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Período Populista (1945-1964)


O Período Populista é um breve período democrático situado entre duas ditaduras
políticas, entre o final do Estado Novo, em 1945, e o início do Período Militar, em 1964.
Apesar de se configurar em um regime democrático, o Brasil viveu uma fase bastante
conturbada, o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954, a renúncia de Jânio Quadros, em 1961,
e a tentativa de golpe militar, ainda no mesmo ano, foram os momentos mais evidentes da
instabilidade e da fragilidade da democracia brasileira. Três anos depois, o golpe militar seria
concretizado.
Esse período é denominado populista porque os presidentes buscavam sua
legitimidade pelo voto, mas também pelo carisma e pelo
apoio popular constante. São políticos personalistas, que
estão acima dos partidos políticos e estabelecem uma
relação direta com a população. Também foi um período
marcado pela modernização, urbanização e
industrialização do Brasil e da América Latina. O
governo brasileiro financiava a iniciativa privada visando
aumentar o número de indústrias no Brasil. Para custear
esses financiamentos e incentivos, o governo recorreu ao
capital estrangeiro, em especial ao capital oriundo dos
Estados Unidos.
A população urbana aumentou muito neste período
devido à migração das áreas rurais em direção às
grandes cidades. A classe média urbana cresceu em
número e em consciência
política, exigindo do governo
O carisma e a simpatia eram as
melhorias em todos os marcas dos presidentes
setores, principalmente na populistas, como Vargas e JK.
educação, na saúde e nos
benefícios sociais. A cultura também se ampliou, os brasileiros
passaram a ler mais e a consumir com maior intensidade
produtos culturais. Os artistas e intelectuais brasileiros estavam
mais politizados e críticos em relação ao governo. Um exemplo
disso é a peça teatral Eles não usam black-ties (1958), de
Gianfrancesco Guarnieri, que aborda no palco uma greve de
trabalhadores.

Início do período populista: no dia 29 de outubro de


A peça Eles não usam 1945, Getúlio Vargas estava pressionado pelo exército, que
black-ties inovou ao havia cercado o palácio do Catete, e sem esboçar resistência
trazer para o centro da assinou o termo de renúncia à presidência da República. Era o
história a questão dos fim do Estado Novo. O ministro do Supremo Tribunal Federal,
trabalhadores urbanos e José Linhares, tomou posse e garantiu as eleições presidenciais.
do direito de greve, O eleito foi o marechal Eurico Gaspar Dutra, com o apoio
sintoma do novo Brasil
decisivo de Vargas, Dutra venceu o brigadeiro Eduardo Gomes.
urbano e industrial.
Em setembro de 1946 foi promulgada a nova Constituição: o país
voltava à ordem democrática, com garantia das liberdades civis e corporação dos direitos
trabalhistas de Vargas, mas mantinha o centralismo implantado pelo Estado Novo.

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Governo Eurico Gaspar Dutra (1946-1950)
O governo do marechal Eurico Gaspar Dutra ocorreu no inicio da Guerra Fria, nos
anos mais agudos desse combate, o período da nova definição geopolítica e política do
mundo com a divisão do “planeta” entre Estados Unidos e União soviética. A Guerra Fria se
caracteriza por um alinhamento dos países ao capitalismo norte-americano ou ao
comunismo soviético. No caso do Brasil, uma aliança de colaboração mútua será assinada
com os Estados Unidos pelo presidente Dutra.
O governo Dutra combateu o comunismo, fechou o Partido Comunista Brasileiro
(em maio de 1947), cassou os deputados federais do partido e o senador comunista Luis
Carlos Prestes, presidente do PCB. O Brasil também rompeu relações diplomáticas com a
União Soviética e permitiu que a CIA atuasse dentro do país na
investigação de possíveis comunistas. O pretexto para extinguir o
Partido Comunista foi uma declaração do senador Prestes que foi
propositalmente distorcida pelos anticomunistas.
Em 1949, dentro desse “espírito” de combater o comunismo
foi criada e Escola Superior de Guerra (ESG) visando treinar
líderes civis e militares para um possível confronto mundial entre
os Estados Unidos e União Soviética. A ESG foi montada com a
orientação dos EUA e direcionada para o combate ao comunismo
na Guerra Fria.
O dinheiro que o Brasil recebeu por ajudar os Estados
Unidos no combate ao comunismo foi destinado ao chamado
Plano Salte. O Plano era um planejamento econômico do governo
que priorizava investimentos em 4 setores da economia: saúde, A Copa do mundo foi
alimentação, transporte e energia. Porém, poucas obras realizada no Brasil em
previstas no plano foram realmente realizadas. As principais foram 1950, pois a FIFA
a concretização da Rodovia Eurico acreditava que o
continente europeu
Gaspar Dutra, a construção do estava sem condições de
Estádio do Maracanã para a Copa realizar os jogos devido a
do Mundo de 50 e da companhia recente Guerra Mundial e
Hidroelétrica do Rio São Francisco. os conturbados primeiros
anos da Guerra Fria.
O objetivo central era a expansão
da produção elétrica e a modernização dos meios de
transporte e da infraestrutura necessária para o aumento da
produção industrial. O governo chegou a isentar impostos
para a importação de maquinas visando estimular a
modernização das fábricas brasileiras.
A decisão mais polêmica do governo Dutra foi a
proibição dos chamados jogos de azar no Brasil, o
fechamento dos cassinos. O Rio de Janeiro possuía uma rede
O Cassino da Urca chegou a
ser considerado o principal
de cassinos muito frequentada por estrangeiros, o que atraia
cassino do mundo na década um grande número de turistas e muitos dividendos financeiros
de 50. No cartaz, uma para o Brasil. O motivo alegado para o fechamento dos
atração “internacional”: cassinos foi de ordem moral, o jogo levava aos mais diversos
Carmem Miranda.
vícios. O maior cassino do Brasil era o Cassino da Urca, que
além de jogos era uma casa que oferecias espetáculos artísticos e musicais. Carmem
Miranda chegou a ser cantora contratada pelo cassino. Essa lei vigora ainda hoje no Brasil.
No aspecto político, Dutra desfrutou de estabilidade porque a aliança que o elegeu,
Partido Social Democrata (PSD) e Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), era maioria na

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Câmara Federal. Mesmo assim, o governo Dutra pouco realizou. Não conseguiu reduzir a
inflação e nem aumentou o salário mínimo. Com a taxa inflacionária aumentando, ficava
cada vez mais difícil a vida do trabalhador brasileiro. Apenas no ano de 1946 ocorreram mais
de 200 greves no Brasil.
No dia 1° de agosto de 1947, o aumento da tarifa dos ônibus e dos bondes na cidade
de São Paulo provocou uma rebelião popular. Mais de cem coletivos foram depredados,
postes foram arrancados e houve confronto com a polícia. Os revoltosos se dirigiram para a
prefeitura e incendiaram carros oficiais. Soldados armados dissolveram os revoltosos, muitos
trabalhadores foram feridos.

Governo Getúlio Vargas (1951-1954)


Getúlio Vargas resolveu ser candidato novamente à presidência da República nas
eleições de 1950. Durante a campanha presidencial, ele buscou mudar a sua imagem de
ditador e criar uma imagem de político democrático e
moderno, mas sempre preocupado com os trabalhadores.
Vargas defendeu durante a sua campanha enfatizou a
necessidade de criar no Brasil as condições necessárias
para a industrialização do país e criticou Dutra, o seu
antecessor, e que ele havia apoiado, por subordinar-se aos
interesses norte-americanos. A estratégia deu certo, Vargas
obteve 48,7% dos votos, contra 29,7% do brigadeiro
Eduardo Gomes.
Depois de eleito, Getúlio denunciou a exploração das
empresas norte-americanas com filiais no Brasil. Essas
empresas estrangeiras estariam “roubando as riquezas
nacionais”, segundo o presidente. Além disso, Vargas
recusou-se a enviar tropas brasileiras em apoio ao exército
norte-americano na Guerra da Coreia, como exigiam os
Estados Unidos. A relação
entre os dois países tornaram-se tensas.
Vargas adotou uma postura nacionalista, onde
buscava estimular a expansão da indústria de base e a
ampliação do setor energético. O presidente enfatizou a
necessidade de controle estatal da produção e distribuição
da energia elétrica e do petróleo para que o país tivesse
autonomia no seu desenvolvimento industrial.

A criação da Petrobrás: a principal bandeira do


governo Vargas foi a chamada nacionalização do setor
petrolífero com a criação da Companhia Brasileira de
Petróleo (Petrobrás), uma empresa estatal com a
exclusividade da extração do petróleo no Brasil. A A criação da Petrobrás ligou
Petrobrás é a maior estatal da história do Brasil. Uma definitivamente a imagem de
campanha nacional foi realizada para viabilizar a criação da Vargas ao petróleo e ao
nacionalismo
estatal, a campanha do “Petróleo é nosso”. Em tempos de
Guerra Fria, o monopólio estatal da extração do petróleo foi interpretado pelo governo norte-
americano como um ato comunista – onde a economia é estatal – do governo brasileiro, o
que piorou ainda mais as relações entre os dois países, estremecidas desde o início do
governo Vargas.
O projeto inicial do governo brasileiro não deixava claro o caráter de monopólio estatal
da nova empresa. Inicialmente o governo teria e controlaria “apenas” 51% da nova empresa,

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ou seja, o governo teria o controle da empresa, mas ela não seria uma estatal. Porém, em
uma estratégia de Vargas, o decreto final de criação da estatal ampliou a participação do
Estado para cem por cento!
Vargas tentou ainda criar as Centrais Elétricas Brasileiras (Eletrobrás), mas o projeto
não foi aprovado no Congresso. Seria outra estatal ao estilo Petrobrás, possuindo o controle
da distribuição da energia elétrica. Apenas em 1961, o projeto da Eletrobrás seria finalmente
aprovado.
Os discursos de Vargas eram extremamente populistas, buscando uma relação dieta
e emocional com “as massas”, apresentando-se como um defensor dos mais humildes. Mas
os trabalhadores enfrentavam duas grandes dificuldades reais: a inflação que continuava
alta e a falta de atendimento médico gratuito. Getúlio tentando resolver essa carência de
atendimento médico criou o Ministério da Saúde, em 1953. Neste mesmo ano, o país foi
agitado por uma série de protestos populares e saques em supermercados. A maior
manifestação ocorreu na Praça da Sé, em São Paulo, que reuniu mais de trezentos mil
pessoas, exigindo medidas contra a inflação. Esse protesto foi organizado pelo Partido
Comunista e ficou conhecida como a “Greve dos Trezentos Mil”.
Em fevereiro de 1954, um grupo de 88 oficiais do exército lançou um manifesto que
ficou conhecido como “Manifesto dos Coronéis”. Segundo os militares, o comunismo
estaria avançando no Brasil, inclusive entre os próprios assessores do presidente. O
manifesto se referia, veladamente, a indicação de João Goulart (Jango) para o Ministério do
Trabalho. Jango era visto pelos militares como um simpatizante do comunismo devido a sua
relação direta com os sindicatos de trabalhadores. Os militares também estavam
descontentes com o baixo valor dos soldos (salários) e
a falta de aparelhamento das Forças Armadas.
O partido de oposição a Getúlio era a União
Democrática Nacional (UDN), do jornalista Carlos
Lacerda, que iniciou uma série de denúncias sobre
desvios de verbas do governo. Lacerda acusa o
governo de estar envolvido em um “mar de lama”.
Além do jornal de Lacerda, chamado Tribuna da
imprensa, outros veículos entraram nessa campanha
contra o governo, como os jornais O Globo e O Estado
de S. Paulo. Lacerda também acusa Getúlio de estar
tramando um golpe, junto com a Argentina e o Chile,
para expulsar as empresas norte-americanas do Brasil.
Getúlio responde aos oposicionistas autorizando
o aumento de 100% aos trabalhadores. Esse aumento
havia sido concedido por Jango. Getúlio buscava,
obviamente, o apoio dos trabalhadores. Esse aumento,
porém, foi utilizado por Lacerda e pelos militares como
prova de que o governo estava se aproximando cada
vez mais do comunismo. Dia 5 de Agosto: Lacerda leva um tiro no
atentado da rua toneleros, em
Copacabana, onde ele morava.
O Atentado da Rua Toneleros. Em meados de
1954, os discursos de Carlos Lacerda contra o governo foram ficando cada vez mais
inflamados e radicais. A inflação continuava subindo e as greves voltaram a ocorrer em São
Paulo. Porém, no mês de agosto um acontecimento vai mudar o rumo da história do Brasil.
Lacerda vai sofrer um atentado a tiros, um matador profissional dispara contra o jornalista,
acertando o seu pé. No entanto, um dos tiros acabou matando um amigo que acompanhava
Lacerda, o major Rubens Vaz. O mandante do crime teria sido o chefe da segurança
pessoal de Vargas, Gregório Fortunato. Preso, o assassino confessou ter sido contratado

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por Fortunato. Um processo é aberto para a retirada de Vargas a presidência, apesar de não
ter ficado comprovada a participação de Vargas
no episódio.
A pressão para a saída de Vargas aumenta
na imprensa, no Congresso e no exército.
Lacerda inicia uma grande campanha exigindo a
renúncia do presidente. Um clima de conspiração
tomou conta da oposição e do exército. Vargas
não esperou para ver o desfecho do processo. No
dia 23 de agosto, Getúlio dá fim a própria vida
com tiro no peito. Um dia antes Vargas havia
declarado a imprensa que só morto sairia da
presidência (“Só morto sairei do Catete”), e “ele
cumpriu a promessa”.
Segundo Vargas ele cometera suicídio por
amor ao Brasil e para mostrar a sinceridade das
suas intenções. A sua “estratégia” deu certo. A
morte do presidente comoveu a população, que
reagiu de forma histérica e apaixonada ao
suicídio, tomando as ruas e promovendo diversas
agressões aos oposicionistas de Vargas. A morte do presidente surtiu um efeito que
surpreendeu e assustou a todos, principalmente aos adversários políticos. Jornais que
criticavam Vargas tiveram seus prédios incendiados. Filiais de empresas norte-americanas
foram depredadas. Pessoas
choravam compulsivamente
nas ruas.
O velório de Vargas foi
uma das maiores
manifestações populares
da nossa história. O corpo foi
acompanhado do palácio do
Catete ao aeroporto Santos
Dumont por mais de 600 mil
pessoas. No aeroporto
Santos Dumont, a população
se voltou contra os militares
da Aeronáutica, acusados
pela população de serem os verdadeiros assassinos de Vargas. Policiais e militares atiraram
na população enfurecida, deixando muitos mortos e feridos. O destino final do corpo de
Getúlio foi o Rio Grande do Sul. Vargas foi enterrado em São Borja, sua cidade natal.

Governo Juscelino Kubitscheck (1956-1960)


O governo de Juscelino Kubitscheck foi marcado pelo desenvolvimentismo industrial
acelerado. A ideia era desenvolver o Brasil “a qualquer custo”, buscando tirar “o país do
atraso econômico e industrial”, por isso o slogan “50 anos em cinco”. Juscelino criou um
clima favorável à entrada de capital estrangeiro, diversificou a economia, ajustando o Brasil
as normas vigentes do capitalismo mundial: o sistema de multinacionais com a implantação
direta de unidades produtivas no país. O período representa o início do processo de
internacionalização do mercado brasileiro e do aumento da dependência econômica do pais,
ao mesmo tempo combina fatores positivos e negativos, como, por exemplo,

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desenvolvimento industrial com inflação. O modelo ficou conhecido como desenvolvimento
associado: o Estado fornecia a infraestrutura necessária para receber as multinacionais e
subsidiava as empresas estrangeiras. Por outro lado, havia a “transferência de
tecnologia”, as empresas eram obrigadas a contratar,
por exemplo, engenheiros brasileiros para trabalhar com
os engenheiros do pais de origem a fim de realizar uma
transferência empírica de conhecimento.
Em 1955, Juscelino Kubitschek venceu a eleição
presidencial, encabeçando a tradicional coligação entre
o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) o Partido Social
Democrata (PSD). A vitória de JK encerrou a aguda
crise política iniciada com no suicídio de Getúlio.
Mineiro de Diamantina, dono de uma carreira
política meteórica (deputado federal em 1934, prefeito Período de extremo otimismo.
nomeado de Belo Horizonte em 1940, deputado Sempre se mostrando sorridente
constituinte em 1946 e governador de Minas em 1950), – ao estilo de Vargas – Juscelino
o médico Juscelino Kubitschek de Oliveira chegou à Kubitschek simbolizou e gerou
presidência prometendo fazer o Brasil saltar, em um esse clima de otimismo.
único mandato, meio século à frente na história: o
slogan de campanha “50 anos em 5”, que seria
distribuído em 30 prioridades (passou para 31 com a inclusão de Brasília) nas áreas de
energia, industrialização, transportes, alimentação e educação.
Apesar de seguidor do getulismo, defendendo a
industrialização e a modernização, JK divergia na forma de
alcançar esse desenvolvimento, principalmente no que se
referia aos capitais estrangeiros. O abandono da política e do
discurso nacionalista de Getúlio fez com que seu governo
atraísse uma base mais ampla de sustentação, obtendo,
inclusive, o apoio dos conservadores da União Democrática
Nacional (UDN).
O Plano de Metas foi elaborado pelos técnicos do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico, o BNDE, atual
BNDES. A receita era clara: o país deveria deixar de ser um
exportador de matéria-prima e desenvolver um poderoso
parque industrial.
O quadro externo era favorável. Nos anos do guerra fria,
a economia mundial
crescia como nunca,
principalmente a norte-americana. O governo
americano via nos investimentos no Brasil, maior país
latino-americano, uma forma de deter a “ameaça
comunista”, típica do período. De olho nos dólares,
Juscelino voou para os Estados Unidos antes mesmo
da posse e lá foi recebido pelo presidente Eisenhower.
Depois foi à Alemanha, Inglaterra, França e Itália.
As empresas estrangeiras receberam incentivos
maciços para se instalar no Brasil. Indústrias
automobilísticas como as alemãs Volkswagen e DKW
chegaram e ajudaram a mudar de vez o cenário das
ruas locais. Uma trouxe o popularíssimo “Fusca”, que
virou instituição nacional, a outra lançou um dos

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símbolos da época: o simpático e barulhento “Decavê”, apelido inspirado na sigla da
montadora, Dampf Kraft Wagen, impronunciável para os brasileiros.
Entre 1955 e 1961, 2 bilhões de dólares entraram
no país. Com o tempo, o impacto desses investimentos
se transformou em razões concretas para o otimismo
que tomou conta do Brasil. Fusquinhas, jipes e Kombis,
fabricados em série pela primeira vez no país, fizeram a
classe média trocar o bonde pelo carro próprio e,
grande novidade, construir casas com garagens no
jardim. Da porta para dentro, um arsenal eletrônico
mudava para sempre a rotina dos lares: liquidificadores,
vitrolas, geladeiras, enceradeiras, espremedores de Juscelino construiu a nova capital
frutas e televisores. federal no meio do nada, no
As metas de Juscelino contagiaram o país, os deserto do Planalto Central.
brasileiros estavam convencidos de que era necessário Brasília foi erguida em menos de
desenvolver o Brasil, precisávamos de indústrias de quatro anos.
ponta, fabricar automóveis, construir rodovias. Uma
vez construídas as rodovias, o desenvolvimento seria levado aos lugares mais distantes do
território nacional. Assim, o país se desenvolveria nacionalmente. Quando os resultados
começaram a aparecer, o país passou a viver a fase de “euforia” ou “surto
desenvolvimentista”.
O número de estradas pavimentadas cresceu 300% somente nos dois primeiros anos
do governo JK. A quantidade de indústrias triplicou e passou a empregar dez vezes mais
gente. Para abastecer de energia as novas indústrias, o governo construiu hidrelétricas
gigantescas como Furnas e Três Marias, ambas em Minas Gerais. E a economia passou a
colecionar recordes. Entre 1957 e 1961, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu a uma taxa
anual de 7%, três vezes mais que o restante da América Latina. A frota brasileira cresceu
360% em dez anos. “Foi um momento raro, quando o Brasil viveu uma combinação de dois
fatores que não costumam ocorrer por aqui: crescimento econômico e democracia”,
segundo a historiadora Marly Motta.
O carisma de Juscelino se tornou, já naquela época,
uma lenda. O presidente era um astro, sempre presente na
imprensa. O mito mais forte envolvia a sua jornada de
trabalho: cerca de 20 horas por dia. As imagens do
presidente eram onipresentes no cotidiano dos brasileiros,
ele se deixava fotografar na cama, com o telefone à mão,
acordando ministros no meio da madrugada. De uma forma
geral, o presidente aparecia dirigindo o Brasil como um
imenso canteiro de obras. O coroamento simbólico dessa
ideologia do trabalho e prosperidade foi a construção
de Brasília. A nova capital representa o ápice do otimismo
que tomou conta dos brasileiros, até dos setores mais
intelectualizados e críticos: “Juscelino é o poeta da obra
pública”, elogiou o mineiro Guimarães Rosa. Tudo parecia
dar certo para o Brasil: ganhamos a Copa do Mundo, surgiu
o cinema novo e a bossa nova, Pelé, Cannes, a arquitetura
de Oscar Niemayer, eram os chamados “Anos Dourados”. Mas, se o carisma e a imagem
de JK eram imbatíveis, sua política econômica não era.
O presidente rejeitou um disciplinamento orçamentário, o governo gastava mais do
que arrecadava, o déficit público, equivalente a 1% do PIB em 1954, quadruplicou: em 1957
passou para 4%. Em 1958, a dívida externa explodiu e a inflação disparou de 19% para 30%

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ao ano. A inflação abalara a credibilidade do governo federal, que, além de tudo, sentia a
água nas canelas, com o Fundo Monetário Internacional exigindo termos muito mais duros
para renegociar a dívida brasileira. No início de 1959, Juscelino rompeu com o Fundo. “O
Brasil tornou-se adulto. Não somos mais os parentes pobres relegados à cozinha”,
discursou, no Rio de Janeiro, em junho de 1959. O gesto do presidente rendeu-lhe uma
última dose de popularidade. Mas, àquela altura, a bolha desenvolvimentista já não tinha
como se sustentar.
Nas cidades, trabalhadores que tiveram seu salário diminuído pela inflação
protestavam por aumento: só em 1959, 56 greves sacudiram o país. No campo, as agitações
não eram menores: pequenos proprietários se viram sem financiamento, e o número de
sem-terra aumentou a pressão por reforma agrária. A insatisfação geral alimentou a
imprensa oposicionista, com a Tribuna da Imprensa do jornalista Carlos Lacerda à frente. O
inimigo histórico de Getúlio e do getulismo acusava Juscelino de ter se locupletado à custa
da avalanche de dinheiro estrangeiro que entrara no país. Diante da oposição cerrada, JK
chegava ao fim de seu mandato. Em outubro de 1960, não conseguiu fazer de seu ministro
da Guerra, o general Henrique Teixeira Lott, seu sucessor. O governador de São Paulo,
Jânio Quadros, empunhando uma vassoura como símbolo de campanha e prometendo
“varrer a bandalheira da corrupção”, liderou a oposição e obteve a vitória nas urnas.
O presidente que havia produzido uma onda
de entusiasmo coletivo acabava o mandato
amargando uma fragorosa derrota. Em sua
extensa biografia de Juscelino, Claudio Bojunga
afirma que ele apostava todas as fichas nas
eleições seguintes, marcadas para 1965.
“Juscelino acreditava que voltaria a Brasília nos
braços do povo, pois imaginava que Jânio, que
pregava a austeridade financeira, iria provocar o
arrocho econômico e, assim, fazer o Brasil sentir
saudades do que perdera”.
Após o golpe militar de 1964, Juscelino
partiu para o exílio, de onde voltou apenas em
1967. Chegou a ser preso pela ditadura em 1968.
Solto, permaneceu longe da política em silêncio
forçado até morrer em 1976, em um “estranho” acidente de automóvel.
Resumidamente, JK empolgou o país com seu slogan "Cinquenta anos em cinco",
obteve uma rápida industrialização, tendo como carro-chefe a indústria automobilística.
Houve um forte crescimento econômico, porém, houve também um significativo aumento da
dívida pública - interna e da dívida externa e da inflação. Porém, os anos de seu governo são
lembrados como "Os Anos Dourados”.
O presidente Jânio Quadros renuncia em 25 de agosto de 1961 e, segundo a
constituição vigente no período, quem deveria assumir a presidência era o vice João Goulart.
Acontece que Jango era classificado como comunista pelos mais conservadores da
sociedade brasileira e pelas forças armadas que impedem a sua posse. Os ministros
militares declaram estado de sítio, intervêm na imprensa e nos sindicatos e prendem
opositores, com a finalidade de impedir a posse de Goulart. O Rio Grande do Sul organiza o
Movimento da Legalidade, uma resistência militar a tentativa de golpe dos militares. Estava
gerada uma grande crise e uma ameaça real de guerra civil no Brasil. A solução para o
impasse foi Goulart assumir a presidência com poderes limitados, devido à adoção do
parlamentarismo através de uma emenda constitucional. Dois anos depois, o Brasil
retornaria ao presidencialismo através de um plebiscito popular.

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