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JUSTIFICAÇÃO1

Paulo Roberto

INTRODUÇÃO
Como chegar a ter uma posição aceitável diante de Deus? O que devemos fazer a fim de
obter a vida eterna (Mt 19:16)? Sob a perspectiva humana, a resposta óbvia é: “não cometa erros”,
“viva uma vida irrepreensível”, etc.
O apóstolo Paulo descreve o problema fundamental da vida humana. Vejamos a seguir.

1 O problema fundamental do ser humano


Rm 3:23 “Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus”.
a) Pecaram → é um indicativo aoristo que, nesta sentença, expressa a ideia de que o
pecado é característico de nossa história passada, como um todo. Portanto, as
“obras da lei” (Rm 3:19-20) não podem ser a base para que alguém acerte tudo com
Deus. Todos cometeram erros suficientes para ficar sob a condenação da lei.
b) Mesmo que o nosso registro passado pudesse de alguma forma ser perdoado, isso
ainda não seria suficiente. Se começássemos tudo de novo, nossos melhores atos a
partir de então não seriam bons o bastante para atingir o padrão.
c) Carecem → está no tempo do presente contínuo (no grego). Isso enfatiza a natureza
permanente da nossa carência. A inadequação até das coisas boas que fazemos é
contínua e constante. Nossos melhores esforços não se aproximam do ideal. Todos
nós fracassamos continuamente em cumprir o padrão divino.
d) Salvação com base nos próprios esforções é impossível, por duas razões: 1º Nosso
registro passado de pensamentos e atos pecaminosos o qual não podemos mudar
(Rm 8:7). 2º Nossos melhores esforços no presente, mesmo nossas boas ações,
deixam de atingir o ideal que Deus mantém diante de nós (perfeita obediência).

2 Qual o meio de alcançar o favor de Deus?


Rm 3:24 “Sendo justificados gratuitamente, por Sua graça, mediante a redenção que há em
Cristo Jesus”.
a) Sendo justificados → é um particípio presente no idioma original. O tempo de um
particípio é entendido como sendo relativo ao tempo do verbo principal. Nesse
caso, os verbos principais são “pecaram” e “carecem”. A ação de um particípio
presente ocorre no mesmo tempo do verbo principal. Gramaticalmente, isso
significa que nós “estamos sendo justificados” não só em relação aos pecados

1
Assunto baseado no livro Deus no Mundo Real.
cometidos no passado, mas também em relação com os pecados que cometemos
enquanto continuamos carentes.
b) A justificação cobre os nossos pecados passados. Ex.: Davi (Rm 4:6-8).
c) A justificação cobre também nossa carência no presente. Ex.: Abraão (Rm 4:1-5).
Nota: A “justificação” não só perdoa o registro do passado; também cobre a diferença entre
nossos melhores esforços e os elevados e santos padrões de Deus. Nossa posição diante de Deus: no
ato do perdão e na contínua e permanente imputação de Sua justiça aos nossos atos diários. Nossa
posição diante de Deus não está sujeita aos nossos altos e baixos de nossa obediência diária, mas à
natureza permanente de Sua justiça perfeita!
“Os cultos, as orações, o louvor, a penitente confissão do pecado, sobem dos crentes fiéis,
qual incenso ao santuário celestial, mas passando através dos corruptos canais da humanidade, ficam
tão maculados que, a menos que sejam purificados por sangue, jamais podem ser de valor perante
Deus. Não ascendem em imaculada pureza, e a menos que o Intercessor, que está à mão direita de
Deus, apresente e purifique tudo por Sua justiça, não será aceitável a Deus. ... Oxalá vissem todos que
quanto a obediência, penitência, louvor e ações de graças, tudo tem que ser colocado sobre o ardente
fogo da justiça de Cristo!” Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 344.
“A pessoa que vê a Jesus pela fé, rejeita sua própria justiça. Encara a si mesma como
incompleta, seu arrependimento como insuficiente, sua mais forte fé como sendo apenas debilidade,
seu mais custoso sacrifício como escasso, e se prostra com humildade ao pé da cruz. Mas uma voz lhe
fala dos oráculos da Palavra de Deus. Com estupefação ela ouve a mensagem: "NEle estais
aperfeiçoados." Agora tudo está em paz nessa pessoa”. Fé e Obras, p. 107-108.
d) A obediência nunca pode ser a base sobre a qual nos tornamos aceitáveis a Deus. A
decisiva obra da salvação deve vir de fora de nós.

3 Com base em que Deus pode justificar aqueles que pecaram e carecem continuamente de Sua
glória?
Rm 3:23-26 “Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados
gratuitamente, por Sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no
Seu sangue, como propiciação, mediante a fé...”
a) Gratuitamente → A palavra grega aqui se encontra também em João 15:25: “Odiaram-
Me sem motivo”. Não fazemos absolutamente nada para merecer a justificação. Somos
justificados “sem motivo”.
b) Graça → No grego esta palavra está relacionada com “dádiva”. Graça é uma
qualidade que está no coração de Deus. A graça não diz respeito a algo que eu tenha
feito, mas a algo que Deus escolheu fazer por mim. Ellen G. White definiu graça
como “favor imerecido”. Não fiz nada para merecer o favor de Deus. Ele nos
considera de modo favorável, mesmo sem que o mereçamos. É isso que constitui a
graça. (Ver GC, 641).
Nota: Paulo não pára nesse primeiro passo (graça). Se tivesse parado, teria deixado a
impressão de que Deus é como um pai indulgente.
c) Em Cristo → A graça é outorgada gratuitamente, mas num outro sentido não é grátis,
custou tudo a Jesus. Somos justificados não só pela “graça”; também somos justificados
em Cristo mediante a redenção que Ele operou na cruz, somos justificados pelo
“sangue”. O sangue nos diz que a salvação não é barata; custou tudo a Jesus!
Uma vez quebrada a “lei”, uma vez tendo a pessoa cometido uma única falta, a “lei” não
poderá ser guardada perfeitamente. (Criou-se um abismo intransponível).
Jesus Cristo: 1º obedeceu a lei de maneira perfeita e perpétua em nosso lugar e 2º morreu a
segunda morte em nosso lugar.
A raça humana inteira participou da perfeita obediência do Homem Jesus. A todos aqueles
que “carecem da glória de Deus”, Jesus oferece o dom de Sua justiça perfeita, conquistada em 33 anos
de perfeita obediência aqui na Terra.
Mas, como podem os atos de um único homem ser igualados aos atos de tantos bilhões de
pessoas? Como pôde alguém morrer no lugar de tantos? Como podem os atos de Justiça de um homem
fazer expiação pelos atos imperfeitos de tantas pessoas pecadoras? Que tipo de combinação celestial
ocorre na equação divina da salvação?
Deixe-me fazer uma pergunta: quem é maior, a criação ou o seu Criador? Jesus é claramente
maior que a criação. Ele não só fez a lei moral do Universo, como também o Universo inteiro. Isso
explica porque não seria suficiente que um anjo morresse por nós. Tinha que ser o Criador. Quanto
valor tem Cristo, então? Ele vale o Universo inteiro porque é Aquele que criou tudo! Quando Jesus
morreu na cruz, um valor igual ao Universo inteiro estava em jogo. Como Jesus é o Criador, Sua
morte na cruz expia todo pecado que já se cometeu ou que poderia ser cometido. Ele é igual, em valor,
a tudo o que existe. Ele escolheu descer a esta Terra e obedecer a Deus de modo perfeito em nosso
lugar. Ele desceu e recebeu a consequência total do nosso pecado – morte eterna, extinção permanente.
Na cruz, os pecados do mundo inteiro foram colocados sobre Cristo. Em Cristo Deus tem o direito
legal de considerar cada pecador como justo diante dEle.
Ilustração: Durante a Guerra Civil americana. O jovem que recebeu o chamado para servir o
exército do Norte.
A morte de alguém pode ser aceita em lugar de outro. (2Co 5:21).
Nota: Cristo morreu por todos. Sua morte teve um valor igual ao do Universo inteiro. Isso
não deixa ninguém de fora. Mas, se Paulo tivesse parado nesse segundo passo, teria deixado a
impressão de que todos serão salvos.
d) Mediante a fé → A fé não é a base da nossa salvação. A fé não pode conquistar a nossa
justificação, de forma alguma. Somos justificados por causa de algo que aconteceu no
coração de Deus (graça) e de algo que foi feito em Cristo na cruz. A salvação é pela
graça e em Cristo.
e) Qual o papel da fé? Vejamos primeiro o que é fé. “Fé” não é uma obra; é um dom (Rm
10:17). Envolve não só a crença, mas também a confiança (Ed, 253; ME 1:389). A fé é
uma capacidade que Deus nos concede, mas também é uma escolha que devemos
colocar em prática.
A fé salvadora, genuína, não é uma obra, mas nunca vem sem obras. As obras são a
evidência de que nossa fé é genuína. Quando temos fé em Cisto – fé em um Deus que justifica – algo
acontece conosco. Somos salvos apenas pela fé, sem as obras da lei, mas a fé salvadora nunca está só.
Ela nos deixa pessoas transformadas.
Ilustração: Blondin, o equilibrista francês que atravessou as Cataratas de Niágara.
Fé significa apoiar a vida em Deus! Essa é a razão pela qual muitas pessoas não desejam a
salvação, mesmo que seja gratuita. Não querem entregar a vida a outrem.
Ser salvo pela fé não significa que não importa mais o que fazemos. Aqueles que são salvos
pela fé tornam-se pessoas mudadas.
Ilustração: O escravo José no mercado de escravos de Nova Orleans no início do século
dezenove.

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