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colcaoSul_ BU Associagéo Brasileira das Editoras Universitarias Niklas Luhmann: A sociedade como sistema Leo Peixoto Rodrigues Fabricio Monteiro Neves = © EDIPUCRS, 2012 cara: Adaptacao e finalizacao de Giovani Domingos revisdo ve texto: Patricia Aragao eoIToRAcAo Etetronica: Camila Provenzi mpressAo € acasamento: E.[>) Edicao revisada segundo 0 novo Acordo Ortografico da Lingua Portuguesa. © ediruce EDIPUCRS - Editora Universitaria da PUCRS Av. Ipiranga, 6681 - Prédio 33 Caixa Postal 1429 ~ CEP 90619-900 Porto Alegre ~ RS ~ Brasil Fone/fax: (51) 3320 3711 ‘e-mail: edipuers @puers.br - wwrw.pucrs.br/edipuers. Dados Intemnacionais de Catalogacao na Publicagao (CIP) R696n Rodrigues, Leo Peixoto Niklas Luhmann :a sociedade como sistema / Leo Peixoto Rodrigues, Fabricio Monteiro Neves. ~ Porto Alegre: EDIPUCRS, 2012. 132 p.~ (Colegao Sul) ISBN 978-85-397-0196-4 1. Sociologia - Teorias. 2. Niklas, Luhmann ~ Critica e Interpretacdo. 3. Sociélogos - Alemaes. |. Neves, Fabricio Monteiro. ||, Titulo. COD 301.04 Fiche Catalogriicaelaborad lo Setor de Tratamento de informacho da BC-PUCRS. 70D0S005 DRETOS RESERVADOS. Pubs » eproicho total ou parla or qualquer Mele cu procesia expecslmente pot sistemas os microtimcos,otogacos prografeon onogratcosvdeogtco Vedodae memerisgiowou afecuperagatoalou Paral tem como a incase de quale: parte dea obra 8m qualque stoma de procentamento de dados Eas probes aplcamse tambers as earctenstcas gras a cba eb un eaoraco, Aoliae dos difeor ators punhel comocime at 184 e paragon, {4 Cécigo Pena com pana de piss e mala conuntamente com bata apreensios indenagies vert (arts 1018 9Qda\sl 9410, 44 1982 199m Lt dor Dawn Autor 45 49 52 1.1 A nogao de sistema 1 ope 24 Autorreferéncia/autopoiésis 2.2 Sistema/entorno 2.3 Observacao de segunda ordem 3 SENTIDO 3.1 O sentido como meio dos sistemas sociais 3.2 Complexidade e sentido 3.3 Sentido nos distintos sistemas sociais Material com direitos autorais aR BRSSRREK 97 98 100 105 109 113 116 119 4 COMUNICACAO 4.1 Comunicag¢ao, a¢ao, intersubjetividade 4.2 A comunicagao sem seres humanos 4.3 O conceito de comunicagao 4.4 Comunicagao, interacao e organizagao 4.5 A improbabilidade da comunicagao 4.6 Meios de comunicag¢ao simbolicamente generalizados S SISTEMA SOCIAL 5.1 Talcott P “ or 5.2 Os sistemas sociais autorreferenciais 6 EVOLUCAO 6.1 Fungio e diferenga 6.2 Acoplamento estrutural e interpenetragao 7 TOPICOS EPISTEMOLOGICOS: LUHMANN VERSUS TRADICAO 7.1 O positivismo funcionalista de Durkheim 7.2 O método compreensivo de Weber 7.3 Alienacao e emancipacao em Marx 7.3 O estruturalismo e as estruturas (ausentes) 7.4 A critica luhmanniana 7.5 Nem sujeito nem objeto 7.6 Ser e nao ser: a ontologia do ser Referéncias indi Liti PREFACIO Este livro, de Fabricio Monteiro Neves e Leo Peixoto Rodrigues, que tenho a honra de apresentar, veio a preencher uma lacuna nas Ciéncias Sociais brasileiras. Ao contrario de outros paises latino- -americanos, como México e Chile, nos quais a Nova Teoria de Sistemas, proposta por Niklas Luhmann, vem sendo amplamente difundida e discutida, no Brasil, ainda é incipiente a publicagao de obras de Luhmann ou sobre Luhmann. Os autores deste livro ousaram, 0 que para muitos é desenco- rajador, como eles mencionam na introdugao, uma aventura inte- lectual pela obra desse pensador alemao. Nesse intento, consegui- ram apresentar de modo acessivel, ao leitor brasileiro, o pensamento tedrico de extrema abstracao e complexidade de Niklas Luhmann, £ um livro nao apenas para especialistas da teoria de Luhmann, mas, sobretudo, para todos os interessados em conhe- cer mais de perto a obra de um dos maiores pensadores e socidlo- gos do mundo contemporaneo. 8 S6 um estudo aprofundado e uma anilise sofisticada como a que 0s autores desenvolveram neste livro permite a elaboracdo de um tex- to que traduz de modo impecavel o aparato conceitual trabalhado por Luhmann. Niklas Luhmann, sem diivida, é um dos mais proeminentes e po- lémicos tedricos de nosso tempo. Em entrevista concedida em 1992, afirmou: “meu objetivo principal como cientista consiste em melhorar a descricao socioldgica da sociedade e nao melhorar a sociedade’. Essa postura é muito importante para entender Luhmann, que distingue, tal como Weber, entre a tarefa do cientista em produzir teoria sobre a so- ciedade e 0 politico com a responsabilidade de melhorar a sociedade. Para Luhmann, havia um déficit tedrico na sociologia ao observar e descrever a complexidade da sociedade contemporinea. A sociologia, como 0 conjunto das Ciéncias Humanas, segundo ele, tem desprezado a te- oria com a intengao de alcangar a realidade, de ir aos fatos. A teoria é, antes, um empecilho para compreender a sociedade e os fendmenos humanos. A investigagao teérica para Luhmann, portanto, era fundamental, pois os conceitos que sao utilizados na vida didria sao insuficientes para compreender os fatos cientificamente. Ele era enfatico ao afirmar que se fazia necessario construir novos conceitos. Somente é possivel observar através de conceitos. Nada é compreendido fora do conceito. Comenta Luhmann: ‘Ao observar ou descrever os fatos com pretensio de cientificidade, as palavras da vida cotidiana nao bastam. Devem ser construidos conceitos. Somente é possivel observar 0 que se construiu com esses conceitos, isto é, outros conceitos e outras coisas. Por sua vez, os conceitos tém distinta qualidade cientifica, dependendo do empre- go tedrico, mas independentemente dele, pode-se afirmar que com conceitos distintos se constroem mundos distin- tos (LUHMANN, 1989, p.47, apud MELICH, 1996, p.13).! MELICH, J. Apresentagio. In: LUHMANN, Niklas. Teoria de la sociedad y pe- dagogia. Barcelona: Paidés Educador, 1996. PREFACIO a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. Os autores, de modo didatico, vao discorrendo sobre os diferentes conceitos, num primeiro momento, de dificil acesso para quem nao foi in- troduzido na leitura de Luhmann. Aos poucos vao desvendando definicées, relagées, Angulos, sinteses do projeto tedrico de Luhmann que apresenta uma ideia de sociedade radicalmente anti-humanista, nao ontoldgica e construtivista radical, baseada nas diferengas, vistas como construgdes. A sociedade é apreendida como um sistema social autorreferente de comuni- cagées, analisadas através de diferentes ambitos, como a politica, a econo- ia, 0 direito, a religido, a educagao, a ciéncia, entre outros. A proposta teérica de Luhmann: nao mais tratar 0 sistema como “uno”, como um todo, resultado da soma das partes, mas como diferen- ¢a. Luhmann nao é um tedrico da unidade, mas da diferenga. Esse esfor- ¢0 tedrico é desenvolvido na nova teoria dos sistemas que considera os sistemas como autopoiéticos, autorreferentes e operacionalmente fecha- dos. O sistema se define, precisamente, por sua diferenga com relacdo ao meio, como o termostato que reage nao 4 temperatura, mas 4 dife- renga de temperatura. Desse modo, o sistema inclui em sua constituigao a diferenca em relacao ao meio ¢ somente pode entender-se como tal, desde esta diferenca. Para Luhmann, o sistema que contém em si sua diferenga é um sistema autopoiético e autorreferente. Luhmann nao esta comprometido com a preservacao dos sistemas sociais, a0 contrario, sua preocupacao tedrica é a contingéncia e a complexidade do social. Isso os autores deixam muito claro no texto. Outro aspecto ressaltado no livro diz respeito 4 distingao entre sociedade e individuo. Sociedade é 0 sistema social como um todo, in- cluindo tudo que ¢ social. E tudo que é social é identificado como comu- nicacao. Luhmann entende a comunicacao como uma operag¢io social que pressup6e uma maioria de sistemas de consciéncias colaboradoras, ao mesmo tempo que nao pode (exatamente por esta mesma razao) ser atribuida, como uma unidade, a nenhuma consciéncia individual. A comunicacao 6, pois, uma realidade sui generis, € um mecanis- mo que constitui a sociedade como um sistema autopoiético. Também a negacao da comunicagao ¢ comunicagao e, portanto, expressao da so- ciedade. A comunicacao s6 se da na sociedade: nao existe comunica- 10 | PeFAcio cdo sem sociedade, assim como nao existe sociedade sem comunicagao. O propésito da comunicagio é criar diferengas que podem ser inclui- das, em outras comunicacées, formando e estabilizando as fronteiras do sistema. Comunicacao é uma sintese de selecdes processadoras, que Luhmann chama de informagao, transmissdo e compreensio. Sistemas soci is sAo sistemas comunicativos que se reproduzem por estarem constantemente ligando comunicagées a comunicagdes. No texto, os autores esclarecem por que 0 social, para Luhmann, ¢ compos- to de comunicagées e nao de pessoas. O individuo/pessoa é parte do sistema psiquico, ligado 4 consciéncia que produz pensamento. Apenas comunica¢ao produz comunicagao, Na comunicagao 0 sentido é 0 pré- -requisito basico. O sentido diferencia a selegao das possibilidades, logo, tem fungao de selecao e ordenamento. A teoria de Luhmann concede uma importancia decisiva ao ser hu- mano, mas nao nas formas das concepgées classicas de que o homem é um simples componente da sociedade. Os seres humanos, sistemas autorrefe- rentes, que tém na consciéncia e na linguagem seu proprio modo de ope- ra¢ao autopoictico, sao o entorno (“ambiente”) da sociedade, nao compo- nentes da mesma. A sociedade supde homens, mas como seu “ambiente”. Outro ponto que merece destaque ainda é 0 ineditismo do ultimo capitulo. Os autores, contrapondo tépicos epistemoldgicos centrais da tradigao da teoria sociolégica com a proposta luhmanniana, confirmam que a importancia em ler, refletir e criticar Luhmann reside no fato de que se é obrigado a rever conceitos, posicdes e pressupostos. Sem diivi- da, a leitura sobre Luhmann provoca, polemiza, mas assim nos obriga a reflexao sobre as nossas proprias posigdes e, como afirmam os auto- res, ha sempre a possibilidade de buscar novas reflexdes cada vez mais abrangentes. Por ultimo, gostaria de enfatizar que a leitura deste livro com certeza possibilitard a descoberta de toda a riqueza do pensamento de Niklas Luhmann e suas controvertidas e complexas posigdes tedrico- -sociolégicas. Certamente vale a leitura! Clarissa Eckert Baeta Neves PREFACIO| 11 Material com diroitos autorais a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. das ciéncias «duras», construindo uma teoria geral da sociedade -, a0 criticar a tradicdo, o faz discutindo as préprias bases que a fundamen- ta, sejam positivista, dialética, hermenéutica, funcionalista, estrutural, etc, Ao fazé-lo, adentra no terreno filosd6fico, estabelecendo um debate que perpassa boa parte da filosofia moderna (Descartes, Kant, Hegel, Nietzsche, Husserl, Wittgenstein e outros), Certamente, Luhmann, ao propor um novo olhar teérico para as ciéncias sociais de um modo geral e, para a sociologia, de um modo especifico, nao apenas esta (re)fun- dando todos os seus pressupostos epistemolégicos como esta propondo uma renovada teoria do conhecimento para as ciéncias humanas. A proposta teérica luhmanniana tem como dimensao axiomatica a nogao de sistema. Se por um lado ai reside um ponto de partida segu- ro para a compreensao de seus posteriores desdobramentos, por outro lado, € necessdrio compreender quais sao as caracteristicas do sistema a que Luhmann se refere. A mencionada dimensio interdisciplinar em que Luhmann se aventura nao é por acaso, visto que a nogao de siste- ma, desde 0 inicio da ciéncia moderna, tem servido de substrato para a descrigao de toda a sorte de fendmenos cientificos, de modo inter- disciplinar: seja na astronomia, na fisica, na biologia, na quimica, etc. Foi exatamente este uso tio «democratico» da nogao de sistema pela ciéncia, que fez com que este termo fosse objeto de inumeras reflexes, que implicaram, pode-se assim dizer, seus avancos tedricos e episte- molégicos, atingindo com Luhmann a constru¢ao de uma verdadeira teoria sistémica. E essa teoria que vai servir de fundamento para que Luhmann proponha uma forma diferente de se olhar nao apenas a so- ciedade, como sistema social, mas também 0 individuo, 0 ator social (sujeito ou agente), que assume uma posicao (sistémica) inusitada, com relacao aquele proposto por toda a tradi¢ao sociolégica, como sera visto nos capitulos que se seguirao. Os autores deste livro, ambos doutores em sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, iniciaram suas pesquisas sobre Luhmann durante suas teses de doutorado, sob a supervisao da Profa. Clarissa Baeta Neves, uma das precursoras no estudo e na divul- gacao do pensamento de Niklas Luhmann no Brasil (1997a). A ideia de escrever um livro sobre a teoria sistémica de Luhmann, sobretudo com INTRODUGAO 15 a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. i SN Nase capitulo, objetivamos discutir 0 conceito de sistema de- senvolvido pelos chilenos Humberto Maturana e Francisco Varela, adotado e ampliado pelo socidlogo alemao Niklas Luhmann ao propor uma teoria dos sistemas sociais e uma teoria da sociedade contemporanea. Como toda teoria, cujo objetivo central é propor um modelo explicativo 4 realidade, Luhmann utiliza-se de um conjunto de conceitos articulados entre si, dentre os quais a nogao de sistema é central. E importante ressaltar que a forma como 0 sistema é enfocado por Maturana e Varela e utilizado na teoria social proposta por Luhmann, funda-se, como salienta 0 proprio Luhmann, em um novo paradigma sistémico nos termos propos- tos por Thomas Kuhn (1996). Essa nova forma de conceber o sistema, acredita-se, tem ge- rado muita polémica e dificuldade de entendimento - justamente por ser abordado de forma completamente diferente da tradi¢ao ~, tornando-se alvo de criticas, por vezes rapidas demais. Em tra- balhos anteriores (RODRIGUES, 2003, 2006), buscou-se abordar a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. 1.2 FECHAMENTO OPERACIONAL A teoria sistémica teve diversos avancos em diferentes disciplinas do conhecimento cientifico durante o século XX. Entretanto, foram os bidlogos Humberto Maturana e Francisco Varela (1980) que, no final da década de 60 do século XX, deram um importante passo para uma maior compreensao do que vem a ser um sistema, quando afirmaram que a cognicao e os organismos vivos constituiam-se em sistemas auto- poiéticos. Com esses bidlogos, 0 conceito de sistema, aplicado aos or- ganismos vivos e 4 cognigao, nao apenas apresentou determinadas ca- racteristicas nunca antes assumidas e explicitadas na tradigao da nogao de sistema*, como também acrescentou elementos polémicos, sobretu- do a teoria do conhecimento, com rela¢ao 4 forma como os sistemas organicos deveriam ser tratados. Maturana e Varela (1980) afirmaram que 0s sistemas organicos eram sistemas fechados’, autorreferenciados e autopoiéticos. Para eles, um organismo vivo tal como um animal, um vegetal, uma bactéria etc. constitui-se num sistema. Isto porque apresenta, mes- mo dentro da tradigao, todas as caracteristicas de um sistema: partes vinculadas que se implicam mutuamente; elementos interdependentes; funcionam e se mantém como tal; apresentam processos, isto 6, desen- volvem-se e transformam-se com 0 tempo, etc. Alias, a ideia de que or- ganismos vivos deveriam ser vistos como sistema ja estava presente des- de as primeiras décadas do século XX nos trabalhos do bidlogo Ludwig von Bertalanffy (1975). Entretanto, Maturana e Varela afirmam que tais sistemas sao fechados’ ¢ esta afirmacao foi - e tem sido - uma das pri- Neuser (1994), ao discutir auto-organizacio, faz aproximagoes e diferenciagdes dessa concepgao com as teorias classicas de Condillac ¢ d’Alambert, referindo- -se ao Iluminismo francés. 6. Para os termos fechado/fechamento, em espanhol, além de cerrado também sio ados os termos clausura/clausurado; em inglés, closure/closured. Em portu- gués, usa-se tanto fechado/fechamento, como clausura/enclausurado pratica- mente como sindnimos. Em Rodrigues (2000, 2006a), foram abordados aspectos da discussio sobre sis- temas abertos es stemas fechados com relagio aos organismos vivos. SISTEMA 23 a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. 2 AUTOPOIESIS O. conceitos de feedback e de auto-organizagdo foram trazidos 4 luz com o nascimento da Cibernética, no inicio da década de 40. Feedback significa retorno de informagdo, realimentagdo ou retroalimentagao, sendo que essa noco trazia implicita a nocao de circularidade operativa. Entretanto, para que se faca justi¢a, foi Walter Bradford Cannon (1871-1945), pesquisador e profes- sor, médico e fisiologista da universidade de Harvard, considera- do um dos maiores fisidlogos norte-americanos, quem publicou, dentre outros intimeros trabalhos, o livro The wisdom of the body, em 1932. Este livro se tornou internacionalmente conhecido - no Brasil, publicado sob o titulo A sabedoria do corpo, em 1946 - e teve o mérito de difundir um dos mais importantes conceitos de- senvolvidos na fisiologia: a nogdo de homeostase. O termo passou a ser amplamente conhecido nas ciéncias naturais, inclusive na cibernética, justamente pelo fato de estar as- sociado a nogao de feedback e de autorregulacao. De fato, a ideia de homeostase ou homeostasia significa a tendéncia que organis- a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. A nogao de autopoiésis espalhou-se rapidamente apds 1980". A partir de entao, seus autores passaram a discutir e a aprofundar, em di- ferentes prefacios e obras, as possibilidades e os limites do conceito. Fato € que a nogao de autopoiésis possibilitou a reflexao cientifica contempo- rinea em distintas diregdes tedricas, revitalizando o folego para 0 avanco de determinados impasses cientificos de natureza complexa. A teoria so- cial de Niklas Luhmann pode ser apontada como um exemplo. Luhmann, cuja produgao legada é enorme € cuja reflexao filosdfico-epistemoldgica permeia a maior parte de seus escritos ~ por isso vista por muitos como “pesada” - sem diivida, ¢ um dos autores que mais experimentou e desdo- brou as potencialidades do conceito de autopoiésis desde seu surgimento. A autopoiésis nao apenas caracteriza o sistema que se autorreferen- cia, mas que se autoproduz, produz a si como unidade sistémica. Para que melhor se compreenda a nogao de autopoiésis é necessario que se conceba © sistema como “fechado” - sempre do ponto de vista de suas operagdes internas ~ e, portanto, diferenciado de tudo mais que nao seja ele proprio. Neste sentido, temos o sistema operando de forma autorreferenciada em meio a todo um entorno que o “circunda” e que o pressup6e, produzindo uma operagao de diferenciagao: sistema/entorno. Para Maturana e Varela (1980, 1995), um organismo vivo (uma célula, uma planta, um individuo qualquer) esta, logicamente, contido num determinado meio, mas a sua individualidade/identidade como, por exemplo, ser uma célula nervosa, ou ser uma planta de milho, ou ser um animal gato, nao depende desse meio; isto é, a vida de um ser vivo pode depender em maior ou menor grau do meio, mas a identidade (sistémica), isto é, ser uma célula nervosa (e nao epitelial), ser um milho (e nao feijao), ser um gato (e nao cachorro) depende somente das operagées internas da propria unidade em que cada um desses sistemas vivos se constituem autopoieticamente. Portanto, sao os elementos/operacées “internos” de cada um destes sistemas vives que fazem com que eles sejam 0 que sao (célula nervosa, milho, gato); mais que isto, fazem com que conservem 0 seu estado com tal: 0 estado de ser 12. Contam Humberto Maturana e Francisco Varela (1995, p. 47-48; 1997, p. 49- 50) que o texto que deu origem ao conceito autopoiésis, “De maquinas y seres vivos: una teoria sobre la organizacién biolégica’, somente foi publicado em 1973, pela Editora Universitaria, apés ter sido rechagado por mais de cinco editoras e revistas. Em lingua inglesa, a primeira edicio somente apareceu em 1980, sob o titulo “Autopoiesis and cognition’. AUTOPOIESIS 31 a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. Verifica-se, portanto, que com a nogao de autopoiésis, o aspecto estrutural de um sistema, a sua delimitagao como uma unidade discre- ta em meio a um entorno ~ resultado de processos internos emergentes (autopoiéticos), tem por objetivo a exclusiva manutencao de si proprio. Decorre dai a necessidade de se pensar num funcional-estruturalismo, uma vez que agora a estrutura é resultado de fungées internas do sistema que tem por finalidade a exclusiva conservagao do sistema como uma unidade de diferenga. Segue-se que © sistema funcional-estruturalista sempre vai apresentar uma autofinalidade, colocado em relevo o seu ca- rater ndo teleolégico. Toda a “finalidade funcional’, cara ao funcionalis- mo ¢ ao estrutural-funcionalismo e que tem explicado o objeto pela sua fungao, pela sua serventia ou finalidade, nao se aplica, nestes mesmos termos, aos sistemas autopoiéticos”’. Da mesma forma, a nogdo de autopoiésis, quando aplicada a so- ciedade, vista como sistemas formados por comunicagées, destaca 0 carater problematico de uma ontologia tradicional. Segundo Luhmann (1990, 1997b, 1998), a ontologia tradicional tem apresentado um cardter demasiadamente estatico e substancialista. Para Luhmann, é necessario que se dissolvam todas as esséncias estaticas em se tratando de relacdes ede diferencas. Em contrapartida, vé-se a necessidade da construgao de uma ontologia da diferenga e da relagdo. 2.3 OBSERVACAO DE SEGUNDA ORDEM As mudangas paradigmaticas na visio do universo, ocorridas no século passado, tém um dos pontos centrais na concepgao do ob- servador. Tal mudanga colocou entre parénteses 0 observador, ao afir- mar que a observacao depende da po: , nao havendo mais nem observador absoluto nem fenémeno imune aos efeitos da observacgao. Diversas ciéncias tiveram que rever alguns principios metodolégicos, incluindo, agora, o observador como elemento importante na propria conceitualizagao. Foi, inclusive, tarefa para a sociologia, que reviu uma série de concepgdes candnicas que tendiam a separar sujeito do obje- to. Procurou-se entao compreender os fenémenos sociais, problemati- 20. Ver capitulo “Tépicos epistemoldgicos: Luhmann versus tradigio. auroroiéss. | 39 a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. Entorno- mundo Figura 2 - A sociedade e os acoplamentos estruturais entre sistema(s)/entorno(s) coevolutivo(s) Entendendo a Figura O nitmero 2 representa o corpo fisico, orginico de uma pes- soa (incluindo 0 cérebro, como 6rgao), visto pela teoria luh- manniana como “sistema autopoictico organico”, mente (consciéncia), vista como tema autopoiético psiquico’, acoplado ao sistema auto- poiético organico, representado pelo ntimero 2. Nesse caso, © sistema organico (2) constitui-se em entorno para © sis- tema psiquico (3), ndo havendo uma comunicagao direta entre os dois sistemas. O ntimero 3 representa O numero 1, que na figura tem a fungdo de “unir” (ana- liticamente) as figuras representadas pelos mimeros 2 ¢ 3, representa aquilo que a tradi¢ao sociolégica tem chamado de individuo, de pessoa, de sujeito (tanto na sua dimensio fisica como na psiquica). A letra “A” representa 0 sistema autopoictico Politico; a le- tra “B’, o sistema autopoiético Ciencia; a letra “C’, o sistema autopoiético Economia; a letra “D”, 0 sistema autopoiético Direito e a letra “E” 0 sistema autopoiético Arte. Tais sis- temas sio formados por comunicagées (veja os capitulos al) mbora o sistema de comunicagio e o sistema psiquico sejam sistemas autopoiéticos distintos, tais sistemas cons tituem-se numa dimensao de entorno necessaria uma para Comunicagao ¢ Sistema soci auroroiésis. | 43 a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. que ilumina, s6 0 que é preenchido de sentido para os sistemas faz parte de sua rede operativa. O sentido determina 0 horizonte operativo dos sistemas sociais™; traca uma linha fronteiriga entre sentido/nao sentido, entre compreendido/nao compreendido™. © meio do sentido contém, portanto, uma indicasio so- bre seus préprios limites. Com isso se quer dizer que estes limites nao se podem ultrapassar com operagies completas de sentido, Pode-se tocar o limite somente a partir do lado de dentro e se o sentido da forma de um limite se deixar a sar que deve haver algo ld fora (LUHMANN, 2007, p. 17). Tem-se também que atentar para 0 fato da negagao do sentido pressupor sentido, do ponto de vista conceitual. Com isso, retomando um importante ponto de partida tedrico de que toda indicagao pressu- poe diferenga®™, a indicacgao de sentido pressupde também sua nega¢ao. Isso esvazia qualquer sentido de necessidade, abolindo, portanto, um dos axiomas das abordagens funcionalistas mais tradicionais. Assim, todo sentido indicado traz consigo o outro lado de sua forma: verdadeiro/nao verdadeiro, bom/mau, justiga/injustiga. Como afirma Luhmann (2007, p. 18), “nao existe, portanto, uma unidade sobre a qual se possa fundar tudo o mais’. O sentido é 0 meio que canaliza esta diferenciagao binaria para seleges toleradas por cada comunicacao ~ afinal, “sé se podem se- guir ou responder comunicagGes inteligiveis’ (LUHMANN, 2007, p. 21). O lado da forma indicado e selecionado é aquele que faz sentido. Ao mesmo tempo, todo operar com sentido sempre reproduz também a presenca do excluido, porque o mun- do do sentido é um mundo total: o que o exclui em si mesmo, Por isso, até o nonsense pode ser pensado e co- municado como forma, com sentido dentro deste meio (LUHMANN, 2006, p. 31). conceito de “Horizonte” ¢ a aproximagio mais evidente entre a teoria dos sistemas de Luhmann e a fenomenologia de Edmund Husserl. 24. Ver o capitulo “Comunicagio’: 25. Ver capitulo “Sistema social”, Para aprofundamento, conferir Luhmann (2006). SENTIDO 47 a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. intransponivel, ela é representada de forma generalizada com a ajuda da linguagem. O elemento do entorno, agora generalizado, é pleno de sentido porque foi incorporado ao sistema e, s6 assim, pode contribuir para a sua reprodugao. Além disto, a reprodugao do sistema, dada a passagem do tempo (dimensao temporal), faz com que as generaliza- Ges simbdlicas apresentem elevado grau de independéncia em relagao As condigées anteriores que as geraram e, ainda que se vinculem ao sentido especifico fixado no tempo, elas estarao sempre sujeitas as con- dicdes posteriores. Cada ocasiado concebida como plena de sentido nio tem por que estar s6 no momento totalmente presente para “satisfazer” a vivéncia e a agio; deve organizar, so- bretudo, a autorreferéncia, quer dizer, tomar as precau- des necessarias para estar 4 disposicio em caso neces- sirio, ¢ isto em situagdes (mais ou menos) diversas, em outras referéncias de tempo ¢ possivelmente ante distin- tos interlocutores de comunicacao (LUHMANN, 1998, p. 105). Quando analisadas em correspondéncia com a estrutura de ex- pectativas, o conceito de generalizacao simbdlica traz elementos concei- tuais inovadores para a teoria social. Expectativas, de acordo com a teo- ria dos sistemas autopoiéticos, sio formadas no intercurso sistémico de diminui¢ao de complexidade por meio da selecao, e por isso se vinculam. ao sentido especifico do sistema correspondente, reduzindo de forma intermediaria as possibilidades de orientagao que estao disponiveis. Na teoria dos sistemas sociais “encontraremos principalmente expectativas de comportamento” (LUHMANN, 1998, p. 107) que operam de forma generalizada. Como em outras teorias comportamentais, determinados comportamentos sao esperados por todos em determinadas situagées. Neste caso, 0 conceito de generalizagao desloca o enfoque tradicional da norma, como dimensao objetiva de regramento, para a generalizacao das expectativas, as quais conservam-se validas independentemente do que venha a acontecer em seu entorno (LUHMANN, 1998). SENTIDO 51 a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. 4 COMUNICACAO Oo conceito de comunicagao tem um lugar central na teoria dos sistemas sociais de Luhmann, Para ele, a comunicacao é 0 limi- te da sociedade, tudo 0 mais é entorno. Sistema social, assim, é comunicagao e a dinamica da comunicagao é 0 né gérdio a par- tir do qual se inicia 0 estudo da sociologia. Para Luhmann, a co- municacao é uma operagao mais precisa do que a acao, elemento central para a sociologia desde Max Weber. A comunicagao tem o mérito de definir 0 elemento discreto da anilise socioldgica, da mesma forma como 0 estudo da matéria define a fisica e 0 estudo das moléculas define a quimica. Deste modo, com 0 conceito de comunicagao, Luhmann da um salto epistemoldgico eliminando varios obstéculos que tém impedido uma melhor descrigéo dos sistemas sociais, Para a conceituacao da comunicagio é necessario levar em conta outros elementos da teoria dos sistemas sociais de Luhmann, como autorreferéncia, sele¢ao, autopoiésis, operacao, dentre outros. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. deriva dai a necessidade de buscar um conceito de sistema social mais circunscrito e distante das légicas (quaisquer que sejam elas) dos seres humanos “concretos”. Quem considera seriamente o ser humano como uma entidade concreta e empirica formada fisica, quimica, or- ginica e psicologicamente, nao pode conceber 0 indivi- duo como parte do sistema social. Para comegar, existem muitos homens, cada um distinto; entéo, o que se quer dizer quando se fala do homem? Deveria se criticar a so. onal que, justamente ela, nao leva a sério ao ser humano quando fala dele mediante construgdes nebulosas e sem referéncias empiricas (LUHMANN, 1997, p. 15). Para superar este obstaculo sociolégico de atribuir aos seres hu- manos concretos a condicao de “agentes da sociedade’, Luhmann utiliza 0 esquema tedrico sistema/entorno”. Com isto, Luhmann indica o sis- tema social distinguindo-o de tudo o mais, inclusive dos seres humanos, de seu organismo, suas pernas, seus pensamentos. Desse processo de distincao e indicagao decorre que 0 espaco fisico dos sistemas sociais, © ar, a agua, e os seres humanos sao entornos para 0s sistemas sociais. O sistema social existe e se reproduz como sistema de comunicacdo, ao Passo que os sistemas psiquicos, as consciéncias, reproduzem os pensa- mentos. Ambos os lados da forma sistema/entorno operam autopoieti- camente, ou seja, fechados em seus proprios processos constituintes: co- municacao, para os sistemas sociais e pensamento para as consciéncias. Sistema social e consciéncia sao fechados operacionalmente sob seus proprios processos constituintes e, deste modo, nao podem comunicar nem intervir diretamente um no outro. Sao sistemas inacessiveis um ao outro. No entanto, nao se quer dizer que a consciéncia nao tenha ne- nhum papel para os sistemas sociais ou entre elas. Sistemas sociais e consciéncias estao em estado de interpenetra¢ao, ou seja, cada um des- ial”. 40. Ver capitulos “Sistema” e “Sistema s COMUNICAGAO 59 a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. tra comunicacao. Deste modo, pode-se dizer que a comunicacao é um evento” instantaneo e ndo uma sequéncia daquelas selecées. Para dizer novamente, é uma sintese eventual e sempre nova, ja que “cria conteu- dos de sentido sempre novos” (BARALDI, 2006, p. 61). Por isso, tam- bém a comunicagao atualizada é sempre produgao, nao transferéncia de informacdo, Em cada comunicacao surge um novo estagio comunicati- vo atualizado. Pode-se, porém, pensar em sequéncia comunicativa, no sentido da sequéncia autopoiética, levando em conta a recursividade de cada comunicagao. Assim, “a comunicagao é uma operacao que se co- necta com outras operagdes do mesmo tipo. Surge porque antes houve outra comunicagao e gera conexdes com as comunicagdes que segui- ram” (RODRIGUEZ; TORRES, 2008, p. 71). Com isso, tudo que nao é selecionado é posto de fora da comu- nicagao, nao obstante, permanece ainda como possibilidade para ulte- riores comunicagoes. Ao realizar tais selegdes vao se constituindo os limites da comunicagao e, portanto, os limites da sociedade. As selegdes sao diferengas que mudam o estado dos sistemas e os levam a operar com outra diferenga. Estas diferengas, as selegdes, operam no interior de sistemas € sao o fundamento sobre o qual eles se diferenciam entre si. No sistema, ha uma série de expectativas de selegdes e diferengas & disposigao da comunicagao e, deste modo, esta se desenvolve ja em um contexto de complexidade reduzida". Luhmann (1996b, p. 222) forne- ce um exemplo: “uma noticia esportiva est necessariamente colocada dentro de um contexto: 0 futebol nao pode ser confundido com 0 ténis”. Assim, sucede com os demais sistemas de comunicacao, ciéncia, econo- mia, religido, entre outros. Com isto, vé-se que cada sistema especifica autopoieticamente sua propria comunicagao por meio do sentido que lhe é proprio. O contexto de selegao ja dispde de antemao de diferengas 42. Oconceito de evento para Luhmann diz respeito a temporalidade dos elemen- tos dos sistemas de sentido, como o sistema social e psiquico. A comunicagio, como evento, deve ser produzida incessantemente para se manter; e mais, deve estar disponivel além do instante de sua manifestagdo eventual. Com isto, vé-se a circunstancialidade da cada comunicagao e a temporalidade dos sistemas de sentido. Nao obstante, ¢ o que é extraordinario, os sistemas “permanecent”. 43. Ver capitulo “Sentido’: COMUNICAGAO 63 a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. 68 Os obstaculos operam em conjunto e criam entre eles um meca- nismo de reforgo reciproco. Isto quer dizer que ao superar um obstacu- lo, necessariamente, a possibilidade de superagao dos outros diminui, aumentando a improbabilidade. Deste modo, pode-se afirmar que: a. se se compreende a comunica¢ao, logo existem mais moti- vos para rejeita-la; b. se acomunicagao circula para além da interagao, logo exis- tem mais obstaculos a sua compreensio, Estes obstaculos sao dificuldades ao processo de comunicagao e exigem solucées para superd-los e tornar possivel a comunicacao; no mesmo sentido, para torna-la mais provavel. Afinal, a comunicagao é um evento factual e, se é assim, é porque ja se encontraram, no cur- so da evolugao da sociedade, mecanismos para superar tais obstaculos. Ademiais, se existem sistemas sociais, é porque a comunicacao é possivel. Esta possibilidade so se garante com a transformagao das improbabili- dades em probabilidades de comunicagao, sendo que tal transforma¢ao regula a formacio dos sistemas sociais. Este mecanismo de transforma- 40 é 0 processo pelo qual a sociedade evolui. Assim, deve se entender 0 proceso de evolugio so- 0 das ciocultural como a transformagao ¢ a amplia possibilidades de estabelecer uma comunicagio com probabilidade de éxito, gragas 4 qual a sociedade cria suas estruturas sociais; e ¢ evidente que nao se trata de um mero processo de crescimento, mas de um processo seletivo que determina que tipos de s vidveis e 0 que tera de se excluir devido a sua improbabi lidade (LUHMANN, 2001, p. 44). HA, portanto, nos sistemas sociais existentes, logo viaveis, meca- nismos de transformacgado das improbabilidades da comunicacéo em probabilidades. Luhmann (2001) vai denominar estes mecanismos de “meios’, e, fundamentalmente, eles tém como funcao a superacao das trés improbabilidades anteriormente mencionadas, ¢ nado somente a segunda improbabilidade (chegar a sujeitos distantes), como foi praxe COMUNICAGAO a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. 70 res é um exemplo da radical transformac4o que estes meios causaram na Sociedade, com a possibilidade de produzir intera¢ées entre sujeitos localizados a milhares de distancia e com a possibilidade de armazenar © contetido da informagao por tempo indeterminado. 4.6 MEIOS DE COMUNICACAO SIMBOLICAMENTE GENERALIZADOS Primeiro é necessario advertir que Luhmann nao se satisfez total- mente com 0 termo “meios de comunicagao simbolicamente generali- zados’. O termo criado por ele é uma tentativa de especificar com rigor terminoldgico a expressao que Parsons ja usava para definir o dinheiro, o poder, a influéncia, os compromissos morais, isto é, os “meios de in- tercambio” (LUHMANN, 2001). Para Luhmann, a descoberta cientifi- ca se antepés a criagao de um termo linguistico mais apropriado. Nas revolugées cientificas, como observa Kuhn (2006), 0 novo paradigma necessita de uma nova linguagem, se este almeja alcancar o status de pa- radigma. A despeito desta dificuldade terminolégica, o termo expressa algo que enfrenta a improbabilidade da comunicagao. Para Luhmann, estes meios nao se formam a partir dos sistemas ja diferenciados, mas, ao contrario, formam-se a partir de problemas da comunicag’o, cujos meios de superagio so reproduzidos e cristaliza- dos em forma de sistemas fechados (RODRIGUEZ; TORRES, 2008, p. 177). Os meios de comunicagao simbolicamente generalizados surgem no momento em que a técnica de difusao faz a informagao interacional- mente criada circular para locais e tempos distantes dos contextos da sua producao. A informagao passa a atingir sujeitos que nao estavam presen- tes e nao se vinculam ao sentido original da comunica¢ao interacional @, por isso, as possibilidades de éxito da comunicagao, principalmente de aceitagao, tornam-se remotas. Assim, os meios especializaram-se em solucionar problemas especificos, decorrentes da emergéncia de proble- mas comunicativos relacionados 4 quebra de uma semantica homogénea para todos os sujeitos, visto que suas condigées de produgao e recepgio tornaram-se distintas. Deste modo, nao se consegue mais: COMUNICAGAO 72 so se obtera um bem se houver dinheiro, s6 se aceitara a ressurreicao de Cristo por meio da fé, e assim por diante. Na sociedade moderna, estes meios simbolicamente generalizados respondem por grande parte da comunicagao societal, e a reprodugio de tal forma societal depende desses meios. Em acordo com a teoria da diferenciagao de Luhmann, estes meios simbolicamente generalizados se binarizam em uma diferenga de aceitacao e negacao. Isto quer dizer que o meio produz uma distingao entre dois valores, ou seja, entre poder/nao poder, entre verdade/nao verdade, entre fé/nao fé e assim por diante. Os contextos de cada meio ganham com isso a possibilidade de transformar cada evento em evento do sistema e evento que nao pertence ao sistema, definindo seus limites operacionais e, portanto, seu entorno. Com isso, 0 sistema reduz a gama de possibilidades de selecao generalizando meios préprios que tornam mais provavel a comunicacao. Com tal rigidez de reprodugao, atribuin- do cédigos a cada evento de comunicagao, o sistema produz uma rede recursiva baseada em eventos anteriores codificados ~ tal rede é a auto- poiésis do sistema. COMUNICAGAO be) SISTEMA SOCIAL Oo conceito de sistema social, tal como formulado por Niklas Luhmann, é um dos temas mais controversos das ciéncias sociais do fim do século XX. Nao pela sua novidade, jd que outros soci- logos muito antes do autor jé haviam dado centralidade ao con- ceito, como fez Talcott Parsons, na andlise social (RODRIGUES, 2007, 2003). Nao obstante Luhmann seguir tal tradicdo, o autor apresenta uma diferente compreensao do sistema social, incorpo- rando elementos novos na conceituacgdo e propondo novos sig- nificados para termos antigos. Desta postura reformuladora do conceito, segue o uso por Luhmann de outros conceitos de seu arcabougo tedrico, como autopoiésis, autorreferéncia, diferenga sistema/entorno, operacao, sentido, comunicacao e dupla contin- géncia. Deve-se, pois, para indicar com precisio do que se fala, quando se fala em sistema social, articular tais conceitos em um arcabouco teérico coerente. 74 5.1 TALCOTT PARSONS E A TEORIA DOS SISTEMAS SOCIAIS Talcott Parsons foi o formulador da proposta estrutural-funciona- lista para a teoria social, uma vertente sociolégica americana que se tor- nou dominante em boa parte do século passado, legando frutos até hoje. Seu trabalho pioneiro, The sctructure of social action, de 1937, foi uma revisao critica de uma geracao anterior de socidlogos europeus cujos trabalhos se apresentavam, ao autor, como empreendimentos tedricos convergentes. Tais autores - Weber, Durkheim, Marshal e Pareto - bus- cavam saidas ao individualismo utilitarista, 0 qual fora também alvo das criticas de Parsons. A sintese de Parsons, dos autores citados, nao trata de um agrupamento de conceitos, pelo contrario, busca a sistematizagao de uma teoria baseada empiricamente, a chamada “teoria voluntarista da agao” (PARSONS, 1966, p. 12). Tal teoria articula a discussao da or- dem social em Durkheim, com as investigag6es weberianas em torno da agao social, ou seja, propunha uma sintese de propostas tedricas aparen- temente irreconciliaveis, uma teoria estrutural e uma teoria individua- lista. Para tanto, utiliza a unidade de andlise “sistema social” *!. Pode-se dizer que Parsons foi o socidlogo que elaborou a proposta mais avan- ada de seu tempo para uma teoria dos sistemas sociais na sociologia. Como ficaré mais evidente em obras posteriores, para Parsons “acao é sistema’ e os sistemas sociais sao definidos como “constituidos pela interacao direta ou indireta dos seres humanos entre si” (1976, p. 49). O que Parsons queria era uma teoria da sociedade e, para isso, era necessaria a sintese acdo-estrutura. Surge, nessa concep¢ao, o problema da dupla contingéncia da agdo, ou seja, o fato de que, na interacao, as possibilidades de agao de ego e de alter sao contingentes — j4 que ego tem possibilidades ilimitadas de a¢ao, alter teria reag6es igualmente ilimita- das ~ produzindo, no limite, uma impossibilidade de comunicagao, 0 que levaria, concomitantemente, a impossibilidade de reproducao da socie- dade. Este fenémeno, que se nos apresenta de forma objetiva, pressupde Adi Social System de 1 ussio dos sistemas sociais seré feita, por Parsons, em obra posterior, The SISTEMA SOCIAL para a sua supera¢ao um sistema simbélico compartilhado que faz com que a reacao de alter “adquira para ego o significado de uma consequ- éncia apropriada da conformidade ou desvio de ego das normas de um sistema simbélico compartilhado” (PARSONS; SHILS, 1951, p. 16). Isto significa, por sua vez, que a eleisio de fins ea delimitagao dos meios nao é algo que esta a disposigao do livre arbitrio de cada um dos individuos, mas que devem existir determinagies sociais que os antecedam. sociedade, antes que os individuos se disponham a atuar, jé estd integrada pela moral, pelos valores, pelos simbo- los normativos. Portanto, a sociedade nao é possivel se previamente nao esta integrada sob a forma de sistema (LUHMANN, 1996b, p.32). Parsons, com a ideia de “sistema simbdlico compartilhado’, inte- gra teoricamente a ago em sistemas gerais especificos para entender seu curso, ¢, para isso, cria um modelo em tabelas cruzadas que orientam 0 esquema fim/meio da acao social. Ou seja, busca relacionar os fun- damentos da agao aos determinantes funcionais de cada sistema social, como a economia ¢ a politica. Estes sistemas gerais de acao eram defini dos com relagao a interacao concreta e estudados por meio do esquema AGIL, isto 6, as quatro fungdes que todo sistema deveria apresentar para existir e que surgem em funcao das combinagées possiveis. Sao elas: adaptacio (Adaptation), realizacio de metas (Goal-attainment), inte- gracio (Integration) e manutengao de padrées latentes (Latency). Cada uma das fungées caracterizaria sistemas particulares “por processos e estruturas com elas relacionados, assim como por meios gerais que con- trolam tais processos” (MUNCH, 1999, p. 184). Com este modelo, podem-se observar varios sistemas e subsiste- mas coexistindo. Por exemplo, no nivel mais abstrato da condigao hu- mana, 0 sistema fisico-quimico é controlado por meio da ordem em- pirica e é responsavel pela adaptacao; o sistema organico se encarrega dos fins especificados, controlados pela satide do organismo; o sistema télico, por sua vez, se encarrega das condigGes transcendentais da exis- SISTEMA SOCIAL 75 76 téncia; e, finalmente, o sistema geral da agao que é controlado pelos li- mites semanticos e é responsavel pela integracao. A fisica e a quimica seriam as disciplinas responsaveis pelo conhecimento do sistema fisico- -quimico, a biologia do sistema organico, ¢ assim por diante. A sociolo- gia se encarregaria do sistema geral da a¢ao, e nele Parsons imprime o mesmo esquema analitico subdividindo-o em quatro subsistemas - os sistemas sociais, os sistemas culturais, os sistemas de personalidade e 0s organismos comportamentais: ao sistema social cabe a integragao; ao sistema cultural, a manuten¢ao de padrées latentes; aos sistemas de personalidades, a realizacao de metas; e, finalmente, aos organismos comportamentais, a adaptacao (PARSONS, 1974). © quadro a seguir apresenta 0 esquema em termos dos sistemas sociais. Quadro 1 - Sistema social geral. Ago. Instrumental Consumatorio & Adaptagio Realizagio de metas ae) Economia Politica é 5 Manutengao de padroes latentes Integragao 2 Instituigdes culturais Sistema legal Fonte - Adaptado de Luhmann, 1996b. A combinacao entre instrumental e exterior, por exemplo, cria © componente adaptacdo, processo em que os elementos exteriores ao sistema sao instrumentalizados para a satisfagao de determinadas ne- cessidades. Cabe 4 economia tal processo para a reproducao da socie- dade em todas as suas dimensdes. Como sistema social, a economia, da mesma forma, necessita também completar as variaveis relativas a acao, quer dizer, “repetir dentro de si mesmo as possibilidades de combinacao das quatro células gerais: adaptation - goal attainment - latent pattern maintenance ~ integration” (LUHMANN, 1996b, p. 36). Este processo faz com que surja a histéria da sociedade, como diferenga no tempo SISTEMA SOCIAL da realizac4o no sistema social das quatro fungdes necessdrias a sua re- producdo. Portanto, em momentos especificos, cada sistema completa as exigéncias de reproducao de modo diferente, tal como indicado, por exemplo, pela funcao de integracao, Sem esta ultima havera descompas- so na reprodugio das fungées requeridas, ja que é tal fungao que regula 0s intercambios simbdlicos entre os sistemas. Eles sao integrados em grande parte por meios simbdlicos caracteristicos, como 0 dinheiro, no que diz respeito A economia e ao poder, relativo a politica. Porém, tal teoria dos sistemas sociais nao deu conta do problema dos limites dos sistemas, embora ja esbogasse algumas possibilidades, com a ideia de diferenciagdo funcional. Importa para esta teoria con- siderar o sistema social constituido por individuos em interagdo, 0 que consequentemente define o sistema social em termos de exclusao/inclu- sao dos membros. Isto ¢ 0 que se conhece como obstaculo antropoldgi- co-humanista da teoria da sociedade (LUHMANN, 1997a). No entanto, um “membro de um sistema social” tem a individualidade, a conscién- cia, 0 sistema nervoso, suas preferéncias, e estas dimensdes nao esto diretamente relacionadas ao sistema ao qual pertence. Neste sentido, necessita-se de um conceito mais abstrato, capaz de dar conta de uma unidade que supere 0 individuo, sua psicologia, seu sistema bioldgico, ou seja, definir um “ato-unidade” que seja puramente social. Por outro lado, a concep¢ao de sistema aberto, com intercambio de significados, como desenvolvido por Parsons, nao consegue dar conta de diversas questées, tais como a complexidade, a identidade ou a unidade. Neste obstaculo Luhmann (1997a) reconhece problemas tedricos, entraves a0 desenvolvimento de uma concepgao mais acurada da realidade social, € acrescenta outros problemas dai decorrentes, como o obstaculo geogra- fico, que faz com que se entenda a sociedade como realidades territo- riais (LUHMANN, 1997a). Uma nova definicao de sistema emerge, entao, em decorréncia destes problemas, ¢ tal definicdo se aproveitou dos desenvolvimentos mais recentes da teoria geral dos sistemas. Agora, os sistemas seriam estruturas autorreferenciais, autocentradas, recursivas, ou seja, fechadas sobre si mesmas. Esta nova disposicao tedrica é adotada, fundamental- mente, pelos bidlogos chilenos Humberto Maturana e Francisco Varela SISTEMA SOCIAL 77 Sistemas sociais operam, por isso, fechados sobre sua prépria base operativa, diferenciando-se de todo 0 resto e, portanto, criando seu pré- prio limite de operagao. O sistema se produz como uma forma que separa uma parte interior, o sistema, e uma parte exterior, o entorno; a parte interior da forma é a parte sobre a qual s6 se po- dem reproduzir as operagdes que produzem a forma, a diferenga, o sistema (LUHMANN, 1997, p. 51). Por isso se diz que o sistema é fechado operativamente: ele mesmo € condi¢ao do seu operar. Atente-se, no entanto, para evitar toda sorte de mal-entendidos, que tal fechamento nao significa um isolamento em relagao a todo tipo de causalidade externa. Se assim fosse, teriamos que pensar a sociedade como um sistema estacionario, reticente a mudangas, ja que seus sistemas sociais estariam em condicées, visto que controlam toda a causalidade, de exercer um controle absoluto sobre todo tipo de causalidade (LUHMANN, 1997a). Qualquer perturbacdo ¢ irritagao ex- terna poderiam ser controladas a partir de dentro, com seguranga, evi- tando efeitos fora do controle operativo. Porém, nao é isso que se quer dizer com 0 conceito de fechamento operacional. O que se propde com este conceito é que o fechamento é a condigao da abertura do sistema ao ambiente: o sistema s6 é capaz de estar atento e responder a causalidade externa por meio das operages que ele proprio desenvolveu. A autor- referéncia é a condi¢ao do contato com o entorno e esta precisamente relacionada com o fechamento operacional do sistema, sem 0 qual nao existiriam nem sistema, nem observagao possivel, nem contato. Portanto, as diferengas entre sistema ¢ entorno, 0 fechamento operacional e a autorreferéncia sao processos definidores dos sistemas sociais. Gragas a estas condigdes, 0 sistema social é capaz de diferen- ciar e indicar - a si mesmo e a um entorno - produzindo estruturas proprias e reproduzindo 0 limite operativo. Nao ha operacao sistémica fora de seu limite operativo, embora toda operacao sistémica signifique riscos para 0s outros sistemas sociais®. Este limite, quando se indica 0 53. Luhmann desenvolve uma teoria do risco, baseada em sua teoria dos sistemas is. Ver Luhmann (1992). SISTEMA SOCIAL 79 a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. a You have either reached 2 page thts unevalale fer vowing or reached your ievina tit for his book. COLECGAO ABEU SUL PROSPECGOES FILOSOFICAS: Platio e Aristételes, Estética, Hermenéutica e Teologia Editora ARGOS - UNOCHAPECO Fausto dos Santos Amaral Filho SOCIABILIDADES, JUSTICAS E VIOLENCIAS: Praticas e representagdes culturais no Cone Sul (séculos XIX e XX) Editora da UFRGS Sandra Jatahy Pesavento e Sandra Gayol GEOGRAFIA AGRARIA: A contribuicao de Leo Waibel EDUNISC Gervsio Rodrigo Neves NIKLAS LUHMANN: A sociedade como sistema EDIPUCRS Fabricio Monteiro Neves e Leo Peixoto Rodrigues DE OLHO NO PODER: O Integralismo eas disputas politicas em Santa Catarina na era Vargas EDIUNESC/EDIPUCRS Joao Henrique Zanelatto acsy Epece &.

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