Você está na página 1de 18

FORÇAS ESPECIAIS, AÇÕES INDIRETAS E CONFRONTOS

ASSIMÉTRICOS

Conceitos e emprego nos conflitos assimétricos contemporâneos, no âmbito


das forças armadas dos EUA

Christian Vianna de Azevedo 1

Resumo

O aumento de ocorrências de conflitos assimétricos têm levado os EUA a


adaptar constantemente o emprego de suas forças armadas para fazerem
frente a este novo ambiente operacional. Esta transformação e adaptação no
emprego de suas forças armadas vêm se notabilizando no campo das
chamadas ações indiretas, executadas por meio de suas forças especiais. O
emprego de forças especiais potencializa a flexibilização do ambiente
operacional, pois sua característica de baixa visibilidade operacional mantém
as tensões rotineiras entre nações ou grupos aquém da iminência de um
conflito armado em larga escala. Desta maneira, se convertem em forças
amplamente utilizadas pelos EUA, e, consequentemente, auxilia na
manutenção de sua influência global.

Palavras-chave: Operações Especiais. Forças Especiais. Ações Indiretas.


Conflitos Assimétricos. Política Externa.

Belo Horizonte
2013

1
Mestrando em Relações Internacionais na PUC/MG.
2

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A temática abordada neste artigo está relacionada ao emprego de


forças especiais, por meio de ações indiretas, pelo aparato militar norte-
americano em situações de confrontos assimétricos. Ações estas que
subsidiam o processo decisório na política externa dos EUA, vez que,
para a manutenção de sua hegemonia global, e seu status de principal
potência militar do planeta, esta nação, há pelo menos meio século, têm-
se utilizado vastamente dos bons frutos colhidos no emprego de forças
especiais no exterior.

Os resultados positivos obtidos pelas forças especiais, em ações


indiretas em conflitos ditos assimétricos, produzem vantagens
estratégicas no embate entre as nações, seja nutrindo seus serviços de
inteligência com informações não obtidas pelos meios diplomáticos e
investigativos usuais, seja poupando custosas operações militares cujo
objetivo, ocasionalmente, é realizável por uma força especial de
contingente militar infinitamente menor, a uma fração do custo de
emprego de forças regulares.

2. FORÇAS ESPECIAIS. CONCEITO.

Para entendermos a relação entre forças especiais, ações


indiretas e confrontos assimétricos, abordaremos os conceitos que
envolvem estes termos. Para compreender o que é uma força especial,
primeiramente devemos conceituar a natureza das operações a que elas
se incumbem, ou seja, as operações especiais.

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) define


operações especiais como as “atividades militares conduzidas por forças
especialmente designadas, organizadas, treinadas e equipadas, que
utilizam técnicas operacionais e modos de ação não habituais para as
forças convencionais” (OTAN, Glossário de termos e definições, 2008).

Denecé (2007) simplifica o conceito, acrescentando que a


operação especial é um conjunto de ações levadas a termo por um

2
3

pequeno contingente, empregado de forma reservada, por períodos


longos ou curtos, em busca de resultados estratégicos a serem obtidos
em ambiente hostil.

O USSOCOM (United States Special Operations Command), que é


o Comando de Operações Especiais dos EUA, edita regularmente a Joint
Publication (JP) 3-05 Joint Special Operations (2011).2

Esta publicação traz em seu bojo o que a doutrina norte-americana


assim define como operações especiais:

Operações especiais diferem de operações convencionais no grau


do risco físico e político, bem como técnicas operacionais, modos
de emprego, dependência de inteligência operacional detalhada, e
recursos locais. Operações especiais são conduzidas em quaisquer
ambientes, contudo, particularmente destinadas a ambientes de
acesso negado e politicamente sensíveis. As operações especiais
podem ser dimensionadas para alcançar não somente objetivos
militares por meio de emprego de forças especiais, que prescindem
do enorme aparato logístico das forças convencionais, mas
também para amparar a aplicação dos instrumentos diplomáticos,
3
informacionais e econômicos de poder nacional.

As forças especiais se distinguem das forças convencionais


principalmente na origem de seu recrutamento, pois as forças especiais
selecionam cuidadosamente o seu recurso humano e o treina muito além
das aptidões militares básicas que são recomendadas para as forças
convencionais. Por isso as forças especiais, que por doutrina são
empregadas em pequenas equipes, são capazes de operar de forma
4
flexível em cenários ambíguos e em constante mutação.

2
Joint Publication 3-05 Special Operations – April 2011
3
Special Operations differ from conventional operations in degree of physical and political risk,
operational techniques modes of employment and dependance on detailed operational intelligence and
indigenous assets. Special Operations are conducted in all environments, but are particularly well
suited for denied and politically sensitive environments. Special operations can be tailored to achieve
not only military objectives through application of special operations forces (SOF) capabilities for
which there are no broad conventional force requirements, but also to support the application of the
diplomatic, informational and economic instruments of national power.
4
Disponível em: www.dtic.mil/...pubs/jointpub_operations.htm. Acesso: Outubro/2012

3
4

Neste sentido, Denecé (2007) informa que, além de elevado grau


de rusticidade, os recrutadores interessam-se pelos candidatos que
demonstrem as seguintes qualidades psicológicas: autonomia, aptidão
para o trabalho em equipe, capacidade de raciocinar e decidir em
ambiente excessivamente estressante, adaptabilidade e autodisciplina.

Lamb e Tucker (2007) acrescentam que os integrantes de forças


especiais têm de possuir sofisticação política, desejo incomum de vencer,
habilidade em utilizar meios não ortodoxos, dominar o uso de
equipamento não convencional, e dispor de informações de inteligência
de alta qualidade; para assim se tornar um “guerreiro-diplomata” com
habilidades multiculturais, linguísticas e políticas para bem desempenhar
suas funções.

As forças especiais norte-americanas são organizadas, treinadas e


equipadas para o cumprimento de onze atividades principais, quais
sejam: ação direta, reconhecimento especial, contra-proliferação de
armas de destruição em massa, contraterrorismo, guerra não
convencional, defesa interna estrangeira, assistência a força de
segurança, contra insurgência, operações de informação, operações
5
militares de apoio informacional, e operações de assuntos civis.

Atualmente, no entendimento de Denecé (2007), apenas três


nações (EUA, Reino Unido e França) acumularam experiência suficiente
neste tipo de ação a ponto de disporem de forças capazes de bem
executar operações especiais de forma autônoma, dispondo dos
instrumentos indispensáveis para sua condução, quais sejam:
informação, transmissão, transporte e logística.

A constituição de uma unidade de forças especiais de bom


desempenho é uma empresa de longa duração, que depende de
condições específicas. Um Estado só pode dispor de unidades
especiais de qualidade se lhes conceder meios suficientes e zelar
sempre por sua modernização regular (DENECÉ, 2007).

5
Disponível em: www.dtic.mil/...pubs/jointpub_operations.htm. Acesso: Outubro/2012. Tradução
livre.

4
5

Uma característica das operações conduzidas pelas forças


especiais é que elas são de baixa visibilidade ou clandestinas; podem ser
conduzidas de maneira independente ou em conjunção com operações
de forças convencionais ou outras agências do governo, ou mesmo com
países anfitriões ou países parceiros, e podem incluir operações com
forças locais, insurgentes ou irregulares. Algo que se destaca na
utilização de ditas forças é que seus resultados são consistentemente
6
desproporcionais ao diminuto tamanho das unidades empregadas.

Como destacam Lamb e Tucker (2007), as forças especiais têm


duas formas de agir, de maneira independente, ou como suporte às
forças convencionais; neste, seu valor estratégico está diretamente
relacionado a quão dependente das forças especiais estarão as forças
convencionais para o sucesso de sua operação militar.

A utilização de forças especiais auxilia na flexibilização do


ambiente operacional, onde sua característica de baixa visibilidade
operacional mantém as tensões rotineiras entre nações ou grupos aquém
da iminência de um conflito armado em larga escala. Por esta razão, seus
préstimos são amplamente utilizados pelos EUA, e, consequentemente,
auxilia na manutenção da influência global norte-americana. 7

No propósito de servirem aos desígnios de seus governos, as


forças especiais constantemente agem à margem das leis vigentes,
sejam elas leis internacionais ou leis do país para onde se destinam;
cumprem suas missões na maior discrição possível, evitando a
identificação da nação agressora. O modus operandi destas forças as
permitem “mobilizar meios obscuros e insidiosos, estranhos a qualquer
legislação internacional, o que organismos oficiais não poderiam fazer
sem provocar imediatamente gravíssimos conflitos”. Este espectro
conceitual permite que um governo determine a estas forças o
cumprimento de missões que são inteiramente concebidas e orientadas
por este, visando colaborar com sua política externa, e,
6
Disponível em: www.dtic.mil/...pubs/jointpub_operations.htm. Acesso: Outubro/2012
7
Disponível em: www.dtic.mil/...pubs/jointpub_operations.htm. Acesso: Outubro/2012. Tradução
livre.

5
6

independentemente do resultado da operação, caso seja do seu


interesse, este governo pode simplesmente ignorar oficialmente ou
repudiar a ação (DENECÉ, 2007).

3. AÇÕES DIRETAS VERSUS AÇÕES INDIRETAS.

Conforme a doutrina militar norte-americana e sua publicação JP


3-05, as operações especiais são divididas em ações diretas e indiretas.
As ações diretas são aquelas em que se enfrenta o oponente em um
engajamento pontual. O JP 3-05 elenca as seguintes atividades como
ação direta: ação direta, reconhecimento especial, contra-proliferação de
armas de destruição em massa, contraterrorismo e operações de
informação; as ações indiretas são aquelas em que se organiza, treina,
apoia e influencia forças estrangeiras, estas ações indiretas, segundo a
mencionada doutrina militar , tem com rol o que se segue: guerra não
convencional, defesa interna estrangeira, assistência a força de
segurança, operações militares de apoio informacional, e operações de
assuntos civis.

Uma das principais diferenças entre os dois tipos de ação está no


grau de controle sobre o resultado. As ações diretas possibilitam um
maior controle das variáveis existentes em dada situação, pois seu
planejamento e execução estão inteiramente nas mãos do comando das
forças; pois, caso a operação requeira uma sincronia justa e demande
uma execução complexa, tornar-se-ia, possivelmente, comprometedor
para o sucesso da missão, o emprego de forças locais não habituadas
com suas técnicas e táticas (LAMB; TUCKER, 2007).

Por outro lado, o emprego em ação direta significa que o sucesso


ou fracasso da missão será creditado primariamente à nacionalidade do
país que a utilizou. Se vantajoso ou não, dependerá da situação política
do contexto. Às vezes é preferível atribuir o crédito a outrem, mesmo que
se tenha investido tanto no sucesso de uma missão.

As ações indiretas são aquelas em que, por exemplo, a força


especial se propõe a treinar e aconselhar uma força local seja ela força

6
7

militar ou insurgente; para apoiar ou inviabilizar um governo; ao mesmo


tempo cooptar membros da população local para servirem como
coletores de informações que, após analisadas e tratadas sejam
disponibilizadas para o serviço de inteligência do país interventor; com o
fim de servir de subsídio para os interesses do país interventor naquela
nação.

Esta abordagem é sintetizada por McRaven (2012) 8 no âmbito de


um contexto operacional que se baseia no entendimento do ambiente.
Obtêm-se esta compreensão através do conhecimento e experiências
angariadas nas relações pessoais desenvolvidas nas localidades
visitadas múltiplas vezes ao longo de um determinado período. Estas
visitas permitem conhecer a cultura local, a sociedade, idioma, economia,
história, política e lideranças, bem como o conhecimento físico do terreno
e o próprio oponente. Por meio do aprofundamento nas relações
vislumbra-se o entendimento de sutilezas mais recônditas do tecido
social, como suas crenças, valores e motivações. Esta profundidade
contextual permite à força especial ser mais precisa na coleta, análise e
disseminação da informação, possibilitando uma ação mais eficaz,
maximizando os efeitos programados e minimizando as consequências
indesejadas.

Uma aproximação indireta, por isso despersonalizada, pode, por


exemplo, ser a melhor ação para lidar com uma ameaça pequena, antes
que ela se potencialize. Em muitos casos, quando as forças de ação
direta lideram uma missão de apoio a um governo estrangeiro, sua
ostensividade pode minar a legitimidade deste governo que se busca
ajudar (LAMB; TUCKER, 2007).

A aproximação indireta também contempla o fortalecimento das


instituições da nação anfitriã, ao prover assistência às suas agências
humanitárias e engajamento de populações-chave. Estes são esforços de
longo prazo, que possibilitam o incremento da capacidade de parceria, ao

8
Disponível em: http://www.fas.org/irp/congress/2012_hr/030612mcraven.pdf. Acesso em
Fevereiro/2012.

7
8

atender as demandas locais e fomentar ideias que desestimulem o apelo


ao extremismo, objetivando estabilização e o advento de um estado de
direito (MCRAVEN, 2012)9.

Ao valorizar os esforços das lideranças locais, edificando


confiança entre as partes, adentrando assim no campo do terreno
humano e suas formas de associação, organização e meios tradicionais
de mobilização, a força especial estará se utilizando de uma ferramenta
poderosa, definida por Fred Renzi (2007)10 como Inteligência Etnográfica.
Segundo este autor, os EUA precisam atentar para o poder da
inteligência etnográfica para combater as redes e operar preventivamente
em ações de contra-insurgência.

Ao nos depararmos com formas de organização social alheias ao


mundo ocidental civilizado, como clãs, tribos, movimentos, sociedades
secretas, o sistema hawala, e outras tantas, encaramos algo que escapa
à nossa compreensão; adicionalmente, por estas sociedades não se
comportarem conforme nosso modelo mental, elas se tornam invisíveis
aos nossos olhos e mentes. Como nos esclarece Renzi (2007) 11, estas
formas de organização social, por se apresentarem a nós de maneira
diversa da que conhecemos, são por isso ignoradas e difíceis de serem
percebidas, monitoradas e mapeadas sem uma atenção seletiva e
treinamento adequado.

Estas formas distintas de organização social constituem, na


atualidade, o espectro mais comumente apto a desencadear e propagar
conflitos assimétricos.

4. CONFLITOS ASSIMÉTRICOS.

9
Disponível em: http://www.fas.org/irp/congress/2012_hr/030612mcraven.pdf. Acesso em
Fevereiro/2012.
10
Disponível em: http://usacac.army.mil/CAC2/MilitaryReview/Archives/oldsite/portuguese/
JanFeb07/renzi.pdf. Acesso em Fevereiro/2012.
11
Disponível em: http://usacac.army.mil/CAC2/MilitaryReview/Archives/oldsite/portuguese/
JanFeb07/renzi.pdf. Acesso em Fevereiro/2012.

8
9

Na atualidade, as ocorrências de guerras convencionais tendem a


ser menos frequentes. A forma de guerrear que hoje predomina nos
conflitos bélicos são os confrontos assimétricos.

Reynolds (2012)12 afirma que desde a segunda grande guerra


houve 44 confrontos entre estados; em contraposição, no mesmo
período, houve 372 conflitos assimétricos. De forma que estes são os
que, provavelmente, ameaçarão a segurança e os interesses dos EUA ao
redor do planeta nos anos vindouros.

Os conflitos assimétricos são melhor entendidos como a


exploração das fraquezas do oponente por estratégias diversas, inclusive
não militares, com o intuito de erodir o poder do oponente, minar sua
influência e desconstruir sua autoridade política. O confronto assimétrico
está presente no modus operandi do terrorismo, da guerrilha, da
insurgência, e em todos os conflitos entre estados e atores não estatais,
pois a assimetria permite que uma força militarmente mais fraca, desde
que estrategicamente bem preparada para um enfrentamento não
regular, sobrepuje seu oponente, uma vez bem adestrada nas práticas de
guerra não convencional.

Reynolds (2012)13 afirma que, estes atores não estatais, por meio
de suas organizações decentralizadas, são mais eficientes em
distribuição de recursos, e altamente eficazes e ágeis em se utilizarem do
poder de sua vantagem informacional, obtida ao combinar elementos
políticos e criminais para influenciar a população e percolar eficazmente
seu tecido social.

A maior falha de uma força convencional como opção deterrente


ou preventiva é que esta enfrentará um adversário que luta
assimetricamente, atacando as vulnerabilidades de seu poderoso
oponente, justamente onde ele é falho e frágil. Ou como simplifica o
12
Disponível em:
http://usacac.army.mil/CAC2/MilitaryReview/Archives/English/MilitaryReview_20121031_art008.pdf
. Acesso em Janeiro/2012.
13
Disponível em:
http://usacac.army.mil/CAC2/MilitaryReview/Archives/English/MilitaryReview_20121031_art008.pdf
. Acesso em Janeiro/2012.

9
10

mencionado autor: “Esta é a estratégia defensiva de Mao na era da


informação”.

Quando a guerrilha engaja um inimigo mais forte, ela recua quando


ele avança; ela o perturba quando ele para; ela o ataca quando ele
está cansado; o persegue quando ele se retira; Na estratégia
guerrilheira, os flancos, retaguarda e outros pontos vulneráveis são
seus pontos vitais, onde ele deve ser perturbado, atacado,
14
dispersado, exaurido e aniquilado. (Mao, 1961. Tradução nossa.)

5. POSTURA DOS E.U.A. FRENTE ÀS AMEAÇAS ASSIMÉTRICAS

Reynolds (2012)15 aponta que as forças militares convencionais


dos EUA não podem deter terroristas e insurgentes sem incorrerem em
altíssimos custos operacionais. Ele acrescenta, que a atual política militar
estadunidense tem de se remodelar para ser mais palatável ao governo e
à opinião pública, e, ao mesmo tempo, mais eficaz e menos custosa.

A própria dominância das forças militares convencionais dos EUA


empurra seus oponentes mais fracos para os conflitos assimétricos,
quebrando a relação entre poderio militar e econômico que sempre
produziu superioridade no campo de batalha. Esta subjacente
causalidade, o incremento da letalidade das armas, e a longa
duração das guerras significam que a estratégia de emprego de
forças convencionais visando a vitória em rápidas e ágeis
campanhas não mais é factível (LYNCH, 2011).

A manutenção da hegemonia militar mundial estadunidense tem


seu preço. As ameaças e desafios à sua dominância provêm de
diversos atores não estatais. Estes atores, sejam eles organizações
terroristas como Al Qaeda e Hezbollah, organizações criminosas como
os cartéis mexicanos ou as FARC colombianas, ou ativistas globais
como grupos anárquicos, ao empregarem o terrorismo, sabotagem,
subversão, atividades criminosas e insurgência, se servem destes
14
When guerrillas engage a stronger enemy, they withdraw when he advances; harass him when he
stops; strike him when he is weary; pursue him when he withdraws; in guerrilla strategy, the enemy’s
rear, flanks, and other vulnerable spots are his vital points, and there he must be harassed, attacked,
dispersed, exhausted and annihilated.
15
Disponível em:
http://usacac.army.mil/CAC2/MilitaryReview/Archives/English/MilitaryReview_20121031_art008.pdf
. Acesso em Janeiro/2012.

10
11

meios para os mais diversos fins. Estas organizações estão cada vez
mais interconectadas e operando em redes, fortalecidas pelo misterioso
manto do ciberespaço onde articulam meios diversos de recrutar,
coletar inteligência, treinar, distribuir propaganda, financiar e operar
(JONES, 2012)16.

Em decorrência dos sucessos militares na Segunda Grande


Guerra e na primeira Guerra do Golfo, os militares norte-americanos se
embeveceram com o dito “mito da ofensiva”, fortalecendo a crença de
que, já que sua nação participa em uma guerra com recursos ilimitados e
superioridade inconteste, nada menos que a derrota incondicional do
oponente é aceita. Desta forma, os EUA criaram um vasto complexo
industrial para justificar este conceito. Entretanto, este conceito é falso,
pois muitos dos conflitos em que participaram não terminaram desta
maneira. A partir do momento em que os conselheiros militares norte-
americanos perceberam que, na atualidade, seus adversários, além de
agirem de forma fanática e por vezes irracional, a partir de estados falidos
ou em vias de ingovernabilidade, eles dificilmente são identificados com
clareza, menos ainda derrotados incondicionalmente; estes mesmos
conselheiros passaram a considerar como objetivo viável a tão somente
contenção do oponente, e como indicador de sucesso, a inação do
adversário (REYNOLDS, 2012)17.

De modo a atingir estes objetivos, as pequenas equipes, agindo de


maneira discreta, inseridas na teia social do estado anfitrião,
desenvolvendo entendimento mútuo, e do ambiente que as cerca, terão
mais chances de atingirem seus fins, ao conseguirem se inserir dentro
do contexto de vantagem informacional do oponente. Pois, como dito
mais acima, as forças que compõem o USSOCOM são versáteis,
treinadas e equipadas para conduzir um leque de atividades que se
situam entre a diplomacia e uma guerra total.

16
Disponível em: http://www.rand.org/content/dam/rand/pubs/testimonies/2012/RAND_CT374.pdf.
Acesso em: Fevereiro/2012.
17
Disponível em:
http://usacac.army.mil/CAC2/MilitaryReview/Archives/English/MilitaryReview_20121031_art008.pdf
. Acesso em Janeiro/2012.

11
12

O Departamento de Defesa, ao seguir esta orientação, conforme


Flournoy e Davidson (2012) destacam, já estabeleceu que equipes de
forças especiais trabalharão com países parceiros, no continente
africano, em missões contraterrorismo, ao mesmo tempo estas forças
continuarão treinando e aconselhando organismos policiais no México e
Colômbia, bem como países da América Central no enfrentamento do
tráfico internacional de entorpecentes. Em outros lugares do Planeta as
forças especiais norte-americanas estão, mediante acordos
internacionais, treinando forças militares de países parceiros,
estreitando assim as relações entrepartes. Como sugerem as autoras
mencionadas, o realinhamento estratégico do governo norte-americano,
sustentado por suas forças militares, especialmente as suas forças
especiais de ação indireta, que operam com baixa visibilidade e
consequentemente menor atrito e desgaste de imagem do seu governo,
garantem aos EUA a estabilidade na proteção de seus interesses
18
globais e reforça sua liderança.

No âmbito da política externa dos EUA, engajamentos em países


estrangeiros por meio de ação indireta provavelmente se tornarão cada
vez mais importantes por dois principais aspectos: primeiramente pelo
fato de mais e mais nações se objetarem ao emprego de numerosas
forças militares norte-americanas em seus territórios, por esta razão,
forças especiais de ação indireta seriam uma solução mais palatável, por
deixarem sempre uma marca menos visível de presença militar. O
segundo aspecto envolve as futuras restrições orçamentárias que
assombram o Departamento de Defesa (DAVIS, 2012). 19

Entretanto, como alerta Nelson (2012), se a próxima administração


almeja beneficiar-se dos sucessos das ações indiretas, algumas
mudanças no cerne das força especiais serão necessárias. Nos próximos
anos, as forças especiais encontrarão um novo ambiente global, em que

18
Foreign Affairs. Jul/Ago. 2012. Volume 91. Número 4.
19
Disponível em: http://www.fas.org/irp/congress/2012_hr/specops.pdf. Acesso em Outubro/2012.

12
13

se incumbirão de diversas missões de ação indireta para minimizar


ameaças antes que estas requeiram forças de ação direta. 20

Neste sentido, o comedimento no uso da violência têm se tornado


uma nova tendência para as forças militares, que não mais intervêm com
objetivos de destruir o potencial econômico ou militar do oponente, mas
de dissuadi-lo de alguma ação ofensiva. Desta feita, vislumbra-se que,
brevemente, o padrão de intervenções norte-americanas no exterior, em
situações assimétricas, será o de incursões de baixa visibilidade, sem
ocupação de territórios. Intervenções estas que somente podem ser
eficazes se estruturadas por meio de forças especiais.

6. CONCLUSÃO.

Desde os eventos de 11 de setembro de 2001, os recursos


humanos do USSOCOM duplicaram, seu orçamento praticamente
triplicou, e seu emprego ultramar quadruplicou. Consequentemente, as
operações especiais ocuparam, no cenário militar estadunidense, uma
magnitude nunca antes vista. Ao emergir de uma década particularmente
difícil e onerosa, o Departamento de Defesa dos EUA se depara com a
questão de criar uma nova estratégia com menos recursos. Dada sua
inserção hegemônica global, os militares norte-americanos terão de
caminhar sobre a linha tênue ao manter uma poderosa força
convencional, robusta o suficiente para conter eventuais agressões de
estados pouco amigáveis, e, ao mesmo tempo resolver uma miríade de
problemas advindos de atores não estatais engajados em conflitos
assimétricos (REYNOLDS, 2012).21

Neste sentido, McRaven (2011), afirmou que as forças especiais


de ação indireta obtiveram mais sucesso nos confrontos assimétricos no
Afeganistão que as forças de ação direta nos últimos anos do conflito. 22

20
Disponível em: http://csis.org/publication/future-special-forces. Acesso em Outubro/2012.
21
Disponível em:
http://usacac.army.mil/CAC2/MilitaryReview/Archives/English/MilitaryReview_20121031_art008.pdf
. Acesso em Janeiro/2012.
22
Disponível em: www.armytimes.com/news/.../army-socom-boss. Acesso em: Outubro/2012. 

13
14

A Rand Corporation, entidade que provê grande parte do suporte


técnico-militar necessário às tomadas de decisão do Pentágono,
recomenda ao secretário de defesa que este ponha mais ênfase no
treinamento e aconselhamento de forças de países anfitriões e/ou
parceiros, em detrimento de uso de ações diretas. (LAMB; TUCKER,
2007)

Adotando este pensamento, recente orientação estratégica do


Departamento de Defesa sugere que, em futuro próximo, a demanda
para ações indiretas aumentará, em escala global (NELSON. 2012). 23

Este aumento da demanda está diretamente relacionado à


versatilidade em termos de táticas, técnicas e tecnologia, empregados em
ações indiretas versus multiplicidade de conflitos assimétricos que
pipocam mundo afora.

Os EUA precisam se adequar para fazerem face aos meios de


guerrear utilizados por seus adversários, sejam eles atores estatais ou
não. Para tanto, suas forças armadas devem estar preparadas para a
assimetria dos confrontos atuais. As estratégias assimétricas são muito
vantajosas para os EUA, pois, além de serem consideravelmente mais
econômicas, elas propiciam um inconteste efeito surpresa, pois seus
meios fluidos e ágeis produzem confusão e desordem no âmbito do
oponente, expondo-o a uma situação de incerteza incômoda quanto à
capacidade das forças de seu adversário, seus objetivos e seus meios,
fragilizando, assim, a moral da tropa oponente, ao evidenciar suas
fraquezas.

Por estas razões, os EUA devem priorizar a assimetria, para que


possam obter vitórias contundentes contra adversários mais fracos.
Naturalmente, precisarão se adequar de forma coerente à sua posição de
liderança global e sua política externa.

Não há que se cogitar, todavia, que as estratégias assimétricas


sejam a solução para todo e qualquer conflito enfrentado por aquele país.
23
Disponível em: http://csis.org/publication/future-special-forces. Acesso em Outubro/2012.

14
15

Seus líderes, desde que amadurecidos neste pensamento, necessitarão


identificar a natureza do confronto e o melhor e mais adequado meio de
resposta.

Desta maneira, o uso temperado da assimetria de forças permitirá


aos EUA uma maior interatividade e alcance nas tramas, muitas vezes
complexas, que envolvem as relações internacionais.

Abstract

The rise of assymetric conflicts has led the USA to adapt its armed forces
constantly in order to face this new operational environment. This
transformation and adaptation in the deployment of its armed forces have
been particularly evident in the so called indirect actions carried out by its
special operations forces. The deployment of special operations forces
enhances the flexibility of the operational environment; for its low visibility
capability keeps the tensions among nations low and therefore avoids large
scale armed conflict. Thus these special operations forces are largely used
by the USA, and help them keep their vast global influence.

Keywords: Special Operations Forces. Special Operations. Indirect Actions.


Assymetric Conflict. Foreign Policy.

15
16

REFERÊNCIAS

BARNET, Frank; TOVAR, Hugh; SHULTZ, Richard. Special


Operations in US Strategy. New York. National Defense University
Press. National Strategy Information Center. 1984.

BLAKER, James. United States Overseas Basing: An Anatomy of a


Dilemma. Santa Barbara CA. Praeger. 1990.

COUCH, Dick. Chosen Soldier. New York. Random House. 2007.

DAVIS, Jacquelyn. Statment for the Record on USOCOM and SOF


Futures. US Congress. House of Representatives. Committe on
Armed Services. Subcommittee on Emerging Threats and
Capabilities. 11 de Julho de 2012. Disponível em:
http://www.fas.org/irp/congress/2012_hr/specops.pdf

DENÉCÉ, Eric. História Secreta das Forças Especiais. São Paulo.


Larousse do Brasil. 2009.

FEICKERT, Andrew. US Special Operations Forces. Background and


Issues for Congress. Washington DC. Congressional Research
Service. 2012.

FLOURNOY, Michele; DAVIDSON, Janine. Obama’s New Global


Posture: The Logic of US Foreign Deployment. Foreign Affairs. USA.
V 91. N 4. P 54-63. JUL/AGO, 2012.

FM 3-05. Army Special Operation Forces. Field Manual. Washington


DC. 2008. Disponível em: http://www.fas.org/irp/doddir/army/fm3-
05-130.pdf

HANEY, Eric, L. Inside Delta Force. New York. Delta Trade. 2005.

JONES, Seth, G. The future of irregular warfare. RAND testimony


before the House Committee on Armed Services. RAND Corporation.
2012. Disponível

16
17

em:http://www.rand.org/content/dam/rand/pubs/testimonies/2012/
RAND_CT374.pdf

MAO, Tse Tung, On Guerrilla Warfare, translated by Samuel B.


Griffith II. University of Illinois Press. 2000.

MCRAVEN, William, H. Spec Ops. Case Studies in Special


Operations Warfare. Theory and Practice. New York. Random House
Inc. 1996.

MCRAVEN, William, H. Posture Statement Before the 112th


Congress, Senate Armed Services Comittee. Army War College.
2012. Disponível em:
http://www.fas.org/irp/congress/2012_hr/030612mcraven.pdf

NAYLOR, Sean, D. New SOCOM Boss Touts Indirect Action Forces.


Army Times. California/USA. 3 de outubro de 2011. Disponível em:
http://www.armytimes.com/news/2011/10/army-socom-boss-touts-
indirect-action-forces-100211w/

NYE Jr, Joseph, S. Cooperação e Conflito nas Relações


Internacionais. São Paulo. Editora Gente. 2009.

NELSON, Rick. The Future of Special Forces. Center for Strategic


and International Studies.Washington DC. 3 de Abril de 2012.
Disponível em: http://csis.org/publication/future-special-forces

North Atlantic Treaty Organization. Special Operations Coordination


Centre. NATO Special Operations Forces Study. 2008. Disponível
em: http://www.nshq.nato.int/NSHQ/GetFile/?File_ID=29

RENZI, Fred. Redes. A terra incognita e a inteligência etnográfica.


Military Review, p 56/64. Jan/Fev 2007.

REYNOLDS, Phill W. What comes next? An argument for irregular


war in national defense. Military Review, p 35/41. Set/Out 2012.

17
18

TALABER, Adam. Options for Restructuring the Army. Washington


DC. Congressional Budget Office. 2005.

TUCKER, David; LAMB, Christopher. United States Special


Operations Forces. New York. Columbia University Press. 2007.

TUCKER, David; LAMB, Christopher. Reestructuring Special


Operations Forces for Emerging Threats. Washington DC. Strategic
Forum. Institute for National Strategic Studies. National Defense
University. 2006. Disponível em:
http://www.nps.edu/Academics/Centers/CTIW/files/Strategic
%20Forum%20FINAL.pdf

USA. Joint Publication 3-05. Special Operations. 2011. Disponível


em: www.dtic.mil/doctrine/new_pubs/jp3_05.pdf 

VANDENBROUCK, Lucien, S. Perilous Options: Special Operations


As An Instrument Of U.S. Foreign Policy. New York. Oxford University
Press. 1993.

18

Você também pode gostar