Você está na página 1de 5

Exemplos de fake news geoestratégicas

introdução ao tema
"O Mérito Supremo consiste em quebrar a resistência do inimigo sem lutar." – Sun Tzu1 Há mais de dois
mil anos, o estrategista militar da China antiga Sun Tzu já se dava conta de que a guerra indireta é uma das
formas mais eficazes de combater um inimigo. Ela permite que um oponente derrote o adversário sem
enfrentá-lo diretamente, economizando assim os recursos que seriam despendidos em um confronto direto.
Atacar um inimigo indiretamente também pode atrasá-lo e colocálo na defensiva, deixando-o assim
vulnerável a outras formas de ataque. A guerra indireta também impõe certo custo de oportunidade ao lado
defensor, visto que o tempo e os recursos que ele acaba tendo que empreender para lidar com o ataque
indireto poderiam, não fosse o caso, ser colocados em melhor uso em outras áreas. Além das vantagens
táticas, há também as estratégicas. Pode ser que existam certas restrições (por exemplo, alianças, paridade
militar etc.) que previnam uma parte de lançar hostilidades diretamente contra a outra. Neste caso, a guerra
indireta é a única opção para desestabilizar o adversário. Nos dias de hoje, as armas de destruição em massa
e um mundo multipolar emergente impõem limites ao confronto direto entre Grandes Potências. Embora os
EUA ainda detenham as forças armadas convencionais mais poderosas do mundo, a paridade nuclear que
compartilham com a Rússia serve de lembrete de que a unipolaridade tem seus limites. Além disso, o sistema
internacional vem se transformando de tal modo que os gastos políticos e físicos para bancar uma guerra
convencional contra certos países (isto é, a China, Russia e Irã) estão se tornando um grande fardo para os
tomadores de decisão de Washington, fazendo assim dessa opção militar menos atrativa. Nessas
circunstâncias, a guerra indireta ganha destaque no planejamento estratégico, e sua aplicação pode assumir
uma variedade de formas. Embora, no passado, a guerra direta tenha sido marcada por bombardeiros e
tanques de guerra, se o padrão que os EUA vêm aplicando atualmente na Síria e na Ucrânia for indicativo de
algo, no futuro a guerra indireta será marcada por "manifestantes" e insurgentes. As quintas-colunas serão
compostas menos por agentes secretos e sabotadores ocultos e mais por protagonistas desvinculados do
Estado que comportam-se publicamente como civis. As mídias sociais e tecnologias afins substituirão as
munições guiadas como armas de "ataque cirúrgico" da parte agressora, e as salas de bate-papo online e
páginas no Facebook tornar-se-ão o novo "covil dos militantes". Em vez de confrontar diretamente os alvos
em seu próprio território, conflitos por procuração serão promovidos na vizinhança dos alvos para
desestabilizar a periferia dos mesmos. As tradicionais ocupações militares podem dar lugar a golpes e
operações indiretas para troca de regime, que são muito mais econômicos e menos sensíveis do ponto de
vista político. (citação do livro “as guerras hibridas” de Andrew Korybko)

O uso de noticias falsas para propaganda ideológica e militar exemplos:


1- Guerra Fraco-Prussiana: foi um acontecimento na Espanha que levou à Guerra Franco-Prussiana. O trono
espanhol estava vago desde a Revolução de 1868. Em 1870, os espanhóis anunciaram que ofereceriam a
coroa ao príncipe de origem alemã Leopoldo Hohenzollern, que era primo de Guilherme I, da Prússia.
Napoleão III afirmou que não aceitaria que um Hohenzollern fosse coroado rei da Espanha, pois isso
fortaleceria ainda mais a Prússia e, em caso de guerra, a França teria que enfrentar dois exércitos poderosos.
Após pressão da França, Leopoldo Hohenzollern recusou o trono espanhol. O ministro das relações
francês, o duque de Gramont, enviou o diplomata Vincent Benedetti para exigir que Guilherme I se
comprometesse a nunca permitir que um Hohenzollern tentasse assumir o trono espanhol. Em 13 de junho de
1870, Guilherme I caminhava pelas ruas de Ems, quando o diplomata francês se aproximou afirmando
que Napoleão III exigia que ele se comprometesse a não mais interferir na Espanha.

Guilherme I se sentiu incomodado e afirmou ao embaixador que essa questão já havia sido resolvida com o
governo francês. Guilherme I enviou um telegrama para Von Bismark que ficou conhecido como Telegrama
de Ems.

No telegrama o monarca descreveu o que ocorreu para Von Bismarck e afirmou que, se quisesse, este poderia
divulgar para a imprensa o ocorrido. Von Bismarck editou o telegrama, cortando trechos dele e modificando
seu conteúdo. A mídia alemã divulgou o telegrama modificado pelo primeiro-ministro, e parte da
população alemã entendeu a postura da França como uma provocação.

Na França, a imprensa novamente modificou o comunicado de Von Bismarck, dando a impressão de que o
embaixador francês havia sido humilhado pelo monarca da Alemanha. O povo foi as ruas implorando por
“guerra a Prussia” aumentou sobre Napoleão III a Pressão, e em 19 de julho de 1870, a França declarou
guerra à Confederação da Alemanha do Norte. Os reinos do sul da Alemanha se uniram às tropas da
Confederação da Alemanha do Norte para combater os franceses, como Plenejou Otto Von Bismarck em seu
plano de unir os reinos Germanicos em sua guerra contra a frança, que, com sua vitoria culminou na
formação do 2 Reich (império) Alemão.

2-Golpe na bolivia de 2019

Como apontado pela doutora e pesquisadora formada na Universite de Limoges (U.L.) Maria

Beatriz Oliveira da Silva foram utilizadas fake news como forma de desestabilizar o governo do
então presidentr Evo Morales(MAS-IPSP) A utilização das fake news na Bolívia não ocorreu somente
em 2019, haja vista que, conforme já analisado, o golpe foi uma construção. Ou seja, foi um fato que se
desenvolveu aos poucos, sendo que a renúncia presidencial fora somente o “ápice” de uma série de outras
ações da Guerra Híbrida. Em 2016, por exemplo, às vésperas do plebiscito que consultou a população sobre
a possibilidade de Evo Morales concorrer a mais um mandato, a oposição propagou inúmeras notícias falsas,
sendo que a mais debatida era que o presidente tinha um filho com Gabriela Zapata e que tentara esconder a
morte da criança. Outras acusações afirmavam que o filho de Morales estava em “exílio” no exterior, visando
a sua segurança. Todavia, após uma série de investigações, descobriu-se que, na realidade, a referida criança
nunca sequer existiu (Valença, 2017, apud El Cartel de la Mentira, 2016). Essa notícia e o cenário de
incerteza e caos gerado por ela foram, em grande medida, responsáveis pela perda de Morales no plebiscito,
o qual influenciou significativamente no desenrolar do golpe. Desse modo, entende-se que a influência do
“caso Zapata” se deu, principalmente, por questões psicossociais. Afinal, a relação do indivíduo com os
fatores que o circundam é determinante para a formação da identidade subjetiva, uma vez que é a partir disso
que se cria uma noção de responsabilidade (Barbosa, 2018). Nesse sentido, a oposição política de Morales,
estrategicamente, aproveitou-se desse sentimento de obrigação para com o outro e de indignação (os quais
são ainda mais intensos por se tratar de uma notícia envolvendo criança) para “conquistar corações e
mentes”, característica central da Guerra Híbrida. Ademais, é importante citar a invasão ocorrida em 2019 na
TV Bolívia, a qual sofreu um “apagão informativo”, permitindo que houvesse uma ênfase maior na internet e
na propagação de desinformações e fake news. Foi logo após essa tomada que os manifestantes utilizaram
intensamente o Twitter e o Facebook, objetivando criar um cenário (falacioso) anti-governo e,
consequentemente, dar legitimidade ao golpe (Guevara, 2019). Diante dessa constante utilização das redes
sociais e de bots, começou a se investigar a influência dos EUA e a instrumentalização das fake news no
processo de Guerra Híbrida. Isso porque, em 2020, o próprio governo interino assumiu a contratação de uma
empresa [12] Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.
Silva, M. B. O.; Anversa, A. E. C.; De David, T. D. Mural Internacional, Rio de Janeiro, Vol.12, e60375,
2021. DOI: 10.12957/rmi.2021. 60375 | e-ISSN: 2177-7314 estadunidense —a CLS Strategies— acusada de
espalhar fake news e desvirtuar o debate democrático (Laing, 2020). Nesse prisma, é importante salientar
também a advertência do Facebook, a qual expôs que a empresa estadunidense promovia, por meio de
diversos perfis falsos, campanhas em apoio ao governo interino da Bolívia, bem como oposição a Nicolás
Maduro —presidente da Venezuela— e ao partido do presidente do México, Andrés Manuel López Obrador
(O Globo, 2020). Com essa propagação de fake news, os perfis de Jeanine Áñez e Luis Fernando Camacho
(presidente do Comitê Cívico de Santa Cruz, responsável por convocar paralisação cívica e por ser forte
oposição ao governo de Morales) cresceram subitamente, sendo que grande parte desses seguidores foram
perfis criados apenas em novembro. Ainda em relação aos perfis falsos, ressaltase que no Twitter houve
diversas campanhas promovidas por robôs, citando-se como exemplo a utilização da hashtag:
“#NoFueGolpeFueFraude”

3- Golpe de 2013 Ucrânia (euromaidan)

Em meio ao self service de (des) informação de guerras híbridas, na qual pode-se escolher
qual versão dos fatos compartilhar, milhões de usuários nas redes sociais são utilizados
como peso narrativo pelo soft power e fortalecem instrumentos de pressão e propaganda de
potências globais, relata o Le Monde Diplomatique.
Amanhecemos quinta-feira, 24 de fevereiro, com milhões de pessoas comentando a crise no
Leste Europeu nas redes sociais. No entanto, quanto mais complexo e polêmico o assunto,
maior parece ser a margem para a desinformação dominar o debate.

Nas redes viu-se de tudo: fotos da Palestina sendo atribuídas ao conflito em Kiev; ministro
brasileiro acreditando em corrente de WhatsApp sobre o Bolsonaro ter negociado a
paz; filme russo como se fosse cena de guerra em Kiev; e até cenas de um videogame foram
compartilhadas como se fossem do conflito na Ucrânia.

Acontece que o problema maior é quando as fake news saem das redes sociais e impactam
as nossas vidas, seja propagando terror ou distorcendo a percepção da realidade. Com as
fake news cada vez mais visíveis, como o soft power se arranja nas disputas da geopolítica
global?
Fake news e soft power

Em março de 2021 vimos no Le Monde Diplomatique Brasil como a disputa entre o Tik Tok e o
Instagram também é reflexo de uma tensão geopolítica e comercial entre China e EUA. Não à toa,
pois a influência cultural e o soft power podem definir os moldes para pautar a percepção da
realidade e conduzi-la de acordo com os interesses de potências e do mercado.

Muito além dos top trends com danças e músicas virais, no entanto, a desinformação é um
fenômeno que circula em meio às disputas globais cada vez mais explicitamente. É importante
reforçar, porém, que “desinformação” não se trata da mera ausência da informação, mas de uma
informação existente, enganosa que tem como objetivo induzir ao erro. Isto é, para muito além do
“tio do zap” desavisado, existem Engenheiros do Caos (como escreve Giuliano da Empoli) que
forjam padrões para simular inclusive uma estética de memes e artes amadoras – sem contar as deep
fakes de conteúdos audiovisuais, com vídeos e áudios simulados.

Na prática, quando as cenas do videogame “Arma 3” viralizam com simulações de tiroteios


intensos, temos um cenário de comoção internacional que disputa o imaginário das pessoas e
corrobora com pressões internacionais nos mais diversos lados interessados na disputa. Diversas
foram as cenas de bombardeiros que na realidade ocorreram em outros momentos ou outros países,
onde sequer foi necessário criar um conteúdo falso, mas apenas retirar de contexto um vídeo real
consonante com a narrativa. Até mesmo emissoras brasileiras compartilharam trechos falsos sobre
ataques, levando ao caso do comentário ao vivo do ex-ministro Ricardo Salles sobre as cenas do
jogo de videogame como se fossem reais.

Há ainda o caso trágico de um tanque que atropelou um veículo civil. Em algumas plataformas,
porém, é possível encontrar tanto matérias que falam que o tanque seria russo quanto matérias que o
tanque seria do próprio exército ucraniano. (curisosamente o Tanque era um T-64 modelo
coummente utilizado pelo exercito Ucraniano)

Fontes:

https://guerrashibridas.files.wordpress.com/2018/03/guerras-hc3adbridas-a-abordagem-adaptativa-
indireta-com-vistas-c3a0-troca-de-regime-2.pdf

https://vermelho.org.br/2022/03/05/russia-x-ucrania-fake-news-como-propaganda-de-guerra-
hibrida/
Penido, A.; Stédile, M. E. (2021) Ninguém regula a América: guerras híbridas e intervenções estadunidenses na
América Latina. São Paulo: Expressão Popular/Fundação Rosa Luxemburgo. Recuero, R.; Gruzd, A. (2019). ‘Cascatas
de Fake news Políticas: um estudo de caso no Twitter’. Galaxia (41), pp. 31-47. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/gal/a/Kvxg4btPzLYdxXk77rGrmJS/?lang=pt [Acesso em: 02 set. 2021]. Rodrigues, B. S. (2020)
Guerra Híbrida na América do Sul: uma definição das ações políticas veladas. Sul Global, 1(1), pp. 139-168. Disponível
em: https://revistas.ufrj.br/index.php/sg/article/view/31949/pdf [Acesso em: 03 set. 2021]. Rojas, R. (2008). Bolívia é o
terceiro país da América Latina Livre de analfabetismo. Disponível em:
http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Bolivia-e-o-3%B0-pais-da-AmericaLatina-livre-de-
analfabetismo%0D%0A/6/14577 [Acesso em: 25 abril 2021]. Santos, J. P., et al (2021) Entre golpes brandos e rígidos:
uma análise crítica do livro Guerras Híbridas de Andrew Korybko. Princípios, n. 161, pp. 197-219. Disponível em:
https://revistaprincipios.emnuvens.com.br/principios/article/view/129/57 [Acesso em: 03 set. 2021]. Scotelaro, M.;
Ramos, L.; Teixeira, R. C. (2018) Acumulação por despossessão, novo imperialismo e neoliberalismo: notas sobre
David Harvey e o Internacional. In: Bugiato, C.; Garcia, Ana (Orgs.). Dossiê “Marxismo e Relações Internacionais”.
Crítica Marxista, n. 46, p. 163-172. Soeiro, T. D. M.; Araújo, J. G. D. N.; Matos, F. J. S. D. (2020) ‘Guerras híbridas e
fake news: a escalada da autoverdade’. Movimentos sociais e dinâmicas espaciais, 9 (2), pp. 55-69. Disponível em:
https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistamseu/article/view/247421/37244 [Acesso em: 30 abr. 2021]. Souza, J. (2020).
A guerra contra o Brasil. Rio de Janeiro: Estação Brasil. Souza, M. M. (2018) ‘Revoluções Coloridas e o golpe no
Brasil em 2016’. Terra Livre, 2(51), pp. 16- 53. Disponível em:
http://agb.org.br/publicacoes/index.php/terralivre/article/view/1519 [Acesso em: 31 mar. 2021]. Stédile, M. E. (2020)
‘A Aplicação das Guerras Híbridas no Brasil’. In: Coletivo Andorinha (Org.). O Brasil contemporâneo e a democracia.
Lisboa: Le Monde Diplomatique Portugal, pp. 131-152. Valença, D. A. (2017) Disjuntivas do Processo de Cambio: o
avanço das classes subalternas, as contradições do Estado Plurinacional da Bolívia e o horizonte do socialismo
comunitário

1. Bernays, Edward. "The Engineering of Consent", 1947. Acesso: 9 de julho de 2014. . 2. Campen, Col. Alan,
"Swarming Attacks Challenge Western Way of War". SIGNAL Magazine, abril de 2001. Acesso: 13 de julho de 2014. .
3. Cohen, Roger. "Leading From Behind", The New York Times, 31 de outubro de 2011. Acess: 8 de julho de 2014. . 4.
Dionne, Jr. , E.J., "The New Obama Doctrine: The U.S. Shouldn't Go It Alone". Investors's Business Daily, 28 de maio
de 2014. Acesso: 8 de julho de 2014. . 5. Golts, Alexander, "Are Color Revolutions a New Form of War?” The Moscow
Times, 2 de junho de 2014. Acesso: 7 de julho de 2014. . 6. Greene, Robert, "OODA and You", 24 de fevereiro de 2007.
Acesso: 8 de julho de 2014. . 7. Korybko, Andrew, "Color Revolutions: A Briefing of the Core Theoretical Mechanics".
Oriental Review, janeiro de 2014. Acesso: 9 de julho de 2014. . 8. Korybko, Andrew, "Poland as the 'Slavic Turkey' of
NATO Destabilization". Oriental Review, 21 de fevereiro de 2014. Acesso: 8 de julho de 2014. . 9. Mackinder, Halford,
"The Geographical Pivot of History". The Royal Geographical Society, abril de 1904. Acesso: 7 de julho de 2014. 126 .
10. Petit, Lieutenant Colonel Brian, "Social Media and UW". U.S Army John F. Kennedy Special Warfare Center and
School, 1º de abril de 2012. Acesso: 13 de julho de 2014. . 11. Savin, Leonid. "Coaching War." Open Revolt!, 23 de
julho de 2014. Acesso: 8 de agosto de 2014. . 12. Savin, Leonid. "Network Centric Strategies in the Arab Spring." .
Open Revolt!, 29 de dezembro de 2011. Acesso: 10 de julho de 2014. . 13. Sempa, Francis P., "Spykman's World".
American Diplomacy Publishers, abril de 2006. Acesso: 7 de julho de 2014. . 14. Szafranski, Richard, "Neocortical
Warfare? The Acme of Skill". RAND Corporation, novembro de 1994. Acesso: 9 de julho de 2014. 15. "US-Military
Logic behind Syrian Insurgency. The “Special Forces Unconventional Warfare” manual TC 18-01". NSNBC, 15 de
fevereiro de 2012. Acesso: 24 de junho de 2014. . 16. "Who Mr. Tefft is and what he brings to Russia". The Voice of
Russia, 2 de julho de 2014. Acesso: 12 de julho de 2014.

Você também pode gostar