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Artigo Selecionado
O “Exército Secreto” dos EUA e a Guerra Global
contra o Terror.
Alvaro de Souza Pinheiro(*)
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PADECEME Rio de Janeiro N° 20 1° quadrimestre 2009
tadas no “Relatório da Comissão Nacio- cução dessas operações deverão ser con-
nal sobre os Ataques Terroristas contra solidados com as capacitações de treina-
os EUA” (The 9/11 Commission Report). mento, direção e execução de operações
O DoD conceitua operações especiais similares sendo desenvolvidas pelo Co-
como “aquelas conduzidas em território mando de Operações Especiais.” Nessa
hostil, negado ou politicamente sensível, ocasião, o Presidente Bush determinou
visando À consecução de objetivos milita- ao Secretário da Defesa e ao Diretor Na-
res, políticos, psicossociais e/ou econômi- cional de Inteligência (cargo criado na
cos, empregando capacitações militares reforma do Sistema) que estudassem essa
não disponíveis nas forças convencio- Recomendação e apresentassem, em feve-
nais”. Esse alto órgão também define for- reiro de 2005, a sua avaliação a respeito.
ças paramilitares como “forças ou grupos Na verdade, não ocorreu uma trans-
não integrantes das forças armadas regu- ferência radical de responsabilidades.
lares de qualquer país, porém, semelhan- Como uma consequência das experiên-
tes a elas na organização, equipamento, cias desenvolvidas nessa área crítica de
treinamento ou na missão”. Assim, o ter- grande sensibilidade, nos anos que se se-
mo operações paramilitares é utilizado guiram ao desencadeamento da “Guerra
para identificar as operações conduzidas Global contra o Terror”, a responsabili-
pela CIA, cujos agentes e funcionários dade pelas operações paramilitares pas-
não fazem parte das Forças Armadas dos sou a ser atribuída, pelo National Secu-
EUA. rity Council, a cada uma das partes, com
De uma maneira geral, as operações base numa política de que “cada caso é
especiais são diferenciadas das opera- um caso”. Há que se destacar, todavia,
ções militares convencionais pelo eleva- um aspecto altamente positivo: desde
do grau de risco político e físico, técnicas 2001, ainda nos primórdios da Campa-
operacionais e forma de emprego, dentre nha do Afeganistão, tornou-se rotineiro
outros aspectos. Um tema comum às ope- que, temporariamente, equipes operacio-
rações das SOF e da CIA é diretamente nais da CIA passassem ao controle opera-
relacionado à preservação do sigilo do cional de comandantes de destacamentos
patrocinador. As operações especiais de- das SOF e vice-versa.
senvolvidas no âmbito do DoD pelas SOF Israel, na qualidade de um aliado in-
são frequentemente de baixa visibilidade, dispensável dos EUA, tem um relevante
cobertas ou clandestinas. O mesmo ocor- papel em todo esse processo. Além de um
re com as operações paramilitares da CIA. suporte de informações extremamente
Ambas as instituições preocupam-se que, valioso em termos de levantamento das
no planejamento e na execução das suas atividades de organizações terroristas
operações, seja evitada qualquer implica- operando no Oriente Médio, a experiên-
ção envolvendo o Governo dos EUA. cia israelense de integração entre os seus
A Recommendation 32 do 9/11 Com- organismos de Inteligência e as suas SOF,
mission Report tornou público que “a na prevenção e combate ao terrorismo, é
responsabilidade pela liderança da dire- ímpar, e tem sido estudada como um mo-
ção e execução das operações paramili- delo a ser seguido.
tares, tanto cobertas quanto clandestinas, O presente artigo tem por objetivo ana-
deve passar ao Departamento de Defesa.” lisar as táticas, técnicas, e procedimentos
Acrescenta que “o planejamento e a exe- empregados por esse “Exército Secreto”
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Muito embora o regime talibã tenha nos do país, de modo a permitir que os
sido deposto e um novo governo tenha Reconstruction Teams restabeleçam os
sido empossado numa campanha funda- serviços públicos essenciais. Novas for-
mentalmente baseada nas SOF reforçadas ças de segurança afegãs foram estabele-
por equipes operacionais da CIA, perdeu- cidas. O novo exército possui, inclusive,
se uma oportunidade ímpar. Numa loca- um componente de operações especiais.
lidade identificada como Tora Bora, Bin Tanto essa nova força terrestre quanto
Laden e Zawahiri foram localizados e uma nova polícia já estão sendo empre-
uma operação especial foi desencadeada gados, com desempenhos satisfatórios,
para capturá-los. Esse evento ficou co- no combate aos focos rebeldes talibãs
nhecido como a “Batalha de Tora Bora”, e na manutenção da ordem, o que está
desenvolvida entre 6 e 18 de dezembro possibilitando que a missão prioritária do
de 2001. O Comando da FT K-BAR so- componente SOF-CIA seja uma campa-
licitou ao Gen Tommy Franks, então Co- nha seletiva contra as lideranças talibãs e
mandante do Central Command (CEN- da Al Qaeda. Organizações de seguran-
TCOM) e autoridade maior em presença, ça privadas, como é o caso da empresa
o reforço de um batalhão de Rangers – Blackwater – cuja grande maioria de
que havia sido empregado na conquista funcionários são antigos operadores de
de aeródromos na região oeste do país – forças especiais e policiais da reserva se-
para ocupar posições de bloqueio, numa lecionados –, têm sido contratadas para
típica operação de “martelo-bigorna”. tarefas específicas, como, por exemplo, a
Esse reforço não foi autorizado e tanto segurança de autoridades locais e pontos
Bin Laden quanto al-Zawahiri escaparam sensíveis específicos, contribuindo no es-
incólumes para o Paquistão. Esse fato, forço de reconstrução do País.
até hoje, é tremendamente lamentado no
seio da comunidade SOF-CIA. 3 APOIO DE ISRAEL
Na atualidade, a situação ainda é ins-
tável em determinadas regiões do Afe- A experiência israelense na integra-
ganistão, onde existem focos de ressur- ção entre os organismos de Inteligência
gimento do Movimento Talibã. A região e as SOF é única em todo o mundo. Um
fronteiriça com o Paquistão permanece exemplo característico dessa integração
conflagrada e os indícios de que Osama foi a ação de retaliação determinada pela
bin Laden e a liderança da Al Qaeda es- Primeira Ministra Golda Meir, desenca-
tão homiziados em território paquistanês deada em diferentes países da Europa
permanecem fortes. A segurança está contra o “Setembro Negro”, organiza-
sendo responsabilidade de uma força da ção terrorista palestina responsável pelo
OTAN, International Security Assistance massacre da delegação israelense nos
Force (ISAF), que conta com um compo- Jogos Olímpicos de Munique, em 1972.
nente de operações especiais SOF-CIA, A integração entre o Mossad (operações
diretamente subordinado ao mais alto externas), o Shin Bet (operações inter-
escalão em presença, incluindo, ainda, nas) e as FOpEsp, em particular, com o
contingentes de operações especiais de Sayaret Matkal (Commando 101, unida-
diferentes países. de responsável pelo famoso resgate em
O foco da atual fase é a manutenção Entebbe, em 4 de julho de 1976) tem
da segurança nos maiores centros urba- fundamentado ao longo dos anos a polí-
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tados suicidas, sejam eles com explosivos de cerca de 25.000 soldados oriundos de
conectados ao próprio corpo ou em viatu- bases nos EUA –, desenvolvida ao final do
ras de natureza diversificada, deslocam-se muito bem sucedido Comando da Força
para os seus objetivos com os detonado- Multinacional do Iraque, pelo Gen Da-
res desligados, só os ativando nos minu- vid Petraeus, atualmente Comandante do
tos finais que antecedem o acionamento Central Command), a FT Black havia eli-
da carga. Os indivíduos voluntários para minado ou capturado aproximadamente
a condução dos explosivos (“bombers”) 4.000 terroristas islâmicos, na sua maio-
não necessitam de um preparo técnico ria pessoal técnico experiente, de difícil
mais refinado, diferentemente daqueles substituição. O resultado se fez sentir de
em que repousa o sucesso dos ataques, imediato. Houve uma significativa redu-
que são os preparadores das cargas, pes- ção de um pico de mais de 100 atentados
soal de suporte logístico e pessoal de a bomba por mês, em Bagdá, para apenas
escolta. Essa foi uma evidência colhida dois, no mesmo período.
pelas autoridades de segurança de Israel O Gen Petraeus, num de seus mais re-
que, há cerca de cinco anos, passaram a centes depoimentos ao Congresso, teceu
priorizar, como alvo, o pessoal de apoio referências altamente elogiosas à Task
das organizações terroristas palestinas, Force Black, ressaltando que sua partici-
muito mais difícil de recrutar e preparar pação na reversão das expectativas viven-
do que os próprios suicidas. O resulta- ciadas naquele teatro foi imprescindível.
do foi altamente positivo. O número de Enfatizou, entretanto, que se pagou um
acidentes provocados por explosivos mal significativo preço em sangue, pois, nes-
preparados e a quantidade de terroristas se período, a FT sofreu cerca de 20% de
suicidas neutralizados antes de atingirem baixas.
seus alvos cresceram significativamente.
A FT Black adotou essa tática e ex- 5 A CAMPANHA ESTRATÉGICA
plorou, com rara propriedade, uma in-
A partir de 2004, o Presidente e o
teligência com base numa larga rede de
Secretário de Defesa atribuíram ao US-
informantes, visando a identificação e
SOCOM a responsabilidade de liderar a
localização das áreas de homizio das cé- “Guerra Global contra o Terror”, no âm-
lulas terroristas. Além da confrontação bito do DoD. Dentre inúmeras medidas
principal com a Al Qaeda iraquiana, a FT implementadas, aquele Grande Coman-
viveu momentos de grande tensão quan- do Operacional ativou, na sua estrutu-
do, há cerca de um ano, terroristas xiitas ra organizacional, o Center for Special
passaram a realizar ataques suicidas con- Operations (CSO), com a finalidade de
tra as comunidades sunitas, numa tenta- integrar as funções de inteligência, ope-
tiva de acirrar um clima de guerra civil. rações, estratégia e planejamento a lon-
Graças a uma inteligência humana muito go prazo. A chefia desse Centro, além de
bem estabelecida, foi possível buscar e estabelecer ligações interagências, capita-
coletar dados cada vez mais consistentes, lizou a sinergia de todas essas funções
que culminaram por neutralizar a sinistra sob uma única direção, e passou a exer-
ação xiita. cer, nas melhores condições, o comando
Ao início deste ano, por ocasião do e controle de todas as operações das SOF
término da ofensiva do Surge – reforço no planeta.
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inteligência eminentemente próativa, não Howard, Russel D. , “Intelligence in De-
espera que as células terroristas ataquem, nied Areas: New Concepts for a
para só depois, reagir. Antecipam-se, ex- Changing Security Environment”,
plorando, imediatamente após a sua ob- Joint Special Operations Universi-
tenção, as informações obtidas e, assim, ty (JSOU) Report 07-10, December
neutralizando essas células antecipada- 2007, Hurlburt Field / Florida.
mente às suas ações, numa doutrina emi- Dunnigan, James F., “The Secret Ameri-
nentemente próativa. can Army”, Strategy Page, News as
History, July 12, 2008.
Dunnigan, James F., “Task Force Black”,
REFERÊNCIAS Strategy Page, News as History, Sep-
The 9/11 Commission Report: Executive tember 13, 2008.
Summary, Washington D.C.
United States Special Operations Com-
mand: Posture Statement 2006, Mc
Dill Air Force Base / Florida. (*)O autor é General-de-Brigada da
A. Best Jr, Richard and Feickert, Andrew, Reserva do Exército Brasileiro, Analista
“Special Operations Forces (SOF) Militar especialista em Operações Es-
and CIA Paramilitary Operations: peciais e Guerra Irregular. (EMail: pi-
Issues for Congress”, CRS Report nheioa@terra.com.br).
for Congress; Foreign Affairs, De-
fense and Trade Division; Order
Code RS22017; Updated December
6, 2006.