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Conteudista
Rodrigo Eloy dos Santos - Ten Cel Av
Julio Cesar do Amaral Junior - Ten Cel Inf
Design Educacional
Renata Lopes Machado Romanholi - 2º Ten PED
APRESENTAÇÃO
Este E-bookfaz parte da disciplina Poder Militar e foi desenvolvido com os
seguintes objetivos:
Compreender os conceitos de "zona cinzenta" e "Guerra Híbrida" no
contexto do "Continuum da competição" (Cn);
Compreender o "enfraquecimento" do modelo binário tradicional "guerra x
paz" e como isso está afetando as fronteiras tradicionais entre as esferas
civis e militares em segurança nacional (Cn);
Compreender os conceitos de "campanha integrada" e "operações em
múltiplos domínios" e como as FFAA podem aplicar esses conceitos no
ambiente operacional futuro (Cn);
Identificar ações de guerra híbrida em conflitos contemporâneos (Cn).
Sob este ponto de vista, percebe-se que: “Os líderes podem usar a força militar
como instrumento de poder nacional numa ampla variedade de operações que foram
frequentemente caracterizadas em três grupos.(JOINT CHIEF OF STAFF, 2017). Convém
destacar que o inimigo, nestes casos, geralmente é identificável, bem como assim o são suas
intenções e atitudes, que podem ser enquadradas nesta díade.
Mas o que está fazendo esta perspectiva que norteou o pensamento militar
ocidental por muitos anos, e provou seu valor em combate, ser posta em xeque?
3. A DOUTRINA GERASIMOV
A utilização do termo “guerra híbrida” pode ser recente.Entretanto, é possível
encontrar similaridades da definição ocidental com o pensamento militar Russo. Há registros
de que o pensamento estratégico moscovita valoriza a integração de instrumentos militares
com não-militares, bem como a manipulação da informação. Alexander Svechin, teórico
militar russo do início do século XX, registrou que a estratégia decide as questões associadas
ao emprego das forças armadas e de todos os recursos de um país para alcançar os
objetivos finais da guerra (SVECHIN, 1992) (grifo nosso). Alinhadas com esse pensamento,
a teoriae a doutrina russa não trabalham em termos de domínios, mas enxergam os
problemas em termos de instrumentos, efeitos e alvos.
Você acha que esta teoria soa similar com as ações de propaganda e subversão
executadas no passado da história mundial?
Alinhado com esse pensamento, nos anos 60, surgiu o conceito de controle
reflexivo, o qual passou a ganhar mais destaque e atenção a partir de 2001, com a criação de
um jornal científico próprio de publicação periódica – “ReflexiveProcessandControl”.
Você deve estar se perguntando, o que é controle reflexivo?
Para entender qual o papel de uma Força Aérea nestas operações, é natural
que se busque esta resposta na doutrina militar americana. A Força Aérea Americana possui
uma publicação doutrinária chamada “O papel da Força Aérea nas operações conjuntas de
múltiplos domínios”. Neste documento está registrado que:
Ainda que estes eventos não sejam alusivos a uma guerra entre dois países,
mas problemas internos que levaram a derrocada de regimes, a forma de condução do
conflito permite a identificação de uma característica da guerra híbrida. Num período de dois
anos, diversos países do Oriente Médio e do Norte da África passaram por uma onda
revolucionária de protestos contra governos autoritários e condições socioeconômicas. A
população teve um papel fundamental no desenrolar dos eventos, e o fator chave para
mobilizar as massas em um curto espaço de tempo foi a propagação da informação no
ciberespaço.
Com certeza todos estes fatos são perfeitos exemplos de ações de guerra
híbrida nos conflitos modernos. Em todos estes casos paira uma forte suspeita e há grandes
indícios circunstanciais que os ligam ao governo russo. Entretanto, não há uma comprovação
formal da autoria destes, o que é um dos grandes objetivos das operações conduzidas nesta
zona cinzenta. A falta de uma prova irrefutável - e as negações por parte dos líderes em
Moscou – tornam tais eventos e atores limiares (não são declarados, nem totalmente
encobertos), explicam parcialmente por que eles trouxeram pouco revés militar, político e
econômico, para a Rússia (KILCULLEN, 2020).
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo da história militar permite identificar modificações na condução da
guerra e estabelecer teorias basilares para o planejamento de combates futuros. Assim sendo,
a análise dos conflitos contemporâneos permitiu identificar a evolução nos métodos de
combater. O desenvolvimento de novas tecnologias propiciou o surgimento de novos
domínios para a guerra, tais como o espaço sideral e o ciberespaço. Diferenças culturais
entre países também promoveram o surgimento de novas doutrinas militares. Segundo a
doutrina Russa do General Gerasimov, a definição de guerra é bem mais ampla que o
conceito tradicional americano, levando o combate para além da competição entre tropas no
terreno (KILCULLEN, 2020).
É possível perceber que o foco dos métodos aplicados num conflito mudou na
direção do amplo uso de recursos políticos, econômicos, informativos, humanitários e outros
não militares, medidas aplicadas em coordenação com o protesto potencial da população.
Tudo isso é complementado por meios militares de caráter oculto, incluindo a realização de
ações de conflito informacional e as ações de operações forças especiais (GERASIMOV,
2016).
JOINT CHIEF OF STAFF. Doctrine for the Armed Forces of the United States. JP
1Washington Department of Defense, , 12 jul. 2017. Disponível em:
<https://irp.fas.org/doddir/dod/jp1.pdf>. Acesso em: 1 set. 2022
KILCULLEN, D. The Dragons and the Snakes : How the Rest Learned to Fight the West.
Nova York: Oxford University Press, 2020.
SANCHEZ, F. C.; LIN, W.; KORUNKA, K. Applying Irregular Warfare Principles to Cyber
Warfare. JFQ 92, 1st Quarter, 2019.
THOMAS, T. Russia’s Reflexive Control Theory and the Military. The Journal of Slavic
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