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Abstract: During the validity of the 1830’s criminal code, the Brazilian
province of Ceará registered 24 cases of public executions as a form of
punishment for crimes considered serious. Of these total, sixteen of those
convicted were slaves. In other words, 2/3 of the executed death sentences
fell against the captive group. This article analyzes the death penalty as a
mechanism of social control of the captive population in the province of
Ceará in the 19th century. Exemplary punishment, the public capital
punishment should serve as an example to the other captives, repressing
participation in murders against masters and their families, as well as
participation in insurrections. To this end, executions took place in the
towns where the condemned people lived, even though their trial had run
through the province capital or through superior forums of the State Council
and the monarch in the capital of the Empire.
*
Doutorando em História Social, PPGH Universidade Federal do Ceará, e-mail:
andersoncdr@gmail.com. Artigo resultante da dissertação de mestrado financiada pela
CAPES.
O Caso do escravo Fuisset
Vila N° de Status
Enforcados
Livre Escravo
Capital 11 02 09
Sobral 01 - 01
Quixeramobim 01 - 01
Crato 03 03 -
Aracati 02 01 01
Viçosa 01 - 01
Granja 01 - 01
Ipú 02 01 01
S. Matheus 01 01 -
S. Bernardo 01 - 01
Total 24 08 16
O próprio crime perpetrado pelo escravo Fuisset pode ser encarado sob
essa ótica, pois, tendo sido planejado pela esposa da vítima, apenas o
cativo, executor do atentado, terminou na forca. Quanto a mandante,
Joaquina Maria de Jesus, mulher de condição livre e esposa do português
assassinado, conseguiu fugir após o atentado, escondeu-se em
propriedades em pontos distantes da província (em Barra dos Inhamuns,
Vila Nova do Ipú e Acaraú), indo a se apresentar à justiça somente após
dez anos de transcorrido o crime.3
2
Relatorio com que apresentou o Exm. Senhor Doutor Francisco de Souza Martins,
presidente desta província, na ocasião da abertura da Assembleia Legislativa provincial no
dia 1° de agosto de 1840. Ceará, Typ. Constitucional. Anno de 1840, p. 10.
3
Pedro II, Fortaleza, 6/10/1853, p. 4, Acervo da Biblioteca Nacional. Petição da ré Joaquina
Maria de Jesus, despachada pelo meritíssimo juiz de direito da comarca de Quixeramobim, o
doutor Antonio Leopoldino de Araújo Chaves. Quixeramobim, 1853.
Durante muito tempo, o discurso sobre um cativeiro de reduzido
contingente, foi utilizado pelos agentes do poder para tentar amenizar a
existência da escravatura na província cearense, como também para tentar
negar a existência da população negra na província. Segundo o historiador
Eurípedes Antônio Funes: “A ideia postulada é de que no Ceará não há
negro porque a escravidão foi pouco expressiva. Isto leva a uma lógica
perversa: associar o negro à escravidão” (Funes, 2007, p. 103).
Assim como nas peças teatrais, em que tudo era encenado segundo
um roteiro que determinava as falas e os gestos dos atores, os cortejos de
execuções capitais também seguiam uma lógica preestabelecida. Os rituais
de enforcamento começavam quando o réu era levado até o oratório para
que fosse realizada a confissão, sempre um dia antes da data marcada para
a execução. No caso do escravo Luís, executado em Aracati no ano de
1840: “No dia 24, subiu para o oratório, assistido pelo vigário da freguesia
6
Código Criminal do Império, 1830 art. 40.
Joaquim de Paula Galvão e pelo padre Antônio Francisco Sampaio”
(Nogueira, 1894, p. 61). A confissão dos réus fazia parte das prerrogativas
legais estabelecidas no Código Criminal de 1830 para a realização da
execução, e durante todo o cortejo o réu deveria ser acompanhado por
representantes da justiça e da igreja, irmanando poder temporal e divino
num mesmo desfile.
O escravo Luís havia matado um homem branco em Aracati, amante
de sua senhora, com sete facadas. O crime ocorrera em 1836, porém Luiz
teve de aguardar a decisão da justiça preso na cadeia pública de Fortaleza.
Após quase quatro anos de penosa espera, o resultado foi a da condenação
à morte por enforcamento. Dos relatos disponíveis sobre procissões em
rituais de execução de escravos, o préstito que acompanhou os últimos
momentos do escravo Luís pareceu ter tido uma especialmente forte
atmosfera sagrada, a se levar em conta os detalhes expostos a seguir:
O préstito, acompanhado pelo juiz municipal Alexandre
Ferreira dos Santos Caminha, que ia a cavalo, pelo escrivão,
o carrasco vindo da capital e a força pública, partiu da cadeia
pela manhã. Dobrando, afinados, os sinos dos quatro
templos, tendo a sua frente o porteiro José dos Santos,
conhecido por José Mãozinha, que apregoava a sentença, e
subiu pela rua do Comércio, voltou para o local da forca pela
rua do Piolho, hoje do Rosário. O condenado ia algemado,
sem chapéu, de baraço de barbante ao pescoço. Vestido de
camisa branca e calça de riscados de listas encarnadas,
ladeado pelo padre Antônio Francisco Sampaio e o
seminarista José Bento Barbosa, que conduzia na mão a
imagem de Cristo. (Santos, 1910, p. 66)
Considerações finais
Bibliografia