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Estudos indicam o colapso de


investimentos no Brasil - 18/08/2019
- Mercado
Érica Fraga
5-7 minutes

O debate sobre o fraco crescimento do Brasil tem focado


cada vez mais o colapso do investimento. Análises ressaltam
que o desempenho ruim dos gastos com construção civil,
máquinas e inovação tem poucos precedentes históricos,
reacendendo a discussão sobre os prós e contras de uma
atuação direta do governo na economia.

Cálculos do pesquisador Paulo Morceiro, do Núcleo de


Economia Regional e Urbana da Universidade de São Paulo
(Nereus), mostram que a taxa de investimento da construção
civil como fatia do PIB (Produto Interno Bruto) teve, em 2018,
seu pior desempenho em mais de 70 anos.

Os 7,5% do ano passado só perdem para os 6,9% de 1948,


segundo ano da série histórica compilada pelo economista
com base em dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística).

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Já a taxa de investimentos em máquinas e equipamentos


fechou 2018 em 6,1% do PIB, nível mais alto do que em
outras crises, mas bastante inferior aos 8% de 2010, quando
a economia ainda crescia em ritmo acelerado.

Não há dados que já permitam estender a mesma


comparação para 2019, mas os resultados do primeiro
trimestre indicam continuação do quadro de fraqueza.

Levantamento da Abdib (Associação Brasileira de


Infraestrutura e Indústrias de Base) mostra que, em maio de
2019, o investimento —tecnicamente chamado formação
bruta de capital fixo— ainda estava 24,8% abaixo do nível
registrado no início da trajetória de queda, em abril de 2014.

Embora a mais recente recessão tenha terminado


oficialmente no fim de 2016, a reação dos gastos com obras,
modernização e ampliação de parques produtivos continua
lenta do ponto de vista histórico.

Os cálculos da Adbid, baseados em dados do Ipea (Instituto


de Pesquisa Econômica Aplicada), comparam a situação
atual com a verificada após outras recessões.

A crise provocada pelo apagão de energia elétrica, em 2001,


por exemplo, fez o investimento começar a recuar em maio
daquele ano, levando 39 meses para retornar ao seu nível
inicial.

Desta vez, o ciclo de fraqueza da formação bruta de capital


fixo é bem mais duradouro: estende-se por 62 meses.

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Um estudo recente dos economistas Guilherme Magacho e


Igor Rocha mostra que, assim como teve um papel
preponderante durante a expansão econômica da década
passada, a debilidade do investimento explica parcela
considerável da crise recente.

Os pesquisadores mensuraram a contribuição de três fatores


para a variação da produção: o consumo, as oscilações nos
preços das commodities (matérias-primas) e os investimentos
em infraestrutura e habitação.

Com base em dados das contas nacionais do IBGE, Magacho


e Rocha analisaram os efeitos desses componentes do
crescimento usando uma metodologia chamada matriz
insumo-produto.

Concluíram que a queda nos preços de commodities no


mercado internacional foi responsável por 34,5% do recuo da
produção do país, entre 2013 e 2016. Já as contrações de
investimentos públicos e privados em infraestrutura e
habitação responderam por, respectivamente, 20% e 21,2%
da redução.

A dinâmica do consumo das famílias teve impacto positivo


para a produção, principalmente porque o processo de
substituição de bens nacionais por importados, que havia sido
muito forte na década passada, perdeu fôlego.

O trabalho foi publicado como texto de discussão em julho


pelo Centro de Política Pública e Econômica da Universidade
de Cambridge, no Reino Unido, ao qual Magacho é

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associado.

“O efeito multiplicador do investimento é muito grande. Obras


de infraestrutura, por exemplo, empregam muitos
trabalhadores que direcionam renda ao consumo,
beneficiando outros setores”, diz.

O colapso dos gastos nos últimos anos ocorre tanto no setor


privado quanto no público.

Um dos efeitos não revertidos da recessão é a alta


quantidade de máquinas e equipamentos parados nos
parques fabris. Pelos dados da CNI (Confederação Nacional
da Indústria), em junho, 22,8% da capacidade instalada da
indústria estava ociosa. No mesmo mês de 2018 eram 22,3%.

Muito longe de seu limite de produção, o setor privado não se


anima a voltar a investir.

Com um alto déficit fiscal e um Orçamento engessado por


despesas fixas, como folha de pagamentos e aposentadorias,
o governo federal tem reduzido gastos mais flexíveis, como os
de infraestrutura.

Análise recente feita pelos economistas Myriã Bast e Igor


Velecico, do Bradesco, mostra que, no âmbito dos governos
estaduais, também houve severa queda dos investimentos
nos últimos cinco anos.

Descontada a inflação, despesas em áreas como


infraestrutura e saneamento básico caíram 70,7%, de R$ 63,1
bilhões, em 2013, para estimados R$ 18,5 bilhões, em 2018.

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“Embora os gastos da União sejam mais vultosos, o volume


investido por estados e municípios, como proporção do PIB, é
grande e, em algumas regiões, fundamental para a
infraestrutura”, diz Bast.

Sem a possibilidade de emitir dívidas para se financiar e com


limites para buscar crédito, a situação dos estados piorou com
a queda da arrecadação.

Para Bast, a redução do investimento combinada às


dificuldades de alguns estados para pagar salários e
fornecedores têm ajudado a limitar o crescimento econômico
do país. “Há um problema de demanda muito grande, que
gera um circulo vicioso”, diz ela.

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