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1- Qual o seu primeiro contato com o Surdo e a Libras?

Com os surdos, foi ainda na infância com um vizinho


surdo que ficava só olhando nossa turma de
batuqueiros fazendo batucada na rua durante o
carnaval e eu ficava convidando ele para se juntar a
nós porque a vibração que eu sendo ouvinte sentia
quando tocava com a minha alfaia, ele sendo surdo
também poderia sentir e descobri neste momento que
o som dos tambores é sentido pelo corpo inteiro. Com
a Libras, meu contato foi em abril de 2009, quando
iniciei a primeira oficina Som da Pele - Uma
experiência musical que ultrapassa os limites do som,
que foi o início de minha pesquisa, durante os
primeiros dias tive a ajuda de uma intérprete da escola
e ao perceber que ela indiretamente conspirava contra
o sucesso da oficina por não acreditar nas habilidades
dos seus próprios alunos, essa atitude de só enxergar
limitações nas pessoas se chama capacitismo e em
uma atividade que propõe a superação de limites,
precisamos focar nas potencialidades. E eu que na
primeira semana não sabia falar a palavra "oi" em
Libras, ao final do primeiro mês, estava criando um
alfabeto musical em forma de sinais visuais, o alfabeto
MusiLibras.
2 -Qual a sua formação acadêmica?

Superior incompleto
3 - Como surgiu a idéia de criar um projeto de música
voltado para comunidade surda?
Sempre me identifiquei com grupos que sofrem algum tipo
de exclusão e sempre soube do poder de transformação
pessoal e social que a música tem, venho realizando
atividades de inclusão há quase 20 anos com pessoas em
tratamento psiquiátrico, crianças com espectro autista e
síndrome de Down, deficientes visuais, sempre com ótimos
resultados, a empatia de dar vez e voz a grupos
subestimados por esta sociedade excludente já existia, a
curiosidade de ver pessoas superando seus limites
também, só faltava realizar um projeto de música para
surdos e assim, mostrar de vez que os limites sempre
estiveram dentro de nossas cabeças. A ideia começou a
ganhar forma com o filme "O resto é silêncio" que revela a
curiosidade que alguns surdos tem em relação as
sensações que a música proporciona aos ouvintes e
também mostra um recurso luminoso utilizado por uma das
personagens para sentir o ritmo, esta era a motivação que
eu precisava para criar o Projeto Som da Pele de música
para surdos.
4 - Quais desafios encontrados para
ministrar as aulas de musica?
RESPOSTAS–

comunicação

interesse dos alunos
5 - Que tipo de Tecnologia Assistiva você usou para auxiliar
nas aulas de música?
Criei o Metrônomo Visual, um sequenciador eletrônico de
quatro canais que no início era utilizado com lâmpadas de
mesmo tamanho e cor, pois a intenção era trabalhar o
tempo musical, depois consegui ampliar as funcionalidades
deste equipamento único e adicionei cores para trabalhar
pausas e intensidade do som e mudei o tamanho das
lâmpadas para descrever as figuras de tempo musical, com
as lâmpadas pequenas é possível tocar mínimas e
semínimas, com as lâmpadas grandes, colcheias e
semicolcheias.
6 - Quais resultados alcançados para o objetivo do projeto?
Nestes quase dez anos do Projeto Som da Pele, percorri
dezenas de cidades do país, conheci milhares de crianças e
jovens surdos e descobri com eles que a música nos leva
para lugares onde todos somos iguais e falamos a mesma
linguagem, hoje tenho alunos que escrevem frases rítmicas
usando as figuras de tempo e estamos em um outro
momento do projeto, capacitando ex alunos e formando
uma equipe de educadores surdos para espalhar a prática
musica na comunidade surda brasileira e mundial, um dos
momentos mais marcantes que vivi com estes novos
batuqueiros do silêncio que venho descobrindo pelo Brasil,
foi tocar com dez jovens surdos na abertura da Cerimônia
de Encerramento dos Jogos Paralímpicos Rio 2016.
7 - Qual metodologia adotada para inclusão social e
transmissão dos conteúdos de música?
Cada grupo exige um tipo de abordagem e com a
comunidade surda, tudo é visual então, todo o conteúdo
das aulas precisam ser lúdicos e fáceis de contextualizar as
informações e neste caso, o olhar cartográfico trazido pelo
colonizador europeu e que é tão presente na academia não
ajuda muito, prefiro criar minhas aulas me inspirando no
olhar de mestres de cultura popular que educam gerações e
gerações através da pedagogia griot e sentem e praticam a
música de um jeito pessoal e único, a música surge
naturalmente.
8 - Como você avalia os resultados desse projeto, com o uso
da Tecnologia Assistiva para inclusão do surdo?

Com as dezenas de dissertações e artigos de tcc que já


fizeram mencionando nosso projeto, os inúmeros
educadores que me procuram com o desejo de iniciar um
projeto de música para surdos e um que ganhou vida na
cidade de São Bento do Una, conduzido por um amigo de
Garanhuns e que atualmente é o único projeto autorizado a
usar o Metrônomo Visual, percebo que estamos realmente
abrindo os olhos de muita gente e dando vez e voz a
milhares de surdos.
9 - O que mudou na sua prática como educador Musical, a
partir da pedagogia inclusiva ?

Hoje, quando recebo a visita de educadores ouvintes nas


minhas aulas para surdos, sugiro a eles que coloquem
protetores auriculares para ouvir menos e sentir mais,
acredito que sinto mais a música com o coração e menos
com o ouvido hoje em dia.

10- Quais benefícios sociais a atividade musical


proporcionou aos participantes do projeto?

A prática musical trabalha diretamente a auto estima e


melhora a qualidade de vida, além de trazer melhorias
significativas para o desenvolvimento cognitivo tais como:
percepção, atenção, concentração,

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