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Santa Maria/RS Ano 2009 Nº 008

Somos a forja da tropa blindada do Brasil!

M-60 Vs LEOPARD 1A5


Possibilidades e limitações

Blindados e Doutrina Delta no Combate Urbano.


Uma combinação possível.

Planejamento e Características do emprego de


Blindados na Missão das Nações Unidas para a
Estabilização do Haiti(MINUSTAH).
Ç ÃO DE
A Í N D I C E
CH -Editorial................................................02
OQ U E
COMANDANTE DO CI Bld -Blindados e Doutrina Delta no combate
Ten Cel Cav Giovany Carrião de Freitas
SUBCOMANDANTE DO CI Bld urbano. Uma combinação possível.......03
Ten Cel Inf Gerson Ferreira Pinto
EDITORES
Maj Cav Carlos Alexandre Geovanini dos
-Planejamento e Características do emprego
Santos
Cap Inf Gláucio Francisco Pereira Costa de Blindados na Missão das Nações Unidas
REVISÃO TEXTUAL
Cap QCO Jones Luiz Aires da Silva para a Estabilização do Haiti(MINUSTAH)....08
CRIAÇÃO e ARTE FINAL
Cap Inf Gláucio Francisco Pereira Costa - Possibilidades e limitações da VBC M 60 em
Cap Inf Alisson Rodrigues de Oliveira
ADMINISTRAÇÃO, REDAÇÃO E
DISTRIBUIÇÃO relação à VBC Leopard 1 A 5.......................18
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E D I T O R I A L
Palavras do Comandante
O Centro de Instrução de Blindados, criado em 11 de outubro de 1996, nasceu com a designação
histórica de Centro General Walter Pires, homenageando um insigne chefe militar, grande entusiasta das
tropas blindadas e mecanizadas. Está sediado na cidade de Santa Maria- RS.
Neste ano especializamos mais de duas centenas de oficiais e sargentos do Exército Brasileiro e de
Nações Amigas, bem como atendemos grande número de militares em Pedido de Cooperação de
Instrução.
O CIBld completou 13 anos em 2009, ano este em que nosso Estabelecimento de Ensino consolidou
seu lugar no contexto do Exército Brasileiro, como uma escola que combina o ensino técnico de
blindados, capacitando militares no uso nas viaturas de combate orgânicas de todas as armas e o ensino
tático, no emprego de viaturas sobre lagartas e sobre rodas, no Pel de Exploradores e para comandantes
de OM blindadas e mecanizadas.
Nesta edição, selecionamos matérias que estão relacionadas com a combinação do uso de blindados
e Doutrina Delta no combate urbano, o planejamento e características do emprego de blindados no Haiti
e um estudo comparativo das possibilidades e limitações da VBC M60 em relação à VBC Leopard 1 A5 .
São matérias que, de acordo com a filosofia desta publicação, não pretendem constituir-se em
documentos doutrinários, mas sim, em subsídios para a reflexão daqueles que acompanham a evolução
da arte da guerra e identificam-se com este moderno meio de combate, o blindado.
Ainda no corrente ano, durante a execução das reuniões do Conselho de Ensino, planejamos a
reestruturação do CIBld a ser iniciada no ano de 2010, fruto da aquisição dos novos Carros de Combate
Leopard 1 A5, cujas ações subseqüentes irão resultar na mudança de mentalidade de manutenção e
futura necessidade de instruir oficiais e sargentos na operação desta moderna viatura. A par das
dificuldades, surge uma enorme motivação no emprego desta VBC por nossa tropa blindada. Mantendo a
vanguarda em inovações de adestramento, o CIBld prossegue nas atividades de melhorias e evoluções
na área de simulação e assessorando os escalões comprometidos com a implementação da Nova
Família de Blindados Sobre Rodas (NFBSR).
Apesar de ser jovem, o CIBld já conta com uma história própria, cujas lembranças mantemos vivas e
presentes para não desviarmos da meta a que todos aspiramos, esta consiste em, prosseguir no
caminho como um EE comprometido com a profissionalização da tropa blindada brasileira e com uma
visão de futuro destinado a atender plenamente todas as necessidades de recursos humanos de que esta
tropa de elite necessita.
Prossigamos nos desafios que nos motivam a manter-nos homens especializados na técnica de
blindados, nas operações militares desta natureza, de pesquisas e inovações. AÇO!BOINAPRETA! BRASIL!

Ten Cel Giovany Carrião de Freitas


Comandante do Centro de Instrução de Blindados Gen Walter Pires
BLINDADOS E DOUTRINA DELTA NO
COMBATE URBANO. UMA COMBINAÇÃO
POSSÍVEL

Alex Alexandre Mesquita

1. INTRODUÇÃO

Falar em guerra moderna sem se referir a combate urbano é


praticamente impossível e combater em localidade sem considerar o
emprego de meios blindados é uma decisão extremamente temerária.
A “Arma Blindada” foi concebida e empregada ao longo do século
passado predominantemente em largas frentes e horizontes profundos.
Seu armamento principal evoluiu dos canhões de 57mm para outros de
120mm e com munição cinética de alta velocidade. As suas lunetas e
periscópios deram lugar a modernos sistemas de geração de imagem
termal e hoje a guarnição habita em torres com giro elétrico-hidráulico e
chassis com sistemas anti-incêndio. Mas estariam esses instrumentos de
guerra aptos a se confrontarem com os desafios atuais do combate
terrestre?
Esses desafios estão ligados ao combate urbano, uma realidade
atual em função da franca urbanização que mundo está enfrentando desde
a década de 1950. A migração para as áreas urbanas, provenientes de
áreas rurais é uma clara tendência atual. Combinado a isso a população
vem crescendo exponencialmente nos últimos 25 anos, criando
concentrações urbanas desordenadas. Esse cenário indica que é muito
difícil que em conflitos modernos seja possível evitar que forças terrestres O autor é Major de Cavalaria da
conduzam operações dentro ou nos subúrbios de áreas urbanas, como foi turma de 1992 da AMAN, cursou
atestado na Operação Liberdade do Iraque. a Escola de Aperfeiçoamento de
Oficiais em 2000 e a Escola de
Em termos de Exército Brasileiro, o combate em ambiente urbano Comando e Estado Maior do
permeia todos os tipos de hipótese de emprego do nosso exército, pois ele Exército em 2007-2008.Possui o
pode ocorrer nos diversos tipos de ambiente operacional do subcontinente curso de oficial de manutenção
1 da Escola de Material Bélico e o
sul-americano e também extra-continetalmente. Para o combate Estágio Tático de Blindados.
convencional em Área Operacional do Continente (AOC) o EME editou em Teve uma passagem como
2 instrutor do CIBld entre 2003 e
1996 as Instruções Provisórias 100-1 (IP 100-1), que são a base 2006. Atualmente desempenha
Doutrinária para qualquer estudo que envolva o combate em ambiente a
a função de chefe da 1 Seção da
a
urbano, no âmbito da Força Terrestre. 1 Divisão de Exército.
Coerente com as novas necessidades impostas pelo combate moderno
e consciente da imperativa necessidade de atualizar os conceitos
Doutrinários orientadores do preparo e do emprego da Força Terrestre (F
Ter), dentro da visão dinâmico-evolutiva da doutrina, o EME identificou a
necessidade do estabelecimento de novos fundamentos que, a título
experimental, orientarão a atuação da F Ter no cumprimento de suas
missões constitucionais, em particular, quando atuando em combate
convencional no âmbito da defesa externa, em Área Operacional do
Continente (AOC) "exceto a área estratégica da AMAZÔNIA".

1
Um exemplo atual é a atuação brasileira na MINUSTAH. AÇ
ÃO DE
2
Bases para a Modernização da Doutrina de Emprego da Força Terrestre Doutrina Delta.Brasil.
Exército. Estado-Maior do Exército. IP 100-1: Bases para a Modernização da Doutrina de CH
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03
Emprego da Força Terrestre (Doutrina Delta).1. ed. Brasília, DF, 1996. p 1-2
Assim, este texto analisará a possibilidade ve em ambiente urbano. Normalmente os veículos
de emprego de meios blindados em ambiente sobre lagarta são mais manobráveis do que os
urbano, dentro do contexto da Doutrina Delta. veículos sobre rodas, por realizarem curvas com
raios menores e por vezes realizarem o
2. OS MEIOS BLINDADOS E O COMBATE pivoteamento. Soma-se a isso o fato de os trens de
URBANO rolamento serem menos vulneráveis por serem
6
constituídos de lagartas.
Os meios blindados, quer sejam sobre Os veículos blindados modernos, em sua
lagartas ou sobre rodas, quer sejam veículos maioria, contam
5
com instrumentos de direção e
blindados de combate ou de transporte de tropa, controle de tiro que os tornam maquinas
tem como uma das suas principais características extremamente letais. Esses instrumentos
a rapidez de deslocamento. Essa rapidez está permitem identificar o alvo com pouca ou nenhuma
relacionada não só à motorização, mas também à luminosidade, calcular a distância e a precessão
proteção blindada, que irá permitir ao veículo do alvo, no caso do mesmo estar em
transpor resistências com maior facilidade não se deslocamento, engajar um alvo com grande
detendo por tempo excessivo na tarefa de reduzi- rapidez, graças a torres servo-assistidas e
las. Essa rapidez é desejável em todo e qualquer empregar munições, do tipo munição de exercício,
ambiente de combate, contudo, em ambiente que mantêm a ação de choque, por meio da
urbano ela é essencial para manter a potência de fogo, contribuindo para a redução de
agressividade e diminuir o tempo de exposição ao danos. Todas essas possibilidades são
inimigo, garantindo a segurança da tropa. extremamente desejáveis a um sistema de armas
A proteção blindada também é outro fator que seja empregado em ambiente urbano.
que diferencia o combate blindado embarcado do Não se pode deixar de considerar que as
combate desembarcado. O combate urbano tem próprias características desses meios impõem um
como uma das suas características a variedade de efeito psicológico extremamente favorável a quem
armamentos que podem ser utilizados e, muitas os emprega, principalmente em função da sua
das vezes até mesmo fora do seu emprego ação de choque. Essa situação cria uma condição
padronizado. Os conflitos ocorridos a partir da dissuasória determinante para o sucesso do
3
guerra na Chechênia mostram que em ambiente combate em ambiente urbano, permitindo
urbano, normalmente são utilizados armamentos inclusive um desengajmento mais fácil de tropas à
4
anti-carro portáteis, atiradores de elite e pé que estejam face de tropas com armamento
armamento automático, do tipo fuzil e automático, por exemplo.
metralhadora. Os diferentes tipos e níveis de A assertiva anterior é confirmada pelos
proteção blindada contribuem decisivamente para principais exércitos do mundo , como foi o exemplo
reduzir as baixas causadas por esses armamentos do norte-americano que empregou uma brigada
favorecendo a condução do combate. blindada na conquista de Bagdá, em 2003, em
7
Outra característica essencial em ambiente detrimento do emprego de forças leves. Essas
urbano é a mobilidade. A mobilidade também está últimas, embora extremamente aptas ao combate
relacionada à rapidez de deslocamento e é casa-a-casa não possuem poder de fogo
alcançada principalmente pela aptidão que o suficiente para garantir-lhes a ação de choque
veículo tem de superar obstáculos, tanto necessária à decisão do combate no menor tempo
obstáculos verticais, quanto horizontais. Nesse possível. Além disso, a pouca ou nenhuma
mister os veículos sobre lagarta apresentam proteção blindada as tornam vulneráveis a
vantagem sobre os veículos sobre rodas, inclusi- pequenas resistências, como ocorrido em
8
Mogadísicio, em 1992.
3
A citação desse conflito se justifica pelo fato de o mesmo, juntamente com a derrota americana na
Somália, ser uma referência moderna de combate urbano.
4
Sniper.
5
Giro sobre o eixo vertical
6
Mesmo considerando o fato de os veículos sobre rodas, em sua maioria, serem dotado de pneus
run flat, seus trens de rolamento são muito mais vulneráveis a estilhaços e a armamento
automático, do que os veículos sobre lagarta. ÃO DE

7
Além do Exército Norte-americano, o Exército de Israel prioriza o emprego de forças blindadas
nível brigada para combaterem em Gaza e na Cisjordânia. CH
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8
BOWDEN, Mark. Falcão Negro em perigo A história de uma guerra moderna. 1. ed. São Paulo: Landscape,
2001.
A partir do apresentado até o presente contribui para que o combate seja conduzido com
momento, pode-se concluir parcialmente que as grande ímpeto valorizando a manobra e também
características dos meios blindados, de uma favorecendo a execução do combate não linear.
maneira geral e abrangente, fornecem condições Impor essa situação ao inimigo que defende uma
muito boas para o emprego desses meios em localidade é condição para desequilibrar o poder
ambiente urbano, considerando, é claro, a de combate em benefício do atacante. Dessa
intervenção dos fatores da decisão. forma é lícito entender que os meios blindados
como um dos instrumentos de execução da
3. A DOUTRINA DELTA E O COMBATE URBANO Doutrina Delta têm plenas condições de empregá-
la em ambiente urbano.
A Doutrina Delta, como é comumente As características das frações blindadas
conhecida a IP 100-1 Bases para a Modernização permitem ainda conduzir o combate não linear,
da Doutrina de Emprego da Força Terrestre, trouxe empregando o máximo poder de combate no local
para o EB uma nova concepção relativa ao e momento decisivo, buscando sempre valorizar a
combate convencional e mesmo tendo sido rapidez das ações, da ofensiva e da surpresa. O
editada a mais e de uma década ainda guarda defensor que é confrontado com essas condições,
conceitos aplicáveis nos dias atuais. em uma localidade, tem reduzida a sua
A Doutrina Delta, quando aborda as capacidade de resistir. Dessa forma o emprego de
características dos conflitos modernos, compara a meios blindados continua sendo um fator de
concepção anterior com os pressupostos da sua sucesso no combate urbano.
concepção geral. A concepção anterior de
combate preconizava o combate linear em frente e
profundidade, conduzido por meio de operações
seqüenciadas e diurnas, com a preponderância de
ações frontais e com um ritmo excessivamente
lento. Esse cenário pode ser identificado na
segunda tentativa Russa de conquistar Grozny,
em 1994 e representa muito bem o combate
urbano tradicional.
Os manuais do EB que tratam de forma
mais detalhada o tema combate em localidade, C
31-50 Combate em Zonas Fortificadas e
Edificadas, o C 7-20 Batalhões de Infantaria e o C
17-20 Forças Tarefas Blindadas ainda possuem
um viés que vai ao encontro da concepção dita
anterior pela Doutrina Delta. Até mesmo a própria
Doutrina Delta estabelece que a tropa mais apta
9
ao combate em áreas urbanas é a Infantaria a pé.
Esta situação é justificável uma vez que os
manuais mais modernos foram concebidos sob os
auspícios dos revezes russos em Grozny e não no
sucesso norte-americano em Bagdá.
Analisando a Concepção Geral prevista nas
IP 100-1, reproduzida na figura nº 1 pode-se
chegar a algumas conclusões que permitem
justificar o emprego de meios blindados em
ambiente urbano.
O emprego de meios blindados, de Figura 1
preferência organizados em Forças Tarefas,
9
Brasil. Exército. Estado-Maior do Exército. IP 100-1: Bases para a Modernização da Doutrina de AÇ
ÃO DE
Emprego da Força Terrestre (Doutrina Delta).1. ed. Brasília, DF, 1996. p 5-1.
CH
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Ao empregar os meios blindados no De que exércitos de renomada competência,
combate dentro da localidade o decisor estará como o dos Estados Unidos e de Israel não
também contribuindo para atender os princípios da prescindem do emprego desses meios,
ofensiva, da manobra, da massa e principalmente organizados em grandes unidades, para
o princípio da surpresa, uma vez que o senso combaterem dentro de cidades, como foi o caso de
comum não indica o emprego de meios blindados Bagdá e Gaza. Essa opção está relacionada ao
em ambiente urbano. A doutrina militar terrestre fato de que as tropas leves não possuem as
brasileira também não prioriza o emprego desses características desejáveis a execução de ações
meios nesse tipo de ambiente. Assim sendo, ao rápidas e agressivas, imprescindíveis a qualquer
empregar frações blindadas de forma judiciosa, no tipo de combate e em especial ao combate urbano.
investimento a uma localidade o princípio da Por fim, no que se refere ao Exército
surpresa estará sendo amplamente valorizado. Brasileiro, não resta dúvida de que os meios
Não resta dúvida de que empregados de blindados são um dos principais instrumentos de
maneira correta os meios blindados contribuirão execução da Doutrina Delta e que seu emprego de
para a decisão da campanha no mais curto prazo e forma judiciosa contempla de satisfatoriamente os
por possuírem fuzileiros essas frações requisitos previstos na Concepção Geral da
possibilitam grande flexibilidade de emprego pois mesma.
os mesmos podem combater desembarcados, Assim, conclui-se que o emprego de meios
10
caso necessário. Além disso a proteção blindada e blindados em ambiente urbano nos dias atuais,
a precisão dos sistemas de condução de tiro antes de ser uma opção é uma necessidade e no
embarcados contribuem para a minimizar as caso do EB devem ser utilizados dentro do que
perdas e reduzir os danos desnecessários preconiza a IP 100 1 Bases para a Modernização
Desta forma é possível concluir de forma da Doutrina de Emprego da Força Terrestre
parcial que o emprego dos meios blindados está (Doutrina Delta).
intimamente relacionado ao que prescreve a
Doutrina Delta, em especial a sua Concepção Referências
Geral e esta doutrina é plenamente aplicável ao
combate em ambiente urbano. BOWDEN, Mark. Falcão Negro em perigo A
história de uma guerra moderna. 1. ed. São
4. CONCLUSÃO Paulo: Landscape, 2001.
Brasil. Exército. Estado-Maior do Exército. C 7-20:
As circunstâncias que regem o combate Batalhões de Infantaria. 3. ed. Brasília, DF, 2003.
moderno impõem um aumento na necessidade de ______. C 17-20: Forças Tarefas Blindadas . 3.
se combater em cidades e ao mesmo tempo essas ed. Brasília, DF, 2002.
circunstâncias indicam os diversos benefícios de
______. IP 100-1: Bases para a Modernização
se empregar meios blindados nesse tipo de
da Doutrina de Emprego da Força Terrestre
ambiente.
(Doutrina Delta).1. ed. Brasília, DF, 1996.
Em síntese as características dos meios BRASIL. Ministério do Exército. Estado Maior do
blindados atuais podem ser aproveitadas de forma Exército. C 31-50 Combate em Zonas
bastante eficiente no combate em ambiente Fortificadas e Edificadas. 1. ed. Brasília, DF,
urbano, principalmente atentando para o que 1976.
prescreve a Concepção Geral da Doutrina Delta. HANN II, Robert F. O Combate Urbano e o
Os meios blindados oferecem a proteção e Combatente Urbano de 2025. Military Review,
a potência de fogo necessárias à dissuasão Fort Leavenworth, KA, v 81, n. 2, p.36-46, 2.
alcançada por meio da ação de choque, além de quadrim 2001.
permitirem rápidos desengajamentos, o que em INTERCÂMBIO DE COOPERAÇÃO DE
ambiente urbano pode ser o fator que determinará ESPECIALISTAS BRASIL / EUA, 1., 2003 Rio de
o aumento do atrito de combate. Janeiro. Tropas Mecanizadas . Rio de Janeiro:
Essas conclusões são reforçadas pelo fato
10
Os Fuz combaterão prioritariamente embarcados, protegidos pela blindagem de suas VBTP ou AÇ
ÃO DE
VBCI. Contudo, poderão desembarcar para reduzir resistências específicas às Vtr Bld.
CH
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Planejamento e Características do
Emprego de Blindados na missão das
Nações Unidas para a estabilização do
Haiti (MINUSTAH)

Ricardo Augusto do Amaral Peixoto

1. INTRODUÇÃO

Durante o ano de 2007, o Exército Brasileiro iniciou os preparativos


para a composição do 9º contingente militar brasileiro na missão das
Nações Unidas para a estabilização do Haiti (MINUSTAH - sigla derivada
do francês: Mission des Nations Unies pour la stabilisation en Haïti).
Desta forma, coube ao Comando Militar da Amazônia (CMA) o
encargo pela seleção, planejamento e preparação da tropa que comporia
o Batalhão Brasileiro de Infantaria de Força de Paz.
Além do ineditismo da missão para as tropas da Amazônia, seria a
primeira vez que soldados oriundos de diferentes rincões amazônicos
participariam de uma missão de paz em solo estrangeiro sob a égide da
Organização das Nações Unidas (ONU).
Neste contexto, visando contribuir com o Batalhão brasileiro na tarefa
de manutenção da paz no Haiti, também foi formada a única tropa de
Cavalaria participante da missão, o Esquadrão de Fuzileiros Mecanizado
de Força de Paz.
Em função da diferenciada constituição e dotação em meios, do
emprego específico nas operações em ambiente urbano e da
peculiaridade do planejamento e execução de missões não O autor é Major de Cavalaria da
convencionais, o Esquadrão de Fuzileiros Mecanizado tornou-se uma turma de 1991 da AMAN, cursou
a Escola de Aperfeiçoamento de
subunidade singular no âmbito do Exército Brasileiro. Oficiais em 1999. .Possuí os
Assim sendo, este texto abordará aspectos operacionais cursos de operações na selva,
vivenciados, adaptados e praticados no tocante ao planejamento e às instrutor de educação física e de
paraquedismo, entre outros. Foi
características do emprego de blindados pelo Esquadrão de Fuzileiros comandante do Esquadrão de
Mecanizado do Batalhão de Infantaria de Força de Paz do 9º contingente Fuzileiros Mecanizado de Força
militar brasileiro no Haiti. de Paz (Esqd Fuz Mec F Paz) do
9º contingente militar brasileiro
no Haiti. Atualmente é aluno da
2. AMBIENTAÇÃO HISTÓRICA Escola de Comando e Estado-
Maior do Exército (ECEME).
De 01 de janeiro de 1804, data de sua independência, aos dias
atuais, o Haiti vivenciou inúmeros conflitos internos que contribuíram para
o agravamento da instabilidade política e geraram uma atmosfera de
conturbação da paz social e de entrave ao desenvolvimento econômico do
país.
Em 1991, em virtude do golpe militar que depôs o presidente eleito
Jean-Bertrand Aristide, o país passa a sofrer diferentes embargos e
boicotes da comunidade internacional, fragilizando ainda mais a economia
em função da grande dependência externa. Entre 1991 e 1994, a
instabilidade política, econômica e social torna-se gradativamente maior
em decorrência das diferentes juntas governamentais que se revezavam
ÃO DE

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no poder, fazendo com que o país mais uma vez 3.PARTICIPAÇÃO BRASILEIRA
enfrentasse um panorama de iminente convulsão
social. A MINUSTAH tem como principal objetivo a
Assim, mercê da instabilidade interna e da manutenção de um ambiente seguro e estável no
falta de apoio externo, o país passa a registrar Haiti. Esta estabilidade visa estimular e propiciar
alarmantes índices de corrupção, baixas taxas de meios para que o próprio país possa fomentar
crescimento econômico, elevado nível de seu desenvolvimento político e econômico e
desemprego, carência de produtos básicos, também promover sua paz social.
boicotes eleitorais em diferentes províncias e A participação do componente militar
manifestações populares violentas ao longo de brasileiro na MINUSTAH teve início em junho de
seu território. Tudo isto contribui para um grave 2004. Do início da missão brasileira aos dias
contexto de perturbação da ordem pública e de atuais, o efetivo militar empregado tem sido, com
profunda tensão política e econômica. pequenas variações entre os contingentes, o de
um batalhão quaternário do Exército Brasileiro
Dessa forma, diante desse quadro de acrescido de um Grupamento Operativo do
iminente colapso, a ONU iniciou o primeiro esforço Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil.
conjunto com o objetivo de promover a paz social e Assim, cerca de 1.050 homens compõem o
de propiciar um ambiente favorável à estabilidade efetivo do Batalhão Brasileiro de Infantaria de
e ao desenvolvimento do país. Força de Paz (B I F Paz/Brazilian
No ano de 1994, o Conselho de Segurança Battalion/BRABATT) em Porto Príncipe no Haiti.
(CS) da ONU autorizou o desdobramento de uma Deste efetivo, o Exército Brasileiro possui cerca
força multinacional com cerca de 20 mil militares de 850 homens e a Marinha do Brasil cerca de
para facilitar o retorno rápido ao poder das 200 homens.
autoridades haitianas legítimas, promover a Além dessa tropa, o Brasil ainda participa da
segurança interna e a estabilidade do país e MINUSTAH com uma Companhia de Engenharia
fomentar e garantir a implementação do estado de de Força de Paz (Cia Eng F Paz). No entanto, não
direito. De 1994 até 2001, sucessivas missões da existe subordinação entre a Cia Eng e o
ONU estiveram presentes no Haiti, a começar pela BRABATT, pois a tropa de engenharia está
MINUHA (Missão das Nações Unidas no Haiti), diretamente subordinada à MINUSTAH e tem seu
MANUH (Missão de Apoio das Nações Unidas ao emprego direcionado para ações assistenciais
Haiti), MITNUH (Missão de Transição das Nações em todo o território haitiano.
Unidas no Haiti) e MIPONUH (Missão de Polícia O B I F Paz possui uma constituição
Civil das Nações Unidas no Haiti). diferenciada dos demais batalhões brasileiros
Em 2003, o Haiti vivencia mais um em função de seu emprego operacional
conturbado período de crise política interna que específico em ambiente urbano, com foco em
culminou com a renúncia do reempossado manutenção da paz. Desta forma, é composto
presidente Jean-Bertrand Aristide. Com isto, o por quatro subunidades operacionais e uma
presidente da corte suprema haitiana, Boniface subunidade de apoio administrativo, além do
Alexandre, ao assumir interinamente a efetivo da Marinha do Brasil.
presidência do país, formaliza novo pedido de Das quatro subunidades operacionais, três
ajuda e assistência à ONU. Em função deste são da arma de Infantaria, denominadas
pedido, o CS da ONU autoriza o deslocamento de Companhias de Fuzileiros de Força de Paz (Cia
uma força multinacional de estabilização para Fuz F Paz), e uma é da arma de Cavalaria,
fomentar o desenvolvimento de um processo denominada Esquadrão de Fuzileiros
político pacífico e constitucional e para promover a Mecanizado de Força de Paz (Esqd Fuz Mec F
manutenção das condições de segurança e Paz)
estabilidade necessárias ao pleno A rotina das frações da arma de Cavalaria
desenvolvimento do país. no ambiente operacional haitiano apresenta
características distintas da doutrina
Nesse contexto, em junho de 2004, a força convencional, bem como diferenciações quanto
multinacional existente foi substituída pela Missão à dotação de seus meios. Com isto, é notório o
das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti peculiar emprego do Esqd Fuz Mec, o que
(MINUSTAH).
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Propicia oportunidades para o aperfeiçoamento e O GC convencional nestas tropas de
estudo do planejamento e da utilização de cavalaria é composto por 11 homens, com 01
blindados em operações urbanas. comandante de grupo, 01 motorista da viatura
blindada, 01 atirador da metralhadora .50 e duas
4.ESQUADRÃO DE FUZILEIROS esquadras com 04 homens cada.
MECANIZADO DE FORÇA DE PAZ Em função do patrulhamento ora embarcado
ora desembarcado nas ruas haitianas, a fração de
Singular em sua constituição e dotação, o cada viatura tem emprego semelhante ao do GC,
Esqd Fuz Mec F Paz orgânico do B I F Paz porém, em muitas ocasiões, com autonomia
apresenta características distintas das demais própria, visando maior abrangência diária no
subunidades da arma de Cavalaria do Exército patrulhamento ostensivo e a conciliação do efetivo
Brasileiro. de cada pelotão com o número de viaturas e
Possui quatro pelotões como peças de missões existentes.
manobra com diferenciações quanto à forma de Assim, o Grupo Operacional ou Guarnição
emprego de seus meios, pois cada pelotão é Operacional (GO) do Pelotão de Fuzileiros
dotado de cinco Viaturas Blindadas de Transporte Mecanizado de Força de Paz (Pel Fuz Mec F Paz),
de Pessoal (VBTP EE-11 Urutu). orgânico do Esqd Fuz Mec F Paz, foi constituído
Por possuir apenas um tipo de viatura por 06 homens, sendo 01 comandante de grupo,
blindada, algumas características clássicas da 01 motorista, 01 atirador da metralhadora e 03
arma de Cavalaria, como potência de fogo e ação fuzileiros. Portanto, cada pelotão possui cinco
de choque, em um primeiro momento podem Grupos Operacionais.
parecer minimizadas. No entanto, em virtude das Essa adaptação foi realizada por duas
peculiaridades das operações urbanas e da razões principais e teve a finalidade de otimizar o
similaridade do emprego com missões de Garantia emprego de cada grupo no contexto operacional
da Lei e da Ordem (GLO), verifica-se na prática urbano do Haiti.
que é uma forma eficiente e adequada para o A primeira razão diz respeito ao
emprego do binômio homem-carro de combate patrulhamento embarcado. Durante o
neste tipo de contexto operacional. deslocamento mecanizado, cada militar ocupava
Com grande impacto dissuasivo, a tropa uma posição pré-definida nas escotilhas da VBTP
dotada de viaturas blindadas apresenta vantagens Urutu, provendo uma segurança em todas as
e possibilidades para o emprego em operações direções da viatura. Desta maneira, cada militar
urbanas, como flexibilidade, mobilidade, ação de possuía um setor de tiro e os setores individuais se
choque junto a qualquer manifestação, robustez complementavam, provendo um setor de tiro
necessária para abrir brechas ou passagens em coletivo de 360°. Além disso, o atirador da
obstáculos ou barricadas e proteção blindada à metralhadora embarcada também realizava a
tropa desembarcada. observação no plano vertical, contribuindo, assim,
para que haja uma proteção em todas as direções
5.ORGANIZAÇÃO, CONSTITUIÇÃO E e ângulos da viatura durante o seu deslocamento.
CARACTERÍSTICAS DAS FRAÇÕES DE A segunda principal razão diz respeito ao
EMPREGO comando e controle quando os militares estão
desembarcados realizando o patrulhamento. Com
A primeira grande diferenciação em relação à o objetivo de facilitar as ordens e o controle do
tropa convencional diz respeito à constituição das comandante de grupo das ações de sua guarnição
frações de cada viatura blindada. no ambiente urbano do Haiti, somente os quatro
Convencionalmente, tanto os Pelotões de militares que estão nas escotilhas
Cavalaria Mecanizados (Pel C Mec), orgânicos de desembarcavam para o patrulhamento ostensivo.
um Esquadrão de Cavalaria Mecanizado (Esqd C O motorista do blindado e o atirador da
Mec), quanto os Pelotões de Fuzileiros Blindados metralhadora permaneciam embarcados
(Pel Fuz Bld), orgânicos de um Esquadrão de acompanhando o deslocamento da fração com o
Fuzileiros Blindado (Esqd Fuz Bld), possuem carro. Assim, colaboravam com o apoio ou reforço
Grupos de Combate (GC) em sua estrutura imediato à mesma, possibilitando o emprego do
organizacional. binômio carro-fuzileiro.
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6. APRESTAMENTO DA GUARNIÇÃO reserva que trabalhava em frequência HF. Sendo
OPERACIONAL assim, em caso de falência do sistema principal
(VHF) todos os centros de comunicações (CCom)
Além da adaptação do armamento coletivo, o convergiam automaticamente para o sistema
aprestamento da guarnição e de cada militar secundário (HF).
também apresentou evoluções. As viaturas blindadas possuíam ainda um
O principal armamento de dotação de cada sistema de localização por satélite que
militar do GO era o fuzil Imbel calibre 7,62mm possibilitava ao CCom do Esqd Fuz Mec saber a
modelo M964 (Parafal). No entanto, além do fuzil, posição exata do blindado em qualquer ponto da
todos os grupos possuíam duas Área Operacional de Responsabilidade (AOR) do
escopetas/espingardas modelo “pump” calibre .12 batalhão.
e um lançador de munição não letal modelo AM-
600 calibre 37/38. 7.PLANEJAMENTO DO EMPREGO DE
Como dotação de munição 7,62mm, cada BLINDADOS
militar transportava consigo cinco carregadores
com vinte tiros cada, perfazendo um total de cem A AOR do BIF Paz no 9º contingente
tiros por homem. Além disto, três militares de cada brasileiro da MINUSTAH abrangia a região da
GO ainda portavam as duas escopetas e o capital do país, Porto Príncipe, e algumas áreas
lançador de munições não letais. adjacentes.
Todas as guarnições operacionais eram Dentro da AOR do B I F Paz, três grandes
dotadas de um kit de munições não letais com os sub-regiões ou distritos se inseriam no perímetro
seguintes tipos, calibres e quantidades de de atuação das tropas brasileiras: Cité Soleil, Bel
munições: Air e Cité Militaire.
Como o B I F Paz possuía quatro
subunidades operacionais e ainda um
Grupamento Operativo do Corpo de Fuzileiros
Navais (G Op CFN), estas três áreas eram
divididas, para fins de responsabilidade e
emprego de cada subunidade, entre as três
companhias de Infantaria e o G Op CFN. Neste
contexto, o Esqd Fuz Mec, única subunidade de
Cavalaria e blindada do BRABATT, atuava como
força de reação, como força de ação rápida e
como reserva em proveito do batalhão e em
reforço ou substituição às demais subunidades.
Para isso, o Esqd Fuz Mec realizava
diuturnamente o patrulhamento ostensivo em toda
AOR do batalhão.
Dessa forma, por possuir maior área de
No tocante às comunicações, a principal abrangência, o Esqd Fuz Mec F Paz atuava no
rede rádio do B I F Paz era explorada em VHF. As patrulhamento de maneira coordenada com as
viaturas e grupos se comunicavam entre si, demais subunidades nas zonas de ação destas
prioritariamente, utilizando o sistema ponto-a- (AOR/SU).Contudo, além do patrulhamento
ponto por meio de rádios portáteis ou, de forma diário, cabe ressaltar que o Esqd Fuz Mec
alternativa, por meio da telefonia celular. As mantinha um de seus pelotões sempre em
ligações entre as guarnições operacionais e suas condições de reforçar qualquer eventual ação em
bases ou entre viaturas distantes mais de 08 km diferentes pontos da AOR/B I F Paz.Assim, dos
eram realizadas por intermédio de antenas quatro pelotões existentes, diariamente três
repetidoras, que possuíam abrangência e canais realizavam o patrulhamento ostensivo nas ruas,
pré-selecionados para cada sub-região de Porto sendo que um destes ainda contribuía com os
Príncipe.Além das repetidoras, o B I F Paz serviços diários, e um encontrava-se na base do
contava com um sistema de comunicações batalhão como força de reação imediata.
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Contudo, estas adaptações não diminuíam
o poder de fogo nem a flexibilidade do GO frente
ao GC convencional, pois o mais comum era o
emprego conjunto de, no mínimo, dois Grupos
Operacionais durante o patrulhamento
ostensivo ou em operações, totalizando pelo
menos 12 homens e 02 blindados. Assim sendo,
uma viatura provia a proteção blindada e o apoio
direto para sua guarnição e para a outra viatura,
respectivamente, durante o deslocamento
embarcado e as duas guarnições se somavam
quando do patrulhamento desembarcado.

DISPOSITIVO DO GRUPO OPERACIONAL


EMBARCADO

Mot

Sd At Mtr

Sd Fuz
Cmt GO

Cb Aux Sd Fuz

Em decorrência do emprego em área


urbana, outra diferenciação entre o GC e o GO
diz respeito ao tipo de armamento coletivo da
fração. Pelas características do ambiente
operacional do Haiti, todos os GO eram dotados
de uma metralhadora Mag 7,62mm, enquanto
que cada GC convencional é dotado de uma
metralhadora Browning .50.
Além das adequações operacionais, para o
emprego em ambiente urbano, também houve a
necessidade de adaptações técnicas na
estrutura física dos blindados. Desta forma, a
VBTP Urutu no Haiti incorporou três acessórios
principais: a cabine de proteção blindada do
motorista, a cabine de proteção balística do
atirador da metralhadora e a lâmina frontal para
remoção de obstáculos, também conhecida
como removedora de barricadas ou limpa-trilho.

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Portanto, como o patrulhamento era daquela população e da aceitação do trabalho da
realizado 24 horas por dia e durante todos os dias tropa brasileira naquela área.O patrulhamento
da semana, o Esqd Fuz Mec F Paz empregava diário de cada pelotão era planejado de maneira a
três pelotões nas ruas de Porto Príncipe em permitir que todos os grupos operacionais
sistema de rodízio diário estivessem presentes em diferentes células de
Como existem três sub-regiões na uma sub-região em horários diversos naquele dia.
AOR/BRABATT, semanalmente cada pelotão era Como cada patrulha tinha a duração de
responsável pelo patrulhamento em uma delas. aproximadamente três horas e trinta minutos,
Para fins de planejamento, cada sub-região semanalmente todos os grupos operacionais de
era dividida e mapeada em células e cada pelotão um pelotão conseguiam percorrer e patrulhar a
tinha a responsabilidade de realizar o totalidade daquela sub-região.
patrulhamento em diferentes células diariamente. Cabe ressaltar a importância do
Como cada pelotão possui cinco Grupos patrulhamento desembarcado como forma de
Operacionais e geralmente cada patrulha era maior interação com a população e otimização da
realizada por dois grupos, com esta sequência de busca de dados. Desta maneira, em função da
planejamento o pelotão conseguia patrulhar mais aproximação com o povo, a tropa por estar
de uma vez a mesma célula durante a semana em ostensivamente nas ruas e consequentemente
que dada sub-região esteve sob sua por angariar maior confiança dos populares,
responsabilidade conseguia maior número de informações que
.Assim, baseado no rodízio diário e promoviam um complemento fidedigno aos dados
semanal, o Esqd Fuz Mec F Paz obtinha uma de inteligência.
presença constante ao longo de toda a Com essa atitude, tornava-se crescente o
AOR/BRABATT. Esta permeabilidade nas sub- contato da população com os militares e também a
regiões existentes era reforçada pelas ações de procura e a solicitação de civis pela presença dos
patrulhamento das demais companhias de soldados na tentativa de solucionar problemas
Infantaria e do G Op CFN, que se limitavam às relativos à segurança em suas áreas.
áreas sob suas responsabilidades.
Isso fazia com que o B I F Paz estivesse
diuturnamente presente em toda a sua área
operacional, promovendo a manutenção de um
ambiente seguro e estável em Porto Príncipe.

8.PATRULHAMENTO OSTENSIVO

O planejamento do emprego dos pelotões


nas células das sub-regiões Cité Soleil, Bel Air ou
Cité Militaire era determinado pelos dados
provenientes dos canais de inteligência naquele
momento.
Dessa forma, dentro de cada sub-região,
existiam áreas com maior e com menor incidência
de delitos ou problemas. Isto direcionava o 9.ATIVIDADES ROTINEIRAS NA MISSÃO DE
planejamento diário e semanal das patrulhas, com PAZ
o objetivo de promover a segurança e a harmonia
nestas áreas. O emprego das subunidades operacionais
Além das informações fornecidas pelos do BRABATT não estava direcionado apenas
canais de inteligência, também se somavam a para a questão da manutenção da segurança
estes dados os resultados dos trabalhos da pública na capital haitiana. O BRABATT realizava
equipe de operações psicológicas do batalhão, muitas vezes trabalhos de cunho social,
que mensalmente realizava a tarefa de humanitário e assistencial que indiretamente se
mapeamento das células de cada sub-região, relacionavam e contribuíam com o quesito da
fazendo um diagnóstico das principais demandas segurança interna.
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Nesse contexto, por inúmeras vezes as podemos destacar as operações de cerco e
subunidades estavam envolvidas em trabalhos de vasculhamento, “check points”, “static points”,
assistência à população, como ações cívico- segurança de instalações e operações de controle
sociais (ACISO), distribuição de água e alimentos de distúrbios. Estas operações eram planejadas e
e socorro às vítimas de calamidades públicas. alimentadas Estas operações eram planejadas e
Essa face do trabalho na missão exercia um alimentadas baseadas em dados provenientes
papel fundamental no tocante à inserção da tropa dos canais de inteligência e muitas vezes tinham
brasileira junto à população haitiana, pois o objetivos pontuais quanto à presença da tropa
trabalho humanitário funcionava como facilitador numa região em determinado momento.
da questão operacional, uma vez que também Como na maioria das atividades cotidianas o
possibilitava a aproximação com a população civil, pelotão era empregado descentralizadamente, ou
principalmente a mais carente. seja, os GO tinham autonomia e liberdade de ação
conforme o julgamento do comandante da cena
operacional naquele momento, alguns atributos
da área afetiva eram necessários e fundamentais
nestas missões.
Assim sendo, o Comandante do Esquadrão,
os de Pelotão, os Adjuntos de Pelotões e os
Comandantes de GO exerciam fundamental papel
na condução, no comando e no controle de suas
frações. E isto tornou-se patente e contribuiu na
prática para o aprimoramento dos quesitos
liderança militar e ação de comando entre cada
comandante e seu grupo, pois todas as vezes que
as frações saíam da base do batalhão para o
patrulhamento ou outras missões, estas eram
reais.
O controle e a ação de comando em cada
fração, baseados nos atributos citados, ficaram
evidenciados em inúmeras situações ao longo da
missão.
A tropa do 9° contingente brasileiro da Como exemplo, pode-se citar o fato ocorrido
MINUSTAH atuou no Haiti amparada pelo capítulo na madrugada do dia 19 de junho de 2008, em que
VI da Carta das Organizações das Nações Unidas, um dos tenentes comandante de pelotão, à frente
ou seja, o emprego da tropa estava direcionado à de dois GO, realizava um “check point” na região
manutenção da paz. Por isso, todo o trabalho da de Baixo Solino, em Bel Air. Assim, ao parar alguns
tropa nas ruas era regido pelas regras de veículos, um cidadão haitiano, sem receber ordem
engajamento (rules of engagement - ROE) para tal, desceu de um deles empunhando uma
adotadas pela ONU. pistola. A tropa ao ser alertada do incidente por um
Tais regras sintetizavam quando se deve ou de seus militares que observou o fato,
não utilizar a força armada (letal ou não letal), bem imediatamente tomou a posição de tiro em
como a gradação do uso desta força para a condições de engajar o indivíduo, empunhando
resolução de conflitos ou qualquer ato de agressão. seus fuzis na direção do mesmo. Neste momento,
Baseadas no princípio da proporcionalidade, as como o haitiano não largou sua arma, houve uma
regras de engajamento amparavam a resposta rápida negociação entre o tenente e o civil e, após
proporcional da tropa a qualquer intenção ou ato rápido impasse, este aceitou colocar sua arma
hostil de uma força adversa. sobre o capô do veículo para que as verificações
Nessas circunstâncias, no tocante à parte de rotina ocorressem.
operacional, além do patrulhamento diário Nessa situação, é nítido o resultado do
ostensivo, principal atividade realizada pelo treinamento e da ação de comando do líder de
esquadrão, outras missões operacionais também fração sobre seus homens, pois, além do
faziam parte da rotina da tropa. Dentre estas, autocontrole de cada militar, a confiança na
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atuação e nas ordens do comandante do grupo des Industries e a rua Lysius Salomon, em
corroborou para que não houvesse qualquer Cité Soleil, dois GO, a comando de um 2º sargento
atitude precipitada por parte dos integrantes de Cavalaria, se deslocavam para a região a ser
daquela fração. patrulhada quando, por coincidência, se
Outro exemplo ocorreu na resolução dos depararam com um GC de uma subunidade de
distúrbios da tarde do dia 06 de agosto de 2008, na Infantaria cercado por uma multidão de populares
região do Ponto Forte 16 (PF 16), localizado no que gritavam palavras em tom de ameaça à tropa.
cruzamento da avenida Soleil com a rua Soleil 9, Ao avistarem a aproximação das frações
em Cité Soleil. Nessa ocasião, após a detenção de mecanizadas, os populares se evadiram da rua e
dois haitianos por militares do BRABATT, buscaram posições altas e cobertas nas lajes das
incitadores conclamaram a população local a se casas circunvizinhas e começaram a atirar
concentrar nos arredores do PF para pedir a garrafas, pedras e outros objetos em ambas as
liberação dos detidos. Com a concentração tropas. Contudo, em função da pouca
popular, houve o acirramento dos ânimos e o início luminosidade do local, não era possível saber o
das hostilidades verbais contra a tropa. Em que alguns civis portavam consigo. No entanto, de
sequência, alguns populares passaram a lançar imediato e em resposta ao ocorrido, houve o
objetos e pedras nas instalações ocupadas pela embate com o emprego do armamento e da
tropa brasileira. munição não letal existente em cada viatura.
Então, devido à crescente aglomeração civil Após ter cessado a agressão à tropa, ocorreu
e à possibilidade de escalada da crise, o Esqd Fuz um rápido cerco e vasculhamento na área
Mec F Paz foi acionado como força de reação e problema com os próprios militares de Infantaria e
deslocou-se para a posição do incidente com o Cavalaria que estavam participando da ação. Ao
efetivo de dois pelotões. Ao chegar ao local, final desta ocorrência, doze civis foram detidos
verificou-se que a multidão inflamada apedrejava para averiguação e houve a apreensão de uma
deliberadamente as instalações do PF 16 e, por pistola calibre .380 e um artefato de fabricação
isso, coube à Cavalaria e seus blindados a missão caseira que funcionava como um tipo de pistola
de dispersar a população. Assim, em função da rudimentar.
ação de choque e da presença dissuasória das Esses exemplos ressaltam o valor do uso
viaturas blindadas, o Esqd Fuz Mec foi disposto no consciente da força e da liderança e ação de
terreno com oito urutus ou oito GO a comando do comando do comandante de fração. Tais fatos e
Cmt Esqd. Destas viaturas, três permaneceram circunstâncias evidenciam o porquê da não
em reserva a comando de um tenente e cinco existência de danos colaterais e tampouco
avançaram na direção da turba para canalizar o militares feridos nas ações realizadas pelas tropas
escoamento dos civis e facilitar o processo de do 9° contingente brasileiro da MINUSTAH.
negociação que já estava em andamento. Com o A autonomia de cada líder de fração em uma
avanço da tropa, houve o apedrejamento das situação real faz crescer a responsabilidade do
viaturas até que a linha do cerco fosse rompida e comandante sobre seus homens, não apenas pela
neste processo houve a necessidade de disparos coerência nas ordens e atitudes, mas também
de armas não letais e o lançamento de granadas pelo zelo com o bem estar e a integridade do
de efeito moral para aumentar a dispersão dos subordinado. Estes valores devem ser externados
populares. ainda durante o processo de seleção e
No entanto, durante toda a ocorrência, não treinamento para que os militares que ocupem as
houve qualquer disparo precipitado, acidental ou funções de comando nas diferentes frações
com munição real. E isto ficou caracterizado pelo operacionais possam realmente ser os mais
fato de somente terem ocorrido disparos após o capacitados para este tipo de missão.
recebimento de ordem para tal e após o primeiro Dessa forma, atuando em missões
tiro ter sido dado pelo comandante tático presente operacionais e assistenciais, o Esqd Fuz Mec F
na viatura precursora. Paz colaborou com a missão do BRABATT em
Outra situação crítica vivida pela tropa Porto Príncipe.
ocorreu de forma inopinada na noite de 10 de Portanto, em virtude da amplitude e da gama
agosto de 2008. Na avenida Nacional N° 1, no de missões desempenhadas pelo batalhão, quer
trecho compreendido entre a avenida Boulevard seja de cunho operacional ou de cunho
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assistencial e humanitário, e pela qualidade e
profissionalismo do soldado da Amazônia na execução
das tarefas, a soma dos resultados atingidos por cada
fração das subunidades foi reconhecidamente positiva
e contribuiu sobremaneira para o êxito do BRABATT na
missão de manutenção de um ambiente seguro e
estável no Haiti.

10.CONCLUSÃO

O emprego de militares e tropas brasileiras em


missões de paz tem sido uma realidade desde o término
da II Guerra Mundial.
No contexto atual, a participação militar brasileira
em missões da ONU tem colaborado com a projeção
política do país no cenário internacional. Além desta
projeção, a experiência adquirida pela força terrestre no
emprego convencional e não convencional soma-se à
experiência individual adquirida pelos militares que
tiveram o privilégio de integrar uma missão desta
magnitude.
No âmbito das missões de paz com tropa, a não
convencionalidade do emprego nas tarefas rotineiras
tem se apresentado como um desafio e também como
uma fonte inesgotável de ensinamentos para estudos e
pesquisas, com o objetivo de aprimorar a doutrina
existente face à atual conjuntura nacional e
internacional.
Assim, passados mais de quatro anos do início da
participação brasileira na MINUSTAH, pode-se
constatar uma eficaz e gradual evolução do quesito
segurança social no Haiti principal objetivo da missão
do BRABATT que, invariavelmente, tem sido fruto do
trabalho diuturno de planejamento e emprego de sua
tropa em diferentes frentes de atuação.
Nesse contexto de manutenção da paz com a
participação de tropas regulares, constata-se também
uma aplicação diferenciada da arma de Cavalaria, com
seus homens e meios, propiciando oportunidades para
o aprimoramento e para o estudo do emprego de
blindados em ambiente operacional urbano.

“O BRABATT é um tipo especial de tropa, difícil


de encontrar em missões de paz da ONU, por sua
postura, seriedade e, ao mesmo tempo, pelo
relacionamento cordial com a população. Trata-se
de uma tropa que inspira grande confiança a quem a
conhece ou tem contato com ela.”
DAVID HARLAND
Diretor de operações para Europa e América
Latina do Escritório de Operações do Departamento de
Missões de Paz da ONU (Julho 08) AC
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Possibilidades e Limitações da VBC M 60
em relação a VBC Leopard 1A5

Carlos Alexandre Geovanini dos Santos


e
Aládio Alves da Cruz Júnior
1. INTRODUÇÃO
No final da década de 1990, o Exército brasileiro (EB) adquiriu
seus primeiros carros de combate pesados, ou principais de batalha,
1
segundo tradução literal do termo MBT . Os blindados escolhidos
foram o M 60 A3 TTS e o Leopard 1A1, sendo o primeiro adquirido em
forma de leasing dos Estados Unidos e o segundo comprado da
Bélgica.
A família de carros de combate M60 de origem americana foi
concebida a partir do chassis da viatura M48, com os primeiros
protótipos construídos em 1958. Possui as variantes M60 A1, M60 A2 e
M60 A3. A versão A1 foi empregada com êxito na Guerra do Golfo em
1991. A última versão teve sua produção finalizada em 1987, obtendo a
notável marca de mais de 15000 veículos produzidos, tendo grande O autor é 1º Sargento de
aceitação no mercado internacional. Além do Brasil, Egito, Grécia, Irã, Cavalaria da turma de 1994 da
Israel, Jordânia, Marrocos, Oman, Portugal, Arábia Saudita, Espanha, Escola da Sargentos das
Armas (ESA). Está no CIBld
Taiwan, Tailândia, Tunísia, Turquia e Iêmen utilizaram ou utilizam a desde 2002 desempenhando
viatura. as missões de Monitor do
Módulo M 60 A3 TTS nos
O desenvolvimento dos veículos da série Leopard 1 data do final Estágios Técnicos e Módulos
dos anos 1950, tendo iniciado sua produção em 1963 pela empresa Pel CC e Seç Cmdo nos
Estágios Táticos. Atualmente
alemã Krauss-Maffei. Dispõe das versões Leopard 1 A1A1, A2, A3, A4 e desempenha a função de
A5. A versão mais moderna encerrou sua linha de produção em 1984. Auxiliar da Seção de Doutrina.
Brasil, Austrália, Bélgica, Canadá, Chile, Dinamarca, Grécia, Itália,
Noruega e Turquia são ou foram usuários da viatura.
Passada mais de uma década de utilização das viaturas,
inevitáveis são as comparações entre ambas no que se refere à sua
letalidade, trafegabilidade, capacidade de sobrevivência e
manutenção.
A seguir, será procedida uma breve comparação das possibilidades e
limitações do M 60, particularmente da versão adquirida pelo EB, em
relação ao Leopard 1 A5, concluindo sobre as possibilidades do
O autor é Major de Cavalaria da
blindado americano. turma de 1995 da AMAN, possui
mestrado em Operações
Militares pela Escola de
2. DESENVOLVIMENTO Aperfeiçoamento de Oficiais e
cursa o mestrado de Relações
a. Considerações quanto ao emprego operacional Internacionais pela
Universidade Federal de Santa
O M60 A3 TTS (versão nacional) dispõe de blindagem de aço, Maria. Teve uma passagem
face endurecida, com espessura máxima de 120mm, o que lhe confere como instrutor do CIBld entre
2000 e 2002. Atualmente
grau de proteção blindada superior à média dos carros de combate em desempenha a função de chefe
operação atualmente no teatro de operações sul-americano. A da Seção de Doutrina do CIBld.
blindagem do Leopard 1 A5, de material semelhante ao do M60, é de 70
mm de espessura máxima.
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Concebido na época da Guerra Fria, o M60 para o transporte ferroviário da viatura por conta
A3 TTS possui silhueta elevada, o que lhe de impedimentos como túneis e obstáculos
proporciona boa capacidade de explorar a laterais nas ferrovias. Assim, fica prejudicada a
realização de tiro com a depressão máxima do concentração estratégica dessa VBC em relação à
canhão. Esta característica faz com que a Vtr outra.
apresente excelentes condições de ocupar O consumo de combustível do M 60 A3 TTS é
posições de tiro em terrenos como o que bem superior ao verificado na VBC Leopard 1 A5,
predomina na região sul do Brasil. Ademais, fazendo com que esta tenha mais de 100 km a
permitem seu emprego em boas condições em mais de autonomia final.
operações defensivas e movimentos retrógrados, O M60 dispõe de dispositivo gerador de
onde a VBC necessitaria ocupar posições de tiro fumaça, além dos tubos lançadores de granadas
em áreas de comandamento. fumígenas, o que proporciona cobertura maior do
que a proporcionada pelo similar instalado no
Leopard 1 A5.

VBC M 60

No quesito trafegabilidade, o M 60 apresenta VBC Leopard 1 A5


desempenho inferior ao Leopard 1 A5, devido,
sobretudo, ao motor general Dynamics que lhe
confere 750 hp. Com peso pronto para o combate Os alcances de utilização dos armamentos
de 52617 kg, a relação potência-peso da Vtr é de orgânicos da Vtr são, respectivamente, 4000m
14,2 hp por tonelada. Diferentemente, a VBC para o canhão M68, 2000m para a metralhadora
alemã possui motor MTU MB 838 Ca M 500 de 830 M85 de calibre .50 e de 800m para a metralhadora
hp, com peso em ordem de marcha de 42400 kg. 7,62mm M-240. Em termos comparativos, a VBC
Dessa forma, sua relação potência-peso é de 19,6 Leopard 1A1 e A5 possui Can L7 de alcance
hp. O peso superior no M60 faz com que a Vtr semelhante e duas metralhadoras 7,62mm, sendo
necessite de pontes de classe 55 para suportar a uma coaxial e outra antiaérea, registrando alcance
passagem segura do blindado. O Leopard 1 A5 útil de 900m. Isto posto, verifica-se a maior aptidão
necessita de pontes de classe 45. Logo, torna-se da VBC M60 A3 TTS para o engajamento de alvos
mais difícil a passagem do primeiro por pontes de terrestres levemente blindados a distâncias
pequena capacidade, muito comuns na zona rural compreendidas entre 1000 e 2000m, além de
do país. melhor capacidade de realizar autodefesa
Ainda no quesito acima, o M60 é inferior ao antiaérea. Tais características, aliadas à facilidade
Leopard 1 A5 na capacidade de transposição de de operação da metralhadora .50 guarnecida pelo
fossos e obstáculos verticais e relação potência- Cmt da Vtr, aumentam a letalidade da VBC, bem
peso (vide tabela comparativa). Adicione-se a como sua capacidade de abater alvos aéreos.
ausência nessa viatura de limpadores de O M60 apresenta capacidade de
periscópio, diferentemente do Leopard A5, o que empaiolamento total de 63 munições de 105mm,
prejudica a condução do blindado com escotilha contra 60 e 55 das VBC Leopard1 A1 e A5
fechada. respectivamente. No interior da torre, inseridas em
As maiores dimensões (altura e largura) do M posição que viabilizam o carregamento do canhão,
60 em relação ao Leopard 1 A5 geram dificuldades o M60 A3 TTS dispõe de 37 cartuchos de 105mm.
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Comparativamente, os Leopard1 A1 e A5 têm média do teatro de operações sul-americano,
somente 14 e 13 respectivamente. Dessa forma, o além de proporcionar boas condições de
primeiro, em tese, consegue realizar mais do que o segurança para a guarnição.
dobro de disparos do segundo modelo sem
precisar realizar parada para remanejamento de
munições de forma a torná-las aptas a serem
carregadas no canhão.
O sistema de condução de tiro do M 60 A3
TTS permite o engajamento de alvos com muito
boa precisão, inclusive na situação de alvo e carro
em movimento. Tecnologicamente, se equivale em
época de produção ao sistema EMES 18 da VBC
Leopard 1 A5, com vantagem para o da viatura
alemã por possuir colimador de paralaxe,
dispositivo que permite o alinhamento da
aparelhagem de pontaria com mais precisão e em Termal do Leopard 1A5
locais de espaço reduzido como zonas de reunião.

Colimador de paralaxe
Termal do M 60

De acordo com a concepção do projeto da A VBC M60 A3 TTS é dotada de sistema de


viatura, a VBC M60 A3 TTS é de simples operação, proteção QBN composto de filtros e máscaras com
requerendo quantidade menor de carga horária respiração ventilada pela própria viatura. Esta
para a formação dos integrantes da guarnição do característica permite às guarnições do M60 de
carro de combate. conduzir operações em ambiente contaminado
Com relação à capacidade de combate por agentes químicos e nucleares, diferentemente
noturno, o M 60 A3 TTS possui sistema de visão da VBC Leopard, que dispõe de proteção apenas
termal para o comandante e atirador da Vtr com para abandonar a área contaminada.
alcance aproximado de 2500m, o que lhe confere b. Considerações quanto à manutenção
capacidade semelhante ao do Leopard 1 A5. da VBC
Contudo, na viatura alemã, adimite-se apenas a
A versão do M60 adquirida pelo EB foi
visada noturna ou diurna, diferentemente do M60,
produzida entre os anos de 1984 e 1988. Tendo em
que permite ambas simultaneamente. Além disso, vista sua recente fabricação, em tese, os custos de
o amplificador de luz residual para o motorista manutenção serão inferiores às viaturas
confere ao primeiro muito boa capacidade de produzidas na década de 1970.
trafegabilidade em condições de visibilidade
restrita, sendo, nesse item específico, superior ao Todos os componentes optrônicos da viatura
segundo. Assim, a tecnologia embarcada no M 60 são pressurizados com gás nitrogênio, conferindo
maior durabilidade e grande confiabilidade aos
permite capacidade de combate noturno acima da
instrumentos óticos.
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Durante a implantação da VBC M 60 A3 TTS o M60 A3 TTS um veículo de alta letalidade e
no EB, destaca-se o trabalho realizado pelo Pq R capacidade de sobrevivência no campo de
Mnt 5, que acumulou vasta experiência na batalha.
manutenção dos diversos sistemas da Vtr. Além disso, sua capacidade de combate
Inclusive, houve a implantação de eficiente noturno, aliada à adequabilidade ao terreno no
sistema de apoio de manutenção móvel, o qual qual é previsto seu emprego, ampliam as
este Centro usufrui desde que recebeu as viaturas capacidades de utilização do carro de combate
em 2001, ainda na guarnição do Rio de Janeiro, e em várias tipos de operações militares de caráter
que se estende até os dias atuais em Santa Maria. ofensivo e defensivo.
Avulta de importância o esforço empreendido No tocante à manutenção da viatura,
por aquela OM de apoio no sentido de buscar alto destacam-se a facilidade de formação de
índice de nacionalização de componentes. Dessa mecânicos e a vasta experiência acumulada pelo
forma, itens como filtros de ar, combustível e óleo, Pq R Mnt 5, obtendo, inclusive, alto índice de
bem como partes do trem de rolamento nacionalização de componentes. Essa
(almofadas e rodas de apoio) puderam ser característica se mostra desejável por reduzir a
produzidos pela indústria nacional, atenuando a dependência externa no setor defesa.
dependência externa no setor. Maior aporte de
investimentos facilitaria sobremaneira a Em face do exposto, conclui-se que a VBC
continuação desse processo. M60 A3 TTS possui características que oferecem
grande possibilidade de emprego da viatura. AC
Tendo em vista a menor complexidade do
motor do M 60 em comparação com os veículos da
família Leopard, a formação de mecânicos fica
facilitada, requerendo menor carga horária.

3.CONCLUSÃO

A VBC M 60 A3 TTS comprada pelo EB no


final da década de 1990 é a versão mais atualizada
da série. De maneira geral, equivale
tecnologicamente à VBC Leopard 1 A5. Teve
números de produção consideráveis e ampla
aceitação em vários países, com destaque para
Israel, Portugal e Turquia.
Em síntese, verifica-se que o M60 é superior
no quesito armamento e proteção blindada.
Entretanto, o sistema de direcionamento de tiro do
Leopard 1 A5 é ligeiramente superior. A viatura
alemã apresenta trafegabilidade maior que a do
primeiro, bem como tem sua concentração
estratégica facilitada. Com relação à capacidade
de combate noturno, ambas se equivalem, com
pequena vantagem para o M60 no que se refere
aos instrumentos de visão noturna à disposição do
motorista.
Com relação ao emprego operacional,
aspectos como alto grau de proteção blindada,
muito boa capacidade de engajamento de alvos
terrestres e aéreos, possibilidade de executar 37
disparos antes de parar para remanejar a munição
no interior da torre e facilidade de operação tornam

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TABELA COMPARATIVA ENTRE AS VBC M60 A3 TTS E LEOPARD 1 A5
Item VBC M60 A3 TTS VBC LEOPARD 1 A5

Armamento Can 105mm Can 105 mm

1X metralhadora .50 2 X metralhadoras 7,62mm (1 AAe)

1X metralhadora 7,62mm
Auto defesa 6 tubos lançadores de fumígenos e 8 tubos lançadores de fumígenos.
dispositivo gerador de fumaça.

Capacidade de 63 X 105 mm 55 X 105mm


Empaiolamento
900 X .50 5500 X 7,62mm

5 950 X 7,62mm

Quantidade de disparos 37 13
antes de parar para
remanejar munição na torre
Peso em ordem de marcha 52617 kg 42400 kg

Relação potência-peso 14,24 hp/ton 19,57 hp/ton

Pressão sobre o solo 0.87 kg/cm2 0,86kg/cm2

Potência do Motor 750 hp 830 hp


Maneabilidade no terreno Apresenta restrições Muito boa

Altura 3,27 m 2,76 m

Largura 3,63 m 3,25 m

Velocidade máxima 48,2 km/h 65 km/h

Autonomia máxima 480 km 600 km


Capacidade do tanque de 1457,2 l 985 lt
combustível

Vau 2,40 m (com preparação) 2,25 m (com preparação)


Degrau 0,914 m 1.15 m

Fosso 2,59 m 3,0 m

Blindagem 120 mm 70 mm

Operação simplificada complexa

Manutenção simplificada complexa


Formação de RH simplificada complexa

Infraestrutura nas OM Maior gasto com obras para suportar Menor gasto com obras devido ao
peso superior da viatura. peso inferior da viatura.
Experiência de Combate Guerra do Golfo (versão A1). Conflito do Afeganistão (versão C2,
E xcelente desempenho. utilizada pelo Canadá). Excelente
desempenho.

Países que utilizam (dados Brasil, Egito, Gréci a, Irã, Israel, Austrália, Bégica, Brasi l, Canadá,
de 2006) Jordânia, Marrocos, Oman, Portugal , Chile, Dinamarca, Grécia, Itália,
Arábia Saudita, Espanha, Taiwan , Noruega e Turquia.
Tailândia, Tunísia, Turquia e Iêmen

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Centro de Instrução de Blindados General Walter Pires
www.cibld.ensino.eb.br

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