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Nova Guiné

Os Japoneses Contidos

As selvas da Nova Guiné constituem um dos piores palcos para operações militares: pântanos, floresta
inundada, serpentes, escorpiões, centopéias, formigas gigantes, mosquitos, sanguessugas, malária, tifo. A luta
nessa terra primitiva, de doenças tropicais e clima martirizante, mataria 100.000 japoneses. E foram eles que
quiseram levar a luta para lá.

A escrita na parede
O êxito obtido pelo Japão em Pearl Harbor foi o detonador da explosiva expansão pelo Pacífico Ocidental e
Sudeste Asiático. Num ponto da orla da área da explosão estava a Nova Guiné - e a valiosa base de Port
Moresby. Para poderem contar com uma autêntica linha defensiva nessa direção, era vital para os invasores
que essa área fosse por eles tomada. Mas, infelizmente para os nipônicos, os australianos se decidiram a
enfrentá-los ali mesmo.

Antes do começo das hostilidades no Pacifico, a opinião dos australianos sobre a probabilidade do
envolvimento do Japão numa guerra mundial, apesar das advertências dos líderes militares, que há quarenta
anos vinham chamando a atenção para o "perigo amarelo", refletia o ponto de vista de todo o mundo
ocidental. O que predominava era uma idéia otimista baseada em concepção totalmente errônea do estado de
apronto do Japão. Em particular, a crença ridícula, embora tranqüilizante, de que a indústria nipônica só
produzia cópias medíocres das máquinas ocidentais desfrutava de grande aceitação; e isto apesar das
evidências desalentadoras do teatro de guerra chinês. A verdade é que os japoneses possuíam uma marinha
moderna e maior que a Esquadra Americana do Pacifico, uma volumosa força aérea de bombardeiros e caças
brilhantemente pilotados - incluindo o respeitabilíssimo Zero, e um exército eficiente e muito bem treinado.
O choque paralisador da desilusão que se corporificou quando, disciplinados e bem equipados, saíram os
nipônicos varrendo tudo à sua frente, numa Blitzkrieg oriental, despertou o continente do doce sonho para o
amargo pesadelo da realidade.

Compreensivelmente, muitos australianos temiam que seu país fosse o próximo da lista. Acontece que o
Japão não tinha planos imediatos para a invasão, mas os ataques ao continente poderiam ser facilmente
encarados como o começo de uma operação preliminar de debilitação, pois nada, ao que parecia, se
encontrava para além do alcance da ambição inflamada dos conquistadores. A Nova Guiné e Port Moresby
passaram a ser vistos como o último baluarte da defesa.

Para os japoneses, a operação seria da mesma natureza de tantas outras, um procedimento que se tornara
habitual. Não haviam eles derrotado milhares de soldados aliados na Malásia, nas Filipinas e nas Índias
Orientais Holandesas? A Nova Guiné não constituiria exceção, seria, sem dúvida, fácil.

Porém, vários fatores conspiraram para que fosse exatamente o contrário. Havia as dificuldades da rota
terrestre pela Serra Owen Stanley, o único acesso prático a Port Moresby. Originariamente, em quase toda a
sua extensão, uma trilha de largura suficiente para permitir a passagem de apenas um homem, ela
atravessava a selva fechada, escalava montanhas e mergulhava em ravinas. A simples manutenção dos
suprimentos nessa "estrada" era um problema. Outro, eram as dificuldades climáticas que, além do mais,
freqüentemente transformava a trilha numa torrente lamacenta que propiciava a rápida deterioração do
equipamento. Ainda outro, o tormento das pragas, parasitas e doenças associadas ao clima, que
transformavam combatentes aptos em sombras trêmulas em poucos dias. E por último, mas igualmente
importante, embora as circunstâncias referidas fossem também adversas para eles, a persistência, a coragem
e a obstinação dos australianos em conter resolutamente o avanço japonês, chegando mesmo a repeli-lo.
Lembremo-nos, também, de que nos primeiros e vitais estágios da guerra os australianos eram soldados
praticamente destreinados, lutando contra os experimentados e confiantes vencedores de uma dúzia de
campanhas. Só bem mais tarde é que receberam a ajuda de veteranos da guerra do Oriente Próximo e de
consideráveis forças americanas.
Durante toda a campanha da Nova Guiné, as forças aliadas estiveram sob o comando supremo do General
Douglas MacArthur. A narrativa muito franca de John Vader mostra vividamente, na história aqui contada, os
perigos das incompreensões e conflitos entre comando e as tropas em campanha. MacArthur, preocupado e,
ao que parece, distanciado das peculiaridades daquele campo de batalha e da natureza da guerra que ali se
travava, insistia em avanços espetaculares e enérgicos. No seu entender, os soldados e oficiais hesitavam, não
demonstravam a agressividade que ele exigia, e isto declarava francamente. Na verdade, naquele tipo de
guerra, quase toda verdadeira luta de guerrilha, os homens estavam lutando - nas piores condições que se
possa imaginar - de maneira inteligente, econômica e com suprema bravura. Qualquer ressentimento que
pudessem demonstrar, por mais profundo, diante do que lhes seria licito interpretar, como calúnia, dada a
coragem com que se vinham batendo, era sem dúvida perdoável.

Entretanto, às críticas mais amargas, produto de opinião malformada, responderam eles com seu magnífico
espírito de luta e seu humor lacônico. Eles foram em frente e deram as primeiras provas alentadoras de que o
inimigo podia ser não só detido, mas até repelido. O que isto produziu no moral da tropa na Birmânia e nas
outras áreas foi totalmente desproporcional à importância estratégica dos acontecimentos e provocou um
calafrio de apreensão nas fileiras das forças armadas japonesas.

A luta pela Nova Guiné começou com uma batalha naval - no Mar de Coral - e as chances do Japão
finalmente terminaram com outra - no Mar de Bismarck. Os dois anos decorridos entre estes dois combates
foram uma miniatura do curso da guerra em geral. No começo, os Aliados eram fracos, indefesos, quase,
diante de um adversário muito bem preparado. Implacavelmente, porém, foram revidando golpe por golpe à
medida que se robusteciam, até que afinal montaram grandes ataques frontais às posições básicas do inimigo.
Embora as questões às vezes fossem decididas por simples punhados de homens, em comparação com o que
se passava noutras frentes, quando centenas de milhares de soldados se digladiavam, em nenhum outro teatro
de guerra houve mais dedicação altruista, mais atos merecedores de elogios.

O Japão vai à guerra


Quando a guerra chegou às portas da Austrália, em dezembro de 1941, os chefes militares não se
surpreenderam, pois havia quarenta anos vinham prevendo uma corrida do "perigo amarelo" pelo Pacífico. O
australiano médio, porém, embora não se mostrasse de todo insuspeitoso, fora levado a crer que um Japão
militarmente fraco (assim pensavam eles) não se envolveria numa guerra mundial. Eles ficaram bastante
apreensivos quando os aviadores japoneses afundaram a maior parte da Esquadra Americana do Pacífico em
Pearl Harbor. Semanas depois, transportes desembarcaram soldados, violentos e implacáveis, nas ilhas ao
norte do continente australiano.

Um novo inimigo entrara na guerra e, de repente, ele não era mais o soldadinho mal equipado, míope e
amador que os australianos julgavam que fosse, mas, ao contrário, um combatente decidido, capaz, valente,
disciplinado, bem equipado, bem alimentado, e apoiado, para surpresa de todos, não por pequeninas
belonaves e aviões antiquados, mas por uma moderna marinha, maior que a Esquadra Americana do
Pacifico, e por uma força aérea bem volumosa, formada de bombardeiros e caças brilhantemente pilotados. A
notícia do avanço japonês provocou violento choque entre militares e civis do país inteiro.

O General Karl von Clausewitz (o Liddell Hart do século XIX), um oficial prussiano presente a toda a
campanha russa de Napoleão, disse que o objetivo da guerra era derrubar o inimigo e ditar os termos, ou
fazer algumas conquistas na fronteira do país inimigo e conservá-las para fazê-las funcionar como elemento
de barganha no acordo de paz. Obviamente, os estrategistas japoneses fizeram guerra pelo segundo objetivo.
Mas se tivessem seguido Clausewitz acuradamente, teriam dado mais atenção à delicada situação oriunda
daquele objetivo. "O conquistador, numa guerra", disse o prussiano, "nem sempre tem condições de dominar
completamente o adversário. Muitas vezes, na verdade quase sempre, há na vitória um ponto culminante... É
necessário saber até onde a preponderância pode ser alcançada, para não se ultrapassar aquele ponto e, em
lugar de novas vantagens, colher desastre... ultrapassar o ponto em que a ofensiva se transforma em
defensiva é mais que simples gasto inútil de poder, é um passo destrutivo que provoca reação, e a reação,
segundo a experiência, produz às vezes os mais surpreendentes efeitos".
Criou-se uma situação delicada na arremetida dos japoneses contra a Nova Guiné e seus lideres não podiam
crer que, tendo derrotado dezenas de milhares de soldados aliados na Malásia, nas Filipinas e nas Índias
Orientais Holandesas, fossem retidos por forças australianas e repelidos ao longo de uma estreita trilha na
selva, cruzando a Serra Owen Stanley, exatamente quando o Japão era do ponto de vista numérico bem
superior ao adversário.

Essa extraordinária batalha pela Nova Guiné teve a duração de dois anos, começando com escaramuças de
guerrilheiros, realizadas por homens inexperientes contra os adestradíssimos guerreiros do Japão, que eram,
além disso, apoiados por forças navais e aéreas superiores, e terminando quando os Aliados puderam montar
grandes ataques frontais contra as fortes posições básicas do inimigo. Foi um exemplo local do curso da
guerra ampla, com os Aliados a princípio fracos e quase indefesos, e depois revidando à medida que se
forjava sua poderosa máquina de guerra. Ela começou com uma batalha naval - no Mar de Coral - e as
chances do Japão, finalmente, terminaram com outra - no Mar de Bismarck. No período decorrido entre essas
duas ações no mar, os japoneses tentaram a conquista de seu último objetivo no Pacífico, Port Moresby,
enviando um exército por terra, que foi parado e gradualmente obrigado a recuar pelas montanhas doentias e
cobertas de selva. Num movimento de flanco, na Baía de Milne, eles foram decisivamente batidos e
empurrados para trás. A campanha da Nova Guiné foi a guerra dos australianos, até que, perto do final,
ombro a ombro com eles estiveram seus aliados americanos.

O pretexto dos japoneses para a expansão imperialista que empreenderam era a ampliação da por eles
inventada "Esfera de Co-Prosperidade", o ideal de uma nova ordem no Leste. A princípio denominaram o
movimento de "Nova Ordem", mas acharam que o nome se tornara impopular, por causa do uso que dele
fizeram os nazistas, e aplicaram o termo "Co-Prosperidade", supondo fosse mais atraente para os povos do
Sudeste Asiático. De qualquer modo, tudo não passava de um truque; os nativos das mais antigas possessões
coloniais do Japão - Coréia e Formosa - há anos vinham sendo explorados sem que jamais recebessem
quaisquer benefícios da falsa co-prosperidade. E ninguém mais alimentava a ilusão de que os japoneses lhe
levassem riqueza. Ao contrário, todos lamentavam que o Japão tivesse sido obrigado pelo Almirante Peary,
em 1854, a abrir seus portos e restabelecer relações com o mundo. Antes que os Aliados tentassem inverter o
efeito Peary, o Japão, sentindo escassez de divisas estrangeiras, procurou consegui-las, vendendo produtos
baratos a um mundo que se recuperava de forte depressão - bens que todos ansiavam por adquirir, criando-se
desde então a crença de que os produtos japoneses eram baratos, mas de qualidade inferior. Se fosse possível
a efetivação da "Esfera de Co-Prosperidade", tendo os japoneses como elemento dominante, estes achavam,
talvez corretamente, que a economia dos seus súditos melhoraria. Como os alemães, os nipônicos tinham
indiscutível talento para a organização e as duas raças viam na disciplina importante componente da
Natureza.

Fora a ânsia de romper o bloqueio ao petróleo e outras matérias-primas imposto pela Grã-Bretanha, Estados
Unidos e Holanda, e o desejo de se expandir à força para a "Região Sul", o Movimento da Federação do
Leste Asiático (Toa Renmei Undo) estabelecera desde o início de sua criação, pelo General-de-Divisão Kanii
Ishihara, na Manchúria, em 1931, doutrinas expansionistas. Seu plano visava somente o domínio da
Manchúria e da China e, ao impor a "Federação" à Manchúria, o resultado foi o Incidente da China, guerra
que o Japão poderia ter perdido simplesmente devido ao bloqueio feito pelos Aliados. São do Coronel
Masanobu as seguintes palavras: "O cordão umbilical do regime de Chunking o liga à Inglaterra e aos
Estados Unidos. Se ele não for logo cortado, a guerra sino japonesa se arrastará interminavelmente".
Contudo, o Partido da Guerra Japonês há muito cobiçava a riqueza dos países do Pacífico sudoeste e seus
agentes, bem antes da declaração do conflito, puseram-se a planejar a forma de conquistá-la. Para eles, a
riqueza da China era seu potencial humano; as Índias, a Malásia, as Filipinas e Bornéu tinham riquezas no
subsolo e na superfície. Esperando e, sem dúvida, rezando para que a Alemanha vencesse, os guerreiros
japoneses decidiram arriscar tudo e agarram, de início, um bom bocado. Enviariam em seguida suas tropas,
com experiência adquirida na luta na China, às terras do eterno verão e expulsariam os 300.000 brancos que
estavam "oprimindo" 100.000.000 de nativos e que, segundo também esperavam e, sem dúvida, para tanto
rezavam, lhes dariam enorme poderio em troca da coalizão.

E foram preparando-se cuidadosamente. O Estado-Maior de Planejamento do exército viveu quase um ano


em condições tropicais primitivas, onde desenvolveram táticas e experimentaram armas e equipamento; o
resultado foi um meticuloso planejamento de grande originalidade. Para o soldado comum, publicaram
normas explicando todo o desdobramento da guerra - os vários estágios, viagens, desembarques, ação,
sobrevivência e higiene. A pergunta: "Por que temos de lutar?" era cinicamente respondida: "Para obedecer a
augusta vontade do Imperador, que é estabelecer a paz no Extremo Oriente". Salientava-se que a malária era
o Grande Inimigo: "Tombar sob uma rajada de balas é morrer como herói, mas não há glória alguma em
morrer em virtude de doença ou acidente, por desatenção à higiene ou falta de cuidado... em todas as
campanhas que tiveram lugar em zonas tropicais, desde os tempos antigos, muito mais gente morreu em
virtude de doenças do que em batalhas". Ensinaram-lhes a usar um pano sob o capacete, para absorver o suor
e impedir que escorresse sobre os olhos; também a evitar o clarão do sol e mantê-lo o máximo possível às
costas; a lembrar-se de que as balas percorrem distância bem maior em ar aquecido; a flanquear o inimigo
em todas as oportunidades possíveis; a controlar os pontos onde havia água e a desinfeta-la com cloreto de
cálcio; a comer arroz puro cozido e ameixas salgadas e a pôr sal no chá. Alimentos secos e enlatados seriam
distribuídos e os estrategistas da selva descobriram uma substância, que distribuíam em tabletes, que
protegeria o arroz cozido que cada homem levaria como ração principal (e, de algum modo, descobriram
também que era perigoso tomar leite e bebida alcoólica quando comiam mangas); e que um só caso de
malária num grupo era uma fonte perigosa de infecção para todos, pela ação do mosquito transmissor da
moléstia. Desde as bicicletas para os deslocamentos na Malásia aos tabletes para conservação do arroz, tudo
foi disposto em táticas muito sensatas. A grande estratégia era a parte mais vital e sensível do plano geral,
que, em suma, era o seguinte: os planejadores estabeleceram um plano de ataque simultâneo a Pearl Harbor,
Malásia e Filipinas, seguindo-se um avanço para as Índias Orientais Holandesas, ocupação da Birmânia e,
por último, a garantia da "Região Sul", formando-se ali um poderoso perímetro defensivo que ia desde a
fronteira indiana, passava pela Birmânia, pela Malásia, por Sumatra, Java, Timor, Nova Guiné e pelo
Arquipélago de Bismarck, até as ilhas Marshall e Gilbert, cruzando a ilha Wake, indo terminar nas Curilas. A
Austrália ficaria isolada, pelas belonaves e forças aéreas japonesas, de qualquer ajuda imediata dos Estados
Unidos.

Os nipônicos realizaram seus planos praticamente dentro do cronograma preparado, sendo apenas frustrados
no concernente à tomada de Port Moresby e, também, pelos fuzileiros navais americanos, que passariam à
ofensiva nas Salomão, o grande grupo de ilhas a leste do arquipélago capturado. Entrelaçando as ilhas com
linhas de invasão, penetrando entre a Indochina e as Filipinas, Bornéu e Malásia, Sumatra e Java, Bornéu e
as Celebes, atacando as principais bases aliadas com apenas um quarto dos efetivos do seu exército, os
japoneses - em cem dias - desmantelaram o poderio aliado no Extremo Oriente; outra quarta parte das suas
forças estava preparada para o ataque à Rússia, pela Sibéria; a metade restante encontrava-se em luta na
China. Após mais cem dias, os generais e almirantes inimigos, se quisessem ser honestos consigo mesmos,
veriam que a vitória para eles era totalmente impossível, a menos que a Alemanha os pudesse ajudar. Mas, já
então, a Alemanha estava contida.

Os japoneses eram só confiança, confiança excessiva. Seu 25 o Exército avançou 1.000 km e conquistou a
Malásia em setenta dias, façanha sem paralelo na história militar. Cingapura, sem quaisquer defesas de
retaguarda, caiu ante uma blitzkrieg montada em bicicletas. O Alto Comando japonês atribuiu o êxito ao
ardor patriótico dos oficiais e soldados da linha de frente e, uma vez mais, foram excessivamente confiantes,
acreditando que esses mesmos oficiais e soldados jamais cessariam de derrubar o que encontrassem à frente.
A campanha da Nova Guiné surgiu como resultado da determinação persistente dos líderes japoneses em
capturar um pequeno porto, determinação que se foi transformando em mania à medida que o projeto
deixava de ser uma ação estratégica lógica para constituir um jogo.

O embargo dos Aliados ao fornecimento de petróleo, ferro e aço ao Japão também foi observado pela
Austrália. Em 1938, o Primeiro-Ministro Robert Menzies consentiu em algumas remessa, de sucata de metal
para os japoneses, sendo, por isso, apelidado de "Bob Ferro-Gusa" pelos estivadores. Desde que os japoneses
derrotaram a Rússia, na guerra de 1904-5, os australianos passaram a desconfiar de que viessem os nipônicos
a tentar medidas expansionistas contra a China. Aquela guerra mudara a atitude antimilitarista do povo, que,
contudo, permanecia decidido a não participar de qualquer empreendimento imperialista em que a Grã-
Bretanha viesse a envolver-se. O treinamento militar compulsório para a defesa. interna foi oficializado,
criando-se para tanto uma milícia; mas, caso a Austrália viesse a envolver-se em guerra no além-mar, o
serviço militar seria exclusivamente voluntário - promessa que o Parlamento não quebrou até que os
australianos foram, ainda que de má vontade, envolvidos na guerra do Vietnã.

Naqueles primeiros dias do "armar ou não armar", um semanário literário e satírico de Sydney, The Bulletin,
foi um defensor persistente da vigilância contra os perigos que podiam vir da Ásia. Em 1917, um dos
colaboradores do aludido semanário, C. J. Dennis, escreveu um poema profético sobre o comércio do seu
país com o Japão; chamava-se The Glugs of Gosh - a história de um povo que trabalhava o dia inteiro para o
bem de Slosh e sofria a hipocrisia e a impostura que as comunidades normalmente sofrem nas mãos dos
políticos. Os vilões eram os Ogs, o povo de Podge. e, nessa história, Dennis advertiu contra a compra de
quinquilharias ao Podge (Japão) e a venda de matérias-primas de munição. Os Glugs trocavam pedras por
relógios de corda para oito dias, máquinas de costura, calandras, tesouras e meias e, com efeito, um dia as
pedras lhes foram jogadas de volta. Mas, felizmente para os Glugs, os relógios e as máquinas de costura
também podiam ser atiradas.

O Japão foi aliado da Grã-Bretanha na Primeira Guerra Mundial, quando os australianos passaram pela
primeira grande prova nos campos de batalha. Eles lutaram bem, ainda que sem dramaticidade, na Guerra
dos Boers e ficaram satisfeitos com suas realizações na Primeira Guerra - em Gallipoli, no Sinai e nas
trincheiras da França. Eles haviam corrido a alistar-se em 1914, fazendo o mesmo, embora não em tão
grandes números, em 1939. Uma divisão da FIA (Força Imperial Australiana), a 6 a - prosseguimento
numérico da FIA da Primeira Guerra - foi treinada e aprontada na Palestina, quando a Itália transformou a
África do Norte num campo de batalha, declarando guerra aos Aliados em junho de 1940.

Na própria Austrália, a situação da defesa foi drasticamente alterada, ao serem os exércitos britânico e
francês derrotados em junho de 1940. Naquela época, britânicos e australianos solicitaram aos Estados
Unidos apoio naval americano para Cingapura e maior pressão contra o Japão. Os americanos responderam
que sua marinha já estava totalmente ocupada com as suas defesas. Dois meses mais tarde, Churchill
cabografou-lhes, dizendo que se houvesse por parte do Japão qualquer tentativa de invadir a Austrália ou a
Nova Zelândia, a Grã-Bretanha reduziria sua participação no Oriente Médio e despacharia para seus
domínios a esquadra do mediterrâneo e demais forças consideradas necessárias à sua defesa e manutenção.
Como resultado dessa mensagem, uma segunda divisão australiana, a 7 a, foi confiantemente despachada para
o Oriente Médio e, quando representantes da Austrália, Birmânia, Índia e Nova Zelândia conferenciaram em
Cingapura, com a presença de um observador americano, tomou-se a decisão de reforçar a Malásia. Mais
tropas, incluindo a 8a Divisão da FIA, foram mandadas para lá e a força aérea foi reforçada. Entrementes, a
6a Divisão entrara em ação no deserto norte-africano e, semanas depois, parte da 7 a e da 9a haviam iniciado a
prolongada e gloriosa resistência em Tobruk.

O Primeiro-Ministro Menzies começava a pensar que a Austrália confiara demais na Grã-Bretanha, e a


demonstrar preocupação com o fato de o governo britânico parecer desinteressado com a sorte de Cingapura.
Na verdade, os Chefes de Estado-Maior britânicos estavam muito preocupados com ela. Vários militaristas
japoneses admiravam a liderança e o caráter de Churchill que, acreditavam, "conhecia o misticismo Zen".
Com isso, ao que parece, Menzies não concordava, pois chegou a informar ao Gabinete da Guerra
Australiano que "o Sr. Churchill não tem idéia dos Domínios Britânicos como entidades separadas e que,
quanto mais distante o problema do coração do Império, menos o preocupa". Isto foi em meados de 1941,
oportunidade em que o governo americano retirou Douglas MacArthur da reforma e lhe passou o comando
das forças do exército americano no Extremo Oriente, e quando os bens japoneses nos Estados Unidos, Grã-
Bretanha e Holanda foram congelados. A incerteza da situação da guerra e a decrescente popularidade de
Menzies provocaram uma mudança do governo, em outubro daquele ano, assumindo John Curtin, líder do
Partido Trabalhista, o cargo de Primeiro-Ministro.

Tendo combatido o alistamento compulsório para o serviço interno dois anos antes, Curtin viu-se obrigado a
aumentar o prazo de prestação de tal serviço e a tomar outras decisões impopulares sobre a defesa interna.
Era evidente que a Austrália podia ser invadida em qualquer lugar da sua longa costa, de modo que as áreas
principais a serem defendidas, excetuando-se lugares como Port Darwin, no norte, eram as regiões industriais
do sudeste, que se estendiam desde Newcastle, a 160 km ao norte de Sydney, até Port Kembla, a 240 km ao
sul. Claro que umas poucas divisões de milicianos e uma pequena força aérea, mesmo que reforçadas cem
vezes, não poderiam defender todo um continente, de modo que se planejou deixar o norte entregue à própria
sorte em caso de invasão; o Trópico de Capricórnio, logo ao norte de Brisbane, seria a linha de defesa, a
"Linha Brisbane". Boiadeiros, a gente do interior, transfeririam do norte o gado e os moradores das regiões
rurais seriam levados para as cidades. Mas os êxitos japoneses mudariam todos esses planos e a guerra seria
travada onde quer que fosse possível conter o inimigo, quanto mais longe da Austrália, melhor. Os Aliados
não saberiam que o Japão não tinha quaisquer planos, pelo menos a curto prazo, para a Austrália.

Mar de Coral e Nova Guiné


O ataque aéreo a Pearl Harbor, que não foi nenhum exercício, afundou ou avariou couraçados, cruzadores e
destróieres. Estes não seriam entretanto as armas navais decisivas da guerra do Pacífico, mas os porta-aviões
que, no momento em que a esquadra aérea de Nagumo atacou, não havia nenhum no porto. O USS
Lexington, ali baseado, estava em missão de transporte de aviões para Midway - medida que muito
contribuiu para o resultado da importante batalha que se desenrolaria naquela ilha em junho e que,
felizmente, poupou o porta-aviões, que fez relevante contribuição - mas fatal para ele - para a Batalha do
Mar de Coral. Nessa guerra oceânica, um porta-aviões valeria dez couraçados. Na Europa, onde a
superioridade aérea era de suma importância, as forças de ar dispunham de aeródromos, ao passo que no
Pacífico os Aliados tinham os conveses dos porta-aviões, e o lado que mantivesse o maior número de
conveses poderia destruir a força aérea adversária.

A 7 de dezembro, a Austrália e a Nova Zelândia estavam em situação desesperada. Praticamente todos os


seus marinheiros, soldados e aviadores treinados se encontravam no além-mar; havia poucos aviões e
nenhum navio de linha em condições de impedir um ataque realmente forte desencadeado pelo inimigo. O
governo australiano tentou obter com urgência a ajuda da Grã-Bretanha, esperando uma reação imediata e
benéfica da "mãe pátria", em cuja defesa os australianos (e neozelandeses) já se haviam sacrificado no mar,
em terra e no ar, em contribuições tão magníficas quanto as feitas por quaisquer membros da Comunidade
que acorreram em seu auxílio. Uma divisão britânica provavelmente se teria saído bem na primeira
campanha do deserto, quando a Itália perdeu temporariamente a Líbia - e mais de 100.000 soldados - mas
acontece que ela foi vencida pela 6 a Divisão australiana, apoiada por tanques e canhões britânicos; e aquela
divisão lutara na Grécia e em Creta; a 9 a defendera Tobruk e a 7a Brigada da 6a ajudara a destruir o exército
de Vichy, na Síria.

A Austrália esperava esforço recíproco da Grã-Bretanha, mas as dificuldades eram grandes demais, as
distâncias, extensas demais, os suprimentos, escassos demais e a importância estratégica da área parecia
insignificante. Churchill declarou guerra ao Japão antes que Roosevelt o fizesse. Roosevelt decidira pedir ao
Congresso que declarasse guerra ao Japão, mas não à Alemanha. Então, declarando guerra aos Estados
Unidos, a 11 de dezembro, Hitler deixou Churchill imensamente satisfeito. Mais tarde, lembrou ele, "eu
pensei num comentário que Edward Grey me fizera há mais de trinta anos - que os Estados Unidos são como
uma caldeira gigantesca. Depois de se acender o fogo debaixo dela, não há limite para a força que pode
gerar. Eu estava saturado de emoções e sensações, deitei-me e dormi o sono dos salvos e agradecidos". Em
Tóquio, o General Tojo não deveria mais ter outra noite de sono tranqüila, pois entrara numa guerra total
com um propósito limitado, e a possibilidade de vitória dependia de um bocado de devaneios.

A Austrália voltou-se para os Estados Unidos. O inimigo comum estava pronto para atacar, ameaçando os
dois paises e particularmente as ilhas - desde as Filipinas até a Nova Guiné - que até bem pouco eram
consideradas uma barreira. Seus interesses comuns coincidiam. O Gabinete da Guerra acreditava que, após
as Índias Orientais, a Austrália seria o próximo objetivo lógico; os Estados Unidos ansiavam por manter a
Austrália, que funcionaria como base de abastecimento das forças americanas nas Filipinas. Assim, duas
semanas após a declaração da guerra, Washington e Canberra concertaram um acordo de ajuda mútua; 4.500
homens - poucos deles tropas de combate - estavam a caminho, para desembarcar a 22 de dezembro. Uma
divisão de infantaria, a 41a, foi despachada em fevereiro e, pelo final de maio, seguiram-se 36.000 soldados
de apoio. Todos eles teriam chegado tarde demais se os japoneses tivessem mantido o impulso para o sul; de
qualquer maneira, tarde demais para impedir um desembarque no norte da Austrália. Caso isto houvesse
ocorrido, toda a ajuda teria sido desviada para a Nova Zelândia. Mas, como a invasão não ocorreu, a
Austrália e a Nova Zelândia tornaram-se parceiros firmes dos Estados Unidos e concordaram com a criação
de uma Área Anzac, sob um Comandante Supremo americano. O General MacArthur, comandante da defesa
final em Bataan, recebeu ordens para se retirar e, viajando numa torpedeira e, posteriormente, numa
Fortaleza Voadora, levou consigo seu Estado-Maior, mulher e filho para Darwin, onde, a 17 de março, fez
sua famosa profecia: " . . . Consegui sair e voltarei". Ele foi recebido com grande pompa; era um herói que
ali fora para ajudar os australianos a repelir o inimigo. Entretanto, quando o Comandante da 8 a Divisão FIA,
General Gordon Bennett, escapou sem ter recebido ordens para tal, na época em que o Comandante-Geral de
Cingapura decidiu render-se, fugindo apenas para colocar seus superiores a par dos pormenores do sucedido,
foi severamente repreendido pelo esforço que fez. Ele deveria ter ficado com seus soldados, verberaram os
duros e influentes generais e políticos em seu país.

O primeiro incidente de perigo real para a Austrália ocorreu a 23 de janeiro, quando a guarnição, de 1.400
australianos, de Rabaul foi vencida por força integrada por 5.300 nipônicos. Kavieng, na Nova Irlanda, e o
resto da Nova Britânia foram ocupados, no avanço do inimigo, por uma avalancha de tropas que parecia
inesgotável. Elas se haviam estendido por milhares de quilômetros, a partir das suas ilhas metropolitanas,
com seus navios e aviões afundando belonaves aliadas e derrubando quase todos os aviões aliados que
encontraram no caminho. Com tal rapidez de expansão, era-lhes muito fácil, protegidos, durante o
deslocamento, por cruzadores e destróieres, e sem muito receio de interceptação, desembarcar em ilhas
indefesas ou apenas parcialmente defendidas. O segundo incidente pareceu a principio muito mais perigoso
e, por certo, foi mais dramático: Darwin, base naval e aérea situada na costa noroeste da Austrália, foi
bombardeada a 19 de fevereiro.

Nagumo, o Almirante japonês que dirigira o ataque a Pearl Harbor, com os porta-aviões Akagi, Hiryu, Kaga
e Soryu, conduziu a mesma força-tarefa para o Mar de Banda, perto de Timor, e desfechou o ataque em
manhã clara e ensolarada. Suas tripulações aéreas eram a elite das forças de ar do seu país, e seu bombardeio,
de mergulho e nivelado, era bem mais preciso que o de qualquer força aérea aliada, na época. Os aviões da
Real Força Aérea Australiana estacionados em Darwin compreendiam 11 bombardeiros Hudson tripulados e
14 monomotores de treinamento Wirraway. Por puro acaso, também havia 10 P-40 da Força Aérea
Americana na base, onde pousaram, para reabastecer, a caminho do inútil vácuo de Java. No porto estavam o
destróier americano Peary, o tênder de hidroplanos americano William B. Preston, duas chalupas e cinco
corvetas da Real Marinha Australiana, além de 38 outros navios mercantes e de guerra, sendo o maior o
transporte de 12.000 toneladas, o Meigs. Além disso, havia dois aerobotes Catalinas da marinha americana e
um aerobote quadrimotor, Qantas.

Quando os bombardeiros e os caças Zero se aproximaram, havia cinco P-40 patrulhando nos arredores da
base, enquanto o Comandante do Esquadrão, Major Pell, pousara os outros cinco para reabastecimento; eles
decolaram rapidamente, para juntar-se aos demais e foram destruídos quando levantavam vôo. Quatro dos P-
40 que se encontravam no ar foram derrubados, escapando apenas um, internando-se nas nuvens após haver
destruído dois Zeros. Esta oposição praticamente não afetou o decidido ataque do inimigo enquanto seus
aviões bombardeavam e metralhavam o porto e a cidade. O Meigs e sete outros navios mercantes foram
afundados ou encalhados, o navio-hospital da Real Marinha Australiana, o Manunda, foi avariado, o Peary
afundado; a RMA perdeu um lugre e um barco de suprimento; os Catalinas foram destruídos (o aerobote
Qantas foi protegido pela fumaça de um navio em chamas) e quando os incursores se retiravam, um navio
que se encontrava, em chamas, atracado ao cais foi pelos ares, por efeito da explosão das bombas de
profundidade que carregava. Duas horas depois, formações de bombardeiros de alto nível, baseados em terra,
aproximaram-se, vindos de direções opostas e, ao reunir-se sobre a base da RAAF, soltaram suas bombas. Os
hangares principais, os armazéns, as cabanas e galpões foram destruídos ou danificados. Ao todo, entre civis
e militares, houve 240 mortos e 150 feridos. Os japoneses perderam 15 aviões.

A Austrália acreditava que o ataque aéreo seria seguido do desembarque de uma força de invasão, descendo
o moral do povo a ponto muito baixo. Na realidade, Nagumo estava apenas destruindo as belonaves e a força
aérea de Darwin, enquanto soldados japoneses desembarcavam em Timor, a ilha luso-holandesa situada a
640 km a noroeste dali, onde um grupo de australianos continuaria lutando como guerrilheiros. O nervosismo
da Austrália continuou até que os batalhões avançados da 6 a e da 7a Divisões retornaram do Oriente Médio,
com algumas unidades indo logo para Darwin e Perth, enquanto as outras se preparavam para lutar nas selvas
do norte. Houve outros ataques aéreos contra Darwin, Wyndham, o pequeno porto e base aérea em Broome,
e as estações ilhoas de Katherine e Daly Waters, mas a ameaça de invasão pareceu terminar, e o norte foi
reforçado com aviões Kittyhawks da RAAF e uma brigada da FIA.

O Almirante Yamamoto, chefe do planejamento dos ataques no Pacífico, deve ter achado que Port Moresby
seria fácil, como tantas outras invasões contra pontos pouco defendidos o haviam sido; ele tinha Rabaul
como base aeronaval e seus transportes podiam navegar livremente por quase todos os mares do Pacífico
Ocidental. De Port Moresby, Rabaul e das Salomão (e, quando pudesse tomá-las, de Nova Caledônia, Samoa
e as Fiji), ele poderia estender as operações aéreas contra o norte da Austrália, patrulhar as rotas marítimas
dos seus acessos orientais - uma tentativa tíbia de isolar o pais dos suprimentos americanos - e, com sorte,
obrigar a Austrália a sair da guerra. A confiança de Yamamoto era intensificada pelo fato de até 1 o de maio
suas perdas haverem sido de apenas 23 belonaves - nenhuma delas maior que um destróier - e 67 transportes.
Os Estados-Maiores da marinha e do exército faziam seus planos, mas eram sempre influenciados por
Yamamoto, Chefe da Esquadra Combinada japonesa. Ele previa que uma luta prolongada com os Estados
Unidos seria fatal e a maneira óbvia de conservar suas conquistas seria através do afundamento da marinha
americana. Para isto, ele precisava primeiro destruir os porta-aviões, e esta foi a razão que apresentou para a
captura de mais bases ilhoas, especialmente Johnson e Midway, que ficavam a distância de bombardeio do
Havaí, e defendeu operações da esquadra que provocassem a saída dos porta-aviões americanos, para que
pudesse afundá-los.
Irritantemente, um esquadrão de bombardeiros Mitchell B-25, dirigido pelo Tenente-Coronel James
Doolittle, atacou Tóquio, decolando do porta-aviões USS Hornet, a 18 de abril. Ainda mais irritante, a
marinha americana interferiu na "Operação MO", o plano para ocupar Tulagi, nas Salomão, que deveriam ser
usadas como base japonesa extra para cobrir o desembarque em Port Moresby. Isto exigia que 11 transportes
desembarcassem o Destacamento do Exército dos Mares do Sul e uma força de desembarque naval; um
grupo de apoio também estabeleceria uma base nas Luisíadas. A interferência foi causada pelo Almirante
Chester Nimitz, Comandante-Chefe da Esquadra Americana do Pacífico (CINCPAC), que tinha um trunfo: O
Serviço de Inteligência Naval do Havaí decifrara o código naval japonês (trabalho muito mais difícil do que
interpretar a escrita cuneiforme ou os hieróglifos) e os monitores simplesmente ouviram as demoradas
discussões japonesas sobre seus planos, que incluíam o movimento de um porta-aviões leve, transportes de
guarda e dois porta-aviões pesados de uma força de ataque prestes a entrar no Mar de Coral, comandada pelo
Almirante Inouye. O CINCPAC ponderou, acertadamente, que os japoneses pretendiam tomar Port Moresby.

Nimitz combinou duas forças-tarefas, centradas no Lexington e no Yorktown e seus cruzadores pesados de
apoio e destróieres, comandados pelos Almirantes Fitch e Fletcher (que recebera o comando tático), para se
encontrarem com os cruzadores australianos, Australia e Hobart, comandados
pelo Contra-Almirante Crace, que também recebeu o USS Chicago e o destróier Perkins. Eles foram
mandados para as águas do Mar de Coral, que se estendem da ponta leste da Nova Guiné à Nova Caledônia e
banham a costa nordeste australiana - onde os porta-aviões se reabasteceram a 1° de maio. Dois dias depois,
Fletcher foi informado de que os japoneses estavam desembarcando em Tulagi, que fora uma base de
reabastecimento dos Catalinas da RAAF e, na manhã seguinte, um ataque feito pelos bombardeiros de
mergulho do Yorktown avariou um destróier inimigo e afundou vários caça-minas e barcaças - uma pequena
vitória. O porta-aviões partiu a reunir-se com o Lexington. Os japoneses pararam de tagarelar pelo rádio e
uma nuvem de mistério cobriu a força invasora; foi difícil encontrá-la. A 6 de maio, japoneses e aliados
ouviram a notícia da rendição do último baluarte, Corregidor, nas Filipinas; na manhã seguinte teve início a
batalha naval. Aviões de exploração dos porta-aviões japoneses encontraram o destróier americano Sims, o
primeiro navio a ir a pique, e o navio-tanque americano Neosho foi fatalmente bombardeado. Fletcher
destacara os navios de Crace para tentar interceptar a força de invasão e os cruzadores aliados resistiram a
ataques dos japoneses e, por engano, de bombardeiros americanos, sem porém travar contato com os
transportes. Inouye vira o perigo e mandara que os transportes invasores se afastassem até que se decidisse a
batalha entre os porta-aviões.
Os aviões dos dois porta-aviões americanos deram com um porta-aviões japonês, o Shoho, afundando-o,
perdendo-se, no processo, seis aparelhos. O Comandante Dixon, líder dos bombardeiros de mergulho
Dauntless do Lexington, radiografou seu famoso relatório: "Risque um porta-aviões!" A ação foi
interrompida, perdendo-se o contato, durante as manobras, por efeito do tempo, muito fechado. Somente na
manhã do dia 8 é que os porta-aviões adversários se encontraram: o Shokaku e o Zuikaku contra o Lexington
e o Yorktown, contando os japoneses com duas vantagens: torpedos superiores aos dos adversários e
tripulações aéreas mais experimentadas. O Shokaku foi incendiado e retirou-se para Truk. A seguir, o
Yorktown foi atingido, sofrendo apenas danos leves, o mesmo acontecendo com o Lexington, mas as avarias
por este sofridas, causadas por um torpedo, lhe foram fatais, pois os vapores de combustível incendiaram-se,
provocando uma série de explosões que, uma hora depois, acabou com a belonave. Naquela noite, o que
restava do Lexington foi posto a pique, por torpedos do destróier americano Phelps. Os americanos haviam
perdido mais navios que os japoneses, que perderam um porta-aviões e tiveram outro posto fora de combate
por bom período de tempo.

Esta foi a primeira batalha entre porta-aviões da história naval e, no sentido físico, pode ser considerada um
"empate". Houve, porém, uma vitória: a abordagem naval japonesa a Port Moresby foi impedida e, embora
as tropas que se encontravam nesses navios viessem mais tarde a combater os australianos e americanos, a
base vitalmente importante no sul da Nova Guiné experimentou uma trégua. O resultado da Batalha do Mar
de Coral também teve efeito animador no ânimo do povo da Austrália, que esperava um desembarque bem
mais perto da sua terra desde o bombardeio de Darwin. O moral dos australianos subiu muito mais ainda -
assim como o de todos os Aliados - quando quatro porta-aviões japoneses que haviam participado dos
ataques a Pearl Harbor e a Darwin (embora ninguém soubesse então quais eram os porta-aviões) foram
afundados pelo Hornet, Enterprise e Yorktown na Batalha de Midway, nos dias 4 e 5 de junho. Infelizmente,
o bravo Yorktown perdeu-se naquele explosivo encontro. Como resultado dessa batalha, o equilíbrio de
poder ajustou-se um pouco. Os japoneses, porém, ainda eram particularmente fortes em cruzadores e
destróieres que, além de protegerem os transportes e navios mercantes em missões de invasão, também
podiam transportar tropas.
Frustrados na tentativa de tomar Moresby desembarcando numa praia próxima, os japoneses decidiram
tomá-la por terra, descendo pelo lado norte da Guiné onde, em Lae e Salamaua, haviam desembarcado a 8 de
março para estabelecer bases a 320 km diretamente ao norte de Port Moresby. Os poucos homens de
comunicações da RAAF e voluntários locais, muito sensatamente, retiraram-se para as colinas, a fim de se
manterem em vigília, observando o trabalho, do inimigo, de preparação de um aeródromo em Lae e, também,
de envio de grupos de tropas ao longo do vale do rio Markham. Os "olhos" dos Aliados eram alguns aviões
de reconhecimento que operavam de bases em Moresby, Darwin e Townsville, bem como uma coleção
extraordinária de observadores espalhados pelas ilhas. Os observadores costeiros se revelariam de
inestimável utilidade nas operações terrestres, navais e aéreas futuras, sobretudo em Papua-Nova Guiné e nas
Salomão.

A formação de um serviço de observação costeira foi uma das mais simples e mais práticas idéias adotadas
em toda a história militar para manter sob vigilância pessoal o inimigo; sistema este realçado pelo
desenvolvimento dos aparelhos de rádio. Uma prerrogativa naval, a observação costeira fora uma tarefa
emocionante e agradável realizada pelos Lobinhos na Grã-Bretanha durante a Primeira Guerra Mundial;
guardando as praias e descobrindo movimentos de traineiras, hidraviões avariados, minas flutuantes e vôos
de Zepelins. Aqueles meninos brincavam na orla da guerra; mas, para os adultos, a observação costeira nas
Ilhas do Pacífico era um jogo de vida ou morte, um dos deveres de tempo integral mais desagradáveis e
perigosos. Já houvera uma guerra na Nova Guiné, em 1914, quando uma pequena força australiana derrotou
uma igualmente pequena força de alemães em território sobre o qual exerciam os germânicos mandato. No
fim daquele entrevero, a Real Marinha Australiana montou um serviço de observação costeira entre os civis
do continente, formando o núcleo de uma unidade de observação para funcionar numa emergência naval ou
terrestre futura. Mais tarde, a marinha estendeu o serviço até a Nova Guiné e as Salomão e, em 1939, havia
cerca de 700 plantadores, oficiais e soldados treinados nos misteres de observação e comunicação. Quando a
guerra voltou ao Pacífico, Eric Feldt, um ex-capitão-de-corveta da RMA e que fora oficial distrital do
governo na Nova Guiné, foi nomeado pelo Serviço de Inteligência da Marinha para assumir a direção dos
Observadores Costeiros. Civis foram alistados na RMA, ou em qualquer das outras armas, para que não
fossem tratados como espiões em caso de captura; infelizmente, de qualquer modo, eles estavam condenados
à execução se caíssem nas mãos do inimigo, destino certo de vasto número daqueles homens de grande
coragem. Os observadores costeiros cobriam todos os estreitos e passagens, desde San Cristobal, nas
Salomão do sul, passando pela ponta superior da Nova Guiné, indo até as ilhas do Almirantado, além de
cobrirem também todos os pontos principais de Papua-Nova Guiné. Quando os japoneses fizeram suas várias
incursões e desembarques, a corrente foi parcialmente rompida, com os observadores fugindo ou sendo
capturados.

A Nova Britânia, uma ilha bem grande, tinha pequenas colônias européias em Arawe, Gasmata e Talasea,
bem como na cidade da colina vulcânica de Rabaul. No interior, o terreno, acidentado e selvagem, era lugar
adequado para observar e esconder-se e os observadores puderam descrever os acontecimentos conforme
ocorriam ali. Em, Salamaua, no outro lado do Golfo de Huon, defronte a Lae, na Nova Guiné, as altas colinas
ali existentes, além de proteção, permitiam ampla observação da área, de onde um assistente de oficial
distrital, L. G. Vial, podia comunicar todos os vôos inimigos que partiam de Lae. Como as colinas da parte
de trás de Moresby bloqueavam as telas de radar da RAAF, os avisos prévios de Vial sobre os ataques foram
inestimáveis para os pilotos de caça dos Kittyhawks que faziam as interceptações e para os artilheiros
antiaéreos do exército que protegiam as pistas de pouso e o porto. O sistema de aviso de Vial operou por seis
meses, até que ele foi substituído. Os veteranos da Nova Guiné eram as únicas pessoas que podiam realizar
bem esse trabalho, pois falavam a língua nativa e sabiam como viver da terra. Homens como Vial permitiram
que Moresby sobrevivesse às arremetidas que seriam feitas pelos caças inimigos de Lae e também dos
bombardeiros baseados em Rabaul. Se as defesas da RAAF e, mais tarde, as da USAAF tivessem sido
arrasadas em Moresby, o inimigo talvez se sentisse tentado a fazer outro ataque naval.

A maior ilha do mundo, a Nova Guiné, fora esparsamente colonizada pelos europeus, desde a sua descoberta,
por navegantes desconhecidos, muitos séculos atrás. Em 1512, dois marinheiros portugueses ali
desembarcaram, na parte leste, a que deram o nome de ilhas dos Papuas - ilhas da gente de cabelos crespos.
Em 1545, Ynigo Ortis de Retoz, um espanhol, desembarcou na ponta leste, batizando aquela área de Nova
Guiné, porque lhe lembrava muito a costa da Guiné, na África. Nos séculos seguintes, poucos visitantes
ficaram ali por muito tempo ou se arriscaram a embrenhar-se pelo interior, pois os nativos tinham ótima
pontaria com suas flechas e machados de pedra. Assim, somente em meados do século XIX é que
exploradores, equipados com armas de fogo, ocuparam a região. Eles descobriram que os nativos eram bons
negociantes, mas mortíferos se julgassem estar sendo fraudados. Mesmo nos anos 50 havia ainda aldeias
onde nunca se viu um homem branco, e quando este entrou em contato com elas, alguns chefes guerreiros.
sentiram-se tão indefesos diante das patrulhas armadas, tão impotentes para impedir a violação de seus
direitos de senhores absolutos dos seus distritos, que se encheram de ódio.

Na verdadeira corrida que os europeus fizeram, na década de 1880, para colonizar, a Grã-Bretanha
reivindicou o sudeste da Nova Guiné, a Holanda a metade ocidental e a Alemanha anexou o nordeste da
Nova Guiné (Kaiser Wilhelmslad ou Terra do Imperador Guilherme), Nova Britânia (Neu Pommern ou Nova
Pomerânia), Nova Irlanda (Neu Mecklenburg ou Novo Mecklemburgo) e outras ilhas menores. Na guerra de
1914-18, os australianos arrancaram esses territórios aos alemães com algumas escaramuças; depois da
guerra, a Liga das Nações deu à Austrália um mandato para administrar os Territórios de Papua e Nova
Guiné. A descoberta de ouro, nos anos 30, levou à ilha, onde a maioria dos europeus ali estabelecidos se
compunha de missionários, numerosos garimpeiros e investidores. Em 1920, o Parlamento australiano
aprovou a Lei da Nova Guiné, em cujos termos o governo "promoveria ao máximo o bem-estar material e
moral e o progresso social dos habitantes do território". Em comparação com a maioria dos países primitivos
colonizados, os nativos da Nova Guiné não eram explorados, sendo tratados com simpatia e compreensão
pelos militares e pelos funcionários distritais da administração, que enfrentavam a difícil tarefa de introduzir
a justiça ocidental onde predominava o feudalismo da idade da pedra.

As tribos melanésias viviam em grande isolamento (algumas ainda vivem) nas montanhas acidentadas, em
elevados platôs dos vales que se estendem entre elas e nas pantanosas planícies costeiras. O homem já estava
ali há 50.000 anos e uma nova imigração ocorrera há uns 5.000 anos quando, possivelmente, gente da
Indonésia chegou durante uma "Revolução Neolítica", levando consigo taro, inhame, alguns tipos de banana,
coco, porcos, cães e galinhas para suplementar a produção local de sagüeiro, cana-de-açúcar e várias
qualidades de banana e fruta-pão. A fauna local é composta de uma variedade de marsupiais, notadamente o
canguru arbóreo, setenta espécies de cobras, inclusive a taipan, a víbora e a coral anelada, crocodilos e
miríades de insetos - escorpiões, centopéias, formigas, biriguis e muita malária e muito tifo. Nesse paraíso
aterrador encontram-se alguns dos mais belos pássaros e borboletas do mundo. A melhor ave comestível é o
grande pombo de crista, e a pior é o casuar, que, afirma-se, deve ser cozido com uma pedra dentro da panela:
quando a pedra estiver pronta para comer, o casuar também estará.

Guerreiros e donos de grandes plantações, ou ardilosos feiticeiros, eram chefes de aldeias de 100 a 300
pessoas, ou de aldeolas familiares. Havia também casas isoladas, construídas de folhas de palmeira sobre
estruturas de troncos de árvores. Da sua língua original desenvolveu-se um grupo de línguas, com dialetos
subsidiários, e a língua franca, difundida pelos nativos que trabalhavam com os militares e os comerciantes,
que é o pidgin English (um inglês corrompido). Não é difícil entendê-la, palavra por palavra, mas falada
rapidamente e com a aglutinação dos termos, perceber-lhe o sentido vira problema. Por exemplo, quando
Rabaul foi tomada aos alemães, em 1914, a proclamação foi mais ou menos assim:

"Todos rapazes têm um lugar, você sabe grande chefe ele vem agora, ele novo sujeito chefe, ele chefe forte
também muito, você olha ele todos navios param lugar... Você olha ele novo sujeito bandeira; você saber?
Ele pertence inglês... ele olha bem ao longo você; ele dá boa gente kai-kai (comida; comer) ... Você não lutar
outro sujeito homem preto outro sujeito lugar, você não homem kai-kai ... Eu falar você agora, agora você
dar três vivas bom sujeito pertence novo sujeito chefe. Não mais "um Kaiser; Deus Salve Um Rei". Esta
linguagem cômica, composta de alguns termos do vocabulário do inglês comercial, melanésio é algumas
palavras alemães, era essencial para os Aliados - e japoneses - na sua tarefa de recrutamento de milhares de
carregadores durante as operações da Nova Guiné. Na primeira parte da campanha, o transporte humano
conquistou para os Aliados a batalha das linhas de abastecimento. Australianos, americanos e japoneses logo
aprenderam o "pidgin" - o mesmo acontecendo com os membros de aparência assustadora das tribos
recrutadas nas serras e vales distantes. Houve gente, nos altiplanos centrais e ocidentais, que nada viu da
guerra - ou dos homens brancos - ao passo que outras sofreram sob a ocupação japonesa e em ação de
combate. Os japoneses eram-lhes completamente estranhos, a princípio indignos de confiança e logo temidos
e odiados pela crueldade com que os tratavam.

Papua-Nova Guiné, a área oriental da ilha onde se desenvolveu a maior parte da luta, tem até 960 km de
largura e 1.600 km de comprimento. Há neve nas montanhas mais altas, que se erguem até 5.000 m de altura
numa longa serra central, ramificando-se numa série de serras costeiras. Na costa, há muitos pântanos,
formados pela maré, infestados de crocodilos, sendo as aldeias construídas sobre estacas; dos sopés das
colinas até 2.000 m de altitude, há densas florestas equatoriais, com espessas cúpulas que impedem que a luz
do sol chegue à vegetação rasteira, formada de trepadeiras e lianas que podem constituir uma barreira
impenetrável; acima de 3.600 m as árvores são principalmente coníferas e acima dos 3.700 m um musgo
denso e capinzais crescem ao ar frio. No lado sul, na área de Port Moresby, existe um bolsão incomumente
seco, onde crescem vários tipos de eucaliptos, enquanto que nas montanhas e na costa norte chove até na
estação "seca"; quando as monções noroeste chegam, vindo depois os ventos alísios do sudeste, parece que a
chuva não pára nunca. Moresby é úmida desde janeiro até abril, mais ou menos, depois do que passa a ser
um lugar seco e poeirento.

Aquele atrasadíssimo ponto do globo, cheio de doenças tropicais e castigado por clima terrível, seria palco
de uma campanha que custaria aos japoneses 100.000 vidas. E foram os japoneses que escolheram o local
para a campanha, para defender sua ocupação e lutar até o último homem.

Os Aliados viram que Port Moresby era tão importante para eles quanto para os japoneses; era a base lógica
para operações defensivas e ofensivas e podia ser eficazmente usada por um lado ou pelo outro para esses
fins. A capital do Território de Papua poderia ter sido desenvolvida como base muito antes, se a
vulnerabilidade de Cingapura tivesse sido mais atentamente considerada. As defesas de Moresby eram
espantosamente frágeis: compunham-se de uma bateria de defesa costeira, uma brigada de jovens milicianos
e parte de um regimento de artilharia de campanha. Logo no primeiro mês a tropa ali posicionada começou a
ser reduzida, primeiro por efeito da disenteria, vindo depois as baixas causadas pela malária e o dengue.
Muitos deles convocados, alguns voluntários, a idade média dos soldados girava em torno dos 19 anos; seu
treinamento era reduzido e seu moral estava baixo. Após a queda de Rabaul, a 23 de janeiro, o comandante
de Moresby, General-de-Divisão Basil Morris, teve nas mãos uma população-nativa em pânico. Seiscentas
mulheres e crianças européias foram evacuadas dos Territórios e todos os "homens brancos fisicamente
capazes" foram convocados para o serviço militar.

Os habitantes nativos da cidade talvez não soubessem a razão por que os japoneses estavam invadindo a
Nova Guiné, mas por certo sabiam que os perigos eram muito reais. Ataques por aviões de Rabaul e de porta-
aviões eram esperados e seus pilotos sabiam que as defesas não eram fortes. A RAAF dispunha de uns
poucos aerobotes Catalina, bombardeiros Hudson e aviões de treinamento Wirraway - NA-33, Harvard - para
defender todas as ilhas, e ninguém, nem mesmo o comandante, sabia se as reservas seriam levadas para lá.
Antes da batalha do Mar de Coral, antes que se soubesse que os porta-aviões da marinha americana estariam
disponíveis para uso contra invasões marítimas e antes que se anunciasse quaisquer planos concretos para o
fortalecimento de Moresby, as bombas japonesas caíram - a 3 de fevereiro. Quando um falso alarma soou, os
nativos fugiram e se mantiveram distanciados dali por dois dias; quando as bombas realmente caíram, eles se
internaram no mato - deixando empregos na cidade, nos navios costeiros e as prisões (com seus guardas).
Não se concretizando as invasões, esperadas após cada bombardeio, as fugas para o mato diminuíram,
embora nativos e brancos passassem a dormir fora da cidade. O moral entre os civis e soldados melhorou
quando o Comandante-de-Esquadrão John Jackson chegou com seu Esquadrão n° 75, da RAAF, de
Kittyhawks P-40. Eles foram atacados pelos artilheiros antiaéreos da guarnição, que supunham japonesas
quaisquer esquadrilhas, grandes e voando baixo, que dali se aproximassem. Os soldados pararam de atirar e
deram largas ao seu entusiasmo somente quando dois dos Kittyhawks derrubaram na baía um bimotor de
reconhecimento japonês.

Todavia, um esquadrão de Kittyhawks e a 30 a Brigada da Milícia não seriam capazes de impedir as invasões
em grande escala que os japoneses viessem a montar nas costas norte, leste ou sul dos dois Territórios; na
verdade, os defensores não eram móveis e estavam virtualmente retidos em Moresby, à espera da invasão e
prontos para se retirar em direção às colinas se o inimigo desembarcasse em grande número. Os Kittyhawks
enfrentaram com êxito os Zeros e os bombardeiros que sobrevoavam o local e atacaram a "Esquadrilha Lae"
inimiga em sua pista de pouso, na costa norte. Hudsons, Catalinas e os B-17 que às vezes vinham de
Townsville faziam serviço de reconhecimento e a infantaria treinava.

O Brigadeiro Porter, ex-comandante-de-batalhão da FIA, chegou para assumir o comando da brigada e


Morris passou a cuidar da administração-geral, incluindo a organização militar dos assuntos nativos - a
Unidade Administrativa Australiana da Nova Guiné (Angau). Tendo comandado o 2/31 o Batalhão na Síria,
Porter provavelmente foi tomado de desânimo ao ver os soldados mal treinados e sem grande entusiasmo da
30a Brigada. Diante disso, mandou buscar oficiais e praças graduados de grupos da FIA na Austrália para
reforçar seu novo comando e intensificou o treinamento da tropa. Mas eles estavam longe de poderem ser
considerados aptos quando o General Blamey comunicou que "um ataque sério contra você e as tropas sob
seu comando ocorrerá no futuro imediato". Isto foi a 8 de maio, quando o Segundo-Tenente-Aviador
Pennycuik radiografou do seu Hudson que um porta-aviões inimigo, escoltando transportes, ia na direção de
Moresby - o informe que pôs os navios aliados em ação no Mar de Coral.

O ataque marítimo, de três pontas, do General Horii contra Moresby foi adiado. Baixo e gordo, parecendo
um boneco de óculos, no estilo Imperador, em seu cavalo branco, Horii comandara tropas na China, em
Guam, Rabaul e Salamau. Ignora-se se ele condenava o fato de seus soldados massacrarem, com baionetas,
os prisioneiros australianos, amarrados em troncos de coqueiros, crime cometido após a queda de Rabaul.
Outros infelizes membros da guarnição morreram encerrados no navio-prisão nipônico, o Montevideo Maru,
que foi torpedeado por um submarino americano. Sob o comando do General-de-Divisão Tomitaro, a Força
Destacada para os mares do Sul, de Horii (Nankai Shitaí), experiente e até então vitoriosa, retornou a Rabaul
para aguardar a próxima decisão de Yamamoto concernente a Moresby. Sua Ala Lae continuou lutando e
sofreu muitas baixas contra o esquadrão de Kittyhawks. Os australianos estavam reduzidos aos seus últimos
caças quando esquadrões de P-39 da Força Aérea Americana entraram em cena. Em 44 dias eles destruíram
50 aviões inimigos, contra a perda de 22 Kittyhawks e 12 pilotos. Yamamoto acreditava, acertadamente, que
a aproximação por mar seria o modo mais rápido e seguro de tomar Moresby, mas a Batalha de Midway
impediria a medida, levando-o finalmente a sair para um ataque de duas pontas, por terra: desembarcar em
Buna, cerca de 160 km de distância de Moresby, na costa norte, e na Baía de Milne, a uns 380 km para leste
(veja o mapa 619-2). De Buna, a aproximação seria feita pela Serra Owen Stanley, e, da Baía de Milne, ele
seguiria a costa. Entrementes, forças adversárias reuniam-se e a batalha pelo próprio Japão estava prestes a
começar, a milhares de quilômetros de distância das ilhas metropolitanas, no sul do Pacífico Sudoeste - em
Guadalcanal, na Baía de Milne e pelos altiplanos da Nova Guiné.

Todo um programa de defesa e ataque em grande escala estava sendo elaborado pelos Aliados em
Washington e Melbourne (o QG militar da Austrália). Os aeródromos de Moresby e da Ilha de Horn seriam
ampliados e, outros, construídos, em Mareeba, Cooktown e Coen, no norte de Queensland. Duas das três
divisões australianas da FIA haviam retornado ou estavam a caminho, vindas do Oriente Médio, a fim de se
aprontarem para a luta nos trópicos.

Voltar ao local que servira de palco para a derrota que sofrera afigurava-se o objetivo principal de MacArthur
e isso influiu nos planos estratégicos gerais quando nomeado Comandante Supremo - ou Comandante-Chefe,
título que ele preferia - da Área do Pacífico Sudoeste. O General-de-Brigada Dwight Eisenhower, um dos
mais respeitados planejadores do exército dos Estados Unidos, aconselhara o General Marshall a criar uma
base avançada na Austrália com tropas e suprimentos que em dezembro haviam sido desviados para
Brisbane.

O General George Brett foi designado para o comando da Força Aérea Americana na Austrália, com a
promessa de que receberia caças e bombardeiros. O General Wavell, Comandante aliado no Oriente, que
estava em Java, achava que os Estados Unidos viriam em socorro da Austrália e que os veteranos da FIA no
Oriente Médio deviam ser mandados para Java, plano este defendido por Churchill e Roosevelt. O Primeiro-
Ministro John Curtin enviou enérgicas mensagens focalizando o destino a ser dado à FIA, causando o que
Churchill classificou de "episódio doloroso", pelos ressentimentos que provocou nos círculos políticos e
militares de Londres. Os políticos, ao que parecia, desejavam travar guerras sem generais e estes sem os
políticos, o que tornava inevitáveis os choques de opinião sobre estratégia e prioridades, e sobre quem
deveria ser o líder em campanha. Em fevereiro, Churchill e Roosevelt concordaram em que a Grã-Bretanha
se incumbisse da frente do Oceano Índico e os Estados Unidos, do "flanco direito" do Pacífico. A guerra em
geral seria dirigida pelos Chefes de Estado-Maior Combinados, enquanto que os Chefes de Estado-Maior
Conjuntos dos Estados Unidos exerceriam o controle operacional no Pacífico: a APSO (Área do Pacífico
Sudoeste) seria de responsabilidade do exército e a Área do Oceano Pacífico, da armada, com o General
Marshall e o Almirante King como seus chefes. Tomadas essas decisões, o Primeiro-Ministro Curtin recebeu
satisfeito MacArthur como comandante na Austrália; desse modo, estaria garantida a concentração de forças.
O que a opinião pública australiana sabia acerca do comandante era o que a ampla cobertura que lhe deu a
imprensa deixava ver, ou seja, que era muito eficiente. Tudo o que a Austrália emprestasse aos americanos, e
todos os armamentos e equipamentos que estes lhe enviassem, para uso pelos australianos, seriam levados à
conta da Lei de Empréstimo e Arrendamento.

Em junho, as forças de terra disponíveis somavam já 104.000 homens da FIA, 265.000 milicianos e 38.000
americanos; muito poucos destes eram soldados de linha de frente treinados. Os comandantes de batalhão,
brigada e divisão da FIA que retornavam talvez não tivessem experiência de batalha nos trópicos, mas
haviam combatido os italianos, alemães e franceses de Vichy, sendo de esperar que os mais altos oficiais
fossem nomeados para o Estado-Maior de MacArthur, o que não sucedeu. Embora o General Marshall lhe
houvesse solicitado fizesse isso, MacArthur afirmou que não havia oficiais qualificados - australianos ou
holandeses - disponíveis e lotou as posições superiores com americanos que haviam, à exceção de três,
trabalhado com ele nas Filipinas. Era também desejo seu que um general americano assumisse o comando
das forças terrestres, mas Washington inclinou-se pela nomeação do comandante australiano do Oriente
Médio, General Sir Thomas Blamey.

Tom Blamey fora Chefe de Estado-Maior do General Sir John Monash, notável líder da FIA na Primeira
Guerra, que sobre ele escreveu: "possui cultura muito superior à média, é bem informado, alerta e perspicaz."
(sic). Após a guerra, Blamey foi nomeado Chefe do Departamento de Polícia de Victoria, demitindo-se, após
alguns anos, devido à descoberta, contrária ao que havia sido apurado, feita pela Comissão Real encarregada
de investigar as circunstâncias da morte de um dos seus superintendentes. Como resultado, ele ficou no
ostracismo até que a loucura de Munique alertou o governo australiano para a necessidade de preparar-se
para uma possível guerra. Quando se planejou a formação de uma segunda FIA; o governo foi influenciado a
examinar a possibilidade de entregar a Blamey o comando da força, não porque parlamentares que eram ex-
soldados, como Sir Henry Gullett e Richard Casey, fossem seus patrocinadores, mas porque não havia
ninguém melhor que se encontrasse disponível.

Ao contrário do australiano típico, em geral alto e magro, Blamey tinha 1,70 m de altura e era robusto. Ele
foi nomeado OE-M III (Inteligência) da 1a Divisão, sob o comando de Bridges, em 1915, após haver
trabalhado no Setor de Inteligência do Ministério da Guerra; estava na Inglaterra quando, em 1914, teve
inicio o conflito. Desceu em Gallipoli após alguns dias de viagem e, à exceção de breves períodos em
comando de batalhão e brigada, estivera completamente entregue ao trabalho de planejamento durante a
Primeira Guerra Mundial: como OE-M III e OE-M I da 1 a Divisão e, em 1918, como Chefe de Estado-Maior
de Monash. A grande reputação de Monash baseava-se em sua maior parte na excelência do trabalho
realizado pelos seus oficiais de Estado-Maior; se Blamey tivesse ocupado seu lugar em 1918, é muito
provável que as façanhas do Corpo na França tivessem sido igualmente grandes. Diz-se que Blamey foi o
autor da idéia que resultou na Batalha de Amiens, o começo do fim da Primeira Grande Guerra; Blamey
discutira a idéia com Monash e ambos acreditavam, contra a hesitação de Foch e dos comandantes mais
graduados britânicos, que a deterioração da frente alemã abria a oportunidade para o desencadeamento de
uma grande ofensiva e penetração para destruir a "Linha Hindenburg". Tendo os corpos australiano e
canadense como ponta-de-lança, esta ofensiva logrou êxito e conduziu ao armistício três meses depois. Foi,
portanto, uma decisão sensata a sua escolha para dirigir a FIA na Segunda Guerra Mundial.

Sobre Blamey, Monash escreveu: "Algum dia, o conjunto de ordens que ele preparou para a longa série de
operações militares que farão história, e nas quais colaboramos, servirá de modelo para o ensino ministrado
nas Escolas de Estado-Maior. Eram ordens precisas, escritas em linguagem lúcida, perfeitas nos detalhes e
sempre uma interpretação exata da minha intenção. Raramente eu achava que minhas ordens ou instruções
poderiam ter sido mais bem expressas". Mas sua implacável determinação em vencer era da verdadeira
tradição dos que herdavam o "complexo de Napoleão"; um obstáculo difícil para amigos e inimigos
superarem - eles tinham simplesmente de aceitá-lo.

Na Grécia, ele foi o Comandante-Geral do Corpo Anzac, as duas divisões de australianos e neozelandeses
reunidos pela primeira e última vez como corpo na Segunda Guerra Mundial, embora, como divisão
australiana e divisão neozelandesa, combatessem com o 8° Exército em El Alamein. Blamey era bastante
astuto para perceber desde o começo que a ajuda à Grécia continental não passava de gesto inútil, preferindo
fazer uma resistência mais decidida em Creta e Rodes.

Após a Grécia, Blamey foi nomeado Comandante-Chefe em exercício no Oriente Médio, conservando a
condição de Oficial-Comandante da FIA. Visitando a Austrália, em novembro de 1941, ele foi até a Malásia,
onde ficou preocupado com a atmosfera reinante no seio da "Guarnição Indiana". Na Austrália, disse aos
australianos que eles eram "um bando de gazelas num prado à margem de uma selva", que não
compreendiam que a guerra contra a Alemanha tinha que ser encarada como uma autêntica batalha pela
sobrevivência. Eles só deram crédito à afirmação de Blamey depois que o "perigo amarelo" tornou a guerra
uma realidade.

A arremetida japonesa foi um êxito tão violento que, após a queda da Malásia, o Chefe do Estado-Maior-
Geral, Sturdee, disse ao Primeiro-Ministro que havia somente uma "pequena probabilidade" de se defender o
pais, mesmo que a FIA fosse trazida de volta. A perda da 8 a Divisão na Malásia fora um golpe sem dúvida
sério. Pouco depois do bombardeio de Darwin, Blamey fora chamado de volta. Com as comunicações aéreas
interrompidas, ele voou até a África do Sul, onde embarcou no Queen Mary e, durante a viagem, ouviu a
notícia de que MacArthur fora nomeado Comandante Supremo da Área do Pacífico Sudoeste. Sua reação foi
citada em Blamey, livro escrito por John Hetherington: "Acho que isto é a melhor coisa que poderia ter
acontecido à Austrália... MacArthur estará tão longe do seu próprio governo, que este não interferirá em
nada, e quanto ao nosso governo, ele não lhe dará a mínima atenção". Apesar da sua simpatia por outro
general que poderia ser controlado por políticos, a indicação de MacArthur, embora o houvesse desapontado,
foi, em última análise, considerada por Blamey uma atitude política sensata, pois havia necessidade urgente
de forças americanas e um chefe nominal americano não seria impopular junto às tropas australianas. Ele
admirava os dotes militares de MacArthur. Ainda que por vezes viesse a entrar em conflito com ele, por
causa de certo egocentrismo revelado por MacArthur, Blamey admitiria: "As melhores e as piores coisas que
se ouvem sobre ele [MacArthur] são verdades".

A Primeira Força Imperial Australiana, que começou a formar-se no dia em que a Austrália declarou guerra,
em 1914, havia formado cinco divisões, e quando a Segunda FIA foi formada, em 1939, o número das
divisões começou em seis; assim, o primeiro batalhão da Segunda FIA foi o 2/1 o Batalhão da 16a Brigada da
6a Divisão (havia 3 brigadas de infantaria por divisão). As cores das ombreiras continuaram sendo as
mesmas, só que orladas de cinza, para denotar que se tratava da Segunda FIA. As divisões da Milícia foram
numeradas a partir da 1a Divisão (uma unidade de treinamento) e preenchidas com voluntários e recrutas.
Entre as guerras, os milicianos treinavam nos fins de semana e passavam uma quinzena por ano acampados.
Foi das suas fileiras que saíram praticamente todos os oficiais e praças graduados da força voluntária da FIA.
O soldo de um soldado raso era de cinco xelins por dia, mais um xelim que ficava retido até sua baixa, além
de abonos para os casados e suas famílias; a taxa foi aumentada em mais um xelim em 1942.

Começa a luta em terra


No país, após os acontecimentos perturbadores de Darwin e Rabaul, o moral melhorara. Quando um
minissubmarino entrou sorrateiramente por baixo da barreira flutuante da Baía de Sydney e, errando o USS
Chicago com a parte mais mortífera de uma salva de torpedos, destruiu uma velha barca da marinha, não
houve pânico. Ao serem Newcastle e Sydney atingidas por algumas granadas disparadas a esmo por outro
submarino, muito pouca gente deixou as cidades e ainda menor foi o número dos que mandaram suprimentos
enlatados para Alice Springs, no centro da Austrália, onde esperavam aguardar tranqüilos o fim da guerra. À
medida que aumentava o número de soldados, da FIA e da RAAF, que voltavam, também aumentava a
confiança em que os japoneses não conseguiriam nada se tentassem invadir. A Divisão Blindada - a única -
estava recebendo seus tanques; novos Kittyhawks vinham chegando para substituir os destruídos, assim
como mais bombardeiros e caças pilotados por americanos. Além disso, havia a 9 a Divisão da FIA no Oriente
Médio - uma reserva sólida, se sobrevivesse ao encontro com Rommel. Os caças Boomerang, de fabricação
local, podiam decolar e voar "a cerca de" 480 km/h, bombardeiros também seriam construídos no país e um
jovem chamado Evelyn Owen inventara uma metralhadora leve que suportava bem a umidade e a lama dos
trópicos. Fuzis, metralhadoras, morteiros, artilharia e munição já estavam sendo produzidos em quantidade
satisfatória nas fábricas locais, incumbindo-se a organização de potencial humano do governo da qualidade e
da quantidade da produção. O racionamento de alimentos não chegou a tornar-se insuportável para os civis,
enquanto que as tropas, sobretudo os americanos, recebiam alimentação saudável e farta. Menos, é claro,
como sempre acontece, na linha de frente.

Quando os dois lados examinavam seu equipamento e reservas, as escaramuças de guerrilheiros começaram
no Vale de Markham e na serra Owen Stanley.

Um inglês do Lancashire, o Cabo (mais tarde Major) McAdam, era funcionário florestal e membro dos
Fuzileiros Voluntários da Nova Guiné quando foi recrutado para observador costeiro nos arredores de
Salamaua. Ele, mais tarde, descreveu como evitaram os japoneses, que começaram a caçá-los um mês após o
desembarque: "Só usávamos nossas próprias trilhas e tomávamos o máximo cuidado para nunca deixar
marcadas as trilhas principais, de modo que, sempre que as examinávamos, elas eram um verdadeiro livro a
contar-nos o que os japoneses estavam fazendo. Nossas trilhas eram tão invisíveis que somente um bom
bosquimano poderia encontrá-las. Não deixávamos marcas naquela região avançada. Caminhávamos
cuidadosamente sobre raízes e pedras; arrancamos os saltos das nossas botas. Quando necessário, andávamos
com nossos nativos atrás de nós para que suas pegadas descalças cobrissem as que deixávamos... em pares de
exploradores avançados, levávamos cada um uma pistola, uma boa e uma incerta. Nossa única defesa era a
rapidez. Podíamos ver qualquer japonês antes que ele nos visse e se tivéssemos uma vantagem de dez
metros, era-nos perfeitamente possível escapar... Durante os quatro meses em que estive ali, não
conseguimos um único fuzil-metralhadora. Havia uns seis nos FVNG, mas não tínhamos nenhum". Os
nativos que viviam perto do seu primeiro campo sofreram por ajudá-los, levando McAdam a instalá-lo em
outro local, para evitar mais dificuldades para eles.

Em torno de Lae, além dos observadores costeiros, havia também membros dos FVNG ávidos por hostilizar
o inimigo. O Cabo Clark entrou em Lae para uma inspeção mais minuciosa, rodeou o aeródromo e voltou
trazendo etiquetas de bombas, para comprovar o reconhecimento que fez. O Vale de Markham era,
obviamente, um lugar ideal para começar operações com alguns dos Comandos da FIA, dos quais já havia
oito companhias formadas, com três delas em bom estado de treinamento. A 2/1 a Companhia Independente
estava espalhada desde as Ilhas do Almirantado até as Novas Hébridas, a 2/2 a encontrava-se em Timor, a 2/3a
na Nova Caledônia, a 2/4a no Território Norte, e a 2/5 a foi mandada para Port Moresby, para a "Operação
Markham". A 23 de maio, aquela companhia, um destacamento de morteiro e o QG do pequeno grupo
chamado Força Kanga, sob o comando do Major Fleay, foram levados por transporte aéreo até Wau, onde
recolheram um pelotão de fuzileiros, parte de duas companhias dos FVNG. A Força Kanga contava então
450 recém-chegados aptos e 250 FVNG cansados.

Eles planejavam um ataque a Salamaua. Para começar, estudaram o local tão de perto, que parecia estarem
sondando uma aldeia amistosa. Reconheceram todas as trilhas que partiam dali e escolheram o aeródromo, os
depósitos de suprimentos e a estação de rádio como objetivos principais. Um fazendeiro escocês de Java,
Capitão Winning, dirigiu o ataque noturno, de quatro pelotões desfechado a 28 de junho. Eles mandaram
pelos ares ou fuzilaram os japoneses que se encontravam em cabanas e em posições defensivas, cerca de 100
deles; destruíram três caminhões e trouxeram consigo algumas peças do equipamento japonês, alguns mapas,
cópias de ordens e um diário. Para o ataque a Lae, dois homens dos FVNG conceberam a seguinte idéia: eles
desceriam numa balsa o rio Markham, à noite, até perto de Lae e sabotariam o aeródromo. Entretanto, não
lhes foi possível levar a balsa para perto da margem e, por correrem o risco de ser avistados pelo inimigo,
eles emborcaram a balsa, para destruir os suprimentos que levavam, nadaram para a margem e voltaram a pé.
Em outras incursões, conseguiu a Força Kanga, perdendo embora alguns homens, infligir ao inimigo baixas
bem maiores que as por ela sofridas. Finalmente, porque faltassem aviões, a situação do suprimento piorou,
fato que prejudicaria as operações durante os primeiros meses da campanha. Ameaçados pelos japoneses, os
carregadores nativos começaram a manifestar medo de trabalhar para os australianos, e a falta de alimento
em coisa alguma contribuiu para manter elevado o moral de qualquer guerrilheiro. Assim, quando um navio-
transporte desembarcou mais inimigos e suprimentos em Salamaua, e quando, em agosto, cerca de 1.000
soldados fizeram um avanço de três pontas para a sua base, em Mubo, o Major Fleay recuou através da
selvagem região de Kukukuku (e pelo não menos selvagem povo Kukukuku) até o começo da "Trilha
Bulldog". Bulolo e Wau foram virtualmente oferecidas a um inimigo que, nervoso e desconfiado, demorou
demais a ocupar as aldeias e a pista de pouso abandonadas.

Um caminho que os nativos há séculos usavam como elo de comunicação entre tribos de ambos os lados da
serra Owen Stanley passou a ser a passagem principal da tropa de invasão japonesa. Eles a haviam traçado
nos mapas, em seus planos, antes de desembarcarem na costa da Nova Guiné, mas provavelmente ignoravam
que a trilha fosse tão difícil. Os australianos sabiam que as distâncias por essa rota primitiva não eram
contadas em quilômetros, e sim em horas de subida e escalada, às vezes andando e às vezes arrastando-se; de
Buna e de Moresby, a trilha sinuosa era cortada, a meio caminho, pela aldeia e pelo aeródromo de Kokoda,
chamando-se por isso "Trilha Kokoda". Era impossível levar qualquer veículo pela trilha, que se formara
pelo pisar dos passantes. A única maneira de percorre-la - pelas suas cristas, vales, colinas, montanhas, selvas
e cursos de água - era a pé.

Japoneses e aliados cobiçavam a Baía de Milne e Buna, para a instalação de bases. Ignorando as advertências
de que a área de Buna-Gona seria ocupada primeiro pelo inimigo, o QG-Geral estabeleceu em seus primeiros
planos mudar-se para lá alguns dias depois da data em que os fuzileiros navais deveriam desembarcar em
Guadalcanal, no começo de agosto. Um dos objetivos da tropa aliada na Nova Guiné era estabelecer uma
pista de pouso, que pudesse ser usada em qualquer condição climática, nas planícies cobertas de capim a 24
km ao sul de Buna - em Dobodura - para uma ofensiva contra os japoneses em Lae e Salamaua.
Aproveitando a oportunidade, 1.800 soldados japoneses desembarcaram entre Buna e Gona na noite de 21
para 22 de julho, tendo sobrevivido aos ataques a seus transportes desfechados por Fortalezas e Marauders.
O bombardeio aliado durante esse período foi lamentável. Felizmente, os Aliados tiveram mais sorte na Baía
de Milne, chegando lá primeiro, com a 7 a Brigada de Milicianos e uma força de sapadores americanos que
estabeleceram posições defensivas e começaram a cortar coqueiros e construir pistas de pouso. Uma destas
ficou pronta no começo de agosto, podendo acomodar dois esquadrões de Kittyhawks e alguns bombardeiros
de reconhecimento Hudson, da RAAF.

Quando a 7a Brigada ocupava a Baía de Milne, sob o comando do Brigadeiro Field, seu único oficial com
experiência naquele tipo de guerra, um pequeno destacamento, a Força Maroubra, foi despachada de
Moresby, pela trilha além de Kokoda, em missão de reconhecimento. Eles estavam numa posição que
dominava a planície costeira do norte, sobre Buna e Gona, e o mar, mais além, quando os japoneses
desembarcaram. O Coronel Yokoyama, oficial do grupamento de sapadores, conduziu alguns homens, por
seu lado da "Trilha Kokoda", para fazer o reconhecimento da área e levantar o caminho que poderia levar o
exército de Horii até Moresby. Seu movimento foi contestado pelos milicianos australianos, que logo se
viram obrigados a recuar, com os experimentados japoneses infiltrando-se e flanqueando os inexperientes
australianos que lhes faziam oposição, até que, pelo final do mês, a aldeia de Kokoda e seu aeródromo foram
tomados. Tendo-se saído tão bem em apenas sete dias e com uma força relativamente pequena, o QG do 7°
Exército japonês determinou a Horii que explorasse ao máximo o êxito obtido e a visível fraqueza dos
australianos para fazer um ataque através da velha trilha. Kokoda tornou-se a base avançada do inimigo,
recebendo suprimentos e reforços. Mais tropas foram, de Rabaul, para ali transferidas.

Este era um momento ideal para o General Hyakutake, Comandante do 17° Exército, iniciar a segunda fase
do ataque de duas pontas que montara contra Port Moresby e mandar uma força de assalto para a Baía de
Milne. Entretanto, ele recebeu dois choques que, afinal, não detiveram sua operação, embora o primeiro
reduzisse o número de tropas que poderia empregar na Nova Guiné. A 1 a Divisão de Fuzileiros Navais, do
General-de-Divisão Vandergrift, desembarcou em Guadalcanal e tomou o Campo Henderson - uma ofensiva
que Hyakutake não acreditava ocorresse tão cedo - e a Baía de Milne já estava ocupada por tropas aliadas.
Ao largo da ponta sudeste de Papua fica uma pequena ilha que atraía Hyakutake devido à sua posição e ao
seu nome - Samarai. Fazia parte de seu plano ocupá-la também, mas ele teria de concentrar suas forças
contra quem construiu e fortificou a pista de pouso na Baia de Milne. Como medida de segurança, os rádios
dos Kittyhawks da RAAF permaneciam calados desde sua chegada até 4 de fevereiro, quando uma patrulha
de cinco aviões encontrou quatro Zeros e um bombardeiro de mergulho, com este último sendo derrubado.
Um dos Zeros estava com o trem de aterrissagem abaixado, provavelmente porque o piloto nipônico supunha
que a base fosse japonesa. Os Zeros escaparam aos Kittyhawks e sem dúvida foram os primeiros a
comunicar o que se passava na Baia de Milne. A 26 de agosto, os japoneses iniciaram uma ofensiva geral na
"Trilha Kokoda" e despacharam barcaças e navios carregados de tropas para tomar a Baía de Milne.

Na tarde de 4 de agosto, um batalhão estava realizando um exercício no seu acampamento, em Queensland,


quando o motorista J. Ferguson chegou no carro do Estado-Maior, com uma mensagem do brigadeiro,
solicitando a presença do comandante no QG da brigada. No caminho, houve a seguinte conversa:

Ferguson - É isto, senhor.


O Comandante - Isto o quê?
Ferguson - Vamos partir, senhor.
O Comandante - Partir para onde?
Ferguson - Nova Guiné, senhor.
O Comandante - E como é que você sabe?
Ferguson - Um dos cozinheiros da Divisão me disse, senhor.
O Comandante - Então deve ser verdade.

Este diálogo foi extraído da história do 2/10° Batalhão da FIA e é um verdadeiro exemplo da origem dos
boatos. O 2/10° foi realmente para a Nova Guiné, de acordo com os boatos, com o 2/9° e o 2/12° que
formavam a 18a Brigada. Com eles foi a 7a Brigada da Milícia, formada de Queenslanders da 9 a, o 25° e o
61° Batalhões, cujo comandante, Brigadeiro Field, já havia comandado o 2/12°. Quando eles
desembarcaram, no começo de agosto, o chão estava suficientemente firme para que os caminhões pudessem
levá-los pela estrada que orlava a baía, passando pela pista de pouso, feita de placas de metal, até a área do
campo. As estradas não duraram muito, pois eram feitas de coral mole, que se partia sob o peso dos veículos,
de modo que foi preciso os homens transportarem o equipamento e os mantimentos às costas. A princípio,
houve períodos de céu claro, embora a chuva, quando caía, fosse forte. A pista de pouso fora construída pelo
43° Regimento de Engenharia americano e pela 24a Companhia de Engenharia de Campanha, miliciana; uma
segunda pista de pouso e as posições defensivas estavam sendo preparadas, com a infantaria trabalhando
também na sua construção.
Desde a abertura, de 11 km de largura, num estreito chamado China, a Baía de Milne tinha 32 km de
comprimento no sentido leste-oeste; nas suas margens ocidentais havia um grande coqueiral, chamado Gili
Gili, cercado de montanhas densamente arborizadas. Havia uma trilha rodeando a baía, trilha lamacenta e
não totalmente aberta, que em ponto algum se distanciava mais de 100 m dos mangues junto ao mar e, do
lado norte, aproximava-se da região acidentada, coberta de mato e cortada por vários cursos de água. No lado
norte da baía havia lugares adequados para desembarques, todos nomeados, como: Ahioma, Waga Waga,
Goroni, Missão KB e Rabi; e mais perto do cais de Gili Gili ficava a longa pista de pouso n° 3, já aberta na
mata, mas ainda sem o necessário revestimento para que pudesse ser usada. No cais estava um navio de
abastecimento, o Anshun, e o navio-hospital Manunda, que entrara na baía para receber feridos. Ao norte de
Rabi, a cerca de 10 km de distância da costa da Baía Goodenough, havia outro bom local para desembarque -
Taupota.

O alimento dos soldados era a costumeira carne enlatada, C e L (carne e legumes), frutas enlatadas, biscoitos
duros e muito chá. Como haviam esquecido do fermento, os cozinheiros usavam leite de coco fermentado e
faziam um pão razoável. Nas campanhas cumpridas posteriormente no Pacífico, o leite de coco seria usado
para fazer uma bebida alcoólica, proibida, mas consumida, chamada suco-de-selva. Mas os cocos também
passaram a ser considerados perigosos, pois um coco de 2,5 kg caindo de uma altura de 18 m - e eles
estavam metidos num imenso coqueiral - podia matar um homem. Depois que um oficial superior foi
atingido no ombro por um deles todos receberam ordens de usar o capacete de aço. Num exercício, um
comandante-de-pelotão informou à sua companhia: "Estão avançando valentemente, apesar do fogo de
cocos". O leite e a polpa de coco, porém, eram uma complementação agradável à monótona dieta dos
soldados.

Mal chegaram, já havia gente caindo vítima das doenças tropicais. Uma investigação feita mostrou que as
linhas através do gráfico malária-precipitação pluviométrica eram paralelas - quanto mais alta a precipitação,
durante uma quinzena ou um mês, maior a incidência de malária. No período de junho-dezembro, a
incidência podia ser de 100 casos, em 1.000 soldados, por semana! E durante a luta na Baía de Milne, a
chuva raramente parava. Os soldados receberam tabletes de quinino que, infelizmente,
suprimiam os sintomas da doença num soldado já contaminado, e se este doasse sangue para um ferido, a
malária era transmitida - sem a ajuda da "agulha hipodérmica" do mosquito. O quinino vinha de Java e era
escasso; a "Atabrina", aperfeiçoada pelos americanos, substituiu o quinino. Os homens que andassem
descalços eram multados em 3 libras, porque as trilhas nativas estavam infestadas de ancilóstomos. Os
"shorts" usados em Queensland foram substituídos por calças compridas, de tecido leve, e todos foram
instruídos para que evitassem arranhões, pela facilidade com que se transformavam em feridas de difícil
cicatrização. O pequeno e funcional mosquiteiro verde, havia anos não era distribuído, e só se via o tipo
grande espalhado por toda parte. Os nativos locais, que eram muito amistosos e viviam em pequenos
agrupamentos de aldeolas; ensinaram os soldados a construir pequenas plataformas para dormir, com um teto
feito de folhas de coqueiro trançadas. Para satisfazer o fetiche dos australianos pela limpeza, havia por perto
numerosos regatos, para o banho e a lavagem de roupa.

Antes da arremetida na Baía de Milne, os que desenvolviam trabalho mais difícil eram os pilotos de caça dos
Esquadrões 75 e 76 e as tripulações de uma esquadrilha de Hudsons do 6° Esquadrão de bombardeiros de
reconhecimento, pois sem eles o inimigo teria tomado um ponto de apoio permanente. As condições de
existência dos pilotos não era melhor que a dos soldados e a pista de pouso de onde operavam era um
atoleiro com uma base de malha de aço. Quando um Kittyhawk pousava, espalhava lama que lhe cobria as
superfícies da fuselagem e da cauda, e o próprio pouso sempre provocava derrapagens. O 75° Esquadrão
resistira em Moresby; os líderes de ambos os esquadrões e a maioria dos pilotos eram veteranos e estavam
inspirados pelo fato de que era sua responsabilidade trabalhar em estreita ligação com os soldados
australianos, uma estranha e fraterna sutileza do moral que também funcionava entre os soldados. Era
sensível a confiança mútua, coisa muito valiosa quando ambos estavam prestes a se submeterem pela
primeira vez à prova contra um invasor supostamente invencível. Não houve chance de evacuação quando o
inimigo chegou - os japoneses controlavam os mares naquela região - e a volta para Moresby era uma
viagem muito longa. Naturalmente, a pista de pouso n° 1 seria o primeiro objetivo dos japoneses, depois que
estes tivessem estabelecido sua cabeça-de-praia. E como a pista ficava a apenas uns três quilômetros da
praia, no centro do lado ocidental da baía, a luta seria perto dali, independente do ponto de desembarque. A
decisão do acaso sobre esse detalhe era o que mais preocupava o General-de-Divisão Clowes: onde os
japoneses desembarcariam, se invadissem?
A Segunda FIA nomeou veteranos da Primeira Guerra Mundial para comandar batalhões e para comandos
mais altos nas primeiras formações. A maioria desses oficiais se compunha de civis que, em tempo de paz,
haviam mantido contato com o serviço de milícia. Clowes era soldado profissional, um artilheiro que dirigira
o Corpo de Artilharia ANZAC, na Grécia, em 1940. A 18 a Brigada da FIA tinha o comando do Brigadeiro
George Wooten, que comandara os mesmos três batalhões na Líbia. As duas brigadas, FIA e Milícia,
totalizavam 4.500 soldados de infantaria; havia uma bateria do 2/5° Regimento de Campanha e o restante das
tropas do exército totalizava uns 4.200 homens. O Chefe do Estado-Maior de Clowes era o Coronel Chilton,
jovem advogado que entrou em ação pela primeira vez em Bardia. O general colocou os batalhões
experientes da FIA no que esperava ser uma segunda linha, prontos para contra-atacar; o 61° batalhão foi
espalhado em efetivos de companhia em Ahioma, na Missão KB e em torno da pista de pouso n° 3.

Quem primeiro avistou o movimento inimigo foram dois observadores costeiros, que comunicaram a
presença de sete barcaças, de 15 m de comprimento, deslocando-se ao longo da costa norte de Papua, na
direção da ilha Goodenough, evidentemente pretendendo desembarcar na costa norte de Papua para fazer um
ataque de flanco, por terra, contra Gili Gili. Na manhã seguinte, 25 de agosto, aviões avistaram três
cruzadores, dois transportes, dois navios-tanques e dois caça-minas que se dirigiam para a entrada da Baía de
Milne. Naquela noite, um tênder da RAAF, atuando como explorador na baía, que estava continuamente
nublada e com tempo tempestuoso, informou, antes da meia-noite, que a força inimiga já se encontrava bem
dentro da baía. À 01 h, a sentinela mais avançada, perto de Ahioma, ordenou às várias pessoas que se
movimentavam na chuva e na escuridão que se identificassem; ela foi morta e quatro japoneses logo
tombaram, ao abrirem fogo os australianos. À medida que mais inimigos desembarcavam e subiam a trilha,
os australianos recuavam, mais depressa ao verem um tanque aproximar-se. Quando o tanque parou para
atravessar a primeira ponte de troncos, seu comandante foi morto, de pé na torreta. Cedendo vez a noite a um
dia muito escuro, pôde-se ver os navios de invasão saindo da baía, para evitar os aviões e a possibilidade de
os defensores terem canhões maiores que os de 25 libras.

Avistado o inimigo, os comandantes-de-esquadrão da RAAF, Jackson e Turnbull, decidiram deixar de lado as


barcaças por momento, para se concentrarem nos navios de invasão. Os Kittyhawkse Hudsons atacaram com
canhões e bombas - e o comboio continuou avançando. Os caças tiveram melhor sorte quando partiram a
deter as sete barcaças, encontrando-as encalhadas na ilha Goodenough e, após várias rajadas de
metralhadora, foram todas incendiadas, retendo as tropas na ilha e destruindo, também, seus suprimentos. Na
ação seguinte, os Kittyhawks fizeram bons ataques de metralhamento contra um transporte, mas não tiveram
sorte com suas bombas. Estas tinham sido recentemente acrescentadas ao armamento desses aviões, cujos
tripulantes só haviam praticado bombardeio de mergulho, uma tática impossível em tempo encoberto e com
nuvens tão baixas. As Fortalezas B-17 foram ajudar e também erraram o alvo, hábito infeliz das Fortalezas,
naquela época. (Quando uma delas afundou um destróier japonês, nas Salomão, o capitão do barco ficou
furioso com seu azar: "Elas sempre erram!" disse ele ao ser recolhido. "Por que isso tinha de acontecer
comigo?") Os Hudsons avariaram um destróier, que conseguiu, ainda assim, afastar-se.

Na manhã do desembarque, os Kittyhawks iniciaram uma série de ataques de metralhamento, que


continuariam enquanto eles pudessem ser reabastecidos e remuniciados. No primeiro ataque, acompanhados
pelos Hudsons, todas as barcaças avistadas foram afundadas ou destruídas com bombas incendiárias,
prejudicando o serviço noturno de transporte entre os navios e a praia e destruindo suprimentos. Os tambores
de combustível lançados ao mar, para que flutuassem até a praia, foram incendiados, o mesmo acontecendo
com os que se encontravam estocados em terra; um caminhão carregado de munições foi pelos ares e a orla
da praia, martelada por metralhamento. Zeros chegaram de Rabaul e dois deles logo foram derrubados pelos
pilotos do 75° Esquadrão. No dia seguinte, oito bombardeiros de mergulho, escoltados por doze Zeros,
chegaram para atacar a pista de pouso, e somente um bombardeiro de mergulho escapou; dois Zeros foram
também derrubados, perdendo-se um piloto da RAAF. Em apoio às tropas de terra, os caças fizeram grandes
contribuições, metralhando até que os canos das suas metralhadoras aumentaram de tamanho, de .5 para .6
pol. O Comandante-de-Esquadrão Turnbull foi morto numa dessas passagens de metralhamento.

Em seu segundo ataque, feito à noite, os japoneses avançaram até a Missão KB. No caminho, capturaram
vários nativos e os mataram a baioneta, após amarrarem seus polegares às costas. Selva densa rodeava a
maior parte dessa aldeia de várias cabanas, situada a apenas 100 m da praia. Os japoneses foram apoiados
por tanques, que acenderam os faróis para ofuscar o inimigo e para iluminar o terreno. Uma patrulha
avançada do 2/10° Batalhão aproximou-se para ajudar o exausto 61°, que fora envolvido em luta cerrada
durante a noite. Quando o inimigo usou um lança-chamas, os australianos lançaram granadas contra sua luz
cegante e o destruíram. Alguns japoneses gritaram em inglês uma ordem de retirada - e dois pelotões
obedeceram. Os blindados inimigos ainda se moviam pela trilha encharcada quando o 2/10° chegou, sem
canhões e sem fuzis antitanques. No "Diário" do mencionado batalhão consta o seguinte registro:

"Os homens estavam calmos... o silêncio foi interrompido por estranho som vindo do leste... Quando se
avistou uma luz pela selva, uma voz irritada gritou: "Apague essa maldita luz!" Pensava-se então tratar-se de
carretas Bren leves do batalhão. Mas eram os faróis de dois tanques japoneses. Cada um desses faróis,
instalados dentro de pesados refletores de aço, ficavam diretamente sob uma metralhadora... o terreno à
frente estava iluminado como pelos faróis de um automóvel, dando aos artilheiros japoneses um campo de
tiro muito bom ao longo da faixa iluminada. Além disso, os faróis e as lâmpadas eram tão pequenos, estavam
tão embutidos em seus refletores de aço, que somente um tiro bem certeiro e desferido de pequena distância,
contra o centro da faixa iluminada, é que poderia apagá-los... ao tentar isso, alguns soldados do batalhão
morreram... a linha estava destruída e um tenente foi despachado em busca de um canhão antitanque... ".

Seguiu-se um lúgubre prelúdio, antes que a luta recomeçasse, às 22h, e pouco depois os faróis dos tanques
foram acesos; a infantaria, que aguardava silenciosa, ouviu um canto agudo saído das profundezas da selva.
"Uma voz (muito bela) fazia-se ouvir por cerca de um minuto, depois do que numerosas outras vozes
soavam, estas bem mais perto do local onde estava o 2/10°... o segundo grupo, evidentemente
compreendendo algumas centenas de inimigos, e ainda mais perto, cantava em sonoro uníssono. Este
procedimento foi repetido três vezes. Se era alguma forma de rito religioso, ou simplesmente um recitativo
de bazófia, para inspirar coragem aos que cantavam e desespero aos que ouviam, não se sabe; o batalhão
também nunca mais ouviu esse tipo de manifestação musical."

A Companhia "B" do 2/10o suportou o peso daquele ataque noturno, por tanques e infantaria, usando fuzis,
armas automáticas, granadas de mão, morteiros leves e baionetas, tudo à distância de mais ou menos 20
metros. Balas traçadoras azuis, vermelhas, verdes e amarelas iluminavam o negro da noite, também clareada
por uma choupana de palha incendiada no setor dos australianos. As Companhias "B" e "C" experimentavam
pesadas baixas à medida que a batalha se intensificava, e os japoneses sofreram-nas em número ainda maior
quando tentaram avançar, com seus tanques deslocando-se sempre atrás da infantaria, até que esta tomasse o
terreno. Este era o tipo de luta em que os japoneses se haviam tornado peritos, por treinamento e experiência;
além disso, na escuridão, a chuva, o cheiro acre da selva, já confundiam o bastante, sem o tiroteio e os
tanques ameaçadores, com seus faróis acesos e seu mortífero fogo de metralhadora. O historiador do
batalhão, testemunha ocular do que ali se passou naquela noite, descreveu o problema criado pelos dois
tanques:

"Quando a munição de um tanque diminuía, ele se retirava para reabastecer-se, sendo logo substituído por
outro... o QG do batalhão foi bem castigado por morteiro leve, barulhento mas não muito perigoso, havendo
algumas baixas, mas também ali a maior parte do fogo errava o alvo, apesar de ser quase desfechado à
queima-roupa. Os Tenentes Gilhooley e Baird, do grupo de artilharia, foram mortos durante a primeira hora
da luta. Repetidamente os japoneses atacaram a Companhia "B", com intervalos de alguns minutos. O
soldado Jim Kotz encarregou-se de um Bren gun depois que três homens foram feridos ao guarnecê-lo.
Sozinho, ele avançou sob fogo intenso e calou um posto. Mais tarde, correu à frente com uma granada e
matou três inimigos que ameaçavam o QG da companhia. Embora com vários ferimentos no peito, retornou
às suas linhas com os integrantes da companhia a que pertencia. Por este ato lhe seria concedida a "Medalha
Militar"

"Vários inimigos penetraram nossas linhas, mas foram prontamente eliminados à baioneta, porém o bravo
Tenente Scott foi morto num desses ataques. Os japoneses pareciam não muito destros no uso da baioneta,
sendo repetidamente repelidos pela Companhia "B", que usava bem essa arma. O único objetivo do inimigo
era, evidentemente, avançar direto pela trilha principal, sem qualquer tentativa de disfarçar suas intenções ou
qualquer sutileza nas suas táticas. A técnica do aríete persistiu por três horas e meia, com fogo pesado
durante todo o tempo... os comandantes dos tanques inimigos haviam percebido que o 2/10° não dispunha de
arma capaz de pôr seus blindados fora de combate e começaram a ficar mais arrojados... Cada companhia
tinha apenas três granadas adesivas, que foram arremessadas contra os tanques de distância pequena, mas
não se grudaram neles. O Sargento Spencer e o Tenente Mackie, assim como outros, também usaram suas
granadas contra os tanques, sem qualquer resultado...

"As táticas dos tanques começaram a romper a linha de proteção da área, provocando certa desordem entre
os defensores, que procuravam desviar-se dos faróis dos atacantes e das balas disparadas ao longo da faixa
de luz. Na escuridão e em meio à infernal barulheira, o controle tornava-se difícil, mas o comandante
aguardava pacientemente o há muito esperado canhão antitanque, sabendo que alguns tiros bem disparados
acabariam com os tanques."

Mas o canhão antitanque não apareceu, sendo, por isso, o batalhão obrigado a recuar. O Major Martin foi
despachado para proceder ao reconhecimento da linha a ser defendida na retaguarda, mas os japoneses
estavam flanqueando o batalhão e ele foi, depois de cercado, morto em luta breve e furiosa que travou com
um grupo de japoneses. A batalha prosseguiu ao redor do batalhão. Ao amanhecer do dia 28, o comandante
dirigiu uma grande patrulha de volta à Missão, onde ainda havia 48 homens, incluindo o comandante da
companhia, e uns poucos japoneses logo foram eliminados.

"O grupo recolheu vários feridos, entre os quais estava o soldado Abraham que, embora ferido, passara a
noite repelindo as insistentes tentativas japonesas de passar por ele. Abraham recebeu cinco balas na perna,
mas, embora sofresse breves desfalecimentos, em virtude do sangue perdido, se mantinha firme no seu fuzil-
metralhadora Bren. A contragosto deixaram-no para trás quando o pelotão foi retirado. Uma patrulha,
enviada pelo grupo, encontrou Abraham consciente. Dez japoneses o haviam atacado, e ele resistia. Matara
seis e ainda tinha quatro a acossá-lo por trás de uma cabana. Durante a noite, um tanque também o atacara,
mas ele conseguira escapar rolando o corpo." Abraham foi agraciado com a "Medalha de Conduta
Distinguida".

Durante esta ação, que manteve em xeque o principal corpo japonês durante quatro horas vitais, a
Companhia "B" teve 17 mortos e 13 feridos, e o resto do batalhão, 26 mortos e 13 feridos. A companhia
quebrou a força do ataque, que continuou agindo contra dois dos batalhões milicianos de Queensland que,
em seu batismo de sangue, mostraram à FIA que podiam lutar como veteranos. Antes que o 2/10° recuasse,
trouxeram um fuzil antitanque - um daqueles Boyes, compridos e pesados, que ferem o ombro quando a
granada de 20 mm é disparada. O Cabo O'Brian colocou-o em posição na estrada, deitou-se na lama,
disparou contra o primeiro tanque de mais ou menos 10 metros de distância, detendo-o. Depois, apontou para
o segundo tanque e, com dois tiros, também fê-lo parar. Antes que ele se retirasse, um japonês que tripulava
o segundo tanque levantou-se e atirou uma granada contra O'Brien, ferindo-o. Outra "MCD". As Companhias
"B" e "C" levaram dois dias para se desvencilharem da área da Missão "KB", recuando pela selva muito
densa e com pouquíssimo alimento.

Além dos ruídos da batalha noturna em terra, havia, na baía, sons de barcaças e navios, sons agourentos que
só podiam significar um segundo desembarque do outro lado da baía. Para Clowes, o perigo era evidente e
ele conservou seus batalhões de reserva, mantendo um perímetro defensivo, de base estreita, com a
retaguarda desimpedida para, se necessário, recuar para as colinas. Durante a batalha, ninguém teve muita
chance de secar os pés, o que fez surgir entre os soldados de infantaria dos dois lados numerosos casos de
infecção, pois a umidade e o calor ali reinantes favoreciam a proliferação de fungos.

Quando o 25° Batalhão se aproximou, um caminhão carregado de bombas adesivas, "coquetéis Molotov" e
munição extra foi mandado, pela estrada, para Rabi e, por fim, um canhão antitanque foi despachado para a
linha de combate. Mas, infelizmente, o caminhão atolou na estrada, transformando-se num obstáculo, e os
japoneses atacaram o canhão, que foi destruído e abandonado. O fogo de artilharia fora suspenso, por morte
dos observadores, e cortada a linha de ligação com a infantaria. O mesmo aconteceu novamente quando os
disparos indicaram a presença de um pelotão amigo na área do alvo; o pelotão derrubou cerca de 50 soldados
inimigos. Isto aconteceu durante a noite de 27. O dia seguinte foi de descanso para as tropas, pois os
japoneses lutavam de preferência à noite, repousando durante o dia. Mas eles não teriam o descanso que
esperavam, pois os Kittyhawks passaram a atacá-los do despertar do dia até o anoitecer, gastando os canos de
suas armas ao atirar milhares de cartuchos contra o matagal onde o inimigo devia estar oculto; muitas balas
foram desperdiçadas, mas muitas acharam o alvo.

Os comandantes australianos não costumavam enviar ao QG relatórios sobre a batalha com a freqüência
exigida pelo órgão, sobretudo quando a base nada podia fazer para ajudar. Na Baía de Milne, o inimigo
dominava o mar, indo e vindo à vontade, protegido contra ataque aéreo pelo mau tempo. Era-lhe fácil
deslocar para aquele campo de luta o reforço que entendesse e desembarcar onde quisesse, nos quase 80 km
de costa da baía. Mas, que poderia alguém da base fazer para ajudar?

Naquele dia, 28, o Chefe de Estado-Maior de MacArthur, General Sutherland, mandou uma das muitas
arrogantes mensagens que sairiam do seu QG: "O Comandante-Chefe solicita que o senhor mande o
General-de-Divisão Clowes desimpedir imediatamente a costa norte da Baía de Milne e que o instrua
também no sentido de enviar um relatório que deve chegar ao QG-Geral até as 08 h (dia 29) sobre a ação
tomada, juntamente com uma estimativa dos efetivos do inimigo na área. Queira também pedir a opinião do
General Clowes sobre a possibilidade de que um segundo movimento dos navios inimigos na Baía de Milne
tenha sido para a retirada de forças anteriormente desembarcadas".

O subchefe de Blamey, General Vasey, escreveu ao General Roiavell, Comandante na Nova Guiné, que
passou a ordem a Cyril Clowes. Vasey, veterano de duas guerras, acrescentou ao seu comunicado para
Rowell: "Você talvez não compreenda que para o QG-Geral esta é a sua primeira batalha, e que, portanto,
como muitos outros, está nervoso, insistindo no recebimento de mensagens freqüentes... Creio que já se
tenha criado uma impressão errada sobre nossas tropas no espírito dos grandes. Estou agora aguardando o
resultado das atividades de ontem de Cyril. Estou louco para dizer-lhes: "Não lhes falei? Matamos os patifes
todos".

MacArthur advogava que todos os comandantes lançassem suas tropas incessantemente contra o inimigo,
numa carga continua e interminável, independente das baixas sofridas. Ele parecia a revivescência dos
generais da Primeira Guerra, que da segurança dos seus QG distantes arquitetavam as cargas monumentais,
como se o ato de cobrir o chão de cadáveres e mutilados fosse componente essencial da guerra. Se essa gente
passasse da imaginação.para a realidade, todos seriam excelentes soldados rasos japoneses. Felizmente o
australiano era fundamentalmente avesso às bravatas e imprudências, embora às vezes alguns se
constituíssem em exceção e se arriscassem demais, como o Cabo French, na ação de 4 de setembro, quando
as metralhadoras japonesas estavam detendo o avanço australiano pela trilha. O Cabo French, um
Queenslander alto e forte, mandou que sua seção se protegesse e, com granadas, atacou o primeiro de um
grupo de três postos de metralhadoras. Calou o primeiro, foi buscar mais granadas, atacou e silenciou o
segundo posto. Então, disparando uma submetralhadora Thompson, correu contra o terceiro posto, matou sua
guarnição, mas morreu, à beira do poço de tiro, em virtude dos ferimentos sofridos. Recebeu postumamente
a "Cruz da Vitória". Houve muitos como o Cabo French na Nova Guiné, nem todos, porém, distinguidos com
a mais alta condecoração por bravura. Alguns foram totalmente ignorados.

Os comandantes-de-batalhão australianos (que haviam sido cuidadosos com seus homens na Líbia, Tobruk,
Grécia e Síria, e preferiam recuar a desperdiçar desumanamente a vida dos seus homens em ações
desesperadas) foram informados de que MacArthur e o Estado-Maior do seu QG não estavam satisfeitos com
a demora da vitória na Baía de Milne e com o avanço pela "Trilha Kokoda". Se MacArthur tivesse aparecido
na linha de frente e expressado tais opiniões diretamente para os soldados, haveria, por certo, reação geral.
Talvez até os japoneses se solidarizassem com os australianos, tão gritantemente injustiçados. Blamey
recebeu as queixas e, sendo um "bom soldado", passou-as adiante.

Apesar dos desejos dos generais, era impossível aos soldados lutar dia e noite e, tampouco, lutar em qualquer
outra direção que não ao longo da estreita faixa de terra que não passava de enorme atoleiro e de uma selva
terrivelmente fechada. Este era o momento em que Blamey deveria ter ficado mais firmemente ao lado dos
seus homens e insistido em que o Q-G-Geral reduzisse a interferência em seu comando. Era muito fácil para
o pessoal do Q-G-Geral andar dizendo: "Só queremos combater os japoneses" - frase esta comumente
ouvida, disse Vasey. O Subchefe também a propósito expressou a opinião de que "o problema de MacArthur
é que sua marinha foi para as Salomão e ele quer informações nas quais basear um pedido, ou exigência, a
Washington para recebê-la de volta".

Quanto a isto, MacArthur tinha razões para se preocupar, pois as operações nas Salomão haviam
experimentado aumento progressivo, tendo nelas engajado forças japonesas destinadas às operações na Baía
de Milne; se isso não houvesse ocorrido, o resultado teria sido diferente. As duas brigadas australianas e
todos os outros soldados e aviadores teriam sido obrigados a recuar. A Rádio de Tóquio anunciara que os
fuzileiros navais americanos que lutavam em Guadalcanal eram como "insetos de verão que caíram no fogo
sozinhos". O Tenente-General Hyakutake, Comandante do 17° Exército, designado para a área do Pacífico
Sudoeste, também mandou mais homens para "o fogo", e quando os fuzileiros navais massacraram um
regimento da 35a Brigada de Infantaria, seu comandante, Coronel Ichiki, rasgou a bandeira do seu regimento,
queimou os trapos e cometeu o hara-kiri (hara: barriga, kiri: cortar). Essa derrota ocorreu a 21 de agosto.
Hyakutake enviou mais duas divisões, uma delas desviada da Nova Guiné, para o mesmo fogo de
Guadalcanal, prolongando a batalha nesta ilha até dezembro.

O Major Bicks, um inglês de Twickenham, que comandava uma companhia do 61 o Batalhão, conduziu pela
manhã uma patrulha até o local da ação que teve lugar na noite anterior, e viu que os japoneses, ao serem
obrigados a recuar no rio Gama, haviam fuzilado seus próprios companheiros feridos; viu também nativos
mortos a tiros e a baioneta, além de vários australianos cujas mãos tinham sido amarradas às costas, com
braços quebrados por balas, e depois mortos a baioneta. Enquanto Bicks fazia sua patrulha, MacArthur
punha Washington a par da situação, acrescentando: "... ainda não estou convencido da eficiência das
unidades australianas, por isso não tento fazer previsões quanto a resultados".

As defesas agora estavam concentradas perto da pista de pouso n° 3, então desimpedida e fora de uso, um
campo tentador, de 1.500 m de comprimento, para o disparo de uma carga banzai. Às 03h do dia 31, os
japoneses preparavam uma abordagem, quando foguetes luminosos lançados pelos australianos, clarearam o
inimigo para fogo rápido e preciso de fuzil, acompanhado de rajadas de metralhadora. Pouco antes do
amanhecer, três toques de um clarim chamaram os japoneses restantes para dentro da selva. Durante a noite,
Clowes mandou o 2/12o Batalhão apoiar o 61o na pista de pouso e também para contornar a Missão "KB".
Japoneses aparentemente mortos, de súbito levantavam-se e abriam fogo; por isso, foi dada ordem para que
atirassem contra todos os japoneses deitados. Eles encontraram também um menino e uma mulher nativos
horrivelmente mutilados, e dois australianos amarrados e mortos a baioneta. A notícia das atrocidades
predispôs os homens contra a idéia de se fazer prisioneiros e reforçaram neles a decisão de expulsar o
inimigo da Baía de Milne. Naquela noite, os milicianos mataram 90 de cerca de 300 japoneses que atacaram
da direção da selva, aos berros. O 2/12 o sondou à frente e o 2/9o foi liberado da área do cais, juntando-se à
luta.

À noite, os destróieres japoneses aproximavam-se e disparavam granadas contra a área dos defensores,
normalmente sem causar muitas baixas. Uma vaca que pastava nas proximidades da cantina da Força Aérea
foi pelos ares ao pisar numa mina. O estrondo fez que o servente, acreditando que os japoneses estivessem
por perto, destruísse todo o estoque de cerveja, ganhando com isso o ódio de todos. Os australianos agora
estavam na ofensiva, mas não atacando loucamente contra o fogo de metralhadoras (embora alguns fizessem
isso), e sim avançando de escaramuça em escaramuça. No dia 5, o 2/9 o atacou, atrás de uma barragem de
artilharia e do metralhamento pelos caças, levando os japoneses a recuar ainda mais, até serem obrigados a
entregar o que restava da sua principal base de abastecimento. Na noite seguinte, quando os destróieres
tornaram a entrar na baía, eles iluminaram com seus holofotes o navio de abastecimento Anshun, que
descarregava em Gili Gili, e afundaram-no a tiros de canhão. O Manunda, com o casco já iluminado par a
mostrar sua identidade, também foi por duas vezes batido pelos faróis dos destróieres naquela noite, mas não
foi atacado. Clowes supunha estivessem os nipônicos promovendo novo desembarque, mas na realidade, eles
recolhiam seus homens derrotados, e não desembarcando reforços. Eles tiveram 350 retidos ou mortos na
ilha Goodenough, 300 afogados, quando a RAAF afundou um transporte na baía, e 700 mortos na luta em
terra. Na manhã do dia 7, um cruzador e duas corvetas retiraram os remanescentes da força invasora
nipônica, dentre os quais, 600 feridos.

MacArthur enviou um comentário muito estranho para Washington: "A derrota do inimigo na Baía de Milne
não deve ser vista como medida da capacidade de combate dos nossos soldados. O fator decisivo foi a
completa surpresa obtida sobre o inimigo pela concentração preliminar de forças que fizemos e que lhes
eram superiores". Ele criticou o modo de Clowes conduzir a batalha, afirmando que este "não agiu com a
rapidez esperada". Blamey, sem considerar os impedimentos que Clowes tinha pela frente, como, por
exemplo, as condições de terreno e a possibilidade de ser flanqueado por novas forças adversárias
desembarcadas, deu apoio às críticas de MacArthur, mas Rowell, que entraria em choque com Blamey na
Nova Guiné, apoiou Clowes: "... Estou seguro de que ele estava com a razão. A incapacidade de movimentar-
se, exceto muito lentamente, mais a ameaça constante de novos desembarques, tornaram-lhe impossível a
pretendida rapidez". A conveniência política impediu Blamey de dizer a MacArthur onde parar; em vez
disso, apoiaria todas as ordens que dele emanassem, inclusive as do tipo "apresse-se a qualquer preço",
dirigidas com freqüência aos comandantes de campanha, que sabiam como derrotar o inimigo sem baixas
desnecessárias.

Esta foi a primeira vitória terrestre completa sobre o Japão desde o começo da guerra, e, embora a ação possa
ter sido pequena, a notícia do êxito obtido foi muito alentadora - para todos os australianos, para o comando
que tivera dúvidas sobre a milícia, para os fuzileiros navais em Guadalcanal e para os britânicos na Birmânia,
onde o Corpo do General Slim estava lutando em Arakan. Em suas memórias, Defeat Into Action, ele
escreveu: "Se os australianos, em condições muito parecidas com as nossas, conseguiram-no, também nós
conseguiremos. Alguns dentre nós talvez se esqueçam de que, entre todos os soldados aliados, os
australianos foram os primeiros a romper o encantamento da invencibilidade do exército japonês; nós, que
estivemos na Birmânia, temos razões para lembrar".
No fim desta pequena batalha travada na extremidade oriental da Nova Guiné, a Baía de Milne de repente
tornou-se estrategicamente valiosa, de modo inverso ao pretendido pelos japoneses; transportes e barcaças de
invasão se reuniriam para levar soldados aliados, sob a proteção segura dos caças baseados na Baía de Milne,
até as praias de desembarque nas bases da Nova Guiné, próximas do Japão. A Baía de Milne foi uma boa
vitoriazinha - também para a RAAF - porquanto compensou a notícia desagradável vinda das Salomão, onde
as belonaves inimigas foram em geral muito bem sucedidas, e da serra Owen Stanley, onde os australianos
estavam recuando pela "Trilha Kokoda".

A oeste de Port Moresby, ao longo da costa sul de Papua e da Nova Guiné Holandesa, somente um lugar
interessava aos japoneses; Kokonau, situada a uns 500 km de Merauke, na costa noroeste. Em 1942,
concluíram os nipônicos que aquela inóspita região orlada de grandes áreas pantanosas, era de muito pouco
valor militar ou comercial. Mas estavam muito equivocados, pois Mecauke foi desenvolvida, por sinaleiros
da RAAF, artilheiros antiaéreos americanos, soldados de infantaria australianos e holandeses e, mais tarde,
por caças e bombardeiros da RAAF, transformando-se numa base muito boa. Aviões japoneses vez por outra
atacavam o aeródromo e patrulhas marítimas saíram de Kokonau em 1943 para atacar os postos avançados
criados pelos australianos. Um pequeno combate naval deu-se a 22 de dezembro, quando duas barcaças
japonesas de 12 m de comprimento, transportando 10 japoneses, aproximaram-se, à distância de tiro de
morteiro e metralhadora, de uma lancha que transportava o Capitão Wolfe e um grupo de engenheiros numa
missão de levantamento topográfico. Os australianos replicaram com fogo de Bren e fuzis e, quando os
barcos se juntaram mais, com granadas. Após dois minutos de tiroteio e lançamento de granadas, o inimigo
recuou. Como resultado desse encontro, estabeleceu-se um posto perto da foz do rio Eilanden, guarnecido de
metralhadores que estavam alerta quando o inimigo voltou, como já esperavam. Desta vez ele vinha em três
barcaças e cinco lanchas, mas não chegaram a desembarcar, perdendo cerca de 60 homens quando os
australianos abriram fogo. Aviões da RAAF e patrulhas do exército controlaram esse trecho da costa sul da
Nova Guiné pelo resto da guerra.

A "Trilha Kokoda"
Antes da batalha da Baía de Milne, a campanha da Nova Guiné já havia começado em duas vagas frentes: no
Vale do Markham, onde os comandos e os fuzileiros da milícia da Nova Guiné, em desesperada inferioridade
numérica, desenvolviam uma luta de guerrilha, e ao longo da "Trilha Kokoda". O Coronel Kingsley Norris
(ADMS) da 7a Divisão, descreveu a região: "Imagine uma área de aproximadamente 160 km de extensão,
com uma série de serras, de altura que variava entre 2.100 e 900 metros. Recubra tudo isto de selva, árvores
baixas e árvores altas envolvidas em lianas selvagens. Por entre a espessa mataria passava uma trilha nativa...
" Esta era a serra Owen Stanley, onde ocorreria a luta pela proteção imediata de Port Moresby. Havia uma
estrada, de cerca de 40 km, ligando Port Moresby a Uberi, cidadezinha plantada num planalto situado diante
da serra principal; de Uberi, a trilha subia para 360 m através da "Escadaria Dourada". Seus degraus
variavam de 25 cm a 40 cm de altura, e na borda dianteira de cada degrau havia um tronco preso por estacas,
atrás do qual, sempre água empoçada e lama; alguns dos troncos se encontravam soltos e inclinados, de
modo que muita gente tropeçava neles e, quando isso acontecia, o camarada ou mergulhava na lama ou batia
com a cabeça nas árvores. O peso da mochila, mais ou menos 30 kg, mais um fuzil - ou um fuzil-metralhador
Bren - tornava tudo ainda mais difícil, embora, mesmo sem carga, após os doze primeiros degraus não
houvesse quem não resfolegasse de cansaço. A partir daí, era, como disse um soldado do 2/14 o Batalhão,
"apenas questão de pura determinação, de obrigar o corpo a realizar o impossível. As companhias de
retaguarda, onde a coisa era mais difícil, demoravam 12 horas para percorrer os 14 km" - apenas 6 km em
linha reta.

Após subir 360 m, a trilha descia 480 m antes de chegar à subida final, de 600 m, pela serra Imita - subida
quase vertical nas últimas centenas de metros. Os dias eram úmidos e quentes, as noites, terrivelmente frias.
A chuva, quase contínua, transformava, como informou um homem do 2/16°, "a pista num traiçoeiro lamaçal
entrelaçado de raízes, de onde se projetavam invisíveis mãos que com freqüência faziam cair os soldados
sobrecarregados. Lianas os prendiam; galhos que a forte chuva fazia dobrar lhes batiam no rosto, e a marcha
prosseguia, debaixo de muita chuva e suor". Por toda a parte, mosquitos, micuins, bichos-de-pé,
sanguessugas, e a malária grassava com violência, assim como a disenteria e as infecções, usinando
autênticos fantasmas no seio de homens que pretendiam desafiar a morte para fazer parar o guerreiro
nipônico. Depois de Imita, outras serras tinham que ser transpostas para que a serra central de Myola fosse
alcançada, depois do que a trilha acompanhava uma saliência até a travessia de Templeton, no Arroio Eora,
para subir e descer novamente, numa extensão de uns 16 km, até Kokoda, a meio caminho para Buna, que
fora centro administrativo, e Gona, antiga missão. De Kokoda para Buna - cerca de 60 km por via aérea - a
região não era tão acidentada, havendo mais descida do que subida para os que se dirigiam para o norte.

O Brigadeiro Porter, antes de despachar seu 39° Batalhão (milicianos, reforçados de alguns oficiais e praças
graduados da FIA), reuniu grandes grupos de carregadores nativos que seriam a sua coluna de abastecimento.
O General Morris, de Angau, com base no Regulamento da Segurança Nacional, convocou os elementos
nativos disponíveis, que eram muitos, para trabalhar na lavoura e como carregadores, mas eles não se
mostravam muito dispostos a ser levados a trabalhar. Quando mais tropas se dirigiram para a serra, o número
de carregadores nativos não era nunca suficiente para transportar o sempre escasso suprimento de rações,
munições, armas e equipamentos vários. O cabelo crespo dos nativos inspirou os australianos á chamá-los de
fuzzy-wuzzies e em geral eles se davam muito bem. Em inúmeros momentos os nativos viram-se submetidos
a grande carga de trabalho, momentos verdadeiramente críticos para a salvação do país da ocupação e do
sombrio futuro da "Co-prosperidade" para os melanésios. Cavalos de arado, mulas e brumbies (cavalos
selvagens), capturados na área da Enseada de Bootless, também eram usados para levar suprimentos por
trechos da trilha. Os animais e os nativos, além do material necessário à tropa, tinham igualmente que
carregar o suprimento que durante a viagem consumiam. Sendo o tempo de duração da viagem, até Kokoda,
de oito dias, o transporte de carga necessária à tropa se reduzia muito, diante da necessidade de os
transportadores, como se disse, carregarem aquilo que iriam consumir, comprometendo muito o
abastecimento da tropa, se não houvesse lançamentos de pára-quedas. Os japoneses, embora suas rações
fossem mais leves, também experimentariam o amargo problema das necessidades logísticas básicas nessa
região, onde havia sensível escassez de alimentos. As condições de solo, a precipitação pluviométrica e o
clima davam excelentes legumes e frutas, mas as hortas nativas eram cultivadas apenas para abastecimento
limitado; não havia necessidade de se fazer grandes estoques, pela certeza da produtividade.

Otimista, a 30a Brigada de Porter avançaria até Buna - Gona, seguida das tropas da FIA, vindo atrás destas
um corpo de duas divisões americanas, comandado pelo General-de-Divisão Robert Eichelberger. Para
começar, o plano de MacArthur incluía a segurança da crista da Owen Stanley, de Kokoda até Wau. Os
Aliados foram vencidos na corrida. A 21 de julho, cruzadores e destróieres japoneses escoltaram transportes
até Buna e, no dia seguinte, até Gona. Fortalezas e bombardeiros Mitchell atacaram e os resultados foram
bem típicos dos padrões de bombardeio da força aérea americana da época, não causando muitos danos ao
inimigo no mar ou nas praias. O desembarque foi a razão do envio imediato do batalhão da milícia para
bloquear um avanço inimigo sobre Kokoda. O General-de-Brigada Willioughby, Chefe do Serviço de
Inteligência de MacArthur, foi vítima da ilusão de que os japoneses não pretendiam seguir por terra até Port
Moresby, mesmo após a Batalha do Mar de Coral e do desembarque na Baía de Milne. Para ele, o inimigo
desejava a posse da área de Gona-Buna-Kokoda, a fim de estabelecer bases aéreas de onde poderia atacar
Port Moresby e as bases aliadas no norte de Queensland. Ele insistiria nisso por muitos meses, deixando-se
influenciar por tal ponto de vista ao formular as estimativas dos efetivos japoneses. Dessa maneira, o volume
de forças nipônicas era sempre subestimado, tanto em número quanto em qualidade. Deste oficial de Estado-
Maior MacArthur recebeu informações que provavelmente o levaram a pensar que quando os australianos
foram repelidos pela trilha, estava recuando diante de força que lhes era numericamente inferior. Outro
exemplo flagrante da desinformação reinante no Estado-Maior do Comandante-Chefe foi a recomendação,
expedida por seu Chefe dos Engenheiros, para que se fizesse o bloqueio do trecho denominado "Brecha",
demolindo-o; mesmo que houvesse apenas uma trilha estreita entre os altos rochedos, não seria impossível
transpor os escombros deixados pela demolição.

Esses erros levaram um oficial de Estado-Maior australiano, muito experiente, embora jovem, a pensar que o
Q-G-Geral fora ocupado por gente que nada sabia a respeito das qualidades dos soldados australianos, das
necessidades estratégicas do inimigo e do terreno onde a campanha estava sendo travada e que, até que
viessem a contar com transporte mecanizado que lhes possibilitasse "ir o mais longe com o máximo" (o
axioma do General confederado Nathan Bedford Forrest), eles estariam sob a pressão da impaci6encia, da
desconfiança e do nervosismo.

Um batalhão da Infantaria Ligeira Papua recuou, em Buna, quando 2.000 japoneses desembarcaram e, no
caminho de volta pela trilha, a maioria dos soldados de infantaria nativos "escondeu-se no mato", de modo
que quando uma companhia avançada do 39° chegou à área de Kokoda, encontrava-se muito desfalcada para
que pudesse defender o aeródromo. Kokoda ficava a uns 10 km da trilha principal, que se ramificava em
Deniki, local que fora transformado em posição defensiva. Mais para a retaguarda, em Myola, havia o leito
de um lago seco, um prato nas montanhas muito conveniente para lançamentos de pára-quedas que, na
época, era uma técnica muito primitiva. Suprimentos foram lançados em sacos duplos, para assegurar a
proteção da maior parte do conteúdo. De Myola, os suprimentos eram transportados para depósitos na
Travessia Templeton, no arroio Eora, Alola e Isurava pelos nativos de Angau, homens já dominados pela
exaustão e por virem já havia muito se mantendo em regime de alimentação escassa. À medida que a pressão
japonesa aumentava, parecia que os suprimentos guardados em setores tão avançados não seriam necessários
durante muito tempo.

Quando o batalhão, que se encontrava com efetivos aquém do normal, entrou finalmente em ação, fê-lo
através de pequenos grupos de patrulha, que preparavam emboscadas e provocavam escaramuças. Os feridos
eram abandonados, e os que eram capturados nessa época, desapareciam para sempre. O 39° tentou ganhar
terreno contra o avanço japonês. No processo, os japoneses perderam muita gente, mas, mesmo assim,
obrigaram os australianos a recuar. Em Kokoda, a 9 de agosto, a vanguarda japonesa foi detida, escrevendo
um oficial, a propósito desse entrevero, em seu diário: "o fogo inimigo obrigou-nos a recuar. O pelotão foi
dispersado, tornando-se impossível repetir nossa carga... O ataque noturno fracassou. O Pelotão n° 1 também
fez um ataque, por volta das 03h, que igualmente malogrou. Perco homens todos os dias. Não pude conter
lágrimas de amargura. Fiquei esperando pelo amanhã e lutei contra o frio e a fome". Na noite seguinte, os
japoneses desfecharam seu ataque. Após hora e meia de luta, o inimigo, embora sofresse pesadas baixas, era
ainda bem numeroso. Os australianos recuaram. Em Deniki, o inimigo "subiu a colina em fileiras de quatro
ou cinco, de shorts e capacetes... O pelotão do Tenente Simonson o repeliu com granadas e fuzis-
metralhadoras", debaixo de forte chuva de nevoeiro. Comparados com os grandes ataques frontais que
ocorreriam mais tarde na Nova Guiné, estes foram muito pequenos, mas importantes porque atrasavam o
inimigo quando o tempo era da máxima importância para o programa aliado. A luta ali se transformaria em
bolsões formados perto da trilha, de modo que jamais haveria concentração maciça no que se poderia
imprecisamente chamar linha de frente.

As ações de retardamento ficaram mais fortes quando o 53° Batalhão chegou para ajudar o 39 o (a FIA os
chamava de "aqueles heróis maltrapilhos e sangrentos"), que havia suportado o peso do ataque por quase três
semanas. Seu Comandante, o Tenente-Coronel Honner, escreveu: "Os guerreiros constrangedoramente
jovens do 39o estavam em péssimas condições físicas. Esgotados pela luta extenuante e pelos muitos
movimentos exaustivos, enfraquecidos pela falta de alimento e de abrigo, muitos haviam literalmente parado.
Quase todos os dias caíam chuvas torrenciais à tarde e à noite, enchendo os poços de armas e encharcando as
roupas que usavam, as únicas que tinham. Assim molhados, eles tremiam nas longas e solitárias noites de
vigília, quando eram obrigados a ficar despertos e alerta, mas imóveis e calados... " Trechos de relatórios
feitos no local refletem mais fielmente as situações do que as declarações divulgadas pelo Q-G-Geral, onde o
general derrotado das Filipinas pedia vitórias. Na verdade, era extraordinário que esses milicianos
inexperientes estivessem enfrentando à altura, naquelas condições e em contato cerrado, o inimigo que, como
Dudley McCarthy descreve com precisão em South-West Pacific Area - First Year, era "valente e resoluto...
persistente e paciente... mesmo distante de suas linhas de abastecimento. Quando diante de oposição, ele
buscava os flancos e, depois, espalhava-se para envolve-lo antes de tentar vencê-lo. Ao atacar posições
preparadas, ele voltava sempre e sempre ao mesmo ponto - embora temporariamente pudesse mudar visando
outros locais - tentando abrir brecha por onde penetrar. Diante da retirada do adversário, o nipônico se
mantinha tenazmente próximo aos retirantes, para lhes reduzir a chance de escapar e reter a iniciativa nas
patrulhas. As elevações às margens das trilhas, ele as usava com grande vantagem, assim como sabia fazer
bom uso da camuflagem. Suas armas e equipamentos eram leves e bom o sistema de comunicações que
mantinha, adaptando com habilidade dispositivos e condições locais para seu próprio uso".

Esses homens eram os melhores que Hyakutake podia reunir para o General Horii e contavam com
experiência adquirida na China, Filipinas e na Malásia. Compunham-se inicialmente do 124 o e do 41o
Regimentos de Infantaria, um regimento de sapadores e dois regimentos de artilharia, além de tropas de
serviço. O Segundo Grupo de Infantaria foi mandado para a Baía de Milne, mas Horii ainda tinha consigo
uns 13.500 soldados quando o avanço para a Owen Stanley tomou impulso.

Do outro lado das montanhas, a 7 a Divisão da FIA, menos a brigada que fora para a Baía de Milne, estava
subindo a "escadaria dourada" para ajudar os batalhões da milícia. A 21 a Brigada, tendo o 2/14o Batalhão à
frente, chegou quando os ataques inimigos se haviam tornado mais intensos e persistentes. Homens cansados
da luta deslocavam-se atrás da brigada, que ia dominando todos os truques da batalha na selva. Nos pontos
dominantes foram instaladas metralhadoras como fator principal de defesa; os dois adversários tornaram-se
peritos no preparo de armadilhas ao longo dos caminhos pela selva, onde as emboscadas eram coisas
cotidianas. A cadeia de comando australiana fixou-se assim: General-de-Divisão "Tubby" Allen - que
comandara uma brigada na Líbia, Grécia e Síria - detinha o comando da divisão, subordinado diretamente ao
General Rowell, do QG da Força da Nova Guiné; Rowell era subalterno de Blamey, que guardava
subordinação a MacArthur. No Q-G-Geral, o General Vasey ouvia e transmitia os relatórios das duas
extremidades, acrescentando-lhes opiniões de ordem pessoal.

Mesmo que não tivessem sido obrigados a tal, foi boa a idéia dos australianos de recuar para as serras perto
de Moresby, a fim de encurtar suas linhas de reforços e abastecimento, fazendo que se estendessem as do
inimigo. Os japoneses não tinham frotas de transporte aéreo, ao passo que os Aliados preparavam a sua, e os
caças aliados eram perigosos demais para que os bombardeiros japoneses pudessem lançar muito
suprimento. A 1o de setembro, Horii recebeu mais 1.000 soldados inteiramente descansados, que ele de
imediato despachou para reforçar o 124 o Regimento. O General Allen não pretendia desperdiçar soldados nas
mesmas quantidades em que Horii perdia os seus e, à medida que se familiarizava com a situação, Allen
equacionava os dados de uma contra-ofensiva prolongada para quando se oferecesse o momento propício. O
2/14° e o 2/16° encarregaram-se dos movimentos de retirada, durante os quais se matavam japoneses, tarefa
de que se incumbiam os milicianos, que estavam em ação desde começo de setembro. Numa das suas
primeiras ações, a 29 de agosto, o 2/14° foi alvo de violento ataque, que foi repelido através de um contra-
ataque em que B. S. Kingsbury, soldado raso, com seu Bren e muita coragem e determinação, abriu brechas
sensíveis na linha atacante inimiga, fazendo, por isso, jus à "Cruz da Vitória", que lhe foi postumamente
conferida. Naquele dia, o inimigo perdeu uns 200 homens. Seções, pelotões e companhias estavam fazendo a
guerra: não havia espaço para formações maiores. Se as condições do abastecimento houvessem melhorado
para os australianos, a luta poderia ter prosseguido nessa área, em torno do arroio Eora; mas o sistema de
abastecimento estava em colapso. Havia escassez das coisas mais essenciais - como uniformes de
camuflagem verdes, ferramentas para abrir trincheiras, em lugar das baionetas, capacetes etc. Os feridos
deslocavam-se para a retaguarda em geral a pé. Quando não podiam fazê-lo, eram transportados em padiolas
pelos nativos - os "anjos fuzzy-wuzzy". A distância do arroio Eora até a Travessia de Templeton exigia dos
padioleiros uma caminhada de quase seis horas de duração, e da travessia a Myola o percurso era coberto em
mais ou menos 12 horas, além de incluir uma subida de 300 m. Os ferimentos eram mantidos assépticos, em
ambiente tão sujeito a infecções, em virtude do uso abundante que faziam da sulfa, ministrada oralmente e
aplicada nos locais comprometidos. Trezentos carregadores foram usados para levar os feridos da travessia
até Myola onde, após seis dias de ação de retaguarda, os dois batalhões da FIA foram obrigados a nova
resistência antes de recuarem ainda mais.

Os japoneses eram vigorosamente incitados pelos seus oficiais a tentar ultrapassar os australianos e manter
sob pressão os seus flancos. Havia choques contínuos, dos quais os australianos em geral conseguiam
desvencilhar-se com poucas baixas, embora estas às vezes fossem pesadas, como sucedeu, por exemplo, no
dia 8, quando uma companhia do 2/27° perdeu seis Brens num ataque matinal e revidou usando quase 1.200
granadas de mão e milhares de cartuchos de munição, até que o inimigo recuou. A Brigada da FIA estava
dominando toda a técnica da sobrevivência na selva enquanto recuava para o local que o QG, em Moresby,
escolhera para a última resistência: Ioribaiwa, a algumas horas de marcha, a uns 12 km de Uberi. Este ponto
estava suficientemente perto de Moresby para se receber sem demora reservas e suprimentos, e também
bastante longe de Buna para forçar a situação do abastecimento dos japoneses. Nem Allen nem Rowell
tinham qualquer dúvida, agora ou em qualquer momento, de que poderiam impedir o inimigo de capturar
Moresby por um ataque do norte.

No começo daquele mês, Vasey escreveu a Rowell: "O Q-G-Geral semelha o comportamento dos barômetros
num ciclone - sobe e desce a cada instante... essa gente é como a milícia, precisa de um batismo de sangue".
A insatisfação de MacArthur com a demora na obtenção da vitória na Baía de Milne pesava nas suas
opiniões sobre a "Trilha Kokoda", deixando a impressão de que nem ele nem seu Estado-Maior americano
tinham a mínima idéia do que verdadeiramente ali se passava. A 6 de setembro, comunicou ele a
Washington: "Os australianos mostraram-se incapazes de se igualar ao inimigo, na luta na selva. Falta
agressividade à liderança". Vasey teve de enviar uma mensagem semelhante a Rowell e nenhum desses
homens podia compreender a atitude de MacArthur. Os soldados vinham resistindo pelo menos tão bem
quanto as forças de MacArthur o fizeram na retirada das Filipinas, e como eles não estavam sendo impelidos
para ações imprudentes por generais arrogantes, seu moral era elevado. O simples aprendizado dos métodos
de sobrevivência na selva exigia tempo e experiência, como Alan Dowes comenta em Soldier Superb:

"Os múltiplos demônios da selva exigem daqueles que os pretendem dominar infinita resistência à dor,
indiferença aos castigos e força para não deixar esmaecer a determinação mesmo quando a cabeça está zonza
pela malária, quando os ossos estalam ao fogo das grandes infecções, quando as botas, encharcadas de suor,
afundam nas montanhas de lama. quando o medo está até no tremer de uma folha e quando as chuvas deixam
de ser uma bênção do céu e passam a sinônimos de morte. Sobreviver na selva significa antes de tudo
conquistar os terrores, dobra-los à sua vontade e necessidade e fazer deles aliados, transformá-los em armas
contra os inimigos". Um dia, MacArthur teria grandes forças em plena ofensiva contra os japoneses; homens
bem alimentados, bem vestidos, bem equipados e, principalmente, apoiados por colossal poderio de fogo e
reservas enormes. A luta na Owen Stanley era uma guerra de comandante-de-divisão, numa frente tão estreita
que a tática teria que se subordinar às condições e acontecimentos locais. Por ser a luta de evolução muito
lenta, MacArthur e seu Estado-Maior achavam que devia estar havendo falta de arrojo e entusiasmo no
campo australiano e pressionava os generais para que pusessem calor na luta.

Uma nova brigada da 7a Divisão, a 25a, chegou envergando novos uniformes verdes para participar da luta
em Ioribaiwa, situada bem perto de Moresby, permitindo a amigos e inimigos ouvir o ronco dos aviões nas
pistas de pouso. O moral nas linhas japonesas continuava elevado, principalmente, talvez, por estarem tão
perto do seu objetivo; nas linhas australianas também era alto, especialmente quando a brigada da FIA
chegou. Horii manteve o ritmo do seu ataque e o Brigadeiro Eather foi obrigado a recuar sua 25 a Brigada
para a serra Imita. O General Allen disse-lhe por telefone: "Não haverá retiradas em Imita. Você morrerá ali,
se necessário, entendeu?" Sim, Eather entendeu. Outros estavam também pressionando. MacArthur disse ao
Primeiro-Ministro Curtin que as tropas australianas eram ineficientes, apenas horas antes de o Primeiro-
Ministro haver concordado com Rowell de que o inimigo não poderia tomar Moresby aos australianos.
MacArthur preocupou Curtin ao dizer que os australianos estavam recuando e os japoneses, não, e eles, disse
o general, eram mais fracos, do ponto de vista numérico. Assim, quando MacArthur pediu que Blamey fosse
à Nova Guiné para assumir o comando, Curtin concordou em mandá-lo. Criou-se uma situação delicada para
Blamey, que esperava poder operar na Nova Guiné sem interferir no trabalho de Rowell. Ele escreveu ao
comandante da Nova Guiné explicando a situação, acrescentando: "... temos políticos muito inexperientes
inclinados a entrar em pânico a qualquer momento. Acho, entretanto, que nosso relacionamento pessoal é de
tal ordem bom, que não encontraremos dificuldade para trabalhar." Mas Rowell não conseguia ver como
poderia operar com um superior no local, estabelecendo-se entre os dois descompassos que levaram Blamey
a, no final de setembro, demiti-lo do comando, mandando buscar o Tenente-General Herring para substituí-
lo.

Enquanto este resultado da conversa perturbadora de MacArthur com o Primeiro-Ministro ocorria, a


campanha prosseguia segundo as diretrizes planejadas por Rowell, Allen e os brigadeiros, num estilo que os
soldados combatentes conheciam muito melhor que quaisquer generais. E, a 12 de setembro o grupo
avançado do 126° Regimento de Infantaria da 32 a Divisão americana, do General-de-Brigada Hanford
McNider, chegou a Moresby. Duas brigadas da 6 a Divisão da FIA - que foram mantidas no Ceilão a pedido
de Churchill - haviam retornado à Austrália e se preparavam para servir na Nova Guiné. A terceira brigada
fora diretamente para a área de Darwin. No Ceilão, a 16 a e a 17a Brigadas haviam adquirido certo
treinamento nos trópicos, mas, como Rowell observou, os reforços deveriam ser treinados para dominar as
dificuldades táticas, o movimento e o controle nas selvas da Nova Guiné. Queensland e mesmo a região
seco-molhada de Moresby não eram exemplos muito perfeitos da região onde eles lutariam. Rowell também
salientou que a guerra na selva e nas montanhas produzia elevado número de baixas, não só em combate,
mas devido também ao pesado esforço físico, o que significava ser essencial ter reservas de unidades
descansadas. MacArthur adotou a idéia de Rowell e enviou uma força, numa viagem de exploração pela
Papua, bem distante da "Trilha Kokoda", a fim de atacar o inimigo pela retaguarda. Para esta operação o
regimento escolhido foi o americano.

Na Serra, os dois lados pararam para respirar. No dia 19, poderosa patrulha localizou um posto japonês que
estava sendo fortificado, destruindo-o com uma carga de granada, fuzil-metralhador e baioneta. Mais alguns
homens foram acrescentados à lista de baixas de Horii, que era agora de uns 1.000 mortos e 1.500 feridos. As
baixas australianas somavam 314 mortos e 367 feridos. Sempre que os australianos tomavam um posto
inimigo, constatavam evidências de pouco alimento. Cerca de meio quartilho de arroz por dia era a
quantidade oficialmente distribuída aos que conseguiam receber em Buna. Quando atacaram e tomaram
Iorabaiwa, eles correram famintos para os depósitos de suprimentos australianos que haviam observado em
suas missões de reconhecimento, mas ficaram desapontados ao verem que tais suprimentos haviam sido
retirados. Se tinham pasta de feijão, podiam fazer sopa, se não, comiam os produtos das hortas nativas -
como faziam os observadores costeiros ou qualquer que estivesse estacionado perto das aldeias - batatas,
bulbos de lótus, mamão, bananas e abóboras. Em algumas áreas era possível colher tomates algumas
semanas depois de se jogar um tomate podre na terra, propícia à lavoura. Imprevidente, o inimigo não
preparou grandes hortas quando mandou milhares de outros soldados para a Nova Guiné.
A serra Imita os deteve; a forte posição defensiva, os efetivos das patrulhas, os dois canhões de 25 lb. de
cano curto, levados a braço pela "escadaria dourada", a crescente superioridade aérea aliada e as baixas
japonesas cada vez maiores, resultantes de doenças e fome. Os australianos estavam já preparados para a
ofensiva; dispunham de tropas descansadas e suprimentos se acumulando satisfatoriamente em Moresby -
que se teriam perdido se a brigada de milicianos não se houvesse saído tão bem, embora o Q-G-Geral tivesse
demorado o envio da FIA para lá. Agora que estava passando para a ofensiva, eles poderiam ter resolvido os
problemas logísticos para o longo percurso que os aguardava, baseando-se inclusive no sucedido com os
japoneses, que se viram forçados a retirar-se por falta de suprimentos. Era hora de levar mais transportes
aéreos - incluindo bombardeiros adaptados e mais aviões civis, além dos que já possuíam. Homens aptos,
homens doentes e feridos precisavam de alimentação adequada, para compensar o desgaste físico imposto
pelas condições climáticas e pelas peculiaridades de terreno em que se desenvolviam os entreveros. Se
houvesse carregadores suficientes
o tempo todo, as coisas não teriam sido tão ruins, mas a escassez de mão-de-obra nativa era quase constante.
Nas partes íngremes da trilha, eram precisos oito homens para transportar um ferido, que sofria sacolejos
dolorosos, quando não caía da padiola. Onde os homens ficavam isolados, a fome era inevitável. O Sargento
Irwin, do 2/14°, usou seu relógio como bússola para conduzir seu pelotão que se isolara e se perdera nas
montanhas; eles demoraram 22 dias, 19 dos quais sem alimento, para atravessar ravinas e serras cobertas de
selvas. Alguns demoravam dias para voltar, outros, ficavam desaparecidos semanas inteiras. Um homem,
ferido no tornozelo, ficou isolado com vários outros, que se ofereceram para carregá-lo às costas ou numa
padiola improvisada. Recusando os préstimos dos companheiros, para não os sacrificar, ele arrastou-se por
três semanas, encharcado, coberto de lama, com fome e extremamente exausto. Quando chegou a uma aldeia
nativa, o homem, que era o Cabo Metson, ficou numa cabana com outros feridos. Tragicamente, foram
encontrados por japoneses, que os mataram. Estes relatórios sobre as experiências das dificuldades se
acumulavam no QG e o quadro das condições tornava-se mais claro para os planejadores.

Era fácil as pessoas se perderem naquela região selvagem. Uma companhia do 2/27°, despachada para
reconhecimento em Menari, extraviou-se, sendo obrigada a abrir caminho pela mataria cerrada, ficando
então isolada durante a retirada. O Comandante, Capitão Sims, descreveu sua experiência, típica das que
tiveram que viver muitas outras companhias:

"Conseguimos a primeira refeição quando, próximo a uma aldeia, demos com um porco, que foi logo assado,
a 14 de setembro... os soldados vinham sendo castigados pela disenteria e pela fome... assamos o porco na
ponta das nossas baionetas... dois outros grupos chegaram... comemos tudo... matamos uma cacatua, que
também foi devorada. Eu estava com pneumonia e tinha ulcerações pelo corpo. Quando cheguei também
estava com dengue. Cada integrante da companhia perdera de 15 a 18 kg... encontramos patrulhas do 2/14° e
2/16° isoladas na Travessia de Templeton e em Myola... Quem pudesse continuar andando, ia em frente."

A maioria do 2/27° também fora isolada e em outubro ainda estava voltando aos poucos, depois de muito
sofrer nas montanhas; mas suas baixas foram menores do que seria de esperar: 41 mortos e 46 feridos, o
restante, enfraquecido pela desnutrição e doenças. As experiências dos grupos de padioleiros do 2/27° e dos
seus feridos são histórias de abnegação, bravura e resistência.

A 25a Brigada abriu caminho da serra Imita para o norte, retornando pela "Trilha Kokoda", agora mais larga
por ter sido muito usada por tanta gente de ambos os lados. Outros avanços estavam sendo feitos e a Força
Kanga aumentava a pouco e pouco seus efetivos na área de Markham. Em dez dias, a brigada estava de volta
ao arroio Eora e à Travessia de Templeton, em dificuldades pela falta de suprimentos. Os lançamentos de
pára-quedas vinham sendo feitos, mas não com a freqüência e quantidade necessárias. Não havia
carregadores suficientes, e quando as tropas iam para a linha de frente, carregavam o seguinte, conforme
narra a história oficial:

"Cada homem levava rações para até cinco dias (2 dias da caminhada normal e 3 de emergência), meio
cobertor, um lençol para forrar o chão, uma caneca, um cantil, arma e munição. Em geral havia um aparelho
de barba para cada três homens. Cada fuzileiro transportava o seu fuzil e de 100 a 150 cartuchos de munição,
correspondendo a cada batalhão um morteiro de 3 pol., com 15 bombas, transportados pelos nativos, quando
disponíveis; quando não, eram levados mesmo pela guarnição do morteiro, com a ajuda dos homens da
companhia do QG e, às vezes, por fuzileiros; uma metralhadora Vickers, com duas ou três fitas de munição,
carregadas tal como o morteiro; um Bren por seção, transportado, por revezamento, pelos integrantes da
seção, com 10 magazines por arma, distribuídos entre os membros da seção; dois fuzis-metralhadoras por
seção, levados pelos artilheiros, com 5 magazines e 150 cartuchos soltos; um morteiro de 2 pol. para cada
pelotão, carregado pelos membros da sua guarnição, com 12 cartuchos distribuídos; duas granadas para cada
homem. Cada batalhão tinha cinco cargas de apetrechos médicos; pertences de cozinha; duas picaretas, dois
machados, um facão de mato e uma pá por seção; seis telefones e seis aparelhos de rádio. O equipamento dos
japoneses era mais leve, embora mais vazia estivesse sempre a barriga. Alguns estavam até passando a carne
de australianos mortos."

MacArthur insistia na captura, o mais rápido possível, de Kokoda, para que, através da utilização de seu
aeródromo, pudesse avolumar força e suprimento na área, por via aérea. Blamey exortou o General Allen a
"pressionar o inimigo com vigor. Se você está sentindo a tensão, posso providenciar um substituto... " Allen
logo respondeu: "A oposição mais séria ao avanço é o terreno... Esta região é muito mais difícil que qualquer
outra em que lutamos anteriormente. Só mesmo vendo é que se pode avaliar o problema. Não me encontro
sob tensão alguma. Nunca me senti mais apto nem mais capaz de pensar com clareza. Contudo, sinto-me um
pouco desapontado, assim como toda a tropa, pelo fato de você estar insatisfeito com o esforço que todos
temos feito... "

O avanço continuou, contra obstáculos vários como densos bambuzais onde os japoneses, ocultos em poços
para apenas um homem, só podiam ser atacados com granadas; posições elevadas, que exigiam verdadeiras
escaladas para serem postas sob ataque, metralhadoras pesadas metidas em posições difíceis de ver, e aquela
terrível especialidade japonesa - a tocaia. A menos que um comandante de batalhão ou brigada fizesse
questão de perder homens, ele tinha que sondar com cautela, reconhecer com cuidado e mover-se lentamente
pela trilha principal. Os movimentos necessários ao flanqueio do adversário raramente eram possíveis devido
às características do terreno e aos obstáculos da selva. Na manhã de 17 de outubro, a milícia do 3° Batalhão,
anexada à Brigada da FIA, abriu caminho lutando até uma poderosa posição inimiga e capturou a maior parte
do seu equipamento. O Capitão Atkinson descreveu um duelo de tocaieiros travado naquela manhã: "Quando
Richardson foi alvejado, Downes, nascido numa cidade do interior, tentou avistar o tocaieiro. Desci para
enfaixar Richardson (que respirava por um buraco no peito). Uma bala passou entre minha mochila e minhas
costas, chamuscando-as. Downes viu o clarão da boca da arma, saiu para o campo aberto, a fim de melhor
divisar o tocaieiro, e meteu-lhe uma bala. Depois, voltou-se tranqüilamente para os outros e disse: "Bem,
acertei o bicho!" Tínhamos um padioleiro, Dwight, que costumava sair atrás de quem quer que fosse ferido,
mesmo que estivesse, por assim dizer, na casa do inimigo. Ele retirou um homem de um poço avançado,
andando debaixo de fogo alguns metros, colocou-o às costas e voltou correndo 150 m, ainda sob fogo". Não
se concederam medalhas a Dwight, que morreu em ação no mês seguinte, nem a nenhum dos numerosos
homens cujos atos de bravura iam muito além do seu dever. Também no dia 17, Allen visitou a 16 a Brigada,
do Brigadeiro Lloyd, que Allen comandara na Líbia, Grécia e Síria.

"No caminho", registrou a 16a Brigada, "havia esqueletos completamente descarnados pelas formigas e
outros insetos e do seio escuro da floresta sentíamos o fedor de mortos, sepultados às pressas ou talvez
insepultos". Os batalhões 2/1°, 2/2° e 2/3° foram os primeiros da FIA a entrar em combate - em Bardia, em
dezembro de 1940. Agora, passados quase dois anos, tendo enfrentado italianos, alemães e franceses de
Vichy, eles se submeteriam à prova contra os japoneses, deslocando-se em frentes estreitas contra bolsões
inimigos, defendidos por morteiros, metralhadoras, granadas e fuzis. As ações se repetiriam incessantemente
na trilha e nos campos de batalha da Nova Guiné: um batalhão, uma brigada, uma divisão e reservas
espalhadas atrás de um pequeno grupo de homens nos pontos avançados; o inimigo descoberto, e homens
tombando.

Tinha de acontecer e acontecia repetidamente. "Ele desviou-se para a esquerda e, depois, deslocou-se para o
acidente de Baylis, onde posicionou sua força, já esgotada, atrás da outra companhia, como apoio. O
comandante do outro pelotão avançado, Blain, estava morto, assim como vários dos seus homens, e Barnes,
líder do terceiro pelotão, encontrava-se ferido... Quando a primeira seção do Goodman desceu, foi retida por
fogo de metralhadora. As duas outras seções deixaram as linhas fixas. O Cabo Roberts aproximou-se, com
sua seção, de um posto de metralhadora e calou-o com um bombardeio. Os australianos continuavam
pressionando os que ainda sustentavam aquela posição, embora não pudessem ver muita coisa no denso
matagal... depois de mais 150 metros de progressão, os atacantes viram-se obrigados a proteger-se, pois fogo
intenso desabou sobre eles..." Estas são algumas das muitas cenas na luta perto do arroio Eora, o vale que
fica ao pé da subida para o platô de Kokoda. À noite, os mortos, de ambos os lados, jaziam sob a chuva
persistente e fria; era possível, até, ouvir os japoneses tagarelando e se movimentando.
Se os japoneses não abrissem fogo, para revelar a posição por eles ocupada, fazia-se necessário o envio de
exploradores que provocassem a reação do inimigo, tornando, com isso, possível atacá-lo. Era assim que
estava sendo feita a guerra nessa terrível campanha, em que os soldados lutavam de maneira esplêndida, não
porque o Q-G-Geral lhes exigisse progressos, mas por não lhes faltar prudência, coragem e muita
determinação.

O Tenente MacDougal, um dos elementos originais do Batalhão 2/3°, disse o seguinte sobre os exploradores,
quando entrevistado por um jornal de Sydney: "Na marcha... cada companhia avançada tinha de despachar
exploradores à frente, na trilha. Era quase certo que tais exploradores fossem mortos ou feridos por invisíveis
tocaieiros, que esperavam até que estivessem a 20 m de distância, ou menos, para então atirar. Mas nunca
houve dificuldades para encontrar homens dispostos a desincumbir-se de tão perigosa tarefa. Antes que o
pelotão avançado se pusesse a caminho, o comandante repetia a indefectível solicitação: 'Precisamos de dois
exploradores avançados'. Três ou quatro homens começavam logo a reunir seus apetrechos e apresentavam-
se. Estes três ou quatro decidiam, sem qualquer ingerência do comando e sem delongas, qual deles iria na
frente". Este espírito de grupo só se materializa nos veteranos e quando o batalhão se transforma no que se
poderia chamar de fraternidade - ou seja, uma espécie de família. Todos detestavam ter de abandoná-lo e,
quando ferido ou vitimado por qualquer das doenças ali freqüentes, lutavam por retornar ao seio do grupo,
recusando mesmo qualquer promoção que pudesse implicar transferências. Contra batalhões assim, os
japoneses não tinham qualquer esperança de tomar Moresby ou de permanecer na Nova Guiné.

Do arroio, eles lutaram, colina acima, contra uma série de posições distribuídas à frente das defesas
principais que, por sua vez, contavam com forte linha defensiva. Assim, a defesa principal de Kokoda e a
luta pelo reduto do arroio Eora prosseguiram até o fim do mês. O custo para a 16 a Brigada foi de 92 mortos e
cerca de 200 feridos. Se houvesse tempo para melhor planejar o ataque, talvez as baixas fossem menores.
Allen fora pressionado pelo Q-G-Geral. No dia 17 recebera Blamey uma comunicação clássica de
MacArthur: "Insista no avanço do General Allen. Suas baixas, extremamente leves, indicam que ainda não
fez nenhum esforço sério para deslocar o inimigo. É essencial que o aeródromo de Kokoda seja tomado".
Blamey tentou mostrar a sensatez das ações de Allen, explicando, em comunicação feita no dia seguinte, que
"suas dificuldades são enormes. Além do terreno e da chuva constante, há muito poucos locais propícios ao
lançamento de suprimentos de pára-quedas e nem todos são recuperados, como se poderia esperar". A
mensagem seguinte de MacArthur a Blamey foi transmitida para Allen e seu conteúdo magoou
consideravelmente o comandante da 7a Divisão: "Os relatórios operacionais mostram que o progresso na
Trilha não é satisfatório. O manejo tático das suas tropas, na minha opinião, é falho. Com forças superiores à
do inimigo, só estamos lançando em combate real pequena fração dos efetivos disponíveis, permitindo que
haja no ponto real de contato equilíbrio de forças, o que desfaz a desvantagem em que se encontra o
adversário. Cada dia a mais de atraso complica o problema e provavelmente resultará em baixas muito
maiores, o que não sucederia se fosse feito um ataque maciço, com todas as forças. Nossa situação de
abastecimento e a condição das tropas são, por certo, mais favoráveis que as do inimigo, e as condições do
tempo são neutras". MacArthur supunha que houvesse somente uma força japonesa compacta diante de
AIlen e contra a qual ele deveria lançar toda a sua divisão.

MacArthur continuou pressionando Blamey e este, por sua vez, insistia junto a Allen para que pusesse mais
vigor em ação. Contra oposição mais leve, os japoneses haviam demorado 51 dias para cobrir a distância de
Kokoda a Ioribaiwa, em seu avanço na direção de Port Moresby. Os australianos haviam gasto apenas 35
dias para retomar o mesmo trecho da trilha, combatendo um inimigo mais experimentado em luta na selva do
que a 16a Brigada, um inimigo que tinha excelente conhecimento de cada palmo da estreita frente e que
lutava muito menos preocupado com a vida humana. Impaciente, MacArthur aguardava a ação inevitável - a
demissão de Allen por Blamey. A notificação foi mandada a 27 de outubro: "Considere que já prolongou o
suficiente seu período de serviço na área avançada. O General Vasey chegará a Myola, de avião, na manhã de
28 de outubro. Quando da sua chegada, passe-lhe o comando e volte a Port Moresby, para período de serviço
nessa área". Allen ficou desapontado por não poder ficar, justamente quando o pior já havia sido superado, e
esperar até que suas tropas também fossem substituídas. Cinco dias depois, penetrou-se novamente na aldeia
de Kokoda, coisa inevitável, quer a divisão tivesse ou não um general.

Buna, Gona e Sanananda


Numa das suas mensagens a Allen, Blamey dissera: "É preciso compreender que o tempo agora é de grande
importância. O 128° americano já tem elementos em Pongani. A captura do aeródromo de Kokoda e o
avanço para cooperar com o 128° diante de Buna eram parte vital do plano". O 128° e o 126° Regimentos
constituíam a infantaria da 32a Divisão, do General-de-Divisão Edwin Harding; eram Guardas Nacionais, o
equivalente da milícia da Austrália, e haviam sido recrutados dois anos antes, em
Michigan e Wisconsin. Não eram muito bem treinados, como o Tenente-General Eichelberger descobriu
quando chegou, em agosto, para assumir o comando do Corpo americano. Mesmo assim, Harding confiava
na combatividade dos seus homens e achava que, quando fossem despachados contra Buna, "talvez
encontremos alguma facilidade... pode ser apenas um palpite, mas, mesmo que esteja errado, não creio que
será difícil tomar Buna com as forças que podemos lançar contra ela". Ele estava tristemente iludido.
Acreditava que os japoneses estivessem abandonando Buna, em lugar de reforçá-la; outro observador
americano sugeriu que o Q-G-Geral "temia soltar os americanos e deixar que eles capturassem Buna, porque
isto seria um golpe no prestígio dos australianos que haviam travado uma batalha prolongada e árdua pelas
Montanhas Owen Stanley e que, portanto, deveriam ser os captores de Buna". O envolvimento americano
com o problema do prestígio emanava do Q-G-Geral, e existia, com intensidade de fazer pasmar, entre
MacArthur e o outro Comandante-Chefe no Pacífico, Almirante Nimitz.

O movimento de flanco contra Buna, pelo sul, era uma ação sensata. Um grupo de americanos foi
despachado de avião para preparar uma pista de pouso em Pongani, a mais ou menos 60 km de Buna, na
costa; o 128° Regimento deslocou-se de avião para Wanigela, a fim de unir-se ao 2/10 o Batalhão da FIA,
também levado de avião da Baia de Milne para lá; uma equipe de combate do 126 o percorreu a região,
paralela à "Trilha Kokoda", e, quando o resto do regimento foi de avião para Pongani, deslocou-se para Bofu.
A 2/6a Companhia Independente da FIA (comandos) também desembarcou em Wanigela e, enquanto se
dirigiam para Pongani, o 128o deslocou-se por mar e, juntamente com os australianos e americanos, avançou
pela costa até a Baía Oro. Em meados de novembro, o plano estava pronto: a divisão americana (com um
destacamento de artilharia e os comandos da FIA) avançaria sobre a linha Baía Oro-Bofu, ao sul de Buna,
que seria seu objetivo; os australianos arremeteriam contra duas outras frentes - a 25 a Brigada contra Gona e
a 16a Brigada contra Sanananda.

Para chegar aos seus objetivos, os australianos tinham antes de terminar seu avanço pela "Trilha Kokoda".
Quando suas granadas, balas e baionetas conquistaram Kokoda, houve uma festa e tanto, especialmente entre
os nativos, que usavam flores nos cabelos crespos e ofereceram-se mais pronta mente para trabalhar como
carregadores.

Eles haviam aceito a dominação japonesa tal como, durante anos, aceitaram a alemã e, depois, a australiana;
mas agora compreendiam que os japoneses eram os piores de todos, que estupravam, assassinavam e
obrigavam os carregadores a trabalhar até cair. No vale do Markham havia muitos, notadamente a polícia
nativa, que permaneciam leais à antiga administração. Em Kokoda, um velho "rapaz" da policia saiu do
mato, usando somente seu velho e surrado boné, e correu para o primeiro australiano que avistou,
exclamando: "Ei! Japão lamenta muito demais agora!" Outros, incluindo chefes de aldeia, que tinham muita
influência sobre sua gente, faziam espionagem para o inimigo.

Horii, cujo cavalo branco morrera num vale entre as montanhas, por certo estava sofrendo na retirada de suas
tropas, prejudicada pela destruição da ponte de cabos que havia sobre o profundo vale do rio em Wairope.
Unidades derrotadas recuavam sob a proteção de defesas preparadas durante todo o caminho, dando às duas
brigadas australianas o caro e dificultoso trabalho de limpar Oivi, Gorari e outros pontos a caminho da
Wairope. Em dois dias, os australianos sofreram 168 baixas, 45 mortos e 123 feridos, e o inimigo, 150
mortos. No dia seguinte, o inimigo perdeu mais 100 homens enquanto as perdas australianas foram muito
leves, durante o ataque e o contra-ataque. Em uma ação, um oficial japonês brandiu a espada contra a cabeça
de um australiano que estava remuniciando sua arma; a espada arrancou-lhe o capacete da cabeça; quando
eles se engalfinharam, o australiano obrigou o japonês a ajoelhar-se, e o estava "torcendo" quando um outro
australiano meteu uma bala no nipônico. Com a ponte destruída, os japoneses foram obrigados a abandonar
grande parte dos seus suprimentos e equipamentos, jogando-os no rio. Horii meteu-se numa das balsas em
que seus soldados fugiam rio abaixo, para Lae, e afogou-se por haver emborcado nas corredeiras aquela em
que tentava escapar. Numerosos outros que fugiam para a acidentada região montanhosa e alguns dos que
tentaram a fuga nas balsas foram mortos pelos soldados de infantaria Papua que patrulhavam a região. As
perdas japonesas naquela semana foram de mais ou menos 1.000 homens. Os australianos construíram uma
ponte suspensa sobre o rio Kumusi, onde os batalhões de soldados sobrecarregados e longas linhas de
carregadores nativos reuniram-se para a travessia. Este ponto ficava no sopé das montanhas e virtualmente
no fim da "Trilha Kokoda"; o fim da batalha.
Pelo menos 6.000 soldados japoneses de linha de frente lutaram nessa parte da campanha da Nova Guiné,
que custou à Austrália 625 mortos e 835 feridos. Além disso, outros 13 foram mortos e 19 feridos quando o
2/12° Batalhão da Baía de Milne desembarcou para a limpeza da ilha Goodenough e assegurar a passagem
de transportes que trariam suprimentos para novos desembarques aliados na Nova Guiné.

Em novembro, o Tenente-General Imamura foi encarregado das operações das Salomão e da Nova Guiné;
seu 18° Exército, na Nova Guiné, era comandado pelo Tenente-General Adachi, cujo QG foi estabelecido em
Rabaul. Houve duas derrotas na Baía de Milne e na "Trilha Kokoda" - mas Imamura ainda acreditava que
poderia vencer a campanha e tomar Port Moresby. Nas operações Kokoda-Buna-Gona, cerca de 18.000
homens do exército e da marinha estiveram envolvidos - incluindo reforços, o III/229° Batalhão de fuzileiros
navais da 5a Yokosuka e 6a Sasebo, além de soldados de engenharia, artilheiros e tropas de serviço que
apenas haviam chegado ou não tinham passado pelas dificuldades da "Trilha". Tropas de construção foram
empregadas no preparo e reforço das posições defensivas e, enquanto faziam isto, Adachi não tinha como
oferecer uma cobertura aérea equivalente à dos Aliados. Ele ainda podia levar suprimentos de Rabaul em
navios, uma linha com pouca chance de sobrevivência à medida que o poderio aéreo aliado se avolumava e
crescia em poder de ataque. Embora pudesse desembarcar e estabelecer bases pela parte superior da Nova
Guiné, ele estava contido pelas armas e pelo poderio aéreo aliados desde Buna até Lae, embora, obviamente,
não aceitasse a idéia. O 17° Exército, de Hyakutake, nas Salomão, estava totalmente empenhado na luta
contra os fuzileiros navais americanos, no ar e em terra, e as batalhas navais naquela área começavam a
favorecer os Aliados. Midway destruíra a esperança alimentada pelos nipônicos de conservar o domínio dos
oceanos, o que significava que se eles perdessem as campanhas da Nova Guiné e das Salomão haveria pouca
chance de receberem ajuda maciça de outras fontes japonesas.

Suprimentos e poderio aéreo eram dois fatores já agora favoráveis aos Aliados, situação bem diferente da de
dois meses antes. Os caças Zero da "Ala de Lae" estavam restritos à área costeira e não podiam sobrevoar a
Owen Stanley para dar combate ao adversário. A área Buna-Gona, e também sua própria base, eram
constantemente atacadas pelos caças e bombardeiros aliados, situação que exigia patrulhas e interceptações
sobre Lae, Salamaua e as praias de abastecimento. Os Aliados tinham apenas um esquadrão de Kittyhawks
da RAAF trabalhando no começo da campanha; em 1943, a 5 a Força Aérea, do Tenente-Brigadeiro Kenny, e
a RAAF estavam agindo com dezenas de bombardeiros Mitchell B-25, caças P-40, P-38, e P-39,
bombardeiros Boston e Beaufighter, levando a guerra às possessões japonesas no Pacifico Sul. Durante o ano
de 1943, eles conquistaram tal superioridade que os aviões japoneses correriam muito perigo, se vistos em
terra ou no ar.

A infantaria americana aproximou-se de Buna pela estrada costeira e, no interior, por Dobodura, onde os
soldados da engenharia abriram uma pista de pouso, e também mais para o interior, para uma aproximação
entre Gona e Buna. A maior parte da região intermediária era de pântanos, alguns deles de maré, e o restante,
coberto de capim Kunzai e arbustos. Os batalhões 1/128° e 111/128° avançaram para atacar a plantação
costeira de Duropa, mas recuaram em confusão, obrigados por fogo de metralhadoras e fuzis. MacArthur
mandara que americanos e australianos atingissem seus objetivos independente das perdas. Os australianos
não eram tão idiotas assim, por isso o General Harding não impeliu seus homens para o suicídio. Houve
atraso no lançamento do batalhão americano do Coronel McCoy em ação e, depois que este se pôs a
caminho, alguns recuaram e tiveram de ser reunidos por seus oficiais. Os comandos australianos abriram um
ataque para outro batalhão, mas enquanto avançavam, eliminando alguns postos de metralhadoras e
derrubando tocaieiros, foram obrigados a parar, porque os americanos não se tinham movido. Outro batalhão,
que havia meio canhestramente iniciado uma aproximação, viu-se obrigado a parar também. Uma década
depois, Eichelberger escreveu sobre este começo medíocre:

"A 32a Divisão, como a milícia australiana, estava despreparada para os sofrimentos e terrores da guerra na
selva e, nas duas forças, alguns homens falharam... Na realidade, já passados tantos anos, estou propenso a
crer que os homens temiam muito mais a selva. Era o terror diante do desconhecido. Não há nada de
agradável em afundar num atoleiro fedorento até os joelhos. Não há nada de agradável ficar dentro de uma
trincheira, semi-submersos, enquanto as chuvas tropicais transformavam tudo num verdadeiro rio. Os ruídos
da selva eram fortes para os americanos - e na escuridão quente e úmida, o barulho de pequenos animais
deslocando-se no mato era facilmente interpretado como a aproximação sorrateira do inimigo."

Aparentemente, os soldados veteranos podem suportar tudo - como a FIA o demonstrou, e também os
americanos, após adquirirem alguma experiência. Mas naquela época, novembro de 1942, a 32 a Divisão
estava causando sérias preocupações. O General Kenney tomou conhecimento de que histórias de inação, e
mesmo de covardia, estavam chegando ao QG; oficiais ignoravam suas tarefas e comandos estavam muito na
retaguarda; se eles esperassem bastante, os japoneses talvez morressem de fome ou desistissem; todos os dias
chegavam da linha de frente aviões carregados de portadores de neurose de guerra e doenças outras,
mandados de volta para tratamento; havia casos de homens que largavam as metralhadoras, em pânico, sem
que os oficiais soubessem o que resolver. Fizeram-se planos para mandar mais artilharia e tanques
australianos, que estavam chegando à Baía de Milne, mas não havia barcaças de tamanho suficiente para
transportá-los, de modo que foi preciso providenciar o envio de um pelotão de transportes de Bren, inúteis na
região pantanosa. Os bombardeios e metralhamentos não desalojavam o inimigo das suas tocas e bunkers e a
região, pantanosa e coberta de capim, não permitia aos artilheiros uma observação boa para disparos com
canhões de 25 lb. e obuseiros de 4,5 pol. A situação melhorou quando os aviões de treinamento avançado da
RAAF, os Wirraways de dois lugares, foram usados como aviões de observação para os artilheiros; eles
anotavam os locais das explosões das granadas e descobriam as posições antiaéreas inimigas quando por
estas alvejados. Embora alguns se perdessem, estes aviões em geral cumpriram tarefa essencial para os
americanos. Um Wirraway chegou inclusive a derrubar um Zero.

A munição para os canhões era transportada à noite, em barcos de assalto feitos de lona, que eram rebocados,
a partir do depósito, por uma distância de 3 km pela rebentação. Granadas e cartuchos eram então levados,
por mais uns 1.500 m, pela selva escura. Os americanos estavam enfrentando soldados bem alimentados e
bem armados, entrincheirados atrás de troncos de árvores, enquanto eles próprios padeciam mil problemas:
pés inchados, rações escassas, exaustão, malária e tanta coisa mais. O inimigo era perito em camuflar os
embasamentos murados e cobertos de troncos, dotados de orifícios disfarçados, embasamentos que resistiam
ao fogo de canhão e morteiro e detinham os americanos. MacArthur decidiu demitir Harding e chamou
Eichelberger.

Ao Comandante do 1o Corpo americano MacArthur disse: "Vou mandá-lo para lá, Bob, e quero que você
remova todos os oficiais que não lutem. Substitua os comandantes de regimento e batalhão; se necessário,
coloque sargentos no comando de batalhões e cabos no de companhias - qualquer um que lute. O tempo é
essencial; os japoneses podem desembarcar reforços qualquer noite destas... Quero que você tome Buna, ou
não me apareça vivo". Na manhã seguinte ele suavizou a ameaça com um engodo: "Se você capturar Buna
eu lhe darei uma "Cruz por Serviços Distinguidos" e o recomendarei para uma alta condecoração britânica.
Também providenciarei para que os jornais divulguem o seu nome". Este tipo de estímulo teria chocado os
comandantes australianos, que achavam que o sistema americano de dar publicidade a nomes de pessoas em
nada ajudava a resolver as operações, além de criar ressentimentos. Blamey, que era avesso a qualquer tipo
de publicidade pessoal, não via razões para que um oficial fosse posto em evidência e outro, não. As
condecorações australianas nunca eram prometidas, apenas concedidas - e mesmo assim em números
relativamente pequenos. MacArthur era sensível ao que quer que pudesse ser acrescentado ao seu peito, já
tão enfeitado de fitas, e ficou muito aborrecido quando Curtin sugeriu conceder-lhe a mesma condecoração -
"Cavaleiro Comandante da Ordem do Banho" - que fora dada ao General Brett. Uma ruptura de amizade
entre os dois foi evitada quando o Primeiro-Ministro conseguiu para o Comandante-Chefe uma condecoração
maior - a "Grã Cruz de Cavaleiro" daquela ordem.

Eichelberger suspendeu as atividades das suas tropas durante dois dias, enquanto arrumava as posições das
unidades que estavam tão misturadas que nem Harding podia dar explicações a respeito. Harding foi
substituído pelo General Waldron e a 5 de dezembro, com apoio de morteiros, artilharia e aéreo, reiniciou-se
o ataque frontal a Buna. Cinco carretas-transporte de Bren, descobertas e levemente blindadas, foram
rebocadas numa barcaça e entraram em ação guarnecidas por australianos experientes. Vulneráveis demais -
ao fogo de tocaieiros emboscados nas árvores, a bombas de morteiros e a obstáculos erguidos no caminho
com grandes troncos - todos os transportes foram imobilizados. Eles haviam disparado um fogo devastador,
quando ainda podiam mover-se, servindo de ponta-de-lança para o ataque do III Batalhão. Mas foram
vítimas do mesmo tipo de fogo, tendo de parar. Houve ganhos no setor do 1/128°, onde muitos se estavam
revelando combatentes decididos, derrotando o inimigo e resistindo. Lembrando suas ordens, Eichelberger
estava junto dos seus homens, encorajando-os, como descreveu em Jungle Road to Tokyo: "Meu pequeno
grupo e eu deixamos o posto de observação e passamos por uma companhia que estava atolada. Falei a seus
integrantes, quando passamos por eles: "Rapazes, venham conosco". E eles vieram. Também conseguimos
lançar várias unidades contra os bunkers que havia na aldeia de Buna". Quando o terceiro regimento da
Divisão, o 127°, chegou de Moresby, a 9 de dezembro, ele começou a substituir o II/126°, que vinha
resistindo muito bem os contra-ataques japoneses que partiam da Estação do Governo. Até então as baixas
americanas atingiam 667, com 113 mortos, mais 1.260 enfermos. A 18 a Brigada da FIA e alguns tanques
vindos da Baía de Milne finalmente foram embarcados e estavam a caminho, para dar sua contribuição ao
ataque a Buna.

As brigadas da FIA que vieram de Kokoda também sofriam de escassez de alimentos, malária e fadiga -
coisa que passou a ser considerada normal, após uma ou mais semanas de campanha na selva. A 16 a Brigada
avançou, através de pântanos e da mataria, na direção de Sanananda, sendo recebida por fogo de artilharia
certeiro, dirigido de postos de observação instalados nas árvores e, também, por intenso fogo de armas
portáteis. A brigada sofrera muito na "Trilha", o número dos que a integravam estava reduzido e a maior
parte dos soldados se encontrava doente. Era uma questão de honra, entre eles, ninguém alegar doenças, a
menos que estivessem no bagaço; um homem andou cerca de três quilômetros até o RAP, onde disse ao
médico: "Não me sinto muito febril, não, doutor". Mas ele estava com 42 graus. Contudo, seu espírito de luta
estava mais forte que nunca. Quando um grupo do 2/1° Batalhão, 10 oficiais e 80 soldados, fez um
reconhecimento e descobriu a posição do canhão que estava causando tantos danos, eles atacaram as
principais posições inimigas sem o apoio do próprio batalhão, pois estavam sem comunicações com este.
Aproximaram-se sorrateiramente até cerca de 50 m do inimigo antes de serem descobertos e o atacaram,
matando 80 nipônicos no primeiro assalto. Eles perderam cinco oficiais muito experientes e grande número
de soldados, entre mortos e feridos. Não havia chance de retirar os feridos e a luta prosseguiu por dois dias e
duas noites, até que foram auxiliados por uma companhia do 2/3°.

Quando o 126° Regimento americano chegou para substituir a brigada, ele teve a sorte de, ao entrar em ação,
contar com o apoio de outro grupo de canhões de 25 lb. O 126° não logrou êxito, e o descuido com que
trataram o manuseio dos morteiros foi tal, que oficiais e soldados australianos acabaram vitimados por eles.
Com a 16a Brigada esgotada - tendo perdido 605 homens entre mortos e feridos, e outros tantos em virtude
de doença - e como o 126° era muito inexperiente, outra reserva foi despachada para o local, a 30 a Brigada
da milícia, reforçada com oficiais e praças graduados da FIA. Os milicianos pelo menos estavam
descansados e uma companhia do 49° Batalhão conquistou 800 metros, perdendo, porém, os comandantes
dos pelotões e 58 dos 98 homens originais da companhia. Em dezembro a situação era a seguinte: os
japoneses ainda se encontravam bem abrigados em seus pontos fortes e as três brigadas aliadas estavam
aturdidas. A substituição da 16a já estava tardando muito. Os seus integrantes se resumiam a 50 oficiais e 288
soldados; o 2/2° Batalhão contava apenas 100 homens, e tão fracos, que mal podiam carregar as armas
automáticas. Os americanos não se mostravam muito ansiosos por tomar a ofensiva e o outro batalhão da
milícia, o 55/53°, tendia a lançar-se por terra depressa demais. Enfrentando-os, em meados de dezembro,
havia 6.000 japoneses, incluindo doentes e feridos, e cerca de 1.300 soldados descansados, trazidos de
Rabaul em destróieres. Sanananda era a mais forte das três posições inimigas. Enquanto esta e Buna estavam
sitiadas, Gona foi atacada pela 25a Brigada da FIA.

Quando esta exaurida brigada, ajudada por uma companhia do 2/14° e 3° batalhões, emergiu dos pântanos e
matagais, esbarrou em obstinada defesa organizada nas clareiras abertas no denso capinzal. Uma variedade
de táticas de ataque foi aplicada contra a defesa, assentada num sistema de trincheira e postos de canhão em
cujo setor oeste corria um arroio de boa largura. Em duas semanas, a brigada tivera 204 mortos e a proporção
elevada normal de feridos e doentes. Um dia de bombardeio deu-lhe uma trégua e acalmou os japoneses,
sem, contudo, destruir-lhes os fortes embasamentos de troncos - os formidáveis obstáculos que os Aliados
encontrariam por todo o Pacífico. Formidável era também a tenacidade do inimigo, que lutava até a morte
nessas tocas fedorentas, famintos, doentes e com seus mortos apodrecendo insepultos a seu lado. Os
obstáculos eram um problema diferente dos enfrentados nas guerrilhas sustentadas nas montanhas, problema
que Vasey e seus comandantes tinham de resolver ou deixar o inimigo contido por grandes e permanentes
patrulhas. Talvez este fosse o plano melhor.

Quando o Brigadeiro Ivan Dougherty, um ex-comandante-de-batalhão da 6 a Divisão, dirigiu a 21a Brigada,


reforçada e refeita, até Gona, decidiu que, em vez de ser tentada ao mesmo tempo a tomada das três bases
inimigas, melhor seria lutar por uma de cada vez. A perda de Gona enfraqueceria Sanananda, e a desta, a de
Buna. Mas, de que maneira? Sua brigada miliciana e o 2/14° Batalhão, com seus efetivos muito diminuídos -
o grupo que se saíra tão bem no processo de atrasar a aproximação do inimigo de Moresby - se deslocariam,
no flanco direito, até a praia e abririam caminho lutando dali, enquanto que a 25 a Brigada agiria na frente e
um batalhão ficaria na margem oeste do arroio. Eles lutaram árdua e desesperadamente para chegar até as
posições, com o 2/14° fazendo o trabalho pior e possibilitando abrir caminho até a praia, entrando, desse
modo, entre Gona e Sanananda. A 1 o de dezembro, Dougherty desfechou seu ataque principal deslocando-se
atrás de uma barragem de artilharia e bombardeio de morteiro, um assalto que não conseguiu penetrar o
suficiente e que custou caro. Em cinco dias, a brigada sofreu 340 baixas e foi obrigada a recuar. Os
artilheiros agora dispunham de uma granada dotada de espoleta de ação retardada que lhe permitia explodir a
uns 60 cm dentro do solo ou penetrar mortalmente os embasamentos cobertos de troncos antes de explodir.
Os canhões concentraram-se novamente para um ataque, desta vez feito pelos remanescentes dos 2/14°,
2/16° e 2/27° - cujo total era inferior aos efetivos de um batalhão - além da descansada 39 a. Esta abriu o
caminho, indo tão junto da barragem rolante que alcançou o local onde se encontrava o inimigo no momento
em que ele se recuperava do choque. A batalha durou todo o dia, reduzindo o domínio japonês a uma
pequena área que se comunicava com a praia através de um corredor estreito e pantanoso, onde os japoneses
em fuga eram em geral mortos ao tentarem chegar ao mar. No dia seguinte, a operação de limpeza, feita em
meio aos escombros, foi um pesadelo, pois realizada em redor de cadáveres de japoneses e australianos.
"Gona se foi", comunicou Dougherty, e despachou dois batalhões uns 6 km para oeste, pela praia, para
destruir outra posição inimiga, a aldeia de Haddy, que também custou caro. Os crocodilos que viviam nos
pântanos e costumavam ir até o mar, ficaram por lá e, terminada a batalha, começavam a voltar aos pântanos.

Novamente o problema dos suprimentos: "Excetuando-se Sanananda, a frente japonesa não fica a mais de
800 m da costa, mas, em sua frente, ele está protegido pela mais difícil região que se possa imaginar, e por
forças extraordinariamente poderosas... nossos suprimentos têm de ser trazidos por avião... as pistas de pouso
às vezes estão fora de ação, por causa das condições atmosféricas... pistas curtas demais para permitir o
pouso de caças... assim que nossa proteção aérea volta, a noticia é transmitida de Buna até Lae e o inimigo
aparece em expedições de bombardeio e metralhamento... difícil trazer os canhões e mantê-los municiados".
Este era um dos principais problemas de Blamey; outro era a necessidade de soldados mais experientes, o
que o levou a pressionar o governo para que retirasse a 9 a Divisão do Oriente Médio. Em sua carta ao
Primeiro-Ministro, ele resumiu assim a situação:

"Esperava que nossos planos estratégicos pudessem obter completo e rápido sucesso no campo tático.
Estrategicamente, ele foi muito bem sucedido, pois levamos uma divisão americana até Buna e uma Divisão
australiana até Gona, simultaneamente. Mas no campo tático, após o esplêndido avanço pela área mais
difícil, a serra Owen Stanley, é uma história muito triste.

"Ela revelou o fato de que os soldados americanos não podem ser classificados como tropas de ataque. Eles
não são decididamente iguais aos milicianos australianos, e no momento em que encontraram oposição, não
chegaram a avançar praticamente um metro. A ação também pôs à mostra o alarmante estado de fraqueza do
Estado-Maior e sua vesga psicologia de guerra. O General MacArthur demitiu o Comandante Divisionário e
chamou o General Eichelberger, o Comandante-de-Corpo, mandando-o assumir o comando. Ele me informa
que pretende demitir os comandantes regimentais, o equivalente dos nossos comandantes-de-brigada, e cinco
dos seis comandantes-de-batalhão; e isto, diante do inimigo. Receio que a maior parte da luta caberá agora
aos nossos soldados, apesar dos números muito superiores da 32 a Divisão americana.

"As brigadas que percorreram a trilha da montanha acham-se agora tão debilitadas que estão sendo retiradas
e eu estou utilizando a única brigada da FIA restante em Port Moresby e uma brigada da Milícia, que foi
intensamente treinada aqui, e acho que nos sairemos muito bem.

"Os americanos dizem que a outra divisão que eles deixaram na Austrália é muito melhor do que a que está
aqui, mas como eles escolheram esta como o Número Um, acredito que tal declaração seja apenas
imaginação. Tenho certeza de que as forças americanas, que se vêm expandindo ainda mais rapidamente do
que as nossas, nesses primeiros anos de guerra, não alcançarão nível elevado de treinamento e de espírito de
luta durante muitos meses ainda.

"Isto pode parecer digressão do assunto principal, mas leva-me direto ao assunto, pois que, em substituição
da 9a Divisão australiana, recebemos duas divisões americanas, cuja contribuição para a defesa da Austrália
não será, segundo suponho, significativa, dado o estado de preparo que revelam. Naturalmente, as
autoridades americanas não reconhecerão isto, e continuarão firmes em sua atitude de devaneio. Portanto, V.
Exa verá que se a 9a Divisão australiana não nos for devolvida, para nossas futuras operações nesta área,
estaremos em situação realmente muito ruim. Na verdade, acho que correremos consideráveis riscos.

"A 6a e a 7a Divisões australianas, após completadas as operações de Buna, precisam ter um repouso
prolongado fora de ação. Ambas têm um número muito grande de reforços a absorver e número muito grande
de doentes para voltar, o que significa que a defesa de Papua ficará temporariamente nas mãos da Milícia e
das forças americanas. Minha fé na Milícia está aumentando, mas minha fé nos americanos caiu para zero.
Se a 9a Divisão australiana não voltar, receio de que teremos de ficar muito tempo nesta área, num esforço
por defendê-la, principalmente mantendo as flotilhas japonesas afastadas por meio de ação aérea."

Os vencedores da Baía de Milne chegaram e fizeram sentir sua presença a leste de Buna. Eles tinham
consigo quatro tanques - General Sruart M3 americanos, com canhões de 37 mm e metralhadoras Browning .
30 - que só em terreno firme e desimpedido se movimentam bem. O 2/9° iniciou seu ataque de perto dos
destroços de um dos transportes destruídos no começo do mês e, com tanques e canhões de 25 lb. martelando
os embasamentos nipônicos, o batalhão avançou: "Um assalto dramático e espetacular", comentou
Eichelberger, satisfeito em ver os veteranos australianos avançando. Num posto, o inimigo capturara um
Bren e algumas granadas dos velhos transportes de Bren: "Uma das granadas explodiu quase no rosto do
Cabo Thomas, quando ele corria para o posto, mas, com sangue descendo-lhe pela face, ele foi em frente e
matou dois japoneses. Um terceiro atirou contra ele, com o Bren... Thomas arrancou-lhe das mãos a arma e
com ela o matou, tal como fizera aos dois outros". Os tanques faziam grande diferença quando móveis,
abrindo rombos nos embasamentos e protegendo os soldados de infantaria, que também os protegiam quando
os japoneses tentavam subir neles para atirar pelos visores. Um inimigo tentou pôr fogo embaixo de um
tanque que havia ficado preso num grupo de troncos, mas foi impedido por um tiro certeiro de outro tanque.
Em seis dias, o 2/9° conquistara uns 1.500 m da faixa costeira e, em mais seis, o 2/10 o e os americanos
capturaram uma velha pista de pouso e se dirigiam para a Ponta Giropa. Certa noite, houve um incidente
lamentável. Torpedeiras americanas que operavam da Baía de Milne incendiaram uma barcaça de suprimento
pertencente às próprias forças aliadas e atiraram contra os que a tripulavam.

Depois de mais uma quinzena de luta, com ataques das forças aliadas e contra-ataques das nipônicas, que
agiam de preferência à noite, os japoneses, que também sofreram forte bombardeio aéreo, foram batidos,
sofrendo perda da ordem de 1.000 homens a leste da Ponta Giropa, situada a mais ou menos 1.600 m de
Buna, onde a infantaria americana estava atacando pelo sul. Esses homens lutaram durante o Natal, com as
linhas de frente em completa confusão, tanto as de um lado quanto as de outro. Alguns se mostraram
espantosamente resolutos; outros, inclinados a ignorar o dever do soldado, de avançar de qualquer modo. Um
tenente teve de ser preso e mandado de volta, sob guarda, porque estava correndo para a retaguarda com toda
a sua companhia. Todo esse setor era muito complexo, ensejando ao inimigo a oportunidade de surgir dos
mais diferentes lugares. No dia 29, um sargento da Intendência do 2/10 o dirigia um grupo de homens que
levavam rações e munição para uma companhia avançada e estavam descansando perto da estação de
triagem de feridos americanos quando alguns japoneses atacaram, matando ou ferindo quase todos.
Sobreviveram apenas aqueles que se fingiram de mortos, inclusive o sargento, que cobriu seu relógio com a
mão para que um japonês não visse que ele ainda estava vivo, caso lhe fosse retirar do pulso o relógio. O
soldado McDonald, da Companhia "C", um dos feridos na estação de triagem, matara vários japoneses antes
de ser ferido a baioneta e largado como morto. Outro, o soldado Joe Leonard, que estava febril, também foi
ferido a baioneta e, nas primeiras horas da manhã, já um tanto recuperado, pôde vislumbrar alguns japoneses
de tocaia no capinzal próximo. Deitado, ele jogou uma granada, que matou ou feriu gravemente todos eles. O
sargento e os dois soldados sobreviveram.

Na região pantanosa que cercava a área havia grandes crocodilos, que, às vezes, iam até o mar para pegar
peixes. Havia também nesses charcos pequenos animais, verdadeiros peixes, que saltavam da água para
aquecer-se ao sol nos galhos dos mangues, e grandes rãs verdes que coaxavam a noite toda. A incidência de
malária era de quase 100 por cento. Em Sanananda, o pântano e a selva constituíam terrível foco de tifo; o
pântano era de maré, enchendo quando o vento soprava mais forte, lançando as ondas do mar para terra. Das
muralhas de folhagem verde da selva, raízes desciam às águas estagnadas, infestadas de mosquitos e
numerosos insetos rastejantes. As patrulhas eram feitas, pelo pântano, com os homens afundados até a
cintura, ou mais; a chuva caía abundante e forte, acompanhada de trovoadas e relâmpagos intensos,
enchendo de água as trincheiras. Os fuzis-metralhadoras Thompson enguiçavam na lama arenosa e eram
inseguros na atmosfera úmida, embora os Brens e os fuzis Lee-Enfield resistissem muito bem às condições.

No começo de janeiro, a divisão americana, a brigada da FIA, uma companhia de comandos, os tanques e os
artilheiros, apoiados por caças e bombardeiros, romperam a defesa inimiga e tomaram Buna. Houve 2.900
baixas entre os soldados aliados, enquanto que o inimigo teve cerca de 2.000 mortos, incluindo dois
comandantes, que se suicidaram.

Ao longo da costa, em Sanananda, havia outros 2.000 soldados inimigos de linha de frente, que seriam
atacados do mesmo modo - um ataque frontal. O Brigadeiro Porter recebera a tarefa e reunira - à parte tropas
de serviço, guarnições de morteiros e soldados dos sinaleiros - os 49 o e 55/53o da Milícia (527 homens ao
todo), 2/3o Batalhão (119 homens doentes e exaustos) e o 126 o Regimento americano (545 homens
enfraquecidos pela doença e pela fadiga). A estes acrescentaram-se o 2/7 o Regimento de Cavalaria (com
efetivos de batalhão e agora treinado como infantaria) e o 36 o Batalhão, uma unidade descansada da Milícia.
Com o correr da luta, outros soldados, já exaustos, foram lançados em combate, que prosseguiu até quase
fins de janeiro. Os japoneses lutaram como sempre - até o fim; eles estavam quase mortos de fome, reduzida
que estava a ração de cada homem a um punhado de arroz por dia, ao qual alguns adicionavam raízes, grama
e pedaços de amigos e inimigos mortos. Ao longo da "Trilha Sanananda" eles tiveram 1.600 mortos. Cerca
de 1.000 escaparam pelo interior, para oeste de Gona, e 1.200 doentes e feridos foram retirados por mar. Uns
600 australianos e 270 americanos foram mortos e seus feridos subiam a mais de 2.000.

Blamey vira o suficiente desse tipo de luta para ter uma opinião que mais tarde transmitiu a Herring: "Acho
que é um grande erro tático martelar os bolsões, porque isto atrasa a operação e resulta em baixas demais. Se
o bolsão está suficientemente coberto, acho que você deve prosseguir até seu objetivo. Podemos cuidar dos
bolsões, obrigando o inimigo a sair pela fome ou expulsando-o à força, mais tarde".

Entre australianos e americanos estabeleceu-se um clima de simpatia e respeito mútuos, lutando e morrendo
juntos em Buna-Sanananda. Somente alguns oficiais superiores é que se mantinham incomodamente cegos
às boas qualidades dos seus parceiros. O importante é que a inimizade surgida entre os soldados na Austrália,
sobretudo em Brisbane, se transformara em camaradagem quando eles começaram a viver juntos a dura
realidade da batalha. O ressentimento em Brisbane explodiu na noite de 26 de novembro. Pê-emes
americanos mataram e feriram oito milicianos australianos durante uma briga que teve lugar na frente da
cantina e, na noite seguinte, pequenos grupos de australianos vagavam pelas ruas surrando pê-emes e
atacando outros soldados e oficiais americanos. Ela chamou-se a "Batalha de Brisbane" e foi provocada por
vários fatores: embriaguês, diferença nas taxas de pagamento de soldo, preferência dada aos americanos nas
lojas e hotéis e, também, pelos motoristas de táxi; namoradas e esposas de soldados ausentes que saíam com
americanos e o costume destes de fazer carícias em público; a fanfarronada dos americanos e a tendência
para nas brigas utilizarem revólveres e facas; a provocação dos milicianos pelos americanos e a exibição de
armas de fogo e cassetetes pelos pê-emes e a propensão para usá-los numa emergência - coisa que talvez
acalmasse os americanos, mas que podia provocar distúrbio entre os australianos.

Lutando juntos, eles se deram muito bem; separados, porém, tendiam bastante para a provocação, o que
inevitavelmente acabava em briga.

Wau
No meado do ano de 1942 deu-se o período mais negro da guerra para os Aliados - quando as potências do
Eixo tudo conquistavam. Os alemães faziam rápido progresso para o interior da Rússia, Tobruk caíra e o
Egito estava ameaçado, submarinos venciam a batalha do Atlântico e os japoneses se estabeleciam
firmemente no Sudeste Asiático. Nos primeiros meses de 1943 a situação começou a mudar, à medida que a
intensificação da produtividade de material bélico começava a dar aos Aliados as armas e equipamentos que
permitiriam a seus exércitos passar à ofensiva. Finalmente se podia planejar a forma de obtenção da vitória
final, cujas diretrizes haviam sido traçadas na "Conferência de Casablanca", em janeiro. A derrota da
Alemanha era a consideração principal, de acordo com os desejos de Churchill, Roosevelt e Stalin; manter-
se-ia a pressão contra os japoneses - Rabaul deveria ser tomada, far-se-iam avanços no Pacífico Central,
pelas ilhas Gilbert, Marshall e Marianas; e a Birmânia deveria ser recapturada. Planejando o uso de "forças
adequadas" - segundo o adotado em Casablanca - uma Conferência Militar do Pacífico, realizada em
Washington, em março, distribuiu tarefas ao Almirante Nimitz, que continuava na Chefia da área do Pacífico
Central, e ao General MacArthur, o Chefe do Pacífico Sudoeste e Sul, tendo o Almirante Halsey no controle
dos procedimentos táticos navais de seu setor. Com o seu famoso "Eu voltarei" a influenciar, talvez, em
grande parte os seus futuros grandes planos. MacArthur propunha duas linhas de ataque a Rabaul e, depois,
deslocamentos de ilha em ilha até as Filipinas, e dali para o Japão.

Nimitz preferia um caminho mais direto, pelo Pacífico Central, para bases mais próximas das ilhas
metropolitanas inimigas. Tais divergências de opinião significavam que não poderia haver nenhum comando
unificado sob um Comandante Supremo, de modo que os Chefes de Estado-Maior Conjuntos chegaram a um
acordo aprovando o duplo arranjo.
Para a chamada "Operação Roda de Carro", que MacArthur e Halsey fariam disparar no Pacífico Sul e
Sudoeste, foram por eles escolhidos pontos nas Salomão e noutras ilhas, entre elas a Nova Guiné,
considerados próprios para operações anfíbias. As forças terrestres da Nova Guiné se deslocariam pela costa,
para capturar a área de Lae-Salamaua-Finschhafen-Madang, e entrariam na Nova Guiné ocidental; em
seguida, as Halmaheras seriam ocupadas, a fim de permitir o estabelecimento de bases aéreas a distância de
ataque das Filipinas. MacArthur deixou as forças terrestres da Nova Guiné sob o comando de Blamey, mas o
controle operacional dos americanos que desembarcassem na Nova Britânia e em Rabaul seria inteiramente
americano. Seu Q-G-Geral continuaria tomando as decisões estratégicas, pressionado, embora, ainda por
muito tempo.

A derrota do Japão em Guadalcanal foi completada na noite de 1 o/2 de fevereiro, quando os remanescentes
do 17o Exército, cerca de 13.000 homens, foram evacuados em destróieres para Buin e Rabaul. O Japão
também perdeu uma esquadra aérea de mais de 600 aparelhos e seus tripulantes - na maioria aviadores
experientes e de difícil substituição - sofrendo igualmente grandes perdas no mar. O reforço de Lae,
Salamaua e da área do Vale de Markham passou a ser então de suma importância. Cerca de 2.000 japoneses
haviam sido evacuados de Buna-Gona para aquela área antes do ataque e uns 3.400 haviam escapado em
barcos ou a pé, incluindo o General Yamamata, que escapou numa barcaça de desembarque, tão
sobrecarregada que não oferecia segurança nem desenvolvia velocidade - até que alguns dos homens, feridos
e exaustos, foram deitados ao mar. A 51a Divisão, que havia sido trazida da Indochina Francesa para Rabaul,
foi mandada para Lae, onde o escalão avançado chegou no começo de janeiro. Enquanto os fuzileiros navais
japoneses sofriam perdas enormes nas escaramuças com os comandos australianos, uma poderosa força foi
despachada para acabar com os observadores costeiros e ajudar a turba fraca e errante que chegava de Buna-
Gona. O objetivo imediato era a captura do aeródromo de Wau, que serviria de trampolim para outro avanço
por terra contra Port Moresby.

A pequena Força Kanga não fora, na área de Wau-Salamaua-Lae, seriamente perseguida pelo inimigo
durante as operações realizadas a sudoeste pela costa; ao contrário, ela foi ignorada enquanto os Aliados se
empenharam naquela ofensiva. Eram poucos os suprimentos enviados por Moresby, através de um longo
caminho: primeiro numa velha escuna que fazia o comércio entre as ilhas, que ia do porto até a foz do rio
Lakekamu, depois por canoas nativas, que eram atadas aos pares, como catamarãs, para dar uma plataforma
destinada à carga, e que percorriam rio acima águas infestadas de crocodilos, até o Campo Bulldog, de onde
seguiam, em longas fileiras de carregadores (ao todo empregavam-se 600 deles) que levavam os suprimentos
pelos 190 km de montanhas e vales cobertos de selva, até as encostas e colinas cobertas de capim kunai, em
Wau. A base avançada da 2/5 a Companhia Independente era uma cabana, coberta de palha, situada numa
pequena clareira cercada de altas árvores e densa vegetação rasteira, perto da aldeia de Mubo, ocupada pelos
japoneses, na terra-de-ninguém entre Lae e Salamaua. Exploradores dos Fuzileiros Voluntários de Nova
Guiné guarneciam um posto de observação, numa árvore que dominava os japoneses em Salamaua, e
mensagens radiofônicas sobre seus movimentos eram enviadas diariamente para o QG. Damien Parer, o
famoso fotógrafo de guerra, visitou essa área e filmou aviões japoneses decolando e pousando na baía, e
soldados japoneses a menos de 2 km do local onde ele se ocultava.

Os observadores costeiros e os homens de Angau estavam notando uma mudança nas atitudes dos nativos;
eles não eram tão prestativos quanto haviam sido, porque intimidados pelos japoneses. O fato de os aviões
aliados virem bombardeando e metralhando continuamente a área punha alguns em estado de lealdade
incerta para com seus velhos "senhores". Quando mudavam de lado, eles mantinham um silêncio obstinado e
visível constrangimento, de modo que as patrulhas sempre ficavam em dúvida sobre a presença ou ausência
de soldados inimigos. Em 1942 os nativos teriam informado imediatamente sobre o menor movimento de
uma patrulha inimiga na direção de uma posição australiana; em 1943, alguns dos chefes de aldeia mudaram
para o extremo oposto, e simplesmente não diziam nada sobre movimento inimigo, sobretudo as
investigações que estavam sendo feitas nas serras situadas ao norte de Markham, área que poderia servir de
caminho de fuga de Lae para Madang - ou para um ataque de flanco dali até o Markham. Enquanto os
observadores e exploradores pudessem manter estoques de produtos, notadamente sal e lâminas de barbear,
eles podiam viver da terra e sustentar a lealdade de número suficiente de pessoas para impedir que a plebe
em geral se juntasse aos japoneses. Infelizmente, os homens, nos bosques, eram agora traídos com
freqüência, tombando ante as balas japonesas ou suas espadas de execução.

Mubo, a 24 km de Salamaua, distava uns 30 km, em linha reta, de Wau - muito mais distante das duas
principais trilhas de ligação - e Fleay (promovido a Tenente-Coronel) acreditava que quando o inimigo
entrasse em Mubo, continuaria no costumeiro estilo japonês para tomar Wau. Assim, ele ordenou uma ação
de "terra arrasada"; a maior parte dos prédios de Wau foi destruída pelas chamas, pontes foram pelos ares e
algumas instalações no vale de Bulolo foram destruídas. Estas precauções mostraram-se desnecessárias, mas,
na época, a medida era sensata. A 4 de outubro, outra unidade de comando, a 2/7 a Independente, foi levada de
avião para Wau, a fim de reforçar os veteranos cujo moral continuava extremamente elevado, diante do seu
isolamento, da situação perigosa, da alimentação monótona de carne enlatada, das doenças e do desconforto.
Com a companhia nova, de 290 homens, alguns dos seus homens mais aptos do 2/5 a, e 400 carregadores,
Fleay fez um longo percurso pela selva para atacar o inimigo em Mubo antes que este o atacasse. Embora
modesto, o êxito por ele obtido foi incontestável, pois mataram muitos japoneses perdendo apenas alguns
dos seus próprios homens. Eles retornaram a Wau, encontrando a 17 a Brigada chegando e a Força Kanga de
Fleay, agora ampliada, passou ao comando do Brigadeiro Moten, outro veterano do Oriente Médio. O 2/6 o
Batalhão foi o primeiro a chegar da Baia de Milne, passando por Moresby, seguido pelo 2/5 o e alguns
soldados de engenharia.

Em janeiro, os japoneses começaram a avançar na direção do aeródromo de Wau, com sua força principal
percorrendo, pela selva, uma trilha quase desconhecida, enquanto que os australianos estavam agora
deslocados ao longo das duas rotas principais. Pelo final do mês, os 5 o, 6o e 7o Batalhões estavam totalmente
empenhados em violenta luta e suas companhias de reserva, ainda em Moresby, foram despachadas às
pressas para o local. Um ataque, feito pela manhã, para tomar o aeródromo no dia 30 foi repelido, com fogo
preciso ceifando as fileiras inimigas. A chegada de dois canhões de 25 lb., que desembarcaram às 09h15 dos
Dakotas DC-3, que por pouco não foram derrubados pelo fogo inimigo, deram aos defensores um apoio
valioso quando começaram a disparar, às 11h30. Naquela tarde, uns 300 ou 400 japoneses apareceram, numa
estrada, bem na frente de uma companhia do 2/5 o, dirigida pelo Major "Luger Joe" Walker, e que estava
numa posição de emboscada perfeita. Apoiado pelos canhões de 25 lb. e pelos Beaufighters da RAAF, o 2/5°
abriu fogo com fuzis e metralhadoras, matando ou ferindo mais de metade dos atacantes. A ajuda da RAAF e
da Força Aérea americana, na forma de missões de transporte e bombardeios e metralhamentos,
desempenhou papel importante na defesa do aeródromo de Wau durante toda a ação. Finalmente, o inimigo
aproximou-se de um perímetro menor e a luta entre as infantarias adversárias intensificou-se.

Morteiros leves e pesados e metralhadoras Vickers eram as armas mais poderosas que havia numa distância
superior a 100 m; em distâncias menores, a luta era com fuzis e fuzis-metralhadoras, bem como granadas.
Quando era possível orientar os Beaufighters acerca dos locais em que se encontravam os nipônicos, dentro
da mataria, o enorme poder de fogo dos canhões de 20 mm dos aviões obtinha efeito verdadeiramente
mortífero - o mesmo acontecendo com as granadas dos 25 lb. dirigidas por observadores postados nas
árvores ou voando no banco traseiro dos Wirraways. Um Wirraway e um Dakota foram destruídos, num
ataque de caças e bombardeiros inimigos, no dia 6 de fevereiro; os caças aliados interceptaram e derrubaram
dois bombardeiros e 13 Zeros, e a artilharia antiaérea, mais um bombardeiro e dois Zeros.

Os batalhões atacavam continuamente, às vezes matando dezenas de inimigos e perdendo apenas alguns dos
seus, sofrendo às vezes grandes baixas nos numerosos pequenos bolsões de ação. Em poucos dias, o inimigo
estava recuando do Vale do Wau, onde sofrera séria derrota, sendo hostilizado, por todo o deslocamento até
Mubo, por patrulhas da companhia e aviões em missões de metralhamento.

O Tenente-general Ivan MacKay, então comandante da Força da Nova Guiné, ainda estava preocupado com a
superioridade numérica do Japão na Nova Guiné e pedia reforços para seus 11.400 australianos e 8.400
americanos. Ele advertiu Blamey: "As derrotas do inimigo em Guadalcanal e Papua e a preocupação que
revela em relação a Lae tornam possível outro ataque a Wau. Informes persistentes, provindos de Angau e de
agentes nativos, dão conta de que o inimigo está deslocando constantemente, por terra, tropas de Madang,
passando por Nadzab, para Lae, com o objetivo de atacar Wau, provavelmente através de Nadzab, Vale de
Wampit e Bulwa. Calculo os efetivos inimigos em Lae-Salamau em 8.000 homens; em Madang, 5.000; em
Wewak, 9.000, com outra divisão por chegar. Julgo prudente frustrar o inimigo aumentando a guarnição de
Wau... pretendo contar com reforços... " Blamey prometeu-lhe três novas brigadas.

A fim de melhorar a situação do abastecimento para o projetado ataque a Lae, começou-se a construir uma
estrada para jipes de Bulldog a Wau, que era o entroncamento das estradas e trilhas de comunicação que
levavam a Salamaua, na direção nordeste, e, no rumo norte, ao Vale do Markham. Uns 100 km de estrada
tiveram de ser construídos, a partir de Bulldog, passando por serras de até 3.000 m de altura, atravessando
região batida com freqüência por terremotos que faziam deslizar grandes porções de terra; rochedos erguiam-
se até 300 m de altura, e chuva torrencial era coisa de quase todos os dias. As 14 a, 9a 3 2/16a companhias de
engenharia de campanha empregaram centenas de nativos que de boa vontade colaboraram neste projeto
extraordinário. Um dos problemas era o desaparecimento de ferramentas, como um dos capatazes informou:
"A perda de ferramentas e os furtos eram comuns. Os mantimentos enviados a Bulldog eram em boa parte
furtados no caminho. As tribos Kukukuku, habitantes da região de Eroa, fugiam com muito equipamento.
Machados, facas e comestíveis os atraíam bastante. Mais tarde, passaram a interessar-se também por
explosivos. Certa feita, um grupo surgiu, orgulhoso, na trilha enfeitado com detonadores espetados no nariz".

Qualquer possibilidade que os japoneses pudessem ter de vir a atirar-se em grandes números contra Wau
esfumou-se no começo de março, quando um comboio que vinha de Rabaul foi submetido a ataque aéreo.
Esse ataque, que se tornou conhecido como a Batalha do Mar de Bismarck, selou o destino do inimigo na
Papua-Nova Guiné e demonstrou a superioridade do poderio aéreo aliado. O Serviço de Inteligência aliado
transmitiu ao comando todas as informações acerca do comboio, como quantidade de transportes de tropas,
rumo que seguia e as características da frota de escolta, que era de oito destróieres. Os comandos da RAAF e
da Força Aérea americana tiveram tempo suficiente de reunir a força necessária ao ataque, numa área
adequada para caças e bombardeiros de curto, médio e longo alcances. Além dos aviões de reconhecimento e
de escolta, os atacantes lançaram 37 bombardeiros pesados, 49 médios e leves e 95 caças: Fortalezas
Voadoras, Liberators, Mitchells, Bostons (Havocs), Beaufighters e Lightnings. Na manhã do dia 3, o
aeródromo de Lae foi violentamente atacado por Bostons, em vôos rasantes, para manter os Zeros ocupados
ou fora de ação, enquanto o comboio era martelado pelas Fortalezas, que afundaram um transporte, que
flutuou por tempo suficiente para permitir a transferência das tropas para um dos destróieres, que as levou às
pressas para Lae. No dia seguinte, os bombardeiros Mitchell B-25, empregando o novo método de fazer as
bombas ricochetear na superfície das águas para atingir os costados dos navios, causaram danos muito
maiores. Os Mitchells seguiram-se aos Beaufighters que atiravam nos conveses e pontes de comando com os
quatro canhões do nariz e as seis metralhadoras das asas. Todos os transportes e quatro destróieres foram
afundados. As tripulações dos destróieres e mais ou menos 2.700 combatentes que iam nos transportes
salvaram-se, mas cerca de 3.000 ali deixaram a vida. As perdas de aviões aliados foram pequenas: uma
Fortaleza, três Lightnings e um Beaufighter, que fez aterrissagem forçada. A força aérea inimiga perdeu
vários Zeros no ar e outros em terra, em Lae. Durante o mês, o inimigo tentou seguidos ataques retaliatórios
contra as bases aliadas, desde a Baía Oro até Port Moresby, mas as perdas que sofreu, em caças e
bombardeiros, foram mais sérias do que os danos causados aos navios e aeródromos aliados.

Ainda havia leve possibilidade de ataque à Austrália, pelas tropas japonesas baseadas em Timor, ameaça que
evanescia à medida que as pistas de pouso em Darwin se enchiam de caças e bombardeiros. Além disso, as
tropas australianas e holandesas isoladas na ilha mantinham o inimigo ocupado e podiam observar seus
movimentos e enviar relatórios através dos rádios que lhes eram lançados pelos seus fornecedores regulares
de alimentos - os Hudsons da RAAF. As tropas estavam em farrapos e normalmente famintas, mas bem
armadas e sempre dispostas a travar luta de guerrilha contra os ocupantes de Timor. David Ross, cônsul
australiano em Dili, fora capturado e, em março de 1942, enviado para entrar em contato com os
guerrilheiros e lhes exigir a rendição. Ross aproveitou a oportunidade para transmitir o que sabia das
posições japonesas e assinar notas oficiais para compra de alimentos nos fornecedores locais. Ele foi
novamente despachado pelos japoneses, em junho, com uma nota dirigida ao comandante australiano
assegurando-lhe tratamento adequado, se se rendessem; do contrário, o comandante japonês levaria seus
homens às colinas e resolveria a luta ali. Desta vez, Ross entregou a mensagem e ficou com os guerrilheiros.
Ao mesmo tempo, as autoridades portuguesas estavam tendo dificuldades com nativos rebeldes, caso em
que, por puramente doméstico, os australianos não se envolveram, permanecendo como simples
espectadores, enquanto nativos leais ajudavam os soldados portugueses a manter a ordem. Um diarista do
comando escreveu: "Uma de nossas patrulhas, à caça de japoneses, encontrou perto de Mape uma patrulha
portuguesa à caça de alguns nativos; depois de trocarem cumprimentos, cada qual seguiu seu caminho. O QG
de Coy viu uns 3.000 nativos, todos em trajes de guerra e armados até os dentes, e também com tambores e
bandeiras portuguesas, voltando da caçada, muitos deles carregando displicentemente a cabeça dos
derrotados na batalha". Em lugar de se renderem ou de evacuarem depois que a guarnição inimiga foi
reforçada, os guerrilheiros receberam mais comandos (transportados pelo Mar de Timor pelo destróier
HMAS Voyager, que encalhou e mais tarde foi posto a pique) para manter os 12.000 soldados japoneses
ocupados em Timor - quando poderiam ter sido enviados para a Nova Guiné. Entretanto, os Aliados não
ficariam em Timor por toda a guerra e o último transporte de evacuação - um submarino - afastou-se da ilha
em fevereiro de 1943.

Enquanto a luta na Nova Guiné caminhava para um impasse, depois que os japoneses recuaram de Wau, o Q-
G-Geral executava planos para cumprir sua grande estratégia. Forças sob o comando de MacArthur,
conforme decisão de Washington, deveriam tomar Salamaua, Lae e toda a Península de Huon, estabelecer
bases áreas em Ksriwina e na ilha Woodlark, e ocupar a parte ocidental da Nova Britânia, para conter
Rabaul. O General Blamey, dando provas de ser um tático sagaz, continuou dirigindo a guerra na Nova
Guiné. Ele escolheu a Baía de Nassau, a 16 km ao sul de Salamaua, para ali instalar um posto de ligação com
uma frente a ser aberta na Nova Guiné, e deu ordens para, a seguir, fosse feito o deslocamento por terra - o
desenvolvimento de aeródromos no Vale do Markham e o ataque a Lae.

Avanços
Os primeiros Dias-"D" no Pacifico tiveram bom início, enquanto na outra zona de guerra - da qual os que ali
se batiam, em seus uniformes de selva, tinham notícia através das transmissões radiofônicas, incluindo as da
"Rosa de Tóquio" - os Aliados invadiam a Itália e Sicília, os russos começavam uma ofensiva de inverno
cujas conseqüências lhes renderiam sucessos ainda maiores na primavera e verão. Este seria o momento para
os líderes japoneses aceitarem lógica e humanamente a derrota e a rendição incondicional. Se a posição do
deus-imperador japonês tivesse sido garantida pelos Aliados, talvez os nipônicos se tivessem rendido,
embora a "panelinha" de Tojo, que detinha grande soma de poder, se mostrasse disposta a lutar até que seu
país, como a Alemanha, fosse reduzido a escombros.

Em setembro de 1942, a equipe do Serviço de Inteligência australiano ofereceu uma previsão muito precisa
ao Q-G Terrestre Aliado sobre a política de guerra do Japão: devido aos seus limitados efetivos aéreos, o
Japão só poderia realizar uma ofensiva - no Pacífico Sudoeste - e não atacaria a Rússia ou a Índia; uma
barreira estratégica ao norte da Austrália estaria completa com a ocupação da Nova Guiné e, possivelmente,
de Darwin e da costa nordeste da Austrália; os países por ele ocupados seriam reforçados, para que, se a
Alemanha fosse derrotada, os Aliados, cansados da guerra, viessem a concordar com uma paz negociada.

Calcula-se que a concentração japonesa nas Índias atingira cerca de 118.000 homens, e na área da Nova
Guiné-Salomão, mais ou menos 105.000, durante os primeiros meses de 1943. Havia três divisões nas
Salomão e três na Nova Guiné - os 17° e 18° Exércitos, equivalendo cada qual a um corpo britânico ou
americano. Contavam os nipônicos com o apoio de uns 400 aviões de combate e uma marinha ligeiramente
inferior à esquadra de Halsey. A composição mais ou menos exata do exército japonês e o seu
desenvolvimento chegaram ao conhecimento da equipe do Serviço de Inteligência australiano como
resultado do desastre que o Japão sofreu no Mar de Bismarck. Alguns sobreviventes do comboio
desembarcaram na ilha Goodenough, onde foram mortos ou capturados por um batalhão da milícia da
guarnição. Uma patrulha emboscou um grupo de oito que haviam saltado de dois barcos e viram, pelos
distintivos dos mortos, que eram oficiais de Estado-Maior, deduzindo, corretamente, que algumas pastas de
aparência oficial encontradas nos barcos deviam conter informações valiosas. Dentro delas havia
documentos que incluíam uma lista completa dos oficiais e das unidades a que pertenciam, além de um
resumo de todo o exército. Desde o começo da luta, o Serviço de Inteligência tinha distintivos dos soldados
mortos (os Aliados descartavam-se dos distintivos da sua unidade antes da ação), e o soldado japonês era um
diarista inveterado, mas as informações obtidas destes eram sempre incompletas. Com as caixas de
Goodenough, a Inteligência pôde anotar as unidades que faltavam.

Halsey dispunha de sete divisões para as Salomão e outras ilhas, e MacArthur, duas divisões americanas e 12
australianas. As ofensivas na Nova Guiné foram travadas sobretudo pelos australianos, cujas forças armadas
atingiriam o total de quase 500.000 homens, retirando número muito grande de técnicos essenciais de uma
população de apenas 7.000.000. As tropas americanas seriam treinadas para operações de Força-Tarefa. Na 5 a
Força Aérea, do General Kenny, havia 1.400 aviões, aproximadamente metade deles pilotada pela RAAF, e
os restantes pela Força Aérea americana. Duas divisões blindadas e nove de infantaria estavam estacionadas
na Austrália e, em março de 1943, havia três divisões de infantaria empregadas na guerra de fixação na Nova
Guiné. Com a aprovação da Lei de Defesa, de fevereiro de 1943, a esfera de ação da milícia passou a
estender-se ao equador. As unidades da milícia foram reforçadas com oficiais e praças graduados da FIA,
passando a integrar a FIA grande número de milicianos. O número dos que serviam na FIA tinha por prefixo
a letra inicial de seu local de alistamento, seguida da letra "X". Por exemplo, NX 7978 seria o número de um
componente da FIA alistado na Nova Gales do Sul. Oito batalhões milicianos e 15 da FIA adquiriram
experiência em combate na Nova Guiné e havia sobreviventes em número bastante para garantir o vigor, o
moral e o entusiasmo quando reforçados. O chefe da Força da Nova Guiné em abril era o Tenente-General
Mackay, e o homem enviado para dirigir as operações de Wau foi o General-de-Divisão Stanley Savige, que
comandara a 17a Brigada no Oriente Médio e fora um dos planejadores responsáveis pelo reforço da agora
obsoleta e abandonada "Linha Brisbane". Savige tinha um instinto para descobrir bons oficiais e soldados e
recusava-se obstinadamente a aceitar oficiais recomendados por políticos ou quaisquer cidadãos influentes.
Os homens tinham por ele bastante respeito e, até, afeição.

Com a chegada da 3a Divisão a Wau, a Força Kanga foi dissolvida; as oportunidades para táticas de guerrilha
iam-se reduzindo à medida que ambos os lados aumentavam seus efetivos para divisões. Continuaria
havendo as velhas frentes de trilha estreita e dolorosos ataques frontais contra barreiras amplas e fortificadas.
Pelo final de abril, a 3 a Divisão, a 17a Brigada e três companhias independentes ocupavam um longo
perímetro que se estendia em meio arco, indo desde o Markham, descendo serras, a cerca de 30 km para o
interior, dobrando a partir de Wau para Mubo e terminando no rio Francisco, onde o 2/3° Independente
patrulhava a selva.

Em Mubo, o inimigo fora reforçado. Supunha o comandante japonês que os australianos detidos haviam
chegado ao fim das suas forças, ocorrendo violenta luta pela linha de abastecimento do inimigo. A luta pelo
"Pimple", um pico alto, foi particularmente sangrenta, quando o 2/7° Batalhão o galgou para tomá-lo. Os
comandos mantiveram sob pressão o inimigo; já mais forte que eles, numa serra situada a apenas 3 km de
Salamaua até que o nipônico, reforçado de mais um batalhão apoiado por pesado fogo de artilharia e
morteiro, contra-atacou a companhia. Sofrendo apenas perdas reduzidas, os comandos causaram grande
número de baixas entre os japoneses que, em desespero, pediram a ajuda dos caças de Lae. Estes, porém,
observados pelos australianos, metralharam posições inteiramente abandonadas, acabando por submeter a
bombardeio ampla área ocupada pelos próprios japoneses. Este tipo de trabalho estava melhorando a imagem
dos Independentes entre os veteranos da FIA, que eram dados a zombar do "fazer ou morrer", divisa que
desde os primeiros instantes do treinamento os comandos eram levados a adotar.

O soldado de infantaria estava agora entrando em ação bem melhor equipado que em 1942. Apenas uma
coisa não mudara: o chapéu de feltro de aba larga, a que dava preferência, em geral, sobre o capacete de aço.
Seu uniforme era todo verde, inclusive os acessórios; além da mochila, em que iam um par extra de botas
marrom, meias, camiseta, camisa, calças e um mosquiteiro verde, levava um cantil pendurado ao cinto e um
bornal contendo as rações: a de emergência, a de campanha e a normal, de um dia - todas de apenas carne
enlatada e biscoitos - talheres, pratos e os indispensáveis tabletes de "Atabrina". A mochila, que ele deixava
no QG do batalhão ou da companhia quando havia ação, era envolvida com seus cobertores e forro para o
chão. Nas cartucheiras da frente, levava 50 cartuchos para seu fuzil, ou 100 para sua Thompson ou Owen,
ou, ainda, 100 para seu Bren. Uma ou duas granadas com espoletas de quatro segundos iam-lhe penduradas
no cinto pela alavanca. Ele também tinha de carregar seu "chapéu de lata" (o capacete de aço), que em geral,
por considerar muito incômodo, na selva, ficava no QG, junto com a mochila.

O serviço de patrulha, em que se registrava elevada incidência de baixas, era a atividade principal, antes de
qualquer ataque a pontos fortificados inimigos, com aviões, barragem de canhões e morteiros e infantaria. Na
área do pico "Pimple" (Espinha), a selva era tão densa que uma patrulha passou um dia inteiro, sem ser
descoberta, a 30 m do inimigo, ouvindo-o falar, tossir, cortar madeira e usar pratos e talheres. Nos espaços
relativamente amplos e quase desguarnecidos de tropas do longo perímetro havia homens de Angau
observando a situação nativa e recolhendo informações sobre o movimento do inimigo. John Sherlock,
representante de Angau e baseado na aldeia isolada de Mapos, tinha condições de saber, pelos seus guias e
seus contatos nativos, onde o inimigo estava patrulhando, na área dos rios Buang e Bwussi. A ampla rede de
agentes que as tropas aliadas dispunham na área complementava o utilíssimo serviço de observação aérea do
campo inimigo. Observadores em aviões e em terra também davam conta dos movimentos de barcaças e
destróieres que levavam reforços nipônicos. Durante os meses de abril e maio, cerca de 1.800 combatentes
nipônicos ali aportaram, com 400 chegando em submarinos. Os observadores costeiros, postados nas
montanhas que dominavam o Markham; informavam sobre patrulhas inimigas nas montanhas Wain, uma
ramificação da Serra de Finisterre, que se dividia em contrafortes pela Península de Huon; patrulhas também
promoviam o levantamento de uma rota terrestre de Lae a Madang. O interesse principal dos Aliados pelo
Vale do Markham baseava-se na conveniência da área para a instalação de aeródromos, particularmente a
área de Nadzab.

Fazendo "ataques simulados" na direção de Salamaua e tomando a Baía de Nassau, Blamey esperava levar o
inimigo a retirar alguns dos seus efetivos de Lae. Independente dos ataques feitos - o real e o simulado - o
resultado seria uma batalha sangrenta. Para o General Adachi, Salamaua era uma posição estratégica muito
importante, tendo, por isso, que ser defendida a qualquer preço e até o último homem; para ele, se Salamaua
caísse, Lae estaria perdida e, assim, quando Blamey iniciou seu ataque simulado e quando começou a retirar
tropas de Rabaul e Wewak, Adachi também retirou algumas de Lae. Ele tinha problemas para levar
mantimentos e materiais, pelo mar, até suas bases, ao passo que Blamey contava com o beneficio de ter
vários esquadrões de Dakotas, os "bombardeiros de biscoitos" que suplementavam a linha de abastecimento
por Bulldog. Os Dakotas e suas cargas deixariam uma impressão duradoura nos nativos que, ao verem os
aviões pela primeira vez, perguntaram se eram machos ou fêmeas. Uma vez ocupada a Baía de Nassau, a
situação de abastecimento das tropas aliadas melhoraria.

Em junho, o 2/7o enviou patrulhas à área da Baía para que calculassem os efetivos das tropas inimigas e lhes
determinassem as posições, e o 2/6° sustentou lutas violentas com o adversário, lutas que sempre resultavam
em maiores perdas para este. Nesses embates na selva, onde o inimigo estava protegido, a granada era, das
armas ali utilizadas, a mais eficaz, tanto a de quatro segundos, lançadas a mão, quanto a de sete segundos,
disparada por um descarregador. Em embates cerrados em campo aberto, eram as granadas, os fuzis e as
armas portáteis que detinham e repeliam o inimigo. Durante o embate principal, perto de Mubo, na Serra de
Lababia, 150 homens do 2/6° foram atacados por 1.500 japoneses do 66° Regimento de Infantaria; em dois
dias os japoneses sofreram quase 200 baixas, enquanto os australianos tiveram 11 mortos e 12 feridos. Esses
resultados iam dando aos australianos confiança cada vez maior, mesmo em situações em que se viam
cercados.

A luta na Serra de Lababia mostrou ao inimigo que não lhe eram grandes as possibilidades de chegar a Wau.
O General Nakano, comandante da 5 a Divisão, e o Coronel Araki, que dirigia o 66 o, estavam certos de que
expulsariam os australianos da área. No dia 19, eles acreditavam que "amanhã ao amanhecer começaremos o
trabalho de limpeza com todos os efetivos e destruiremos o inimigo (em Lababia). E prosseguiremos na
direção de Guadagasal. O inimigo parece ignorar nossos planos, e toma banhos de sol em Guadagasal". Eles
ficaram surpresos e desalentados quando descobriram que a posição australiana era impenetrável, não devido
a fortes embasamentos de troncos, que era a fórmula defensiva dos japoneses, mas pela habilidade e astúcia
da técnica de não-ocultação. Aproximando-se colina acima, os japoneses não podiam ver as posições
defensivas, ocultas atrás das árvores; mas, uma vez chegando ao topo, aí era-lhes possível ver claramente à
frente sob as árvores, pois as folhas, galhos e arbustos haviam sido retirados do local até a altura de
aproximadamente 1,50 m. Esta área estava agora eivada de troncos de árvores, entre os quais os australianos
tinham claros campos de tiro. Quando os japoneses sobreviventes das armadilhas atacaram, sentiram que
tinham de desistir, pois iam sendo derrubados sistematicamente.

De Lababia, o 2/6° infiltrou grupos até a costa, a fim de ajudar o desembarque na Baía de Nassau do 1/162°
Batalhão, trazido de barcos pela 2 a Brigada Especial de Engenheiros ("Comandos do Cabo Cod") na noite de
29-30 de junho. Foi um desembarque confuso, congestionado e com mar agitado, mas, de modo geral,
seguro, e a infantaria sustentou as primeiras escaramuças ao amanhecer. Em sua primeira noite em terra, após
o contato inicial com o inimigo, o que quer que se movesse na escuridão era visto pelos recém-chegados
como infiltração de inimigo, iluminando-se e turbilhonando a noite com traçadoras e explosões de granadas e
morteiros. Uma companhia de fuzileiros papuas também ajudava o desembarque, atacando as posições
japonesas no flanco esquerdo. A cabeça-de-praia foi estabelecida sem muita interferência dos nipônicos e,
em um mês, havia mais de 1.400 americanos na Baía de Nassau. O inimigo escapou para Salamaua,
excetuando-se os poucos que ficaram para lutar até a morte. Um sargento japonês saiu da selva onde estivera
isolado e, em lugar de fazer o hara-kiri ou uma carga banzai, optou pela sobrevivência, ao descobrir latas de
carne, de leite, de pêssegos e pão num depósito que os americanos deixaram desprotegido.

Enquanto a Baía de Nassau era ocupada com êxito, Mubo foi atacada e conquistada, após uma semana de
luta violenta, pela 17a Brigada. Os milicianos do 58/59 a lutaram por Bobdubi, na área dos comandos, perto de
Salamaua, num combate que se transformou numa longa série de patrulhas e escaramuças pela serra e pelo
vale, desviando a atenção inimiga de Mubo. A batalha por aquela região montanhosa e insalubre prosseguiu
até 13 de julho, quando a 17a Brigada a conquistou, com a valiosa ajuda de uma força do regimento
americano, que fustigava num dos flancos. O General Nakano compreendeu que "a área Lae-Salamaua está
no limite extremo desta luta decisiva, e de cujo resultado depende todo o destino do nosso Império. Os
baluartes de Lae e Salamaua têm de ser defendidos até a morte".

O ataque simulado contra Salamaua continuou com um vigor que o tornava quase real. Na aproximação pela
costa, para que os canhões americanos pudessem ser embasados no alto do monte Tambu, que dominava
Salamaua, houve luta feroz travada pelos grupos de combatentes do 162 o Regimento. Um deles, comandado
pelo Major Roosevelt, desorganizou-se, por não ter o comandante cooperado com seus superiores
australianos. Diante do comportamento de Roosevelt, o Capitão Sturrock, que era o oficial-de-ligação, ficou
atônito: "Estou encontrando dificuldade muito grande para obter informações relacionadas com as futuras
operações e sobre relatórios de situação. A única maneira de obter informações consiste em permanecer na
área do QG do batalhão, espionando, aguçando os ouvidos para ver se pego alguma coisa das conversações
telefônicas... a organização do QG do Batalhão é péssima... se as coisas continuarem como estão, não creio
que possam ir muito longe".

O 2/5° Batalhão, que vinha da luta intensa travada em Mobu, foi mandado para um flanco, na direção do
monte Tambu, e mais um período de combate. Na história oficial de David Dexter, The New Guinea
Offensives, ele descreve uma noite e um dia que eram bem característicos de tantos outros vividos naquela
luta pelas serras: "À noite, houve um violento tremor de terra que assustou os soldados... choveu forte... os
japoneses, apesar disso, deslocaram-se na escuridão, do monte Tambu para os flancos das duas companhias
do 2/5o. Apesar da chuva torrencial... o pelotão de retaguarda ouviu barulhos... a carga japonesa disparada em
meio à escuridão. Um artilheiro, com uma providencial rajada de Bren que fez contra a escuridão, destruiu a
metralhadora dos atacantes que disparava, pela trilha, contra o centro da posição australiana. Todas as
tentativas do inimigo resultaram em mais baixas, o que o levou a retirar-se antes de clarear o dia, deixando
21 mortos e numerosos feridos... Ataques esporádicos continuaram durante o dia... Os japoneses aumentam o
fragor da luta, com berros e gritos estridentes... a determinação e a experiência de uma unidade já bastante
amadurecida, predominaram. Walters (2/5 o) informou: 'Aí pelas 02h30 daquele dia, sabíamos que
vencêramos. Nossos homens levantaram-se das trincheiras, um dos quais, que dominava o idioma japonês,
gritando, em resposta aos desafios dos nipônicos, frases igualmente desafiadoras. Esses duelos orais se
faziam ouvir porque a luta, naquela selva compacta, se desenrolava com os contendores muito próximos uns
dos outros'. Foi um verdadeiro massacre e literalmente acabamos com eles... granadas disparadas por
canhões e o fogo de apoio dos morteiros muito contribuíram para rechaçar os ataques do inimigo nas
montanhas".

Uma patrulha enviada contra um inimigo estacionado na área de Tambu resultou em ação intensa, no
"Outeiro da Emboscada" um dos muitos lugares que mereceram ser nomeados por terem servido de palco a
sangueira incomum. O vale de Wan-Bulolo era para onde seguiam os soldados exaustos pela conturbada
vivência nas selvas, para algumas semanas de repouso. No decorrer das semanas seguintes, americanos e
australianos continuaram lutando por essas serras e pelo espaço diante de Salamaua, já conhecedores, tanto
quanto os nipônicos, das trilhas por onde varar a mata espessa. Nas experiências de guerrilha, os Aliados
conseguiram o objetivo psicológico desejado pelo QG da Nova Guiné - levar o inimigo a crer que Lae seria o
alvo secundário.

Além das nascentes do Markham, que corria para leste, na direção de Lae, e das nascentes do Ramu, que
corria para noroeste, para o Mar de Bismarck, havia um planalto que ambos os contendores poderiam usar.
Desta vez os Aliados foram os primeiros a ali chegar com forças suficientes para estabelecer bases em
Dumpu, Goroka, Tsili Tsili e a velha pista de pouso em Bena Bena - vasta área livre de mosquitos e
raramente visitada por homens brancos. Em Goroka, engenheiros americanos, com o auxílio de
aproximadamente 1.000 nativos, construíram uma pista de pouso de 180 m de comprimento, com pontos de
dispersão, em sete dias. Enquanto isso acontecia, o inimigo avançava para Ramu, havendo escaramuças
realmente violentas nessa estranha região. Aos poucos, os guerreiros de arco e flecha do planalto começaram
a ver quem era mais forte e tornaram-se mais amistosos para com os brancos, oferecendo-lhes mão-de-obra e
informações.

Em junho e julho, duas ilhas - Kiriwina e Woodlark - foram reforçadas, com segurança, por cavalarianos
americanos, que ajudaram a preparar as pistas de pouso; caças Lightnings da Força Aérea americana foram
para Woodlark e o 79° Esquadrão de Spitfires da RAAF, para Kiriwina. Assim, havia duas bases de caças
protegendo os acessos sudeste a Papua, e suficientemente perto da Nova Britânia para escoltar os
bombardeiros que atacavam Gasmata e Rabaul.

Para capturar Lae, Blamey planejou mandar a 7 a Divisão da FIA para o Vale do Markham e trazer a 9 a
Divisão da FIA, que desembarcaria pelo mar. Quando a 9 a estava no Oriente Médio, seu comandante, o
General-de-Divisão Morshead, herdara a carta de Blamey que dava aos australianos o direito de decidir onde
deveriam lutar. O comando britânico quisera fracionar a divisão em brigadas e colocá-las em diferentes
operações, mas Morshead insistira em mantê-la unificada. A 9 a havia resistido aos alemães em Tobruk em
1941 e, em outubro de 1942, combatera em El Alamein, onde, segundo Montgomery, a batalha, não fora. o
concurso daquela divisão, estaria perdida. Morshead, com mais experiência em guerra no deserto do que
Montgomery, Alexander ou Lumsden (um comandante-de-corpo do 8 o Exército), deveria ter sido promovido
a comandante-de-corpo, mas Montgomery disse-lhe que, por não ser soldado regular, não reunia "o
treinamento e experiência necessários", atitude que Blamey considerou "arrogância inconsciente". Porém,
não foi por causa dessa atitude para com Morshead, mas pela necessidade da divisão na Austrália, que ela foi
chamada de volta após El Alamein, apesar da insistência de Churchill para que ela permanecesse no 8 o
Exército.

Quanto à batalha que as duas divisões da FIA travariam, que era iminente, Blamey escreveu: "A realização
do plano ofensivo visava ao estabelecimento da superioridade aérea, a debilitação da resistência inimiga,
mediante ataques aéreos contínuos contra os objetivos sucessivos das forças de terra e, atacando os navios
mercantes, as bases e aeródromos avançados inimigos, a interrupção dos reforços e abastecimento das forças
inimigas". A 5a Força Aérea - a Força Aérea americana e a RAAF - havia aumentado seus efetivos,
especialmente em bombardeiros médios, e o inimigo deslocou a sua 7 a Divisão Aérea para a Nova Guiné.
Pelo final de julho, o Japão dispunha de duas divisões aéreas que apoiavam seu exército na Nova Guiné e nas
ilhas próximas, com bases aéreas principais em Rabaul, nas Ilhas do Almirantado, em Wewak, Baia de
Hansa, But, Boikin, Aitape e Holândia, todas dentro do raio de ação dos bombardeiros médios dos Aliados,
que planejavam construir pistas de pouso perto de Lae, para que os caças pudessem dar cobertura aos
movimentos de tropas aeroterrestres e navais.

A maior parte das patrulhas feitas em maio foi para procurar áreas adequadas à construção de pistas de
pouso. Marilian e Tsili Tsili, no Watut, eram ideais e havia uma trilha razoável para jipe à margem do vale,
trilha que atravessava uma ponte construída pelo Suboficial Lumb. Este arrebanhara o gado e o conduzira
pela trilha e pela ponte quando os japoneses desembarcaram em Lae. Assim que as pistas ficaram prontas,
em junho, chegaram os caças para dar cobertura aos Dakotas que transportavam tropas, equipamento e
suprimentos para a área. O deslocamento seguinte foi descer o Markham até Nadzab, onde outras pistas
poderiam ser construídas; a 7a Divisão poderia então receber mais apoio e mais suprimentos enquanto
cumpriam a dupla finalidade de impossibilitar o reforço do inimigo pela serra e atacar Lae.

Nadzab seria tomada por pára-quedistas americanos, que saltariam sobre a área, e por tropas da FIA
aerotransportadas até Tsili Tsili, de onde desceriam até o vale, transpondo, no percurso, o Markham. A
insistência do Q-G-Geral era agora mais sutil, o nervosismo se dissipara; na verdade, estabeleceu-se uma
atmosfera de confiança quando milhares de toneladas de materiais e equipamento foram mandados para a
primeira grande arremetida - e o ataque a Lae foi realizado em escala relativamente ampla.

Porém, antes de montado o ataque, americanos e australianos tinham conseguido tomar as serras das
proximidades de Salamaua e fazer voltar à base o inimigo. O General Savige encorajou a perseguição, mas
não queria ter inimigo correndo de Salamaua para Lae. A 15 a Brigada perseguia o inimigo durante o dia e, à
moda japonesa, à noite, desgastando seu moral, atrapalhando-lhe o sono e mantendo-o sobressaltado.

Os americanos se deslocavam ao longo de uma serra que acompanhava a linha costeira por uns três
quilômetros, e os dois aliados avançaram para Salamaua, de 26 de agosto a 10 de setembro, através de
terreno difícil, montanhoso e coberto de selva densa. O Brigadeiro H. H. Hammer comandava a 15 a Brigada
e planejou o ataque a Salamaua. Ele estava particularmente satisfeito com os milicianos, "... magníficos,
muitos dos doentes recusavam-se a ser evacuados - eles sabiam que as unidades estavam com os efetivos
muito reduzidos e preferiam permanecer e continuar lutando... ", que talvez fossem inspirados pelos seus
companheiros, o Batalhão 2/7o. Houve por parte dos americanos uma tentativa de conseguir a rendição do
inimigo. O Tenente Bowers, de uma trincheira bem avançada, dirigiu, utilizando um alto-falante, mensagem
nesse sentido ao nipônico, que a ouviu calado, sem esboçar movimento algum.

A 10 de setembro, seis dias após o Dia-"D" em Lae, a resistência cedeu ao sul do rio Francisco e, naquela
noite, houve aumento no tráfego de barcaças entre Lae e Salamaua. Além disso, as conversas do inimigo pelo
rádio pararam também, sugerindo que o comandante de Salamaua havia partido de barco para Lae. No dia
seguinte ficou estabelecido que aos americanos caberia a honra de tomar Salamaua, mas, de início, eles se
atrasaram, em seguida foram detidos pela cheia no rio Francisco. De qualquer modo, uma companhia do 42 o
atravessou o rio a nado, ocupou a pista de pouso às 09h30, sem oposição, e depois tomou Salamaua,
sofrendo apenas oito mortos. O 1 o Batalhão do 162o Regimento de Infantaria americano entrou ali no dia
seguinte. O 1/162o RI, que lutava tão arduamente com seu regimento contra um inimigo decidido e nas
condições mais terríveis, recebeu uma Citação Presidencial. A campanha, de sete meses de duração e que
terminou com a queda de Salamaua, região pantanosa e pestilenta, custou muitas baixas, a maioria por
doença. Desde fins de junho até 12 de setembro, entre os americanos registraram-se baixas da ordem de 81
mortos e 396 feridos, a 15a Brigada teve 112 mortos, 346 feridos e 12 desaparecidos; neste período, foram
mortos pela brigada 762 nipônicos, e de abril a agosto houve entre estes cerca de 8.000 baixas. Escaparam,
de barcaças, 5.000 japoneses para Lae, 600, em submarinos, para Rabaul, e ainda para Lae, mas por terra,
uns 200.

De Lae, na foz do Markham, a linha costeira do Golfo de Huon estende-se para leste e sul. Lae e sua pista de
pouso ficam na margem norte do rio, defronte a grandes pântanos. A 1 o de setembro, o primeiro de muitos
dos impressionantes comboios do Pacífico Sudoeste estava a caminho de Lae - destróieres, torpedeiras,
canhoneiras e barcaças de desembarque, transportando homens da 20 a Brigada, a força avançada da 9 a
Divisão. Eles chegaram no dia 4, desembarcando em duas praias a uns 24 km de Lae, com oposição apenas
dos Zeros e bombardeiros, que causaram algumas baixas. Enquanto a infantaria se movimentava para
garantir a cabeça-de-praia, um batalhão americano e sapadores americanos e australianos desembarcaram
para estabelecer uma base e iniciar a construção de estradas, trazendo consigo um equipamento completo,
desde balas a buldôzeres. O desembarque foi incrivelmente rápido, descendo ali os bem-treinados
americanos, em 2 horas, 400 homens, 35 veículos e 80 toneladas de material volumoso. O destróier
americano Reid, que, há muito vinha operando no Golfo de Huon como estação de radar flutuante, chamou
os Lightnings para interceptar um grande ataque aéreo dos japoneses, que perderam uns 35 aparelhos. O
inimigo teve mais êxito contra seis barcaças, ainda em alto-mar, que transportavam o segundo grupo de
desembarque da 2/4a Companhia Independente e o 2/2o Batalhão de Metralhadores: eles avariaram
seriamente dois barcos, matando 51 homens e ferindo 67 marinheiros e soldados. No dia 6, o General
Wooten já tinha três brigadas da sua 9a Divisão a salvo em terra e avançava para Lae.

O uso de pára-quedistas no Vale do Markham causou certo desespero sos comandantes japoneses, que
esperavam poder usar o vale como rodovia até o Finisterres.

O 503o Regimento de Infantaria Pára-quedista americano foi lançado perto da confluência do Erap e do
Markham a 1o de setembro. Verificando os comandantes aliados que alguns canhões de 25 lb., cano curto, da
FIA seriam úteis; decidiram solicitar aos artilheiros do 2/4 o Regimento de Campanha que saltassem com eles,
ministrando-lhes, para tanto, um curso rápido sobre o procedimento de salto de aviões; alguns nunca haviam
saltado até chegar o momento da operação real, quando desceram com os pára-quedistas. Um deles feriu-se,
juntamente com 33 americanos; três outros pára-quedistas morreram, por não se terem aberto os pára-quedas.
Os australianos acharam engraçado serem chamados de "a Companhia de Canhão Aerotransportada dois-
barra-quatro" pelos seus amigos americanos.

Houve outro desastre quando a 7a Divisão da FIA embarcava nos aviões no Campo Jackson, em Port
Moresby, com destino a Nadzab, no dia 7. Cinco caminhões, cheios de soldados, foram atingidos por um
Liberator que caiu carregado de bombas, ao decolar; morreram 59 soldados e 11 membros da tripulação do
bombardeiro sinistrado, ficando feridos 92 soldados. Três dias de mau tempo adiaram o surgimento da ponte
aérea para a grande planície, recoberta de capim "kunai", do Vale do Markham. Somente no dia 5 é que a
divisão pôde seguir o vale do rio para enfrentar a guarnição de Lae.

A 9a Divisão fora detida pela cheia do rio Busu, fazendo-se preciso levar material até ali, para a construção
de uma ponte. Este atraso deu à 7 a Divisão as honras da batalha, pois ao descer de Nadzab não encontrou
muita oposição. Enquanto Salamaua caía, os grupamentos de infantaria, de engenharia, de artilharia, os
sapadores da 7a Divisão, os pára-quedistas americanos e papuas se reuniam na larga planície do Markham,
lentamente por causa do mau tempo. Eles começaram a abrir caminho lutando, rio abaixo no dia 12 -
enquanto a 9a Divisão ainda se encontrava detida no Busu, atraindo, por isso, a ação inimiga contra si, e
enquanto uma força se deslocava de Watut e atacava o Markham pelo sul. Uma vez mais, foram seções
desses grupamentos, e não o conjunto deles, que foram engajando em combate com o inimigo e lhes
arrebatando das mãos os pontos fortes após luta cerrada. O III Batalhão de pára-quedistas americano dirigiu-
se para as nascentes do Bumbu, para bloquear a retirada dos japoneses, pois era evidente que planejavam
fugir, em vez de lutar em Lae até o último homem. Já havia informes sobre a chegada de japoneses em
Boana, uma aldeia situada nas colinas abaixo da serra Wain, um contra-forte das serras Finisterre-
Saruwaged-Cromwell. A travessia dessas serras, de Boana até o Madang, se era difícil para um nativo
experiente, seria fatal para muitos dos japoneses, em geral exaustos e famintos. Para deter o movimento de
retirada, o General Wooten distribuiu algumas das suas companhias por áreas onde esperava resistência,
encontrando-as abandonadas.

À medida que as duas divisões convergiam para o golpe de misericórdia, o inimigo travava ações de
retardamento, enquanto recuava por trilhas obscuras, examinadas semanas antes. Havia posições mais fortes
para a 7a vencer ao longo do Markham, notadamente num local chamado "Plantação do Edwards". A 16 de
setembro, a cidade, "indescritivelmente suja e completamente destruída", foi tomada pela 7 a, que sofreu
baixas desnecessárias, resultantes de um ataque de metralhamento desfechado por aviões da Força Aérea
americana e de bombardeio feito pela 9a de Artilharia. O aeródromo estava coberto de mato e em escombros,
guardando ainda aquele mau cheiro característico das áreas ocupadas por exército japonês sitiado.

A 9a Divisão não trabalhara muito em seu primeiro encontro com os japoneses e se mostrava propensa a
zombar da resistência encontrada: "O inimigo não fez nada que merecesse o nosso respeito durante a
operação e seu desempenho indica que ele não é tão bom combatente quanto os italianos", escreveu um
historiador do batalhão. Mas a divisão não demoraria a descobrir o quanto estava errada. Num dos embates,
os homens haviam atacado à baioneta, sem que o inimigo recuasse. A 9 a teve 77 mortos, 73 desaparecidos e
quase 400 feridos; a 7a, 38 mortos e 104 feridos, perdendo os nipônicos cerca de 2.000 homens. Se não fosse
a inesperada cheia do Busu, cerca de 6.000 que saíram para a escapada através das montanhas teriam
morrido também. Eles apressaram a retirada por causa da 7 a Divisão, que tomou Dumpu, no Vale do Ramu, e
da 9a Divisão, que fez a limpeza em torno de Lae para garantir a base. O inimigo perdera o espírito de luta e,
embora houvesse algumas rendições, muitos foram alvejados no caminho da extenuante retirada
empreendida.

Mas houve surpresas: a 2/6a Companhia Independente destruiu um grupo de mais ou menos 60 inimigos que
se acreditava estar recuando de Lae; entretanto, era a vanguarda do 78 o Regimento e de um batalhão de
artilharia de 75 mm japoneses inicialmente despachados para tomar Bena Bena. O resto da sua divisão, a 20 a,
foi mandado para Finschhafen enquanto a vanguarda era repelida para as montanhas pelo 2/14 o Batalhão e
2/6o Comandos. Enquanto os Aliados superavam o inimigo em manobras usando transporte aéreo, os
japoneses já faziam alguma coisa para modernizar o transporte, construindo uma estrada que partia de
Bogadjim, passando por Finisterres; mas, antes de havê-la terminado, os nipônicos viram-se forçados a lutar
nas montanhas, para impedir que os Aliados descessem até a costa.

Madang e Wewak eram outras bases importantes inimigas ao longo da costa da Nova Guiné e a topografia da
Península de Huoun é que impunha o método de ação. Duas divisões da milícia, a 5 a e a 11a, seriam levadas
para lá, a fim de continuar a luta ao lado das duas divisões da FIA que se deslocavam de duas direções
principais contra os japoneses: pela costa, através de Finschhafen, e por terra, de Ramu para Bogadjim.

Sattelberg
O plano estratégico das operações do Pacífico Sudoeste estava em perfeito desenvolvimento e, ao que
parecia, todos os objetivos seriam tomados até o final do ano. A costa noroeste da Nova Guiné encontrava-se,
em setembro, submetida a ataque e, após haverem expulso, em agosto, os últimos japoneses da Nova
Geórgia, as forças americanas haviam desembarcado no grande objetivo nas Salomão - Bougainville - a 1 o de
novembro. Rabaul, o ex-alvo principal de invasão, foi relegado à condição de área evitada, a ser limpa
quando possível "desperdiçar" tempo e bombas. Assim que MacArthur pudesse desvencilhar-se do
compromisso com a Nova Guiné, ele reuniria suas divisões americanas e avançaria para as Filipinas,
enquanto que, no Pacífico Central, segundo acordo dos Chefes de Estado-Maior Conjuntos, os ataques às
ilhas Gilbert e Maru começariam antes do fim do ano. A 20 de novembro, os fuzileiros navais americanos
desembarcaram em Makin e Tarawa, nas Gilberts.

Os japoneses não poderiam permanecer por muito mais tempo nas inóspitas montanhas situadas para além
das nascentes do Markham e do Ramu; os Aliados tampouco poderiam deixar um bolsão tão grande como
Finschhafen nas mãos do inimigo. O bem sucedido ataque naval às praias das proximidades de Lae
estimulou Blamey e MacArthur a empregar a pequena 7 a Frota Anfíbia, do Contra-Almirante Daniel Barbey,
no transporte da 9a Divisão em sua próxima campanha. Finschhafen, após a queda de Lae, transformou-se
numa base bem mais forte, em virtude do deslocamento para lá, a pé ou transportados em barcaças, de tropas
saídas da própria Lae, de Bogadjim, de Sio e de Saidor. A Praia Escarlate, onde a 20 a Brigada deveria
desembarcar, estava poderosamente fortificada, mas felizmente as barcaças desembarcaram os australianos
em praias outras que não aquela, errando mas, como se vê, acertando, antes do amanhecer de 22 de setembro,
o que lhes permitiu aproximar-se da Praia Escarlate pela retaguarda e garantir a cabeça-de-praia. Outro golpe
de sorte foi que os canhões das barcaças de desembarque foram usados, contrariando ordens, quando se
aproximavam das praias e seus disparos redundaram muito proveitosos. Caças Lightning de patrulha estavam
no local quando os barcos de Barbey foram atacados por cerca de 40 aviões inimigos e os artilheiros e os
pilotos dos Lightnings derrubaram 38 deles.

O almirante americano, supondo que Finschhafen estivesse pouco defendida, negou-se a dar, por algum
tempo, transporte a uma segunda brigada australiana, a 24 a. Mas acabou por se convencer de que não só a 20a
Divisão japonesa, menos o 78o Regimento, estava lá, como também havia um regimento de infantaria, uma
formação de fuzileiros navais e uma Unidade de Base Naval, totalizando cerca de 5.000 combatentes. Ao
mesmo tempo em que os desembarques deveriam ocorrer, a 22 a Milícia começou a contornar a costa. Em
Finschhafen, a orla costeira é muito estreita e o porto e a pista de pouso ficavam perto das alcantiladas
encostas das Montanhas Cromwell. Os japoneses tinham as vantagens das fortificações e da altura. Do local
de desembarque dos australianos, uma estrada subia as montanhas, numa extensão de uns 12 km, até a aldeia
de Sattelberg; e outra, parcialmente construída, contornava a costa até Finschhafen. O primeiro obstáculo
importante no acesso pela costa era o rio Bumi, onde o inimigo estava entrincheirado na margem sul. O
percurso rio acima, cumprido através da mataria; e a luta pela posse de uma cabeça-de-ponte foram uma
façanha incrível, assim descrita pelo historiador oficial:

"Os homens das duas companhias atacantes do 2/15 o caíram, literalmente, nos primeiros 150 m da sua linha
de partida. Tropeçando em lianas, bambus e troncos de árvores, os homens caíram até o fundo do vale. A
cerca de uns 450 m do ponto de partida, eles chegaram a uma encosta bastante íngreme, que os obrigou a
subir de gatinhas por cerca de 60 m. A partir daí, com a resistência aumentada pelo treinamento a que foram
submetidos, a formação, varando terreno mais favorável, aproximou-se do topo, onde se abriu numa frente
de cerca de 150 m".

No topo da colina estava uma companhia do corpo considerado de elite do Japão - os fuzileiros navais.
Diante do avanço resoluto dos australianos colina acima, os fuzileiros navais receberam-nos com uma chuva
de granadas que, felizmente, foram na maior parte ineficazes. Se as granadas fossem boas, as companhias
atacantes teriam sofrido pesadas baixas. O Cabo Norris, que era capataz de uma fazenda de gado em
Queensland, dirigindo a primeira seção da companhia de Snell, foi lançado colina abaixo por uma granada
que explodiu a menos de meio metro dele. Levantou-se e tornou a subir a colina, para dirigir o assalto. A
maior parte do fogo passava acima dos Queenslanders, que continuavam avançando
resolutamente, ainda sem usar suas granadas, pois, se o fizessem, acabariam caindo em cima deles mesmos.
O aço frio cintilou quando os australianos chegaram ao topo e atacaram de baioneta calada. A maior parte
dos japoneses, mais altos que a média, deu-lhes as costas e fugiu. Os australianos cruzaram o rio com água
pela cintura e foram alvejados durante a travessia que faziam para estabelecer uma cabeça-de-ponte.

Finschhafen e seu porto foram capturados a 2 de outubro, travando-se contato com o 22° Batalhão, que
descera pela costa. Fora uma luta difícil, mas as próximas não seriam menos duras. A força inimiga principal,
a 20a Divisão, ainda estava no interior, onde pretendia fazer a defesa principal. O General Wooten esperava
fortes contra-ataques e pretendia reduzir os efetivos do inimigo preparando-se bem para enfrentá-los e foi
ajudado por um fato com que não contava, ou seja, o Serviço de Inteligência encontrou em poder de um
oficial japonês morto uma cópia da ordem de um contra-ataque. Este foi feito a Jivevenang, a meio caminho
de Sattelberg, a 16 de outubro; no dia seguinte, aviões inimigos atacaram quando os Aliados tentavam um
assalto anfíbio à Praia Escarlate. O primeiro ataque realizou-se após haver sido contido o tentado pelo mar,
disso incumbindo-se o pessoal dos canhões antiaéreos da infantaria e das torpedeiras. Contudo, a Praia
Escarlate foi atacada por terra, num assalto desfechado pelo 79 o Regimento japonês, criando-se uma situação
desesperada para os australianos. A 26 a Brigada da divisão ainda não chegara e Wooten estava ficando sem
reservas; o 24° permaneceu isolado por alguns dias, quando o inimigo se infiltrou até a extremidade sul da
Praia Escarlate. Os homens da 9 a Divisão estavam começando a convencer-se de que os japoneses lutavam
com mais vigor que os italianos e eram mais suicidas que os alemães. Quando o 26 o chegou, os australianos
já tinham quatro mortos e 179 feridos, enquanto as baixas japonesas eram calculadas em mais de 1.500.

Quando os japoneses foram repelidos para a região montanhosa, perderam as facilidades de abastecimento
feito por mar. Sua base principal ficava agora numa área situada a 8 km da costa e estendia-se de Sattelberg,
passando pelo Vale do Soni, até Wareo. Enfrentavam condições de vida difíceis, e o soldado comum, como
era de esperar, estava passando fome. "Como batatas e vivo num buraco" ... "Que comerei para viver?" "... a
patrulha inimiga está sempre por perto, dia e noite" ... "eles provavelmente estão até bebendo uísque, pois
seu país é rico e pode fornecer-lhes coisas dispensáveis", consignavam eles em seus diários. Os Aliados
estavam sendo abastecidos de Buna e Lae pelo mar, com os transportes protegidos por lanchas-torpedeiras e
caças Lightning contra ataques de submarinos e aviões. Quando um esquadrão de Matildas do 1° Batalhão de
Tanques chegou, em três barcaças, um dos barcos estava desatracando enquanto os dois outros ainda eram
descarregados, pois o capitão queria sair da área antes do amanhecer.

Australianos e nipônicos, aproveitando o impasse que já adentrava o mês de novembro, preparavam-se para a
batalha que os australianos iniciaram a 17 de novembro. As elevações de Sattelberg deviam ser limpas antes
da serra que ia de Wareo à costa. A 24 a Brigada avançou para cortar aquela linha enquanto a 26 a, apoiada por
tanques, atacava Sattelberg. Pelotões lançavam granadas e atacavam postos de metralhadoras, ao mesmo
tempo que morteiros batiam trincheiras e buracos na selva densa; agressividade, um tanto de sorte e
excelente pontaria dos canhões de 25 lb. combinaram-se para dar a vitória aos australianos. A rota de
abastecimento principal, de Wareo a Sattelberg, tinha de ser cortada, e para tanto, violenta batalha, de mais
de uma semana de duração, teve lugar em Pabu, um monte, como tantos, recoberto de mata fechada. Os
japoneses lutavam com mais vigor que nunca, agressiva e ardilosamente. O General Blamey e seus
comandantes de campanha estavam vendo o resultado da recusa do Almirante Barbey em trazer a 24 a
Brigada no momento certo, para que o inimigo pudesse ser contido em Finschhafen. Blamey escreveu: "Com
o devido respeito aos nossos amigos, este incidente é para mim a melhor demonstração. de que incorremos
em erro ao supor que o inimigo, impedido de robustecer suas forças, está propenso a recuar. Na verdade,
longe de estar recuando, suas intenções parecem ser exatamente o contrário". Como os correspondentes dos
jornais escreveram "Contra-ataques japoneses", e os comunicados de MacArthur falavam em "esforços para
penetrar... aparentemente para escapar", os informes dos correspondentes de guerra foram censurados.

A batalha no outeiro e ao longo da região da Serra do Coqueiro, na direção de Sattelberg, foi travada pela 26 a
Brigada, apoiada por tanques, canhões, morteiros e metralhadoras. O inimigo não demorou a preparar uma
série de fossos antitanques, que foram evitados ou cobertos, e a instalar minas antitanques. Os tanques
diminuíram a rapidez do avanço dos australianos, mas foram muito úteis na destruição de posições
fortificadas inimigas. Quando os australianos tomaram o rumo de Sattelberg, os japoneses atacaram, na
costa, a 54a Brigada, que descia pelo norte. Na manhã de 25 de novembro, após irresistíveis arremetidas da
infantaria australiana, verificou-se que Sattelberg estava abandonada. Durante um desses ataques, o Sargento
Derrick, do 2/48o Batalhão, cuja reputação como combatente já vinha desde os tempos de Tobruk, recebeu a
"Cruz da Vitória". Segundo o historiador oficial: "Quando seu pelotão foi detido, Derrick fora em frente e,
com granadas, destruiu o posto que impedia o avanço da seção dianteira (a do Cabo Everett). Em seguida, ele
conduziu a segunda seção (do Anspeçada Connelly) no ataque à direita, e quando esta também foi detida
pelo fogo, ele se aproximou a seis metros do inimigo e lançou uma série de granadas contra os poços de tiro
acima dele... conduziu seu pelotão colina acima, com as três seções indo uma atrás da outra. Eram quase 19
horas. Derrick e seus homens dispararam seus Brens e Owens contra as aberturas desses postos cobertos à
distância de 10 ou 12 metros e, em seguida, Derrick e o soldado "Slogger" Sutherland avançaram e lançaram
granadas pela abertura de um posto ..."

A perda de Sattelberg e do outeiro situado em Pabu fez desaparecer as esperanças de Adachi de recapturar
Finschhafen e Lae. Ele também ficou surpreso ao saber que, a 26 de dezembro, os fuzileiros navais
americanos desembarcaram em Nova Britânia para apertar o cerco sobre Rabaul. Ainda mais sério para as
forças que tinha Adachi na Nova Guiné foi o fato de haver o 126 o Regimento americano desembarcado em
Saidor, quase 160 km à frente dos australianos, cortando-lhes a retirada e as linhas costeiras de
abastecimento.

Entrementes, a 7a Divisão da FIA estava às voltas com uma batalha no vale do Ramu e nos sopés de
Finisterres, onde Dumpu e Gusap eram bases taticamente importantes. Os australianos estavam vencendo as
escaramuças, que se transformaram em lutas estáticas pelas colinas extremamente acidentadas. A luta de um
pelotão do 2/14° Batalhão talvez não tenha sido típica, mas a topografia da área onde ela ocorreu sem dúvida
o era. O Sargento Bear e o Cabo Silver dirigiram seus homens numa carga contra a posição inimiga; ao
chegarem ao topo, foram avistados por japoneses que se encontravam metidos numa toca, que esvaziaram
suas armas sem, no entanto, acertar qualquer dos atacantes. "Bear transpôs a saliência, atacando a baioneta os
dois nipônicos que ali se encontravam entocados." O Cabo Whitechurch informou: "Agora podíamos vê-los
e contra eles íamos abrindo fogo à medida que se erguiam dos abrigos. A reação do inimigo começou a
diminuir, do que nos valemos para redobrar a força da carga, o que fez que alguns japoneses corressem em
pânico colina abaixo; não podendo parar à beira do rochedo, eles caíram centenas de metros".

Nessas montanhas, os topos e partes das encostas são de regra recobertos com o longo e duro capim "kunai",
de enorme resistência à queimada e ao machado. Uma paisagem impressionante era a montanha coberta de
"kunai" que subia a partir do rio Faria e era coroada pela "Crista do Bosque". Na luta para além do Ramu,
essa crista era importante para os japoneses, que a defendiam desesperadamente, pois ela conduzia à Selada
de Kankiryo e era a porta para a estrada de Bogadjim. Eles prepararam a crista abrindo a fogo picadas no
"kunai". As encostas íngremes foram crivadas de posições escavadas, protegidas por alambrados, onde o
inimigo se preparou para lutar até a morte. Havia também canhões de 75 mm que os japoneses mantinham
ocultos em cavernas, retirando-os para disparos rápidos e tornando rapidamente a ocultá-los, para não serem
descobertos pelos aviões Wirraway e Boomerang da RAAF. O historiador do 2/16 o Batalhão descreveu a
Crista do Bosque:

"Uma lombada estreita, com 1.500 m de altura e coberta por densa floresta tropical. Forte nevoeiro muitas
vezes cobria a posição por dias a fio. Então, a observação limitava-se a menos de 100 m. O ponto era tão
bom, que em dias claros era possível observar-se até o mar, perto de Madang. Em parte alguma a crista tinha
mais de alguns metros de largura, estreitando-se no trecho em que se posicionara a seção mais dianteira. A
posição mais avançada, uma verdadeira toca, era ocupada por um solitário artilheiro de Bren gun. Pela
primeira vez na sua história, o batalhão resistiu com uma frente de um só homem. Diante dele encontrava-se
o inimigo, que tivera semanas para preparar suas defesas."

A Crista do Bosque, uma forma mais suave do posto Pinheiro Solitário, de Gallipoli, foi contida enquanto
outras posições japonesas foram atacadas e tomadas nos meses de novembro e dezembro. O inimigo ainda
estava resistindo naquela lombada, faminto e quase desesperançado, quando os australianos tiveram uma das
mais raras festas de Natal já realizadas numa linha de frente, durante a Segunda Guerra Mundial: peru
assado, legumes frescos, pudim de ameixas (com calda), chá e bolinhos. Enquanto se mantinha um fogo
hostilizador contra o inimigo, já abalado, o capelão do 2/27 o fez um sermão sobre a data: "Paz na terra para
os homens de boa vontade".

Parecia não haver outra alternativa senão avançar nesta frente de um só homem contra 300 a 400 inimigos
estendidos por uma faixa de uns 400 m de largura, desde uma elevação a que denominaram "Espinha". O
2/16o Batalhão foi apoiado por enorme poder de fogo quando recebeu a ordem de tomar a Crista do Bosque -
um horrendo presente de Natal. Caças bombardeiros Kittyhawk e Boomerang atacaram, durante 20 minutos,
com bombas; em 10 minutos os canhões dispararam 350 granadas de 25 lb. de alto explosivo; os Kittyhawks
metralharam durante 90 minutos - antes e no decorrer do ataque de infantaria - e os canhões abriram fogo
novamente, disparando 1.400 granadas à frente da infantaria, enquanto esta avançava, observada por amigos
e inimigos, postados no topo de outras colinas e cristas. O "Pimple" teve sua selva destruída pelo
bombardeio, mas os japoneses ainda estavam ali, e o Cabo Hall eliminou uma casamata sozinho, permitindo
que o pelotão de vanguarda continuasse avançando. O General Vasey sobrevoou o local num Piper Cub para
ter uma visão mais clara da pequena batalha que se desenrolava na serra. O pelotão partiu em frente, naquele
primeiro dia depois do Natal, até que, ao anoitecer, foi detido pelo fogo proveniente de um bunker de pedra
contra o qual se lançaram mais de 100 granadas. Na manhã seguinte, o bunker foi destruído com bombas
feitas de granadas colocadas dentro de latas de ração de campanha cheias de produto químico, matando o
oficial e um soldado raso japoneses que se haviam oposto ao avanço.

A 3 de janeiro, a 18a Brigada, que voltara para novo período ativo na Nova Guiné, substituiu a 21 a Brigada,
que foi levada de avião para Moresby. O 2/9 o Batalhão encarregou-se das posições na frente, o 2/10 o à
direita, o 2/2o de Sapadores à esquerda, e o 2/12° na reserva. A Crista do Bosque foi desobstruída a 23 de
janeiro.

O inimigo tivera tempo de entrincheirar-se fortemente não só na Crista do Bosque como também na Colina
de Geyton, na Colina de Cam e na Selada de Cam. Ele defendeu todas essas posições, durante vários ataques,
com três batalhões do 78o Regimento; suas perdas foram grandes e, em comparação, pequeníssimas as dos
australianos. Adachi ganhara tempo para seus batalhões na costa, mas foi tudo inútil. Quando a 7 a Divisão de
Infantaria conquistou as espinhas, cristas, cômoros e seladas, abrindo caminho, à força, por Kankiryo, em
fevereiro, ela encarregou os milicianos da 15a Brigada de perseguir o inimigo pela estrada de Bogadjim.

O Japão vinha sendo esmagado pelas duas extremidades da sua minguante Esfera de Co-Prosperidade. A 9 de
janeiro, os Aliados entraram em Maungdaw, na frente do Arakan, na Birmânia; no dia 31, os americanos
invadiram as ilhas Marshall e, a 10 de fevereiro, tropas australianas uniram-se às americanas em Saidor. A 9 a
Divisão empurrara os japoneses em retirada pela costa, com algumas unidades, principalmente o grosso de
um batalhão do 238o Regimento japonês, desviando-se para a selva, e a maior parte dos sobreviventes
passando por Sio. Ali, a 9a foi substituída pela 5a da Milícia, com a 8a Brigada entrando na área avançada. No
interior, o inimigo se exauria na trilha da selva que levava a Tarikgnap, a uns 25 km para além de Saidor,
onde o General-de-Divisão Nakai tinha uma força de cobertura - o III/239° Batalhão - e cinco companhias do
78o Regimento. Os americanos ampliaram seu confortável perímetro num raio de uns 8 km em Saidor e
esperaram que os australianos se juntassem a eles.

A 8a Brigada era quase toda inexperiente, mas bem treinada nos métodos de sobrevivência na selva,
treinamento feito em Canungra, no sul de Queensland, havendo o costumeiro tiroteio nervoso à noite. Ela foi
apoiada por uma bateria de canhões de 25 lb., cano curto, da FIA. Os soldados de engenharia da milícia e da
FIA e os fuzileiros papuas haviam lutado magnificamente, bem como a 9 a Divisão, em Finschhafen. Dexter,
com justiça, os inclui nos anais: "Os papuas estavam em seu elemento, como caçadores, e ocupados em
procurar bandos dispersos de japoneses. Eles teriam ficado desapontados se fossem chamados de volta
(como se pretendeu, em determinado momento) e, como os acontecimentos mostraram, as duas companhias
de papuas provavelmente teriam avançado para Saidor mais depressa e com menos esforço do que qualquer
brigada de australianos". Eles começaram a limpar o caminho de um modo espetacular: o Cabo Bengari,
"cuja reputação era igual à do melhor dos Gurkhas, conduziu sua seção, composta de cinco homens, numa
emboscada que armaram contra 29 japoneses, matando-os todos antes que eles pudessem disparar um só tiro
defensivo. O avanço do primeiro dia fora desimpedido antes mesmo que a brigada se pusesse a caminho.

Os nativos, que afinal formaram cinco batalhões, tendo-se adaptado aos exercícios e às táticas do exército e
com sua extrema habilidade na selva, portaram-se extraordinariamente bem. Sofreram perdas pequenas, 85
mortos e 201 feridos, durante toda a campanha da Nova Guiné; 65 deles foram condecorados por bravura em
ação e 297 receberam o "Medalhão por Serviço Prolongado".

O Esquadrão n° 4 da RAAF examinava de perto, com seus Boomerangs e Wirraways, cada metro do terreno
à frente, fazendo uma verificação do volume de corpos encontrados, de aldeias abandonadas, da existência
ou não de pontes sobre os numerosos arroios e do "ritmo e direção da retirada dos japoneses". A única coisa
que atrapalhou o avanço foi o problema havido no sistema de abastecimento; sob outros aspectos, o inimigo
continuava correndo, faminto, de volta a Saidor. Uma força considerável foi encontrada na aldeia de Tapen,
que os australianos atacaram com armas automáticas enquanto os papuas se aproximavam pelo flanco: 142
japoneses foram mortos, sem que os atacantes perdessem um único homem. O Cabo Bogari e dois dos seus
homens mataram 43 deles. Naquela aldeia, elementos da força aliada deram com uma cena estarrecedora:
carne humana sendo cozida numa panela. Durante a perseguição foram encontrados ao longo das trilhas
1.793 japoneses mortos em virtude de ataques feitos pelos aviões, e 48 nipônicos caíram prisioneiros. A ação
dos nativos, as doenças e a fome levaram à morte 734 nipônicos, enquanto as baixas registradas entre os
australianos e papuas não excederam três mortos e cinco feridos.

Os americanos, em Saidor, por causa da sua inatividade, perderam a chance de penetrar nas colinas e atacar o
grupo inimigo ali escondido. Blamey escreveu a Berryman: "Cerca de 8.000 japoneses, famintos e mal
equipados evitaram Saidor. Foi decepcionante que os frutos da vitória não tivessem sido todos colhidos e
que, uma vez mais, os remanescentes da 51 a Divisão escapassem". Observadores americanos comunicaram a
passagem por Tarikgnan de mais de 3.000 nipônicos. O 162 o Regimento americano tomou aos australianos a
tarefa da perseguição, dando assim aos que a ele foram anexados como reforços experiência na travessia de
linhas costeiras montanhosas repletas de ravinas.

Os objetivos agora eram Bogadjim e Madang, que seriam atacados logo que a ele viesse juntar-se a 7 a
Divisão, que descia a sinuosa estrada de Finisterres, feita pelos japoneses, que estavam muito espalhados
pelas trilhas nativas, cobrindo uma área de mais ou menos 30 km de largura. Caminhões, carros, armas e
munição estavam caindo em poder dos australianos ao longo da estrada de Bogadjim. A 17 de abril, a 15 a
Brigada, integrada por milicianos que lutavam na Nova Guiné há mais de um ano, entrou em Bogadjim.

A 5a Divisão, com parte da 11 a Divisão, avançava para Madang, onde os nipônicos construíram uma grande
base que controlaram por cerca de dois anos. Ao avizinhar-se da área, verificou que a retaguarda do 18 o
Exército japonês se encontrava em retirada, por Alexishafen, na direção de Wewak. Adachi esperava levar
seu exército para Holândia, do outro lado da fronteira da Nova Guiné Holandesa, antes que aquela base, sem
dúvida valiosa, fosse invadida pelos Aliados. Antes de chegar a Wewak, ele tinha de conduzir mais de 30.000
homens pelo largo delta e grandes pântanos do rio Sepik, hostilizado por ataques de aviões e torpedeiras,
nuvens de mosquitos, lama e pelas fortes correntezas do rio. Este deslocamento, dadas as dificuldades a
superar, não se fez com a velocidade desejada, dando tempo a que os Aliados chegassem à Holândia.
A ilha-Verde, ao norte de Bougainville, já fora invadida, a 15 de fevereiro, pela 3 a Divisão neozelandesa; a
29, a cavalaria americana desembarcou na ilha Los Negros, nas Almirantado, grupo de ilhas situado a uns
300 km ao norte de Madang e a 500 km a noroeste de Rabaul. No dia 20 de março, a Ilha de Emirau, a leste
das Almirantado, foi invadida.

Os Chefes de Estado-Maior Conjuntos mandaram MacArthur neutralizar Rabaul e Kavieng (Nova Irlanda) e
acelerar o desenvolvimento de uma base aérea e naval em Los Negros e Manus, nas Almirantado. Wewak e a
Baía de Hansa deveriam ser evitadas e as forças inimigas envolvidas pela tomada de Holândia, de onde os
Aliados poderiam fazer ataques aéreos contra as Palaus, a Nova Guiné ocidental e Halmaheras. Então, das
suas bases na Nova Guiné e do grande porto de Manus, forças do exército e da marinha poderiam reunir-sé
para a invasão das Palaus e de Mindanao, nas Filipinas.

Um grupo de australianos experientes foi desembarcado de um submarino americano para sondar a área de
Holândia, da qual pouco se sabia; em comparação com a Nova Guiné-Papua, os territórios holandeses
praticamente não haviam sido explorados pelos europeus. O grupo de reconhecimento foi traído pelos
nativos mal desembarcou e, embora infligissem muitas baixas aos japoneses, os integrantes do grupo foram
em grande parte mortos ou capturados. As invasões de Aitape e Holândia foram feitas pelo 1 o Corpo
americano (24a e 41a Divisões), comandado pelo General Eichelberger. A oposição, predominantemente feita
por tropas da base, foi fraca (o 611 rendeu-se em Holândia) e, 48 horas após, duas esquadrilhas de caças
Kittyhawk da RAAF estavam pousando no aeródromo de Tadji, para iniciar lutas encarniçadas,
metralhamento e bombardeios. Eichelberger descreveu o futuro de Holândia: "... uma das maiores bases da
guerra. Nas águas profundas da Baía de Humboldt uma esquadra completa pode ancorar. Docas enormes
foram construídas, instalando-se através das colinas um oleoduto, de 214 km de comprimento, para levar
gasolina até os aeródromos... surgiu uma cidade ocupada por 140.000 homens". Muito antes de tudo isso ser
feito, havia os remanescentes da 20 a, da 41a e da 51a divisões de infantaria japonesas isolados e dispostos,
mesmo em estado de sensível debilidade, a combater qualquer força. Mas a campanha da Nova Guiné estava
virtualmente terminada. Restava apenas conter o inimigo e preparar novas bases no continente e nas ilhas
situadas na direção geral das Filipinas.

A 41a Divisão americana zarpou de Holândia e tomou a ilha Wakde e seu aeródromo, situada a 200 km a
oeste de Holândia, e, também, a ilha Biak, que ficava outros 200 km para além daquela, também na direção
oeste. Wakde foi fácil, mas Biak custou aos americanos 400 mortos. Os japoneses perderam 6.000 homens
naquela luta, que durou de 10 de abril a 22 de julho. O violento desenrolar da batalha de Biak impediu que os
japoneses utilizassem seus aviões baseados em terra no apoio de sua esquadra na Batalha do Mar das
Filipinas, que terminou com ampla vitória conquistada pela marinha americana.

Contenção
O avanço do Almirante Halsey pelas Salomão constituiu-se numa série de tomadas. À medida que as ilhas
iam sendo ocupadas, tinha início, sem demora, a construção de bases aéreas. Em fevereiro de 1943,
grupamentos de assalto do exército e dos fuzileiros navais americanos desembarcaram, sem oposição, para
construir aeródromos nas ilhas Pavavu e Banika, a cerca de 120 km do Campo Henderson; em julho, a 43 a
Divisão americana ocupou a ilha Nova Geórgia, onde, em agosto, os aeródromos de Segi e Munda estavam
operacionais; em outubro, os fuzileiros navais desembarcaram em Choiseul e a 8 a Brigada neozelandesa
tomou a Ilha do Tesouro; e, a 1 o de novembro, a 3a Divisão de Fuzileiros Navais, do 1 o Corpo Anfíbio da
corporação, fez seu desembarque principal em Bougainville. Os serviços dos observadores costeiros foram
de valor inestimável nessas operações. Halsey dependia das medições que eles faziam dos recifes e marés -
naquelas áreas, onde as marés às vezes eram inteiramente imprevisíveis dos seus informes sobre entradas de
lagoas e possíveis áreas de desembarque, e sobre instalações e movimentos do inimigo. Conhecendo o
código naval dos nipônicos e contando com a colaboração dos observadores costeiros, o Serviço de
Inteligência de Halsey estava bem equipado para essas campanhas.

A decifração das mensagens japonesas permitiu que a força aérea americana despachasse os Lightnings na
famosa interceptação do avião em que ia Yamamoto, a 18 de abril, morto ao ser derrubado o aparelho, alguns
dias depois de haver ele iniciado a "Operação I Go". Embora ela resultasse na perda de algumas belonaves e
transportes aliados, aquela contra-ofensiva aérea, desfechada por 200 caças e 170 bombardeiros,
bombardeiros de mergulho e bombardeiros torpedeiros, fracassou - os japoneses perderam a maior parte do
que restava da sua força aérea do Pacífico Sudoeste. Ao tomarem os aeródromos de Bougainville, os
fuzileiros navais sofreram menos de 2.000 baixas. As perdas inimigas também não foram tão graves quanto
se esperava, ao serem eles repelidos para o interior. No desembarque do 1° de Fuzileiros Navais no cabo
Gloucester, Nova Britânia, no dia seguinte ao Natal, estes foram apoiados por quantidade do "máximo" -
incluindo foguetes - e foram ajudados pela cavalaria, que fez um ataque diversivo em Atawe. Quando os
Fuzileiros avançavam para o aeródromo, foram detidos diante de uma série de doze bunkers, feitos de
troncos, guarnecidos por mais de 250 japoneses, que foram mortos quando os tanques, disparando canhões
de 25 mm, reduziram a escombros o sistema de defesa nipônico.

As monções atrasaram a construção do aeródromo no cabo Gloucester, que só entrou completamente em


serviço em fevereiro. Antes de serem substituídos pela 40 a Divisão da exército, os fuzileiros navais sofreram
1.393 baixas, 310 mortos e 1.083 feridos, e mataram 3.868 japoneses. Pelo fim de março, cerca de um terço
da Nova Britânia, incluindo a Península de Willaumez, estava em mãos aliadas. O inimigo perdeu muito nas
Almirantado, quando a cavalaria, fortemente armada - 1 a, 7a, 8a e 12a Divisões - desembarcou atrás de
enormes bombardeios aéreos e navais, e disparou milhares de toneladas de morteiros, granadas e foguetes
contra a pequena guarnição. Houve bunkers atingidos por bombas aéreas de 500 lb., granadas de tanques,
bombas de morteiros, fogo de metralhadoras e lança-chamas; e se havia algum inimigo vivo após aquele
assalto fortemente concentrado, foi sepultado pelos buldôzeres, que tudo arrasavam. Dos relatórios feitos
sobre a luta nas Almirantado, alguns tinham muito de estranhos - como o do oficial japonês que se
aproximou sorrateiramente de um oficial americano, adormecido em seu catre, para matá-lo a espada; a
coluna japonesa que cantava "Deep in the Heart of Texas" enquanto marchava para uma emboscada; e dos
grupos que cometiam suicídio em massa, com granadas de mão presas à barriga. Quando a campanha, ali,
terminou oficialmente, a 18 de maio, verificou-se que as baixas da cavalaria eram aproximadamente iguais às
que sofreram os fuzileiros navais na Nova Britânia, e mais 3.280 inimigos estavam mortos.

Como Blamey esperava, as forças australianas foram solicitadas para substituir os americanos na defesa de
áreas basicamente de responsabilidade de interesse dos australianos - a Nova Guiné Australiana, Nova
Britânia e a área das Salomão do Norte-ilhas Verdes-ilha Emirau, que incluía Bougainville. A posse se
completaria em novembro de 1944. MacArthur pretendia usar apenas duas divisões da FIA, com suas forças
de terra, no avanço sobre as Filipinas, enquanto que Blamey esperava que ele usasse a 6 a, a 7a e a 9a - as três
divisões veteranas. E Blamey também desejava contar com três divisões da milícia na guarnição das
Salomão, Nova Britânia e Nova Guiné, retendo o inimigo atrás de um perímetro fortemente patrulhado. Mas
MacArthur objetou a este plano, sensato e salvador de vidas, insistindo para que Blamey usasse quatro
divisões e continuasse a ofensiva nas áreas evitadas. Na Nova Guiné e nas ilhas externas calculava-se que
havia 75.400 soldados inimigos; na realidade havia 30.000 em Bougainville, 93.000 na Nova Britânia e
31.000 em Aitape-Wewak, um total de 154.000 homens. Embora os australianos, em particular as divisões
veteranas da FIAS tivessem manifestado preferência por continuar na conquista até as Filipinas ou o próprio
Japão, havia razões logísticas contrárias à reunião com seu aliado, equipado de modo diferente e que, após
dois anos, agora assumia a maior parcela da luta em terra. Assim, sete brigadas tomaram o lugar das seis
divisões americanas.

As instalações japonesas eram agora virtualmente campos de prisioneiros de guerra que, entre outros
problemas, tinham de prover a própria alimentação. Contudo, era preciso guardá-los - patrulhá-los e contê-
los - para que não viessem a investir em massa contra tudo e contra todos, destruindo aviões e instalações. Os
japoneses ainda não se consideravam prisioneiros de guerra e se mostravam dispostos a continuar lutando até
a morte. Havia algumas ilhas onde era seguro deixar o inimigo "fenecer", mas onde quer que deparasse
forças australianas, partia de imediato para a luta.

O Q-G do 8o Exército de Área, do General Imamura, ficava em Rabaul e, além da 17 a e da 38a Divisões, ele
dispunha de brigadas e regimentos independentes o bastante para formar duas outras divisões. Em
Bougainville, tinha a 6a Divisão e outras unidades. Entre Wewak e o rio Sepik, o 18 o Exército ainda era
comandado por Adachi, que recebia ordem diretamente do Estado-Maior do Exército Sul, do Feldmarechal
Conde Terauchi.

A pista de pouso de Torokina era a única área de fato útil aos Aliados em toda Bougainville. A grande
concentração de tropas inimigas na ilha estava muito longe da Nova Guiné para se constituir em ameaça,
mas, por causa do aeródromo, quatro brigadas da milícia foram enviadas para substituir os americanos - que
lhes venderam, nos termos da Lei de Empréstimo e Arrendamento, uma fábrica de sorvete, uma fábrica de
refrigerantes e um frigorífico. Mas, quando partiram, os americanos levaram a maior parte dos navios-
transportes, complicando o abastecimento dos australianos. Dispondo de poderosa força aérea, que incluía
uma ala da força aérea neozelandesa, RNZAF, não havia praticamente receio de que pudessem decolar de
Rabaul ou Kavieng aviões inimigos para promoverem ataques, de modo que, quando o exército passou à
ofensiva, em fins de dezembro, o apoio aéreo de que dispunha era perfeitamente adequado.

O primeiro ataque foi feito contra o mais apto batalhão inimigo que se encontrava na ilha, e embora o 25 o
Batalhão, incumbido dessa operação, tivesse pouca experiência em combate, eliminou a oposição de
poderosa área defensiva. Não foram muitas as pequenas e duras batalhas como esta. A maior parte do
trabalho era de patrulhas, durante as quais numerosos japoneses foram mortos, sofrendo pequenas perdas a
milícia. Fator importante dos sucessos ali obtidos foi o livreto Doutrina Tática e Administrativa da Guerra na
Selva, escrito pelo General Savige em Bougainville, para distribuição a todos os oficiais e praças graduados.
O trabalho de Savige, feito em momento em que não havia possibilidade de enviar ninguém para treinar em
posto especializado, era um guia de extrema utilidade para a luta na selva.

O inimigo resistiu com enorme vigor ao avanço de Savige para o sul, mas a pressão sobre o comando
japonês foi forte demais para o líder do 17 o Exército, General Hyakutake, que saiu da luta hemiplégico. Ele
também sofrera críticas, feitas pelos jovens oficiais que comandava, sobre seu modo de dirigir a campanha.
Hyakutake foi substituído pelo Tenente-General Kanda que, segundo o historiador da 23 a Brigada, era "um
soldado ardiloso, obstinado e nervoso Apoiava-se na tradição dos grandes comandantes nipônicos, e era
implacável. Até mesmo seus mais ferrenhos adversários reconheciam nele muita capacidade". Qualquer coisa
que os oficiais mais jovens planejavam, não lhes era dada oportunidade de executar, sendo alguns deles
demitidos do comando. Houve uma batalha notável no Outeiro de Slater, no rio Puriata, onde cerca de 300
japoneses foram mortos, muitos em levas de ataques banzai que chegaram a poucos metros dos poços de tiro
dos defensores. Excetuando-se as várias semanas de chuva torrencial, quando as operações quase pararam de
todo, a ação em Bougainville prosseguiu intensa até o cessar-fogo, em agosto.

O 8o Batalhão lutou a última série de ações na ilha e, durante uma delas, em que um pelotão foi retido pelo
fogo de bunkers camuflados, um miliciano, soldado Partridge, foi agraciado com a "Cruz da Vitória". O
jovem plantador de bananas de Queensland, embora ferido no ataque, continuou avançando sob intenso fogo,
pegou o Bren gun de um artilheiro morto e atirou contra os japoneses, num bunker. Como isto não desse
certo, continuou. avançando, com uma granada fumegante numa das mãos e o fuzil na outra. Quando já
prestes a explodir, ele atirou a granada contra o bunker e, após haver esta explodido, mergulhou no interior
dele para matar o último japonês ainda vivo. As colinas onde isto ocorreu foram batizadas de Crista de Part
(Part Ridge); o atroz perpetrador deste trocadilho permaneceu anônimo.

O Brigadeiro Simpson, da 29a Brigada, informou: "... notei uma tendência em todas as fileiras, inclusive
entre os oficiais, de questionar o propósito e a sensatez das operações nas Salomão. Foi necessário levar ao
conhecimento dos comandantes o perigo de se permitir a livre discussão de assunto tão contencioso. Para
neutralizar os argumentos, com freqüência deturpados, de alguns, fez-se preciso que se utilizassem métodos
de propaganda muito bem conduzidos." Os soldados estavam recebendo cartas de casa informando-os da
crescente crítica do público à política de ofensivas em grande escala contra o inimigo, no Pacífico Sudoeste,
em campos de batalha que deveriam ser contornados. O moral das tropas, porém, continuou elevado, como o
Brigadeiro Hammer escreveu, mais tarde: "... não poderia ter sido melhor, mesmo que a brigada estivesse
lutando na batalha de El Alamein ou pela captura de Tóquio. Mas todos sabiam, assim como eu, que as
operações eram de limpeza e não eram vitais para a vitória na guerra. Assim, eles ignoraram o que diziam os
jornais australianos, as cartas dos parentes aconselhando cautela, e continuaram a cumprir sua tarefa, lutando
e morrendo, como se travassem a batalha pela vitória final".

Aquela "limpeza", numa campanha insensata, custou à Austrália 516 mortos e 1.572 feridos; 8.500 japoneses
foram mortos pelos australianos e nativos, 9.500 morreram doentes. Cerca de 20.000 já haviam sido
eliminados pelos americanos antes que estes passassem a tarefa adiante, no transcurso de uma trégua em que
aos australianos foi passada a incumbência da ofensiva.

Antes que a 40a Divisão americana transferisse o serviço de patrulha da Nova Britânia para a 5 a australiana,
em agosto de 1944, também havia uma trégua naquela ilha, onde as bases aéreas americanas foram
protegidas e as principais forças japonesas se retiraram para áreas remotas. Nativos dirigidos pelos
australianos fizeram a maior parte do trabalho de patrulha entre os americanos e a 17 a e a 32a Divisões
japonesas, destacamentos de várias outras brigadas, 22.000 homens da base e linhas de comunicação, e 2.500
homens da marinha. A base naval em Rabaul agora servia apenas os submarinos que ocasionalmente
apareciam à noite e as barcaças que conseguiam escapar à patrulha constante dos Beaufighters, Lightnings e
Kittyhawks (Warhawks).

Guerrilheiros melanésios eliminaram os observadores costeiros inimigos quando os australianos chegaram


com sua divisão de milicianos. Um grupo de batalhões e uma companhia isolada de soldados de infantaria da
Nova Guiné desembarcaram em segurança na Baía de Jacquinot. Houve avanços, de ambos os lados da ilha,
até a Baía Aberta e a Baía Henry Reid - onde a ilha era mais estreita - e, em março de 1945, uniram-se,
isolando por completo o resto da ilha de Rabaul. Durante este movimento de pinças, o Cabo Martin, membro
do 14/32o Batalhão da FIA, conduzia sua seção através de um trecho que foi batido por intenso fogo de
morteiro. Ao ser detido o grupo que dirigia num íngreme contraforte perto da colina Bacon, pelo fogo de três
posições nipônicas, ele levantou-se e, deixando seus homens para trás, avançou correndo, sozinho,
disparando seu Owen gun e lançando granadas, obrigando o inimigo a abandonar os três postos, caindo
ferido após haver morto cinco inimigos. O ex-operador de tear de Vitória sobreviveu aos ferimentos
recebidos, ostentando, depois, com orgulho a honraria a que fez jus, a "Medalha Militar".

Elementos do Batalhão da Nova Guiné começaram a manifestar insubordinação. Há mais de sete meses se
encontravam em operações e alguns deles ansiavam por sair da Nova Britânia e retornar à luta "no
continente", onde o inimigo ainda ocupava parte da sua terra. Este tipo de ação, conter na Nova Britânia o
inimigo, os irritava, especialmente os serviços de patrulha destinados a localizar posições inimigas não
atacadas pelos australianos. A diferença de pagamento entre soldados brancos e negros dava também motivos
a queixas, sendo-lhes então aumentado o soldo de 10 para 15 xelins por mês.

Durante cerca de 10 semanas houve constante movimento de patrulhas no deslocamento - oficialmente


descrito como rotineiro. Caso fosse constatado declínio do moral no seio da tropa e perda de eficiência em
combate, o Comandante-Geral sugeriu que a divisão fosse incumbida de "pequenas operações ofensivas
contra grupos inimigos" - alívio para qualquer general, mas risco desnecessário para os soldados, que sabiam
que não demoraria muito para o "japonês pedir um basta". Blamey não aprovava ofensiva alguma e a posição
permaneceu estática. Os milicianos relativamente inexperientes (na realidade uma divisão da milícia, mas
muitos dos seus membros se haviam transferido para a FIA) sofreram 193 baixas, 53 mortos e 140 feridos,
enquanto continham uma força composta de 53.000 soldados e 16.000 marinheiros, na maioria veteranos de
muitas lutas. Evidentemente, o General Imamura poderia ter expulsado os australianos para o mar com uma
"carga banzai", mas seus grupos ainda assim ficariam retidos na Nova Britânia e uma força retaliatória
poderosa teria eliminado até o último nipônico. Ele talvez esperasse um milagre.

Os 35.000 remanescentes do exército do Tenente-General Adachi, em Wewak, podia lançar um grupamento


de combate equivalente a uma brigada reforçada quando, em outubro de 1944, a 6 a Divisão da FIA, agora
comandada pelo General-de-Divisão Stevens, assumiu o comando da guarnição de Aitape. A tarefa da
guarnição era defender o aeródromo e as estações de radar, ajudar as patrulhas de Angau e do Serviço de
Inteligência dos aliados e impedir os movimentos do inimigo para oeste. Os nipônicos se espalhavam
rapidamente para a região fértil e densamente populosa do sul das montanhas Torricelli, onde atacavam as
hortas nativas. Vez por outra, aviões e submarinos levavam medicamentos e material bélico para a costa. A 6 a
Divisão foi chamada para tomar a costa, a fim de cortar todo o abastecimento e isolar o inimigo no interior e,
ao mesmo tempo, marchar para lá, a fim de expulsá-lo da área das hortas do sul das montanhas Torricelli.
Naturalmente, esperava-se que ele reagisse a esses avanços desgarrados. Para Blamey, forçar as tropas a
"permanecer inativas durante meses enquanto aguardavam apoio naval e aéreo em grande escala era a
negação não só do bomsenso, mas também de toda a prática militar, porque abate o moral das tropas e leva a
problemas disciplinares, como se viu na prolongada estada dos nossos soldados no continente... um
desperdício tremendo de potencial humano, material e dinheiro... reduz rapidamente a resistência às doenças
tropicais e o desperdício de homens aumenta com rapidez... estimula o inimigo e lhe dá mais influência e
controle sobre os nativos".

As patrulhas caçavam obstinadamente o inimigo nas montanhas e ao longo da costa, libertando alguns
prisioneiros de guerra indianos; japoneses eram mortos aos montes, enquanto que os australianos morriam
em números muito reduzidos. Normalmente, as enchentes fortes afogavam homens de ambos os lados,
quando das chuvas torrenciais de janeiro. A erradicação da praga japonesa das hortas nativas era atividade
perigosa na região de selvas densas, onde até os exploradores corriam riscos. Certa feita, o inimigo fez uma
carga banzai contra um dos seus postos, que havia sido capturado por homens do 2/2 o Batalhão, mas estes o
tinham abandonado, e o inimigo atacou um buraco vazio. Durante o mês de fevereiro, a 16 a Brigada
prosseguiu lentamente nesse avanço perdulário, por serras e vales, ao longo da costa. Os nativos, já bastante
sofridos com a ocupação japonesa, acolheram os australianos. Muitos deles foram enviados de volta a suas
aldeias, para espionar e, se possível, matar - e eliminaram muitos inimigos. Os nativos davam nós num
pedaço de barbante para enumerar os inimigos observados e para lembrá-los de informar do que vira. A vida
para o inimigo se tornava cada vez mais intolerável, como um general japonês registrou, após a guerra:

"Assim que os nativos sabiam onde estávamos, orientavam os aviões para nos metralhar e bombardear. Além
disso, os nativos, na retaguarda, rebelaram-se, causando baixas entre os homens que tínhamos em serviços de
ligação ou coleta de alimentos. E, para coroar, naquela época as chuvas caíam continuamente, rios enchiam e
as estradas se transformavam em lamaçais... havia tentativas de fuga dos nativos, que não gostavam de
transportar suprimentos, e crimes, como a morte de pequenas guarnições. Na verdade, após abril de 1945, a
ordem pública na frente ocidental estava muito perturbada." Alguns nativos juntaram-se extra-oficialmente
às patrulhas só para desfrutarem da "caçada". Um dos soldados escreveu: "Eles pareciam pressentir a
presença da caça, e muitas vezes, quando uma patrulha estava prestes a entrar numa luta, eles apareciam sem
que pudéssemos saber de onde. Surgiam com longas e mortíferas lanças, e facões, ávidos por sangue como o
espectador. de uma luta de boxe, mostrando-se igualmente desapontados quando não havia sangue".

Vez por outra, as patrulhas australianas eram cercadas, como aconteceu com uma tropa do Esquadrão de
Comando 2/10o sitiada por cinco dias e quatro noites, sobrevivendo intacta e matando pelo menos 45
japoneses no processo. Nesse ponto, Adachi parecia estar enlouquecendo - ele achava que devia haver várias
divisões operando contra ele, quando, na verdade, havia no máximo uma brigada e um esquadrão de
comandos. A 18 de março, ele escreveu: "Para nós não é impossível, usando a tática da luta total, em que
fomos bastante treinados, aniquilar 50.000 ou 60.000 soldados inimigos com o nosso atual poder de luta...
deixando-nos um registro impressionante... nos anais do nosso Exército e prestando um tributo ao Imperador
e ao espírito dos nossos numerosos companheiros mortos". Este era o modo de aumentar os números dos
seus companheiros mortos. Se Tojo tivesse enviado a ordem para um Grande Banzai, não há dúvida de que
teria havido um massacre enorme, de ambos os lados, na área de Aitape.

Os remanescentes do 18o Exército foram repelidos da costa e de Wewak até fins de maio e depois cercados
nas montanhas. Do outro lado de Wewak e também do outro lado de Sepik, milicianos da 8 a Brigada faziam
limpeza desde Bogadjim, sem sofrer perdas significativas. A pressão sobre o inimigo era mantida de todos os
lados, de modo que se Adachi tivesse resolvido organizar seu Grande Banzai, suas intenções teriam sido
observadas nos muitos indícios de guerra. Finalmente, o 18 o Exército foi repelido até uma área em que
organizou a última resistência, num raio de uns 10 km, mais ou menos 16 km de Wewak, no interior;
esperava-se que tal resistência persistisse até fins de setembro, e quando o Feldmarechal Terauchi foi
informado do plano, honrou o exército com uma citação. Adachi decidiu "não pisar novamente no solo da
minha pátria, mas ficar com um pouco de terra nos Mares do Sul com os 100.000 oficiais e soldados... ". Mas
ele afinal, ponderando a respeito, rendeu-se com seus 13.500 soldados restantes.

Em junho, o piloto de um American Cub, Tenente Barnes, recolheu uma mensagem, pendurada entre dois
mastros, assinada por um major e 28 outros integrantes do 1/14 o Regimento Punjabi, prisioneiros de guerra
de Cingapura, que haviam sido levados para a Nova Guiné, como trabalhadores, por seus captores.
Lançaram-lhes alimentos, roupas e armas. Quando finalmente os retiraram dali, eles informaram que
centenas de japoneses morreram no percurso da Baía de Hansa a Sepik.

A 6a Divisão, que sofrera mais de 4.000 baixas na Líbia, Grécia e Creta, teve 442 mortos e 1.141 feridos
nesta campanha, sua última; outros 128 morreram de doenças tropicais e acidentes e 16.203 foram
hospitalizados, alguns deles mais de uma vez, muitos por apenas alguns dias, com malária, doenças da pele,
disenteria, dengue, tifo e outras doenças da região. Nos trabalhos de eliminação do inimigo de cerca de 500
quilômetros quadrados, eles mataram 9.000 homens e aprisionaram 269.

Havia mais de 2.000 prisioneiros de guerra japoneses na Austrália em agosto de 1944. Estavam bem
alimentados e saudáveis, mas achavam que o tratamento humano que recebiam revestia um modo subversivo
de aplacá-lo, deduzindo a partir daí que os australianos eram moral e espiritualmente fracos e, secretamente,
temiam os prisioneiros. Na noite de 7-8 de agosto, um clarim japonês soou num campo de prisioneiros de
guerra perto da cidade de Cowra, na Nova Gales do Sul, e os prisioneiros fizeram uma carga banzai, armados
de facas, tacos de beisebol, macetes com pontas de pregos e ganchos, punhais feitos de arame e cordas para
garrotear. Cerca de 400 deles atravessaram o alambrado, jogando-lhe cobertores em cima para não serem por
ele feridos. Dois guardas abriram caminho pela massa dos japoneses, guarneceram uma metralhadora
Vickers e dispararam até serem mortos a punhaladas e cacetadas. A arma enguiçou quando os japoneses a
apontaram para a cabana dos guardas e os pretensos artilheiros foram mortos. Alguns atearam fogo às
cabanas enquanto cerca de 200 deles se agachavam numa trincheira, que foi varrida por fogo de
metralhadoras e fuzis até o amanhecer. Então, renderam-se. Centenas de prisioneiros escaparam para o
interior, onde homens de uma unidade de treinamento das proximidades e dois policiais os arrebanharam em
poucos dias. Um terceiro guarda fora morto e três ficaram feridos; 234 japoneses morreram - a balas, nas
cabanas incendiadas ou enforcando-se nas árvores, e 108 ficaram feridos.

Na conferência.de Honolulu, em julho de 1944, o Presidente Roosevelt aprovou o grande plano de


MacArthur para a invasão do Japão. Mas os Chefes de Estado-Maior Conjuntos discutiram durante três
meses se deviam tomar Yap, Talaud e Mindanao, a caminho de Leyte e Luzon, ou se deixariam o Almirante
King fazer o que queria e lançasse tudo num ataque em grande escala à Formosa e estabelecesse uma cabeça-
de-ponte na costa chinesa, em Amoy. Os Chefes Conjuntos estavam propensos a crer que as Filipinas seriam
o caminho mais rápido para o Japão e disso se convenceram quando, em setembro, o Almirante Halsey
atacou as Filipinas com seus porta-aviões, contra resistência surpreendentemente fraca. Halsey sugeriu que
os planos de Yap, Talaud e Mindanao fossem abandonados em favor de um desembarque imediato e direto
em Leyte. O planejamento logístico para esta operação começou a ser feito quando os Chefes de Estado-
Maior Conjuntos a aprovaram, em outubro.

Nimitz ofereceu a MacArthur sua força anfíbia, destinada a Yap. Sutherland, que estava substituindo
MacArthur temporariamente, aceitou a oferta - embora soubesse que os efetivos do inimigo em Leyte eram
maiores do que Halsey imaginava. O Oficial de Inteligência estava tão ansioso por voltar às Filipinas quanto
MacArthur. Luzon foi invadida a 20 de dezembro e, no Pacífico Central, Iwo Jima, as Bonins e Okinawa
também foram invadidas entre janeiro e março de 1945.

A última campanha australiana ocorreu em Bornéu, ilha maior que todas as Filipinas, e a menor das que lhe
ficam próximo, Tarakan. Esta foi uma operação inteiramente inútil, pois começou após a derrota da
Alemanha e quando os americanos já estavam estabelecidos em Okinawa. Havia séria escassez de potencial
humano na Austrália, e Blamey sugeriu a redução das divisões de linha de frente. O Primeiro-Ministro em
exercício, Ben Chitley, que assumira o cargo após a morte de Curtin, recomendou a MacArthur que a 7 a
Divisão não fosse lançada em Bornéu e que se enviasse apenas a 9 a. Naturalmente, não deveria ter havido
mais nenhuma campanha no Pacífico Sudoeste e, independente da opinião de MacArthur a respeito, ele
obedeceu às ordens, como explicou em sua resposta a Chitley: "A campanha de Bornéu... foi ordenada pelos
Chefes de Estado-Maior Conjuntos, que são encarregados, pelos Chefes de Estado-Maior Combinados, da
responsabilidade da estratégia no Pacífico... agora não é possível trocar por outra divisão... não há plano
algum, que eu saiba, para o emprego de tropas australianas após a Campanha de Bornéu...".

A campanha foi inútil e jamais deveria ter sido ordenada. Biak fora dispendiosa, mas estrategicamente útil.
Em Bornéu, as tropas entendiam que estavam em lugar desnecessário e o relatório do Tenente-Coronel Byrne
sobre as operações de limpeza do seu batalhão em Bougainville também se aplica aqui: "Acho que,
coletivamente, os oficiais e soldados do batalhão fizeram ótimo serviço. A região era extremamente difícil e
eles estavam empenhados numa campanha que lhes parecia inútil. Os homens não são tolos e, embora
compreendessem que lutavam por algo que beneficiaria muito pouco o seu país, cumpriam, todos, as ordens
com excelente espírito de luta".

A razão por que soldados australianos foram mandados para Bornéu obedeceu a misteriosas razões políticas,
provavelmente alimentadas pela Grã-Bretanha ou pelos Estados Unidos. Militarmente, foi uma ação ilógica,
e Gavin Long diz que a decisão foi do governo australiano: "Durante parte do último ano, o exército
australiano em campanha era, proporcionalmente à população da Austrália, maior que o de qualquer outro
país aliado, exceto, talvez, a Rússia. Os motivos do governo para manter o esforço nacional em nível tão
elevado residiam, ao que parece, no desejo de que a Austrália viesse com isso a posicionar-se bem no
concerto das nações aliadas, para ganhar posição de influência na paz. Uma ilusão a que as nações pequenas
estão sujeitas é a de que a política dos aliados estrangeiros, em comparação com aquelas em que se
compartilham sentimentos patrióticos, são influenciadas por emoções como gratidão por apoio já prestado".

Assim, a 7a e a 9a foram enviadas para Tarakan, Labuan, Brunei e Balik-papan, destruindo pontos fortes,
defendendo perímetros, libertando prisioneiros indianos e encontrando Dyaks caçadores de cabeça que
procuravam pagamento por novas cabeças de japoneses que traziam. A campanha começou a 19 de maio e a
última batalha foi travada pouco antes que a primeira bomba atômica fosse lançada sobre o Japão. Elas
sofreram 2.102 baixas, 568 mortos e 1.534 feridos em operações que recuperaram um campo petrolífero
abandonado e mataram cerca de 5.000 inimigos.

"Na área da Baía de Jacquinot, a escuridão foi rompida por foguetes coloridos disparados por navios que se
encontravam no porto. Metralhadoras matraqueavam e traçadoras riscavam os céus. Havia cantos e gritos e
longos silvos de buzinas... Nas enfermarias dos hospitais; irmãs e enfermeiras cantavam com os pacientes. Já
se avistavam os clarões das fogueiras que os festeiros acendiam em prédios abandonados e velhos
acampamentos. Toda esta alegria continuou até quase o amanhecer." Corredores nativos foram despachados
para as aldeias da costa e do interior para divulgar a boa nova. Muitos japoneses acreditavam que a rendição
fosse apenas uma medida temporária, mas a maior parte dos que se encontravam na Nova Guiné sabia da
inevitabilidade da rendição. Em Wewak, a 13 de setembro, o General-de-Divisão Robertson, Comandante da
6a Divisão, recebeu a rendição do Tenente-General Adachi. Em 1947, Adachi foi condenado à prisão
perpétua, por crimes que incluíam conivência com a morte de prisioneiros de guerra. Em Bougainville, a 8
de setembro, o General-de-Divisão Savige recebeu a rendição do General-de-Divisão Kanda e seus 23.570
oficiais e soldados, tudo o que restava da força de 65.000 homens que havia na ilha quando os americanos ali
desembarcaram, em novembro de 1943.

Os nativos da Nova Guiné voltaram às suas atividades normais, de hortelãos, pescadores, trabalhadores
itinerantes e criados. A guerra causara enorme transformação nas atividades daquela ilha, em que numerosas
aldeias haviam sido pela primeira vez visitadas por homens brancos. O que mais impressionara os nativos era
a quantidade de produtos que os Aliados traziam da Austrália, onde supunham haver um todo-poderoso deus
a ensinar-lhes a técnica secreta da sua fabricação. Na área de Madang, este fetiche pelos bens europeus
tornou-se parte de um novo sistema social inspirado por um ex-policial, Yali. Ele fora aclamado por feitos
heróicos quando membro de uma unidade de observadores costeiros na Nova Guiné Holandesa, e depois da
guerra fora levado em visita a algumas cidades de Queensland por oficiais Angau. Ele voltou ao distrito de
Madang, onde introduziu seu novo sistema, baseado no "culto da carga". Seu objetivo era conseguir para
seus devotos, por magia simpática, as bênçãos materiais cujo gosto passaram a conhecer durante a batalha
pela ilha. Era semimilitar, porque as cabanas da aldeia eram alinhadas em fileiras, os caminhos eram
conservados limpos, soavam apitos anunciando a hora do desjejum, as mulheres andariam livres, como nos
antigos bordéis dos soldados, e como, no seu entender, as mesas com vasos de flores que viu nas casas em
Queensland eram preparadas para invocar os deuses, Yali aconselhou os aldeões a cobrir as mesas com
toalhas e colher flores para os vasos. Em junho de 1947, Yali foi a Moresby para receber os esperados
caminhões, maquinaria, usina elétrica, ferramentas e outros bens, enquanto seus seguidores se mantinham de
vigia ao longo da costa, à espera dos navios de carga. Alguns aldeões abriram pistas de pouso na selva e
dispuseram nelas troncos e galhos na forma de aviões para atrair os Dakotas carregados. Como muita gente
se vinha recusando a trabalhar, à espera das cargas que nunca chegavam, Yali foi preso e condenado a alguns
anos de prisão; quando libertado, abandonou seu culto da carga, descartou-se dos bem passados shorts e
camisa e voltou sos costumes mais tradicionais da tribo. Mas ainda hoje sobrevivem exemplos esparsos de
cultos da carga no Pacífico Sudoeste.

Em carta que enviou em 1944 ao Primeiro-Ministro Curtin, MacArthur discorria longamente sobre o futuro
da Nova Guiné e do Sudoeste Asiático. Aqui estão alguns conceitos constantes da mencionada carta:

"É licito admitir-se a possibilidade de outros conflitos no Pacífico nos próximos cinqüenta anos, em razão de
os interesses fundamentais do Reino Unido, Estados Unidos, URSS, China, Japão e outras nações relativas
ao controle dos centros axiais e das áreas economicamente subdesenvolvidas, ainda requerem ajuste e sem
dúvida provocarão medidas vigorosas para esse fim.

"Tais ajustes podem ou não ser realizados por meio de processos de guerra formais, embora isto seja
provável; mas pelo menos eles levarão a conflitos cujos resultados serão em grande parte determinados por
fatores estratégicos constantes.

"A Austrália nada terá aprendido com o sacrifício desta guerra se a importância estratégica mundial de todo o
Teatro da Nova Guiné não se tornasse esmagadoramente óbvio para a nação."

Blamey também tinha ponderáveis opiniões sobre o futuro da Nova Guiné, como o explica John
Hetherington na biografia que fez do falecido Feldmarechal: "A visão de Blamey sobre a posição da
Austrália no Pacífico era a base da incessante defesa que fazia do desenvolvimento da Nova Guiné. Ele a via
como o escudo do continente australiano contra um ataque do norte em qualquer conflito no Pacífico".

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