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CURITIBA
2015
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
CURITIBA
2015
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 4
2 MACRODEMONOLO : O diabo nas malhas do Antigo Regime ................ 5
2.1 América diabólica ..................................................................................... 5
2.2 O Enraizamento ........................................................................................ 7
2.3 Por Fora do Império .................................................................................. 7
2.4 Por Dentro do Império - Infernalização e Degredo ................................... 8
3 MICRODEMONOLOGIA : O diabo e as Tensões Cotidianas ...................... 8
3.1 Ambiguidade amorosa: de Santas a Mulas-sem-Cabeça ......................... 9
3.2 Mentes e Corpos: Os Assaltos do diabo ................................................... 9
3.3 Em Torno de um Mito: A Elipse do Sabá .................................................. 9
4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 11
Informação biográfica:
Laura de Mello e Souza nasceu em São Paulo, em 1953, tendo feito
toda a sua formação acadêmica, da graduação à livre-docência, no
Departamento de História da Universidade de São Paulo, onde é professora de
História Moderna desde 1983. É autora de Desclassificados do Ouro (Graal,
1982) e O Diabo e a Terra de Santa Cruz (Companhia das Letras, 1986).
Título do livro: Inferno Atlântico: Demonologia e Colonização Séculos XVI -
XVIII (SOUZA, Laura de Mello e. Inferno Atlântico: Demonologia e Colonização
Séculos XVI-XVIII. São Paulo: Companhia das Letras, 1993).
1 INTRODUÇÃO
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Robert Mandrou, Jean Delumeau, John Putnam Demos, Gilberto Velho e
Francisco Bethencourt. Na última parte do livro, Souza faz uma análise de um
poema de Bernardo Guimarães.
O livro objeta se aprofundar em questões que preocupam a autora
desde 1985, quando defendeu a sua tese de doutorado, “Sabás e Calundus –
Feitiçaria, Práticas Mágicas e Religiosidade Popular no Brasil Colonial”, que foi
publicado com o título “O diabo e a Terra de Santa Cruz”. Para Laura, a chave
dessas questões está na tensão entre Europa, África e América.
Na primeira parte do livro, a autora explora as relações e tenta melhor
entender as visões européias sobre a América, e todos os capítulos referem-se
a momentos em que as trocas culturais entre o velho e o novo continente ainda
estavam em estágio de formação. O segundo capítulo faz uma abordagem da
religiosidade na colônia durante o primeiro século de ocupação portuguesa,
enquanto o quarto capítulo desenvolve dois textos anteriores sobre o degredo.
Na segunda parte do livro a autora dedica-se ao imaginário demonológico e o
universo cotidiano, o capítulo é praticamente um ensaio e sugere a
possibilidade de um grande universo imaginário comum. O capítulo sete trata
de processos inquisitoriais, enquanto o capítulo oito se ocupa da feitiçaria e sua
relação com outros fenômenos.
Primeira Parte
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A autora explica que a demonologia é um corpo doutrinário
fundamentado principalmente nos escritos de Santo Agostinho que, ao
materializar e atribuir inúmeras facetas ao demônio invisível do Antigo
Testamento, fundou o universo demonológico. Os europeus passaram a
enxergar as práticas religiosas dos ameríndios de acordo com a sua própria
cultura e apoiados em suas concepções demonológicas. O sabá das bruxas e
as práticas de feitiçaria tão perseguidas na Europa, daquele momento em
diante passaram a ter conexão com o comportamento obscuro dos índios; o
demônio foi expulso da Europa pela Santa Cruz e encontrou refúgio na
América.
O imaginário da época sustentava uma curiosa tradição criada por João
de Barros, a qual suscitava uma explicação de caráter religioso para o
descobrimento do Brasil: Cabral nomeou a nova terra “Santa Cruz” para
homenagear o lenho sagrado. De acordo com Souza “O Santo Lenho inscrevia
o sacrifício de Cristo na gênese da nova terra, que ficava toda ela dedicada a
Deus, havendo grande esperança na conversão dos gentios” (1993, p. 30). Não
obstante, o demônio, em resposta, trabalhou para que o nome dedicado ao
Santo Lenho fosse esquecido para ser substituído por um pau de cor abrasada
e vermelha usado para tingir panos; o pau Brasil.
Muitos não se conformavam com a mudança do nome da nova terra
para Brasil e insistiam em dizer que tal mudança foi manobra do diabo. Pero de
Magalhães Gândavo foi um dos que compactuou com essas crenças, que
demonizavam tudo e todos que não estivessem de acordo com a fé cristã. A
autora analisa o teatro do Padre José de Anchieta e encontra na obra do
catequista a demonização do índio e menciona Luis da Grã e Fernão Cardim,
que respectivamente classificaram os índios brasileiros como “traça do inferno”
e “povo do inferno”.
Na América, os europeus classificaram alguns ritos praticados pelos
ameríndios por meio dos pagés como idolatria e adoração do diabo, e essa
caracterização estava apoiada em fundamentos bíblicos, interpretados pelos
doutores da Igreja, sobretudo Santo Agostinho. O missionário Diego de Landa,
no Yucatán e na Guatemala, além de castigar os índios, matando pelo menos
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158 deles, confessou ter queimado “um grande número” de livros sagrados e,
de acordo com Souza, “inviabilizando para sempre a melhor compreensão da
cultura Maia” (1993, p. 37). Souza menciona uma rebelião de caráter religioso
que ocorreu em Mixton, Nova Galícia, pela liberdade de culto e contra o
catolicismo, onde foram queimadas cruzes e assassínio de vários missionários.
2.2 O Enraizamento
7
2.4 Por Dentro do Império - Infernalização e Degredo
Segunda Parte
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porque em seus devaneios foram observados muito da cultura popular, e este
fato não condizia com os métodos da escolástica dos eruditos inquisidores. Em
período de domínio espanhol sobre a península ibérica, Souza destaca a força
do sebastianismo, que saiu da cultura popular para ganhar a elite, que a
transformou em doutrina de salvação nacional.
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sabá das bruxas européias. Por meio de estudos de processos inquisitoriais
nos quais continham a acusação de pacto com o diabo na colônia e na
metrópole, Souza encontra relatos semelhanças com o sabá europeu. Nesses
processos o que chama a atenção da autora é a obsessão demoníaca, os
inquisidores estavam muito mais interessados em saber se o acusado havia
feito pacto com o diabo do que se havia praticado ritos semelhantes ao sabá.
Diante disso, a autora sugere que os inquisidores eram um tanto céticos em
relação aos devaneios do sabá e, em contrapartida, o pacto com o demo
estava mais ligado às concepções eruditas demonológicas.
De acordo com Souza, o diabo estava presente no dia-dia dos campos e
cidades portuguesas, há relatos de diabos que apareciam de madrugada nos
celeiros ou que vagavam pela cidade, na espreita, esperando um ser humano
para fazer um pacto. Souza afirma que “O diabo não foi sempre o mesmo
nesse mundo complexo e plural, heterogêneo pelas etnias e pelas culturas que
abrigava” (1993, p. 177). De acordo com a autora, após descobrimento e
colonização da América, o diabo “ganhou cocares de penas e tornou-se cada
vez mais negro” (1993, p. 177), e destaca que os malefícios e as práticas
mágico-curativas predominavam na feitiçaria luso-brasileira.
Para encerrar o livro, a autora faz uma análise da obra “A Orgia dos
Duendes”, de Bernardo Guimarães, e constata neste poema forte influência do
sabá europeu. Entretanto, pondera afirmações ambíguas de Olavo Bilac de que
as lendas do sertão brasileiro possuíam tradição sabática própria,
apresentando os diversos elementos ameríndios presentes na “Orgia dos
Duendes”, constatando a longa duração de crenças e harmonizando tradições
européias e brasileiras. De acordo com Souza (1993, p. 195)
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4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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