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Criminologia e Política Criminal - Daniela Portugal

Bibliografia: leituras de textos indicados.Antimanual de Crim. e Intro a Crim. critica

Direito Penal aqui é voltado para dogmática excessiva. A própria professora não é
criminóloga, ela identificou a deficiência e pega a matéria por se interessar há anos.
Um olhar completamente diferente do estudo do crime é uma metodologia
diferente,enquanto ciência autônoma. Muito mais experimental que direito penal.
Abordaremos filmes ou peças,podem ser aulas fora da sala.
13a Emenda / Quem matou Eloá? / Música de Marília Pêra
Quais são as caracterizações essenciais da criminologia,para que serve, como se relaciona
com as outras ciências e controle social, que reflexões promove, se é uma práxis ou
ciência. A partir da criminologia, auto reflexão sobre a formação em Direito e outras linhas
mais transdiciplinares. Depois, a evolução do pensamento criminológico:o estudo do crime
na antiguidade,estados modernos, e como se confundia com o direito penal. Separação do
Direito Penal, teoria lombrosiana do criminoso nato e qual contexto racial está por trás
dessa teoria, criminologia crítica e teorias macrossociais, teorias do conflito e consenso,
como marcadores econômicos são determinantes pra criminalização.Fatores de gênero na
contemporaneidade,uma criminologia feminista,seletividade penal tradicional e a neo
seletividade aplicada aos crimes econômicos de colarinho branco até a Lava Jato.
Neurociência,pedofilia,e de que forma determina comportamentos,retomada da etiologia,
um determinismo não fenotípico mas agora genotípico? Transexualidade e aplicação da
Maria da Penha.
Vamos analisar o crime por aspectos que o curso geralmente não aborda.
Há uma professora de criminologia que não ensina no curso daqui.A faculdade de Direito é
hostil e não convidativa,o curso menos plural e não discute esses assuntos.
---- Não anotei a aula 2 ------- copiado de Aline

CRIMINOLOGIA

1) Conceito, objeto e método


2) Evolução histórica

O crime pode ser analisado através de várias perspectivas, havendo três vertentes que se
destacam nesse processo: i) a criminologia, ii) a dogmática penal e; iii)a política criminal.
Tratam-se de ciências que estudam o crime com enfoques distintos, mas que se relacionam
entre si.

• Criminologia ® se volta para as causas, a origem do crime (por que o crime ocorreu);
• Dogmática penal ® se volta para a decidibilidade do conflito
• Política criminal ® se volta para as formas de controle/combate

EXEMPLO 1:

Quando da análise do aumento do número de furtos de veículos em Salvador, será objeto


de investigação da:
→ Criminologia: o desemprego, a falta de policiamento, a indústria de seguros (possíveis
causas);
→ Dogmática penal: a norma que corresponde à conduta típica;
→ Política criminal: a implementação de políticas assistencialistas, o acirramento do
policiamento ostensivo, a redução da maioridade penal (potenciais formas de
controle/combate).

EXEMPLO 2:

Quando da análise do assédio dentro do ambiente universitário, será objeto de investigação


da:
→ Criminologia: as questões culturais, as questões ideológicas, os distúrbios
bioquímicos/neurológicos, a hierarquia, as questões institucionais, as questões econômicas
(possíveis causas);
→ Dogmática penal: o tipo penal que corresponde a essa conduta;
→ Política criminal: a educação de gênero, o processo administrativo, o processo criminal, a
implantação de delegacias dentro dos campi universitários, o diálogo, as rodas de conversa
(potenciais formas de controle/combate).

CRIME

CRIMINOLOGIA DOGMÁTICA PENAL POLÍTICA CRIMINAL

causas, origem decidibilidade do conflito formas de controle/combate

Criminologia × Política Criminal ® hoje são estudados de forma próxima; buscar-se-á


observar as causas para poder se discutir as soluções

1) Conceito:

Criminologia é a ciência que estuda o fenômeno criminoso com enfoque nos seus sujeitos
(autor e vítima), bem como nas formas respectivas de controle social.

Criminologia é ciência?
− objeto
− método

Objeto:

1. Antes estudava-se apenas o crime


2. Em seguida passa-se a estudar além do crime também o criminoso
3. Passa-se a estudar o controle social e a vítima, além do criminoso e do crime ® "Nova
Criminologia"
Conclusão: o objeto de criminologia NÃO é delimitado (é excessivamente aberto).

Método:
− Não há um método específico para a criminologia
− A dogmática penal trabalha normalmente com o método da subsunção do fato à norma,
ou seja, o método lógico-dedutivo (definição por influência do positivismo)
− Associa-se a criminologia, por outro lado, ao método causal-explicativo, mas não
exclusiva-mente. 9 Lombroso 9 influência do positivismo

Ciência é campo do conhecimento que possui metodologia própria e objeto próprio de


estudo. A criminologia não tem método e objeto delineados, assim, há autores que
defendem que é abordagem de estudo e outros que é ciência.

• Critica-se a natureza ou o caráter científico da criminologia sob o argumento de que não


possui metodologia própria e objeto delimitado, argumentando-se, ainda, que forma
generalistas do senso comum e somente alardeiam impressões sem embasamento técnico
ou teórico.
• Salo de Carvalho, no Antimanual de Criminologia, sustenta que se a inexistência de
interdisciplinaridade for requisito para ser ciência, melhor não ser um saber científico. A
criminologia é, sim, uma ciência peculiar, marcada especialmente pelo diálogo com outros
campos do conhecimento.

A dogmática penal tem muito a ver com a abordagem fenomenológica do crime - analisa,
por exemplo, o fenômeno da vida em caso de homicídios e tenta captar a essência
/denominador comum e tipificar a conduta “matar alguém - pena de x a y” ® redução do
fenômeno criminoso àquilo que seria sua essência.

A criminologia vem no caminho inverso da dogmática penal (que reduz as situações fáticas
a um denominador comum), assim, problematiza e amplia o estudo das situações fáticas;
todavia, há de haver um limite dessa ampliação (para não se perder). A criminologia muitas
vezes propõe a observação do problema com foco em elementos que não fazem parte da
dogmática.

Zaffaroni ® “A criminologia é saber ou práxis?”

→ Para Radbrunch, a criminologia é prática (práxis) de enfrentamento político (e não um


saber), não sendo neutra.
→ Schmitt colocava que o estudo criminológico era um saber neutro, não havendo lugar
para enfrentamento político.
→ Zaffaroni agrega as ideias de Radbrunch e Schmitt, agregando saber e prática.
2) Evolução histórica:

Franz von Liszt ® fala de “ciência penal total/integrada/conjunta”, propondo a integração


entre dogmática, política criminal e criminologia, de modo que, se houvesse conflito entre
esses ramos, prevaleceria a dogmática (grande crítica a Lombroso).

Direito Penal na Antiguidade ® inicialmente o exercício punitivo é relacionado à ideia de


vingança de tribo contra tribo (grupo, família, sociedade). Em seguida, se individualiza a
ideia de vingança (indivíduo × indivíduo). Ainda na antiguidade, tem-se o crime relacionado
ao pecado, sendo sua marca a vingança divina.

Direito Penal na Idade Média


Ainda tem-se a ideia de vingança
Penas cruéis (corporais, aflitivas)
O Direito Canônico possibilita uma humanização do exercício punitivo através da expiação e
da privação de liberdade (o indivíduo era isolado para refletir sobre seus pecados e
submetido a uma penitência).

Direito Penal Comum: (temor/terror/insegurança)


Estados Absolutistas e a centralização do poder punitivo no Estado. Nesse momento já há
separação entre o Estado e a Igreja, embora ainda houvesse forte influência.

Período Humanitário:
Herança da Revolução Francesa, com a edificação dos pilares da liberdade, da igualdade e
da fraternidade. Nesse momento, a liberdade se assume como direito fundamental. A pena
privativa de liberdade passa a se apresentar como principal modelo punitivo. E no fim da
revolução francesa, tem-se um momento codificador, com o advento do Código Civil
Napoleônico e consequente sistematização das normas, havendo a relação entre crime e lei
(novo: segurança) (que vai permitir o surgimento das escolas penais).

Escolas Penais - surgimento:


1) Escola “Clássica” (nomenclatura dada pelos positivistas de forma pejorativa)
− estudo teórico (elementos, princípios, conceitos)
− influência da metafísica
− estudava o crime sobretudo
− estudo desorganizado, sem uma linha dos autores, era um estudo pouco coeso com
vertentes distintas de pensamento (Beccaria, Carrara)
− explicavam o crime a partir da ideia de livre arbítrio

2) Escola Positiva:
− Estudavam o criminoso, influenciados pelo pensamento evolucionista (Darwin/Spencer),
alimentando a ideia de que o criminoso é um ser humano que não evoluiu.
− É uma preocupação prática, voltada especialmente para a prevenção de futuros delitos.
Parte do olhar de que o crime é explicado a partir do Determinismo (Cesare Lombroso).
− Dentro do viés determinista tem-se a antropologia criminal ou criminologia
etiológica/tradicional/biológica. O pensamento lombrosiano é contextualizado em uma busca
por conceitos práticos, valendo-se do método do experimentalismo.
− Estudo das características fenotípicas, medição do crânio, a fim de estabelecer
características antropormórficas do criminoso nato (ex.: nariz achatado, orelhas de abano)
® perfil não-europeu

• Lombroso trabalhava com diferentes tipologias de criminosos, dentre as quais se


destacavam o criminoso nato, o louco, o passional e o ocasional. O criminoso nato padecia
de atavismo ligado à sua essência, caracterizado nos seguintes traços degenerativos:
assimetrias cranianas, uso frequente de tatuagens, fronte esquiva, braços compridos e
genitais em tamanho superior ao normal. Atávico = de nascimento.

A escola positiva trabalha com a legitimação da medida de segurança (ex.: se estivesse


diante de um indivíduo com as características de um criminoso nato (estrangeiro,
não-europeu), deve-se prendê-lo e aplicar-lhe uma medida de segurança, pois se ele ainda
não delinquiu, hora ou outra o fará. Por outro lado, se estivesse diante de um indivíduo que
cometeu um delito, mas não se encaixa na descrição das características de um criminoso
nato (ou seja, um europeu), este será um louco ou um criminoso passional (atribuía-se
normalmente a mulheres).

O pensamento etiológico da criminologia ainda existe (sobretudo o lombrosiano), tendo


ganhado outras formas (ex.: cartilha das tatuagens direcionada à PM como linha de
formação ® perigo: legitimação de abusos por aspectos fenotípicos).

ÞAnalisando criticamente o pensamento de Lombroso, se o cometimento ou não de um


crime não representa a verdadeira razão de inclusão de alguém no sistema carcerário,
quais fatores verdadeiramente justificam? A lava-jato rompe com esse processo ou não?
----- aula 3

Criminologia Etiológica

Se volta para o etios,a substância ou essência. Essencialização.


⁃ Crime: produz o controle social. Não um produto do controle. A ação do
estado,da polícia,do sistema prisional é uma consequência do fator causal crime.
⁃ Crime: atributo do ato e determinados sujeitos,uma qualidade essencial de
determinadas condutas. Matar alguém,em si mesmo,já é um ato criminoso. Ser criminoso
também está atávico,relacionado a essência de determinados sujeitos.
• Homicídio X resistência seguida de morte. A essência é a mesma coisa,mas
a alteração da terminologia tem um sentido de direcionamento político mais que científico.
⁃ Crime: comportamento tido como exceção. A regra é se portar conforme a
norma,os desviantes são defeituosos. Normalidade. Depois a criminologia vai criticar que
todo mundo pratica crime,a exceção é o aprisionamento.
A neutralidade da pesquisa é comprometida desde o momento em que você escolhe o local
da sua pesquisa. Lombroso colhe a pesquisa experimental de campo os estabelecimentos
de encarceramento.
Qual o sentido de ser da busca da verdade no pensamento lombrosiano? Reproduzir os
métodos das ciências naturais,consagradas como ciência,no seu estudo para que a
criminologia também fosse elevada ao caráter científico.
Conotações racistas,voltado para um padrão não europeu distante do italiano. A própria
divisa e fluxos migratórios entre norte e sul da Itália.Se reproduz no Brasil por Nina
Rodrigues, e os resultados dessa pesquisa aqui trazem uma relação mais direta entre cor e
crime. Diferentes lugares,diferentes critérios e perfis de seletividade. É sempre uma
pesquisa racista,mesmo que não tenha um fenótipo fixo. Ao pensar num traficante, existe
cor e roupa no imaginário.
Tipologias dos Criminosos
⁃ Nato: 40% da população prisional. Indicado por fatores biológicos,sujeito
degenerado que padece de um atavismo,uma inerência, visão determinista. Não há livre
arbítrio para escolher não delinquir.
⁃ Louco: periculosidade,deve ser mantido em hospício por segurança. Alienado
mental por fatores biológicos. Neutralização e banimento da vida social.
⁃ Ocasional: não é deterministicamente criminoso pela biologia,mas existe uma
predisposição hereditária. Um pseudo criminoso,pelas circunstâncias e contexto.
⁃ Passional: sujeito naturalmente exaltado,irrequieto,impulsivo. Predisposto a
crimes por motivação.
No estudo da tipologia de criminosos,Lombroso levava em consideração fatores
biológicos(anomalias cranianas);fatores físicos(peso,idade);fatores psicológicos
(moral,vaidade) dando ênfase especial aos componentes físicos e biológicos para o estudo
da chamada Fisiognomia Criminal. Análise de fisionomia e caracteres antropomórficos para
a partir desses inferir aspectos psicológicos.
• Enrico Ferri:também positivista. Sociologia criminal.Aceitava o pensamento
lombrosiano,cunha a expressão do criminoso nato. Sua grande ênfase era nos fatores
psicológicos. Trabalhava de que maneira a interação entre sujeito e meio tornaria alguém
deterministicamente criminoso. Também negava o livre arbítrio. A ciência positiva não pode
deixar dúvida, objetivar para uma segurança. O sujeito normal nasce com a liberdade para
suas escolhas,o criminoso não. Haveria uma outra escala de pessoas com menos
liberdades,até o extremo do nato,que não tem nenhuma. Os causalistas trabalham
liberdade,os positivistas negam.Se nasce e se cria num meio tal, ele será
deterministicamente criminoso.
Quais fatores psicológicos revelam o criminoso?
⁃ Componentes de linguagem: uso de gírias e símbolos de identificação,escrita
⁃ Interação sujeito meio com componentes socioculturais, psicosociais
Escola Clássica X Positiva
• metafísica X evolucionismo
• Beccaria,Carrara e Bentham X Lombroso,Ferri e Garofalo(compilador)
• Fundamenta imputação em livre arbítrio X nega,fundamenta em
periculosidade
• Consequência jurídica: a pena X a medida de segurança
• Pune para retribuir o mal proporcional * X Prevenção de futuros
delitos(antecipa)
*Beccaria é o único que fala em prevenir.
Como ainda está vivo esse pensamento na atualidade?
A escola moderna alemã e a terceira escola italiana representam hoje uma síntese de
aspectos das duas anteriores, passa a ter a diferença no estudo da imputabilidade entre
imputável e inimputáveis,pena para uns e medida para outros. Dualismo vindo dessa
síntese. Os imputáveis seriam livres e os inimputáveis são predispostos,não chegam a
reacender o determinismo ao abordar anomalias biológicas e psicológicas.
Ainda está legitimado em vários dispositivos de legislação e decisões judiciais. Um dos
campos mais marcantes no uso da linguagem seletiva punitivista e exemplo de
essencialização: menor X criança, traficante X jovem encontrado...
Neurociência Moderna e Criminologia Etiológica
Benjamim Libet. Indicar por experimento como vai decidir antes da decisão. Ainda que não
agisse,antes da decisão,áreas do cérebro já permitiam prever como se comportaria. Aponta
que o livre arbítrio é uma farsa, somos guiados pelo inconsciente e a liberdade seria uma
falsa impressão,quando tomamos consciência da decisão formalizada,já estamos
direcionados. A escolha é apenas o conhecimento posterior do insconsciente,não há um
domínio livre para arbitrar.A pesquisa era inicialmente estritamente neurocientífica,mas
passou a ser apropriada pelo estudo criminológica. A escola clássica centrava a justificativa
da responsabilização criminal na lógica do livre arbítrio. A escola positiva opõe,negando e
propondo determinismo. As escolas modernas retomam a figura do livre arbítrio,ainda que
restringindo ao imputável. A pena vem pois você escolheu,livre,praticar um crime. Tendo em
vista essa pesquisa,como fica a compreensão da liberdade? Libet esclarece que não
haveria livre arbítrio,contudo também não significa um neodeterminismo. Se não há,o que
há? E o que será feito com o fundamento do direito penal atual?
Para Paulo Busato,é uma obviedade que não somos integralmente livres assim como não
somos plenamente determinados, é o que prova a pesquisa de Libet. Diante disso,Busato
utiliza a teoria da ação comunicativa de Habermas afim de reconstruir a noção de liberdade
e com isso mantê-la como fundamento da imputação penal. O conceito de liberdade então
será (re)construído a partir da relação interacional entre sujeitos(comunicativamente); você
poderá dizer se eu sou mais ou menos livre que alguém,é uma noção construída no campo
da linguagem. Daí você poderá ter uma margem de manobra maior até para novas figuras
de exclusão da imputabilidade,que fujam do catálogo tradicional de doenças. Porquê não
havia liberdade nesse caso? Repensar por exemplo a dependência de drogas e a
liberdade,por exemplo. Pensar mais abertamente em culpabilidade e os fatores de
comprometimento da liberdade. Quem é e quem não é livre naquela relação,relativo X O
meio de Ferri é determinado.
"O jurista tem a necessidade de ficar na borda da piscina e não nadar no meio para não
perder a segurança para a profundidade." M.Guerra,hermeneuta.
Uma das normas brasileiras que reacende esse debate é a nova lei de identificação
criminal(12037/2009),art 5 p. único: Coleta de material biológico para perfil genético. O
juiz,visto que existem outras formas,vai avaliar a necessidade e dar autorização. Armazenar
esses dados em banco de dados administrado por perícia criminal,mas sem revelar perfil
somático e comportamental,exceto gênero...
Questiona constitucionalidade. Permite coletar sem dizer como vai ser feita essa coleta. Em
que medida viola o direito e garantia de não constituir prova contra si mesmo. A lei fala em
não usar para isso,mas já se fazia isso na inteligência da polícia.
----3/11
Parte da segunda nota é um artigo temático em grupo,correção ao longo das aulas.
Para escrever um artigo,faça um sumário provisório e procure os temas dos tópicos, fontes
de pesquisa através do sumário. Organize essas fontes,onde no seu trabalho você vai usar
cada coisa,montando uma ordem.Aí realiza a leitura das fontes com coleta e sistematização
de citações. Depois de tudo feito,você escreve e transforma as citações em indiretas ou vê
quais cabe manter como direta pequena(até 3 linhas) ou direta com recuo(4cm). Trace um
cronograma,quantas páginas você pretende escrever? Isso reflete quantas páginas de
citação coletar,e você pode encaixar nos dias quanto ler e separar por dia. Quando for
escrever,já tem tudo organizado e em ordem do que você precisa falar pra estruturar seu
texto. Já tendo lido tudo,a parte demorada da escrita sai mais solta. Pode estabelecer
metas diárias pra escrever.

Lombroso e Espiritismo
Se retrata sobre ter combatido os fenômenos espíritas,os reconhecendo. Representam em
alguma medida a superação da certeza causal e experimental da escola positivista,quando
trata da alma.

A mulher delinquente,a prostituta e a mulher normal

• A prostituta e a teoria da degeneração


A moralidade e o ambiente são fatores que reforçam o processo degenerativo. Processo
inverso da evolução. Fatores hereditários(principais) e componentes que acentuam esse
processo. A mulher seria tendente ao crime passional(notadamente o homicídio),ilustrada
na prostituta enquanto derivativo criminal das mulheres.A mulher normal seria um ser
inferior,instintiva ao invés de inteligente,malvada por índole. Próxima dos selvagens,perfil
próximo do criminoso nato. Até hoje esse pensamento é reproduzido culturalmente,até por
mulheres como sendo o esperado delas. Isso pode ser comprovado empiricamente por uma
expectativa social que foi traçada como ser o normal. O problema não é existência ou não
de mulheres que apresentem esse perfil,e sim o que vem antes,o que foi construído
cientificamente nessa lógica essencialista. O próprio órgão sexual feminino era dado como
prova de inferioridade anatômica,por ser um pênis não desenvolvido.
(Daniela: se Lombroso tivesse mulher,merecia uma bem perversa!)

• Teoria da Degeneração
Morel: progressiva degeneração mental nas gerações,esquema de cadeia hereditária
nervosos geram neuróticos que geram psicóticos que geram idiotas até extinguir a linhagem
defeituosa. O desvio é transmitido hereditariamente.
Magnan: retoma e redefine o pensamento,degenerado interrompe o processo natural
evolutivo. Todo degenerado é um desequilibrado mental,mas nem todo louco é degenerado.
O defeito degenerado era herdado,mas pode ser adquirido,manifestado por estigmas
através de uma variedade de sinais. Ou seja,nem todo louco é fruto de um processo
sucessório,e sim de outros fatores morais e ambientais. As próprias DSTs poderiam ser
vistos como fatores,complementando a teoria lombrosiana sobre as prostitutas.

• O racismo científico e a teoria da degeneração


A visão do homem branco sobre os outros com status de paradigma científico.
⁃ Paul Broca,fundador da sociedade antropológica de Paris. Raças humanas
hierarquicamente distribuídas,tamanho do cérebro como critério,entre outros. (Adulto X
idoso,homem X mulher, branco X negro)
⁃ Branquicéfala, o perfil encefálico de uma pessoa branca.
⁃ Na área médica do Brasil,os cariocas estudavam a parte de doenças
infectocontagiosas,e a produção baiana foi voltada para a questão racial. Preocupação com
os mestiços,a imputabilidade penal e o tratamento de loucura e crime. Livro: as raças
humanas e a responsabilidade penal no Brasil(1894). Analisar a prevenção de crimes a
partir de um processo de miscigenação. Fomentava um programa político de cultura de
estupro,o cruzamento com homens brancos para não perpetuar linhagens propensas ao
crime. O direito penal foi suporte teórico para machismo e racismo se legitimarem.
⁃ Tobias Barreto mantinha o negro e o índio como propensos,mas que ainda
existia a possibilidade de nadar contra a maré e escolher não praticar. Nina Rodrigues diz
que é como a gravidade,não haveria escolha. Critica inclusive que catequizar o índio era
inútil,só se corrige ao miscigenar.O colorismo tem relações com isso. Processo de fim da
escravidão e escolhas de imigração para escolher os rumos econômicos e raciais do
Brasil,projeto público de embranquecimento. A mão de obra negra não foi incorporada por
não atender o perfil,então ela é encarcerada. Se não pode mais fundamentar na
coisifcação,fundamenta no crime.
⁃ O código penal italiano que baseia o brasileiro era,na visão de Nina,um
código para europeus que detinham livre arbítrio. O problema na visão dele era que a
massa criminosa brasileira era outra,que não podia se fundamentar nisso.

Hoje,o racismo reveste outros discursos. O pretexto dessas pesquisas era se preocupar e
proteger a questão dos negros. Cuidar e compreender a raça para não responsabilizar com
culpabilidade seres que não seriam livres. O mesmo discurso da exceção é empregado
atualmente na relação de pobreza e crime. O nadar contra a maré de Tobias Barreto é a
mesma base para falar em pobres que escolhem não delinqüir e superam a miséria.
Quando um ministro do STF elogia o outro como negro de primeira classe,ou alguém é
chamada de negra bonita. Economia e direito penal sempre foram fios condutores
necessários dessa questão: o discurso que legitima e o sistema de controle. Hoje quando
se discute de lugar de fala é para incluir quem foi segregado do campo da discussão,e se
depender do sistema,sempre o serão - não excluir ninguém.Quem ocupa um lugar de poder
e não sofre com algo,tende a não ver. O nome não é homicídio,quando é negro: resistência
seguida de morte.

O direito,enquanto discurso majoritário,é um sistema de violência que legitima a


perpetuação de classes econômicas e raciais. Os estudantes são educados a esse
discurso. Porque Rafael Braga ou alguém está preso? Se responde que por cometer um
crime,mas a resposta é outra,em entrelinhas não escritas. Não se discute na faculdade essa
outra resposta,não se lê o que está invisibilizado ou fora de um lugar de fala não autorizado.
Só se aprende a perpetuar um sistema.Criminologia ajuda nisso. Não pare para pensar
criticamente,pense da forma como você respira.
Todo embate de ideias tem linhas radicais que alcancem outras problematizações,é
importante que existam mesmo sem concordar.

---
Teorias Criminológicas

• Teorias Bioantropológicas
⁃ Fruto do positivismo,começo científico da criminologia. Ferri e Lombroso.
• Teorias Sociológicas
Todas têm em comum a compreensão do crime como fenômeno social. Trabalham a
relação do crime com a sociedade e estrutura social.
⁃ Teorias do Consenso
Um fenômeno social que o Estado enquanto estrutura visa combater para alcançar seu
objetivo maior,que é a paz social. O crime quebra essa paz,o Estado pacífica e restabelece
a ordem.
⁃ Teorias do Conflito
Um fenômeno social que é criado pelo próprio Estado. Não objetiva a paz e o consenso,o
objetivo estatal é o próprio conflito. O crime não rompe com a paz,o próprio Estado rompe
com a paz quando cria o crime. Diferente do pensamento contratualista do Estado
regulando o conflito e a natureza humana,ele próprio é quem proíbe e cria o problema.

Teorias do Consenso:
• Escola de Chicago
1. Introdução: corresponde ao contexto do surgimento de uma criminologia
científica nos Estados Unidos,com o momento de crescimento da indústria acompanhado
do criminal. A própria arquitetura e organização da cidade mudava,e as dinâmicas sociais
também.Rockefeller,um investidor do petróleo, patrocina estudos dessa escola para
entender o que estava acontecendo. Isso afeta diretamente o produto resultado dessa
empreitada.
2. Expoentes: Robert Park e Ernest Burgess.
3. Ecologia criminal: o conceito transcende o ambiente natural,se volta para o
ambiente social. Ele também precisa estar em equilíbrio,tanto do natural para o social
quanto dentro do ambiente social em si mesmo estar equilibrado nas relações sociais que
ele desenvolve e projeta. O crime é pensado,portanto,como um desequilíbrio ecológico e
produto de desorganização e caos social,cabendo ao Estado intervir nesses fatores
socioambientais para conter a criminalidade e restabelecer o equilíbrio,como já fazia no
ambiente natural.
4. Metodologia: observação participante. Rompe com a ideia do crime
relacionado a fatores endógenos,e sim fatores exógenos. Não o interior do indivíduo,e sim o
seu entorno exterior. O observador pode examinar o contexto social no qual ele e outros se
inserem,e o quanto pode ser determinante.
5. Teoria das zonas concêntricas ("sucessão")
Estudar o ambiente social no contexto de crescimento industrial. Pode dividir a cidade em
várias zonas,referentes ao mesmo centro. A zona do centro seria comercial,com indústria e
fábricas. Logo no entorno dela,a segunda zona é residencial porém pobre. As duas zonas
seguintes seriam de classe média,com padrão sucessivamente elevado. A última zona seria
a alta classe,abastada com residências de luxo. Diante dessa observação espacial,a zona
com maior número de crimes seria a segunda,e a com menor incidência criminal seria a
última. É possível verificar a relação crime e pobreza,ao invés do positivismo crime e raça.
Duas heranças escolásticas que não superamos até hoje.As pessoas pobres,por viverem
no caos e desordem,delinquem. Estão propensas a isso. Essas zonas se reproduzem
espacialmente em Chicago,não se verificam na periferia de outras realidades urbanas e
seus centros,mas o resultado da relação zona de risco/zona econômica,continua aplicado.
Há portanto uma sucessão no escalonamento de zonas sociais expandido a partir do
centro.Essa é a primeira fase de produção da escola,a segunda fase virá com o fim da
guerra mundial e irá recortar a sociedade mais incisivamente em classes.
O pensamento da escola de Chicago ainda está presente nas concepções identitárias.
Quando se fala em pobre,mas não criminoso,se faz uma construção quase que
adversativa:pobre,porém honesto. O que se quer dizer ali? Pobre não criminoso,uma vez
que há a concepção de relação direta crime pobreza. Disso nasce uma construção
identitária,como também o exemplo do preto digno ou honrado. A raça,critério da
criminologia etimológica,por si só seria constitutiva desse valor. Essa adjetivação só
acontece ao padrão branco por processo de desconstituição,não pelo processo adversativo
do apesar de.

• Teoria da associação diferencial


1. Introdução: quase uma resposta a Chicago. Questiona se o crime de fato é
produto da pobreza,ou se algum outro fator não foi ignorado no processo. Investigar a lógica
dos crimes em ambientes abastados. Se volta,portanto,para um tipo diferente de crime,cuja
estrutura é especial,pois demandam conhecimento específico para sua prática.
Criminalidade econômica.
2. Expoente: Edwin Sutherland,Crimes de Colarinho Branco.
3. Crime e processo de aprendizado: como o criminoso precisa ser detentor de
um conhecimento econômico especial.Há uma ligação direta do crime com seu processo de
aprendizado no meio social. Por isto é possível ter crime em camadas mais elevadas da
sociedade,ele é fruto de um aprendizado. Esse grupo especial de delitos,inclusive,requer
conhecimentos e experiências aos quais só essas camadas teriam acesso.
4. Racionalização da experiência
O sujeito que aprende e entra em contato com a prática criminosa fará uma análise de custo
e benefício,probabilidade do êxito com a conduta criminosa. Ou seja, racionaliza de que
maneira a prática criminosa será vantajosa.A pessoa se torna delinquente quando o positivo
supera o negativo.A teoria,contudo,não serve para explicar os crimes comuns através da
lógica de aprendizado e escolhas racionais.

• Teoria da Anomia
1. Expoentes : Robert Merton e Emile Durkheim
2. "Anomia": ausência de normas. Determinados quadros sociais caóticos são
situações em que os indivíduos se encontram em estado de desamparo normativo. Uma
sociedade em que falta ordem,valores e portanto ausência de identidade social,enquanto
um corpo social. A identidade se restringe aos indivíduos e não há noção de bem ou
interesse comum,coletividade. Diante da desordem,não haverá compreensão do todo.
3. Indivíduo e crime
Se o indivíduo vive nessa sociedade sem coesão coletiva,ele passa a obedecer e seguir só
as suas próprias normas. Dentro desse cenário é produzido o crime. Se os bens são
escassos e cada um só atende aos próprios interesses,emergirá conflito. O crime passa a
ser uma forma individual de adaptação no quadro de uma sociedade agônica em face de
meios escassos. Contexto histórico da década de 60,explosão dos movimentos sociais
identitários com uma raiz política muito forte a quem as normas em vigor não agradavam. A
própria introdução do AI5 fala em restabelecer a ordem. Quando a teoria da Anomia fala
sobre identidade social e todo coletivo,ela está levando em conta a lógica da paz social e do
subversivo,da criminalização da arte e expressão. Despolitização da discussão acadêmica
ou educacional,excessiva normatização de um padrão,pretensão de controle e ordem
gerando intolerância.
Hoje há uma reaproximação na atualidade, depois de um período de despolitização. Deixou
de se falar de feminismo e passou a falar de mulher. Depois distanciou ainda mais da
política, passando para estudos analíticos e academicistas de gênero. O que é bom,mas
não deveria implicar em afastar feminismo e negritude da rua,da política.
(Joan Scott)
Questões:
1. Para os defensores da escola ecológica,o crime é fruto de situação social em
que falta coesão e ordem. Verdadeiro ou falso? Justifique.
----
Todas as teorias passadas falavam de crime e ruptura social,e Sutherland inova ao tratar da
associação diferenciada como uma adesão. Aderir à linha de conduta,se associar após
pensar racionalmente em seguir nos caminhos que aprendeu.

Teoria da Subcultura Delinquente


1. Introdução: as teorias das subculturas criminais rompem de um modo geral
com o pensamento determinista que se voltava para o estudo do indivíduo e sua essência
para explicar a origem do crime.
2. Origem: a teoria encontra forte influência da Escola de Chicago(Park) e da
Anomia(Durkheim e Merton). Seu principal expoente é Albert Cohen.

⁃ Escola de Chicago e a "virada sociológica": a inversão de estudo que se dá


no estudo da criminologia(Baratta), superando o paradigma etiológico anterior e analisando
o crime emergindo de um corpo social,não o indivíduo isolado. Observação:acerca da
virada sociológica e da suposta superação do paradigma lombrosiano,Vera Malagguchi
destaca não ter ocorrido propriamente o abandono do enfoque individual ontológico
determinista,mas apenas um deslocamento de seu foco antes voltado para causalidade
natural e agora para uma espécie de causalidade social. Exemplo disso é a relação pobreza
e criminalidade. Deixa de buscar direcionar o aparato de controle a indivíduos com
fenótipos,mas passo a direcionar aos moradores de determinadas localidades. Criminologia
não se raciocina cronologicamente,ideias antigas se sofisticam e se embasam no novo.
⁃ *Centros urbanos e delinquência juvenil: existe até hoje uma discussão da
relação jovem e crime,até hoje a população carcerária é formada por pessoas em idade
econômica ativa,como uma reserva de mercado dentro da cadeia.

3. Cultura X subcultura

Cultura é o conjunto de costumes,códigos morais e códigos jurídicos de conduta,


compartilhado em uma dada comunidade. Dentro da cultura geral podem existir subgrupos
que se identificam em parte com a geral,mas em parte não. Compreensão de
mundo,práticas e expectativas comportamentais distintas de um grupo dentro do contexto
geral maior. Começa a se entender que praticar um comportamento tido como criminoso
não está relacionada a uma violação normativa. Pode estar agindo conforme uma norma
que não é geral,e sim subcultural. A escolha de uma conduta ser a criminalizada e o
processo de criminalização,contudo,não são estudados por nenhuma das teorias do
consenso. Só a origem desse crime,a causa.

⁃ Negação do princípio da culpabilidade


Nega que o crime seja expressão de contrariedade ou oposição a normas e valores, visto
que há normas e valores específicos aos subgrupos e não um referencial absoluto. Pelo
princípio,o criminoso escolheu livremente agir contra a norma e isso fundamenta sua
responsabilidade penal.A teoria diz que existe livre arbítrio,mas não direcionado a agir
contra a norma,e sim escolher agir conforme a norma subcultural. Sempre existiria uma
norma justificadora das condutas humanas,mesmo o crime emerge de um contexto social e
a explicação de sua origem está na sociedade. Não é uma teoria determinista,mas
questiona a noção de liberdade frente ao pertencimento e aprendizados em grupos sociais.

4. Pensamento de Albert Cohen


⁃ Contradições sociais,família,sociedade
Estuda as gangues juvenis e bairros organizados.Relação família e sociedade,os problemas
que afetam os meninos são fruto das contradições sociais. Os fatores psicológicos que
levam o jovem a delinquir vão além do conflito com os pais,e sim maneiras de reagir a
conjuntura social.
⁃ Inversão dos valores e reação: reagem confrontando e invertendo o que
identificavam como os valores de moralidade média vigentes. Expectativas sem
oportunidade de inserção,ser o oposto.Ondas de enfrentamento,uma ação política,como
hoje o rolézinho. O próprio carnaval surgiu num contexto de inversão de papéis. Hoje o pixo
é percebido como ato de reação subcultural. A delinquência vista como uma forma de
resistência subcultural. Antítese do utilitarismo de seu mentor Merton,da Anomia.A
delinquência nem sempre possui um fim utilitário de se beneficiar no contexto de caos,e sim
só de expressão. O crime é uma formação de reação de classe desprestigiada na
organização social.
⁃ Cohen X Merton e Cohen X Park

Revisão para a Prova


1. Qual a diferença entre a antiga e nova criminologia?
2. Qual a semelhança entre a teoria do criminoso nato e a teoria das zonas
concêntricas na explicação da origem do crime?
3. Quais as semelhanças entre a teoria da subcultura delinquente e a teoria da
associação diferencial?
---- 15/12
Teorias Sociológicas do Conflito

1. Teoria do Labelling Approach: a origem mais remota do crime está focada no


próprio processo de criminalização. Mudança do enfoque de estudo central, não mais o
crime enquanto conceito ideal ou criminoso. Teoria do interacionismo simbólico,reação
social ou etiquetamento. Crimininalizar é justamente a escolha política de analisar e
considerar uma conduta como criminosa. Por mais que exista vítima,questões
econômicas...a conduta pode ser errada ou imoral,mas não será crime se não fosse pela
escolha desse processo. A origem do crime é,em essência,o próprio processo ao eleger a
conduta e etiquetar. O processo se dá justamente na interação entre os atores sociais na
formação do conceito do que é ou não crime. O processo de tipificação confere significado
que se afasta do concreto e continua a estender-se através da linguagem. Além da conduta
em si. Qual a imagem construída dessas pessoas,a forma de olhar?

⁃ O outsider de Howard Becker


O sujeito que destoa do padrão de um determinado corpo social. Poderá ser analisado nos
mais diversos subgrupos. Não partilha da mesma linguagem,estética,
experiências,cosmovisão,valores...ainda que esteja ali,é visto como estando do lado de
fora. Não tem o denominador comum do grupo. No processo de criminalização, não serão
todos os grupos sociais que terão o poder de etiquetar. A figura do outsider portanto,será
formada a partir de um determinado eixo.

⁃ Desvio primário X secundário

O momento em que o sujeito delinque pela primeira vez e a reincidência criminosa, o


momento em que torna a delinquir. Observa que a condição de outsider é algo que o sujeito
tende a reafirmar,eu me comporto conforme as expectativas sociais depositadas sobre
mim,ajo da forma como eu sou visto. Se me olham como um desviante,eu desvio. A
dificuldade de adotar nova postura sem o estigma,tende Q vestir a imagem que lhe
colocam. Se esperam um desajuste,a tendência de negar é maior que a de aderir. Becker
não discute,mas toda lógica de criminalização é racializada. Todas as imagens de
criminosos estão construídas. As leis não são gerais e abstratas,e nas decisões de caso
concretos,punição não é individualizada,na medida em que transcende aquela pessoa. O
conceito de desvio é apropriado pelo indivíduo que passa a agir enquanto tal. Desvio não é
cometimento de crime. É sim ser ou não naquele meio social ser visto como um criminoso
ou outsider. É possível até mesmo cometer um crime sem que seja visto como um
desvio,basta que você esteja ali desde sempre socializado visto como dentro do padrão. As
pessoas psicanaliticamente não reprovam a corrupção,e sim invejam. O querer da punição
vem de um mais secreto do quanto gostaria de ter aquilo. Ainda que não se faça,o fazer é
consciente. Mas o desejo não está nesse campo,de decidir não sentir. Se alguém não
reprimiu o desejo corrupto como você,vem a vontade de ver punido. Quando alguém
absolve,no discurso do quem nunca, é uma auto absolvição. Um poderia ser eu. Quando
você condena,é o sujeito com quem não se sensibiliza e o discurso é de exceção,dos
poucos que conseguiram. Para a sociedade capitalista, há os dois caminhos: cárcere ou
fábrica,se você se adequa ou não ao padrão.

⁃ Ato x qualidade do ato


Ser crime não é uma qualidade ontológica do ato em si,ela é atributada ao ato. Nada em si
é crime. A mesma sociedade que valora homicídio acha que bandido bom é bandido morto.
⁃ Crime X controle social
Não é o crime que produz controle social,mas sim o controle social produz o crime.

2. Nova criminologia ou crítica ou de reação social ou radical ou até marxista


O grande enfoque de estudo é quem tem o poder de etiquetar. Na criminologia tradicional,a
definição legal de crime está ligada à ideologia de neutralidade do Direito. A crítica vai
enfatizar os elementos que estão fora da definição legal,como o
racismo,imperialismo,capitalismo,machismo...quais elementos são determinantes para
construção da definição de desvio,mas estão "fora" da definição legal? Em verdade,estão
na essência e razão de ser dessa definição.
Consciência do próprio privilégio traz angústia perene.Constância da dúvida,viver em
drama. Falo ou não falo,é adequado? É mais confortável sustentar que não é comigo. O
laço de afetividade com amigos de infância já foi construído,mas a escolha de se relacionar
hoje é outra,talvez conhecendo eles hoje não se aproximaria. O seu voto,a sua postura, diz
mais que aquilo,diz quem você é no mundo. Se você quer estar com ou não.
⁃ Criminalização primária X secundária
⁃ Seletividade penal
Marina Cerqueira

--- 13/01.
Política Criminal
É importante pensar o estudo do crime pelo menos num tripé de dogmática penal, política
criminal e criminologia. Não só essas ciências esgotam o estudo do crime, mas elas têm
uma relação indissociável. A criminologia vai tratar da causa e origem do comportamento
criminoso,desdobrando aqueles que pensam no sujeito e os que entendem como fenômeno
social,seja por quebra de consenso ou fomento do conflito. A dogmática penal analisa a
decidibilidade do conflito à luz da norma posta e depois de já ocorrida, uma extração da
consequência jurídica a partir do dogma. Análise sempre tardia,"já que matou,então..."
Daniela entende que o estudo do direito penal não é sinônimo de dogmática,como para
muitos professores. É preciso a análise política e criminológica. Aplicar o princípio da
insignificância é uma análise pela perspectiva política,além do previsto em lei. A política
criminal olha para o crime e pensa de que forma pode controlar ou combater isso. Dentro
dessa lógica, vamos encontrar caminhos diametralmente opostos com o mesmo objetivo
comum. Tem que entenda que é preciso mais direito penal ou menos direito penal. Aí já se
vê que o pensamento político criminal está relacionado a sua concepção de criminologia. A
forma como se pensa ser correto aplicar uma norma dialoga,passa por como você entende
o pensamento político e campo criminológico.

Modelos de reação ao crime

1. Lei e Ordem: do Estado caritativo ao Estado penal


Influenciados pelo keynesianismo e recém redigida declaração dos direitos humanos. Final
de 40 entre 70 tem um mundo economicamente dividido,e dentro do contexto de constante
ameaça é que se desenvolve o estado caritativo ou prestacional,o Welfare State. Quais são
suas grandes marcas características? Funciona num regime de máxima
intervenção(logo,intervencionista) que se reflete na prestação direta pelo Estado dos
serviços públicos,o chamado Estado-Babá,fornecendo aos cidadãos o conforto e auxílio em
favor dos direitos humanos. Intervém na liberdade das pessoas,mas garante as
necessidades da população. A estratégia de manutenção dos Estados capitalistas era fazer
num primeiro momento o mesmo que o socialismo propunha,a ideologia liberal de igualdade
formal e cada um por si não daria conta frente às circunstâncias,então é preciso uma
proposta melhor.
1.1 Welfare State -> Workfare State
Há duas versões para a crise do Wellfare State: o Estado se agigantou de tal forma e as
relações sociais ficaram tão complexas,que não foi possível dar conta de tanta gente e
estrutura,e isso levou a descentralização,levando o Estado a delegar essa prestação de
serviços. Todos os livros de Direito Adminsitrativo trazem essa narrativa,mas os de História
e Filosofia entendem outra visão do processo. Com o declínio gradual da URSS, também
vem o do Estado Prestacional,deixa de interessar essa postura, mas é preciso justificar para
a sociedade essa saída de campo, e o próprio Estado boicota o serviço público e gera o
caos,para poder apresentar uma solução de mudança para o que não está bom. Se
estivesse,não encontraria apoio para mudar. Esvazia os investimentos e leva à mà
prestação para instaurar a realidade do Workfare State. Acabada a sedução socialista de
garantia,não convém mais manter essa lógica. O Estado do Workfare é o da troca,você terá
de fazer algo para obter de mim esse serviço. Nesse contexto é que se modifica muito a
lógica do trabalho carcerário, a exploração do preso para manter as custas do seu cárcere.
Um estado neoliberal baseado na exploração da mão de obra.
Em vinte anos a partir daí,a população carcerária norte americana cresceu absurdamente.
Como não posso mais utilizar a escravidão para o controle de corpos e trabalho,já que
todos são livres, utiliza a brecha: só posso prender se caso cometa um crime. Inicialmente a
população carcerária não era negra e o rol não era extenso, até que passam a existir tipos
que alcancem essa população negra e latina. Angela Davis,sobretudo por sua instrução, é
um exemplo de poucas pessoas negras que decidiram levar o processo penal adiante ao
invés de aceitar o sistema de pena mínima e conseguiu êxito. O sistema prisional se torna
uma fábrica de mão de obra para alimentar as empresas privadas que fazem a gestão
desse sistema prisional. No primeiro momento, uma comarca brigava para não receber um
estabelecimento prisional, mas passa a associar a ideia de prisão a de desenvolvimento. A
primeira economia do mundo é também a maior população carcerária,um modelo
neo-escravocrata. Uma perseguição amparada no discurso para a sociedade. Qual o
discurso teórico que se apresenta aí para justificar? As janelas quebradas.

1.2 Tolerância zero: teoria da janela quebrada (James Wilson,George Kelling)


Produzida no âmbito da nova escola de Chicago. Coloca um carro em perfeito estado num
bairro popular norte americano. Nada ocorre. Depois,é colocado no mesmo lugar um carro
com janelas quebradas. Com o passar dos dias, o interior do carro tem objetos furtados, e
gradualmente vai se tornando ponto de tráfico e infrações mais graves vão ocorrendo nas
imediações. O mesmo acontece num bairro nobre. Deixa de relacionar crime à pobreza,e
sim crime e desordem,que impulsa cada vez mais desordem. Ou seja,se quer reduzir o
crime,reduz a desordem e cuida das janelas quebradas. Esse experimento sociológico é
apropriado pelo prefeito de Nova York,que o implementa em termos de política pública
criminal. Como isto é feito, como vem o modelo de tolerância zero? Passam a ser criados
novos tipos penais, de modo a criminalizar condutas antes entendidas como meras
infrações morais,de baixa lesividade. Se entendia que elas impulsionavam desordem e
davam ensejo a uma criminalidade mais grave. Pixação,prostituição, delinquência juvenil.
No primeiro momento,a criminalidade diminui. O Estado norte-americano passa a investir
pesado em ações de prevenção da criminalidade,como aumento de iluminação pública,
viaturas e efetivo policial nas ruas. É lógico que dentro desse contexto diminuam os crimes,
e daí a política passa a ser exportada para outros estados e países,pois foi apresentada
essa associação. Os acadêmicos opostos ao modelo de lei e ordem, porém, identificam que
isso só dura por momento breve. E a questão matemática demonstra que não tem como
diminuir se você quadruplicou os tipos penais. Eles dirão que não foi eficiente a criação de
novos tipos ou aumento das penas, e sim as medidas públicas de prevenção,que podem
ser adotadas em qualquer outro modelo que não seja repressivo,pois as ações têm caráter
preventivo. Isso de fato promove a redução da criminalidade, e não a hiperinflação dos tipos
penais,que estava fadada ao fracasso. Mais condutas,mais encarceramentos,mais gastos
públicos...depois do colapso do sistema carcerário,o aumento é assustador e o
encarceramento é um remédio que não estava funcionando. A resposta foi dobrar a dose
desse remédio. Ao ponto de three strikes you're out,três vezes na mesma infração dá prisão
perpétua. Há uma crença de quanto menos tolerância e mais lei,melhor para a ordem.

1.3 Direito penal máximo e situação carcerária brasileira


No Brasil, existe a crença numa legislação simbólica, a solução de alguma prática passará
pela criação de um tipo penal,e o super encarceramento é denominador comum tanto da
agenda de linhas de esquerda quanto das de direita,mesmo com todas as diferenças.
Mesmo tendo a terceira maior população carcerária do mundo,não há essa sensação de
segurança na população. Há uma seletividade penal mas não calçada na exploração da
mão de obra carcerária por grandes indústrias, está mais associado a um espaço de
extermínio. O Estado fomenta rebeliões ao desarticular facções internas,pois pretende o
extermínio do povo negro pelo próprio povo negro. Há também lógica de reserva de
mercado, não deixando que a essa população em idade economicamente ativa alcance o
mercado de trabalho. Com a crise do capital,entra em discussão a delegação do Estado. Se
a execução penal seria longa manus do aspecto jurisdicional, e por isso indelegável; ou se
híbrido e a parte administrativa pode ser delegada; ou se híbrida e ambas não delega. Há
questões de hotelaria que podem ou não ser interessantes delegar e terceirizar
serviços,como vestimenta e alimentação,o que é caro. Seria mais interessante que os
próprios presos dessem conta desses itens. Começa a trabalhar com sistemas de gestão
compartilhada,mesmo não tendo previsão legal específica. Desonera o Estado, é o new
public management, onde o ente privado operacionaliza e o poder público atuará como
gerente,dando ordens e fiscalizando. Aos poucos, tem se inclinado às parcerias público
privadas, que são questionáveis até nas implicações trabalhistas. Se tem uma coisa que eu
quero que vocês aprendam em criminologia, é que diferente do que aprenderam até agora,
as normas não são gerais e abstratas. É falso pensar que um por cento da população está
encarcerada, as leis que prendem não são desenhadas para toda a sociedade. Essa
porcentagem atinge um recorte.

2. Abolicionismo Penal
O desafio não é buscar um direito penal melhor,mas sim algo melhor que o direito penal. É
um movimento deslegitimador do sistema punitivo como um todo. Uma alternativa,não uma
reforma. Postula a abolição radical dos sistemas penais,prefere a solução dos conflitos por
outros mecanismos informais. Não crê na inexistência futura de conflitos,onde há
sociedade,haverá transgressão. Derrubando a pena e todos os institutos do sistema penal,o
conflito continua a existir, mas não será crime. O que virá não será necessariamente
melhor,mas a tentativa é válida.

2.1 Abolicionismo naturalista ou romântico


Ninguém o defende hoje, acabaria o sistema penal pois deixaria de haver conflito. É mais
uma classificação para rebater quem não compreende o que é o abolicionismo.

2.2 Abolicionismo estrategista (Thomas Mathiesen)


Um projeto por vir, a busca por novos caminhos. Vinculada ao marxismo e trabalha noções
de dentro e fora a partir da noção de Estado como instrumento para manter interesses
capitalistas(superestrutura). O próprio Direito é sempre expressão de controle,assim como o
Estado. Hoje já se discute o papel da mídia de televisão e redes sociais como instrumentos
de gerência das mentes,e ao invés de contracultura passam a ser estruturas de controle
perante as quais o próprio Estado sucumbiu.
Tudo o que viabiliza os interesses do Estado,capitalistas,pode ser compreendido como
estando dentro. Todo o restante,toda força legítima ou não,que se opõe ao Estado em suas
pretensões,estão fora. Constitui esforço estatal trazer tudo para dentro,institucionalizar as
coisas. Abolicionismo é estar fora,opor o modelo. Construir constante linhas de
oposição,independente do proposto,basta que substitua o posto.

2.3 Abolicionismo fenomenológico (Hulsman e Jacqueline de Celis)


Linha mais conhecida.

2.4 Abolicionismo e o pensamento de Nils Christie


3. Minimalismo penal

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