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Nã Agotimé: A Saga de uma Rainha

A saga de Nã Agotimé é pura magia. Representa a força dos elementos naturais

transformando a vida que se transforma em culto.

Desde tempos imemoriais se cultuava os voduns da família real do Daomé, hoje Benim. Um

Clã mágico e místico iluminava o continente negro, numa época de uma África conturbada

por guerras tribais em busca do poder. Muitos reis passaram e o Daomé, que era apenas

uma cidade, tornou-se um país.

No palácio Dãxome, reinava Agongolo. O rei tinha como segunda esposa a rainha Agotimé e

dois filhos (Adandozan, do primeiro casamento, e Gezo, nascido de Agotimé). No momento

de sua morte, o rei elegeu seu segundo filho para sucedê-lo no trono, mas a sua ordem foi

desconsiderada e Adandozan assumiu o trono como tutor de Gezo. Abomey tornou-se vítima

de um governo tirânico e cruel.

Mágica e Magia. A rainha era conhecida em seu reino pelas histórias que contava sobre seus

ancestrais e sobre o culto aos reis mortos. Guardava os segredos do culto a Xelegbatá, a

peste. Detentora de tais conhecimentos, o novo rei tratou de mantê-la isolada, acusando-a

de feitiçaria, e não hesitou em vendê-la como escrava.

Em Uidá, grande porto de venda de escravos, Agotimé foi jogada nos porões imundos de um

navio e trazida para o Brasil. O sofrimento físico da rainha, traída e humilhada, era uma

realidade menor, pois o seu espírito continuava liberto e sobre as ondas a rainha liderou um

grande cortejo, atravessando o mar.

Desse episódio se forjou um dos elos que une a África ao Brasil. Chegou ao novo continente

um corpo escravo, mas um espírito livre, pronto para cumprir a sua saga e fazer ouvir daqui

o som dos tambores Jejes.

Seu primeiro destino foi Itaparica, na Bahia, porto do seu destino e terra santa do

conhecimento. Vinda de uma região onde poucos escravos se destinavam ao Brasil, Agotimé

se deparou com muitos irmãos de cor, mas não de credo.

No seu encontro com os Nagôs teve o seu primeiro contato com os Orixás, e através deles a

Rainha escrava teve notícias de seu povo. Por eles soube que sua gente era chamada

Negros-Minas e foram levados para São Luís do Maranhão. Contaram que não tinham local

para celebrar o seu culto, pois esperavam um sinal de seus ancestrais. Agotimé logo

entendeu por quem esperavam.

Dessa forma a rainha chegou ao Maranhão. Terra da encantaria e de forte representação

popular. Os tambores afinados a fogo e tocados com alma por ogãs, inspirados por velhos

espíritos africanos, ecoam por ocasião das festa e pela religião. Foi no Maranhão que
Agotimé, trazida para o Brasil como escrava, voltou a ser Rainha. Sob orientação de seu

vodum, fundou a “Casa das Minas”, de São Luís do Maranhão, em meados do século XIX.

Para contar essa história, trilhando caminho inverso ao de Nã Agotimé, e com uma exposição

fotográfica sob a forma de portraits, o fotógrafo maranhense Márcio Vasconcelos viajou ao

Benin acompanhado do antropólogo africano Hippolyte Brice Sogbossi.

A proposta do Projeto é realizar uma pesquisa e documentação fotográfica da atual situação

de terreiros e seus respectivos chefes no Benim e no Maranhão. Para tanto, foram

entrevistados e fotografados personagens de reconhecida importância no cenário do culto

aos voduns, com a finalidade de traçar um paralelo entre os Sacerdotes africanos e os

Chefes de Terreiros do Tambor de Mina do Maranhão.

No Benin, num período de 25 dias, foram visitadas as cidades de Cotonou, Abomey, Allada,

Ouidah, Calavi e Porto Novo. O Projeto “Zeladores de Voduns e outras Entidades do Benin ao

Maranhão” foi aprovado no Edital de Apoio à Produção Cultural do ano de 2008 da Secretaria

de Estado da Cultura do Maranhão.

Márcio Vasconcelos é fotógrafo profissional independente e há mais de uma década vem se

dedicando a registrar as manifestações da Cultura Popular e Religiosa dos afro-descendentes

no Estado do Maranhão. Hippolyte Brice Sogbossi é beninense e radicado no Brasil há mais

de 10 anos. Doutor em Antropologia Social e professor da Universidade Federal de Sergipe.

Grete Pflueger

fonte:http://evanspires.wordpress.com/2010/08/
Os Voduns da Casa das Minas
A Casa das Minas (Kwlegbetan Zomadonu ou Kwerebetan de Zomadonu) é um terreiro quase

que bicentenário e que mantém firme as tradições religiosas africanas de culto aos Voduns,

em especial àqueles que fazem parte dos cultos da Família Real. Os voduns da Casa são

agrupados em família, destacando-se a família de Davice (Família Real) que engloba os

voduns antigos reis e nobres, dignatários do antigo Dahomey. A ancestral mítica desta

família é Nochê Naé (Sinhá Velha), a quem todos na Casa das Minas obedecem e prestam

respeito, sendo que não se deve falar muito dela. Esta família segue duas ramificações: a

primeira é de Zomadonu – vodun dono da Casa e vodun da fundadora e das três primeiras

mães da Casa; e a segunda é a de Dadaxó (Dadarrô – pai do Dahomé). Outra importante

família é a de Dambirá, dos Voduns da terra e das doenças, como Akosi, Azile e

Azonce,e seguindo as famílias hóspedes da casa Queviossô (dos voduns do trovão e dos

astros, que são considerados nagôs dentre os jejes da casa, mesmo não sendo orixás, e que

são mudos, a exemplo de Badé, Sogbo (que na Casa das Minas é um vodun feminino,
sinretizada com Sta Bárbara e Oyá), Averekete, Lissá, Agbé), e as famílias de Savalunu

(voduns de Savalu) e Alladanu (voduns de Alladá).

Legba não é cultuado na Casa das Minas e é tido como trapasseiro, um ser maligno. Duas

explicações teria este motivo: o sincretismo extremo que caracteriza o Tambor de Mina, e o

fato de Adandozan se dizer “um protegido de Legba” e que depois de toda suas atrocidades e

maldades deixaram o povo Abomenu entristecidos e inclusive Nã Agotimé.

A Casa das Minas é exclusivamente de cultura Jeje, sendo seus cânticos em lingua fongbé-

ewegbe, e suas divindades são exclusivamente Voduns, não havendo nenhum orixá em seu

culto (embora devotem-se a Yemanjá, por exemplo, mas não há culto interno para estas

divindades). A casa não gerou nenhuma filial, mas sua estruturação serviu de base para

organização das outras Casas de Tambor de Mina.

Antigamente cultuavam-se na Casa das Minas, as “meninas” (Tobôssis) e que

desapareceram nas décadas de 60 e 70. Segundo fontes o papel das Tobossis era

harmonizar a Casa, dando nomes africanos às Vodunsìs e falavam em outra língua.

Autoria: Hùngbónò Charles

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