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O GOLPE DE 1964: IDAS E VINDAS EM DIREÇÃO À

ABERTURA POLÍTICA
ANTECENDENTES:

• Um número crescente de setores sociais se voltam contra João Goulart:

• Nas direitas: fazendo oposição, estão a UDN, grande parte do PSD, setores do capital externo, setores
conservadores e liberais da burguesia nacional, parte significativa da elite agrária, parte das forças
armadas, parte da Igreja, sua ala conservadora, número crescente da pequena burguesia e das classes
médias, mídias conservadoras.

• Nas esquerdas: a relutância de Goulart sobre as reformas, a crise política desencadeada com os militares e
com Carlos Lacerda, (pedido de estado de sítio negado , diante das acusações de Carlos Lacerda ao
presidente e à honra das FFAAs), levaram setores da esquerda (FMP, CGT, UNE e outras organizações) a
acusarem Goulart de fazer “política de conciliação”, “fazendo um governo exclusivo do interesse das classes
conservadoras”.

• Radicalização tanto das esquerdas quanto das direitas sobre pontos da reforma agrária.

• Estopim: Anistia à insurreição de marinheiros, leva parte das FFAAs a cederem aos argumentos do naco
civil da sociedade.

João Goulart cai em abril de 1964.


POR QUE A QUEDA DE GOULART TRATA-SE DE UM GOLPE?

1. Por que derrubaram um presidente eleito pelo voto, escolhido democraticamente pela vontade da maioria popular;

2. Por que forças sociais conservadoras da sociedade de fato conspiraram e articularam para a derrubada do presidente;

3. Por que o deputado Auro de Moura Andrade declarou vaga a cadeira presidencial, quando Goulart tinha apenas ido ao
sul do país encontrar-se com suas forças aliadas, para fazer frente ao golpe que já se desenrolava;

4. Por que constatou-se a presença da marinha norte americana em águas brasileiras, preparada para oferecer retaguarda
aos golpistas, caso Jango escolhesse resistir;

5. Por que parte das Forças Armadas se insubordinaram ao seu próprio comandante em chefe, o presidente da República.
QUEM SÃO AQUELES QUE TOMARAM O PODER?

• O golpe contou com uma ampla base social de elite: a nova coalizão incluiu do
rural ao urbano, do arcaico ao moderno, do nacional ao estrangeiro, do produtivo
ao parasitário.
No campo militar, representado amplas frações conservadoras da sociedade:

1. Sorbonistas: grupo remonta à revolução de 1932, na resistência contra Vargas, à aliança com os EUA,
ligados a um modelo de desenvolvimento dependente-associado ao capital internacional, cuja
contrapartida civil era representada pela cúpula da UDN.

2. Linha dura: militares mais chegados aos métodos de terrorismo, intimidação e tortura, afeitos aos
discursos apopléticos, cheios de ódio anticomunista e conspirações paranóicas.

3. Nacionalistas de direita: militares conservadores do ponto de vista partidário, anticomunistas, mas


simpáticos à tradição desenvolvimentista de Vargas: defesa de um setor produtivo nacional forte e
competitivo.
OS SORBONISTAS NO PODER: O GOVERNO CASTELO BRANCO
• Em todas as áreas de atuação, manteve o chamado ideal sorbonista: promover, via integração
institucional, o modelo de civilização dos países centrais do capitalismo.

Um regime liberal-democrático deveria possuir três virtudes:


a) Agilidade nos processos de decisão
b) Poder para controlar ameaças de subversão da ordem
c) Garantir aos partidos o poder de alternância, mediante livre disputa eleitoral

REFORMAS:
d) Administrativa: tentativa de destruir as fontes de clientelismo que bloqueavam a alternância de poder,
favorecendo os dirigentes de partidos como o PSD, PTB e o PSP.

e) Agrária: inspirada na ideia do imposto territorial progressivo, visando modernizar as unidades agrárias,
criando pequenas e médias unidades territoriais autônomas e competitivas, a coexistir com as grandes
unidades territoriais.

f) Nos sindicatos: retirar o poder de patronage resultante da inserção dos sindicatos nos aparelhos
estatais. Tratava-se, portanto, da retirada da influência dos trabalhadores sobre os órgãos públicos,
principalmente o Ministério do Trabalho e a Previdência Social.
A RESISTÊNCIA DE CASTELLO BRANCO À LINHA DURA E AOS NACIONALISTAS DE DIREITA

Castello Branco resiste às investidas e fechamento da linha dura:


recusou-se a manter a fase de depuração;
Recusou-se a decretar estado de sítio;
Recusou-se a restabelecer o dispositivo do AI-1 de cassação de mandatos e de direitos políticos

Os focos de pressão pré-64 não foram extintos, mas estavam sob controle.

A grande prova em direção à “normalidade” seriam as eleições de 1965:

• Vitória da oposição em 5 dos 11 estados, inclusive entre os mais importantes: Minas Gerais e
Guanabara.

• A Direita fortaleceu-se editando o AI-2: retorno do poder de cassar mandatos, suspender direitos
políticos, limitação da livre manifestação do pensamento, extinção de partidos, poder para decretar
intervenção nos estados e declarar recesso do Congresso.
A CHEGADA DA LINHA DURA: O GOVERNO COSTA E SILVA
• O oposição imaginava que a intervenção militar estava carente de base popular e acossada por
dissenções internas.
• Agente civil do golpe, Carlos Lacerda, agarrava-se à ilusão de chegar à presidência, sua crítica ao regime
logo reverteu-se em perseguição política. Houve mais expurgos políticos e perseguições....

Na sucessão para Costa e Silva: duros e nacionalistas de direita ganham posição na administração.

Programa: desenvolvimentismo, metas de integração nacional, nacionalismo de periferia.

 Frente Ampla e Frente Popular


 Movimento estudantil organizado
 Artistas engajados aos movimentos
 Apoio de parte da igreja endurecimento do regime
 Influência do Maio de 68, na França AI-5
 A morte do estudante Edson Luís
 Greves eclodidas em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro
RESISTÊNCIA: A LUTA ARMADA NO CAMPO E NA CIDADE
• A REPRESSÃO ABATE-SE SOBRE TODO O PAÍS:
Congresso posto em recesso;
Quatro senadores e 95 deputados cassados;
Cinco juízes do STF aposentados compulsoriamente;
Cerca de 500 pessoas, entre professores universitários, jornalistas, diplomatas etc, perderam seus
direitos políticos;
Censura nas redações de jornais e estações de rádio, televisão e casas de espetáculo;
Repressão policial: DOPS, CENIMAR, OBAN, DOI-Codi;
Violação da privacidade de lares, correspondência, comunicações, cerceamento das liberdades
públicas;

• AÇÕES DE GUERRILHA NO CAMPO: A Guerrilha do Araguaia (Pará, Maranhão e Tocantins)


i. organizada pelo Partido Comunista do Brasil (PC do B);
ii. Objetivo: angariar apoio da população local para, a partir do campo, enfrentar a ditadura, derrubá-la,
tomar o Estado e fazer a revolução.
Um trágico saldo: cerca de 76 mortos, sendo 59 militantes do PC do B e 17 recrutados na região. Acabou se
transformando no principal confronto direto entre a ditadura militar e a esquerda armada.
A LUTA ARMADA NA CIDADE
• A estratégia: assim disse um dos principais líderes, Carlos Mariguela, num manifesto publicado no Jornal
do Brasil.

“[...] o poder se verá forçado a transformar a situação política em uma situação militar. Isso descontentará as
massas que, a partir de então, se revoltarão contra a polícia e o exército [...]os lares serão violados,
inocentes serão presos, as vias de comunicação serão fechadas. O terror policial se instalará e [...] dessa
forma, os guerrilheiros obterão o apoio das massas e destituirão a ditadura”.

Ficam sozinhos na luta, grupos como:

MR-8, VPR, VAR- Palmares, ALN, dentre outras células de resistência.


O DESBARATAMENTO DA LUTA ARMADA E OS ÓRGÃOS DE REPRESSÃO E TORTURA
Por volta de 1975, no fim do Governo Médici, quase todas as células de resistência já estavam
desativadas. Sobraram apenas as denúncias no exterior.
Fala de Médici, no início do seu governo: “Reitero que todo brasileiro tem direito de fazer oposição ao
Governo, considero imprescindível ao bom funcionamento do regime a existência de opositores. Por isso
mesmo não serei hostil aos que de mim discordarem. No meu governo não haverá coação por motivos
puramente políticos”.
A Tortura: DOI-Codi, Cenimar, OBAN, DOPS (órgãos da repressão da linha dura)
O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL NO PERÍODO MILITAR
• UM NOVO TIPO DE DESENVOLVIMENTISMO:
• Pautado por um processo de substituição de importações e criação de empresas públicas;
• Modelo de desenvolvimento pautado majoritariamente pela produção de artigos de luxo;
• Investimento em infraestrutura;
• Continuidade da formação de capital bruto multinacional;
• Relativa preocupação com direitos sociais.

Algumas empresas e serviços criados no período:

1. Serviço de Processamento de Dados – SERPRO


2. Banco nacional de habitação – BNH
3. Agência Especial de Financiamento Industrial – FINAME
4. Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP
5. Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo – CEAGESP
6. Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT
7. Empresa Brasileira Aeronáutica – EMBRAER
8. Industrias Nucleares do Brasil – INB
9. Empresa de Infraestrutura Aeroportuária – INFRAERO
10. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA
11. Telecomunicações Brasileiras S.A. – Telebras
12. Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – SABESP
13. Casa da Moeda do Brasil – CMB
14. Itaipu Binacional
15. Engenharia, Construções e Ferrovias – Valec
O MILAGRE ECONÔMICO

As condições socio-econômicas do Milagre, nos anos 1970, geraram uma euforia coletiva e uma escalada do
PIB nacional: 8,8% em 1970; 13,3% em 1971; 11,7% em 1972; 14% em 1973.

Condições de crescimento insustentáveis no longo prazo:

• Produtos de exportação brasileiros beneficiados pelas condições favoráveis no mercado internacional;


• Garantias de lucros para todas as frações da classe dominante;
• Arrocho salarial;
• Sindicatos controlados;
• Dívida externa.
• Inflação

No noticiário: só matérias positivas sobre o Brasil: O crescimento do PIB + Copa de 1970.

A Assessoria Especial de Relações Públicas da Presidência da República (AERP):


Guerra psicossocial: mística do “Brasil Grande!”; Progresso social; propaganda das grandes obras do governo
FIM DO MILAGRE: A CRISE DO PETRÓLEO
• OPEP para de vender petróleo aos países aliados de Israel: preço do barril dispara;
• Preços altos = encarecimento da produção industrial;
• Para fazer frente ao preço do barril, EUA elevam juros e cortam remessas de capital para o Brasil;
• Brasil para de receber os empréstimos estrangeiros e passa a ter de pagar os seus juros;
• Consequência: arrocho salarial, fuga de capitais e redução do poder aquisitivo popular;
• Governo responde com pesados encargos às importações, dificultando a modernização de bens de
capitais;
• Resultado: obsolescência do aparato produtivo brasileiro, queda na produção, queda de
competitividade.
RETOCESSOS NA EDUCAÇÃO PÚBLICA: OS ACORDOS MEC/USAID
• Período anterior a 1964:
Sistema educacional do período Vargas: dualismo educacional

Ensino público, para Ensino profissionalizante


formar as elites condutoras para a classe trabalhadora

• Período pós-64: aprofundou-se o caráter tecnicista da educação (1964-1968 - ACORDOS


MEC/USAID – United States International for Developement).
• Gestão economicista/empresarial da educação;
• Formação e domesticação de trabalhadores qualificados para o mercado;
• Intuito da “neutralidade da ciência”: princípios da racionalidade, eficiência e produtividade;
• Cientificismo: hipervalorização das tecnologias exatas e limitação da atuação das ciências
humanas;
• Consequência: extinção de sociologia e filosofia, junção de história e geografia na matéria
“Estudos sociais”, no 1° grau;
• Adaptação do ensino a uma concepção taylorista: o discente visto como mero executor de
objetivos instrucionais;
• A escola torna-se instrumento do mercado de trabalho.
O DIFÍCIL PROCESSO DE ABERTURA, A PARTIR DE ERNESTO GEISEL
• O tema da “descompressão”: levantamento realizado na ocasião, constata expectativa generalizada de
que mudanças viriam.
• O processo seria “lento, gradual e seguro”: na ótica do novo “presidente”, “o AI-5 e todo o seu cortejo de
legislação excepcional [...] perderiam sua vigência na prática, desfaleceriam, aos poucos, pelo desuso,
mas continuariam presentes como reserva de poder ilimitado a ser ativado” (CRUZ; MARTINS, 1983).

As esquerdas no momento:
• o MDB, a “esquerda consentida” pelo regime, duvidava de sua capacidade de sobrevivência política,
ante as consecutivas farsas eleitorais anteriores (1970/72)
• A oposição armada estava desbaratada no campo e na cidade.
• O PCB sofreu perdas e estava sob controle, não representava riscos ao regime.

As eleições de 1974: tubo de ensaio da abertura política

Apesar da limitação da participação democrática, mantendo-se a escolha indireta para presidente:


• Geisel investiu pesado na propaganda política do regime;
• Acreditava confirmarem-se nas urnas, o apoio popular à “obra da Revolução”;
• Abriu-se a necessidade de abrir a propaganda política à oposição;
• Conclamou-se a população às urnas;

MDB lança uma campanha ágil e eficaz: foco na crise econômica


RESULTADO ELEITORAL: UM MOMENTO DE INFLEXÃO DO REGIME

No dia seguinte, os jornais anunciam na primeira página os resultados do pleito:

• Vitória do MDB em 16 estados;


• Elegeu 16 senadores das 22 vagas em disputa;
• Elegeu 161 deputados das 364 cadeiras;

O porquê da derrota expressiva do regime:

• O fim do milagre econômico;


• Classe média começa a sentir o aperto;
• População começa a mostrar-se saturada do regime.
RETROCESSO NO PROCESSO DE ABERTURA
Pressões internas e oposições ao regime:

• No plano interno: insubordinação dos órgãos de repressão (CRISE DOS DESAPARECIDOS)

• No âmbito da sociedade civil:

1. Morte de Vladimir Herzog;


2. Discurso econômico liberal (Campanha antiestatização – Encabeçada por Eugênio Gudin, apoiada por
jornais, revistas de negócios, entidades empresariais);
3. Crescente insatisfação popular com a economia, sobretudo a inflação.

RETROCESSO:

4. Vários empresários de destaque reclamam a volta do Estado de Direito;


5. Governo cassa mandatos parlamentares;
6. Comandante do 11° Batalhão de Infantaria, em Campinas, proíbe debate com bispos progressistas;
7. Presidente da ARENA acusa políticos do MDB de “comunistas”;
8. Geisel decreta o Recesso temporário do Congresso;
9. Acerto de disposições modificando o regime político:

O PACOTE DE ABRIL
O PACOTE DE ABRIL, A LEI FALCÃO E O DESPERTAR DA SOCIEDADE CIVIL

O Pacote de abril opera um retrocesso na abertura:

1. Eleições indiretas para a escolha de governadores;


2. Restrição da propaganda eleitoral para eleições estaduais e federais;
3. Diminuição do quorum para votar emendas constitucionais;
4. Alteração do colégio eleitoral que elege o presidente da República;
5. Ampliação do mandato presidencial de 5 para 6 anos.

A Lei Falcão eliminou dos meios de comunicação a possibilidade de propaganda política

A brutalidade desses atos provoca reações na sociedade civil:

6. OAB aprova com unanimidade nota de repúdio, reclamando o fim do AI-5;


7. UNE se reorganiza e sai em passeata;
8. UNB entra em greve;
9. Em simpósio, MDB lança tese da Constituinte;
10. Imprensa abre espaço para denúncias de torturas;
11. Greves: Campanha pela “reposição salarial”;
12. Greves do ABC
O FECHAR DAS CORTINAS DO REGIME
João Batista Figueiredo já havia assumido e a própria ditadura já dava sinais de esgotamento.

1978 foi um ano de intensa oposição ao regime

• A greve do ABC desdobra-se e estende-se a um sem número de categorias;


• Caíram a lei de Greve e a política salarial do governo;

Nota do Diário Comércio e Indústria, 30/10/1978, transmitida pelos ministros da fazenda e do planejamento:

“EMPRESÁRIOS DEVEM SE PREPARAR – uma nova realidade pode levar o fim da tutela do Governo nas
relações com os empregados. Busca-se nova política salarial que inclua as negociações diretas”

• Poucos meses depois, surge o PT – Partido dos Trabalhadores;


• Luta pela anistia – volta dos exilados/libertação os presos políticos.

As reformas do regime:
• Embora determinasse o fim do AI-5, preservava-se a Lei de Segurança Nacional;
• Não revogaram nem a Lei Falcão, nem o Pacote de abril;
• Criaram a figura do “Estado de Emergência”: faculta ao presidente suspender todas as garantias
individuais, suspender as liberdades públicas, intervir em sindicatos, suspender imunidades
parlamentares, atribuir às FFAAs o poder de polícia.

 Seria necessário esperar todo o mandato de Figueiredo, para a escolha, por colégio eleitoral, de Tancredo
Neves, para a cadeira presidencial. A Lei Falcão só foi revogada em 1984, já as medidas do pacote de
abril começaram a cair a partir de 1980, com a volta das eleições diretas para governador.
O ACIONAMENTO DO ESTADO DE EMERGÊNCIA POR FIGUEIREDO
A votação da Emenda Dante de Oliveira (reinstaurar eleições diretas para presidente), fez Figueiredo acionar o Estado de
Emergência.

• O direito de reunião foi suspenso;


• Censura nos meios de comunicação.

Objetivos: Isolar Brasília, evitar manifestações pró-diretas.

O general Newton Cruz, nomeado por Figueiredo para aplicar as medidas, fecha as estradas de acesso a Brasília.
• O Congresso foi cercado por militares durante a seção de votação;
• Na manhã seguinte, uma multidão de estudantes manifestam-se no gramado em frente ao Congresso.

A emenda precisava de 320 votos (dois terços dos deputados) para ser aprovada. Alcançou 298.

No site do Memorial da Democracia, lê-se: “Mesmo derrotada, a campanha das Diretas determinou o completo
isolamento político e social da ditadura militar que completara 20 anos naquele mês de abril de 1984. As oposições e
os movimentos populares mostraram sua força. O partido oficial estava dividido. O regime se aproximava do fim, mas
ainda apostava numa negociação política da transição”.
A COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE E O OFÍCIO DO HISTORIADOR
• Um processo de análise comparativa de investigação forense:

Em 1975, o corpo sem vida do jornalista Vladimir Herzog foi encontrado no


DOPS-SP. Militares, em laudo, afirmaram que fora suicídio.

Trechos do laudo:
“A referida cinta, conforme mostra a foto nº 2, anexa, estava atada na
grade metálica, com um nó simples, a uma altura de 1,63 metros”.

“Removida a laçada, denotou-se, no pescoço, um sulco enegrecido,


descontinuo, obliquo e relativamente profundo, cuja largura possuía
correspondência com a mencionada laçada”.

“Do que ficou exposto depreende-se que o fato possuía um quadro


Típico de suicídio por enforcamento”.

Primeiro - Houve morte? SIM


Segundo - Qual a sua causa? ASFIXIA MECÂNICA
Terceiro - Qual o instrumento ou meio que a produziu? ENFORCAMENTO
Quarto - Foi produzida por meio de veneno, fogo, explosivo, asfixia ou
Tortura, ou por outro meio ou cruel (resposta especifica)? NÃO

“Quesito d): Se o enforcamento por suspensão parcial é o caso rotineiro ou


se é acontecimento inusitado.”

“Resposta: ao contrário do que se acreditava, o enforcamento incompleto,


ou seja, por suspensão parcial é muito comum, frente ao que ensina a
fisiopata/agia da morte”
CONFRONTANDO LAUDOS PERICIAIS: AS OMISSÕES DO LAUDO MILITAR
IV) DISCUSSÃO

“Ao analisar o laudo de exames de local verificou-se que procedimentos básicos comumente utilizados em
laudos periciais de local não foram observados”:

“b) em relação ao corpo (exame Perinecroscópico): podemos verificar a citação de apenas um sulco no
pescoço de Vladimir Herzog [...] quando são visíveis pelo menos dois sulcos, um horizontal [...] e o outro
oblíquo ascendente no lado esquerdo do pescoço [...]”.

“A observação desses dois sulcos (ambos com reações vitais) - um deles típico de estrangulamento (l) e o
outro característico daqueles observados em locais de enforcamento [...] é incompatível com a versão
oficial apresentada de que Vladimir Herzog teria se auto-eliminado.”

“Porém, não mencionaram os médicos-legistas que muitos achados internos observados em casos de
enforcamento suicida são totalmente compatíveis com o que se espera encontrar em casos de
estrangulamento”

“Acreditam os peritos criminais que a(s) pessoa(s) que simulou(aram) o suicídio não contou(aram) com a
formação de reação vital no sulco produzido pelo estrangulamento.”

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