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A
BRIGADA DE CAVALARIA Mecanizada De acordo com o serviço a ser executado ou a
(B da C Mec) mantém a mesma ameaça a ser enfrentada, o governo deve fazer uso
constituição e quase que o mesmo material da caixa que possua as melhores ferramentas para
por décadas. Apesar de ser uma Grande Unidade a execução da tarefa. Assim sendo, na iminência
(GU) muito bem organizada para o cumprimento de uma epidemia que assole o país, a “caixa de
de suas missões prioritárias, é oportuno, na ferramentas” Saúde deverá ser a mais utilizada. Se
medida em que o Exército Brasileiro passa por é o crime transnacional que nos aflige, a possível
um período de transformação, que se pense na “caixa” a ser empregada é da Justiça. No caso de
viabilidade da manutenção da estrutura existente acordos internacionais, que ferem nossos inte-
ou em possíveis mudanças e, neste caso, em que resses, estarem sendo formatados, de imediato
dimensão, de maneira que a Brigada de Cavalaria devemos fazer bom uso das ferramentas dispostas
Mecanizada possa melhor cumprir as missões que no Ministério das Relações Exteriores, a “caixa”
lhe serão atribuídas na Guerra do Futuro. que possui as ferramentas mais apropriadas para
proteger a Nação nessa situação.
A Lógica da Existência das Forças Armadas A existência das ferramentas colocadas à dis-
Para que se chegue à Bda C Mec, é preciso posição no Ministério da Defesa se justifica face
recordar a ideia básica que orienta a existência às ameaças à soberania nacional e à defesa dos
das Forças Armadas e, por consequência, as suas interesses do Brasil no exterior, particularmente
peças de manobra. quando do uso da força, contra Forças Armadas
Todo país precisa de ferramentas para a exe- estabelecidas e/ou grupos de diferenciado poder
cução dos serviços necessários à sua população bélico ofensivo. A simples existência dessa “caixa
e para defesa de ameaças que possam atingir de ferramentas” pode ser o fator inibidor da
a sociedade. Via de regra, essas “ferramentas” ameaça (poder dissuasório).
são organizadas em caixas próprias, de acordo As ferramentas devem ser úteis, pois é lícito
com a aptidão e a possibilidade de emprego pensar que, por exemplo, se não houvesse a
face ao serviço a ser prestado e/ou ameaça a possibilidade da existência de doenças, as “ferra-
ser debelada. mentas” da saúde seriam desnecessárias. Como é
No caso brasileiro, essas simbólicas “caixas de fácil concluir que o mundo atual, e em previsível
ferramentas” são distribuídas em Ministérios, futuro, não estará livre de ameaças à saúde, nem
como o da Saúde, da Educação, da Justiça, das tampouco estará livre da agressão e da ameaça do
Relações Exteriores, da Defesa, e tantos outros. emprego de força contra a soberania e os interesses
O General de Brigada Joarez Alves Pereira Junior é o atual do Exército e foi assessor, por 5 anos, do Gabinete de
Comandante da 3ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, em Segurança Institucional da Presidência da República.
Bagé-RS. É oriundo da Arma de Cavalaria, tendo servido É mestre em Estudos Estratégicos pelo U.S. Army War
nos três tipos de Unidades de Cavalaria existentes no College e foi auxiliar do adido do Exército nos EUA.
Exército Brasileiro. Comandou a Escola de Administração
Grupo de Combate desembarca de uma Viatura Blindada de Reconhecimento URUTU durante um exercício de adestramento fase pelotão do
3º RC Mec, Bagé/RS – 2013.
Complexidade
aquisição/
Categorias de Complexibilidade Forças
desen- Preparação Obs
emprego na preparação empregadas
volvimento de
material
Cada agência é
Emprego
Interagências Compartimentada especialista na
mínimo de FA
sua área
Emprego
Tipo Polícia preponderante Compartilhada
F Policiais
Quadro 1
Quadro 2
Essa ideia, muito coerente, apesar de não tão neste trabalho, levou-se em consideração quatro
nova (as brigadas sempre puderam receber ou fatores: missão, ambiente operacional, preparação
perder meios para o cumprimento de suas mis- e material.
sões), precisa ser vista com cautela. A brigada Brigadas Blindadas
continua focada no emprego tático e deve possuir As brigadas blindadas (quadro 2), seja de
um “módulo básico” definido para o cumprimento infantaria ou de cavalaria, são as forças de choque
de suas principais missões de combate, haja vista empregadas para ações decisivas, com grande
que, conforme anteriormente explanado, esse aptidão para o aproveitamento do êxito e a per-
é o foco de preparação das Forças Armadas, a seguição. Cumprem, portanto, a mesma missão.
razão de suas existências. Uma força preparada As brigadas atuam no mesmo ambiente ope-
para a guerra cumprirá bem missões de menor racional (Ambi Op). Como se preparam para o
intensidade, mas o oposto não é verdadeiro. cumprimento da mesma missão, em ambiente
As brigadas podem ser divididas quanto ao operacional semelhante, as brigadas blindadas
grau de mecanização da maioria de seus meios de infantaria e cavalaria desenvolvem a mesma
em três tipos: blindada, mecanizada e leve. Hoje, o preparação e possuem o mesmo material.
Exército Brasileiro possui as brigadas de infantaria Portanto, pode-se concluir que o “módulo
e de cavalaria blindadas. Possui, de igual modo, as básico” brigada blindada possa ser único e as
brigadas de infantaria e de cavalaria mecanizadas. denominações de infantaria e cavalaria sejam
Na categorização de brigadas leves possui uma dispensáveis, podendo ser mantidas por outros
variedade de brigadas de infantaria (montanha, fatores, como os históricos, por exemplo.
selva, paraquedista, aeromóvel) e o Comando de Brigadas Leves
Operações Especiais. As brigadas leves (quadro 3), por sua vez,
A fim de pensar se os “módulos básicos” de possuem bastante diversidade quanto aos fatores
brigadas blindadas, mecanizadas e leves podem considerados para análise. A missão da Brigada
ser os mesmos para cada tipo, alguns fatores Paraquedista difere da Brigada de Selva, cujas
importantes precisam ser considerados. Para tanto, missões também diferem daquelas da Brigada
Montanha Montanha
Selva Selva
Paraquedista Paraquedista
Cmdo Op Cmdo Op
Especiais Especiais
Quadro 3
Atq Coor
Def Pos
Inf Def Mv Inf
Mesmo
[Difere]
Mecanizada Difere Difere
atua em
frentes mais
F Cob
Cav amplas
Rec/Vig Cav
Aç Rtrd
Def Mv
Quadro 4
exigem maior número de fuzileiros e menor Características da Bda C Mec e seu Material
flexibilidade de emprego, pela inexistência de Motomecanizado
uma fração mecanizada leve, como o Grupo de Os fatores mais importantes para que uma Bda
Exploradores. Esses diferentes róis de missões C Mec possa cumprir as suas missões podem ser
seriam a vocação de cada Brigada, embora resumidos nos seguintes:
a possibilidade de atuação nas operações no • mobilidade;
amplo espectro possa impor que uma Bda C Mec • flexibilidade;
receba um B I Mec ou que a Bda Inf Mec venha a • proteção blindada;
receber um R C Mec, de acordo com uma missão • potência de fogo;
específica recebida. Entretanto, no seu dia-a-dia • ação de choque;
de trabalho, as brigadas seriam vocacionadas • meios tecnológicos avançados.
para distintas missões de combate e seriam bem A mobilidade pode ser dividida em tática e
mais eficientes que a Brigada “pato”. estratégica. A mobilidade tática caracteriza-se pela
Vejo como mais propícia esta terceira possi- existência de viaturas sobre rodas e sobre lagartas. Já
bilidade e, desse modo, interpreto que a Bda C a mobilidade estratégica é acentuada pela existência
Mec e a Bda Inf Mec cumprirão, com prioridade, exclusiva das viaturas sobre rodas, que dão maior
diferentes missões de combate. agilidade ao deslocamento para emprego da Brigada.
Poderão atuar no mesmo ambiente operacional, A flexibilidade é obtida pela variedade de viaturas,
no entanto, como as frentes da Bda C Mec, pelo capazes de executar um amplo rol de missões em
tipo de ação que executam, serão mais amplas, diferentes ambientes operacionais. A proteção
deverão possuir maior flexibilidade e meios blindada é adquirida por meio de viaturas blindadas.
capazes de se deslocarem em qualquer terreno. A potência de fogo assume papel diferenciado não
Adotando a perspectiva de diferentes missões, somente pela existência de obuses e morteiros,
a preparação será diferente, bem como o tipo de mas também pelas viaturas dotadas de armamento
material que dotará as organizações militares pesado. A ação de choque é marcada pelas viaturas
desses dois tipos de brigadas mecanizadas. blindadas com capacidade de deslocamento em
É possível, portanto, concluir que deverão conti- qualquer terreno e os meios tecnológicos avançados
nuar existindo dois tipos de brigadas mecanizadas, são aqueles que permitem conduzir o combate com
diferentemente do que ocorre com as brigadas os recursos a serem disponibilizados para a Guerra
blindadas. de Quarta Geração (quadro 5).
Fatores Material
Quadro 5
Mobilidade tática Vtr sobre rodas Vtr Leve VTL Marruá VBL
(Jeep em várias OM)
Proteção Blindada Vtr Blindada VBTP Urutu VBTP Urutu VBTP Guarani
repotencializado
Potência de Fogo Vtr com VBR Cascavel VBR Cascavel 8x8 família Guarani
Armt Pesado repotencializado
Ação choque Vtr Bld com M113 M113 repotencializado 8x8 (conforme
capacidade de VBC Leopard Leopard 1A5 evolução tecnológica)
deslocamento em 1A1
qualquer terreno
Quadro 6
modularidade das brigadas, ou a Bda C Mec fundamental importância para as missões de
não iria precisar do RCB para o cumprimento reconhecimento e vigilância.
da missão e perderia essa peça de manobra ou Existem diversificadas maneiras de esses
realizaria o deslocamento das viaturas para um sistemas se integrarem à organização da
TO distante sobre pranchas. Ressalta-se que as Bda C Mec. A inserção de um Esquadrão
duas desvantagens apontadas dizem respeito ao de Reconhecimento e Vigilância, dotado de
período de transição, pois se formos capazes SARP e radares nos Regimentos de Cavalaria
de dotar os RCB com viaturas sobre rodas 8x8 Mecanizados (R C Mec), em substituição ou
eficientes para o deslocamento em qualquer não a um Esquadrão de Cavalaria Mecanizado,
terreno, esse deverá ser o futuro dos nossos poderia ser uma opção, que exige estudo mais
Regimentos de Cavalaria Blindados. aprofundado.
Dessa maneira, poderíamos compor o
quadro 6, de viaturas que permitem a manu- Conclusão
tenção das importantes características da Bda O presente trabalho procurou levantar algu-
C Mec para o cumprimento de suas missões. mas ideias sobre a possível reestruturação das
Bda C Mec, no conjunto da transformação do
Novas tecnologias para a Bda C Mec Exército Brasileiro e no contexto da remodelação
O que se pretende não é apresentar a lista de do módulo Brigada.
materiais já existentes, ou previstos mas não Para tanto, levantou-se em que contexto a Bda
existentes, que necessitam evolução tecnológica. C Mec atuará, qual seja, na priorização das Forças
Nesse pacote estariam inseridos os sistemas de Armadas e do Exército Brasileiro para emprego
artilharia, os equipamentos de visão noturna, em combate. Caracterizou-se que o foco de pen-
equipamentos rádio e tantos outros. Este tópico samento é o combate convencional, embora um
se limita a apresentar dois tipos de material, de leque variado de operações de menor intensidade
tecnologia moderna, que precisam ser inseridos possa ser atribuído às Forças Armadas. O uso do
em algumas unidades da Bda C Mec: os Sistemas Exército Brasileiro em diferentes missões tem
Aéreos Remotamente Pilotados (SARP) e os tornado incontestável o dito popular que, nesse
sistemas de radares terrestres. Eles serão de caso, “quem pode mais, pode menos”.
Flagrante do apoio de fogo prestado pelo 25º GAC durante a manobra de adestramento da 3º Bda C Mec. Rosário do Sul/RS – 2013.