Você está na página 1de 39

Populismo no Brasil

Docente: Denise M. Lopes


Conceito de Populismo
• Populismo é um termo utilizado para explicar um conjunto de práticas associadas a
políticos, sobretudo da América Latina, durante boa parte do século XX. No caso
do Brasil, essa expressão é utilizada como forma de explicar as características dos
governantes do Brasil do período entre 1930 e 1964.
• A definição populismo fez, inclusive, com que o período de 1946 a 1964 ficasse
conhecido como “República Populista”. De acordo com a definição clássica desse
termo, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e João Goulart foram
exemplos práticos de políticos populistas no Brasil.
• Características: nacionalismo, liderança política baseada na liderança do líder
(clientelismo), relação direta entre os líderes e as massas, sistema partidário fraco.
• Na segunda metade do século XX, o Brasil passava por um crescimento urbano e
industrial
• O país havia participado na 2ª. Guerra combatendo o nazifascismo, portanto
evidenciou que o regime ditatorial do Estado Novo era contraditório com a
democracia defendida pelos Aliados.
• No final de 1944 cresciam no Brasil os movimentos políticos que exigiam o fim do
regime ditatorial e o retorno da democracia e das liberdades civis.
• Assim a UNE, órgãos da imprensa, grupos liberais que se opunham a Vargas
começam a se articular lançando o nome do brigadeiro Eduardo Gomes à sucessão
presidencial.
• Pressionado Vargas se antecipou e decretou um novo código eleitoral, onde haveria eleições
para presidente e também a elaboração de uma nova Constituição em dezembro de 1945.
• Foi permitida a reorganização dos partidos políticos, sendo criados a UDN, grupo de
oposição liberal formada pelas oligarquias estaduais.
• PSD e PTB, representados por grupos ligados ao governo de Vargas.
• O PCB retornou à legalidade e apoia Vargas.
• Nesse momento o ditador representava o nacionalismo, única força capaz de conter a
ascensão dos liberais da UDN, associados aos interesses norte-americanos.
• O PCB passou a apoiar a sua permanência no poder até a aprovação da nova Constituição.
• A propaganda do Estado Novo influenciava as camadas populares e estimulava o Queremismo,
movimento favorável à permanência de Vargas no poder.
• A palavra de ordem era: “Queremos Getúlio”
• Esse apoio gerava apreensão entre os políticos liberais, a elite, fora a pressão do governo norte-
americano pela redemocratizações e suas críticas ao populismo de Vargas.
• O nacionalismo econômico de Vargas desagradava os interesses norte-americanos e os dos
liberais brasileiros, após o governo decretar leis contra a formação de trustes e cartéis punindo as
empresas até com a desapropriação.
• Vargas perdeu o apoio da alta cúpula militar, que articulou um golpe de estado, e em novembro
de 1945, os mesmos líderes militares que apoiaram Vargas em 1937, comandaram o cerco ao
palácio do governo, obrigando-o a renunciar.
• Em dezembro de 1945 foram realizadas eleições para presidente e para a
Assembléia Constituinte.
• Concorreram o general Dutra (PSD-PTB), que tinha o apoio de Vargas, o
brigadeiro Eduardo Gomes (UDN) e o engenheiro Yedo Fiúza (PCB)
• Eduardo Gomes obteve 35% dos votos, Fiúza obteve 10% e Dutra venceu
com 55%.
• 1- Dutra
• 2 – Eduardo Gomes
• 3 – Yedo Fiúza
Governo de Eurico Gaspar Dutra (1946 -
1951)
• A nova constituição foi promulgada em 16 de setembro de 1946, tendo como pontos principais:
✓ Forma de governo: República Federativa;
✓ Eleições gerais e diretas para todos os cargos;
✓ O mandato presidencial seria de cinco anos;
✓ Interdependência entre os poderes;
✓ Liberdade de expressão, pensamento e locomoção;
✓ As prisões seriam efetuadas somente em flagrante delito ou por ordem escrita;
✓ Voto direto e secreto para ambos os sexos (somente para alfabetizados);
✓ Proibição de greve
✓ Manutenção da política trabalhista de Vargas.
Política Externa
• Fortalecimento dos laços políticos com os EUA.
• Alinhamento com os EUA quanto à política anticomunista;
• Apoio aos EUA na Guerra Fria e rompimento dos laços diplomáticos com a
URSS;
• O PCB foi novamente colocado na ilegalidade e os partidários tiveram seus
mandatos cassados, os funcionários públicos suspeitos foram demitidos e
passaram a sofrer perseguições.
Política econômica
1ª. Fase
• Abertura para o capital estrangeiro e a redução das tarifas alfandegárias e o consequente aumento das
importações;
• Estagnação da indústria nacional.
2ª. Fase (1947)
• Restrição às importações;
• Aumento da produção industrial brasileira voltada para o mercado interno.
• Essas medidas não foram suficientes para controlar a inflação e melhorar as condições de vida das camadas
populares.
• Baixos salários que não eram reajustados desde 1942.
Dutra e Kennedy

Dutra e Eisenhower
O retorno de Vargas (1951 - 1954)
• Vargas retornou ao poder com uma votação maciça, eleito numa campanha que
enfatizava os interesses nacionais uniu PTB e PSD.
• Com Getúlio, volta a política de nacionalismo e intervenção estatal e são
impulsionadas a produção siderúrgica e a petroquímica.
• Foi criado o BNDE em 1951 com o objetivo de dar apoio aos projetos do governo;
• Criação da PETROBRÀS em 1953, que estabelecia o monopólio estatal da
exploração e refino do petróleo no Brasil.
• Dobrou o valor do salário mínimo e procurou controlar os sindicatos.
• Essa postura nacionalista não agradou aos liberais brasileiros e nem aos interesses
dos capitalistas norte-americanos.
• A oposição torna-se implacável e exigem a renúncia de Vargas.
• Em agosto de 1954, o jornalista opositor, Carlos Lacerda (UDN) sofre um atentado
na Rua Toneleros, e as investigações apontavam o chefe da segurança de Vargas,
Gregório Fortunato.
• Esse episódio fez aumentar as pressões pela renúncia e Vargas não admitia nova
deposição, e no dia 24 de agosto de 1954, escreveu uma carta testamento e suicidou-
se com um tiro no peito.
• A CARTA TESTAMENTO

https://www.youtube.com/watch?v=JvE
iVmW9bCM – discurso de posse de GV
• "Deixo à sanha dos meus inimigos o legado da minha morte. Levo o pesar de não haver
podido fazer, por este bom e generoso povo brasileiro e principalmente pelos mais
necessitados, todo o bem que pretendia. A mentira, a calúnia, as mais torpes invencionices
foram geradas pela malignidade de rancorosos e gratuitos inimigos numa publicidade
dirigida, sistemática e escandalosa. Acrescente-se a fraqueza de amigos que não me
defenderam nas posições que ocupavam, a felonia de hipócritas e traidores a quem beneficiei
com honras e mercês e a insensibilidade moral de sicários que entreguei à justiça,
contribuindo todos para criar um falso ambiente na opinião pública do país, contra a
minha pessoa.
• Se a simples renúncia ao posto a que fui elevado pelo sufrágio do povo me permitisse viver
esquecido e tranquilo no chão da pátria, de bom grado renunciaria. Mas tal renúncia daria
ensejo para com fúria, perseguirem-me e humilharem. Querem destruir-me a qualquer
preço. Tornei-me perigoso aos poderosos do dia e às castas privilegiadas. Velho e cansado,
preferi ir prestar contas ao senhor, não de crimes que contrariei ora porque se opunham aos
próprios interesses nacionais, ora porque exploravam, impiedosamente, aos pobres e aos
humildes. Só Deus sabe das minhas amarguras e sofrimentos. Que o sangue de um
inocente sirva para aplacar a ira dos fariseus. Agradeço aos que de perto ou de longe
trouxeram-me o conforto de sua amizade. A resposta do povo virá mais tarde....
• Mais uma vez, a forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim.
Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar
a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e
principalmente os humildes.
• Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e
financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o
regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha
subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia
do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário
mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas
através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi
obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre.
• Não querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que
destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano.
Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100
milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos
defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos
obrigados a ceder.
• Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante,
tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo,
que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de
rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em
holocausto a minha vida.
• Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso
lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos
filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá
unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na
vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão. E aos
que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a
vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para
sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei
contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu
ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o
primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História."
• (Rio de Janeiro, 23/08/54 - Getúlio Vargas)
O Governo Café Filho (1954 -1955)
• Após a morte de Vargas, o vice Café Filho assumiu a presidência.
• No seu governo as divergências entre conservadores e progressistas se acentuaram, provocando
acirradas disputas partidárias.
• Realizou-se eleições presidenciais em 1955 tendo como vencedores os candidatos:
• Juscelino Kubischek (PSD-PTB) para presidente e;
• João Goulart (Jango) (PSD-PTB) para vice-presidente.
• Um grupo de militares e civis conservadores articulam um golpe para impedir a posso de JK e
Jango temendo que a política nacional fosse mantida.
• Militares preocupados com em manter a ordem democrática prepararam um contragolpe liderado
pelo marechal Lott que estabeleceu o estado de sítio e garantiu a posse em janeiro de 1955.
O Governo Juscelino Kubitschek (1956 - 1961)
• O governo estabeleceu um plano de metas que trazia a frase: “cinquenta anos em cinco”.
• Para financiar o desenvolvimento, o governo recorreu ao capital estrangeiro, estimulando a
indústria automobilística, com instalações da Ford, General Motors, Volksvagem e Willys.
• O marco definitivo foi a construção de Brasília, projetada por Lúcio costa e Oscar
Niemeyer.
• Muitos trabalhadores nordestinos (candangos) foram atraídos para a obra e no final sem
condições de voltar ou de pagar aluguel foram para a periferia contribuindo para a formação
das cidades-satélites.
• A política de desenvolvimento de JK trouxe aumento da inflação que levou o Brasil para
uma crise econômica que seria empurrada para os governos futuros.
Resultados do Governo JK
Benefícios
• Estimulou o estabelecimento de multinacionais barateando o preço de alguns bens de consumo, até então raros;
• Construção de várias estradas por todo o país colaborando para integrar as diversas regiões aumentando o fluxo de carros e
caminhões;
• A política voltada à industrialização gerou novos empregos nos meios urbanos.
Problemas
• Não criou mecanismos que limitassem a remessa de lucros para o exterior;
• Para executar as obras o governo emitiu uma grande quantidade de papel-moeda, acarretando enorme inflação;
• As ferrovias, sistema de transporte de baixo custo foram abandonadas, e o país ficou dependente da importação de
combustíveis derivados do petróleo;
• Falta de políticas voltadas para os camponeses aumentou o êxodo rural, provocando o crescimento desordenado das
cidades.
Jânio Quadros(1961)
• Candidato do PSD-PTB com o apoio da UDN, Jânio foi
eleito com 48% dos votos derrotando o marechal Lott.
• Para vice venceu João Goulart (Jango) da mesma chapa de
Lott.
• Tomaram posse em Brasília no dia 31 de janeiro de 1961.
• Jânio tinha o apoio das classes médias e das lideranças
militares, em sua campanha defendeu a moralização das
instituições políticas e o combate à corrupção.
https://www.youtube.com/watch?v=dQYygcIuDPA

• Seu símbolo de campanha era uma vassoura.


• Sua política interna foi conservadora e repleta
de polêmicas como proibição de corridas de
cavalos em dias úteis, uso de biquinis nas praias,
lança perfumes, brigas de galo, etc.
• Instalou inquéritos presididos por militares para
investigar todos os níveis da administração
pública e os atos do governo anterior.
• Enfrentou uma inflação de 30% ao ano devido a política emissionista de JK.
• A dívida externa atingia 3,8 bilhões de dólares e para controlá-la Jânio adotou
corte nos gastos públicos, restringiu o crédito, cancelou subsídios dados pelo
governo às importações e congelou os salários, medidas essas que
desagradaram o FMI e trouxe grande descontentamento popular.
• Externamente tentou assumir uma posição de liderança entre os países do 3º.
Mundo e de não alinhamento aos EUA como:
• Reatar relações diplomáticas com a China comunista;
• Aproximou-se de outros países socialistas;
• Condecorou o líder da revolução cubana Che Guevara com a cruz de ferro e o jornalista
Carlos Lacerda o acusou de abrir as portas do Brasil ao comunismo e de liderar um golpe;
Mostrou-se favorável à independência das colônias européias na África e na Ásia.
• Num gesto inesperado renuncia em 25 de agosto de 1961 declarando que “forças
terríveis” o obrigavam a deixar a presidência.
• Até hoje se discute essa renúncia, alguns acreditam que a frase era somente uma
estratégia para conseguir o apoio dos militares e da população.
• O certo é que Jânio nunca deixou claro quem fazia parte dessas “forças”.
• Após a renúncia de Jânio, o presidente da câmara Ranieri Mazzili assume interinamente, pois
o vice João Goulart estava em visita oficial à China.
• Como Jango havia sido ministro do trabalho de Vargas e era acusado de ser “comunista”,
tanto os opositores de Vargas como os anticomunistas não queriam que ele assumisse.
• Leonel Brizola, governador do RS, liderou um movimento para garantir o cumprimento da
Constituição que previa a posse do vice em caso de renúncia do presidente, foi a
“Campanha da Legalidade”.
• Os golpistas perceberam que o impasse poderia provocar uma guerra civil e a solução
encontrada pelo Congresso foi promulgar o Ato Adicional de 1961, estabelecendo o sistema
“Parlamentarista no Brasil”, enquanto isso Jango aguardava a solução no Uruguai.
João Goulart (1961 -1964)
• Jango assumiu em sete de setembro de 1 961, com poderes reduzidos pela participação de um primeiro-
ministro indicado pelo Congresso.
• Durante o período parlamentar, ele conseguiu convocar um plebiscito para 6 de janeiro de 1964 que o povo
escolhesse o sistema de governo, vencendo o presidencialismo.
• Com os poderes de volta Jango decretou o monopólio do estado para importação de petróleo e passou a
controlar os lucros que as empresas estrangeiras enviavam para fora do Brasil.
• O presidente anunciou um programa de reformas em um grande comício no RJ em 13 de março de 1964,
destacando as seguintes medidas:
• Estatização de todas as refinarias de petróleo;
• Desapropriação de propriedades com mais de 100 hectares;
• Direito de voto aos analfabetos;
• Ampliação do nº de vagas em universidades públicas.
• Os generais Luís Carlos Guedes e Mourão Filho, apoiados por políticos
como Magalhães Pinto, governador de MG e membro da UDN deflagraram
um movimento político e militar para depor o presidente.
• Prepara-se um golpe para depor o presidente com os pretextos de manter a
legalidade “ameaçada” por Jango, e impedir o avanço comunista no país.
• Desistindo de uma possível reação contra o golpe militar e a consequente
guerra civil, Jango retira-se em 1º. De abril de 1964 para Porto Alegre e de lá
vai para o exílio no Uruguai em 4 de abril.
• O presidente da câmara Ranieri Mazzili assume a presidência mais uma vez
em caráter interino.
• O Alto Comando decreta o Ato Institucional nº. 01, dando ao Congresso a
função de eleger o novo presidente da república.
• Iniciava-se a Ditadura Militar no Brasil
• História Global – Gilberto Cotrim – Editora Saraiva
• Ensino Fundamental 9. ano história: livro do professor: livro 2/ SAE
DIGITAL S/A. 1ª ed. – Curitiba, PR: SAE DIGITAL S/A, 2019.

Você também pode gostar