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Contribuições de Gilberto Velho para os Estudos sobre Carreira: Projeto e Metamorfose de

Indivíduos e Coletividades
Autoria: Gabriela DeLuca, Sidinei Rocha de Oliveira, Carolina Dalla Chiesa

Resumo
Este trabalho objetiva apresentar e discutir os conceitos de Gilberto Velho, e como estes
possibilitam ao aprofundamento teórico e a novas perspectivas para os estudos de carreira, com
vistas à uma elaboração interdisciplinar para compreender a carreira de um indivíduo ou
coletividade. Para tanto, revisamos as noções de projeto, campo de possibilidades, negociação da
realidade e metamorfose, bem como as noções de carreira, com especial enfoque no
interacionismo de Everett Hughes. Buscamos, assim, contribuir para o campo de estudos com
uma abordagem interdisciplinar e simbólica acerca da noção de carreiras.

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1 Introdução
A noção de carreira é recente em termos históricos, surgindo no decorrer do século XX,
ligada à ideia de sucessão de etapas em uma profissão ou em uma organização. Trata-se de um
fenômeno da moderna sociedade industrial, baseado nos princípios de igualdade, reconhecimento
do êxito individual e crescimento econômico e social, contrapondo-se aos modos de vida ligados
à tradição, predominantes na sociedade feudal (Chanlat, 1996).
Sendo a carreira um tema recente, mesmo já tendo sido interesse de autores de diferentes
campos científicos (psicologia, sociologia, administração, entre outros), ainda apresenta grande
potencial para discussão, principalmente no que se refere às diferentes nuances que o conceito
pode assumir nas sociedades contemporâneas. Entretanto, apesar da diversidade de campos para
explorar, a maior parte dos estudos que marcam a discussão sobre o tema nos últimos vinte anos
volta-se, de um lado, para a construção de modelos que possam explicar, em grande parte, as
trajetórias profissionais (ver Sullivan & Baruch, 2009; Inkson et al., 2012); e, de outro, reforçam,
principalmente, a dicotomia entre indivíduo e organização.
Esse foco altera-se nos últimos anos, tanto pela reflexão sobre os limites das principais
abordagens da discussão – carreira proteana e carreiras sem fronteiras (Sullivan & Baruch, 2009;
Ituma & Simpson, 2012) –, quanto pelo incentivo à busca de novas abordagens que permitam
maior interdisciplinaridade nesse campo teórico (Arthur, 2008; Chudzikowski & Mayrhofer,
2011; Khapova & Arthur, 2011; Lawrence, 2011). Além disso, permanece a crítica frequente
sobre falta de inovação nos trabalhos realizados sobre a temática, ponto amplamente reforçado
nos dois handbooks sobre o tema (Arthur, Hall & Lawrence, 1989; Gunz & Peiperl, 2007), apesar
das quase duas décadas que separam suas publicações.
Assim, para ampliar a discussão sobre o tema, bem como para apresentar uma contribuição
interdisciplinar para reflexões teóricas sobre o conceito, objetivamos com este ensaio discutir
como os conceitos da obra do antropólogo Gilberto Velho possibilitam o aprofundamento teórico
interdisciplinar para os estudos de carreira . Deste modo, o texto traz uma dupla proposta:
apresentar e discutir conceitos da obra de Gilberto Velho que permitam explorar trajetórias de
vida nas sociedades complexas; e discutir como estes conceitos podem ser apropriados para os
estudos de carreira, utilizando como interface uma orientação teórica principal pertinente ao autor
em foco.
Para realização deste objetivo, organizamos o trabalho em quatro partes, além desta
introdução. Na primeira, apresentamos a trajetória do conceito de carreira, explorando suas
principais vertentes e enfocando, com maior profundidade, a interacionista, a qual tem Everett
Hughes como expoente primordial. Em seguida, exploramos a obra de Gilberto Velho,
introduzindo os conceitos de campo de possibilidades, projeto, negociação da realidade e
metamorfose. Dado isto, passamos à discussão entre os conceitos apresentados, buscando as
contribuições que a perspectiva antropológica de Gilberto Velho pode trazer. Ao fim, colocamos
considerações para retomar e avançar nas reflexões decorrentes dessa discussão.

2 A trajetória do conceito de carreira e a retomada de Everett Hughes


O próprio conceito de carreira tem uma carreira (Hughes, 2003). O seu desenvolvimento
não aconteceu dentro de um único campo teórico ou disciplinar (Arthur et al., 1989), bem como
não teve o mesmo significado ao longo do tempo. Para a construção do conceito, diferentes
disciplinas apresentaram suas contribuições no decorrer do século XX e a maior parte delas,,
apesar de provenientes de diferentes campos, filiam-se às ciências comportamentais.
No início do século XX, os estudos sobre carreira ligam-se ao campo das profissões e à
estrutura das organizações. Este direcionamento altera-se com o crescimento dos estudos de base
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psicológica, a partir da década de 1950. No campo da Administração, o foco inicial dos estudos
de carreira concentra-se na organização, sendo compreendida como uma sequência de postos na
hierarquia, com ampliação das responsabilidades e senioridade (Arthur, Hall & Lawrence, 1989).
No século XXI, em modificando o contexto socioeconômico, no qual passa a se destacar um
ambiente de negócios dinâmico e competitivo das organizações, com espaços multiculturais de
trabalho e condições econômicas vulneráveis, há uma mudança da responsabilidade da orientação
da carreira para o indivíduo, que deve adequar-se continuamente às transformações do mercado
de trabalho. Nesta seção, pretendemos fazer um breve resgate dessa trajetória conceitual,
destacando algumas concepções clássicas do conceito e como ele tem sido trabalhado nos estudos
da atualidade.
Nos anos de 1930, ligado a Escola de Chicago, Everett Hughes contrapõe a base
funcionalista da sociologia de profissões americana, a partir de uma perspectiva interacionista.
Sendo o primeiro a tratar a carreira como um conceito (Barley, 1989), Hughes (1937) propõe que
ela seja compreendida como “a sequência de papéis e status e cargos realizados pelo
indivíduo” (Hughes, 1937, p. 404). Nesta ideia, a carreira compreende duas perspectivas: uma
objetiva, ligada aos status e cargos já estabelecidos naquela sociedade; e uma subjetiva, que
contempla a concepção do indivíduo sobre os aspectos objetivos que contempla e sobre sua
própria vida. Assim, para o autor, a carreira é, objetivamente, “uma série de status e cargos
claramente definidos” (Hughes, 1937, p. 409) pela estrutura da sociedade, notadamente nas
ocupações e, subjetivamente, “uma perspectiva dinâmica pela qual a pessoa concebe sua vida
como um conjunto e interpreta o significado de suas diversas características, das ações e das
coisas que lhe ocorrem” (Hughes, 1937, pp. 409-410).
A partir dos anos 1970, Edgar Schein realiza uma longa pesquisa para compreender as
âncoras de carreira, um autoconceito forte que permite manter os ideais profissionais internos do
indivíduo, mesmo em meio a grandes mudanças externas. Schein (1993) destaca que, seguindo a
orientação de seus estudos, os quais buscavam compreender inclinações profissionais, a carreira
significa “a maneira como a vida profissional de uma pessoa desenvolve-se ao longo do
tempo e como é vista por ela” (Schein, 1993, p. 19). Ao revisitar seu trabalho, Schein (1996)
destaca a importância do novo contexto das organizações para a compreensão das âncoras de
carreira. Para o autor, a noção de carreira se constrói na relação entre aquilo que o indivíduo
espera na esfera do trabalho (carreira interna) e o que é esperado dele, dadas as políticas
organizacionais e conceitos sociais estabelecidos (ambiente externo da carreira). O autor segue
defendendo que cada pessoa, em sua trajetória, forma uma âncora de carreira que, ainda que
possam mudar ao longo da vida, estas alterações estariam mais ligadas ao seu momento de vida e
aprendizado, do que a possíveis turbulências do ambiente externo. No entanto, apesar de
reconhecer esta existência de um duplo espaço para a compreensão da carreira, interno e externo
ao indivíduo, a relação entre estas duas esferas é pouco explorada tanto por Schein (1993, 1996)
quanto por aqueles que utilizam sua base conceitual. De modo geral, o foco centra-se na ação
individual por meio da classificação e análise de suas âncoras predominantes.
A partir do final dos anos 1980, crescem os trabalhos no campo da Administração sobre a
temática de carreira. Destacam-se o levantamento feito por Adamson, Doherty e Viney (1998), os
trabalhos de Douglas Hall e os handbooks organizados por Arthur, Hall e Lawrence (1989) e
Gunz e Peiperl (2007). Nessas obras predomina a separação dos estudos de carreira entre o nível
organizacional e o individual (Gunz, 1989).
Adamson, Doherty e Viney (1998, p. 252) fazem uma retomada dos conceitos de carreira,
partindo da compreensão corriqueira do termo: “referência para o que eles [as pessoas] fazem
para viver, para quem eles trabalham, ou o que eles detalham em seus curriculum vitae”.
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Segundo os autores, esta compreensão está bastante ligada ao funcionamento das organizações, o
que representa uma visão simplista, centrada nos mecanismos de gestão de recursos humanos,
reduzindo a noção de carreira à promoção e ao retorno financeiro.
Para contrapor esta ideia, Adamson, Doherty e Viney (1998) recorrem ao pensamento
interacionista da Escola de Chicago, indicando a necessidade de compreender um fenômeno
como situacional, relacional e cronológico. Os autores fazem uma série de apontamentos sobre o
que poderia se observar nas novas carreiras: a) a progressão na carreira não deve ser tomada
apenas como avanço hierárquico; b) um currículo bom talvez seja expresso na variedade de
atividades, incluindo trabalho e não trabalho; c) um currículo rico pode mostrar também
movimentos verticais e laterais de carreira; d) pausas na carreira poderiam representar momentos
de desenvolvimento de novas experiências de emprego. Embora estas reflexões sejam
enriquecedoras, as discussões sobre carreira nas últimas duas décadas centraram-se,
principalmente, em torno de dois modelos: carreira sem fronteira e carreira proteana.
A carreira sem fronteiras, baseado em Arthur (1994, p. 296) é “[...]o antônimo da
carreira “organizacional” que dominou a pesquisa empírica nos últimos tempos”. Ao invés
da tradicional dependência das carreiras organizacionais, está a noção de “independência” do
indivíduo, comum a todos os elementos citados na carreira sem fronteiras. Assim, segundo
Arthur (1994) e Arthur e Rousseau (1996), diferente dos modelos tradicionais, as carreiras não se
limitam às fronteiras de uma única organização, trabalho, ocupação, região ou domínio de
qualquer perícia particular. Pelo contrário, as carreiras implicam uma pluralização dos contextos
de trabalho e um tipo de contrato psicológico baseado na relação instável e orientada para a
oportunidade de um indivíduo com a sua organização. A carreira sem fronteiras tem como
proposta romper com a carreira organizacional orientada gerencialmente e, como causas, foram
apresentadas as mudanças no cenário econômico e organizacional, para o qual seria necessário
pessoas mais criativas, proativas, capazes de direcionar sua própria carreira (Inkson et al., 2012).
No caso da carreira proteana, temos uma referência ao deus grego Proteus para destacar a
inevitabilidade da mudança. Proteus, deus do mar, alterava sua aparência em uma resposta
adaptativa às mudanças no ambiente. Assim, segundo Hall (1996, p. 8), a carreira “é
impulsionada pela pessoa, e não a organização, e vai ser reinventada individualmente ao
longo do tempo, de acordo com a mudança pessoal ou do ambiente”. Hall (1996) destaca
dois componentes importantes desta nova carreira: a busca pelo sucesso psicológico e a
aprendizagem constante. O primeiro representa o sentimento de orgulho e realização pessoal
decorrentes do alcance dos objetivos, tanto pessoais quanto profissionais, diferenciando-se do
sucesso da carreira organizacional que seria o ganho financeiro. No segundo, a carreira deixa de
ser considerada por meio dos estágios cronológicos da vida, dando espaço para o aprendizado
contínuo e disposição para a mudança. Nesta, portanto, também se reforça a ideia de que a
carreira depende de versatilidade, constante adaptação e resiliência. A carreira proteana é uma
construção dividida entre mudança e permanência: de um lado, o “herói profissional” (Inkson,
2007) reage de forma adaptativa e de uma forma resistente a um período de transformação e de
um contexto social e econômico turbulento; de outro, ele precisa de um senso de auto-direção.
De modo geral, um dos grandes problemas destas duas correntes é a supervalorização da
ação individual, desconsiderando aspectos da estrutura social e organizacional. O enfoque
centrado exclusivamente no indivíduo negligenciou a presença ainda marcante das organizações,
regulamentos profissionais e outras formas institucionais que interferem nas carreiras. Apesar
disso, são as duas correntes que dominam o cenário internacional na atualidade, tornando-se o
status quo da discussão sobre carreiras (Sullivan & Baruch , 2009). Na revisão realizada por
Sullivan e Baruch (2009, p.1543) a respeito das transformações do conceito de carreiras, os
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autores propõem que as carreiras são “as experiências de trabalho e outras relevantes do
indivíduo, tanto dentro e fora das organizações, que formam um padrão único na trajetória
de vida do indivíduo”. Com esta proposta, os autores não postulam uma definição fechada, ao
contrário, encorajam outros pesquisadores a aprofundar e desenvolver insights, explorando novos
caminhos para compreensão do tema “carreiras”. Desta forma, torna-se necessário trazer as
fronteiras de volta para que os estudos sobre carreira possam avançar na discussão e amadurecer
o conceito (Inkson et al., 2012; Sullivan & Baruch, 2009).
Desta forma, buscando explorar estes insights e respondendo à chamada de
interdisciplinaridade através da apresentação de Gilberto Velho, nos voltamos para uma corrente
epistemológica que possa servir de eixo para relacionar a temática de carreira aos conceitos do
antropólogo. Assim, recorremos à perspectiva interacionista, a qual entendemos coerente com a
base epistemológica de Gilberto Velho, já que o interacionismo pretende melhor compreender a
coexistência das diferenças. Em tal perspectiva, o conflito é uma possibilidade permanente, pois
há “interesses e valores diferentes e, muitas vezes, antagônicos” (Velho, 2006, p. 51). Somado a
ele, o “confronto é a uma possibilidade dentro do complexo jogo de negociação da realidade, e
sempre é difícil prever ou antecipar em que domínios ele poderá ocorrer” (Velho, 2006, p. 51).
Assim, os interacionistas que faremos referência foram pensadores que acreditavam nas
contingências do contexto e em sua complexidade, e tiveram como berço a Escola de Chicago.
Eles acreditavam que a estrutura social seria um amontoado de estabilidades temporais num
processo em fluxo e recíproco, formando um mundo social de atores que tanto agem como “são
agidos” em seu contexto. Dentro disso, a principal noção nessa perspectiva é o “fato social
localizado” no tempo e no espaço (Abbott, 1997), ou seja, para serem entendidos, os fatos sociais
devem ser analisados dentro de um arranjo particular de tempo e espaço. Diversos estudos se
desenvolveram com essa perspectiva, dentre eles os de Everett Hughes (1937, 1958a, 1958b,
2003), sendo este o primeiro a colocar a carreira como um conceito. Nesse sentido, a carreira
seria um processo temporal com grande dependência contextual, extremamente influenciada por
outros fatores, sendo em parte homogênea temporalmente e, em outra, heterogênea (Abbott,
1997).
Os principais conceitos relacionados à noção de carreira na perspectiva interacionista de
Everett Hughes para este trabalho serão os pares conceituais que seguem: carreira sob as
perspectiva objetiva e subjetiva; as contradições entre elas pelas noções de conflito e dilema; e
a relação possível entre indivíduos e instituições (1937, 1958a, 2003). No entendimento de
Hughes (2003), todos têm uma carreira, independente de estarem ou não inseridos em uma
estrutura burocrática, já que, mesmo nestas, os indivíduos percorrem um caminho tortuoso,
permeado por contingências e irregularidades – por mais invisíveis que pareçam (Barley, 1989).
A carreira, como uma sequência de papéis e status, contempla, objetivamente, a série de
status e cargos pelos quais o indivíduo passa e, subjetivamente, a concepção dinâmica que a
pessoa faz - e interpreta - de sua vida (Hughes, 1937). Para fins de esclarecimento, trazemos o
exemplo de Becker (2008) ao apresentar as trajetórias de carreira de um usuário de maconha que,
por exemplo, pode ter um status de desviante e, mesmo, de criminoso. Por outro lado,
subjetivamente, não se vê como tal. Isso é possível posto que, dentro de seu grupo de usuários de
maconha, o status de desviante não existe (Becker, 2008). Dessa forma, o indivíduo concebe seu
papel social, que pode ser conflitante, ou não, com o status que carrega em determinado grupo. É
devido a este processo que o papel social é um produto social gerado pela concepção que o
indivíduo tem de si em relação aos outros (Hughes, 1937). Já os status são categorias sociais já
aceitas (Hughes, 1937), as quais carregam uma combinação padronizada de obrigações e
privilégios (Hughes, 1958a) e pode ser estabelecido por um papel social histórico, desempenhado
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por um indivíduo e replicado ao longo da história. O status é uma forma elementar de cargo, o
qual Hughes (1937) define como um grupo de obrigações e privilégios padrão sob os quais a
pessoa se submete em determinada situação. O crescimento de um grupo de cargos pode dar
nascimento, por sua vez, a uma instituição.
Devido a estas diferenças entre papel social e status (Hughes, 1937, 1958a) e mesmo
entre os diferentes status que a pessoa vive (Hughes, 1958a), pode vir a existir para o indivíduo
um conflito ou dilema, respectivamente. No conflito, acontece a contradição entre aquilo que o
indivíduo concebe como seu papel social e aquilo que é seu status (Hughes, 1937), ou seja, entre
os aspectos objetivos e subjetivos (Hughes, 1937). Essa situação contraditória pode também
ocorrer entre os aspectos objetivos: o mesmo indivíduo, ao longo de sua carreira e devido a suas
conquistas, pode transitar por status conflitantes. A esta situação, Hughes (1958a) chamou de
dilema. Por estar inserido em uma sociedade que permite (e encoraja) o trânsito, indivíduos de
origens diferentes podem se ver no mesmo status. Aquele que está entre esses "mundos", então,
se vê em um dilema: ser um ou ser outro.
Por fim, o esclarecimento quanto à interação recursiva entre indivíduo e instituição. Como
esclarecido acima, um papel social que se repete e se torna histórico pode originar um status; um
conjunto de status pode originar um cargo; e um conjunto de cargos, uma instituição (Hughes,
1937). Sendo assim, um papel social singular ao indivíduo pode, ao longo do tempo, dar
nascimento a uma instituição, ou seja, um indivíduo pode influenciar uma instituição. O
indivíduo tem sua carreira influenciada pelos aspectos objetivos e subjetivos, o que inclui as
instituições, sendo, em algum grau, limitado pelas possibilidades do contexto. Assim,
pretendemos demonstrar a relação recíproca entre eles: a instituição influencia o indivíduo e o
indivíduo influencia a instituição. Existe, portanto, uma recursividade entre indivíduo e
instituição, na qual as pessoas dependem das instituições e vice-versa, tornando-se a carreira o
elemento intermediário. Assim, para Hughes (1954), o estudo de carreira é o acesso empírico
para a relação entre ação social e estrutura social.
Tendo por pressuposto que o campo de discussão de carreiras necessita de perspectivas
interdisciplinares (Arthur, 2008; Chudzikowski & Mayrhofer, 2011; Khapova & Arthur, 2011;
Lawrence, 2011), buscamos, em seguida, aprofundar as noções antropológicas Gilberto Velho,
tendo em vista os objetivos do presente trabalho em torno dos conceitos centrais deste autor.

3 Os conceitos de Gilberto Velho sobre trajetórias e biografias individuais


Neste item, buscamos os escritos de Gilberto Velho, autor que faz parte de outra área do
conhecimento - a Antropologia - e que está inserido em preocupações diferentes das usuais nas
teorias de carreira. Além disso, Gilberto Velho, ao introduzir a obra “A Utopia Urbana” (1989, p.
12), aponta as limitações geradas quando se estabelecem compartimentos estanques de áreas de
estudo, posto que a análise da sociedade urbana, em sua complexidade, "exigirá o concurso de
diferentes tradições de trabalho” . As contribuições do autor serão exploradas a partir de quatro
elementos: campo de possibilidades, projeto, negociação e metamorfose.
Gilberto Velho foi um pesquisador cujas preocupações direcionaram-se à busca pela
compreensão das sociedades complexas moderno-contemporâneas em seus vários “mundos”,
fronteiras de significados e multiplicidades. Para desenvolver suas pesquisas no contexto urbano
brasileiro, Gilberto Velho buscou referenciais de diferentes tradições que procuravam também
compreender o espaço urbano e a realidade das metrópoles modernas. Uma dessas referências
encontra-se no âmbito da Escola de Chicago, onde o trabalho do Sociólogo Georg Simmel fora
influência teórica indubitável. Além deste, Schutz (2012), com seus escritos sobre fenomenologia
das relações sociais, é um antecedente fundamental da obra de Gilberto Velho, que será
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explorada adiante. Cumpre destacarmos, antes, que a sociedade complexa moderno-
contemporânea para Velho (1981) é uma sociedade na qual “a divisão social do trabalho e a
distribuição de riquezas delineiam categorias sociais distinguíveis com continuidade histórica”
(Velho, 1981, p.16). Além disso, “a noção de complexidade traz também a ideia de uma
heterogeneidade cultural que deve ser entendida como a coexistência, harmoniosa ou não, de uma
pluralidade de tradições” (Velho, 1981, p.16).
Dessa divisão, portanto, emergem categorias sociais que tendem a formar grupos que
compartilham tradições e valores culturalmente informados, nos quais o indivíduo está inserido –
perpassando, também, outros grupos, com outras tradições e outros valores. Por isso, cabe buscar
compreender a complexidade dessa sociedade relacionando diferentes âmbitos, como, por
exemplo, a família e a etnia. Dado isso, as metrópoles tornam-se um espaço no qual é possível
observar esse fenômeno da unidade e da fragmentação: se por um lado o sujeito se destaca,
devido à individualização revelada a partir de ideologias individualistas; por outro, também está
influenciado por unidades englobantes, como nação, família e igreja, que o inserem num locus
social para desempenho de papéis – processo este chamado de individuação. Tal dialética
compõe, entre outras características, a modernidade e, sendo assim, Velho (2003; 2005) também
considera as metrópoles como grandes “laboratórios” para observação de fenômenos
socioculturais. Nelas pode-se encontrar uma maior diversidade de domínios e papéis sociais com
evidentes descontinuidades e contradições.
Nas sociedades onde predomina a ideologia individualista, a noção de biografia é
fundamental, dado que a trajetória do indivíduo passa a ter significado como elemento
constituinte da realidade. Este se torna um indivíduo-sujeito que, segundo Velho (2003), inserido
na sociedade complexa, precisa traçar projetos para lidar com os sistemas de valores
diferenciados e heterogêneos com os quais se depara.
Embasando-se na fenomenologia de Schutz (2012), Velho (2003, p. 101) entende a noção
de "Projeto"i como: “a conduta organizada para atingir finalidades específicas”, tornando-se uma
antecipação da futura trajetória e biografia do sujeito. Para traçar seu projeto, o sujeito se utiliza
da dimensão da memória (Velho, 2003), de modo a considerar não somente a ação do presente,
como também as significações impressas nos acontecimentos passados. Para Velho (2003), a
memória é fragmentada, de modo que o sentido que o indivíduo dá a si mesmo depende da
organização de seus fragmentos ao longo de sua trajetória. Em sendo o passado descontínuo, a
memória que também constitui a construção de um projeto é uma construção posterior, a partir do
significado que o sujeito confere aos acontecimentos.
Cumpre observar que esse processo não é linear, nem contínuo ou homogêneo e, portanto,
deve ser compreendido em suas multiplicidades. Por representar um ponto de intersecção de
diferentes mundos (Velho, 2006; Simmel, 2006ii), o indivíduo-sujeito traça seu projeto
influenciado pelo “campo de possibilidades” em que está inserido.

Campo de possibilidades trata do que é dado com as alternativas construídas do processo


sócio-histórico e com o potencial interpretativo do mundo simbólico da cultura. O projeto
no nível individual lida com a performance, as explorações, o desempenho e as opções,
ancoradas a avaliações e definições da realidade. Estas, por sua vez, nos termos de
Schutz, são resultado de complexos processos de negociação e construção que se
desenvolvem com e constituem toda a vida social, inextricavelmente vinculados aos
códigos culturais e aos processos históricos de longue durée. (Velho, 2003, p.28).

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O campo de possibilidades é, portanto, o rol de alternativas que se apresenta ao indivíduo
a partir de processos sócio-históricos mais amplos que, além disso, passam pelo potencial
interpretativo da sociedade. Trata-se de algo que é dado, mas que passa, ao mesmo tempo, por
ressignificações em diferentes contextos, demonstrando o potencial de metamorfose do
indivíduo. O campo de possibilidades é um conceito fundamental para compreensão da maneira
pela qual os projetos movimentam-se ao longo de uma trajetória de vida, coerentemente ou não.
Dado o seu “potencial de metamorfose” (Velho, 2003), o indivíduo pode alterar projetos
ao longo de sua trajetória, “negociando” sua realidade, contemplada por outros projetos, de
indivíduos ou grupos. No caso destes últimos, chamados “projetos coletivos”, estão incluídos
traços de famílias, grupos, instituições, entre outros, todos passíveis de diferentes interpretações
individuais “devido a particularidades de status, trajetória e, no caso de uma família, de gênero e
geração” (Velho, 2003, p. 41). Assim sendo, mesmo os projetos coletivos não podem ser
considerados homogêneos, pois não é porque estes são coletivos que são igualmente
compartilhados por todos; projetos são continuamente reinterpretados.
Cumpre, neste momento, ressaltar o fenômeno de negociação da realidade, o qual
pressupõe a diferença como elemento constitutivo do mesmo. Esta diferença, contudo, está
inserida em um contexto de significados compartilhados, de modo que a heterogeneidade que se
revela na negociação da realidade não seja considerada um estraçalhamento do indivíduo, porém,
uma característica do social a partir da cultura. Em outras palavras, a rede de significados
(Geertz, 2008) não exclui diferenças, mas vive delas.
Apesar de Velho (2003) colocar como um de seus objetivos o resgate de uma possível
margem de manobra e iniciativa dos atores sociais envolvidos, pois “a interação vista como
processo social básico dá aos atores que interagem um papel de, não apenas agentes de
reprodução, mas de reinventores da vida social” (Velho, 2006, p. 50), eles não são indivíduos-
sujeitos em sua plenitude, pois também “são empurrados por forças e circunstâncias que tem de
enfrentar e procurar dar conta” (Velho, 2003, p. 45). Ou seja, por mais que exista a capacidade de
escolha, esta também estará ancorada em um conjunto mais abrangente de valores e
representações sociais (Velho, 2006).

Os projetos individuais sempre interagem com outros dentro de um campo de


possibilidades. Não operam num vácuo, mas sim a partir de premissas e paradigmas
culturais compartilhados por universos específicos. Por isso mesmo são complexos e os
indivíduos, em princípio, podem ser portadores de projetos diferentes, até contraditórios.
(Velho, 2003, p. 46).

É também a partir desse jogo de papéis que o indivíduo traça e transforma seu próprio
projeto, desenvolvendo o “potencial de metamorfose” (Velho, 2003). A viabilidade de suas
decisões vai depender desse jogo de interação com outros projetos individuais e coletivos (Velho,
2003). O projeto, portanto, sendo passível de transformação, se torna único ao sujeito: uma
caracterização de sua individualidade, uma orientação no percurso por entre campos de
possibilidades e, enfim, o instrumento básico de negociação da realidade. Nesse sentido, cumpre
observar um último conceito dentro da noção de trajetória de vida explorada por Gilberto Velho:
a metamorfose.
Por menor que seja a sociedade, esta não será totalmente homogênea. Poder-se-ia dizer
que a vida social reside na interação das diferenças, o que nas sociedades complexas, se revela de
modo ainda mais contundente. O trânsito frequente por entre províncias de significados “implica
adaptações constantes dos atores, produtores de e produzidos por escalas de valores e ideologias
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individualistas constitutivas da vida moderna” (Velho, 2003, p.44). No plano individual, a
participação nesses diferentes mundos desenvolve um potencial de metamorfose do indivíduo.
Tais noções revelam aspectos simbólicos fundamentais, pois, muito embora existam
mecanismos de massificação do indivíduo, na sociedade moderna, estes são interpretados de
formas diferentes, revelando a heterogeneidade cultural (Velho, 2003). A metamorfose demonstra
não somente a heterogeneidade sociocultural, como também a possibilidade de o indivíduo
transformar sua trajetória, mudar seu projeto e transitar por entre “mundos” ou “províncias de
significado” (Schutz, 2012). Portanto, a noção de metamorfose permite observar analiticamente a
flexibilidade e transformação, pois "os projetos, como as pessoas, mudam. Ou as pessoas mudam
através de seus projetos. A transformação individual se dá ao longo do tempo e contextualmente"
(Velho, 2003). Essas fragmentações devem ser vistas, como uma característica do social,
justamente por seu caráter simbólico.
No ambiente controverso da metrópole, existe um número maior de manobras possíveis.
A diversidade de papéis e a possibilidade de trânsito permitem a produção de identidades
multifacetadas. Em casos extremos, “a heterogeneidade e a diferenciação poderiam produzir
situações de fragmentação sociocultural” (Velho, 2003, p. 81). Porém, em verdade, "o potencial
de metamorfose permite, em geral, aos indivíduos transitarem entre diferentes domínios e
situações, sem maiores danos ou custos psicológico-sociais" (Velho, 2003, p. 82).
A “metamorfose” da qual Velho (2003, p. 29) discorre, possibilita “através do
acionamento de códigos, associados a contextos e domínios específicos [...] que os indivíduos
estejam sendo permanentemente reconstruídos”. O que se chama de potencial é, portanto, a
latência da possibilidade de transformação, devido ao fato de sua existência estar condicionada às
múltiplas realidades. Velho (2003, p. 29), enfim, alerta: “com isso, talvez, possamos escapar de
falsos problemas ditados por uma visão linear da experiência humana”.
Na próxima seção, buscamos integrar os conceitos de Gilberto Velho apresentados às
discussões sobre carreira, com especial enfoque no interacionismo de Hughes (1937).

4 Análise entre os conceitos especificados


A partir do que foi exposto, é possível trazer à discussão de carreira as possíveis
contribuições de Gilberto Velho. Para tanto, a análise a ser apresentada foi feita aproximando os
conceitos do antropólogo com a perspectiva interacionista de Everett Hughes, pois é esta que
possibilita tal intersecção, epistemologicamente coerente. Assim, focamos a análise em quatro
temas conceituais: primeiramente exploramos a noção de campo de possibilidades relacionando
com aspectos objetivos e subjetivos contemplados pelo sujeito; em seguida, a compreensão de
negociação da realidade e metamorfose aos conflitos e dilemas que emergem do sujeito que
transita por diferentes mundos; na sequência, a noção de projeto vinculada à recursividade entre
indivíduo e instituição; e, por fim, o mesmo projeto, complementado à ideia de memória,
explorados como verdadeiras contribuições para a discussão de carreira, tanto em Everett Hughes
como nas demais perspectivas sobre a temática de carreira. Em cada um dos quatro aspectos,
ainda, pretendemos esclarecer os possíveis vínculos vislumbrados às demais noções de carreira
apresentadas, além da interacionista, e as razões pelas quais entendemos que tais intersecções não
poderiam ser feitas coerentemente entre os autores.

4.1 Os campos de possibilidade incluem os aspectos objetivos e subjetivos de uma carreira


Em sendo o campo de possibilidades o rol de alternativas que se apresenta ao indivíduo
(Velho, 2003), entendemos que este contempla tanto os aspectos pré-estabelecidos de uma
trajetória, quanto aqueles reinterpretados no curso de uma vida. Tomando por base a noção
9
veiculada por Hughes (1937) em torno das objetividades e subjetividades presentes em uma
carreira, buscamos associá-la à noção de campos de possibilidade, uma vez que este inclui algo
que é dado histórica e socialmente na vida de um indivíduo, contemplando também as
subjetividades que promovem reinterpretações.
Assim, de um lado - o objetivo - pode-se enxergar a constituição de um campo de
possibilidades a partir de profissões, sistema de ensino, instituições, organizações, pré-noções e
valores socialmente estabelecidos que, de certo modo, são transitórios em sociedades complexas.
De outro - o subjetivo - podem-se compreender as reinterpretações daquilo que é socialmente
dado, de modo que o indivíduo exerça seu “potencial de metamorfose”, não apenas recebendo
aquilo que se apresenta a ele, bem como agindo a partir de uma rede de significados (Geertz,
2008).
Se o indivíduo negocia com diferentes “mundos” a partir de um campo de possibilidades
que se apresenta, e esta negociação acontece ao longo de uma carreira, podemos depreender que
este “campo” (Velho, 2003) perpassa aspectos objetivos e subjetivos de uma carreira (Hughes,
1937), na medida em que esta se sustenta nesses âmbitos para existir. Quando o indivíduo
negocia, em sua trajetória, a partir daquilo que se apresenta, tem-se uma negociação entre
elementos objetivos e subjetivos, continuamente.
Esta elaboração nos leva a destacar que a carreira, embora voltada à prática administrativa
e organizacional, perpassa apropriações e reapropriações de elementos objetivos e subjetivos de
uma biografia. Logo, se compreendemos que a carreira é uma construção realizada pelo indivíduo
a partir de objetividades e subjetividades que compõem um campo de possibilidades através do
qual ele transita e “negocia” a realidade, então, em decorrência, podemos entender que a carreira
depende dos campos de possibilidades.
Neste ponto, a relação entre objetividades e subjetividades traz semelhanças com a
elaboração de Schein (1996), que explora elementos internos e externos ao indivíduo. No entanto,
na elaboração do autor, esta relação se mostra bastante estática e dicotômica, prevalecendo a
perspectiva individual. A partir dos conceitos de Velho (2003), é possível contemplar o caráter
dinâmico e multifacetado das trajetórias, incluindo as profissionais, tendo como ponto de partida
as fronteiras que se apresentam nos campos de possibilidade.
Ao considerar que cada carreira é construída em campos de possibilidade, a noção de
carreiras sem fronteiras (Arthur, 1994) também pode ser contestada, uma vez que segundo esta
perspectiva toma por base apenas os limites das organizações como possíveis fronteiras. Em
Arthur (1994), escolhas pautadas por objetivos pessoais e que não privilegiassem a carreira na
organização seriam novos elementos para se considerar, rompendo com as fronteiras
organizacionais. Embora possa se concordar que as fronteiras das organizações sejam
reposicionadas, ao adotarmos os conceitos de Gilberto Velho, entendemos que algumas também
são mantidas, bem como existem fronteiras nos outros campos que se apresentam. Organização,
instituições, família, etnia, gênero, entre outros, podem representar fronteiras simbólicas que
serão negociadas e, por representar diferentes graus de dificuldade para transposição, trarão
resultados singulares.
Em outras palavras, o indivíduo somente é capaz de constituir uma carreira a partir das
possibilidades que visualiza em sua trajetória. Tais possibilidades são negociadas entre aquilo que
é dado - objetivamente - e aquilo que é interpretado - subjetivamente. Porém, para além de uma
relação entre subjetividades e objetividades, podemos compreender o exercício da negociação da
realidade entre âmbitos objetivos, aspectos estes explorados no item seguinte. Ademais, podemos
refletir outra noção de Hughes (1937, 1958a) a partir das concepções de Velho: os dilemas e as
negociações da realidade, respectivamente.
10
4.2 Dilemas e conflitos como negociações da realidade: metamorfoseando carreiras
Velho (2006) aponta que, em uma sociedade complexa moderno-contemporânea, o
indivíduo transita por diferentes mundos ou fronteiras simbólicas, com mais ou menos facilidade
decorrente de seu potencial de metamorfose, trânsito este que revela seu campo de possibilidades.
Desse trânsito, emerge o processo de negociação, no qual o indivíduo, uma vez tendo traçado um
projeto, negocia com as diferenças contempladas, singularizando suas escolhas e
metamorfoseando sua trajetória, ainda que limitado pelas objetividades da realidade em que está
inserido. Entendemos que esse indivíduo que transita por diferentes mundos pode ser
paralelamente comparado ao tipo-extremo de "homem marginal"iii, caracterizado como um
vivente fronteiriço, ou seja, que contempla e transita por diferentes realidades (Hughes, 1958a). É
este homem entre-mundos que terá, ao longo de sua carreira, dilemas quanto aos status diferentes
que vivencia (Hughes, 1958a), bem como terá conflitos devido às contradições que ele percebe
entre os aspectos subjetivos e objetivos de sua trajetória (Hughes, 1937). Esses dilemas e
conflitos podem gerar transformações na trajetória do indivíduo, posto que, na tentativa de
solucionar estas contradições, o indivíduo pode mudar sua trajetória (Hughes, 1937) ou criar
novos status e cargos que contemplem suas diferentes realidades (Hughes, 1958a).
Tanto dilemas e conflitos quanto o processo de negociação ocorrem devido à
possibilidade de trânsito por diferentes realidades, a qual só é possível devido o potencial de
metamorfose latente no individuo. Se com Hughes (1937, 1958a) dilemas e conflitos podem gerar
transformações subjetivas e objetivas para o indivíduo; e, com Velho (2003), as negociações de
realidade emergem projetos diferentes dos anteriores (Velho, 2003), metamorfoseando suas
trajetórias, compreendemos que, quanto maior a dificuldade em extrair seu potencial de
metamorfose, maior será o dilema e/ou conflito vivenciado. O dilema de Hughes (1958a), assim
como o conflito (Hughes, 1937), são, portanto, concepções e interpretações do indivíduo sobre o
campo de possibilidade e, suas existências, confirmam a heterogeneidade do campo, pois, se não
o fosse, as decisões ao longo da trajetória para estabelecimento de um projeto não passariam por
dilemas. Mesmo assim, entendemos que a metamorfose seja decorrente também de situações sem
dilema ou conflito, devido ao potencial de metamorfose daquele indivíduo que, apenas, negocia
diferenças não contraditórias. Por isso, compreendemos dilema e conflito como parte do processo
de negociação. Escolher por um rumo em detrimento do outro, trata-se apenas de um resultado a
posteriori a partir de possíveis dilemas e/ou conflitos anteriores, mas, independente destes, será
em decorrência de um processo de negociação.
O indivíduo, portanto, circula por diferentes mundos e tem um trânsito mais ou menos
facilitado devido ao seu potencial de metamorfose. Vivendo ou não dilemas e conflitos, esse
indivíduo negocia a realidade, metamorfoseando a si e aos projetos ao longo de sua trajetória - e a
tudo isso podendo ser percebido frente a projetos individuais como projetos coletivos. Assim
sendo, cumpre observar não a escolha isolada do indivíduo, mas sim, seu processo para chegar
até lá; percurso este que pode contemplar não apenas outros indivíduos, mas também instituições
- entendendo-as como parte dos aspectos objetivos do real.
Cabe ressaltar que a noção de metamorfose aqui trabalhada diferencia-se da noção de
transformação presente naquela da carreira proteana (Hall, 1996). Enquanto na perspectiva da
carreira proteana o indivíduo é um “ser heroico” capaz de assumir as diferentes formas
demandadas pelas organizações e mercado de trabalho, a metamorfose presente em Velho (2003)
é o ajuste do indivíduo ao trânsito de diferentes mundos, decorrente também do processo de
negociação e intersecção entre diferentes projetos individuais e coletivos. Nesta perspectiva, a
metamorfose não se limita apenas a esfera laboral, bem como reconhece as fronteiras da
11
mudança, ligando o sujeito à realidade objetiva que o circunda e reconhece a existência de limites
para sua ação.

4.3 Paralelo entre projetos, indivíduos e instituições


Segundo Velho (2003), o indivíduo traça seus projetos individuais influenciado por
projetos coletivos, de grupos, de instituições e de organizações. Os projetos coletivos, assim
como os individuais, não são homogêneos, devido às diferentes significações que cada indivíduo
dá a eles. Já Hughes (1937), ao tratar das carreiras como a sequência de status e papéis sociais,
coloca que tal sequência é decorrente de interações entre indivíduos-sujeitos (singulares) e
instituições (compreendidas como grupos institucionalizados, como a família e as instituições,
corporativas ou não). Dessa forma, a carreira do indivíduo é influenciada por estes grupos, como
aspectos objetivos que contempla, mas também as influencia, transformando-as e criando novos
status e cargos, inclusive pela vivência do dilema, como abordado no item anterior.
Ora, se projetos individuais são influenciados por projetos coletivos e os últimos o são
pelos primeiros, transformando-se mutuamente (Velho, 2003); e se a carreira do indivíduo
influencia as instituições e é influenciada por elas, também transformando-se mutuamente
(Hughes, 1937; Barley, 1989), entendemos que há um vínculo entre os dois autores nesse ponto,
o que nos faz concluir que este aspecto relacional e interacional possibilita a visualização e
admissão de que carreiras individuais são mutáveis, bem como as próprias instituições. Dado
isso, entendemos que a metamorfose (Velho, 2003) pode ser admitida tanto para indivíduo como
para instituição, dando singularidade à vida de cada um. A partir desse vínculo, portanto,
entendemos que a própria instituição, seja um grupo, uma organização, uma profissão, enfim, um
aspecto objetivo institucionalizado e com uma história, também pode ter uma carreira singular,
mutável pelas mesmas interações.
Esta relação entre individual e coletivo contribui para o rompimento da noção entre
agente e estrutura - ver Chudzikowski e Mayrhofer (2011), Tams e Arthur (2010), Svejenova ;
Vives e Alvarez Alvarez (2010) - que, historicamente, representa um dos grandes desafios de
articulação nas discussões de carreiras, já que a complexidade que a prática apresenta raramente é
contemplada nos modelos monolíticos apresentados (Chudzikowski & Mayrhofer, 2011), ou
permanecendo prevalecendo o desafio de uma proposta que contemple a relação de
interdependência mútua. Ao trazermos os conceitos de Gilberto Velho, buscamos esclarecer que
o campo de possibilidades que se apresenta não pode ser compreendido de maneira dicotômica e
estática, como apresentado nos estudos que articulam a discussão em torno de estrutura e agência,
mas sim como um emaranhado de projetos individuais e coletivos relacionados, influenciando-se
mutuamente. Esse entendimento rompe com a ideia da presença de apenas dois elementos no
campo da construção de trajetórias, pois um mesmo indivíduo pode traçar sua carreira na
negociação de projetos com família, comunidade, grupo étnico de referência, profissão e
diferentes organizações de que participa.
Essa proposta de articular a ação individual com os múltiplos atores (e projetos) com
quem o indivíduo negocia sua realidade, no campo de possibilidades que se apresenta, forma um
vínculo relacional entre indivíduo, organizações, instituições e profissão. Desta forma, permite
ampliar a análise sobre a relação entre tais atores e sua ligação na construção de carreira.

4.4 Memória e projeto: a relação entre passado e futuro na carreira


Tendo em vista as noções de projeto e memória, é possível analisar a carreira de um modo
temporal, a partir do passado e futuro como temporalidades que constituem a construção de uma
carreira. Como diz Velho (2003), a memória é fragmentada, pois o sentido que o indivíduo dá a si
12
mesmo depende da organização a posteriori de seus fragmentos ao longo da trajetória. Assim, a
consecução de um projeto como antecipação do futuro é algo que depende da construção que o
indivíduo faz de sua memória, tal qual abordamos adiante.
A partir da memória, o indivíduo confere significado aos acontecimentos passados
(Velho, 2003), bem como aos projetos que estabeleceu, revisitando também a sequência de
papéis sociais, status e cargos realizados por ele, tal qual Hughes (1937) define a carreira. Assim,
a carreira se relaciona com o passado, ainda que, por ser retrospectiva, não significa que seja fixa.
Em verdade, estando em função do passado, a carreira é o resultado de significações que o
indivíduo ou que o grupo faz no tempo presente, através dessa memória, revelando interpretações
e reinterpretações biográficas. Dessa forma, a carreira vislumbrada em relação à biografia é
mutável e singular, tanto quanto aquilo que o indivíduo possa projetar para seu futuro.
Segundo Velho (2003), o indivíduo antecipa seu futuro a partir de um projeto individual,
sendo o “instrumento” básico na negociação da realidade. Com ele, o sujeito, a partir dos campos
de possibilidade que vislumbra - os quais detém aquilo que Hughes (1937, 1958a) chama de
aspectos objetivos - negocia e determina um projeto como antecipação desse futuro e imagina os
futuros papéis, status e cargos pelos quais irá passar. Com isso, entendemos que o indivíduo
vislumbra uma carreira no futuro, tal qual o projeto que traça, passando a considerar outros
projetos individuais e coletivos. Seu campo de possibilidades também pode modificar com novos
projetos, dado que outros significados são atribuídos à realidade que vivencia, de modo que o
processo de negociação e metamorfose do indivíduo torne-se recorrente nesse cenário.
Embora a palavra tempo esteja nos conceitos de Hall (1996) e Schein (1993) a análise
biográfica, assumindo uma perspectiva histórica é pouco explorada, principalmente no que se
refere a relação entre passado, presente e futuro. Desta forma, ao articularmos as noções de
memória e projeto, a compreensão de carreira ganha uma dimensão histórica, na qual os projetos
são revisitados para o estabelecimento de novos. Esse entendimento permite que a compreensão
de trajetória de vida tenha um elemento histórico biográfico, que possibilita e torna fundamental
o retorno ao passado, e outro histórico perspectivo, que vislumbra a trajetória futura por meio do
projeto.

5 Considerações Finais
Neste trabalho, buscamos apresentar e discutir os conceitos de Gilberto Velho e como
estes possibilitam o aprofundamento teórico e novas perspectivas para os estudos de carreira.
Desta discussão, resgatamos alguns pontos que nos parecem centrais para o avanço do tema.
Primeiro, os conceitos de Gilberto Velho contribuem para a interdisciplinaridade no tema
da carreira na área de Administração, possibilitando a compreensão da ação de indivíduos,
grupos, organizações e instituições, por meio dos conceitos de projeto, campo de
possibilidades, negociação e metamorfose. Assim, tanto a visão de que a carreira deve ser
estruturada e possa ser controlada pela organização (visão tradicional de carreira), quanto a ideia
de que ela é uma construção centrada exclusivamente do indivíduo (carreira proteana e carreiras
sem fronteiras), merecem ser revistas. Como alternativa, foram apresentadas por Adamson,
Doherty e Viney (1998) novas percepções quanto à carreira, devido à mesma perspectiva
interacionista. Apesar de demonstrar a peculiaridade de cada carreira nestes apontamentos, os
autores colocam uma visão organizacional, ampliando as possibilidades de análise de um
currículo. Entendemos, no entanto, que a carreira vai para além de uma análise curricular,
passível de qualificações parciais. Além disso, não é contemplada, nesta visão, a possibilidade de
recursividade entre indivíduo e instituição.

13
Segundo, o rompimento da dicotomia agente-estrutura, que tem caracterizado a literatura
internacional por meio da utilização de conceitos que permitem mais dinamismo para
compreender, por meio na noção de projeto e de trânsito por entre campos de possibilidades,
como os atores (indivíduo, organização, instituições, etc.) influenciam-se mutuamente, trazendo
mudanças para ambos. A existência de projetos individuais e coletivos, sendo continuamente
negociados, permite dinamismo para a análise de trajetórias tanto individuais quanto coletivas,
quebrando com perspectivas estritamente deterministas ou voluntaristas, e reforçando a noção de
troca entre os atores e de reconfiguração dos projetos.
Terceiro, o entendimento deste dinamismo, unido à noção de metamorfose, amplia a
compreensão da carreira para algo não necessariamente fixo, mas potencialmente em
transformação. Sendo dinâmicos e mutuamente influenciadores, projetos individuais e coletivos
podem mudar constantemente, devido às diferenças contempladas pelo individuo e às
negociações vivenciadas e exercidas por ele. Assim, as metamorfoses são tanto uma causa como
um efeito do trânsito do individuo.
Quarto, a análise da carreira como um universo temporal, fazendo uso das noções de
memória e projeto, referentes ao passado e ao futuro, revela que a exploração do passado
contribui para a compreensão do presente e para compreensão projeção de uma trajetória porvir,
seja em relação a um indivíduo ou a uma coletividade. A análise desses elementos permite
compreender a maneira pela qual ocorreram os processos de negociação entre fronteiras
simbólicas e quais mudanças marcaram os projetos de cada ator até o momento presente. No
futuro, a carreira é a projeção que resulta de, e irá resultar em negociações de fronteiras
simbólicas, as quais contemplam subjetividades e objetividades.
Tendo em vista as proposições analíticas sobre carreira diferentemente das demais já
tratadas, bem como os conceitos explorados de Gilberto Velho, entendemos que carreira é, ao
mesmo tempo, uma trajetória retrospectiva e projetada, dinâmica e mutável, de um
indivíduo ou coletividade, revelando negociações entre objetividades e subjetividades.
A trajetória retrospectiva faz referência à noção de memória, que inclui os projetos
prévios do indivíduo ou coletividade. No mesmo sentido, a trajetória projetada faz referência à
noção de projeto, como antecipação do futuro. Portanto, “trajetórias retrospectivas e projetadas”
referem-se à sequência dinâmica de elaboração da carreira. Dinamismo e mutabilidade são
referentes às noções de recursividade entre os diferentes atores que fazem parte de um campo de
possibilidades, bem como à noção de metamorfose presente em uma biografia. Essa proposta
revela os processos de negociação decorrentes do trânsito por objetividades e subjetividades dos
campos de possibilidades, bem como as fronteiras simbólicas sendo tensionadas.
Pretendemos, assim, explicitar o quadro amplo daquilo que entendemos como carreira,
muito embora, compreendamos que são numerosas as peculiaridades das noções apresentadas.
Deste modo, sugerimos pontos que merecem ser explorados em trabalhos futuros, afim de
ampliar os entendimentos que propusemos, como agenda futura de pesquisa:
a) ao considerar a noção de projeto, sobretudo de projetos coletivos, o conceito de carreira pode
ser ampliado para a organização, tornando-se necessário explorar trajetórias coletivas em grupos,
organizações e instituições, de forma a discutir a noção de uma “carreira coletiva”;
b) Explorar de que maneira a base conceitual apresentada pode ser trabalhada metodológica e
analiticamente, uma vez que os aspectos teóricos não se desenvolvem em separado da discussão
epistemológica e metodológica (Rocha-de-Oliveira & Closs, 2013);
c) realizar estudos empíricos com diferentes atores, a fim de explorar a base conceitual discutida
e apresentada e refinar o conceito proposto; e,

14
d) refletir sobre a possibilidade de utilização destes conceitos nas práticas de Gestão de Pessoas e
Carreiras no cotidiano organizacional.
Este trabalho representa uma proposta inicial que requer ampliação da discussão teórica,
explorando novos limites dos conceitos e estudos empíricos para aprofundar as reflexões aqui
apresentadas. Acreditamos no potencial de interdisciplinaridade da proposta e na relevância de
situarmos a discussão de carreira com autores brasileiros. Dado este primeiro passo, será possível
esclarecer e aperfeiçoar os entendimentos, de modo a trazer colaborações para a pesquisa
acadêmica e para a prática administrativa.

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Sociologia de Max Weber, buscando compreender a experiência e a ação. Assim, a noção de “projeto” é fundamental
para compreender a conduta organizada do indivíduo.
ii
O filósofo e sociólogo Georg Simmel, cujos escritos inspiram a obra de Gilberto Velho, considerava a modernidade
uma multiplicidade de estilos, de mundos, os quais podem ser compreendidos em um indivíduo, dado seu trânsito
por diferentes formas da vida social.
iii
A ideia de "homem marginal" é tomada de empréstimo por Hughes (1958a) de Robert E. Park, o qual chamou
assim os casos especiais de pessoas que eram híbridos raciais e, como consequência, encontravam-se em uma
situação de dilema entre suas raças (compreendidas como status grupais).

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