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ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING

A Guerra na Ucrânia: estratégia operacional militar russa ao espaço ucraniano e


ciberespaço

Gustavo Passos
Jonathan Davi
Luiza Hidalgo

“Guerra não é somente um ato político, mas também um instrumento político. Um


meio de continuação de relações políticas.” A definição de guerra de Clausewitz é bastante
visível na guerra Russo-Ucraniana durante a invasão de 2022. O embate político através da
força militar não é nada novo na história, mas um conflito entre dois estados modernos é algo
que não presenciamos desde a Segunda Guerra Mundial.
Ao longo da história militar da humanidade houveram muitos símbolos de poder
militar. Alguns desses símbolos servem também como demonstrações de status, como foi o
caso com espadas durante todo o período pré-pólvora. Mas nenhum símbolo é tão onipresente
como poder militar quanto a armadura. Em todos os períodos da história, a armadura foi o
aspecto de demonstração de elite bélica mais universalmente conhecido para o ser humano,
até sua obsolescência no final do século 18 com o advento de mosquetes mais poderosos. Em
seguida, se passou um século procurando desenvolvimentos capazes de rivalizar os avanços
de armamentos cada vez mais esmagadores. Artilharia, metralhadoras, fuzis de repetição. E
em 1916 surgiu o tanque. Novamente, a blindagem e a armadura se tornaram o símbolo
máximo de capacidade bélica ofensiva de um estado.
Contudo, na era militar moderna, os avanços de armamento são extraordinariamente
rápidos, e não há a esperança que sistemas defensivos consigam seguir no mesmo ritmo.
Além disso, conflitos e guerras nunca foram tão bem documentados antes, o que leva à
especulação de muitos sistemas militares por parte de leigos e especialistas. Na Guerra na
Ucrânia, a perda de blindados Russos foi documentada como em nenhum outro conflito. Com
a quantidade de informações hoje disponíveis livremente para acesso, foi possível identificar
exatamente quais modelos de blindados estavam presentes, qual batalhão estavam os
operando e um estimado do tempo e com qual arma foram abatidos. Com isso, novamente
surge a discussão da morte do blindado como um sistema de armamento. Não apenas é
discutida a morte do blindado como um sistema, mas como o veículo é um símbolo de poder
militar universal, junto com a “morte” do sistema vem também críticas à capacidade
ofensiva, organizacional e estratégica da Rússia, como se a invasão na Ucrânia fosse um
prospecto similar à invasão do Iraque ou no Afeganistão.
Um dos grandes diferenciais no conflito Rússia e Ucrânia, se não o maior, é a
chamada Guerra Cibernética. Ainda sem um conceito totalmente formulado, esta é
caracterizada por feitos de Estados-Nação em utilizar de meios de comunicação e da
informação para prejudicar o adversário, assim como, realizar operações militares, por
exemplo. De acordo com o Departamento de Defesa dos EUA (2010), a Guerra Cibernética é
composta por “Operações de Rede de Computadores (ORC), incluindo Ataque de Rede
de Computadores (ARC), Defesa de Rede de Computadores (DRC) e Exploração de Rede
de Computadores (ERC)”.
Em março de 2022, a rede BBC produziu uma matéria cujo intuito era apresentar a
ameaça de ações realizadas no ciberespaço. Foi destacado que o uso de hackers é tão
relevante quanto a destruição dos territórios da Ucrânia, caracterizando, assim, a guerra
híbrida, a qual ocorre através de ataques a sistemas como os de rede bancária e militar,
impossibilitando a população de obter informações em sites oficiais do governo ucraniano.
Concomitantemente, os cidadãos da Ucrânia recebem mensagens em massa que despertam o
caos nacional, que fazem referência a possíveis bombardeios e compartilham notícias falsas.
O poder russo negou a participação na condução destes feitos no ciberespaço, e a BBC afirma
que pelo menos um dos ataques realizados de forma on-line foram idealizados por hackers
que se identificam como “patriotas russos”.
O conflito cibernético visa, além de atacar a população e serviços ucranianos,
disseminar o sentimento de transtorno, desnortear o adversário, sendo visto como um plano
militar de atacar o oponente sem pegar em armas. Além de divulgar Fake News, o ataque de
invasores aos meios de informação impossibilita a comunicação entre as pessoas, as deixando
perdidas e estabelecendo a desordem.
Percebe-se, portanto, a relevância de estudo do conflito entre Rússia e Ucrânia no que
tange à estratégia operacional militar espacial e cibernética, com destaque ao número elevado
de armamento russo, tornando-se o grande conflito do século XXI, após a Segunda Guerra
Mundial, em que arsenal militar de grande quantidade não mais se havia visto. Em soma, o
uso de tecnologias e a utilização destas como forma de atacar o adversário, têm sido de
grande destaque e cabe um estudo aprofundado.
Para tanto, o objeto de estudo para a análise de conjuntura aqui desenvolvida, é
estabelecido através da seguinte pergunta: qual a relevância do conflito armamentista
entre Russa e Ucrânia em seus espaços físicos e virtuais? Vale lembrar que é impossível
executar o estudo das aplicações de ataque cibernéticas sem um entendimento claro e
objetivo da doutrina do estado examinado. Como na guerra em espaço físico, existem
preferências nos meios de exercer guerra. Estas preferências são denominadas doutrinas.
Sem um bom entendimento disso, o estudo do ambiente cibernético em conflitos armados se
perde em misticismos e palavras carregadas, como “ataque de hackers”.
Para tanto, é necessária a compreensão de que o uso de ataques cibernéticos só podem
ser analisados sob o entendimento estratégico do conflito relevante, através da interpretação
correta das doutrinas presentes. É relevante compreender a maneira como um país exerce a
guerra, a qual possui características únicas definidas a partir de doutrinas estabelecidas, ao
mesmo tempo em que apenas o ambiente cibernético não é suficiente para a tomada de
decisões e ações decisivas em um conflito armado.
Conclui-se, portanto, que o conjunto cibernético e físico coordenados, possibilitam o
enriquecimento da análise em questão, pois o sucesso de qualquer conflito armado está
fortemente relacionado com o uso inteligente e combinado de todos os recursos disponíveis, e
não apenas de algum fator mágico e único.
A guerra na Ucrânia vai muito além da dimensão militar. O próprio
desenvolvimento desse conflito, aliás, permite refletir sobre a natureza e as
tendências da guerra contemporânea e projetá-las para o futuro. Podemos dizer que,
mais que nunca, a “guerra não guerra”, ou a dimensão não militar da guerra, por
vezes toma tanta preponderância quanto o engajamento bélico entre as duas partes
em confronto.
CARMONA, Ronaldo. A Guerra na Ucrânia: uma análise Geopolítica. Revista
CEBRI, ano 1 / Nº 3 / Jul-Set 2022.

O trecho destacado acima, retirado do trabalho de Ronaldo Carmona, Professor de


Geopolítica da Escola Superior de Guerra (ESG), denominado “A Guerra na Ucrânia: uma
análise Geopolítica”, possibilita a compreensão da complexidade do poderio Russo, não
apenas militar, mas a força do uso da propaganda, desinformação e ataques cibernéticos,
fazendo um alerta a futuros conflitos que serão realizados de forma indireta, e poderão
utilizar de armas digitais a seu favor.
Com o entendimento do objetivo dos ataques cibernéticos em contexto com as ações
imediatamente anteriores e/ou após estes ataques, é possível entender qual o papel do ataque
cibernético na doutrina Russa com um grau de precisão aceitável, em que é destacada a
corrida armamentista, principalmente no setor da tecnologia. Este conjunto segue a tendência
do paradigma moderno do conflito armado; informação, desinformação, descentralização de
cadeia de comando e união de vetores de ataque.
REFERÊNCIAS

BBC NEWS. A guerra cibernética paralela entre Rússia e Ucrânia. BBC News Brasil, 01 de
março de 2022. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-60551648.
Acesso em: 28 de agosto de 2022.

CARMONA, Ronaldo. A Guerra na Ucrânia: uma análise Geopolítica. Revista CEBRI, ano 1
/ Nº 3 / Jul-Set 2022. Disponível em:
https://cebri-revista.emnuvens.com.br/revista/article/view/55/70. Acesso em: 09 de outubro
de 2022.

FM 6-30: Tactics, Techniques, and Procedures for Observed Fire. Headquarters,


Department of the Army: Washington DC, USA. 16 de julho de 1991. Disponível em:
https://www.marines.mil/Portals/1/Publications/FM%206-30.pdf. Acesso em: 02 de setembro
de 2022.

GONÇALVES, Bernardo Wahl. A dimensão cibernética da guerra entre a Rússia e a


Ucrânia em 2022: uma avaliação inicial passados 100 dias do conflito. Revista Hoplos, v. 6,
n. 10, p. 102-124, 31 jul. 2022. Disponível em:
https://periodicos.uff.br/hoplos/article/view/54787. Acesso em: 01 de setembro de 2022.

HABECK, Mary R. .Storm of Steel. The Development of Armor Doctrine in Germany and
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http://revistageopolitica.com.br/index.php/revistageopolitica/article/view/405. Acesso em: 01
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Visão TV. GEOPOLÍTICA COM INTELIGÊNCIA - Guerra Cibernética-Rússia X EUA.


YouTube, 01 de setembro de 2022. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?
v=uJfxH_1hu3M>. Acesso em: 02 de setembro de 2022.

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