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Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

A Misógina Inquisição na
Europa Ocidental: uma
análise do imaginário
católico dos séculos XVI e
XVII.
Alunos:
01 Ana Carla Lessa 05 Júnia Souza

02 Bárbara Krisley 06 Mateus Oliveira

03 Gabriel Mendes 07 Rayana Assis

04 João Dias

Disciplina: História Moderna


Professor (a): Silvia Rachi
Contexto:
Ascensão do capitalismo
como novo modelo
econômico, cultural e social;
Guerras Religiosas;
Estado Moderno;
Reforma e Contra-Reforma e
etc.
Bruxaria
Consistido por homens e
mulheres que, segundo alguns
autores, nasceram com o poder
místico da bruxaria.

Feitiçaria
Feitiçaria é um poder do qual
se adquire. Os feiticeiros foi
tão caçados quanto os Descrição: representação das bruxas na idade
bruxos. media. Goya, 1799
O Sabbat: mito
demonólogico
Inquisição
Histeria de massas;

Institucionalização da tortura, ou
seja, tinha-se que conseguir o
depoimentos do sabbat e dos
voos;

Contexto de Reforma e Contra


Reforma, a Igreja Católica queria
Tortura na inquisição. Fonte: Garanhus Historia.
acabar com o paganismo. Autor: desconhecido
Manuais inquisitoriais
• Directorium Inquisitorum (Manual
Inquisitorial) escrito por Nicolau
Eymerich, em 1376;

• Malleus Maleficarum - Malleficas


et earum Haeresia et Phramea,
publicado em 1486, pelos
dominicanos Heinrich Kramer e
Capa do manual, "Malleus Maleficarum".
Jacob Sprenger. Fonte: Revista Planeta
Manuais inquisitoriais
• “Em conclusão. Toda a bruxaria tem origem na
cobiça carnal, insaciável nas mulheres. (…)
Poderíamos ainda adiantar outras razões, mas já
nos parece suficientemente claro que não
admira ser maior o número de mulheres
contaminadas pela heresia da bruxaria. (…) E
abençoado seja o Altíssimo, Que até agora tem
preservado o sexo masculino de crime tão
hediondo: como Ele veio ao mundo e sofreu por
nós, deu-nos, a nós homens, esse privilégio.”
(Kramer e Sprenger, 1486, p. 121)
Capa do manual, "Malleus Maleficarum".
Fonte: Revista Planeta
Bruxas a voar em vassouras (pormenor). Em Le Champion
des Dammes, de Martin Le Franc, 1451. Fonte: Bibliothèque
Nationale de France.
Fonte: Wikipédia. Artista anônimo. “O caminho para queimar
aqueles que foram condenados pela Inquisição”. Terreiro do
Paço, Lisboa, séc. XVIII.
Dezoito hereges queimados em Salzburgo. Autoria de Jan
Luyken, c. 1685. Fonte: Rijksmuseum.
Francisco de Goya
O pintor espanhol Francisco de
Goya (1746-1828) teve durante
o período 1797/1798 um
interesse em representar as
bruxas em sua obra.

“Bosch introduz os homens em seu


universo infernal, Goya introduz o
infernal no universo humano”
(TODOROV, 2014, p. 43-44).

Fonte: Wikipédia. Retrato feito por Vicente López Portaña, 1826.


Francisco de Goya
O pintor espanhol Francisco de
Goya (1746-1828) teve durante
o período 1797/1798 um
interesse em representar as
bruxas em sua obra.

“Bosch introduz os homens em seu


universo infernal, Goya introduz o
infernal no universo humano”
(TODOROV, 2014, p. 43-44).

Descrição:Akelarre/Asuntos de Brujas, GOYA Y LUCIENTES, 1798


Francisco de Goya
As bruxas de Goya podem ser
entendidas de três maneiras:
as obras expressavam o interesse
e a curiosidade da aristocracia
nas bruxas;
uma forte crítica social;
ou uma maneira de
externalizar seus próprios
monstros. Essas obras eram
mais intimistas, como a do
lado:

Descrição: Mucho hay que chupar/Los Caprichos, GOYA


Y LUCIENTES, 1797-1799
Francisco de Goya
As bruxas de Goya podem ser
entendidas de três maneiras:
as obras expressavam o interesse
e a curiosidade da aristocracia
nas bruxas;
uma forte crítica social;
ou uma maneira de
externalizar seus próprios
monstros. Essas obras eram
mais intimistas, como a do
lado:

Descrição: Mala mujer/Album D, GOYA Y LUCIENTES, 1819-1823


Inquisição chega no Brasil.
Hierarquia de delitos; no que diz
respeito à bruxaria, a opressão foi
leve em Portugal.

Em 1590 a Inquisição inicia sua


jornada ultramarítima e chega em
solo brasileiro um ano depois, com o
visitador Heitor Furtado de
Mendonça na Bahia.

Não criou-se aqui um Tribunal, sendo


sua sede em Lisboa.
Em 1593, o visitador chega em Recife
e instala a Inquisição em Olinda no
dia 24 de outubro (as ações
inquisitoriais iniciaram primeiro no
Nordeste).

A posição social do indivíduo


contava muito na hora do
julgamento.
O Brasil, em detrimento do seu
afastamento da metrópole, era o local
ideal para refugiar os perseguidos pela
Inquisição (judeus, cristãos novos (judeu
converso), bruxas, feiticeiras e etc.).

Segundo Gorenstein (2021), 604 cristãos


novos foram condenados ao cárcere e
hábito penitencial perpétuo, e 20 foram
executados (em Lisboa) por serem
considerados perigosos.
Recorte
Estudo de caso de duas mulheres
brasileiras acusadas de bruxaria e
judaísmo, respectivamente:

Felícia Tourinho (século XVI)


Tereza Paes de Jesus (século XVIII).
No imaginário europeu na época, a
mulher, sendo mais propensa a pecar,
precisava de um homem (marido ou pai)
para colocá-la no eixo. A mulher só era
bem vista na figura de virgem e mãe
(Maria, mãe de Jesus).

Este era o papel social da mulher dos


séculos XVI/XVII/XVIII: aceitar sua
submissão.
“A pena de morte na Inquisição portuguesa
consistia no relaxamento ao braço secular,
com a entrega do condenado à justiça civil
que aplicava a pena de morte na fogueira,
uma vez que a Igreja não matava. Se o
condenado confessasse ser cristão, era antes
garroteado; caso reafirmasse sua fé na Lei de
Moisés, era queimado vivo. A Igreja, como
instituição, não podia verter qualquer gota de
sangue, inclusive de hereges condenados.”
(Gorenstein, 2021, p. 334)
Felícia Tourinho
Mulher parda (duas vezes
estigmatizada), de poucas posses
e filha bastarda de um clérigo.
(SOUZA, 2009, p. 210-214). Seu
pai era Gaspar Tourinho (branco
e cristão) e sua mãe era Antônia
Vaz (“preta forra”).

Fonte: Arquivo Nacional Torre do


Tombo
“Retornando ao caso de Felícia, Domingas
disse ao inquisidor que um dia viu que Felícia
tomou uma tesoura e a empregou em um
chapim e com os dedos mostradores postos de
baixo dos anéis, a levantou dizendo as
palavras: “diabo guedelhudo, diabo orelhudo,
diabo felpudo, tu me digas se vai foam 2 por
tal parte, digo por tal caminho (que era um
homem do qual queria saber se ia onde ela
tinha dito que havia de ir) se isto é verdade tu
faças andar isto, se não é verdade, não o
faças andar.” (IANTT, doc. 1268).” (CRUZ, 2013,
p.9)
Fonte: Arquivo Nacional Torre do
Tombo
Felícia Tourinho foi “absolvida”
em 7 de julho de 1595 e sua
punição não foi tão severa
perto de outros casos, apesar
de não ter sido irrelevante.

Sua absolvição pode ser


entendida como a aceitação
do seu papel social: a
submissão. Diferente de
Tereza Paes de Jesus que,
dentro da hierarquia de
delitos, praticou o maior:
judaísmo. Fonte: Arquivo Nacional Torre do
Tombo
Tereza Paes de
Jesus
Filha de um cristão-novo com uma
cristã-velha natural de Lisboa,
Tereza era casada com Francisco
Mendes Simões (cristão novo) e
tinha 64 anos quando foi presa
pelo Santo Ofício na cidade do Rio
de Janeiro.

Os dois tiveram sete filhos, dos


quais apenas dois passaram para a
fase adulta, e viviam uma vida
modesta. Fonte: Arquivo Nacional Torre do
Tombo
Tereza Paes de
Jesus
Seu marido foi preso em 1714 e
solto três anos depois sem sofrer
insígnias de fogo.
No dia 1 de dezembro de 1718,
denunciada pelo marido e por um
amigo, Tereza e seus dois filhos
foram presos e condenados por
crimes contra a fé.
Seus testemunhos destoavam muito
um do outro; foi tida como louca.
Fonte: Arquivo Nacional Torre do
Tombo
Tereza Paes de
Jesus
“Ela rezava “sete Padre Nossos e
sete Aves Marias, mas os oferecia
à rainha Ester”, para que essa lhe
desse cabedal” (Gorenstein, 2021,
p. 339).
Seus testemunhos foram muito
contraditórios e considerados pelos
inquisidores como mentira. Tereza
foi acusada de heresia, entre
outros crimes, no dia 28 de janeiro.
Fonte: Arquivo Nacional Torre do
Tombo
Tereza Paes de
Jesus
Forte sincretismo religioso: não
acreditava que pecava já que,
para ela, tudo era "igual".
“Em resumo, Tereza entendia que
a Lei de Cristo e a Lei de Moisés
eram a mesma.” (Gorenstein, 2021,
p. 340)
Em 16 de junho de 1720 ela ouve
sua sentença e é enviada ao Auto
Público da Fé, em Lisboa, onde foi
garroteada e queimada em praça
pública. Fonte: Arquivo Nacional Torre do
Tombo
“O voto de um dos inquisidores para que se
desse a ela outra oportunidade de rever
suas confissões, por ser “rústica e grosseira”
lança uma luz sobre a razão de sua
condenação: mais por sua teimosia, por sua
atitude de enfrentamento dos inquisidores do
que por sua “impertinência” ou por sua
crença.” (Gorenstein, 2021, p. 344)
Bibliografia
CRUZ, Roberta. (2013). Inquisição no Pernambuco quinhentista: o caso de Felícia Tourinho.
Nova Revista Amazônica. 1. 60. 10.18542/nra.v1i2.6284.

CRUXEN, Edison Bisso. As Bruxas e Aquelarres na Obra de Francisco de Goya: Inspirações


e Possibilidades Interpretativas (Espanha, Séculos XVIII e XIX). Blog do POIEMA. Pelotas: 07
mai. 2022. Disponível em: https://wp.ufpel.edu.br/poiema/texto-as-bruxas-e-aquelarres-
na-obra-de-francisco-de-goya/. Acesso em: 20 de junho de 2023.

GORENSTEIN, L. Judaizantes queimados: Rio de Janeiro setecentista. Revista M. Estudos


sobre a morte, os mortos e o morrer, [S. l.], v. 6, n. 12, p. 331–345, 2021. Disponível em:
http://seer.unirio.br/revistam/article/view/11448. Acesso em: 19 jun. 2023.
Bibliografia
KRAMER, Heinrich e SPRENGER, James. Malleus Maleficarum- O martelo das Bruxas.
Tradução: Alex H.S. Disponivel em: www.marymad.awardspace.com. Acesso em: 10 de
junho.
MARTINEZ, Sabrina T.; ALMEIDA, Marcia R. e PINTO, Angelo C. Beladona, Meimendro e
Mandrágora: As 3 Ervas das Bruxas da Idade Média. Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Disponivel em: https://www.scielo.br/j/qn/a/6ZXjvrKQ8ych3drHbsDF5Dm/?
format=pdf&lang=pt. Acesso em: 19 de jun. de 2023.

MOREIRA, Vânia Daniela Martins. Bruxaria e a "caça às bruxas": abordagens sobre a sua
trajetória ao longo da Idade Moderna. Universidade do Minho - Instituto de Ciências
Sociais. Fevereiro 2021.
Bibliografia
OLIVEIRA, Pedro de. Processo de Felícia Tourinho. Arquivo Nacional Torre do Tombo.
Criado em 2008. Disponível em: https://digitarq.arquivos.pt/details?id=2301155

OLIVEIRA, Pedro de. Processo de Tereza Paes de Jesus. Arquivo Nacional Torre do Tombo.
Criado em 2008. Disponível em: https://digitarq.arquivos.pt/details?id=2302129.

SOUZA, Laura de Mello. O Diabo e a Terra de Santa Cruz: feitiçaria e religiosidade


popular no Brasil colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
Bibliografia

TODOROV, Tzvetan. Goya à Sombra das Luzes, São Paulo: Editora Companhia das Letras,
2014.

ZORDAN, Paula Basso B. G.. Bruxas Figuras de Poder. Estudos Feministas, Florianópolis,
13(2): 256, maio-agosto/2005. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acesso em: 10
de junho.
Obrigada!

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