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SAÚDE E AMBIENTE

ISSN IMPRESSO 2316-3313


ISSN ELETRÔNICO 2316-3798

A SEGURANÇA DA MOBILIZAÇÃO PRECOCE EM PACIENTES CRÍTICOS:


UMA REVISÃO DE LITERATURA
Caroline Mascarenhas Mota1 Vanessa Gonçalves da Silva2

RESUMO
A imobilidade pode causar várias complicações que tinham relevância a cerca do tema em questão e se-
influenciam na recuperação de doenças críticas, lecionados cinco artigos a partir do critério de inclu-
incluindo atrofia e fraqueza muscular esquelética. são, os quais foram agrupados em uma tabela para a
Esse efeito pode ser reduzido com a realização de apresentação dos resultados. A quantidade de mo-
mobilização precoce no ambiente da Unidade de Te- bilizações realizadas encontrava-se entre 69 e 1449
rapia Intensiva (UTI), devendo ser considerados fa- sessões. A maioria dos artigos usou como critérios
tores neurológicos, circulatórios e respiratórios para de mobilização os circulatórios, respiratórios e neu-
a realização de uma mobilização precoce segura. rológicos. O tipo de atividade variou de movimento
Diante disso, este artigo tem como objetivo revisar passivo à deambulação. Ocorreram eventos adversos
a segurança da mobilização precoce em pacientes em, apenas, 0,96% a 4,3% de todas as atividades
internados em uma UTI. Foi realizada uma revisão bi- realizadas. Com essa revisão foi constatada que a
bliográfica através de uma busca nas bases de dados mobilização precoce é uma intervenção segura, que
Medline (Medical Literature Analysis and Retrieval pode ser realizada em pacientes críticos internados
System Online), Lilacs (Literatura Latino-Americana em uma UTI.
e do Caribe em Ciências da Saúde) e Scielo (Scien-
tific Eletronic Library Online). A pesquisa biblio- Palavras-chave
gráfica resultou na obtenção de trinta e um artigos
completos, dos quais foram incluídos aqueles que Mobilização Precoce. UTI. Segurança.

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ABSTRACT RESUMEN
Immobility can cause several complications that influ- La inmovilidad puede causar complicaciones que influyen
ence the recovery of critical illness, including skeletal en la recuperación de enfermedades graves, incluyendo
muscle atrophy and weakness. This effect can be re- atrofia del músculo esquelético y debilidad. Se puede
duced with the implementation of early mobilization reducir este efecto con la implementación de la moviliza-
in the environment of the Intensive Care Unit (ICU), ción precoz en el entorno de la UCI (Unidad de Cuidados
and some neurological, circulatory and respiratory Intensivos), debiendo considerarse factores circulatorio,
factors should be considered in order to have a safe neurológico, respiratorio y llevar a cabo una movilización
early mobilization. Therefore, this article aims to re- precoz segura. Frente a eso, este artículo tiene por ob-
view the safety of early mobilization in patients admit- jeto examinar la seguridad de la movilización precoz en
ted to an ICU. A literature review was made through a pacientes ingresados en una UCI. Se realizó una revisión
research in Medline (Medical Literature Analysis and de la literatura a través de una búsqueda en Medline (Me-
Retrieval System Online), Lilacs (Latin American and dical Literature Analysis and Retrieval System Online),
Caribbean Health Sciences) and SciELO (Scientific LILACS (A Literatura Latino-Americana e do Caribe em
Electronic Library Online). Through the literature re- Ciências da Saúde) y SciELO (Scientific Electronic Library
view, thirty-one full articles were obtained, and just Online). La búsqueda bibliográfica resultó en la obtención
the five ones which were relevant to the topic were de los treinta y un artículos completos, entre los que se
selected. They were taken from the inclusion criteria, incluyeron los que tenían alguna relación con el tema en
and were then grouped in a table in order to have the cuestión y los artículos seleccionados de los cinco crite-
results presented. The amount of mobilizations was rios de inclusión, que fueron agrupados en una tabla para
between 69 and 1449 sessions. Most of the items la presentación de los resultados. La cantidad de movili-
used the circulatory, respiratory or neurological mo- zaciones fue de entre 69 y 1.449 sesiones. La mayoría de
bilization criteria. The activities ranged from passive los elementos utilizados como criterios para la movilizaci-
motion to walking. Adverse events occurred just in ón de los sistemas circulatorio, respiratorio o neurológico.
0.96% to 4.3% of all activities. With this revision it El tipo de actividad osciló entre el movimiento pasivo para
was evident that early mobilization is a safe interven- caminar. Los eventos adversos ocurrieron en el de sólo el
tion which can be performed in critically ill patients 0,96% al 4,3% de todas las actividades. Con esta revisión
admitted to an ICU. se constató que la movilización precoz es una intervenci-
ón segura que se puede realizar en los pacientes críticos
Keywords ingresados en la UCI.

Early Mobilization. ICU Security. Palabras clave

Movilización Temprana. Unidad de Cuidados Intensi-


vos de Seguridad.

1 INTRODUÇÃO
O repouso no leito, no passado, era frequente- co para a estabilização clínica do paciente crítico.
mente prescrito, pois se acreditava que era benéfi- No entanto, atualmente, sabe-se que a imobilidade

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pode influenciar na recuperação de doenças críticas, Os benefícios da mobilização incluem melhora da


devido às alterações sistêmicas associadas a ela, função respiratória, redução dos efeitos adversos da
como doença tromboembólica, atelectasias, úlceras imobilidade, melhora do nível de consciência, aumen-
de pressão, contraturas, alteração das fibras muscu- to da independência funcional, melhora da aptidão
lares de contração lenta para contração rápida, atro- cardiovascular e aumento do bem-estar psicológico.
fia e fraqueza muscular e esquelética; além disso, Além disso, pode acelerar a recuperação do paciente,
pode afetar os barorreceptores, que contribuem para diminuir a duração da ventilação mecânica e o tempo
a hipotensão postural e taquicardia (BROWER, 2009; de internamento hospitalar (STILLER, 2007).
KORUPOLU, 2009).
Apesar dos efeitos benéficos relacionados à mobi-
Desde a década de 1940, os efeitos nocivos do re- lização precoce em pacientes internados em UTI, é im-
pouso no leito e os benefícios da mobilização precoce portante avaliar alguns fatores de segurança antes da
têm sido reconhecidos em pacientes hospitalizados. realização dessas atividades nesse ambiente. Os princi-
Quando se fala em “precoce”, refere-se ao conceito de pais fatores de segurança que devem ser abordados são:
que as atividades de mobilização começam imedia- fatores intrínsecos ao paciente, como antecedentes mé-
tamente após a estabilização das alterações fisioló- dicos do paciente, reservas cardiovascular e respiratória;
gicas importantes, e não apenas após a liberação da e fatores extrínsecos ao paciente, como acesso vascular
ventilação mecânica ou alta da Unidade de Terapia no paciente, ambiente e equipe (STILLER, 2007).
Intensiva (UTI). A mobilização precoce na UTI preten-
de manter ou aumentar a força muscular e a função Diante da relevância de se realizar atividades físi-
física do paciente. Ela inclui atividades terapêuticas cas durante o internamento em UTI, este artigo teve
progressivas, tais como exercícios de mobilidade no como objetivo revisar a segurança da mobilização
leito, sentado na beira do leito, em ortostase, transfe- precoce em pacientes críticos internados em UTI, a
rência para uma poltrona e deambulação (KORUPOLU fim de esclarecer que é possível realizar este tipo de
et al., 2009; NEEDHAM et al., 2009). intervenção nestas unidades.

2 MATERIAIS E MÉTODOS
O presente artigo resultou de uma revisão da lite- guintes palavras-chave: imobilidade, mobilização pre-
ratura, em que foi realizada uma pesquisa bibliográfi- coce, segurança, unidade de terapia intensiva.
ca, através do uso das bases de dados: Medline (Medi-
cal Literature Analysis and Retrieval System Online), Após o levantamento bibliográfico, realizou-se
Lilacs (Literatura Latino-Americana e do Caribe em uma leitura seletiva, utilizando como critério de
Ciências da Saúde) e Scielo (Scientific Eletronic Li- inclusão aqueles que faziam referência, em seus
brary Online). A coleta foi realizada por dois avaliado- dados, a aspectos relacionados às palavras-chave
res independentes, que fizeram uma busca eletrônica anteriormente citadas e que tinham relevância
de estudos entre o período de 2000-2010; artigos de a cerca do tema em questão. Foram excluídos da
anos anteriores foram utilizados de acordo com a sua pesquisa os artigos sobre mobilização precoce de
importância. Durante a pesquisa, foram encontrados pacientes que não estavam internados em UTI. Pos-
e utilizados artigos científicos referenciando as se- teriormente, os artigos que discutiam sobre a segu-

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rança da mobilização precoce em pacientes críticos estudo, composição da amostra, quantidade de


internados em uma UTI foram agrupados em uma mobilizações, média de idade dos participantes,
tabela para a apresentação dos resultados. Foram critérios para mobilização, atividades realizadas e
extraídos dos artigos informações sobre o tipo de eventos adversos.

3 RESULTADOS
A pesquisa bibliográfica, inicialmente, resultou na Dos artigos encontrados, dois eram estudos do tipo
obtenção de trinta e um artigos completos que esta- coorte e prospectivo, dois eram estudos piloto e pros-
vam de acordo com as palavras-chave citadas ante- pectivo e um era estudo randomizado e controlado. O
riormente. Nesses artigos foram consultados seus re- número de pacientes que participaram das interven-
sumos para avaliar quais realizaram intervenções em ções na pesquisa variou de 31 a 330, estando numa
pacientes críticos internados em UTI, sendo, então, média de idade entre 54 a 68 anos. Nos cinco estudos
selecionados cinco artigos, os quais foram agrupados incluídos nessa revisão observou-se que a idade não
em uma tabela para a apresentação dos resultados. foi fator limitante para a mobilização na UTI.

Na Tabela 1 encontram-se as informações obtidas


após a análise dos artigos.

Autores Tipo de Nº da Quantidade Média de Critérios para Tipo de Eventos


Estudo Amostra de idade mobilização Atividade Adversos
Mobilizações

Kathy Stiller Estudo piloto 31 pacientes 69 57 anos Antecedentes Sentar na beira Alteração no
et al,. 2004 prospectivo mobilizações médicos do leito (56,5%) padrão respiratório
(14,5%)
Reserva Sentar na beira
cardiovascular da cama e de pé Tontura (2,9%)
(27,5%)
Reserva Queda da SpO2
respiratória Sentar na beira (4,3%)
da cama, de pé
Fatores e transferência
hematológicos para cadeira
(14,5%)
Temperatura
corporal Sentar na beira
da cama, de pé
Peso e deambular
(1,4%)
Aparência do
paciente

Nível de
consciência

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Polly Bailey Estudo 103 1449 63 anos Neurológico: Sentar na borda 14 eventos
et al., 2007 de coorte pacientes mobilizações resposta do da cama sem adversos (0,96%)
prospectivo paciente ao sustentação
estímulo verbal traseira (16%) Tombos no joelho
sem ferimento
Respiratórios: Sentar na (0,34%)
FiO2 ≤ 0,6 e PEEP cadeira (31%)
≤10cm H2O PAS < 90 mmHg
Deambular (0,27%)
Circulatórios: (53%)
ausência de SpO2 < 80%
hipotensão VM: 41% das (0,20%)
ortostática e mobilizações
uso excessivo de PAS > 200 mmHg
catecolaminas (0,07%)

Broncoaspiração
após remoção
da sonda nasal
(0,07%)

Peter E. Estudo 330 ___ 55,4 (Grupo Protocolo de Protocolo: Fadiga sem
Morris et al., de coorte pacientes controle) mobilização alterações
2008 prospectivo Nível I: significativas dos
Cuidados 54 (Grupo de movimentos sinais vitais
habituais: intervenção) passivos
165
pacientes Nível II a IV:
movimentos
Protocolo: ativos,
transferências,
165 atividades de
pacientes equilíbrio e
deambulação

Schweickert Randomizado 104 498 54, 4 anos 65 < PAM < 110 Movimentos 21 eventos
et al., 2009 e controlado pacientes mobilizações (Grupo mmHg passivos, ativo- adversos (4,4%)
controle) assistidos e
Grupo PAS < 200 mmHg ativo-livres SpO2 < 80% (0,2%)
controle: 57, 7 anos
(Grupo de 40 < FC < 130 bpm Transferência Cateter radial foi
Cuidados intervenção) de deitado para removido (0,2%)
habituais e 5 < FR < 40 ipm sentado
interrupção Instabilidade do
diária da SpO2 > 88% Transferência paciente (4%)
sedação de sentado para
(n=55) cadeira

Grupo Pré-marcha
intervenção:
Interrupção Caminhada
diária da
sedação
associada
com
exercícios
(n=49)

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Gael Bourdin Estudo piloto 275 424 68 anos Avaliação médica Sedestação na 13 eventos
et al., 2010 prospectivo pacientes mobilizações cadeira (56%) adversos das (3%)
(32-85 anos) Avaliação da
capacidade Inclinação com Queda no tônus
motora apoio (25%) muscular (1,65%)

Inclinação sem Hipoxemia (SpO2


apoio (8%) ≤ 88% durante 1
min) (0,94%)
Deambulação
(11%) Extubação não
programada
(0,23%)

Hipotensão
arterial ortostática
(0,23%)

A quantidade de mobilizações realizada foi bas- capacidade motora. As mobilizações encontradas va-
tante diversificada, estando entre 69 a 1449 ativida- riaram de movimento passivo até deambulação. E os
des realizadas. Dentre os critérios para mobilização, eventos adversos ocorreram entre 0,96% a 4,3% das
três das pesquisas levaram em consideração critérios atividades realizadas, sendo o mais comum entre os
neurológicos, respiratórios e circulatórios; um artigo estudos a dessaturação de oxigênio (O2), que não foi
utilizou um protocolo de mobilização (não especifi- citada apenas em um artigo, de Peter E. Morris et al.
cado) e o outro realizou uma avaliação médica e da (2008), onde não houve eventos adversos.

4 DISCUSSÃO
Pacientes criticamente enfermos, frequentemen- A mobilização precoce pode reduzir esses efeitos
te, permanecem em repouso no leito por vários dias ou deletérios do repouso prolongado no leito. Burtin et
semanas, podendo vir a sofrer complicações, tais como al. (2009) afirmam que o exercício pode aumentar a
atrofia e fraqueza muscular e esquelética, dentre ou- recuperação funcional do paciente, a autopercepção
tras consequências orgânicas associadas à imobilidade do estado funcional e a força do quadríceps no mo-
(BROWER, 2009). A fraqueza muscular é cada vez mais mento da alta hospitalar, quando instituído precoce-
reconhecida em pacientes admitidos em uma UTI e que mente em pacientes com permanência prolongada na
sobrevivem à fase aguda de uma doença crítica. Segun- UTI. Além disso, Kathy Stiller (2007) relata que para
do estudos realizados, ela ocorre em 25% a 60% dos pacientes criticamente enfermos, a mobilização pode
pacientes que recuperam a consciência depois de uma reduzir a incidência de complicações pulmonares,
semana de ventilação mecânica, tendo, muitas vezes, acelerar a recuperação, diminuir a duração da ventila-
repercussões por meses ou anos após a alta hospitalar, ção mecânica e do tempo de internamento hospitalar.
com impacto na realização das atividades de vida diária, Demonstrando-se, com isso, que tanto a saúde do pa-
na qualidade de vida e reintegração do paciente à socie- ciente como a redução dos custos podem ser otimiza-
dade (JONGHE, 2009; VINCENT; NORRENBERG, 2009). das com a mobilização precoce.

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Stiller e Phillips (2003) revisaram questões de parâmetros foram considerados; e Peter E. Morris et
segurança que devem ser consideradas quando pa- al. (2008) utilizou um protocolo de mobilização. Inde-
cientes com doença aguda forem mobilizados; os pendente dos critérios utilizados para a realização da
principais fatores que devem ser abordados incluem mobilização, não houve diferenças significativas nos
aqueles que são intrínsecos ao paciente, tais como resultados encontrados quanto à ocorrência de even-
antecedentes médicos, reservas cardíaca e respira- tos adversos.
tória; e fatores extrínsecos, como acessos vasculares
no paciente, ambiente e equipe; dentre outros, que No estudo realizado por Polly Bailey (2007), assim
incluem fatores neurológicos e hematológicos. Se- como o de Peter E. Morris (2008) foi observado que
gundo os autores, inicialmente, deve ser feita uma o tipo de mobilização mais frequente foi deambula-
revisão sobre a história passada de disfunções car- ção, 53% e 55,1%, respectivamente; contrastando
diovascular e respiratória, medicamentos que possam com os estudos realizados por Kathy Stiller (2004) e
afetar a mobilização e o nível funcional dos pacientes Gael Bourdin et al. (2010), onde no primeiro a inter-
antes da internação. Em seguida, realiza-se uma in- venção mais frequente foi sedestação na beira do leito
vestigação sobre a reserva cardiovascular, onde deve (56,5%) e no segundo, sedestação na poltrona (55%).
ser observada a frequência cardíaca (FC) de repouso Na pesquisa de Schweickert et al. (2009) não foi no-
menor que 50% da FC máxima predita para a idade, tificada a frequência das mobilizações. Apesar das
variação na pressão arterial menor que 20%, eletro- percentagens de mobilizações serem diferentes nos
cardiograma sem alterações e ausência de outras do- estudos, isso não foi indicativo de aumento de even-
enças cardíacas. Com relação à reserva respiratória, tos adversos relacionados à determinada mobilização.
o paciente deve apresentar uma relação PaO2/FiO2
maior que 300, SpO2 maior que 90%, padrão respira- Foram realizadas mobilizações em pacientes me-
tório confortável e a ventilação deve ser continuada canicamente ventilados em quatro dos artigos incluí-
durante a atividade. É importante ressaltar que não dos nesse estudo. No estudo realizado por Polly Bailey
é necessário que o paciente apresente todos os cri- et al. (2007), 41% das mobilizações foram realizadas
térios respiratórios e circulatórios para realizar a mo- em pacientes mecanicamente ventilados, das quais
bilização, devendo ser levada em consideração a ava- a deambulação foi a mais frequente; na pesquisa de
liação global do paciente e os riscos e benefícios da Gael Bourdin et al. (2010) foi observado que 33%
mobilização para o paciente. dos pacientes que realizaram as atividades estavam
em ventilação mecânica (VM); e 100% dos pacientes
Além desses critérios acima, destacam-se, ain- incluídos nos estudos de Schweickert et al. (2009) e
da, outros fatores que devem ser observados antes Peter E. Morris et al. (2008) encontravam-se em VM.
de iniciar a mobilização, tais como exames comple- Nesses estudos não foi observada associação entre
mentares, ausência de contraindicações ortopédicas pacientes mecanicamente ventilados e aumento de
e neurológicas, sinais vitais e aparência do paciente ocorrência de eventos adversos.
de dor, fadiga ou dispneia. A partir dessa avaliação
anterior, deve-se determinar o tipo, a frequência e a Os eventos adversos, descritos na literatura, rela-
intensidade das atividades. Os artigos de Kathy Stiller cionados à atividade são: queda sobre os joelhos, remo-
et al. (2004), Polly Bailey et al. (2007) e Schweickert et ção de acesso vascular, pressão arterial sistólica (PAS)
al. (2009), citados nesse trabalho, utilizaram critérios maior que 200 mmHg ou menor que 90 mmHg, hipoxe-
semelhantes. Gael Bourdin et al. (2010) utilizou como mia, hipotensão ortostática e extubação (BAILEY, 2007;
critério a avaliação da capacidade motora e avalia- BOURDIN, 2010). O evento adverso que apareceu na
ção médica, não sendo, no entanto, notificados quais maioria dos estudos foi a dessaturação de O2, sendo ob-

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servado em 4,3% dos eventos encontrados no estudo A baixa incidência de problemas nesses estudos
de Kathy Stiller et al. (2004), em 0,2% das intercorrên- sugere que a mobilização precoce é uma atividade se-
cias observadas por Polly Bailey et al. (2007) e Schwei- gura. É importante ter uma visão geral das questões
ckert et al. (2009); e no estudo de Gael Bourdin et al. de segurança antes de iniciar a mobilização, pois, isso
(2010), onde a queda da saturação de O2 (SpO2) não foi permite observar quais pacientes estão propensos a
quantificada. Desses estudos, foi instituído aumento sofrer intercorrências, além de ajudar a identificar
do suporte de O2 nos estudos realizados por Katty Stil- quais sistemas estão mais susceptíveis à ocorrência
ler et al. (2004) e Polly Bailey et al. (2007); os outros de instabilidades (SCHWEICKERT et al., 2009).
artigos não citam se houve necessidade de suplemen-
tação de O2. Esta queda da SpO2, provavelmente, ocorre Deve-se destacar, também, que um trabalho em
devido à deficiência dos sistemas cardiorrespiratórios equipe tem sido associado a uma melhor evolução do
dos pacientes em atender ao aumento da demanda de paciente. O artigo de Polly Bailey et al. (2007) relata que
oxigênio imposta pela mobilização (STILLER, 2004). cada evento teve a participação do fisioterapeuta, do
Devendo-se destacar que esse evento não levou à in- terapeuta respiratório, do enfermeiro e do técnico de
terrupção das mobilizações. cuidado intensivo. No protocolo realizado por Mor-
ris et al. (2008) houve a participação de uma equipe
Outro evento importante a se destacar foi a extu- de mobilidade que continha enfermeira de cuidados
bação não programada, que ocorreu em apenas um intensivos, auxiliar de enfermagem e fisioterapeuta.
paciente mobilizado, na pesquisa realizada por Gael Ratificando esses estudos, Perme e Chandrashekar
Bourdin (2010); no entanto, não foi preciso reintubar (2009) afirmaram que a abordagem multidisciplinar é
o paciente, devido a uma boa evolução do mesmo. essencial para a evolução do paciente, além de garan-
Todos os eventos adversos observados foram insigni- tir segurança durante a implementação do programa
ficantes, não sendo critérios para interrupção da mo- de mobilização precoce.
bilização precoce.

5 CONCLUSÃO
Com esta revisão, foi constatado que questões de adversos. A partir da análise dos artigos foi observado
segurança devem ser consideradas quando for mo- que é possível mobilizar o paciente de forma segura
bilizar pacientes críticos, tais como critérios respi- e sem intercorrências graves. Todavia, existe uma ne-
ratórios, circulatórios e neurológicos, pois, isso pro- cessidade de se realizar mais estudos acerca do tema
porciona uma atividade com menor índice de eventos abordado.

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1 Fisioterapeuta, Concluinte do Curso de especialização em Fisioterapia


Hospitalar, Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública.
Recebido em: 4 de julho de 2012
Avaliado em: 24 de julho de 2012 2 Fisioterapeuta, Concluinte do Curso de especialização em Fisioterapia
Aceito em: 12 de agosto de 2012 Hospitalar, Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública.

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