Você está na página 1de 17

1.

CONCEPÇÃO ESTRUTURAL

1.1 INTRODUÇÃO

1.1.1. GENERALIDADES

O concreto armado é um material que pela sua própria composição se adapta a


qualquer forma estrutural, atendendo, portanto, a inúmeras concepções arquitetônicas,
como atestam as edificações existentes pelo País.
Como exemplos marcantes podem ser citados os edifícios públicos construídos
em Brasília, todos eles em concreto armado, nos quais os arquitetos Oscar Niemeyer e
Lúcio Costa tiveram todas as suas concepções arquitetônicas atendidas com projetos
estruturais compatíveis.
Nos casos dos edifícios residenciais ou comerciais, as estruturas em concreto
armado devem ser projetadas em função da finalidade da edificação e da sua
concepção arquitetônica.
A estrutura portante para edifícios residenciais ou comerciais pode ser
constituída por elementos estruturais de concreto armado; de concreto protendido ou
por uma associação dos dois materiais; alvenaria estrutural - armada ou não; por
associação de elementos metálicos para pórticos e grelhas com painéis de laje de
concreto armado, com fechamento em alvenaria; e, mais recentemente com elementos
pré-fabricados de argamassa armada. Em algumas regiões do País se encontra a
utilização de estruturas de madeira para a execução de edifícios de pequena altura.
Em algumas edificações a estrutura portante em concreto armado é aparente, isto
é, olhando-se para ela se percebem nitidamente as posições dos pórticos e das grelhas
que devem sustentar as ações aplicadas. Em outras edificações, depois da obra
terminada, só se notam os detalhes arquitetônicos especificados no projeto, pois todos
os elementos estruturais ficaram incorporados nas paredes de fachadas e divisórias.
A decisão para se projetar a estrutura portante de um edifício utilizando uma das
opções citadas, depende de fatores técnicos e econômicos. Entre eles pode-se
destacar a facilidade, no local da obra, de se encontrar os materiais e equipamentos
necessários para a sua execução, além da capacidade do meio técnico para
desenvolver o projeto do edifício.
Neste trabalho se discutem as indicações para projetos de estruturas em concreto
armado, de edifícios residenciais ou comerciais, com estrutura constituída por pórticos
e grelhas moldadas no local da obra. Apresentam-se, também, as indicações para
projetos de painéis de lajes nervuradas moldadas no local e parcialmente pré-
moldadas.
A escolha do tipo de estrutura portante para edifícios residenciais e comerciais
depende de fatores essencialmente econômicos, pois as condições técnicas para se
desenvolver o projeto estrutural e as condições para a construção são de
conhecimento da engenharia de estruturas e de construções.
São analisadas as estruturas de edifícios residenciais ou comerciais constituídos
por pórticos verticais e grelhas horizontais, com as respectivas lajes, em concreto
armado moldado no local.
As fundações podem ser, de acordo com o tipo de terreno, em tubulões ou
estacas (fundações profundas) ou sapatas (fundações rasas). As ligações entre os
pilares e os tubulões ou estacas são feitas pelos blocos de coroamento.
Os cálculos dos esforços solicitantes atuantes em estruturas de edifícios de
concreto armado podem ser feitos por processo simplificado, que considera os
elementos estruturais separadamente, ou por processo mais elaborado, que considera
1-2
o conjunto de vigas e lajes como grelha e o conjunto de vigas e pilares como pórtico
plano ou pórtico espacial.
Os processos simplificados são aceitos pelas normas nacionais, que indicam
correções que devem ser feitas para se considerar a segurança de cada elemento
estrutural e do edifício como um todo. Assim, por exemplo, podem-se calcular os
esforços solicitantes em vigas contínuas sem considerar a ligação com os pilares
internos desde que as indicações da norma brasileira NBR 6118:2003 sejam
respeitadas. Com essa simplificação os momentos fletores podem ser determinados
por processo expedito, como por exemplo o Processo de Cross.
Processo de cálculo dos esforços solicitantes mais elaborado, com uso de
programa computacional deve levar em conta a continuidade do painel. O mesmo deve
ocorrer com as vigas que são consideradas como grelhas carregadas com as reações
de apoio das lajes determinadas elasticamente e com a consideração das alvenarias.
Os esforços solicitantes nas vigas e nos pilares, quando submetidos às ações verticais
como também as horizontais (vento), podem ser determinados considerando o efeito
de pórtico. A NBR 6118:2003 indica que se analise a estrutura do edifício com as ações
oriundas do desaprumo global. Entre os esforços solicitantes por causa da ação do
vento e do desaprumo, a norma indica que se considerem os esforços de maior
intensidade.

1.1.2 IDENTIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS ESTRUTURAIS

Nos edifícios usuais de concreto armado os elementos estruturais, que compõem


o sistema estrutural global, são constituídos pelas lajes, vigas e pilares ou a união
destes elementos, como por exemplo as escadas que são compostas por lajes e vigas.
Os pilares, junto ao nível do terreno ou abaixo dele se houver subsolo, são apoiados
em sapatas diretas ou blocos sobre estacas para transferir as ações para o solo.
Cada elemento estrutural deve ter função compatível com os esforços solicitantes
e sua segurança tem que ser garantida com relação aos Estados Limites Últimos e de
Serviço. O arranjo dos elementos estruturais é muito importante para a segurança da
estrutura e deve ser compatível com o projeto arquitetônico.
Para se realizar o arranjo estrutural é preciso conhecer os elementos e o seu
comportamento estrutural, tornando-se necessário classificá-los.
Vlassov [1962], indica uma classificação dos elementos estruturais fundamentais
seguindo critério geométrico, ao qual pode ser associado o comportamento do
elemento em função de sua posição na estrutura.
Além disso, é possível associar ao elemento estrutural os critérios da Mecânica
das Estruturas com os quais são determinados os esforços solicitantes.
No critério geométrico faz-se a comparação da ordem de grandeza das três
dimensões características [l1], [l2] e [l3] dos elementos estruturais, surgindo a
seguinte classificação.
a. elementos lineares de seção delgada - são os elementos que têm a espessura
(b) muito menor que a altura (h) da seção transversal e, esta muito menor que o
comprimento (l). Caracterizam-se como elementos de barras, como pode ser visto na
figura 1.1a.
Como exemplo podem ser citados os elementos estruturais lineares de
argamassa armada. Argamassa Armada é um tipo particular de concreto armado cujas
peças têm espessuras menores do que 40mm, conforme indicado na NBR 1259: 1989.
b. elementos lineares de seções não delgadas - são os elementos que têm a
espessura (b) da mesma ordem de grandeza da altura (h) da seção transversal e,
1-3
estas bem menores que o comprimento (l1). As barras são elementos que atendem
essa definição, conforme figura 1.1-b.
Os elementos lineares de seção não delgada, nas estruturas dos edifícios, são as
vigas, os pilares e, se houverem, os tirantes. As vigas e os pilares são diferenciados
pelo tipo de solicitação: as vigas são solicitadas essencialmente à flexão simples e os
pilares solicitados à flexão composta.
c. elementos bidimensionais - são os elementos estruturais que têm as suas
dimensões em planta (l1 e l2) da mesma ordem de grandeza e muito maiores que a
terceira dimensão que é a espessura (h), como mostrado na figura 1.1-c. São
elementos estruturais de superfície.
Como exemplo podem ser citadas as lajes dos pavimentos dos edifícios, as
paredes dos reservatórios paralelepipédicos, as lajes das escadas e as paredes de
arrimo necessárias quando o edifício tem subsolo destinado a garagens.

d. elementos tridimensionais - são aqueles que têm as três dimensões (l1, l2 e l


3) da mesma ordem de grandeza conforme figura 1.1-d. Exemplos de elementos
tridimensionais nos edifícios são as sapatas responsáveis por transferir as ações
atuantes nos pilares para o terreno, quando este tem resistência suficiente em
camadas próximas (até 2,0m) do nível do piso de menor cota. Podem ser adotadas
fundações profundas - estacas ou tubulões – exigindo, portanto, blocos para
transferirem as ações dos pilares para camadas profundas do terreno.

a) b)

c) d)
Figura 1.1 - Identificação dos elementos estruturais
[ Fusco, 1976, ]

Segundo Andrade [1982], para efeito de orientação prática pode-se considerar da


mesma ordem de grandeza valores das dimensões cuja relação se mantenha em 1/10.
Na classificação apresentada, embora completa do ponto de vista geométrico,
não se estabelece o comportamento dos elementos estruturais. Isso pode ser notado
com relação aos elementos lineares de seção não delgada, quando foram citados
1-4
como exemplos vigas e pilares, que fazendo parte dessa classificação geométrica
diferem com relação às ações que a eles são aplicados.
Para facilitar o entendimento far-se-á uma descrição de tipos de elementos
estruturais, usualmente encontrados em estruturas de edifícios, atendendo a
classificação geométrica associando ao comportamento estrutural.

1.1.2.1 Elementos lineares

Os elementos lineares, de seção delgada ou não, são caracterizados, segundo a


mecânica das estruturas como elementos de barras. Podem, portanto, ser submetidos
a solicitações normais e tangenciais. As solicitações normais são características das
barras submetidas à compressão uniforme, flexão composta - normal ou oblíqua, flexão
simples ou tração simples.
Nas estruturas de edifícios as barras submetidas essencialmente à flexão simples
são as vigas, que também estão solicitadas a tensões tangenciais oriundas da ação da
força cortante e, se for o caso, momento torçor. Os pilares são submetidos à flexão
composta. Os pilares são identificados, segundo a sua posição no desenho de forma
do pavimento tipo como sendo de canto, submetidos à flexão composta oblíqua, de
extremidade, submetidos, simplificadamente a flexão normal composta, e,
intermediário, submetidos à compressão centrada. As barras submetidas à tração
simples ou flexo-tração são os tirantes que têm a sua segurança verificada levando-se
em conta apenas à contribuição das barras de aço, pois no estado limite último à
participação do concreto solicitado à tração é desprezada.
No modelo estrutural mecânico idealizado para o sistema estrutural real, as vigas
têm a finalidade de servir de apoio para as lajes, absorvendo, portanto as ações a elas
transmitidas. As vigas por sua vez distribuem as ações para os pilares. Os esforços
solicitantes podem ser determinados considerando o efeito de grelha, embora eles
possam ser calculados supondo-as isoladas, isto sem considerar o efeito de grelha.
Com relação às ações horizontais atuantes nos edifícios, o sistema resistente é
constituído pelos pórticos verticais, pilares e vigas que, além de absorverem a ação do
vento, contribuem para a estabilidade global.
A figura 1.2 mostra o desenho da forma estrutural do pavimento-tipo de um
edifício, onde pode ser visto que é constituído por quatro lajes maciças L01, L02, L03 e
L04, todas com 10cm de espessura. As reações de apoio nas lajes são as ações
atuantes nas vigas que, por sua vez, aplicam suas ações nos pilares. O
comportamento estrutural das lajes deve levar em conta o monolitismo existente nas
ligações entre elas. Assim, elas podem ser consideradas engastadas entre si desde
que haja rigidez para isto; em caso contrário considera-se a menos rígida engastada na
laje contígua e a mais rígida apoiada na viga.
A consideração de vinculação entre as lajes depende também das rigidezes das
vigas do pavimento. No caso de grande deformabilidade das vigas não ocorre
momento fletor tracionando as fibras superiores das lajes (momento fletor negativo),
sendo que nesta situação fica conveniente considerar as lajes apoiadas nas vigas.
Deste modo dispõem-se apenas de armaduras posicionadas junto às faces
superiores das lajes com a finalidade de limitar as aberturas das fissuras. Estas
armaduras não têm a responsabilidade de absorver momentos fletores oriundos das
ligações entre as lajes.
A figura 1.2 representa a forma estrutural do pavimento-tipo do edifício exemplo.
O desenho foi realizado posicionando-se o observador no andar i - 1 e olhando para o
andar i. Isto se faz necessário pois, em caso contrário, as arestas das vigas deveriam
ser representadas por traços não contínuos, com exceção das arestas externas das
vigas de borda que estariam sendo vistas pelo observador.
1-5

FORMA – TIPO

Figura 1.2 - Forma estrutural de um pavimento - tipo de edifício

A figura 1.3 apresenta o desenho do corte vertical dos pavimentos-tipo, corte este
realizado pelo plano AA, conforme indicado na figura 1.2, perpendicular ao plano dos
pavimentos. Pode-se, nesta figura, visualizar os elementos lineares (barras) vigas e
pilares necessários para transferir as ações atuantes nas lajes dos pavimentos.
As ações atuantes são as ações permanentes diretas, que são os pesos próprios
dos elementos da construção, os pesos dos materiais de acabamento e de todos os
equipamentos fixos, e as ações variáveis normais que são ações realtivas a utilização
da edificação tais como pessoas, móveis, veículos e etc. Nas estruturas dos edifícios
devem ser sempre consideradas as forças atuantes pela ação de vento, que devem ser
absorvidas pelos pórticos verticais, constituídos pelas vigas e pilares da edificação.
Deste modo percebe-se a importância dos elementos estruturais de barras - vigas
e pilares - na segurança das estruturas de concreto armado destinadas a edifícios. As
vigas normalmente estão submetidas a ações uniformemente distribuídas, embora
possam, em casos que o projeto exija, receber ação concentrada por causa da
necessidade de se apoiar viga em viga, o que lhes dá uma situação de elementos
estruturais submetidos a esforços de flexão - momento fletor e força cortante.
Os pilares, em virtude da consideração de pórtico plano ou espacial, ficam
submetidos a esforços de flexo-compressão - momento fletor e força normal. Com a
consideração de ação horizontal têm também solicitação de força cortante.
1-6

CORTE A
ESC. 1:75
Figura 1.3 - Corte transversal dos pavimentos de um edifício

Como exemplo de elementos estruturais em argamassa armada podem ser


citadas as telhas de coberturas dos edifícios da Fábrica de Lacticínios de São Carlos
(figura 1.4) e do Departamento de Arquitetura e Planejamento - EESC-USP (figura 1.5),
demolido para dar lugar ao edifício da administração do Instituto de Física de São
Carlos.
Hanai [1992], descreve que em 1974 o Prof. Frederico Schiel, do Departamento
de Engenharia de Estruturas - EESC-USP, projetou para a Fábrica de Laticínios perfis
de argamassa armada para vão livre de 21.000mm, com balanços laterais de 2.500mm
e 5.500mm com altura da seção transversal típica de 620mm. Notar na figura 1.4 que
as espessuras das almas são iguais a 24mm, caracterizando elementos lineares de
seção delgada. A altura da mesa superior da seção transversal é variável, ocupando
1-7
posições diferentes de acordo com a variação do diagrama de momentos fletores. Por
outro lado, esta variação permite escoamento de águas pluviais.

b) SEÇÃO TRANSVERSAL

Figura 1.4 - Cobertura da Fábrica de Lacticínios São Carlos


[Hanai, 1990]

A cobertura do Departamento de Arquitetura e Planejamento – EESC - USP


(Figura 1.5), projeto do Arq. Antônio Domingos Bataglia, Eng. João Carlos Barreiro e
Arq. Carlos Augusto Welker, por sugestão do Prof. Schiel, todos professores da EESC
- USP por ocasião da construção, atende a vão livre de 12.000mm, com elementos em
forma de V com projeções das almas no plano horizontal igual a 1.000mm e no vertical
igual a 600mm, conforme figura 1.5. De acordo com Bataglia, citado por Hanai [1992],
”o projeto proposto foi o de fazer a montagem da placa dobrada pela junção ‘in loco’
das bordas de peças prismáticas pré-moldadas em forma de V. Cada placa tem duas
linhas de apoio e, conforme o bloco a ser coberto, balanços em uma das bordas”.
1-8

Figura 1.5 - Cobertura no Campus USP - São Carlos


[Hanai, 1990]

1.1.2.2 Elementos Bidimensionais

Os elementos bidimensionais são elementos de superfície, onde, como já visto,


duas das dimensões, medidas ao longo da superfície média, são maiores que a
espessura. Quando a curvatura na superfície média for nula os elementos estruturais
bidimensionais podem ser chamados de placas ou chapas, em caso contrário, ou seja
quando a curvatura for diferente de zero os elementos são chamados de cascas.
O elemento estrutural bidimensional é chamado de placa quando a ação
uniformemente distribuída é aplicada perpendicularmente ao seu plano e, quando esta
ação for aplicada paralelamente ao plano é chamado de chapa. Nas estruturas de
concreto armado estes elementos são chamados de lajes e paredes respectivamente.

a. lajes

As lajes, que são placas de concreto armado, são normalmente horizontais e, nas
estruturas dos edifícios, responsáveis por receber as ações verticais - permanentes ou
acidentais - atuantes nas estruturas dos pavimentos e das coberturas.
Nas estruturas de edifícios usuais as lajes representam, no conjunto total da
edificação, um consumo de concreto da ordem de 50% do volume total. Assim, é de
suma importância a sua análise como elemento estrutural por, além do consumo que
representa, estar sempre presente na composição estrutural.
As lajes podem ser maciças ou nervuradas (Figura 1.6), moldadas no local ou
pré-fabricadas ou ainda podem ser parcialmente pré-fabricadas.
As lajes maciças são aquelas que ao longo de toda a superfície a espessura é
mantida constante. Nas lajes nervuradas essa espessura é descontínua; a lajes
nervuradas é, portanto, constituída por nervuras distribuídas nas duas direções e por
uma mesa ligada as nervuras.
As lajes maciças ou as nervuradas moldadas no local, exigem, portanto, a
construção de uma estrutura auxiliar normalmente construída em madeira que sirva de
fôrma. Há necessidade também de cimbramento que pode ser em estruturas de
madeira ou metálica. Com o alto custo da madeira e analisando a questão ambiental,
1-9
mais recentemente têm sido utilizadas para a moldagem de lajes nervuradas fôrmas
constituídas por materiais metálicos e fibra de vidro.

Figura 1.6 - Perspectiva de parte de um edifício


[Mac Gregor, 1988]

Quando, por exigência arquitetônica, for previsto forro plano há necessidade de


fôrma na face inferior das lajes, dispõem-se blocos que podem ser cerâmicos, de
concreto leve, de isopor, de plástico, ou cilindros de papelão envolvidos em filme
plástico.
Com a finalidade de se economizar fôrmas, inclusive a posicionada junto à face
inferior da laje, pode ser adotado como solução estrutural para os pavimentos as lajes
pré-fabricadas, que podem ser maciças ou nervuradas.
As lajes maciças pré-fabricadas (figura 1.7), são constituídas por painéis de
pequena espessura, da ordem de 30mm, com largura de 330mm e comprimento em
função do menor vão da laje determinado em função da forma estrutural. A armadura
na direção do vão é posicionada por ocasião da execução do elemento pré-fabricado e
as barras têm comprimento maior do que o elemento, com a finalidade de ancorá-las
corretamente nas vigas de apoio. A armadura na outra direção é posicionada, na obra,
junto à face superior do elemento pré-fabricado.
Os elementos pré-fabricados são providos de uma treliça, posicionada ao longo
do plano médio que o torna mais rígido, possibilitando manuseio e transporte com
segurança e, além disso permite uma melhor ligação do concreto lançado na obra com
o concreto do elemento.
1-10

Figura 1.7 - Laje maciça pré - fabricada


[Catálogo Lajotec]

As lajes nervuradas pré-fabricadas, conforme mostrada na figura 1.8, têm a parte


inferior da nervura pré-fabricada e é fornecida em forma de T - invertido ou em forma
de seção retangular com treliça espacial. A seção T - invertido e a treliça têm a
finalidade de enrijecer o elemento com vistas ao transporte e posicionamento na obra.
Entre os elementos pré-fabricados são posicionados blocos cerâmicos de altura
compatível com a altura indicada para a laje nervurada. Depois de posicionadas e
cimbradas corretamente, faz-se a concretagem das nervuras e da mesa da laje
nervurada.
Como pode ser notado nas figuras 1.7 e 1.8 este processo construtivo elimina a
fôrma e diminui consideravelmente a quantidade de cimbramento propiciando
economia global da obra.
A decisão de se adotar lajes pré-fabricadas nas estruturas dos edifícios deve levar
em conta análises estruturais e de custos. Nos edifícios de muitos andares, por
exemplo mais do que cinco, deve ser analisada a conveniência de adota-las pois há
que se pensar no transporte dos elementos pré-fabricados, que é feito por elevadores
de obra. Este fato pode trazer acréscimo de custo e principalmente de segurança na
obra.
Todas estas variáveis devem ser analisadas de comum acordo entre o
engenheiro projetista da estrutura, o proprietário e o engenheiro da firma construtora;
só depois desta análise é que se deve optar pela utilização de laje pré-fabricada
levando-se em conta a disponibilidade de fornecimento na região onde a obra será
construída.
1-11

Figura 1.8 - Laje nervurada com parte da nervura pré-fabricada


[Catálogo Lajes Paoli]

As lajes pré-fabricadas podem ser também em elementos protendidos (figura 1.9)


de largura de 1.000mm nas espessuras de 100mm, 150mm e 200mm para vãos entre
vigas de 6.000mm, 8.500mm e 11.000mm respectivamente. Estes valores são
indicados para lajes de pisos e obtidos em catálogo da Associação Brasileira de
Construção Industrializada. As ligações entre os elementos são feitos por conectores
metálicos soldados na obra. Nesse caso os elementos podem ser auto-portantes, não
sendo necessários cimbramentos.

Figura 1.9 - Laje pré - fabricada protendida


[ABCI, 1986]
1-12

Pode ser adotado em projetos de edifícios como solução para os pavimentos as


lajes sem vigas, que são aquelas que se apoiam diretamente nos pilares, estando a
eles diretamente ligadas. Na ligação entre a laje e os pilares pode haver os capitéis,
que são troncos de prismas ou de cones (se colunas) em concreto armado, projetados
para se diminuir as tensões de cisalhamento e evitar puncionamento da laje. Figueiredo
Filho [1989] chama de laje sem viga aquelas sem capitel, conforme mostrado na figura
10, e, laje cogumelo as lajes sem vigas porém com capitéis, figura 1.11.

Figura 1.10 - Laje sem vigas


[Figueiredo Filho, 1989]

Figura 1.11 - Laje cogumelo


[Figueiredo Filho, 1989]

A solução estrutural em laje sem vigas apresenta como vantagem significativa o


fato de haver economia de fôrma com relação às vigas, exigindo fôrmas para os pilares
e lajes. Na verificação da segurança do edifício atenção especial deve ser dada à ação
do vento e estabilidade global, pelo fato de não haver vigas que participem dos pórticos
que enrijecem a estrutura.

b. paredes

Em princípio todo elemento estrutural, bidimensional, isto é, que tenha duas das
dimensões maiores que a terceira (espessura), posicionado paralelamente ao plano
vertical é chamado de parede, sendo identificado nos desenhos e memórias de cálculo
pela sigla PAR seguida de um número de ordem e das suas dimensões - espessura e
altura.
As paredes são chapas e, conforme já visto, são elementos estruturais
bidimensionais com ação agindo paralelamente ao plano médio. As paredes são,
portanto, chapas de concreto armado e com apoio contínuo, isto é, o apoio da parede
se dá ao longo de toda a base.
1-13
Definem-se como paredes estruturais as estruturas laminares planas verticais
apoiadas de modo contínuo em toda a sua base, sendo que o comprimento da seção
transversal é maior do que cinco vezes a largura.
Exemplos de paredes são as paredes de reservatórios paralelepipédicos para
água enterrados e apoiados diretamente sobre o solo, com a laje de fundo também
trabalhando como fundação. As reações de apoio das lajes de tampa e de fundo
transmitidas às paredes são ações uniformemente distribuídas e atuam paralelamente
ao plano médio.
Na figura 1.6 pode-se notar que entre o nível superior da fundação direta e a face
superior do nível do térreo há uma parede que tem dupla finalidade: deve conter o
empuxo de terra, em função do desnível - efeito de placa e receber a ação das lajes do
térreo - efeito de chapa, neste caso uma parede.

c. vigas-parede

As vigas-parede são estruturas laminares planas verticais apoiadas isoladamente,


isto é têm apoios discretos, ou sejam, blocos de fundações, sapatas ou pilares. A NBR
6118:2003 define vigas-parede aquelas que a medida do vão é menor do que três (3)
vezes a maior dimensão da seção transversal (altura).
Como exemplo de viga parede podem ser citadas as paredes de reservatório
paralelepipédico - figura 1.12 - pois além de trabalharem como placa (laje vertical) para
receber o empuxo de àgua, trabalham como chapa - viga parede pois recebem as
reações de apoio das lajes de tampa e de fundo.
No projeto de estruturas deste tipo, vale a superposição dos efeitos e, portanto, a
parede do reservatório deve ter a segurança verificada como placa e como chapa. As
armaduras determinadas para as paredes devem atender as situações de placa e de
chapa.

d. cascas

São as estruturas bidimensionais não planas e são elementos resistentes pela


forma e, não pela massa, normalmente curva que têm sido utilizadas na construção de
coberturas de grandes vãos, reservatórios com grande capacidade de armazenamento
e silos.
Na figura 1.13a está mostrada a forma de uma torre de refrigeração de água para
usina termonuclear; a figura 1.13-b representa um reservatório de regularização para
abastecimento de água; a figura 1.13c é relativa a um silo para armazenamento de
grãos ou reservatório para líquidos; a figura 1.13d se refere a uma edificação destinada
a ginásio de esportes ou reservatório cilíndrico.
1-14

CORTE HORIZONTAL

CORTE LONGITUDINAL BB CORTE TRANSVERSAL AA

Figura 1.12 - Forma estrutural de reservatório paralelepipédico

Figura 1.13 - Sistemas estruturais em cascas [Proença, 1986]


1-15

1.1.2.3 Elementos Tridimensionais

a. elementos de fundação

Em função das características de resistência do solo onde se apoia a estrutura,


escolhe-se o tipo de fundação. Sapatas são adotadas quando nas proximidades do
nível no qual deve ser locado o pavimento de menor cota, em relação ao nível original
do terreno, a resistência do solo é considerada satisfatória. As sapatas (Figura 1.14a)
são elementos tridimensionais e têm a finalidade de transferir para o terreno as ações
que são aplicadas ao pilar. A área de contato entre a sapata e o terreno é determinada
em função da tensão admissível do solo, determinada por investigação geotécnica.
Quando o perfil do terreno indicar o uso de estacas, cuja transferência de ações é
feita para o terreno pela resistência lateral e resistência de ponta, há necessidade de
se transmitir as ações atuantes no pilar para as estacas. Esta transmissão é feita pelo
bloco de concreto armado (Figura 1.14b) interposto entre o pilar e as estacas.

Figura 1.14 - Elementos de fundação

b. blocos de transição

Alguns terrenos não mobilizam resistência lateral, inviabilizando a utilização de


estacas como solução para a fundação. Adota-se, então, fundação em tubulões que
têm a finalidade de transferir as ações atuantes no pilar para níveis do terreno onde a
resistência é compatível com este tipo de fundação. Essa decisão também é tomada
em função da magnitude das ação atuantes no pilar e do fator econômico.
É feito um alargamento de base em forma de tronco de cone com a finalidade de
se baixar a tensão que está atuando no fuste do tubulão para compatibilizá-la com a
resistência do solo no nível considerado. A transferência da ação do pilar para o
tubulão é feita por bloco de concreto interposto entre o pilar e o tubulão.
Nos edifícios às vezes pode ocorrer a impossibilidade de se manter a posição de
tramos de pilar entre andares, isto é, não é possível manter o alinhamento do eixo
vertical do pilar. Isso se pelo fato de, em função da distribuição arquitetônica de
andares consecutivos, não ser possível manter o alinhamento. Há necessidade,
portanto, de se projetar um bloco de transição para transferir a ação do tramo superior
do pilar para o tramo inferior. O projeto estrutural do bloco de transição é feito
considerando-se modelo que segue o caminho das tensões. Quando este caminho é
desconhecido há necessidade de análise experimental.
1-16
c. consolos

Consolos podem ser definidos como vigas de pequeno vão em balanço com
relação entre vão e altura menor do que 1,0, segundo indicação de Leonhardt [1978].
Estes elementos estruturais se comportam são elementos tridimensionais e resistem as
ações aplicadas mobilizando resistência ao cisalhamento.
A sua ocorrência nas estruturas se dá como adendos aos pilares nos quais não é
possível transferência direta das ações. Por exemplo em edifícios industriais onde há
exigência de se prever a existência de ponte rolante, ou em pilares pré-fabricados
como indicado na figura 1.15 para apoio das vigas.

Figura 1. 15 - Consolos em pilares pré-fabricados


[ABCI, 1986]

1.1.2.4 Sistemas estruturais compostos de elementos

Existem sistemas estruturais correntes em estruturas de edifícios que são


compostos por dois elementos de comportamentos estruturais diferentes. É o caso, por
exemplo, conforme já comentado, dos reservatórios paralelepipédicos onde as paredes
têm função de lajes submetidas à ação da água representada por uma ação
triangularmente distribuída e, de viga parede em virtude das reações de apoio das lajes
de tampa e de fundo.
Outros sistemas estruturais são compostos por elementos estruturais
geometricamente diferentes, que são os casos das escadas e muros de arrimo.

a. escadas

As escadas são compostas por lajes que se constituem nos lances das escadas
que, por sua vez, se apoiam nas vigas posicionadas nas extremidades das escadas.
Vários são os tipos estruturais são possíveis para as escadas, tipos estes
definidos em função do projeto arquitetônico.
A figura 1.16 mostra uma escada em lances adjacentes constituída por lajes que
se apoiam nas vigas e estas, por sua vez, transferem as suas ações para os pilares.
Ao se moldarem as lajes da escada devem ser moldados também os degraus que
a constituem. Em edificações mais simples é possível se executarem os degraus em
alvenaria de tijolos, o que implica em menor ação nas lajes da escada, um pouco de
economia com fôrmas, porém modificando o processo construtivo.
1-17

PLANTA

VISTA AA

CORTE BB

Figura 1.16 - Forma estrutural de escada em lances adjacentes

b. muros de arrimo

Os muros de arrimo são estruturas destinadas a contenção de terrenos. Estão


portanto submetidos a empuxo de terra. Analisando a parede em contato com o terreno
na figura 1.6, percebe-se que ela pode sofrer deslocamento horizontal e tombamento.
Nesta condições há necessidade de uma sapata com a finalidade de equilibrar a ação
do momento de tombamento. A parede vertical tem o comportamento de placa, isto é
laje submetida a uma ação linearmente variável e determinada em função do tipo de
terreno. O comportamento da sapata também é de placa, porém apoiada sobre base
que pode ser considerada elástica.

Você também pode gostar