Disciplina: História do Pensamento Político, Social e Geral.
RESENHA CRÍTICA
HOBBES, Thomas. O Leviatã. Coleção os pensadores. São Paulo: Ed.
Abril, 1984.
1. Traços biográficos do autor
O filósofo, matemático e teórico político, Thomas Hobbes nasceu no dia
05 de Abril de 1588 em uma pequena aldeia nas proximidades da vila de Malmesbury, Inglaterra, e faleceu em Hardwick Hall no dia 04 de Dezembro de 1679. Filho de um pastor teve sua tutela confiada a um tio logo cedo. Por ser de família humilde, Hobbes na primeira infância travou contato apenas com livros religiosos. Aos sete anos, começa os estudos de latim e grego, sendo matriculado por seu tio no Magdalen College de Oxford aos 14 anos. Aos 20 anos Thomas Hobbes passa a trabalhar para o Barão William Cavendish (emprego que manteria até sua morte). A influência de Cavendish, e principalmente o acesso a sua vasta biblioteca proporcionou a Hobbes o acesso a grandes obras da literatura, concomitantemente a viagens por países europeus.
2. Caracterização da época em que ele escreveu a obra
Obra prima do escritor Thomas Hobbes, “o Leviatã” foi escrito em um
período extremamente conturbado. A Inglaterra encontrava-se em guerra civil, com a busca pelo poder por parte de Oliver Cromwell, que liderou o país na transição do regime monárquico ao republicano. Em meio a um quadro de forte instabilidade política, guerras e conflitos Hobbes “se alimenta” de um efervescente caldeirão de acontecimentos que desencadearia em 1651 em sua majestosa obra “O leviatã”. Hobbes era um defensor da monárquica, e suas convicções apareceriam em sua obra. Para ele, ao monarca caberia a “livre interpretação” do livro sagrado, assim como a subordinação da igreja cristã aos seus desejos. O Leviatã foi considerado um livro herege e demoníaco por parte do clérigo inglês, e Thomas Hobbes odiado e considerado o próprio demônio pela classe teológica católica.
3. Ideia central da obra
“O homem é o lobo do próprio homem”. Com essa célebre frase Thomas
Hobbes sintetiza não apenas a natureza humana, como a própria ideia central de sua obra, concernindo à natureza humana a índole maligna, egoística e desprovida de compaixão ao próximo já no estado de natureza, ou seja, antes do pacto social que daria origem a sociedade e ao Estado. Para se precaverem dessa maldade inata presente em sua natureza, os homens conceberiam um monstro forte, impávido, temido, que provocaria pelo medo uma espécie de “inibição” de seus impulsos malignos. Um monstro analogamente ao descrito no texto bíblico sagrado, principalmente no “livro de Jó”, denominado por “Leviatã”, ou seja, o Estado, originado de um “pacto social”, um contrato entre os homens, no qual eles abririam mão de parte de sua liberdade, em troca da proteção do monstro que eles próprios criaram.
4. Principais conceitos apresentados ou trabalhados pelo autor no
decorrer da obra
De forma extremamente didática, a obra é dividida em quatro partes que
se completam perfeitamente. A primeira parte, denominada “Do homem”, Thomas Hobbes trata sobre a natureza humana, mas precisamente sobre o homem em “Estado de Natureza”, ou seja, anteriormente ao “Estado de Sociedade”. Nessa condição natural, os homens viviam em constante atrito, guerra, competição, na total ausência de leis, guiados apenas por seus instintos egoístas e maléficos. Um homem “selvagem”, bruto, pouco inclinado à bondade, e sim aos seus próprios interesses, disposto a matar em função de seus objetivos. Será a partir dessa perspectiva que Hobbes ao contextualizar sobre a necessidade humana (no estado de natureza) da manutenção da vida e consagração da paz que os homens abdicarão do direito do estado de natureza, consentindo a celebração de um “pacto social” em prol da segurança mútua contra a “barbárie” originada na índole maligna dos homens. O medo fará com que os indivíduos concebam um grande acordo de autoproteção, buscando a preservação da própria vida e de seu patrimônio, seguindo as leis, e obedecendo ao monstro que eles próprios criaram “o Estado”, o grande Leviatã (a besta fera que assombrava até aos mais brutos).
E como seria esse Estado, essa “besta fera” semelhante ao grande
Leviatã bíblico?
Será na segunda parte do livro intitulado “Do Estado” que Hobbes
descreverá com minucias as características da grande “invenção” humana: o Estado. Sendo ele totalmente soberano sobre os homens, e a submissão a seus ditames obedecida de forma incontestável, restando para aqueles que não respeitassem as normas de conduta originadas das leis sociais, apenas a punição das “mãos pesadas” do grande monstro, do Estado controlador de tudo: desde o direito a propriedade, as decisões econômicas, da guerra, a liberdade, do direito à própria vida ou a morte de seus indivíduos. Instituindo-se um poder controlador dos ânimos entre os homens, a manutenção coercitiva da paz garantiria a preservação da vida e do patrimônio, independentemente da forma de governo instituída, algo totalmente impensável no “estado de natureza” regido pela guerra, morte e submissão dos fracos aos mais fortes. Seja um Estado monárquico, aristocrático ou democrático aos quais Hobbes nos apresenta como possíveis de existência, os perigos inerentes à concentração de poder representam um “mal menor” do que o caos característico do estado de natureza. Na terceira parte do Leviatã, Thomas Hobbes aborda o aspecto do “Estado cristão”. Protestante por formação e absolutista por convicção, numa época demarcada por intensas disputas religiosas e de poder, Hobbes rejeitava convictamente a autoridade da Igreja, como uma espécie de representante de Deus na Terra. Para Hobbes, a igreja deveria se submeter aos ditames do Estado, soberano em sua origem, fruto da vontade coletiva. Se para Thomas Hobbes a natureza humana era egoísta, má e individualista, pouco faria a religião em tentar unir os seres que já nasceram vocacionados ao individualismo. Sobre essa perspectiva, percebemos um Hobbes cético sobre o papel da religião como “contentor de ânimos”, no entanto, proativo em relação ao Estado opressor, realizando pela força e pelo medo o mesmo papel que a religião faria através da ideologia, fé e pelo medo (através de alegorias como o diabo, inferno e o apocalipse). A quarta parte do livro Thomas Hobbes intitula por “Do reino das Trevas”, apresentando uma crítica veemente à interpretação das sagradas escrituras realizada a sua época, numa referência direta à igreja católica por parte do anglicano Hobbes. Ponderando e reconhecendo os fatores históricos, a formação religiosa do autor, suas ambições e o arcabouço referencial que o antecedeu, sem sombra de dúvidas sua obra “o Leviatã” demarca e preenche um vácuo histórico na “curta” passagem do ser humano sobre a Terra, trazendo uma explicação teórica convincente sobre a origem do pacto social, gerador não apenas do que convencionamos chamar por sociedade, como de sua estrutura Mater: O Estado.
5. Conclusões Pessoais
Como discente do curso de Ciências Sociais é de extrema importância
termos contato com a obra de um dos “pais” do contratualismo, pois, a matéria- prima de nossa formação e de toda nossa carreira é a sociedade, e analisarmos sua origem, denota como desafiador, complexo e instigante será nosso trabalho, seja como cientistas políticos, sociólogos ou antropólogos. Thomas Hobbes, assim como John Locke e Jean-Jacques Rousseau só podem ser considerados clássicos por terem ousado, cada um sobre uma perspectiva singular, porém, os clássicos são basilares, referências que servem como norteadores, e “nunca” como verdades incontestáveis, cabendo a nós utilizarmos de seus trabalhos como tal, sempre na “tentativa” hercúlea e inglória de superá-los, pois, isso é que nos motiva a seguirmos em frente.