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Acervo Dormevilly Nóbrega – Problematizações, técnicas e soluções abordadas ao

longo da triagem.

CUNHA, Álvaro Saluan da1

RESUMO
Este artigo consiste em apresentar o Acervo Dormevilly Nóbrega e as
dificuldades encontradas ao longo do processo de triagem do material, além
das técnicas utilizadas para a sua conservação e as diversas soluções
propostas para a melhor preservação da matriz, com enfoque nos
documentos de papel.

Palavras-chave: Acervo Dormevilly Nóbrega, Preservação do Papel, Juiz de


Fora.

ABSTRACT
This article is to present the Collection Dormevilly Nóbrega and difficulties
encountered during the process of screening the material, and the
techniques used for its conservation and the various solutions proposed to
better preserve matrix, focusing on paper documents.

Keywords: Collection Dormevilly Nóbrega, Preservation of Paper, Juiz de


Fora.

1
Graduando no Curso de História – Universidade Federal de Juiz de Fora – Juiz de Fora / MG
1. APRESENTAÇÃO
O acervo Dormevilly Nóbrega, começou a ser constituído em meados de
19342, tornando-se uma das mais importantes coleções formadas em Juiz de
Fora acerca de assuntos mineiros e principalmente da memória da própria
cidade, sendo integrado ao patrimônio da UFJF através de compra, nos termos
do processo nº. 23071.011589/2010-13, datado de 30 de julho de 2010,
denominado “Acervo bibliográfico – hemeroteca Dormevilly Nóbrega”, devendo
ser disponibilizado para acesso público nas instalações do Museu de Arte
Moderna Murilo Mendes, da UFJF3.

2. DORMEVILLY NÓBREGA
Nascido no dia 17 de dezembro de 1921, em Três Corações, Dormevilly
Nóbrega chegou a Juiz de Fora em 1932. Serviu o Exército durante a Segunda
Guerra Mundial. Atuou como figurinista e técnico de rádio. Aprendeu a esculpir
e a pintar com seu avô, que era marceneiro. Foi cantor de rádio e seresteiro,
além de professor de português, geografia e desenho. Como jornalista,
começou sendo tipógrafo aos 13 anos, na Folha Mineira e se tornou repórter
aos 16, trabalhando também nos jornais Gazeta Comercial e Diário Mercantil e
na Revista Marília. Ainda como jornalista, atuou em São Paulo, Rio de Janeiro
e Recife. Como servidor público, trabalhou na Prefeitura e na Câmara
Municipal de Juiz de Fora. Foi nomeado Intendente do município de Belmiro
Braga pelo governador Magalhães Pinto, tendo assessorado o primeiro prefeito
da cidade. Formado pela Sociedade de Belas Artes Antônio Parreiras,
Dormevilly também era artista plástico. Foi também membro-fundador da
Academia de Letras de Juiz de Fora e do Instituto Histórico e Geográfico de
Juiz de Fora. Sua intensa dedicação à preservação da memória da cidade
rendeu-lhe o título de Cidadão Honorário de Juiz de Fora (1954), a Medalha do
Mérito Comendador Henrique Guilherme Fernando Halfeld (1984), e a Medalha
do Sesquicentenário de Juiz de Fora (2003)4.

2 Cf. http://www.ufjf.br/secom/2010/04/16/ufjf-compra-acervo-do-jornalista-dormevilly-nobrega/
3 In: Relatório Final da Comissão
4 Cf. http://www.ufjf.br/secom/2010/04/16/ufjf-compra-acervo-do-jornalista-dormevilly-nobrega/
Segundo Dormevilly Nóbrega Júnior, o sonho de seu pai era que tudo
aquilo que ele havia guardado durante anos não saísse de Juiz de Fora 5.

3. ACERVO DORMEVILLY NOBREGA


O acervo começou a ser criado em meados de 1934, quando Dormevilly
tinha apenas 13 anos de idade e hoje se tornou uma das mais importantes
coleções formadas em Juiz de Fora sobre assuntos mineiros e, em especial,
sobre a própria cidade. O acervo constitui-se de:
 Documentos textuais, incluindo manuscritos diversos, alguns assinados;
 Contêm mais de 20 mil obras e periódicos, entre estes livros raríssimos,
coleções completas de jornais do século XIX, inclusive “O Pharol”, revistas da
metade do século XX, diversas obras de autores de juiz-foranos do final do
século XIX e início do século XX e outros autores brasileiros;
 Recortes diversos de periódicos sobre temas de interesse do titular;
 De algumas obras de arte tais como quadros, telas a óleo, desenhos, entalhes
e outras.
 Consta também o acervo pessoal de Dormevilly Nóbrega, contendo fichas
catalográficas, de livros, fitas k-7, bilhetes, fotos, manuscritos, documentos
datilografados, etc.

4. SIGNIFICADO DA AQUISIÇÃO DO ACERVO


Para o Reitor da UFJF, Prof. Henrique Duque, a aquisição do acervo foi
mais um exemplo de cidadania do juiz-forano. Em suas palavras: “Todos
ajudaram de alguma forma ao longo do processo e, hoje, posso dizer que o
acervo do Dormevilly Nóbrega pertence a todos.”. Ele ressaltou o empenho da
Pró-Reitoria de Cultura e a compreensão dos herdeiros do jornalista. “Vocês
foram muito importantes e fizeram aquilo que seu pai queria que fosse a
permanência de todo esse material em Juiz de Fora. Vocês honraram o nome
do pai e da mãe de vocês”, disse ainda o Reitor aos dois filhos de Dormevilly,
presentes na solenidade no dia 16 de abril de 2010, no Museu de Arte Murilo
Mendes6.

5 Cf. http://www.ufjf.br/secom/2007/07/31/ufjf-assina-convenio-com-familia-de-dormevilly-nobrega/
6 Cf. http://www.ufjf.br/secom/2010/04/16/ufjf-compra-acervo-do-jornalista-dormevilly-nobrega/
Segundo o Pró-Reitor de Cultura José Alberto Pinho Neves, “Falar do
acervo é voltar no tempo, principalmente para lembrarmos a generosidade de
Dormevilly, que tanto apoio deu a pesquisadores de diferentes áreas de
conhecimento.” Para ele, a nova aquisição da UFJF enriquece a política de
acervo da instituição e contribui para as pesquisas da memoria regional e do
município7.

5. DIFICULDADES ENCONTRADAS
Após a aquisição do acervo, ele deve ser prontamente preparado para o
público. O fato das obras em sua maioria serem antigas, muitas datadas a
partir do século XIX, ocorreu-se diversos problemas, sobretudo físicos,
causados pelos fatores naturais de decomposição do papel, determinado pela
qualidade da fibra e pelo processo de acidez. Embora Dormevilly Nóbrega
tivesse extremo cuidado com seu acervo ao longo de sua vida – inclusive
encadernando grande parte dos jornais e periódicos, diversos fatores
contribuíram para a degradação do papel, como por exemplo, os agentes
físicos: a luz, temperatura e umidade relativa; os agentes químicos: poluição
ambiental e poeira; os agentes físicos mecânicos: arranjo incorreto na estante,
manuseio incorreto e acidentes com água ou café, por exemplo, e os agentes
biológicos: micro-organismos (fungos e bactérias), insetos (baratas, traças,
brocas, cupins e piolhos), roedores e o próprio homem8. Além destes
problemas, outro obstáculo encontrado foi a inconsistência de dados nas obras
mais antigas, dificultando assim sua classificação biblioteconômica. Nas
pinturas e obras de arte, a ação do tempo foi menor devido à resistência dos
materiais utilizados.

6. PRESERVAÇÃO
Preservação é conjunto de procedimentos que resultam no retardamento
ou na prevenção da deterioração ou estragos no material. No caso do papel,
ocorre por intermédio de diversos fatores como o controle do meio ambiente e o
acondicionamento correto do material, visando guarda-lo de forma estável.

7 Idem.
8 Cf. http://www.arquivopublico.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=37
7. A CONSERVAÇÃO E SUAS TÉCNICAS
O procedimento técnico que tem como objetivo manter em condições
adequadas determinado tipo de documento para as gerações futuras é conhecido
como conservação, que só pode ser dirigida por profissionais habilitados ou
estagiários supervisionados, ambos com acesso a equipamentos e materiais
adequados para a sua execução9.
No acervo, foram postas em práticas algumas técnicas que serão
detalhados abaixo:

7.1. Higienização
Consiste em limpar os documentos, aumentando sensivelmente sua
vida útil. Geralmente esse processo é feito com um pincel em uma
mesa com aspirador de pó acoplado, ou apenas com um aspirador de
pó, removendo a poeira de todas as extremidades internas e externas
do livro10. Em alguns casos, usa-se um pano levemente umedecido com
uma solução de água e álcool para retirar a sujeira mais fixa na parte
externa.

7.2. Reparos
São concertos feitos em pequenos danos nas encadernações e/ou nos
documentos, variando de rupturas na capa ou nas páginas até a
colagem das folhas ou encadernações soltas. A reencadernação
também se encaixa no conceito de reparo.

7.3. Acondicionamento
São embalagens feitas geralmente de papel cartão em torno de 300
g/m², utilizando o sistema de dobras e encaixe, não necessitando de
nenhum material colante. O acondicionamento ajuda a proteger o
documento contra agentes externos, e a favor da integridade física da
obra.

9Cf. http://dci.ccsa.ufpb.br/enebd/index.php/enebd/article/viewFile/123/147
10LOPES, Maria Aparecida. Higienização como medida preventiva na conservação de
documentos (palestra). Londrina: [s.n.], 2000.
7.4. Vistoria
É o exame de todo o acervo, buscando identificar alguma irregularidade
como um ataque de micro-organismos, insetos ou outro agente que
possa danificar o material. No caso do Acervo Dormevilly Nóbrega, a
vistoria foi feita juntamente com a higienização, separando o material
infestado do material limpo.

7.5. Congelamento
O material infestado é separado dos demais, passando por um
processo de congelamento, onde é armazenado em sacos plásticos e
posto em câmaras frias, ficando de 3 a 5 dias, resultando no extermínio
de todos os insetos e micro-organismos presentes. Esse processo é
essencial para prevenir a proliferação nos livros ou documentos já
vistoriados e higienizados.

8. CONSERVAÇÃO PREVENTIVA
A conservação preventiva consiste em medidas que atuam contra a
deterioração do acervo, visando prevenir danos11. Dentre as principais medidas,
podemos citar algumas básicas como: manter as mãos limpas; não levar
alimentos no ambiente de manuseio dos documentos; usar ambas as mãos para
manusear o documento, evitando a quebra do papel; não rabiscar ou escrever,
seja com caneta ou lápis; evitar dobrar ou marcar as páginas seja com clipe ou
grampo; evitar o empilhamento de obras abertas umas sobre as outras;
conscientizar a sociedade e aos funcionários acerca dos procedimentos padrões
tomados, etc.

9. SOLUÇÕES
Com o enfoque em preservar a vasta gama de documentos danificados do
acervo, foram sugeridas e impostas algumas soluções que serão trabalhadas
abaixo:

11 Cf. http://dci.ccsa.ufpb.br/enebd/index.php/enebd/article/viewFile/123/147
9.1. Digitalização parcial do acervo
Com o intuito de manter as matrizes mais danificadas e antigas (sobretudo
os jornais) preservadas, uma das possíveis e mais viáveis soluções sugeridas
foi a de recorrer a outros arquivos da cidade de Juiz de Fora, solicitando as
cópias digitalizadas dos materiais já dispostos, evitando assim o contato direto
do pesquisador com a fonte original, preservando a integridade física de
grande parte do acervo, que se encontra em estado de destruição irreversível.
O acervo já conta com três computadores, facilitando ainda mais o acesso dos
visitantes. É importante também ressaltar a qualidade dos arquivos e sempre
ter as cópias de segurança, já que o material eletrônico também está sujeito a
erros e danos, principalmente se mal armazenado.

9.2. Consultas apenas dentro da imediação designada


Para não ocorrerem perdas ou danos maiores por mau manuseio do
material, não será possível o empréstimo de nenhuma obra ou documento do
acervo, podendo ser apenas consultado na sala designada do Museu de Arte
Moderna Murilo Mendes. Essa postura já é tomada por outros acervos da
Universidade Federal de Juiz de Fora, mantendo a integridade de todo
documento, seja comprado ou cedido.

10. JUSTIFICATIVAS
Quando uma pessoa constrói um acervo ao longo de sua vida, sua
principal intenção é que o mesmo seja preservado para o futuro, com a
finalidade de servir de fonte de pesquisa para as futuras gerações. Além disso,
este tipo de acervo em específico preserva não só a memória regional e da
cidade, mas também do próprio Dormevilly Nóbrega ao longo de sua vida,
dando um duplo testemunho. Os diversos documentos e peças permitem maior
conhecimento de aspectos da vida e personalidade do colecionador, da
sociedade e da cultura das quais são um produto.
O valor primário do acervo está representado pelo que o conjunto e cada
um de seus documentos ou peças representam por si mesmos. Porém, cada
visitante ou pesquisador pode atribuí-los diferentes valores, identificando neles
um potencial de dados e informações variadas, diferenciando-se de indivíduo a
indivíduo, podendo denominar este de valor secundário ou valor derivado.
A instituição que adquire a propriedade de um acervo assume um
grande compromisso com o patrimônio cultural da sociedade,
responsabilizando-se por oferecer as condições de sua custódia, preservação e
disponibilização.
O processo de conservação e suas técnicas fazem-se extremamente
necessários para a manutenção e longevidade de todo o acervo e suas
utilidades, sendo de vital importância o Acervo Dormevilly Nóbrega para a
história da cidade, não só pela preservação da memória de seu criador, mas,
sobretudo pela preservação da história sociocultural da cidade de Juiz de Fora
e região.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 – “Tombamento”, Secretaria de Cultura do Ceará, acessada em


http://www.secult.ce.gov.br/patrimonio-cultural/patrimonio-material/tombamento, dia
13 de setembro de 2012;
2 – SECOM, Universidade Federal de Juiz de Fora, “UFJF compra acervo do
jornalista Dormevilly Nóbrega”, acessada em
http://www.ufjf.br/secom/2010/04/16/ufjf-compra-acervo-do-jornalista-dormevilly-
nobrega/, dia 13 de setembro de 2012;
3 - Relatório Final da Comissão;
4 – SECOM, Universidade Federal de Juiz de Fora, “UFJF compra acervo do
jornalista Dormevilly Nóbrega”, acessada em
http://www.ufjf.br/secom/2010/04/16/ufjf-compra-acervo-do-jornalista-
dormevilly-nobrega/, dia 13 de setembro de 2012;
5 – SECOM, Universidade Federal de Juiz de Fora, “UFJF assina convênio
com a família de Dormevilly Nóbrega” acessada em
http://www.ufjf.br/secom/2007/07/31/ufjf-assina-convenio-com-familia-de-
dormevilly-nobrega/, dia 13 de setembro de 2012;
6 – SECOM, Universidade Federal de Juiz de Fora, “UFJF compra acervo do
jornalista Dormevilly Nóbrega”, Acessado em
http://www.ufjf.br/secom/2010/04/16/ufjf-compra-acervo-do-jornalista-dormevilly-
nobrega/, dia 13 de setembro de 2012;
7 – Idem;
8 – CUNHA, Murilo Bastos da, CAVALCANTI, Cordélia Robalinho de Oliveira
Cavalcanti. Dicionário de Biblioteconomia e Arquivologia. Brasília: Briquet de
Lemos, 2008.

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