
de terem os coeficientes de ponderação das ações majorados.

1.6. CRITÉRIOS DE DIMENSIONAMENTO

A NBR 6118/2014 não admite pilares com índice de esbeltez λ superior a 200,
exceto no caso de elementos pouco comprimidos, com força normal menor que 0,10 fcdAc.
Para pilares com índice de esbeltez maior ou igual a 140, na análise de 2ª ordem, devem-
se multiplicar os esforços solicitantes finais de cálculo por um coeficiente adicional:
 n1  1  [0,01 (  140) / 1,4]
A esbeltez limite (λ1) corresponde ao valor da variável que a partir do qual os
efeitos de 2ª ordem provocam uma redução da capacidade resistente do pilar no estado
limite último, quando comparada com a capacidade resistente obtida de acordo com a
teoria de 1ª ordem. Essa redução é definida arbitrariamente, não devendo ser superior a
10%, segundo a NBR 6118/2014.
O valor de 1 pode ser calculado pela expressão:
e1
25  12,5
1  h onde 35  1 90
b
e1/h é a excentricidade relativa de 1ª ordem na extremidade do pilar onde ocorre
o momento de 1ª ordem de maior valor absoluto. Com os diagramas de esforços normais
e de momentos fletores em cada tramo do pilar, calculam-se as excentricidades iniciais
no topo e na base, dividindo-se o valor do momento pela força axial.

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M topo M base
ei ,topo  e ei ,base   (excentricidades iniciais)
N N
h é a dimensão da seção na direção considerada.
Com relação ao parâmetro b temos as seguintes considerações a serem feitas:
a) Para pilares biapoiados sem carga horizontal, com pelo menos um dos momentos
que atuam nas extremidades do pilar sendo maior que o momento mínimo:
MB
 b  0,60  0,40  0,40, sendo 0,4   b  1
MA

Onde MA e MB são os momentos de 1ª ordem nos extremos do pilar, obtidos na

análise de 1ª ordem no caso de estruturas de nós fixos e os momentos totais (1ª ordem e

2ª ordem global) no caso de estruturas de nós móveis. Deve ser adotado para MA o maior

valor absoluto ao longo do pilar biapoiado e para MB o sinal positivo, se tracionar a mesma

face que MA, e negativo, em caso contrário (figura 10a).

Figura 10a - Curvaturas simples e dupla dos pilares – cálculo de αb.


b) Para pilares biapoiados com cargas transversais significativas ao longo da
altura:

αb = 1,0
c) Para pilares em balanço:

Figura 10b – Curvatura simples/pilares em balanço

MC
 b  0,80  0,20  0,85 Onde: MA é o momento de 1ª ordem no engaste e
MA
MC é o momento de 1ª ordem no meio do pilar em balanço (figura 10b).
d) Para pilares biapoiados ou em balanço com momentos menores (ou iguais)
que o momento mínimo:

10
αb = 1,0

Momento mínimo e excentricidade mínima (emín)


O efeito das imperfeições locais nos pilares e pilares-paredes (ver item 1.2) pode
ser substituído, em estruturas reticuladas, pela consideração do momento mínimo de 1ª
ordem dado a seguir:
M1d,mín = Nd x emín = Nd (0,015 + 0,03h)
onde h é a altura total da seção transversal na direção considerada, expressa em
metros.
Nas estruturas reticuladas usuais admite-se que o efeito das imperfeições locais
esteja atendido se for respeitado esse valor de momento total mínimo.
No caso de pilares submetidos à flexão oblíqua composta, esse mínimo deve ser
respeitado em cada uma das direções principais, separadamente.

Excentricidade de 2ª ordem
A força normal atuante no pilar, sob ação das excentricidades de 1ª ordem
(excentricidade inicial ou excentricidade mínima/acidental), provoca deformações que
dão origem a uma nova excentricidade, denominada excentricidade de 2ª ordem. A
determinação dos efeitos locais de 2ª ordem em barras submetidas à flexo-compressão
normal, pode ser feita pelo método geral ou por métodos aproximados. A consideração
da fluência, como dito anteriormente é obrigatória para índices de esbeltez λ > 90,
acrescentando-se ao momento de 1ª ordem (M1d) a parcela relativa à excentricidade
suplementar ecc.
A NBR 6118/2014, em seu item 15.8.3.3.1 afirma que a determinação dos
esforços locais de 2ª ordem pode ser feita por métodos aproximados, como o do pilar
padrão e do pilar padrão melhorado. Com isso dois processos serão estudados:
 Método do pilar-padrão com curvatura aproximada
 Método do pilar-padrão com rigidez κ aproximada.

Método do pilar-padrão com curvatura aproximada


Pode ser empregado apenas no dimensionamento de pilares com λ ≤ 90, com seção
constante e armadura simétrica e constante ao longo do seu eixo.

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Este método pode ser aplicado em pilares submetidos à flexão composta oblíqua,
analisando-se cada uma das duas direções principais, simultaneamente.
2
l 1
M d ,tot   b M 1d , A  Nd e  M 1d , A
10 r

Sendo 1/r a curvatura na seção crítica, que pode ser avaliada pela expressão

aproximada:
1 0,005 0,005
 
r h(  0,5) h
onde:
Nd

( Ac f cd )
αb e o coeficiente de uniformidade dos momentos e tem as mesmas definições do
exposto acima.
M1d,A e o valor de cálculo do momento de 1ª ordem MA (maior momento no
extremo do pilar);
h é a dimensão da seção do pilar, na direção analisada;
ν é a força normal adimensional;
fcd é a resistência a compressão de cálculo do concreto;
M1d,min é o momento mínimo de 1ª ordem.

Método do pilar-padrão com rigidez κ aproximada


Pode ser empregado no dimensionamento de pilares com λ ≤ 90, com seção
retangular constante e armadura simétrica e constante ao longo do seu eixo.
Este método pode ser aplicado em pilares submetidos à flexão composta oblíqua,
analisando-se cada uma das duas direções principais, simultaneamente.
O valor de cálculo do momento total máximo no pilar deve ser calculado a partir
da majoração do momento de 1ª ordem pela expressão:
 b M 1d , A
M Sd ,tot   M 1d , A
2
1
120 

sendo:
Md1,A é o valor de cálculo do momento MA;
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κ é a rigidez adimensional, calculada aproximadamente por:
 M Rd ,tot 
 aprox  321  5 
 hN d 

Em um processo de dimensionamento, toma-se MRd,tot = MSd,tot. Em um processo


de verificação, onde a armadura é conhecida, MRd,tot é o momento resistente calculado
com essa armadura e com Nd = NSd = NRd.
As variáveis h, , M1d,A e b são as mesmas definidas nas páginas anteriores.
Usualmente, duas ou três iterações são suficientes quando se optar por um cálculo
iterativo.
O processo aproximado acima, em um caso de dimensionamento, recai na
formulação direta dada abaixo:

,tot  B.M Sd ,tot  C  0


2
A.M Sd

onde:
A = 5h (com h sendo a dimensão da seção transversal do pilar na direção
analisada);
N d l e2
B  h 2 .N d   5.h.M c , com Mc sendo o momento a ser amplificado pelo
320
efeito de 2ª ordem (= αb.M1d,A ≥ Md1,min)
C   N d .h 2 .M c

Resolvendo a equação do segundo grau, tem-se, como raiz positiva, o seguinte


valor:

 B  B 2  4 AC
M Sd ,tot 
2A

Nesse presente estudo trataremos de pilares com esbeltez menor do que 90,
desconsiderando assim os efeitos mais agudos da instabilidade em segunda ordem e
também da fluência e qualquer efeito reológico associado.

Pilares esbeltos
A determinação dos esforços locais de 2ª ordem em pilares   140 (de 90 a 140, mais
precisamente) pode ser feita pelos métodos do pilar-padrão ou pilar-padrão melhorado,
utilizando-se para a curvatura da seção crítica os valores obtidos de diagramas M, N e 1/r

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específicos para o caso, considerando-se obrigatoriamente os efeitos da fluência como
dito anteriormente e estudado a seguir.

Consideração da Fluência
Embora não estudemos os pilares esbeltos nesse material com muita ênfase, torna-se
interessante o conhecimento teórico da fluência para possíveis aplicações futuras, e outras
aplicações práticas na vida do profissional de engenharia.
A consideração da fluência deve obrigatoriamente ser realizada em pilares com índice
de esbeltez  > 90 e pode ser efetuada de maneira aproximada, considerando a
excentricidade adicional ecc dada a seguir:
N Sg
 M Sg  
ecc    ea  2,718  1
N e  N Sg
N  
 Sg  

onde
10 Eci I c
Ne 
l e2 ;

ea é a excentricidade devida a imperfeições locais como visto no item 1.2 (= tg

x le ou tg x le/2).

MSg e NSg são respectivamente, momento e normal, devido à combinação quase

permanente;

 é o coeficiente de fluência (na falta de dados, o autor recomenda o valor =2) ;

Eci é o modulo de elasticidade inicial do concreto;

Ic é o momento de inércia da seção de concreto;

le é o comprimento equivalente do pilar.

Pilares muito esbeltos


Pilares com  > 140 (e até 200) são considerados muito esbeltos, como visto
anteriormente, e devem ser calculados com um maior rigor técnico, em termos de
deformações não lineares ou efeitos de segunda ordem (análise p-delta ou outro método
semelhante). Com isso deve ser utilizada bibliografia específica, que contenham os
ábacos de iterações (vide alguns ábacos em anexo), bem como as suas avaliações

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apropriadas. Pode-se também recorrer a softwares ou programas mais sofisticados para
tais dimensionamentos, já que não serão tratados em nosso estudo.

1.7. ARMAÇÕES EM FLEXÃO NORMAL COMPOSTA (FNC)

De acordo com as formulações estudadas anteriormente na flexão simples associando-


se aos esforços axiais; e introduzindo-se os critérios estabelecidos pelo professor José de
Miranda Tepedino, as seções de concreto armado submetidas à flexão normal composta
(extrapolando-se para flexão oblíqua composta com a associação dos dois momentos nas
direções principais), temos as seguintes expressões:
1º Caso
Nd > 0 se compressão
h
N d (d  )  M d k  k L  k '  k  Armação simples
k 2 
f c  bw  d ²  k  k L  k '  k L  Armação dupla
 f c  bw  d  (1  1  2k ' )  N d
 As1 
 f yd
As  As1  As 2   f  b  d (k  k ' )
 As 2  c w 
f d'
 yd (1  )
 d
As 2
A' s 

Caso As < 0 → passar ao 2º caso
Caso k < 0 → passar ao 4º caso

2º Caso
As < 0 no 1º caso ou Nd(h/2 – d’) >> Md
h
Nd (  d')  M d
y  d ' d ' 2 2 2 h
f c  bw

As = 0
N d  f c  bw  y
A' s  0
  f yd
Caso y > h → passar ao 3º caso
Caso A’s < 0 → nenhuma armadura é necessária teoricamente. Adotar armadura

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mínima.
3º Caso
y>h
1ª alternativa: adotando duas armaduras As e A’s
h h
( N d  f c  bw  h)(  d ' )  M d ( N d  f c  bw  h)(d  )  M d
As  2 A' s  2
  f yd  (d  d ' ) ;   f yd  (d  d ' )
2ª alternativa: adotando uma armadura centrada A*s e
uma adicional As, junto à borda mais comprimida.

Md
( N d  f c  bw  h  )
h
 d'
A *s  2
  f yd

Md
h
 d'
As  2
  f yd

4º Caso

Seção totalmente tracionada – k < 0 no 1º caso

1ª alternativa: adotando duas armaduras As e A’s


h h
Nd (  d')  M d N d (d  )  M d
As  2 A' s  2
f yd  (d  d ' ) ; f yd  (d  d ' )

2ª alternativa: adotando uma armadura centrada A*s e


uma adicional As, junto à borda mais tracionada.

Md
Nd 
d h
A *s  2
f yd

Md
d h
As  2
f yd

16
1.8. DISPOSIÇÕES CONSTRUTIVAS

A armadura longitudinal dos pilares deve obedecer aos seguintes valores:


 As,mín= 0,15Nd/fyd ≥ 0,004Ac
 As,máx = 8% Ac
Para a armadura máxima devem-se considerar a região das emendas.
As barras devem ter diâmetro igual ou superior a 10 mm e não mais que 1/8 da
menor dimensão da seção do pilar.
O espaçamento transversal, e, da armadura longitudinal deve atender aos seguintes
limites:
e  maior (20 mm, фL, 1,2 DMA)
e  menor (40 cm, 2bw)
(DMA = dimensão máxima do agregado)
O diâmetro dos estribos, фt, deve ter no mínimo 5 mm ou ¼ do diâmetro das barras
longitudinais isoladas (фL). O espaçamento longitudinal entre eles, medido na direção do
eixo do pilar, para garantir o posicionamento, impedir a flambagem das barras e garantir
a costura das emendas, deve ser igual ou inferior ao menor dos seguintes valores:
- 200 mm;
- 12фL para aço CA-50 e 24 фL para aço CA-25;
- menor dimensão da seção do pilar;
Salienta-se que para seções poligonais temos 1 barra em cada canto (no mínimo) e
para seções circulares pelo menos 6 barras distribuídas no perímetro.
A armadura transversal de pilares, constituída por estribos e, quando for o caso, por
grampos suplementares, deve ser colocada em toda a altura do pilar, sendo obrigatória
sua colocação na região de cruzamento com vigas e lajes.
Pode ser usado фt < фL/4 desde que as armaduras sejam constituídas do mesmo tipo
de aço e o espaçamento respeite a limitação:
 t 2  1  0,25 L 2  1 90000  0,25 2  L
s máx  90000  
 f ( MPa )  90000 

 500   12 L
 L  yk  L  500

Caso hajam força cortante e/ou momentos torsores consideráveis no pilar, os estribos
devem ser dimensionados da mesma maneira que em vigas.
Com vistas a garantir a ductilidade dos pilares, recomenda-se que os espaçamentos
máximos entre os estribos sejam reduzidos em 50% para concretos de classe C51 a C90,
com inclinação dos ganchos pelo menos 135º.
17
Para proteger as barras longitudinais contra flambagem os estribos devem ser
complementados com outros estribos ou barras retas terminadas em ganchos conforme
figura 11 abaixo (conhecidos como “sargentos”):

Figura 11 – Proteção contra a flambagem das barras


Estão protegidas contra a flambagem as barras da armadura longitudinal localizadas
nos cantos dos estribos e as localizadas a uma distância de, no máximo, 20фt dos cantos,
desde que neste trecho não existam mais de duas barras (NBR 6118, item 18.2.4).

1.9. ESTABILIDADE GLOBAL DAS ESTRUTURAS – PARÂMETROS  e


γz

Sob a ação das cargas verticais e horizontais, os nós da estrutura deslocam-se


horizontalmente. Os esforços de 2ª ordem decorrentes desses deslocamentos são
chamados efeitos globais de 2ª ordem. Nas barras da estrutura, como um lance de pilar,
os respectivos eixos não se mantêm retilíneos, surgindo aí efeitos de 2ª ordem que, em
princípio, afetam os esforços solicitantes ao longo delas, conforme visto anteriormente.

Classificação das Estruturas: de nós fixos e de nós móveis


São consideradas, para efeito de cálculo, como de nós fixos, as estruturas cujos
deslocamentos horizontais são pequenos e, por decorrência, os efeitos globais de 2ª ordem
são desprezíveis (inferiores a 10% dos respectivos esforços de 1ª ordem). Nessas
estruturas, basta considerar os efeitos locais e localizados de 2ª ordem.
As estruturas de nós móveis são aquelas onde os deslocamentos horizontais não são
pequenos, e em decorrências dos efeitos globais de 2ª ordem são importantes (superiores
a 10% dos respectivos esforços de 1ª ordem). Nessas estruturas devem ser considerados
tanto os esforços de 2ª ordem globais como os locais e localizados.

18
Análise de estruturas de nós móveis
Na análise estrutural de estrutura de nós móveis, devem ser obrigatoriamente
considerados os efeitos da não linearidade geométrica e da não linearidade física, e,
portanto, no dimensionamento devem ser obrigatoriamente considerados os efeitos
globais e locais de 2ª ordem.

Consideração aproximada da não linearidade física


Para a análise dos esforços globais de 2ª ordem, em estruturas reticuladas com no
mínimo quatro andares, pode ser considerada a não linearidade física de uma maneira
aproximada, tomando-se como rigidez dos elementos estruturais os valores seguintes:
- Lajes: (EI)sec = 0,3EcIc
- Vigas: (EI)sec = 0,4 EcIc para A’s  As e
(EI)sec = 0,5 EcIc para A’s = As
- Pilares: (EI)sec = 0,8 EcIc
onde: Ic é o momento de inércia da seção bruta de concreto (estádio I), incluindo, quando
for o caso, as mesas colaborantes; e Ec é o valor representativo do módulo de deformação
do concreto, igual a: Eci = αE . 5600 fck1/2
Os valores de rigidez adotados nesta seção são aproximados e não podem ser
usados para avaliar esforços locais de 2ª ordem, mesmo com uma discretização maior da
modelagem.
Dispensa da consideração dos efeitos globais de 2ª ordem
Parâmetro de instabilidade 
Uma estrutura reticulada simétrica pode ser considerada como sendo de nós fixos
se seu parâmetro de instabilidade  for menor que o valor 1, conforme expressão
abaixo. Esse parâmetro é aplicado de forma aproximada, em edificações de pequeno
porte, com até 4 pavimentos.
Nk
  H tot
E cs I c

onde 1 = 0,2 + 0,1n se n  3 ou 1 = 0,6 se n  4;


n é o número de níveis de barras horizontais (andares) acima da fundação ou de
um nível pouco deslocável do subsolo;

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Htot é a altura total da estrutura, medida a partir do topo da fundação ou de um
nível pouco deslocável do subsolo;
Nk é somatória de todas as cargas verticais atuantes na estrutura (a partir do nível
considerado para Htot), com seu valor característico;
Ecs é módulo de elasticidade secante do concreto;
Ic é a somatória dos momentos de inércia dos pilares na direção considerada,
considerando a seção bruta (estádio I), podendo ser utilizado a rigidez de um pilar
equivalente.
A rigidez do pilar equivalente deve ser determinada da seguinte forma:
- calcular o deslocamento do topo da estrutura de contraventamento, sob a ação
do carregamento horizontal na direção considerada.
- calcular a rigidez de um pilar equivalente de seção constante, engastado na base
e livre no topo, de mesma altura Htot tal que, sob a ação do mesmo carregamento, sofra o
mesmo deslocamento no topo.
Em resumo, este método baseia-se na verificação da deslocabilidade da estrutura
geral para uma carga horizontal qualquer, aplicada no topo da edificação, a partir da
equação da flecha elástica para vigas em balanço com uma carga concentrada na
extremidade (f = PL³/3EI – vide anexo).
O valor-limite 1 = 0,6 prescrito para n  4 é, em geral, aplicável às estruturas usuais
de edifícios.
Para associações de pilares-parede e para pórticos associados a pilares-parede, adotar
1 = 0,6. No caso de contraventamento constituído exclusivamente por pilares-parede,
adotar 1 = 0,7. Quando só houver pórticos, adotar 1 = 0,5.
Coeficiente γz
O coeficiente γz, de avaliação da importância dos esforços de segunda ordem globais,
é valido para estruturas reticuladas de no mínimo quatro andares. Ele pode ser
determinado a partir dos resultados de uma análise linear de primeira ordem, para cada
caso de carregamento, adotando-se os valores de rigidez dados na página 20.
O valor de γz para cada combinação de carregamento é dado pela expressão:
1
z 
M tot ,d
1
M 1,tot ,d

onde

20
M1,tot,d é o momento de tombamento, ou seja, a soma dos momentos de todas as
forças horizontais da combinação considerada, com seus valores de cálculo, em relação à
base da estrutura.
Mtot,d é a soma dos produtos de todas as forças verticais atuantes na estrutura ,
na combinação considerada, com seus valores de cálculo, pelos deslocamentos
horizontais de seus respectivos pontos de aplicação, obtidos na análise de 1ª ordem.
Considera-se que a estrutura é de nós fixos se for obedecida a condição γz  1,1, e
neste caso pode ser dispensada a consideração dos esforços globais de 2ª ordem.
Para estruturas com γz até 1,3 os esforços de 2ª ordem são muito significativos e
por conseqüência devem ser levados em consideração nos cálculos. Neste caso o valor
dos esforços horizontais devem ser majorados em 95% do valor de γz, variando de 1,05 a
1,24. Para estruturas com γz maiores que 1,3 esta solução aproximada não pode ser
utilizada, devendo para tal ser feito uma análise rigorosa dos reais efeitos de 2ª ordem,
como por exemplo, uma análise não linear em elementos finitos.

1.10 RESUMO DAS EXIGÊNCIAS DA NBR6118/2014

21
Exercício
Um pilar de concreto armado com seção transversal de 30 cm x 30 cm e pé-direito de
290 cm apresenta vigas superiores e inferiores de 20/50. Utilizou-se concreto com
resistência a compressão de 30 MPa, aço CA-50 e cobrimento de 4 cm. O carregamento
axial foi de 20 tf de compressão e tivemos dois momentos fletores, nas duas direções
principais, indo de +5 tfxm no topo a -5 tfxm na base. Considerar a atuação de cargas
horizontais. Dimensione o pilar descrito no enunciado.
Resolução
le  290  50  340 ou 290  30  320  le  320cm

320
 x   y  3,46   36,91
30
500
25  12,5 20
1  30  35,42
1
 > 1 → deverá ser considerada as excentricidades de segunda ordem
Excentricidade mínima: 0,015 + 0,03x0,3 = 0,024 metros = 2,4 cm
Excentricidade inicial: 500/20 = 25 cm
M1d,mín = 1,4x20000x2,4 = 67200 kgfxcm

Excentricidade de segunda ordem (curvatura aproximada):


20000  1,4
  0 ,145
300
( 30  30  )
1,4
1 0 ,005 0 ,005
  0 ,000258 ( não ok! )   0 ,000167
r 30( 0 ,145  0 ,5 ) 30

320 2
e2  0 ,000167  1,71cm
10
M d ,tot  1  1,4  500000  1,4  20000  1,71  747882 kgfxcm

Excentricidade total a ser considerada:


747882
etotal   26 ,71cm
1,4  20000
Excentricidade de segunda ordem (rigidez aproximada):

A = 5x30 = 150

22
1,4  20000  320 2
B  30 .1,4  20000 
2
 5  30  1  1,4  500000  88760000
320
C  1,4  20000  30 2  1  1,4  500000  17640000000000

88760000  (88760000) 2  4  150  17640000000000


M Sd ,tot   748787,28kgfxcm
2  150

 748787 ,28 
 aprox  32 1  5 0 ,145  25 ,32
 30  1,4  20000 
1  500000  1,4
M Sd ,tot   748674,82kgfxcm
36,912
1
120  25,32
0,145

Excentricidade total a ser considerada:


748674 ,82
etotal   26 ,74cm
1,4  20000
1º Caso
28000(25  15)  748674,82
k  0,301  0,295  Armação dupla
182,14  30  25²

 182,14  30  25  (1  1  2  0,295 )  28000


 As1   4,86cm ²
 4348
As  As1  As 2   182,14  30  25 (0,301  0,295)
 As 2    0,24cm ²
4348 5
 (1  )
 25
As = 4,86 + 0,24 = 5,1 cm² - 316 mm
A’s= 0,24 cm² < 316 mm
Astotal = 316 mm + 316 mm + 116 mm + 116 mm = 16 cm² (sem sobreposição
das barras de canto)
Porém, devido à superposição dos efeitos oblíquos, recomenda-se sobrepor as
áreas de aço nas duas direções. Assim: 5,1 x 4 = 20,4 cm² → 1016 mm
Para se manter a simetria temos 1216 mm.

Verificação através dos Ábacos de Iteração


Para =0,1

23
Flexão Composta Oblíqua (N, Mx e My)

 0,17
ex/b= 0,89
ey/h= 0,89
w= 0,225
r 0,01
Ast= 8,48

Para =0,2
Flexão Composta Oblíqua (N, Mx e My)

 0,17
ex/b= 0,89
ey/h= 0,89
w= 0,68
r 0,03
Ast= 25,64

Interpolando para =0,17


Ast = 8,48 + (0,17- 0,10)x(25,64-8,48)/0,10 = 20,49 cm² → 1216 mm

Exercício
Uma edificação de 4 pavimentos apresentou em seu modelo de cálculo 7,5 cm de
deslocamento horizontal em seu topo após a aplicação de uma carga horizontal de 500
kN. Sabendo-se que a altura efetiva do pórtico é de 12 metros e o somatório de cargas
verticais, incluindo carga permanente e carga variável, é de 14200 kN. Verificar se esta
estrutura é classificada como de nós fixos ou móveis utilizando o parâmetro  da NBR
6118 e fazer uma conclusão sobre os conceitos envolvidos nesta variável.
Resolução
f = PL³/3EI  7,5 cm = 500 x 1200³/3EI  EI = 3,84x1010

14200
  1200  0 ,73   1  0 ,6
3,84  10 10
Esta edificação é de nós móveis, pois apresentou um coeficiente maior que o limite
para 4 pavimentos. Deve-se então levar em consideração nos cálculos os efeitos de
segunda ordem globais, ou, redimensionar a estrutura enrijecendo-o nesta direção. Seja
com o aumento da inércia das peças estruturantes (pilares e vigas de travamento) ou com
o engastamento das colunas na fundação.

24

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