Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
João Leal*
*Universidade NOVA de Lisboa (UNL), Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Lisboa, Portugal. E-mail:
joao.leal@fcsh.unl.pt. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0513-103X.
1. O presente artigo é uma versão em português, ligeiramente modificada, de um artigo inicialmente pu-
blicado em inglês na revista Social Compass (LEAL, 2019a). Agradeço aos pais e mães de santo dos vários
terreiros, onde fiz pesquisa de campo, a sua hospitalidade e paciência. Agradecimentos especiais são devi-
dos a Pai Wender. A pesquisa para este artigo foi financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia
através do projeto “Ritual, Etnicidade e Transnacionalismo” (PTDC/CS-ANT/100037/2008) e pela FAPEMA
(através de uma bolsa de Professor Visitante que financiou o meu trabalho de campo em São Luís entre
maio e setembro de 2014). Agradeço aos/às pareceristas os seus comentários e sugestões.
2. A bibliografia sobre o Tambor de Mina inclui ainda os estudos de Amália Barreto (1987, 1997). Maria
do Rosário Santos e Manoel Neto (1989), Daniel Halperin (1995), Luís Nicolau Parés (1997) e Gerson Lin-
doso (2014). Reginaldo Prandi também escreveu sobre o Tambor de Mina em São Paulo (PRANDI, 1997;
PRANDI e SOUZA, 2004).
3. Jeje é a designação brasileira atribuída a pessoas (escravos) e formas culturais provenientes de grupos
étnicos tradicionalmente localizados pela literatura antropológica no antigo Daomé. No seu estudo recen-
te sobre o candomblé jeje da Bahia, Luís Nicolau Parés, adotando os critérios linguísticos propostos por H.
B. Capo, se refere a esses grupos como integrando uma área mais vasta de “gbe falantes”. Esta área com-
155
dos. Os encantados, em particular, desem- toques de tambor, que podem durar horas, e
penham um papel importante no Tambor de durante os quais os devotos incorporam uma
Mina: correspondem, na maioria dos casos, pluralidade de encantados. O script ritual do
a espíritos de pessoas que, após sua exis- Tambor de Mina inclui outros toques, dedi-
tência terrena, se encantaram, isto é, passa- cados a categorias específicas de entidades
ram a viver em universos paralelos ao uni- espirituais, como: o tambor da mata – dedi-
verso humano, localizados em rios, no mar cado às entidades da mata; o tambor de ín-
ou debaixo da terra. Na maioria das casas dio – dedicado aos espíritos dos “índios sel-
de culto, os encantados incluem várias cate- vagens”; e o ritual de cura – correspondente
gorias de entidades espirituais: reis e nobres a sessões de cura em que os encantados rela-
europeus, turcos, caboclos, princesas, surru- cionados com a Pajelança se fazem presen-
piras. Enquanto os caboclos podem ser en- tes. Alguns desses rituais são originários de
contrados noutras religiões afro-brasileiras, outros gêneros religiosos, de origem africa-
os reis e nobres europeus, bem como os tur- na ou indígena, mas foram incorporados no
cos, são entidades espirituais que só existem script ritual do Tambor de Mina. O mesmo
no Tambor de Mina. Algumas dessas entida- sucede com várias outras celebrações que
des têm a sua origem no Tambor de Mina, fazem parte do calendário anual do Tambor
outras derivam de gêneros religiosos como de Mina. Além da sua “produtividade espiri-
a Pajelança (designação local dada a crenças tual”, o Tambor de Mina carateriza-se, por-
e práticas xamanísticas de origem indígena) tanto, pela sua “produtividade ritual”. Em
e o Terecô – a religião afro-brasileira predo- ambos os casos, a expansão e a agregação
minante no sudeste do Maranhão (FERRET- (PARÉS, 2011) parecem ser características
TI, 2003; AHLERT, 2013; CRUZ, 2018). Essas básicas de Tambor de Mina.
diferentes entidades estão organizadas em Os princípios da produtividade espiritual e
famílias, e o princípio subjacente ao Tambor ritual, baseados na expansão e na agregação,
de Mina é a sua “produtividade espiritual” – são também importantes para entender ou-
adaptando um conceito proposto por Mauri- tro aspeto importante do Tambor de Mina: o
zio Bettini (2016) para outro contexto4. papel desempenhado no seu script ritual por
Como noutras religiões afro-brasileiras, crenças e práticas originárias do catolicismo.
a possessão, assim como os sacrifícios ani- Este ponto foi sublinhado por Otávio Eduardo
mais e outras ofertas, são as principais for- (1948), um discípulo de Herskovits que ana-
mas de culto nos terreiros de Tambor de Mi- lisou o Tambor de Mina como um exemplo
na. A possessão ocorre durante os chamados de “aculturação religiosa”. Mas foi sobretu-
preende “a região setentrional do atual Togo, República de Benim e o Sudoeste da Nigéria, onde habita-
vam povos tradicionalmente designados na literatura como adja. ewe, fon ou combinações desses termos
como adja-ewe” (PARÉS, 2011, p. 14).
4. A expressão usada por Bettini é “produtividade divina” e foi proposta no âmbito de sua análise do po-
liteísmo greco-romano. Refere-se tanto a processos de constante produção de divindades, como a práticas
de “divinização de seres originalmente mortais” (BETTINI, 2016, p. 122), como, finalmente, a “emprésti-
mos de divindades estrangeiras” (BETTINI, 2016, p. 127) e sua incorporação no panteão das religiões gre-
ga e romana. Em qualquer um dos casos, é a capacidade de produção de múltiplas entidades espirituais
característica de um determinado género religioso que o autor visa tematizar.
156 Rev. Pós Ciênc. Soc., São Luís, v.18, n.1, 155-174, jan/abr, 2021
do enfatizado por Sérgio Ferretti, cuja segun- atlânticos da Madeira e dos Açores, e a partir
da monografia sobre a Casa das Minas (FER- do século XVII migraram para o Brasil, vin-
RETTI, 1995) foi justamente dedicada ao es- dos tanto de Portugal continental como dos
tudo do sincretismo. Outros autores também Açores. No Maranhão, as festas foram ale-
enfatizaram esse aspeto do Tambor de Mina gadamente introduzidas no início do século
(BARRETTO, 1987; HALPERIN, 1995) XVII por colonos açorianos e são, atualmen-
É sabido que o conceito de sincretis- te, as festas católicas mais importantes no
mo tem sido amplamente utilizado para ca- estado (LEAL, 2017), além de serem também
racterizar outras religiões afro-brasileiras, o modelo para outras festas católicas no Ma-
nomeadamente o Candomblé (BASTIDE, ranhão (PACHECO, 2004).
1960). Mas a literatura antropológica dis- Em São Luís, a adoção ou a cooptação
ponível tem posto em relevo uma relação das festas pelos terreiros de Tambor de Mi-
muito mais forte entre o Tambor de Mina e na teve lugar no final do século XIX. Na dé-
o catolicismo do que aquela que podemos cada de 1940, Eduardo (1948) listou a sua
encontrar noutras religiões afro-brasilei- presença na maioria das vinte casas de cul-
ras. Ao contrário do que aconteceu, a partir to então ativas em São Luís e dados atuais
dos anos 1980, noutras religiões afro-bra- mostram que cerca de setenta casas de cul-
sileiras como o Candomblé (SERRA, 1995; to de Tambor de Mina (de um total estimado
SANSI, 2007), a dessincretização é também de 120) celebram a festa (LEAL, 2017).
uma tendência residual no Tambor de Mina O objetivo deste artigo é analisar os mo-
contemporâneo. dos de articulação entre Tambor de Mina e
Esta abertura do Tambor de Mina ao ca- festas do Divino. As festas poderiam even-
tolicismo tem várias expressões. Para além tualmente ser organizadas pelos terreiros de
das analogias mais usuais estabelecidas en- Tambor de Mina, de acordo com princípios
tre entidades espirituais africanas e santos de autonomia entre crenças e práticas ritu-
católicos (e invocações de Nossa Senho- ais afro-brasileiras e católicas que podem
ra), os toques de Tambor de Mina são geral- ser encontrados noutras religiões afro-bra-
mente precedidos por cânticos e rezas cató- sileiras. De facto, no início da minha pes-
licas, e muitos terreiros celebram festas ca- quisa, a autonomia das festas em relação ao
tólicas como o Natal, a festa de Santa Bár- Tambor de Mina era enfatizado por muitos
bara – que é vista com a padroeira do Tam- pais e mães de santo: como disse um deles,
bor de Mina –, ou a festa de São Lázaro – “Mina é Mina, Divino é Divino”. Mas, rapi-
que é homenageado por intermédio do ban- damente, me dei conta que em muitos ter-
quete dos cachorros. reiros a organização das festas conduz ao
Entre as festas católicas celebradas pelos estabelecimento de várias articulações com
terreiros de Tambor de Mina, as mais impor- entidades espirituais e com rituais do Tam-
tantes são as festas do Divino Espírito Santo bor de Mina. As festas são vistas como fes-
(ou, como são mais conhecidas no Brasil, as tas católicas, mas a sua apropriação pelos
festas do Divino). Estas festas têm a sua ori- terreiros é baseada na exploração de com-
gem no século XIV em Portugal continental. patibilidades ontológicas e interações ritu-
No século XV viajaram para os arquipélagos ais entre ambos os gêneros religiosos5.
5. Para uma exploração mais detalhada deste ponto, ver Ferretti (1995) e Leal (2017).
158 Rev. Pós Ciênc. Soc., São Luís, v.18, n.1, 155-174, jan/abr, 2021
(também conhecida como Associação Tenda católicas. As festas têm um repertório musi-
Umbandista Santo Onofre) –, foi escolhido cal próprio, que é executado por grupos de
por combinar tradições religiosas oriundas seis a oito mulheres, na sua maioria afro-
do Tambor de Mina com tradições religiosas descendentes, que tocam tambor e cantam –
provenientes da Umbanda. as chamadas caixeiras6.
As festas do Espírito Santo nas casas de
1. Mina e Divino: modos de articulação Tambor de Mina estão firmemente localiza-
das no terreno da devoção católica. São fre-
As festas do Divino em São Luís são ce- quentemente apresentadas pelos diferentes
lebrações religiosas em honra e louvor ao pais e mães de santo que as organizam co-
Espírito Santo, centradas numa coroa enci- mo resultantes da sua própria devoção pes-
mada por uma pomba, que representa o Es- soal ou de promessas ao Espírito Santo. Co-
pírito Santo. Além da coroa, este é ainda re- mo afirma Pai Wender, pai de santo do Ilê
presentado por um pombo de madeira e pe- Ashé Obá Izô:
lo mastro, que também sinaliza o lugar on-
de a festa ocorre. Enquanto algumas fes- Alguns fazem por fé, outros porque te-
tas são exclusivamente dedicadas ao Espí- ve uma promessa que foi na casa de um
rito Santo e ocorrem no domingo de Pen- devoto antigo, disse lá: ‘Ó meu Divino se
tecostes, a maioria cultua o Espírito Santo alcançar minha graça, eu faço uma festa
e um santo (ou santa) católico(a) (ou uma pra você, no próximo ano’. E assim, cada
invocação de Nossa Senhora) e ocorrem ao um tem a sua maneira de pedir as suas
longo do ano. Os chamados impérios, com- promessas e de hoje estar fazendo essa
postos por seis crianças ou pré-adolescentes festa. […] Creio que seja de […] devoção
de ambos os sexos, são os principais prota- de cada um mesmo e apegação ao Divi-
gonistas das festas. Usam trajes reais e dois no Espírito Santo.
deles – o imperador e a imperatriz –, usam
também uma pequena coroa. As festas po- A maioria das crianças dos impérios tam-
dem durar até três semanas e incluem vá- bém participa na festa, em resultado de pro-
rios segmentos rituais, como o buscamen- messas feitas ao Espírito Santo pelos seus pais
to e o levantamento do mastro e o seu der- (ou por outros parentes próximos) ou, nal-
rubamento, a coroação do imperador e da guns casos, como resultado de uma devoção
imperatriz, uma missa, várias refeições, in- “para a vida” desses seus parentes. Muitas das
cluindo uma grande refeição aberta ao pú- dezenas de pessoas que ajudam na festa, par-
blico, e sessões de cânticos dedicadas ao Es- ticularmente as caixeiras, também são pro-
pírito Santo e a outras entidades espirituais messeiros ou devotos do Espírito Santo.
6. Para uma descrição mais detalhada das festas do Divino, ver Ferretti (1995; 2001) e Leal (2017).
Terreiro Encantado
Casa das Minas Nochê Sepazim
Casa de Iemanjá Dom Luís
Casa Fanti-Ashanti Oxalá/ Lissá
Ilê Ashé Obá Izô Dom Luís
Casa de Dona Elzita Vó Missã/ Surrupirinha
Jardim da Encantaria Caboclo João da Mata
Casa de Pai Edmilson Palha Velha
160 Rev. Pós Ciênc. Soc., São Luís, v.18, n.1, 155-174, jan/abr, 2021
coroados pelas caixeiras. Nalgumas casas católico(a) (ou uma invocação de Nossa Se-
de culto, as crianças dos impérios – muito nhora). Essa entidade espiritual católica ge-
embora elas possam não ter conhecimento ralmente é “sincretizada” com um encanta-
do facto –, representam alguns encantados. do, e os toques de tambor são organizadas
Mas os segmentos rituais das festas, onde a em sua honra, bem como em homenagem a
participação dos encantados é mais saliente, outras entidades espirituais afro-brasileiras.
são os relacionados com o mastro. O bus- A maioria dos pais e mães de santo in-
camento, o levantamento e o derrubamen- siste que existe uma razão pragmática pa-
to do mastro decorrem num registo de brin- ra organizar esses toques de tambor durante
cadeira, excesso e transgressão e envolvem, o período da festa: o objetivo é tirar partido
na maioria dos terreiros, a participação de da concentração de pessoas propiciada pelas
uma categoria especial de encantados: os festas, de forma a envolver o maior núme-
chamados caboclos farristas, cujo compor- ro possível delas –sobretudo as que não são
tamento transgressivo foi exemplarmente frequentadoras habituais do terreiro –, com
descrito por Seth Leacock (1964). São eles os rituais do Tambor de Mina. Nestes casos,
os principais protagonistas afro-religiosos a separação entre os toques de tambor e as
desses segmentos rituais, e o seu comporta- festas do Divino é fortemente enfatizada.
mento transgressor é decisivo para que estes Nalgumas casas de culto, esses toques de
se coloquem do lado daquilo que, adaptan- tambor estão, porém, articulados com o Es-
do um conceito proposto por Victor Turner pírito Santo. A tribuna só é desmontada sete
(1969), poderíamos classificar como “an- dias depois do encerramento formal da fes-
tiestrutura” (LEAL, 2019b). ta e é em frente da tribuna – onde conti-
Em resumo: os encantados não só de- nua a coroa do Espírito Santo –, que se rea-
sempenham um papel importante na co- lizam os toques de tambor. As razões dadas
optação das festas pelas casas de culto de para a manutenção da tribuna por mais se-
Tambor de Mina, mas na maioria das festas te dias fazem, muitas vezes, intervir os en-
também estão ativamente envolvidos nelas. cantados: a tribuna ficaria montada porque
Podemos mesmo dizer que é graças à sua eles gostam de vir apreciar a riqueza da fes-
intervenção, que a festa – um ritual católico ta e o luxo dos trajes dos impérios (que fi-
– é “domesticada”, isto é, converte-se num cam igualmente na tribuna). Em alguns ter-
ritual que continuando a ser católico, passa reiros é mesmo estabelecida uma correlação
também a se situar no universo espiritual e mais explícita entre os toques de tambor e
ritual do Tambor de Mina. o Espírito Santo. No toque final de tambor,
As articulações entre as festas do Divino a coroa do Espírito Santo é ritualmente de-
e o Tambor de Mina também são evidentes volvida ao altar católico da casa através de
em alguns rituais afro-brasileiros que têm uma cerimônia que envolve a sua circula-
lugar durante o período dedicado às festas. ção entre todas as filhas e filhos de santo,
Efetivamente, na maioria dos terreiros, as e que é acompanhada por uma doutrina de
festas do Divino fazem parte de uma cele- Mina. Nalgumas casas de culto, as crianças
bração mais ampla que envolve a organiza- dos impérios participam também num toque
ção de cinco a sete toques de Tambor de Mi- de tambor dedicado às princesas – entidades
na. É o que acontece com as festas que lou- espirituais do Tambor de Mina que se com-
vam o Espírito Santo e um santo (ou santa) portam como crianças. Embora esses mo-
162 Rev. Pós Ciênc. Soc., São Luís, v.18, n.1, 155-174, jan/abr, 2021
no encerramento da tribuna é também resi- os impérios são substituídos por uma cor-
dual. Passa-se o mesmo com a participação te imperial composta por cerca de sessen-
dos caboclos farristas nas sequências rituais ta crianças, cada uma representando um en-
relacionadas com o mastro. Na casa de Do- cantado específico (ou um santo católico).
na Elzita, por exemplo, apenas os caboclos Simultaneamente, em resultado da decisão
de outras casas podem participar nessas se- tomada pelo pai de santo de fazer conver-
quências. Já na Casa Fanti-Ashanti e no ter- gir as festividades para o dia 13 de maio,
reiro Jardim da Encantaria, os caboclos não as festas do Divino estão aí fortemente li-
são bem-vindos. Como disse Pai Clemente gadas às celebrações do Preto Velho (uma
Filho: “não gosto desses bandos de caboclo entidade espiritual afro-brasileira muito po-
falando pornografia”. pular, associada à Umbanda). Essas celebra-
As conexões entre os toques de tambor e ções incluem procissões e refeições rituais
o Espírito Santo também não seguem – co- em que participam tanto as crianças da cor-
mo já mencionei anteriormente – um pa- te imperial como os encantados das diversas
drão fixo. Tanto a cerimônia que devolve a filhas e filhos de santo do terreiro. De igual
coroa ao altar católico da casa ao final do modo, no encerramento da tribuna, Pai Ed-
último toque, como a participação dos im- milson – debaixo de doutrinas de Umban-
périos no toque para as princesas, são espe- da –, incorpora sucessivamente as entidades
cíficas de algumas casas – como o Ilê Ashê espirituais que as crianças da corte imperial
Obá Izô ou o Terreiro de Mina Jardim da representaram durante toda a festa.
Encantaria. Finalmente, as conexões entre festas do
Nalgumas casas de culto, os modos de Divino e o Tambor de Mina estão também
articulação entre Tambor de Mina e fes- relacionadas com diferentes formas de
tas do Divino podem assumir formas mais discursar a autonomia dos dois gêneros
idiossincráticas e radicais. É o que se pas- religiosos. Embora a maioria dos pais e
sa no Ilê Ashé Obá Izó, onde se realiza uma mães de santo sublinhe as características
passagem de cura durante a festa. A passa- católicas das festas que, na opinião deles,
gem de cura é uma versão reduzida do ritual não são postas em causa pelas conexões
(ou brincadeira) de cura em que várias enti- entre as festas e o Tambor de Mina, alguns
dades espirituais, geralmente originárias da adotam um discurso “antissincrético” mais
Pajelança, são incorporadas sucessivamen- robusto (SHAW; STEWART, 1994): é esse
te pelo pai de santo. A sua realização no pe- o caso de Dona Elzita. Apesar de algumas
ríodo dedicado à festa, destina-se, segundo conexões relevantes que a sua festa
Pai Wender, a prevenir “choques de corren- estabelece com o Tambor de Mina (a casa
te”, isto é, conflitos entre os encantados que de culto de Dona Elzita é uma das casas
participam no buscamento, levantamento onde os impérios representam encantados),
e derrubamento do mastro7. Na casa de Pai ela tende a sublinhar de modo enfático as
Edmilson, as soluções adotadas são ainda características estritamente católicas de sua
mais radicais. Como vimos, no seu terreiro, festa. É por isso que, ao contrário do que a
7. O Terreiro de Mina Jardim da Encantaria realiza também uma passagem de cura, mas a justificativa da-
da por Pai Clemente Filho é mais geral: “serve pra limpar a casa, pra poder acontecer a festa”. Segundo
ele, vários outros terreiros têm, gradualmente, adotado essa prática.
164 Rev. Pós Ciênc. Soc., São Luís, v.18, n.1, 155-174, jan/abr, 2021
segmentos relacionados ao mastro era mais ou, inversamente, algumas soluções preci-
usual, e Pai Euclides era mais afirmativo em sas podem ser abandonadas. É o que se pas-
relação à conexão entre a festa do Divino e sa, por exemplo com a cerimônia de receção
Oxalá. Em algumas casas de culto, as mu- da coroa pelos encantados no dia da festa:
danças podem ocorrer de ano para ano. No a versão longa que Pai Wender adotou em
Ilê Ashé Obá Izó, a receção da coroa e dos 2014 introduziu um conjunto de novos de-
impérios pelos encantados foi, em 2013, talhes em relação ao padrão seguido na Ca-
uma cerimônia relativamente curta, mas, sa de Iemanjá que, provavelmente, já teria
em 2014, transformou-se num ritual com- introduzido algumas inovações no modelo
plexo com duração superior a uma hora. Em inicial adotado pela Casa de Nagô. Em con-
2013, no mesmo terreiro, os impérios parti- trapartida, a participação dos impérios no
ciparam no toque de tambor para princesas, toque para princesas na casa de Pai Wender
mas em 2014 este toque não se realizou. Ou é trabalhada de forma relativamente menos
seja, a flexibilidade não diz apenas respeito elaborada do que na Casa de Iemanjá (don-
às diferenças entre casas de culto, mas está de parece ser originária).
também relacionada com os diferentes mo- Há outras soluções que são vistas co-
dos de gestão da diversidade adotados por mo sendo mais tradicionais. É esse o caso
cada terreiro ao longo do tempo. do papel desempenhado pelos encantados
na cooptação das festas do Divino. Esse pa-
3. Diversidade e criatividade drão ritual parece ter sido estabelecido no
início do processo de apropriação das fes-
A diversidade dos modos de articulação tas do Divino pelas casas de Tambor de Mi-
entre Tambor de Mina e as festas do Divino na, em finais do século XIX. Assim, de acor-
está estreitamente articulada à criativida- do com uma narrativa de origem muito di-
de que caracteriza o Tambor de Mina. Isso fundida, a primeira festa do Divino que teve
é mais evidente em relação a algumas solu- lugar num terreiro de Tambor de Mina foi
ções rituais que têm uma autoria individu- realizada na Casa das Minas, e resultou de
al que as conectam a uma casa de culto par- um pedido de uma vodum (Nochê Sepazim)
ticular. É esse o caso, como já mencionado, (FERRETTI, 1995). É também o que se passa
da cerimônia que devolve a coroa ao altar com a participação dos encantados nos seg-
da casa, no final do último toque de tambor mentos rituais relacionados com o mastro:
realizado no período da festa. É também es- tanto quanto as pessoas se lembram, os en-
se o caso da participação dos encantados na cantados, particularmente os caboclos far-
cerimônia que acolhe a coroa e os impérios ristas, sempre participaram nesses segmen-
após a missa, e o da participação dos im- tos da festa. Apesar de serem vistas como
périos no toque para princesas. Todas essas mais tradicionais, essas soluções podem ser
soluções rituais são relativamente recentes, trabalhadas de diferentes maneiras: no pri-
e foram adotadas pela primeira vez em ter- meiro caso, como vimos, a devoção do en-
reiros específicos que as pessoas conseguem cantado ao Espírito Santo é por vezes trans-
identificar com facilidade. A partir daí, via- formada em “simpatia” para com a festa;
jam para outros terreiros e outras festas. No no segundo caso, mesmo que a maioria das
decurso do seu processo de difusão, novos casas de culto receba encantados nos seg-
detalhes rituais podem ser acrescentados mentos rituais relacionados com o mastro,
8. A orientação inovadora do terreiro do Egito foi evidenciada por Mundicarmo Ferretti, que sublinhou ter
sido ele “’o berço’ de várias ‘linhas’ de entidades espirituais caboclas ou ‘brasileiras” e o “introdutor, ou
inspirador, de rituais realizados para entidades não africanas” (FERRETI, 2000, p. 162).
166 Rev. Pós Ciênc. Soc., São Luís, v.18, n.1, 155-174, jan/abr, 2021
Em ambos os casos, sua aproximação mul- nizar não apenas rituais do Tambor de Mi-
tiplica as conexões entre gêneros religiosos. na, mas também rituais do Candomblé. To-
Na Casa de Iemanjá e no Ilê Ashé Obá davia, sua adoção do Candomblé baseou-se
Izô, cujo pai de santo foi iniciado na Casa de em princípios de estrita separação espacial
Iemanjá, as conexões entre Tambor de Mina e temporal entre os dois gêneros religiosos.
e festas do Espírito Santo também são signi- Como disse um dos pais de santo que foi
ficativas. Isso parece derivar de uma abor- iniciado por Pai Euclides:
dagem mais eclética em relação à gestão das
fronteiras entre gêneros religiosos, adotada [...] segundo [ele] me relatou, lá ele tinha is-
na década de 1960 pelo falecido Pai Jorge, so tudo [os caboclos no mastro], mas depois
o ex-pai de santo da Casa de Iemanjá. Como da chegada do Candomblé isso quebrou um
Gerson Lindoso escreveu, Pai Jorge desen- pouco. Não se sabe se é por causa dos rituais
volveu alguns contactos com o “Candom- de aceitamento, a entidade não se torna nu-
blé e Umbanda e outras religiões afro [e es- ma figura muito à vontade […]. Pode ter sido
ses contactos] foram muito relevantes pa- alguma coisa referente a isso.
ra sua jornada religiosa” (LINDOSO, 2014,
p. 98). Consequentemente, a sua política em Entrentanto, na maioria dos casos, as ar-
relação às festas do Divino era dirigida para ticulações entre Tambor de Mina e festas do
o estabelecimento de vínculos mais efetivos Divino estão sobretudo relacionadas com as
com o Tambor de Mina. diferentes políticas de gestão dos binômios
No extremo oposto, as casas de culto de contenção e exibição (JOHNSON, 2002)
Tambor de Mina onde as conexões entre – ou invisibilidade e visibilidade (CAS-
festas do Divino e Tambor de Mina são me- TILLO, 2010) – que, tal como noutras reli-
nos efetivas, são também caracterizadas por giões afro-brasileiras, caracterizam o Tam-
uma abordagem menos inclusiva em rela- bor de Mina. Como anteriormente mencio-
ção a outros gêneros religiosos. É o que se nado, a festa do Divino é a festa mais im-
passa na Casa das Minas, que, dedicada so- portante dos terreiros de Tambor de Mina e
mente ao culto dos voduns, exclui do seu aquela que os abre para públicos mais lar-
script ritual, diferentemente do que passa na gos e os projecta de forma mais efetiva na
maioria dos terreiros de São Luís, entidades esfera pública (LEAL, 2017). Nesse sentido,
espirituais e rituais provenientes de outros ela faz parte das estratégias de visibilidade
gêneros religiosos. Também aí são discretas por intermédio das quais as casas de culto
as articulações entre as festas e o Tambor de Tambor de Mina se envolvem com a es-
de Mina. Como sublinhou Ferretti (1995), a fera pública, religiosa e política de São Luís.
presença de encantados na festa é muito só- Estas estratégias derivam não apenas da ne-
bria e passa quase despercebida. É também cessidade de contrariar estereótipos genera-
esse o caso da Casa Fanti-Ashanti. Sen- lizados sobre o Tambor de Mina, como, em
do um dos mais inovadores pais de santo anos mais recentes, da necessidade de rea-
de São Luís, Pai Euclides, depois de ter sido gir à ofensiva neopentecostal contra as reli-
iniciado no Tambor de Mina nos anos 1950 giões afro-brasileiras. De facto, sendo con-
(FERRETTI, 2000), foi iniciado no Candom- sideradas como as mais importantes festas
blé no final da década de 1970, no Recife. A católicas em todo o Maranhão, as festas do
partir daí, sua casa de culto passou a orga- Divino contribuem, de forma poderosa, pa-
9. A importância dos discursos sobre cultura nas religiões afro-brasileiras foi sublinhada por diversos au-
tores (por exemplo, TELES DOS SANTOS, 2007; SANSI, 2007). Enquanto no caso do Candomblé esses dis-
cursos operam a partir da objetificação cultural das suas raízes africanas, no Tambor de Mina reservam,
como pudemos verificar, um papel importante às festas do Divino (LEAL, 2018).
168 Rev. Pós Ciênc. Soc., São Luís, v.18, n.1, 155-174, jan/abr, 2021
to a “dançar no palácio” do Governo Esta- Considerações finais
dual do Maranhão, àquela altura presidido
por José Sarney. Pai Jorge organizava tam- Como foi afirmado no início deste ar-
bém, regularmente, apresentações públicas tigo, a diversidade dos modos de articula-
de Tambor de Mina. Entre a contenção e a ção entre Tambor de Mina e festas do Divi-
exibição, a sua opção era, mais claramente no é o resultado da gestão criativa das co-
do que no caso de outros terreiros, pela exi- nexões e fronteiras que presidem a relação
bição. Esta opção é também uma das “ima- entre ambos os gêneros religiosos. Este arti-
gens de marca” de muitos terreiros – como go pode, assim, ser visto como uma contri-
o Ilê Ashé Obá Izô –, cuja filiação espiritu- buição para os debates antropológicos atu-
al remonta à Casa de Iemanjá. Num como ais sobre criatividade. Como noutros casos,
noutro caso, é a mesma estratégia de visi- a criatividade no Tambor de Mina não diz
bilidade adotada em relação ao conjunto da apenas respeito ao “extraordinário”, mas é
ritualidade afro-brasileira que é aplicada às uma característica intrínseca aos processos
conexões entre Mina e Divino. religiosos que analisei. Como Robert Boro-
Os modos de articulação entre Tambor fsky (2001, p. 69) escreveu: “a criatividade
de Mina e as festas do Espírito Santo po- é mais gerúndio do que substantivo – mais
dem, portanto, ser vistos como uma respos- uma criação, um processo, do que uma coi-
ta a um contexto político mais amplo que sa que possa ser localizada. Está sempre em
torna a (in)visibilidade num ponto central movimento”. Como noutros casos também,
das relações que as casas de culto de Tam- a criatividade não se aplica apenas às ino-
bor de Mina mantêm com a esfera pública. vações introduzidas num script preexisten-
Localizando-se na encruzilhada entre devo- te, mas também a formas de gestão da tra-
ção católica e obrigação afro-religiosa, eles dição que incluem não apenas a reiteração,
podem envolver diferentes formas de tornar mas também a secundarização ou a supres-
(mais ou menos) explícita esta sua natureza são de opções rituais consagradas. Como
religiosa dual. Tim Ingold e Elisabeth Hallam argumenta-
Afirmar isto não é reduzir a análise às ram, a criatividade não é apenas sobre o que
teses defendidas, por exemplo, por Basti- é “novo”, mas também sobre o modo como
de (2002 [1946]), que fazem do catolicismo são geridas a “convenção” e a “continuida-
uma “máscara” usada com intuitos mera- de” (2007, p. 2, 5).
mente estratégicos pelos terreiros afro-bra- A análise que propus também é impor-
sileiros. A adoção das festas do Divino pelos tante porque permite corrigir a tendência
terreiros de Tambor de Mina tem, antes do para olhar a criatividade como estando se-
mais, uma base religiosa que combina devo- parada dos contextos políticos mais amplos
ção católica e obrigação afro-religiosa. Sem que a permitem ou enfraquecem. As arti-
essa firme base religiosa, elas provavelmen- culações entre Tambor de Mina e festas do
te já teriam entrado em declínio. Mas sendo Divino podem ser vistas como “constrai-
também “a festa maior dos terreiros”, aquela ned combinatorics” (isto é, como “combina-
que os projeta de forma mais enfática na es- ções constrangidas”) (FRIEDMAN, 2001, p.
fera pública, a sua gestão envolve necessa- 48), fortemente dependentes das políticas de
riamente opções relativas aos modos de ex- exibição e contenção adotadas em diferen-
plicitação do encaixe entre Mina e Divino. tes casas de culto. Mas isso não significa que
170 Rev. Pós Ciênc. Soc., São Luís, v.18, n.1, 155-174, jan/abr, 2021
As teorias clássicas do sincretismo têm ety in nineteenth-century Maranhão, Brazil. Bul-
também colocado mais ênfase nos seus re- letin of Latin American Research, v. 14, n. 3, p.
sultados finais do que nos processos as- 265-286, 1995.
sociados a eles. Isso é muito evidente nas ______. Brazilian popular culture or the curse and
abordagens taxonómicas propostas por blessings of cultural hybridism. Bulletin of Latin
Bastide com o objetivo de definir diferen- American Research, v. 24, n. 2, p. 157-166, 2005.
tes tipos de sincretismo (por exemplo, sin- BARRETTO, M. S. P. Os voduns do Maranhão. São
cretismo mágico vs. sincretismo religioso; Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1977.
sincretismo material vs. sincretismo formal)
BARRETTO, M. A. P A Casa de Fanti-Ashanti em
(BASTIDE, (2000 [1963]; 2002 [1946]). Os
São Luís do Maranhão. 1987. Tese (Doutorado em
resultados são, naturalmente, importantes.
Comunicação e Cultura) – Museu Nacional, Uni-
Mas, por um lado, o que este artigo mos-
versidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ, Rio de
tra é não só a sua imprevisibilidade, mas a Janeiro, 1987.
inutilidade de conceptualizar de uma forma
BASTIDE, R. Le principe de coupure et le compor-
muito rígida algo que é por definição flutu-
tement afro-brésilien. In: CONGRESSO INTERNA-
ante. Por outro lado, o artigo defende que
CIONAL DE AMERICANISTAS, 31, v. I, São Paulo,
tão importantes como os resultados são os
Anais... São Paulo: Anhembi, 1955, p. 493-503.
processos que os produzem. Os resultados
são sempre provisórios, podem ser revistos ______. Les Religions Africaines au Brésil. Paris:
ou (re)elaborados, podem ser abandonados PUF, 1960.
ou recriados. Mas dependem sempre de pro- ______. L’acculturation formelle. In: BASTIDE, R.
cessos que implicam a supervisão constan- Le Prochain et le Lointain. Paris: L’Harmattan,
te e criativa de formas antigas e a experi- 2000 [1963], p.137-148.
mentação com novas possibilidades. Adap- ______. Contribution à l’étude du syncrétisme ca-
tando uma formulação proposta por Ingold tholico-fétichiste. In: BASTIDE, R. Poètes et Dieux:
e Hallam, o que é importante nos modos de Études Afro-Brésiliennes. Paris: L’Harmattan,
articulação entre Tambor de Mina e as fes- 2002 [1946], p. 183-221.
tas do Divino é “continuar, em vez de che- BETTINI, M. Éloge du Polythéisme. Paris: Les
gar a um beco sem saída ou ficar preso num Belles Lettres, 2016.
conjunto de ciclos condenados a repetir-se
BOROFSKY, R. Wondering about Wutu. In: LIEP, J.
para sempre” (2007, p. 7).
(Org.) Locating Cultural Creativity. London: Pluto
Press, 2001, p. 62-70.
Referências
CAPONE, S. A busca de África no candomblé:
ANJOS, J. No território da linha cruzada: cosmo- tradição e poder no Brasil. Rio de Janeiro: Pallas,
política afro-brasileira. Porto Alegre: Ed. UFRGS, Contracapa, 2005.
2006. ______. Les Babalowa en quête d’une Afrique ‘uni-
AHLERT, M. Cidade relicário: uma etnografia so- verselle’ ou le syncrétisme revisité. In: CHANSON.
bre Terecô, precisão e encantaria em Codó (Ma- P. et al (Orgs.) Mobilité Religieuse: Retours Croi-
ranhão). 2013. 282 f. Tese (Doutorado em Antro- sés des Afriques aux Amériques. Paris: Karthala,
pologia Social) – Universidade de Brasília-UnB, 2014, p. 95-114.
Brasília, 2013. CASTILLO, L. Entre a oralidade e a escrita: a etno-
ASSUNÇÃO, M. Popular culture and regional soci- grafia nos candomblés da Bahia. Salvador: Edufba,
2010.
______. Religious syncretism in an Afro-Brazil- JOHNSON, P. Secrets, Gossip, and Gods: The
ian cult house. In: GREENFIELD, S.; DROOGERS, transformation of Brazilian Candomblé. Oxford:
A. (Orgs.) Reinventing Religions: Syncretism Oxford University Press, 2002.
and Transformation in Africa and the Americas.
LEACOCK, S. Fun-loving deities in an Afro-Brazil-
Laham: Rowman and Littlefield Publishers, 2001,
ian cult. Anthropological Quarterly, v. 37, n. 3, p.
p. 87-97.
94-109, 1964.
______. Formas sincréticas das religiões afro-
LEAL, J. A festa maior dos terreiros: Divino e Mina
americanas: o Terecô de Codó (MA). Cadernos de
em São Luís (Maranhão). Revista Pós Ciências So-
Pesquisa, v. 14, n. 2, p. 95-108, 2003.
ciais, n. 21, p. 105-125, 2014.
______. Querenbentã de Zomadônu: etnografia
______. O culto do Divino: migrações e transfor-
da Casa das Minas do Maranhão. Rio de Janeiro:
mações. Lisboa: Edições 70, 2017.
Pallas, 2009 [1985].
______. Religião como cultura? As Festas do Di-
FRIEDMAN, J. The Iron Cage of Creativity: An Ex-
vino, o Tambor de Mina e o regime patrimonial.
ploration. In: LIEP, J. (Org.). Locating cultural cre-
Revista Pós Ciências Sociais/REPOCS n. 30, p. 91-
ativity. London: Pluto Press, 2001, p. 46-61.
112, 2018.
GOLDMAN, M. “Quinhentos anos de contacto”:
______. Holy Ghost Feasts in Tambor de Mina cult
para uma teoria etnográfica da (contra)mestiça-
houses: modes of articulation”. Social Compass, v.
gem. Mana, v. 21; n. 3, p. 641-659, 2015.
66, n. 3, p. 383-399, 2019a.
GONÇALVES, J.; LEAL, J. Festas do Espírito Santo
______. Os encantados nas Festas do Divino: es-
no Maranhão: uma aproximação de conjunto. Bo-
trutura e antiestrutura. Sociologia & Antropolo-
letim da Comissão Maranhense de Folclore, n. 60,
gia, v. 9, n. 2, p. 431-451, 2019b.
p. 10-17, 2016.
LEOPOLD, A.; JENSEN, J. (Orgs.) Syncretism in
GREENFIELD, S.; DROOGERS, A. (Orgs.) Reinvent-
Religion: A reader. New York: Routlege, 2004.
172 Rev. Pós Ciênc. Soc., São Luís, v.18, n.1, 155-174, jan/abr, 2021
LIEP, J. (Org.) Locating Cultural Creativity. Lon- ian art and culture in the 20th century. New York;
don: Pluto Press, 2001. Oxford: Berghahn Books, 2007.
LINDOSO, G. Ilê Ashé Ogum Sogbô: etnografia de SANTOS, J. O poder da cultura e a cultura no po-
um terreiro de Mina em São Luís do Maranhão. der: a disputa simbólica da herança cultural negra
São Luís: Café e Lápis; Edufma, 2014. no Brasil. Salvador: Edufba, 2005.
MARY, A. Le Défi du Syncrétisme: Le travail sym- SERRA, O. Águas do Rei. Petrópolis-RJ: Vozes,
bolique de la religion d’Egoba (Gabon). Paris: Édi- 1995.
tions de l’EHESS, 1999.
SHAW, R.; STEWART, C. (Orgs.) Syncretism/An-
NETO, E. A geometria do axé: o sincretismo como ti-Syncretism: The politics of religious synthesis.
topologia. R@U, v. 9, n. 2, p. 171-183, 2017. London; New York: Routledge, 1994.
ORO, A. P.; ANJOS, J. Festa de Nossa Senhora STEWART, C. Creolization, hybridity, syncretism,
dos Navegantes em Porto Alegre: sincretismo en- mixture. Portuguese Studies, v. 27, n. 1, p. 48-55,
tre Maria e Iemanjá. Porto Alegre: Ed. da Cidade; 2011.
Instituto Estadual do Livro; Prefeitura de Porto
TURNER, V. The Ritual Process. Structure and an-
Alegre, 2009.
ti-structure. Chicago: Aldine, 1969.
PACHECO, G. Brinquedo de cura: um estudo sobre
a pajelança maranhense. 2004. 283 f. Tese (Dou-
torado em Antropologia Social) – Museu Nacional,
Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ, Rio
de Janeiro, 2004.
PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS
Tambor de Mina. Religiões afro-brasilei- Tambor de Mina. African-Brazilian reli-
ras. Criatividade. Modos de articulação. gions. Creativity. Modes of articulation.
Sincretismo. Syncretism.
174 Rev. Pós Ciênc. Soc., São Luís, v.18, n.1, 155-174, jan/abr, 2021