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Paul Scharre
As opiniões expressas neste artigo são exclusiva- militares, investindo em tecnologias avançadas,
mente do autor. destinadas a enfraquecer a projeção de poder pelos
U
Estados Unidos da América (EUA) e eliminar suas
MA DÉCADA DE conflito aprimorou tradicionais vantagens. Os mísseis balísticos de
e ampliou nosso entendimento da longo alcance, os mísseis de cruzeiro antinavio,
guerra. Nosso léxico também precisa os sistemas integrados de defesa antiaérea,
mudar. As operações para estabilizar regiões as armas antissatélite e as armas cibernéticas
CFN dos EUA, Cb Reece Lodder
Fuzileiro Naval dispara um míssil Javelin de uma viatura, durante exercício no Centro de Combate Aeroterrestre do Corpo de Fuzileiros Navais
dos EUA, Twentynine Palms, Estado da Califórnia, 29 Ago 11.
Paul Scharre serviu na Arma da Infantaria, no 75o atualmente, o Gabinete do Secretário de Defesa. É bacharel
Regimento de Rangers, no Iraque e no Afeganistão. Integra, e mestre pela Washington University em Saint Louis.
“Extremo Inferior” Varia segundo a escala e a sofisticação das capacidades do adversário “Extremo Superior”
Operações de COIN, de Operações contra ameaças Guerra de mobilidade Operações contra-A2/AD
contraterrorismo e de “híbridas” (isto é, atores tradicional contra forças
estabilização não estatais providos de militares convencionais
armas sofisticadas)
Figura 2. Espectro de Operações Revisado
“operações de grande escala”. Essas campanhas COIN, conflitos “híbridos”, operações militares
consumiram, em certos momentos, os esforços de convencionais e operações contra ameaças de
cem mil ou mais soldados em cada um dos dois paí- A2/AD. Todas essas operações exigem diferentes
ses; duraram anos de conflito contínuo; custaram capacidades, métodos e conceitos de operação. Um
centenas de bilhões de dólares; e resultaram em espectro definido somente por nível de esforço
milhares de mortes de militares norte-americanos não apreende essas importantes distinções entre
e dezenas de milhares de feridos. Com base em as operações, sendo, em consequência, de mínima
qualquer parâmetro razoável, as guerras no Iraque utilidade.
e no Afeganistão são operações de grande escala.
Na verdade, as fases de estabilização das guerras Extremos Superior e Inferior de Quê?
nesses dois países acabaram exigindo um nível de As operações militares variam segundo nível de
esforço e uma duração consideravelmente maiores esforço, duração, tipo de conflito, tipo de adver-
que as invasões que derrubaram seus governos, sário ou muitas outras variáveis. Classificá-las ao
ambas as quais levaram apenas algumas semanas, longo de um espectro unidimensional é algo dema-
e não anos. siadamente simplista e problemático em diversos
As operações de estabilização e o combate de aspectos. Não obstante, “espectro de operações”
encontro convencional diferem consideravelmente continua a ser uma útil ferramenta heurística ou
em termos de Forças necessárias, adestramento e de síntese. Embora os termos “alta intensidade” e
equipamentos. Por exemplo, a Força que invadiu o “baixa intensidade” não façam mais parte do léxico
Iraque em 2003 era extremamente bem adestrada conjunto formal do Departamento de Defesa dos
e equipada para derrotar o Exército de Saddam, EUA, muitos militares e funcionários civis do
mas estava menos preparada (inicialmente) para setor continuam a empregar “alto” e “baixo” para
os desafios da estabilização e da contrainsurgência referir-se aos extremos de um espectro teórico de
que se seguiram. A gama de operações militares operações militares. No “extremo inferior” (ou
apresentada na JP 3-0 não faz essa distinção. “baixo”) desse espectro, estão atividades como
Segundo a referida publicação, tanto a invasão operações de COIN, de contraterrorismo e de
inicial do Iraque quanto a campanha de estabili- estabilização. No “extremo superior” (ou “alto”),
zação, que foi mais longa, sangrenta e dispendiosa, encontram-se as operações contra ameaças de A2/
enquadram-se no extremo direito desse espectro. AD, que estão entre os desafios mais sofisticados
Se avaliada com base no nível de esforço, é discu- que as Forças norte-americanas talvez venham a
tível se a invasão inicial do Afeganistão (realizada enfrentar.
por um número reduzido de Forças Especiais e Explícita ou implicitamente, “intensidade” é,
agentes da CIA no terreno, além do poder aéreo) com frequência, a variável com base na qual as
chegou a ser uma operação “de grande escala”. operações supostamente variam ao longo do
Por estar centrada em nível de esforço, a gama espectro dos conflitos. Dependendo de quem
de operações militares descrita na JP 3-0 não esteja falando, “intensidade” pode significar
registra diferenças qualitativas fundamentais entre nível de esforço, conforme o descrito na JP
Achatamento da curva por meio do reequilíbrio das capacidades para enfrentar futuras ameaças
REFERÊNCIAS
1. DEPARTMENT OF DEFENSE, Quadrennial Defense Review (Feb. 3. DEPARTMENT OF DEFENSE (DOD), DOD Directive 3000.07, Irregular
2010), p. 8-9, disponível em: <http://www.defense.gov/qdr/images/ Warfare (IW) (1 Dec. 2008), p. 11, disponível em: <http://www.dtic.mil/
QDR_as_of_12Feb10_1000.pdf>. whs/directives/corres/ disponível em: pdf/300007p.pdf>.
2. CHAIRMAN OF THE JOINT CHIEFS OF STAFF, Joint Publication 3-0, 4. Ibid, p. 11.
Joint Operations (22 Mar. 2010), I-8, disponível em: <http://www.fas.org/ 5. Para uma breve visão geral, consultar HOFFMAN, Frank. “Hybrid
irp/doddir/dod/jp3_0.pdf>. Warfare and Challenges”. Joint Force Quarterly 52 (January 2009): p. 36.