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RELATÓRIO DE PESQUISA

DOSSIÊ BUMBA MEU BOI


IPHAN

Projeto: Morte e vida: reinvenção e ancestralidade do boi maranhense de São Paulo

EDITAL PROAC EXPRESSO Nº 16/2020 PROGRAMA DE AÇÃO CULTURAL - ProAC


PARÂMETROS ESPECÍFICOS “REGISTRO INÉDITO E LICENCIAMENTO DE
CONTEÚDO DE CULTURA POPULAR, TRADICIONAL, URBANA, NEGRA, INDÍGENA E
LGBTQI+ PARA EXIBIÇÃO ONLINE (#CulturaEmCasa)”

Proponente: Kessis Soares de Sena

2021
INTRODUÇÃO

Meu povo presta atenção os poetas do Maranhão


Que canta sem ler no livro, já tem em decoração
Todo ano mês de junho temos por obrigação
De cantar toada nova em louvor de São João
Viva a bandeira brasileira cobrindo a nossa nação

Palavras chave:

celebração

festa
arte
devoção
crenças
mitos
alegria
cores
dança
música
teatro
artesanato

TEMPORALIDADE

ciclo festivo - 4 etapas: ensaios, batismo, apresentações públicas ou brincadas e a morte


sábado de aleluia - início da temporada - primeiros ensaios - terminam na primeira quinzena
do mês de junho - ensaios redondos (último ensaio)

23 de junho - véspera de São João - acontece o batismo dos bois - licença do santo protetor
dos Bumbas para as brincadas

Julho a Dezembro - morte dos bois - encerramento do ciclo festivo

TERRITÓRIOS

Alvorada na Capela de São Pedro, na Madre Deus - dia 29


Desfile na Avenida São Marçal, no João Paulo, dia 30

TEMPORALIDADE DA FESTA
1 - GUARNICÊ OU TOADA - Preparação do grupo para dar início à brincadeira -
agrupamento dos brincantes
2 - LÁ VAI - Aviso que o grupo está saindo para brincar
3 - BOA NOITE, CHEGOU OU LICENÇA - o Boi pede permissão para dançar
4 - SAUDAÇÃO - Louvação ao Boi ao dono do espaço de apresentação e assistência -
estão presentes cantos que tratam de temas políticos e sociais da atualidade
5 - ENCENAÇÃO DO AUTO
6 - URROU - momento em que o Boi ressuscita
7 - DESPEDIDA - final da apresentação

ATORES (POVO)

ESTIVADORES
PESCADORES
TRABALHADORES RURAIS
PEQUENOS COMERCIANTES
ESTUDANTES
FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS

SOTAQUES
Sotaque da Ilha ou de matraca - São Luís
Sotaque de Guimarães ou de Zabumba - Guimarães
Sotaque de Cururupu ou costa-de-mão - Cururupu e Viana
Sotaque da Baixada ou de Orquestra - Rio Munim

A classificação em sotaques tem variações não reconhecidas


exemplos:
Bois de Reis - Região de Caxias
Bois - bumbás - Região do Gurupi, Alto Mearim e Grajaú
Bois de municípios como Alto Alegre e Bacabal - Baixo Parnaíba e Lençois Maranhenses -
diferente dos 5 sotaques

GRUPOS PARAFOLCLÓRICOS - Bois de promessa, Bois de verão, Bois de Carnaval


inspirados nos Bois de Encantado ou Bois te Terreiro - ligados à religiosidade
afro-maranhense

PERSONAGENS
BOI - miolo (tripa, alma ou fato)
AMO - cantador, cabeceira, comandante, patrão ou mandador
VAQUEIROS DE CORDÃO
VAQUEIROS CAMPEADORES
RAJADOS
MARUJADOS
RAPAZES
CABOCLOS DE PENA
CAZUMBAS
TOUREIROS
TAPUIOS
TAPUIAS
PANDUCHAS
CAIPORA
MANGUDA
BICHOS
ÍNDIAS
ÍNDIOS
BURRINHA
DONA MARIA
PAI FRANCISCO - OU NEGO CHICO
CATIRINA
APOIADORES - conserveiras, mutucas, torcedoras, doceiras, cozinheiras, gerente, regente,
fogueteiro, fogueireiro, ajudante de amo

BOI - 50 A 200 PESSOAS


BOI DE MATRACA - 1000 PESSOAS

INSTRUMENTOS DO BUMBA MEU BOI


BUMBOS
MARACÁS
GANZÁS
PANDEIRÕES
V8 (PANDEIROS QUADRADOS GRANDES)
TAMBOR-ONÇA
CHOCALHOS
PALMAS
CUJUBAS
BÚZIO (BORÁ)
MARCAÇÕES
RETINTAS
MATRACAS
ZABUMBAS
PANDEIRINHOS
BANJOS
CLARINETES
SAXOFONES
PISTONS
TROMBONES
TROMPETES
ENTRE OUTROS

Parte I - O Bumba-meu-boi no contexto histórico-cultural maranhense 12

CULTO AO BOI NA HISTÓRIA DAS CIVILIZAÇÕES

Pré História - Paleolítico - registros mais antigos - Lauscaux - França


Desenhos de bizontes e cavalos

Idade do Bronze - gravuras rupestres - bovinos como animias de tiro


Antiguidade oriental e clássica - relação da espécie Bos Taurus com egípcios, assírios,
hindus, gregos e romanos - representações simbólicas ganham importância
Egito - Culto ao Boi Ápis - animal sagrado - guarda relação totêmica - crença na existência
de parentesco ou de afinidade mística

Ápis - deriva de ap, apis , significa alto, elevado no sentido de pai, mestre

“A ligação estreita entre ser humano e o animal boi está presente na mitologia de
vários povos. (...) A sua ligação com os ritos religiosos como vítima ou como
sacrificado lhe dá uma caráter sagrado. Sagrado no Egito, Fenícia, Caldéia,
Cartago, merecedor de cultos e festividades, imagem de fecundidade e relacionado
com os sistemas astrais, os Babilônios escolheram-no para representar um dos dez
signos do zodíaco. Na China antiga, um boi de barro representava o frio, que se
expulsava na primavera para favorecer a renovação da natureza. A iconografia
Hindu lhe fez a montaria e o emblema de Yama, divindade da morte. Respeitado
como ser humano, o se sacrifício é um ato religioso essencial entre as populações
montanhesas do Vietnã, cuja morte ritual lhe dá o status de enviado, o intercessor
da comunidade junto aos espíritos superiores. Em todo o norte da África, o boi é
um animal sagrado oferecido em sacrifício, ligado aos ritos do trabalho e da
fecundidade da terra (Chevalier & Gheerbrant apud Viana, 2006:30)

Grécia
Roma
Índia

Presente na história de Zeus e Júpiter


Presente na história de Hércules (heroi tebano) - tarefa de apoderar-se dos bois de Gerion e
domar o touro da Ilha de Creta enviado por Posseidon contra Minos.
“Minos pede aos deuses um sinal de sua aprovação na disputa da coroa com seus irmãos,
tendo, por obra de Posseidon/Netuno, saído do mar um touro branco”

“O rei tinha por costumes sacrificar anualmente ao deus do mar, das ilhas e das ribeiras o
seu touro mais belo e, tendo, certa vez, imolado um menos valioso para poupar o mais
bonito que já encontrara, fora castigado por Posseidon”

Presente na mitologia greco-romana sacrifícios de touros aos deuses Zeus/Júpiter,


Ares/Marte e bois à Atena/Minerva e Artemis/Diana

Arte mitológica - associação dos deuses ao animal

Presença na cultura judaico-cristã - citações bíblicas

Existem mais exemplos do valor atribuído à espécie pelo mundo

Modernidade - relação com o boi antes mística ganha caráter festivo - ampliação de
significados
Presença em rituais cristãos - Boi de São Marcos - 25 de abril - acompanhado pelos fieis
em devoção - utilização do boi para levar população laica às igrejas

Modernidade europeia - celebrações ao boi sobreviveram entre os povos de origem latina -


Boeuf Gras - França, touros fingidos em Espanha e Portugal.

África - Atlântico Sul - ritual de saimento do Boi Sagrado


Angola - Bantus - Boi Geroa, boi malhado - significa paz e abundância na terra - festejo
relacionado às colheitas

Norte da África - atlântico ocidental por Geoffrey Gorer, em Heviossô

CULTO AO BOI
DISSEMELHANÇAS
1 - Culto ao animal vivo, objeto de adoração, considerado a própria divindade ainda que por
meio de incorporação
2 - Culto ao animal metaforicamente associado às divindades, que, simbolizando o deus, é
sacrificado numa espécie de teofagia ritual - comunhão sagrada com o deus que transfere
sua força e poder aos que participam do rito

DIVERSAS FORMAS DE CELEBRAR O BOI


Animal preponderante nas representações socioculturais de povos no Mundo Antigo
boi trabalho
boi alimento
boi fertilizante
boi reprodutor
animal elevado por processo de atribuição de valores simbólicos a ícone sagrado
boi totem
boi mito
boi divindade
“enriquecido com elementos profanos, ganhou caráter festivo, sem renúncia de seu caráter
religioso, tornando-se boi celebração”

Origem e recriação: notas sobre a origem do Bumba-meu-boi no Brasil

Intelectuais que se debruçaram sobre o tema de difícil de linearidade:


Celso Magalhães
Silvio Romero
Nina Rodrigues
Mário de Andrade
Renato Almeida
Câmara Cascudo
Arthur Ramos
Edison Carneiro
Amadeu Amaral

Segunda metade do século XIX - preocupações em identificar a origem das expressões


culturais
Celso Magalhães e Silvio Romero - afirmavam ser de procedência portuguesa a narrativa
brasileira

Nina Rodrigues, precussor dos estudos negros - sustetna serem sobrevivência dos povos
africanos bantus e sudaneses

Século XIX - primeiros registros sobre o folguedo no Brasil - publicações em Periódicos no


Maranhão, Pernambuco e Pará
Século XX - Folclorismo no Brasil - décadas de 30 a 50 - “No período compreendido entre
as décadas de 30 e 50, proliferaram as versões acerca da forma como o Bumba-meu-boi
surgiu no Brasil, considerando as origens ibérica, africana e autóctone. Os autores que
crêem ser o Bumba-meu-boi proveniente da Península Ibérica admitem a fusão de
elementos nativos que enriqueceram o folguedo de origem lusitana”.

Mário de Andrade - reforça a vertente portuguesa


“assim como a poesia popular e os demais autos e danças dramáticas, da forma como se
apresentam no Brasil, ‘foram constituídos integralmente aqui (...), ordenados
semi-eruditamente nos fins do XVIII, ou princípios do século seguinte’”.
Segundo Mário, o boi “coincide ‘com festas mágicas afro-negras’, tendo se transformado na
‘mais complexa, estranha, original de todas as nossas danças dramáticas’”.

Renato de Almeida e Câmara Cascudo:


Compreendem o boi como uma fusão de elementos de origem portuguesa e nativos.
Renato de Almeida: reitera origem portuguesa com reinvenção nativa e africana
Câmara Cascudo: sugere que inicia-se com o boi de canastra português:

“(...) A movimentação ginástica do boi-de-canastra trouxe o vaqueiro e o auto se criou pela


aglutinação incessante de outros bailados de menor densidade na apreciação coletiva”.
(Cascudo, s/d:195). O folclorista informa, ainda, que nesse processo de reinvenção no
Brasil, convergiram para o auto, personagens do cotidiano do meio pastoril - gente comum
do mundo rural, figuras fantasmagóricas que habitam o imaginário popular e animais.

1920-1940 - RECONHECIMENTO DA CONTRIBUIÇÃO NEGRA PARA CONSTRUÇÃO DA


NACIONALIDADE BRASILEIRA

Arthur Ramos

Representa este expoente - considera África berço do bumba


Assemelha-se a Nina Rodrigues - totemismo bantu - costuume bantu de realizar festas
totêmicas

“... principalmente o totem do boi que sobreviveu de maneira decisiva no Brasil,


reforçado por themas [sic] analogos [sic] do folk-lore caboclo dos vaqueiros, de
influencia [sic] amerindia [sic], em certos pontos do nordeste e centro brasileiros. O
totemismo do boi é largamente disseminado entre varios [sic] povos bantus onde,
em algumas tribus [sic], toma um aspecto francamente religioso.” (Ramos,
1988:259)
entre os bantus o boi é o “animal totêmico por excelência”

“o auto popular do bumba-meu-boi a mais representativa sobrevivência totêmica no Brasil,


mesclada com elementos indígenas, porém de indiscutível origem afro-bantu”

O Bumba-meu-boi do Maranhão e os Bois no Brasil

Bumba-meu-boi é o termo genérico pelo qual é conhecida a manifestação cultural popular


brasileira que tem o boi como principal componente cênico e coreográfico.

processo de adaptação histórico-geográfica e social, quando determinados elementos foram


mais valorizados em detrimento de outros

Norte, nos estados do Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima, é boibumbá,


festejado no ciclo junino, como no Maranhão

estados nordestinos. Em geral, nessas unidades da federação, a brincadeira é, também,


conhecida por bumba-meu-boi, porém é festa do ciclo natalino.

Cavalo Marinho como a dança equivalente ao bumba-meuboi no Estado da Paraíba

As brincadeiras de boi das regiões Norte, Nordeste e Sul têm em comum relatos históricos
de ampla publicação do Século XIX que vão de 1829, no Maranhão

No Estado nordestino é citado em jornais e ocorrências policiais datadas da década de 20 à


década de 90 daquele século. Em seqüência cronológica, o Bumba-meu-boi tem seu
primeiro registro publicado em pequena nota no jornal “Farol Maranhense”, no Maranhão,
em 1829; seguido do jornal “O Carapuceiro”, em Pernambuco, no ano de 1840; dos
periódicos “A Voz Paraense” e “O Velho Brado do Amazonas”, no Pará, em 1850; e dos
livros “Reise durch Nord-Brasilien im jahre 1859” 9 ,

MARANHÃO, BAHIA E CEARÁ - Repartimento do Boi - Morte - Matança

MIGRAÇÃO E INTERCULTURALIDADE ENTRE MARANHÃO E AMAZONAS - Sued


Nascimento, em “Boi-bumbá em Porto Velho” (1993:14), revela analogias entre o
Bumba-meu-boi maranhense e o boi-bumbá daquela capital amazônica, reconhecendo forte
influência dos Bois do Amazonas e do Maranhão em função dos organizadores serem
imigrantes desses estados.

CICLO DA VIDA - NASCIMENTO - VIDA - MORTE


MARANHÃO - BATISMO - Permissão para que possa se apresentar fora de seu curral
INSTRUMENTOS MUSICAIS
“(...) No Piauí antigamente, usava-se a matraca e o apito, hoje há pandeiros, tambor,
maracás e puítas. O apito continuou, a matraca desapareceu. No Ceará, além da
harmônica, há caixas, cavaquinhos tamborins, pandeiros e pratos. No Recife, Goiâna e
Paulista, zabumba, canzá, viola, violão, rebeca e pandeiros. Em Santa Catarina, pandeiros,
gaita de fole, caixa clara, violão. No Rio Grande do Sul, unicamente sanfona.” (Araujo, Alceu
Maynard, s/d:407)

No Nordeste, o Bumba-meu-boi tem apresentação mais dramática. No Sul, o brasileiro,


sendo menos místico, apresenta uma brincadeira de Boi mais graciosa, com coreografia
mais alegre (...)”. (1978:05).

Da mesma forma, no Maranhão são batizados grupos de bumba-meu-boi e os


caboclos-de-pena, responsáveis pela prisão do Pai Francisco.

PAI FRANCISCO - NEGRO OU INDIGENA


CABOCLOS - PRENDEM PAI FRANCISCO

A partir de um levantamento bibliográfico, com dados do período de 1940 a 2010, foram


relacionados cento e cinqüenta personagens encontradas nos Bois de Rondônia, Pará,
Amazonas, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Bahia, Alagoas,
Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

TRANSFORMAÇÕES PELO TEMPO

Essas informações retratam os folguedos em épocas diferentes e lugares distintos e sua 21


utilidade se resume a dar um panorama geral das brincadeiras no tempo e no espaço, visto
que o processo natural de mudanças na cultura popular resulta, muitas vezes, em nova
configuração das brincadeiras ou mesmo em seu desaparecimento.

PERSONAGENS
Dessas, muitas aparecem com nomes diferentes de uma região para outra, porém com a
mesma função. É o caso da burrinha, às vezes izabelinha ou zabelinha. Em maior número
de ocorrência pelo Brasil há o Pai Francisco, correspondente ao Mateus em alguns estados;
a Catirina que pode aparecer como Catarina; os vaqueiros; o doutor, curador ou pajé, cujas
atividades têm alguma correlação no auto; e o amo, que pode ser também o dono da
fazenda e do boi.

“personagens ou figuras são numerosas e variadas: negros, índios, brancos, animais,


bonecos, figuras fantásticas e sobrenaturais.”

personagens humanas: amo, caboclo, Pai Francisco, Catirina, Dona Maria ou Mãe Maria,
Pai João, Mané Gostoso e Rapaz, entre outros. Dessa categoria pode-se destacar a
subcategoria das profissões ou ocupações: vaqueiro, boiadeiro, toureiro, padre, sacristão,
sapateiro, boticário, caçador, dentista, doutor, feiticeiro, soldado, sargento, fiscal,
engenheiro, marinheiro e palhaço.
seres sobrenaturais o lobisomem, o fantasma, a curaganga, o curupira, a caipora e o
cabeça-de-fogo.

criatividade - inclusão de infinidade de bichos - Leão, lobo, urso, onça, macaco, girafa, tigre,
cobra, zebra, rinoceronte, jacaré, sapo, cavalo, bode, cachorro, tartaruga, gavião, mucura,
urubu, galinha, pica-pau e marimbondo

maranhense: amo, Pai Francisco ou Mateus, Catirina, cazumba, burrinha, doutor ou


curador, índios, Dona Maria ou Mãe Maria, caboclo-de-pena, rapaz e vaqueiros.

REGISTROS DE ARQUIVO - São Luís que ensaiavam ou se apresentavam durante os dias


de Carnaval no final do Século XIX. Dois documentos atestam a presença dos Bumbas no
período momesco. Um requerimento, datado de 1º de fevereiro de 1893, solicitava ao Chefe
de Polícia licença para um Bumba-meu-boi da Rua do Gavião realizar ensaios até o último
dia do carnaval. Uma segunda solicitação encaminhada ao Chefe de Polícia do Maranhão
no final do mês de janeiro de 1890 tratava da 23 concessão de licença para “fazer dansar
pelas ruas desta cidade durante os dias de carnaval a brincadeira Bumba-meu-boi e
promettendo, como nos annos anteriores, guardar a melhor ordem possível, de maneira a
evitar qualquer barulho por menos que seja...”

O Bumba-meu-boi maranhense articula significados

ESTUDOS CLÁSSICOS SOBRE FOLCLORE - SILVIO ROMERO, CARAMA CASCUDO,


MÁRIO DE ANDRADE, ARTHUR RAMOS

renovação temática responsável pelo seu vigor e permanência, seu caráter de revista, sua
consagração “como um poderoso elemento ‘unanimizador’ dos indivíduos como metáfora
da nacionalidade” e sua definição como teatro popular nacional.

MARANHÃO - CAPACIDADE DE REINVENÇÃO

SEC. XIX - PRECONCEITO - críticas e ataques da imprensa

NECESSÁRIO SOLICITAR AUTORIZAÇÃO POLICIAL PARA SAIR ÀS RUAS ATÉ OS


ANOS 60

AMEAÇA DE DESAPARECIMENTO NA DÉCADA DE 70

REINVENÇÃO - “aptidão que o Bumba-meu-boi sempre demonstrou para adaptar-se aos


diversos contextos históricos, sociais e econômicos e para a sua constante renovação, sem
perder a “essência dinâmica do interesse folclórico”, como bem analisou Câmara Cascudo”

HOJE - desfruta da estrutura econômica para ter renda, inserido em conjuntura da


indpustria do turismo e mercado de bens culturais

ATUALIZAÇÃO DE TEMAS
As toadas, autos, comédias e performances são modos do Bumba-meu-boi comunicar sua
versão dos acontecimentos da atualidade - promove a interlocução com a sociedade
Uma referência cultural marcada pela diversidade

variação é mais ampla do que a categorização feita pelos pesquisadores em cinco


sotaques: Ilha, Guimarães, Baixada, Cururupu e Orquestra.

Arte-festa e religião: as representações simbólicas no Bumba-meu-boi

Celebração do ciclo da vida - crença e devoção a São João


O boi é dado ao santo como pagamento de promessa, mas pode também ser devotado a
entidades espirituais cultuadas em terreiros de Tambor de Mina obedecendo às
determinações e desejos dos encantados

Há regiões do Maranhão onde o Bumba-meu-boi está inserido no que José de Sousa


Martins denominou de uma “cultura funerária”. Nesses locais, os grupos realizam visitas de
cova em cemitérios, fazendo saudação e homenagens aos mortos, resgatando uma relação
com a morte há muito tempo perdida pelo homem dos centros urbanos.

VIDA - BATISMO
O batismo é o nascimento, quando o boi artefato ganha vida, é liberado pelo santo e sai da
“casa” para animar os boieiros e simpatizantes da brincadeira durante o período junino. Os
padrinhos - que terão a guarda do boi conforme pacto com o santo -, diante do altar e com a
imagem de São João, um copo de água benta, um ramo de vassourinha e vela acesa nas
mãos, sacralizam o animal que recebe um nome. A partir desse momento, sob as bênçãos
do santo, o boi e grupo estão imunes às adversidades. A saída do boi do altar de São João
para a “rua”, após o batismo, corresponde ao despertar de um longo período de
encantamento em que o boi-artefato se encontrava, sob proteção do santo.

TOADA DE MORTE DO BOI


Uma grande festa celebra o ritual da morte do boi, encerrando o ciclo festivo para a tristeza
dos boieiros, brincantes e simpatizantes da brincadeira. Esse rito marca a volta do boi para
a “casa” por ordem de São João, que, pedindo o sacrifício do animal, resgata-o para junto
de si, conforme evidenciam as toadas do ritual de morte do boi.

NASCIMENTO - VIDA E MORTE ou


BATISMO - MORTE E RESSUREIÇÃO

SANGUE DO BOI - ALEGORIA DO VINHO COMO NA EUCARISTIA

O sangue é oferecido a todos aqueles que participam da cerimônia, numa comunhão com o
grupo e com o santo, celebrando o ciclo vital

uma complexa associação de santo/vodum/encantado, configurada numa espécie de


sincretismo católico-jeje-nagô, explica o oferecimento de Bois a essas divindades e
entidades espirituais.
a 29 de junho, os grupos de Bumba-meu-boi saúdam São Pedro em sua Capela, em São
Luís, tocando, cantando e dançando em frente ao andor do santo. Nessa ocasião, muitos
brincantes recebem encantados no interior daquele templo religioso.

SINCRETISMO RELIGIOSO

A toada do Bumba-meu-boi do Bairro de Fátima traz à tona um complexo processo de


associação que estabelece ligações entre os santos católicos e as divindades africanas. O
boi é de São João, mas nos terreiros de Tambor de Mina, São João corresponde a Xangô,
divindade Nagô equivalente a Badé Queviossô, vodum que abre todos os terreiros de
Tambor de Mina no Maranhão, cuja festa de obrigação, na Casa das Minas Jeje, é realizada
no dia de São Pedro, santo de adoração daquele vodum. (Ferretti, 1996:124). Talvez esse
dado explique o transe dos brincantes de Bumba-meuboi em frente ao andor do santo
pescador, no dia 29 de junho.

O Bumba-meu-boi como elemento da identidade maranhense

ELEMENTO DE COESÃO CULTURAL POR MEIO DAS TAREFAS E RELAÇÕES QUE SE


ESTABELECEM AO ENTRONO DO FESTEJO DESDE OS ENSAIOS ATÉ A CONFECÇÃO
DAS INDUMENTÁRIAS

aqueles que não participam diretamente da brincadeira também experimentam um


pertencimento aos grupos por um sentimento coletivo de ligação com os estilos de
Bumba-meu-boi

IDENTIDADE TERRITORIAL - MIGRAÇÕES

A identidade entre os que fazem o Bumba-meu-boi e aqueles que se sentem parte dele,
ainda que na condição de meros espectadores, cria um universo singular no qual o Bumba
se configura como uma manifestação cultural popular de uma força expressiva presente não
só no cotidiano de quem vive no Maranhão, mas que ultrapassa os limites do Estado,
inspirando a criação de grupos por maranhenses radicados em São Paulo, Rio de Janeiro e
Brasília, que reinventaram o Bumba-meu-boi a partir das referências culturais levadas de
sua terra natal.

MUDANÇAS DO BOI - PROCESSO HISTÓRICO - SOCIAL

Foi marcado pelo preconceito dos anos oitocentos, que restringia o espaço onde poderia
brincar; pela obrigação de pedir licença à polícia para sair às ruas até os anos 60; e pela
mudança de papel consolidada na década de 80, quando começa a 34 se inserir num
mercado de bens culturais que tenta transformar o Bumba em mercadoria para ser
consumida, preferencialmente, por turistas, o que já motivou crítica do Bumba-meu-boi a ele
próprio conforme toada abaixo.

Sistema capitalista
Entrou de vez na boiada
Boieiro que é boieiro
Tem que pagar na entrada
Não adianta ter pandeiro e matraca
Quem tem dinheiro entra
Liso não está com nada
Fica é na porta
Até alta madrugada
Quando eles vêm liberam a rapaziada
Devagar com o andor
Que santo é de barro
Respeita a tradição
Deixa de ver cifrão
É por isso que a zabumba faz tremer até o chão
Vou reunir
A turma de ouro
Estou reunindo a turma de ouro
O sotaque de zabumba sempre foi um tesouro
Toada “Eu vou reunir”
Nélio - Bumba-meu-boi Unidos Venceremos (2007)
São Luís/MA

BUMBA MEU BOI DO MORRO DO QUEROSENE

Quais são os momentos da festa que o Grupo Cupuaçu faz no Morro do querosene?

São três momentos no ano: batismo, morte e ressurreição?

Cada festa tem os três momentos dentro dela?

Quais são as músicas que são cantadas nesses momentos?

Quais são os personagens que existem hoje na festa promovida pelo Grupo Cupuaçu?

Qual o sotaque proferido hoje pelo Grupo Cupuaçu?

Quais intrumentos são utilizados pelo Grupo Cupuaçu?

CICLO ANUAL
São Luís
2 festas no ano
batizado (vem pra dançar pra são joão) e morte (cada grupo escolhe uma data) - livre
sábado de aleluia
acaba a quaresma - pode se festejar - primeiros ensaios do boi
DIA DE FESTA
nasce - dança pra sao joao (promessa)
batizado - batizado - entrega do boi pra sao joao
morte - ritual da morte
nascimento não tem muito ritual

São Paulo - não tem tradição


primeiro ensaio virou uma festa
três ano
nascimento
batizado (faz sábado próximo ao dia de São João)
morte - continua livre - de preferência na primavera - domingo durante o dia

nasce - batiza - morre


nasce ou renasce batiza e morre

teatro da apresentação - pai francisco e catirina

TURMA DO MORRO (fechar o doc. com turma do morro)


Lá vai
Lá vai
a Turma do Morro
Quando desce é uma beleza
Corre morena
Vem ver!
Boi chegou bonito
Colorindo a natureza

LEVANTANDO POEIRA
Lá vai meu Boi
Levantando poeira
vem ver morena
no descer da ladeira
brilho da noite
brilha como brilham as estrelas
em noite de lua cheia
vem ver morena
no descer da ladeira

CANTAREI DE NOVO - Guarnicê (Juntar relatos do entendimento do que é Guarnicê)


cantarei de novo pra meu boi guarnicê
a primeira vez que eu cantei
não deu pra convencer
guarnece batalhão
guarnece
a vida cresce e meu povo não quer mais perder

SENHORA DONA DA CASA


Senhora, dona da casa
Brilho da noite vem se apresentar
Meu amo desceu a ladeira
Dançando Boi com seu Maracá
Lá no Morro ele se criou
Lá no Morro ele se encantou
Pra todo mundo brincar

FAZENDEIRO E TIÃO (São Paulo) - Imagens de São Paulo - Graça Reis (Grupo
Cupuaçu)
Esse ano nasceu uma prenda em São Paulo
e o Fazendeiro é Tião
è um garrote mimoso
é mimo de são joão
Pra mostrar pra todo o Brasil
e também na Europa
Tradição no Maranhão

entrega o boi pra são João - Batismo - humberto de maracanã


São João
venha receber
essa prenda linda que fizemos pra você
com a santa luz divina
ilumina teu batalhão

no auto - história - quando vai buscar o boi - boi volta doente - matança
REÚNE TEU BATALHÃO
Conta a história de Pai Francisco que pegou o boi, representando a morte do boi.
Vaqueiro reúne teu batalhão
Vai buscar o touro mais bonito da nação
Que saiu pra capoeira
Até hoje não voltou
Foi o Pai Francisco que passou e que levou

MORTE
meu boi já morreu
ficou triste meu terreiro
mas no ano que vem
eu canto boi o ano inteiro

O MEU MARACÁ (São Luís do Maranhão) - Imagens de São Luís do Maranhão


O meu Maracá
Tem uma Estrela
Que alumeia o Morro inteiro
Rapaz, me faz um favor
se vai correr terra
traz o nome do cantor
que eu só encontrei
na ilha de São Luís
onde todos cantam Boi
A gente se sente feliz

MEU VAQUEIRO - PANDEMIA


Ê vaqueiro, ê meu vaqueiro
Ê vaqueiro, ê meu vaqueiro
Olha que o tempo mudou - tempo clima/tempo cronológico
O sol e a lua e planeta
pro lado que o vento açoitou
eu quero que você me diga meu vaqueiro
onde a sereia se encantou

ATÉ A LUA
Eu já falei com os olhos
Que te amo e você não ouviu
Eu já falei com as mãos que te quero
E você não sentiu
Eu fui até a lua
Pra tentar te convencer
E acabei namorando a lua
Só não namorei você

BARRA DE LAMÊ
Adeus morena
Para o ano se Deus quiser!
Eu quero bordar teu nome
na copa do meu chapéu
Tem a Barra de Lamê
Tem as pontas (...)
Tem o couro muito lindo
quem bordou foi a menina

dançar fora
valor monetário
turismo
apresentação da cultura para outros
diálogo
arte e cultura - importante que seja remunerado
importante remunerar a arte
não fazer durante a quaresma
RELATÓRIO DE PESQUISA

Mas afinal, o que é mesmo documentário?


Livro por Fernão Pessoa Ramos
2008

Projeto: Morte e vida: reinvenção e ancestralidade do boi maranhense de São Paulo

EDITAL PROAC EXPRESSO Nº 16/2020 PROGRAMA DE AÇÃO CULTURAL - ProAC


PARÂMETROS ESPECÍFICOS “REGISTRO INÉDITO E LICENCIAMENTO DE
CONTEÚDO DE CULTURA POPULAR, TRADICIONAL, URBANA, NEGRA, INDÍGENA E
LGBTQI+ PARA EXIBIÇÃO ONLINE (#CulturaEmCasa)”

Proponente: Kessis Soares de Sena

2021
FUNDAMENTOS PARA UMA TEORIA DO DOCUMENTÁRIO

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“Na medida em que a ideologia dominante e contemporânea foi criada na desconfiança da
representação objetiva do mundo - e na desconfiança da espessura do sujeito que assume
a voz de saber sobre o mundo - , a narrativa que se locomove com naturalidade nesse meio
sofre grande carga crítica.”

“O documentário contemporâneo possui uma linha evolutiva que permite enxergar a


totalidade de uma tradição”.

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“Documentário é uma narrativa com imagens-câmera que estabelece asserções sobre o
mundo, na medida em que haja um espectador que receba essa narrativa como asserção
sobre o mundo. A natureza das imagens-câmera e, principalmente, a dimensão da tomada
através da qual as imagens são constituídas determinam a singularidade da narrativa
documentária em meio a outros enunciados assertivos, escritos ou falados”.

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(...)Designa um conjunto de obras que possuem algumas características singulares e
estáveis que as diferenciam do conjunto dos filmes tradicionais”.

Documentário clássico - até o final dos anos 1950


predomina voz over, voz de deus, detentora do saber

anos 1960
aparecimento da estilística do cinema direto/verdade - o documentário mais autoral passa a
enunciar por asserções dialógicas - aproximação com o modo dramático, argumentos sendo
expostos na forma de diálogos: “O mundo parece poder falar por si, e a fala do mundo, a
fala das pessoas, é predominantemente dialógica”.

tendência participativa no cinema-verdade - depoimento, entrevista - nova maneira de


enunciar. “as asserções continuam dialógicas, mas são provocadas pelo cineasta”

“A voz do saber, em em sua nova forma, perde a exclusividade da modalidade over. Ainda
temos a voz over, mas os enunciados assertivos são assumidos por entrevistas,
depoimentos de especialistas, diálogos, filmes de arquivo (flexionados para enunciar as
asserções de que a narrativa necessita). O documentário, portanto, se caracteriza como
narrativa que possui vozes diversas que falam do mundo e de si”.

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O autor diferencia o trabalho ficcional do documentário por meio do entretenimento
O entretenimento é posto como algo presente apenas na ficção, estabelecido pela narrativa
que promove interseção direta entre o personagem e o espectador, na medida em que se
envolve emocionalmente com os personagens e se faz asserções sobre o seu futuro.
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Podemos, igualmente, destacar como próprios à narrativa documentária: a presença de
locução (voz over), presença de entrevistas ou depoimentos, utilização de imagens de
arquivo, rara utilização de atores profissionais, intensidade particular da dimensão da
tomada. Procedimentos como câmera na mão, imagem tremida, improvisação, utilização de
roteiros abertos, ênfase na indeterminação da tomada pertencem ao campo estilístico do
documentário, embora não exclusivamente”

“Querer negar estatuto documentário a uma narrativa, alegando existência de encenação, é


desconhecer a tradição documentária:

articulação de planos com angulações díspares mas convergentes, buscando unidade


espacial
utilização intensa da campo/contracampo
corte em planos ponto-de-vista
raccords de movimento, olhar ou direção

“A decupagem espacial e temporal documentária possui, no entanto, a especificidade de


articular-se na exposição do argumento ou da asserção. Já a decupagem espaço-temporal
da narrativa clássica ficcional articula-se em função da demanda espaço-temporal da trama”

utilização de personagens
documentário - encarnar as asserções sobre o mundo
ficção - levam adiante ação ficcional

“se a narrativa ficcional se utiliza basicamente de atores para encarnar personagens, a


narrativa documentária prefere trabalhar os próprios corpos que encarnam a personalidades
do mundo, ou utiliza-se de pessoas que experimentaram de modo próximo o universo
mostrado”

pg. 29
A verdade
Mas … este filme não é um documentário, ele manipula a realidade!
“Um documentário pode ou não mostrar a verdade (se é que ela existe) sobre um fato
histórico. Podemos criticar um documentário pela manipulação que faz das asserções que
sua voz (over ou dialógica) estabelece sobre o mundo histórico, mas isso não lhe retira o
caráter de documentário. O fato de documentários poderem estabelecer asserções falsas
como verdadeiras (o fato de poderem mentir) também não deve nos levar a negar a
existência de documentários. A definição do campo documentário passa ao largo da
existência de narrativas documentárias que possuem asserções não verdadeiras. O mesmo
raciocínio pode ser aplicado a conceitos como realidade ou objetividade”

objetividade - clareza nas exposição das asserções - questão estilística

verdade
“Se vincularmos a definição de documentário à qualidade de verdade da asserção que
estabelece, estaremos reduzidos à seguinte definição de documentário: narrativa através de
imagens -câmera sonoras que estabelece asserções sobre o mundo com as quais
concordo” - definição frágil que oscila conforme a subjetividade da crença.

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“Para fugirmos das armadilhas, sugiro pensarmos a narrativa documentária tendo como
analogia o estatuto de um ensaio. Não vamos, por exemplo, questionar o estatuto de um
ensaio” (...) “um ensaio ou uma tese podem estabelecer asserções com as quais não
concordamos, mas nem por isso deixam de ser ensaio e tese”

documentário - narrativa - indexação

A ética
Mas … se um documentário pode mentir, como valorar sua ética?

ética - chamamos de ética um conjunto de valores, coerentes entre si, que fornece a visão
de mundo que sustenta a valoração da intervenção do sujeito nesse mundo

A ética compõe o horizonte a partir do qual o cineasta e espectador debatem-se e


estabelecem sua interação, na experiência da imagem-câmera/som conforme constituída no
corpo-a-corpo com o mundo, na circunstância da tomada.

Podemos definir quatro grandes conjuntos éticos na história do cinema documentário; cada
um deles formando um sistema coerente de valores relacionados entre si.

quatro principais sistemas de valores que sustentam a presença do sujeito da câmera na


tomada e as asserções do documentário sobre o mundo

a - educativo
b - imparcial
c - interativo/reflexivo
d - modesto

1 - ÉTICA EDUCATIVA

A ética educativa não encontra dilema em assumir missão de propaganda. Sua principal
função é educar a população da nova sociedade de massa que emerge nos anos 1920 e
1930, de modo que possa exercer sua cidadania, cuidar da saúde, etc.
Forma de financiamento - estatais - missão educativa
ética educativa - função de veicular asserções que divulguem aspectos funcionais do
Estado, formativos no processo educacional do cidadão

Exemplo: Humberto Mauro - ética educativa - INCE - 1936 - Instituto Nacional do Cinema
Educativo

valores - formado pelo conteúdo do que veicula


viés pós-estruturalista - 1970-2000 - parece se importar menos com o valor do conteúdo e
mais com a qualidade da posição do sujeito na enunciação desse valor

Sendo válido o conteúdo do saber, o debate ético encerra-se, sem se derramar em direção
ao questionamento das condições nas quais o saber é construído ou enunciado

2 - ÉTICA DA IMPARCIALIDADE/RECUO

Valores se articulam a partir da defesa da presença em recuo conjunto de valores que se


constrói a partir da necessidade de trazer a realidade, sem interferências, para o julgamento
do espectador

Os principais procedimentos estilísticos de enunciação assertiva da ética da imparcialidade


são a fala no mundo, o som ambiente. As novas tecnologias são o gravador Nagra e a
câmera na mão

A ambiguidade na representação do mundo, proporcionada pela posição em recuo, é


valorizada como forma de permitir ao espectador o exercício de sua liberdade

O mundo deve ser oferecido para que o espectador possa assumir de modo integral sua
parcela de responsabilidade

A ética de recuo não trabalha com câmera oculta. Não haveria sentido em se ocultar para
representar o mundo. O embate deve estar claro, e o recuo é conquistado como
recompensa da excelência estilística.

3 - ÉTICA INTERATIVA/REFLEXIVA

A ética interativa sustenta que a intervenção no mundo pelo emissor do discurso (o


sujeito-da-câmera) é inevitável. Advoga então uma interação aberta e assumida com esse
mundo.

A questão ética se desloca inteiramente para o modo de construir e representar a


intervenção do sujeito que enuncia: a ideia é que a construção revele-se ao espectador.
Também é vista positivamente para o modo de construir e representar a intervenção do
sujeito que sustenta a câmera sobre o mundo.

A ênfase narrativa é em procedimentos estilísticos (como entrevistas ou depoimentos) que


demandam e determinam a participação/interação do sujeito-da-câmera no mundo.

A ética da intervenção valoriza aquele documentário que se abre para a indeterminação do


acontecer, mas flexiona o acontecer do mundo segundo sua crença e o compasso de sua
ação.

o conjunto de valores que determina a substância da ética interativa valoriza positivamente


a intervenção ativa do cineasta na composição do documentário, assumindo sem véus as
necessidades da enunciação
O corpo-a-corpo do sujeito-da-câmera com o mundo e a articulação narrativa das tomadas
passa a ser carregados de preocupações metalinguísticas

4 ÉTICA MODESTA
O sujeito pós-moderno, não podendo mais adquirir altura para emitir saber, se restringe a
vôos modestos, que, em geral, se esgotam no criticismo dos enunciados de saber. “Não
sei”, “Não tenho densidade para interagir”, “E, também, ninguém mais sabe”, diz o sujeito
modesto.

o sujeito que enuncia vai diminuindo o campo de abrangência de seu discurso sobre o
mundo até restringi-lo a si mesmo

É o documentário que fala, antes de tudo, sobre si mesmo, para depois, eventualmente,
arriscar-se a vôos mais altos, nos quais enuncia sobre sua condição no mundo

A ética modesta pode também abandonar a primeira pessoa. Quando isso acontece
utiliza-se de procedimentos de rarefação do discurso para sustentar a enunciação. Vozes
múltiplas se sobrepõem em uma narrativa extremamente fragmentada, centrada em
impressões fugazes do mundo

o sujeito-da-câmera modesto tem como alvo questões sociais pontuais que envolvem seu
ego, longe de tematizações mais amplas sobre a sociedade contemporânea

A ética do sujeito modesto aceita os limites do corpo e da voz do “eu”, deixando para trás as
ambições educativas, a busca de neutralidade ou as exigências da reflexividade. O “eu” fala
dele mesmo e se satisfaz no encontro com a ressonância egóica para promover a amplitude
de sua fala.
COMPROVANTE DE ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

REALIZAÇÃO DO SITE DO BUMBA MEU BOI DA FLORESTA


PESQUISA E CONTRAPARTIDA DO PROJETO

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