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24/10/2022 13:19 Histórico de fake news: veja mentiras e casos de guerra suja nas eleições brasileiras - 22/10/2022 - Poder

0/2022 - Poder - Folha

ELEIÇÕES 2022
(HTTPS://WWW1.FOLHA.UOL.COM.BR/PODER/ELEICOES/2022/)

Histórico de fake news: veja mentiras e


casos de guerra suja nas eleições
brasileiras
Do caso Miriam Cordeiro à mamadeira de piroca, pleitos sempre foram acompanhados
de distorções e falsidades

22.out.2022 às 14h42

Felipe Bächtold (https://www1.folha.uol.com.br/autores/felipe-bachtold.shtml)

SÃO PAULO Se hoje as mentiras e os boatos na sucessão presidencial envolvem de


disparos em massa (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/09/disparo-em-massa-com-ameacas-a-favor-de-
bolsonaro-vira-alvo-de-investigacao-no-parana.shtml) às deepfakes

(https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/09/confira-o-que-e-e-dicas-para-detectar-deepfake-nas-redes.shtml) (técnica

que altera vídeos), em eleições de décadas passadas os métodos eram bem mais
prosaicos, como a distribuição de panfletos sem autoria e até rumores
espalhados em filas de aposentados.

Muito antes de surgir o termo fake news, os pleitos desde a redemocratização


(https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/08/eleicao-comeca-nesta-3a-veja-almanaque-das-disputas-presidenciais-de-1989-a-

também tiveram ondas de informações distorcidas e especulações sem


2022.shtml)

fundamento sobre possíveis planos de presidenciáveis.

Nos anos 1980 e 1990, a economia era um dos assuntos preferidos a inspirar
histórias farsescas. Era uma época profundamente afetada pela inflação
(https://www1.folha.uol.com.br/folha-topicos/inflacao/) e pela perspectiva de estabilidade com o

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Plano Real. (https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2022/05/filhos-do-plano-real-lidam-com-inflacao-pela-primeira-


vez.shtml)

Baixarias também marcaram alguns dos pleitos anteriores, inclusive no horário


eleitoral. A discussão sobre o aborto, frequente em 2022,
(https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/10/tse-veta-propaganda-de-bolsonaro-que-acusa-lula-de-incentivar-o-aborto.shtml)

apareceu também em 1989, na primeira campanha após a ditadura.

Modelo de urna eletrônica usado nas eleições


- Rubens Cavallari/Folhapress

1989

A primeira eleição da redemocratização, cujo acirrado segundo turno foi


disputado entre os candidatos Fernando Collor (então no PRN) e Lula (PT), foi
pródiga em mentiras e golpes baixos.

Collor levou ao ar depoimento da enfermeira Miriam Cordeiro,


(https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/08/denuncia-de-ex-ameaca-de-fome-e-nanicos-marcaram-propaganda-eleitoral-

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veja-videos.shtml) mãe de uma filha de Lula. No vídeo, ela dizia que o candidato havia
oferecido dinheiro para que ela abortasse a criança. O petista rebateu a história
gravando um vídeo com a filha, Lurian, e levou a peça ao ar no horário eleitoral.

Na reta final daquela eleição, a campanha petista se viu atacada ao ser


falsamente associada aos sequestradores do empresário Abílio Diniz,
(https://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u45205.shtml) raptado às portas da votação. O
sequestro foi orquestrado pelo MIR (Movimento de Esquerda Revolucionária),
do Chile, e a libertação ocorreu no dia do segundo turno.

1994

A campanha seguinte ocorreu enquanto o país tentava se adaptar à


implantação do Plano Real (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/09/1994-trama-internacional-em-ny-
garantiu-o-sucesso-do-real.shtml). Candidato do então presidente Itamar Franco, o tucano
Fernando Henrique Cardoso havia participado da elaboração do projeto e
contava com o sucesso dele para alcançar a vitória.

Seus adversários o acusavam de criar um plano meramente eleitoreiro, no qual


haveria uma ilusória estabilidade até a eleição, que logo se esvairia no
fechamento das urnas.

De fato, havia um precedente não tão antigo do tipo: em 1986, o Plano Cruzado,
do governo José Sarney, (https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2020/02/plano-cruzado-levou-governo-de-
jose-sarney-do-ceu-ao-inferno.shtml) controlou temporariamente a inflação e impulsionou

candidatos governistas, que venceram as disputas estaduais por quase todo o


país. Logo depois, os fundamentos do plano desmoronaram.

O pedetista Leonel Brizola, que disputava a Presidência pela segunda vez,


chamava o real de "golpe da moeda". Petistas diziam que era uma questão de
tempo até "o real começar a fazer água".

Lula, que liderou as pesquisas até a estreia do real, inicialmente criticou as


supostas segundas intenções por trás do plano. Com a nova moeda ganhando
popularidade, teve de adaptar o discurso: evitava elogiar, pelo risco de
favorecer o adversário, e, diante dos bons resultados do plano, evitava criticá-
lo.

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A virada sobre o PT não ocorreu sem ataques por parte do vitorioso. A


campanha de Lula criticou o PSDB por ter espalhado que havia o risco de calote
na dívida se o petista fosse eleito. À época, a Folha noticiou
(https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/8/03/caderno_especial/22.html) que o PT montava uma central

antiboatos, preocupado com a repetição do fenômeno ocorrido em 1989.

1998

Na mais morna das campanhas, em que FHC foi reeleito sem sustos, a
economia voltou a despertar ataques contra o governo da época. Era a primeira
disputa em que a reeleição foi autorizada.

Criticada por opositores, a gestão do PSDB precisou se blindar contra a tese de


que haveria, logo após a votação, mudanças na economia, diante de um cenário
de crise internacional (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/09/1998-crise-russa-e-mercados-indoceis-
marcam-a-reeleicao-de-fhc.shtml)e fuga de dólares do país.

(https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/09/1998-crise-russa-e-mercados-indoceis-marcam-a-reeleicao-de-fhc.shtml)

Lula concorria pela terceira vez. Semanas antes da eleição, a propaganda do PT


divulgava na TV: "Governo brasileiro negocia secretamente com o FMI um
pacote monstruoso para logo após as eleições: cortes sociais e impostos
desumanos". O PSDB ganhou direito de resposta.

2002

Uma onda de especulações sobre eventuais medidas de Lula, caso eleito, afetou
a economia brasileira naquele ano, com alta do dólar e da inflação. O petista
esteve à frente das pesquisas desde o ano anterior.

No início da campanha, Lula divulgou um documento considerado histórico, a


Carta ao Povo Brasileiro, no qual se comprometeu a manter os fundamentos
econômicos em vigor e a respeitar contratos.

Também no campo da economia, o trauma vivido com a ascensão e a queda de


Collor, afastado em 1992, serviu de munição naqueles anos contra candidatos
que nada tinham a ver com o presidente afastado.

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Em 2002, o confisco das poupanças ordenado em 1990 voltou a virar tema de


campanha, até porque a Argentina vivia drama parecido, com a implantação de
um bloqueio bancário apelidado de corralito.

O então presidenciável Anthony Garotinho acusava o adversário Ciro Gomes


(https://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u34491.shtml)de
planejar algo parecido. "O Ciro vai
fazer o que o Collor fez. Eu não vou tocar na caderneta de poupança de
ninguém."

2006

Um dos termômetros para o alcance ou a preocupação com boatos e distorções


é a resposta dos candidatos atacados. Não raras vezes é preciso vir a público
rechaçar teses especulativas e conter danos.

Uma das mais curiosas reações foi a do então presidenciável tucano Geraldo
Alckmin (https://www1.folha.uol.com.br/folha-topicos/geraldo-alckmin/).

Ao reagir a afirmações de adversários petistas de que iria acelerar privatizações


se eleito, Alckmin vestiu no segundo turno um boné do Banco do Brasil e uma
jaqueta com logomarcas de outras estatais, como Correios, Petrobras e Caixa, e
posou para fotos em agenda de campanha.

Em tom de desabafo, disse: "Quero desfazer o boato, me sinto até constrangido


em ter que fazê-lo. Meu programa tem 216 páginas e nenhuma linha que trate
de privatização".

O adversário dele no segundo turno naquele ano foi o seu atual companheiro
de chapa, Lula.

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O então candidato a presidente do PSDB, Geraldo Alckmin, posa com jaqueta com logotipos de
estatais para rebater acusações sobre planos de privatização
- Alan Marques -
18.out.06/Folhapress

2010

A disputa presidencial que opôs a então estreante Dilma Rousseff (PT) e


novamente o tucano José Serra (postulante em 2002) teve a religião como tema
de destaque. Petistas atribuíram a realização do segundo turno, mesmo diante
do favoritismo de Dilma, a ondas de boatos nas igrejas sobre o tema do aborto.

Em debate após a primeira votação, o tema foi muito discutido.


(https://www1.folha.uol.com.br/poder/2010/10/812820-dilma-e-serra-trocam-acusacoes-sobre-aborto-em-debate-na-tv.shtml)

Dilma disse que Serra regulamentou o acesso ao aborto no SUS quando foi
ministro. O tucano pôs em dúvida a crença de Dilma em Deus.

Serra se dizia atacado também (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2010/08/785564-serra-acusa-governo-


de-financiar-blogs-sujos-e-perseguir-jornalistas.shtml) por "blogs sujos" financiados com dinheiro

público pelo governo da época.

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Reportagem da Folha mostrou na época que boatos contra o tucano em


Manaus ajudaram a derrubar a votação dele na cidade. Adversários atribuíam a
ele proposta de acabar com a Zona Franca de Manaus, e o candidato acabou o
primeiro turno com apenas 6,6% dos votos válidos na capital, ante 32,6% no
país.

O PSDB era alvo ainda de especulações sobre um suposto plano de acabar com
o Bolsa Família. Serra chamava os ataques de "terrorismo eleitoral" e prometeu
duplicar os investimentos (https://www1.folha.uol.com.br/poder/763022-serra-promete-que-vai-duplicar-
numero-de-familias-com-bolsa-familia.shtml) no programa social.

"Por que a pergunta? Porque disseram para você que eu vou acabar [com o
programa]? Então eu gostaria de saber a fonte. Isso é uma mentira total",
afirmou ele, irritado, a uma repórter de uma rádio estatal.

Na eleição seguinte, quando o candidato do PSDB foi Aécio Neves, o partido


propôs que o Bolsa Família se tornasse em lei "política de Estado",
(https://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/10/1364406-aecio-promete-transformar-bolsa-familia-em-programa-de-

estado.shtml) como forma de debelar os rumores.

2014

Destaque nas pesquisas de intenção de voto em meados da campanha, a então


candidata do PSB, Marina Silva, passou dias rebatendo especulações e ataques
sobre seu programa de governo.

No horário eleitoral, Dilma, candidata à reeleição, dizia que a adversária, em


razão de seu foco ambiental, iria parar a exploração do pré-sal, um dos trunfos
políticos do PT. (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/08/1508243-visao-de-marina-sobre-pre-sal-e-retrocesso-
afirma-dilma.shtml)

A estratégia de desconstrução de Marina ficou simbolizada em um vídeo sobre


uma proposta de autonomia do Banco Central no qual a comida desaparecia do
prato de uma família. Marina acabou em terceiro lugar e, devido ao episódio,
até este ano não mostrava disposição em se reaproximar do PT.

Aquela foi a primeira eleição com uso mais disseminado do WhatsApp. No dia
do segundo turno, espalhou-se rapidamente o boato de que havia morrido

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envenenado o doleiro Alberto Youssef, (https://www1.folha.uol.com.br/folha-topicos/alberto-youssef/)


preso e delator da Operação Lava Jato, investigação que ainda estava em suas
fases iniciais. A história falsa incluía ainda o relato de que a informação estaria
sendo segurada por causa da realização do pleito.

A PF e a filha dele rechaçaram a farsa. "É mentira. Ele está bem", disse Caroline
Youssef à Folha. (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/10/1538547-meu-pai-esta-bem-diz-filha-do-doleiro-
alberto-youssef-internado-no-pr.shtml)

2018

"No voto para presidente, não aparece a opção 'confirma'. Aparece a tela
gravando. Ou seja: está adulterado e fraudado." A frase sobre as urnas é de uma
live do então deputado federal Fernando Francischini, à época do PSL do
Paraná, no dia da eleição de 2018 e custou a ele a cassação do mandato três
anos depois (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/10/tse-decide-cassar-deputado-bolsonarista-que-espalhou-fake-
news-sobre-urnas.shtml) na Justiça Eleitoral por difusão de desinformação.

A eleição daquele ano marcou uma explosão de mentiras, já ultrapopularizadas


pelo país, assim como a dos apps de mensagens, que passaram a ser via de
transmissão de farsas por meio de vídeos e áudios.

Reportagem da Folha revelou na época (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/10/empresarios-


bancam-campanha-contra-o-pt-pelo-whatsapp.shtml) também que empresários apoiadores de Jair

Bolsonaro (então no PSL) bancaram a compra de envios de mensagens em


massa contra o PT no segundo turno da eleição.

Além do volume de mentiras, o pleito entrou para a história pelos


questionamentos à integridade da Justiça Eleitoral. Líder nas pesquisas,
Bolsonaro esteve à frente dessa mobilização e acabou eleito.

Um dos símbolos brasileiros das "fake news", expressão popularizada com a


eleição de Donald Trump nos EUA em 2016, foi a chamada "mamadeira de
piroca". A farsa falava de mamadeiras com bico em formato de pênis que teriam
sido distribuídas em creches pelo PT "com a desculpa de combater a
homofobia".

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