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ilustrações
Thalston Gama de Laia
© 2021 Tainá Bulhões
Ilustrações
alston Gama de Laia
Edição
Gabriel Guimarães Filpi
O Xequerê Real 12
O Xequerê de Oxum 17
A Autora - Tainá 22
Apresentação
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A Cabaça e o Mito da Criação
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No mito africano da origem de Abomei, antiga
capital de Benin, o Universo é considerado uma
cabaça redonda e o horizonte ca nas bordas, na
união das metades desse fruto, é ali que céu e mar se
juntam. A terra é considerada plana, utuando
dentro da grande esfera.
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Dentro dela também estão as águas, não só no
horizonte como por debaixo da Terra, e é por isso que
se alguém fura o solo sempre descobre água. O Sol, a
Lua e as estrelas movem-se na metade superior da
cabaça. Diz a lenda que, quando Deus criou todas as
coisas, a sua primeira preocupação foi formar a
Terra, xando os limites das águas e unindo bem às
bordas da cabaça.
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Uma cobra divina enrolou-se à volta da Terra,
para segurá-la e mantê-la rme, e levou Deus a vários
lugares, estabelecendo a ordem e sustentando todas
as coisas com os seus movimentos essenciais.
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O Xequerê Real
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Reza a lenda que o rei Aláà n Onisile, um dos
governantes do Império Yorubá de Oyó, amava e
admirava o Xequerê. Xequerê era o instrumento
musical que fazia o Aláà n dançar. Devido a isso, o
Xequerê passou a ser cada vez mais disseminado pela
região e seu uso fortalecido.
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Desconcertado e confuso o rei não foi capaz de
chorar, porque Xequerê já o tinha feito feliz, e o
aceitou de boa fé. Mas desde esse dia o Xequerê foi
banido de se envolver em qualquer passeio triste
novamente se acredita e ele nunca mais deve ser
usado para informar um rei sobre a morte de um
parente.
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Certa vez, quando o rei Aláà n estava no
concurso de jogos Ayò-Olópón, ele recebeu a visita
de Ológbò, o chefe baterista Xequerê, que trazia uma
triste notícia. Ológbò e seu grupo zeram alguns
Xequerês com cabaças e colocaram búzios dentro,
porem ao chegarem tocando os chocalhos, o Rei, que
admirava aquele som, começou a dançar alegre. Os
bateristas Xequerês param de tocar ao verem que o
rei não entendeu a mensagem na música e então lhe
contam sobre a morte do seu amado lho.
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O Xequerê de Oxum
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Certo dia ela teve uma ideia...
Oxum faria um instrumento, assim como ela,
sedutor e gracioso, para atrair a atenção e o amor do
belo rapaz.
Pegou uma cabaça, sementes de ave-maria e os
de palha da costa que haviam por ali, e com a
paciência e amor que só Oxum tem, foi tecendo em
volta da cabaça uma rede com os os de palha da
costa e prendendo aos os, as sementes de ave-maria.
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Depois de dias dando nós e prendendo as
sementes com os os de palha da costa, nalmente
estava pronto o instrumento feito para seduzir
Xangô. Estava pronto o Agbê, ou Xequerê.
Certa tarde Xangô foi ao rio matar sua sede. De
longe ele ouviu um som que nunca tinha ouvido e isso
chamou a sua atenção. Olhou em sua volta a m de
descobrir de onde vinha aquele som tão envolvente e
deu de cara com uma jovem de pés descalços, com os
cabelos soltos e apenas com algumas tas amarelas
cobrindo seu corpo. Era Oxum.
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Oxum tocava docemente. Oxum dançava com o
vento. Oxum era de nitivamente a mais bela da
aldeia, pensava Xangô.
Xangô cou irremediavelmente enfeitiçado com
tanta beleza. Xangô caiu de amores por Oxum e cou
com ela por muito tempo, mas Xangô não era
homem de uma mulher só e Oxum sabia disso.
E foi assim que contaram.
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Foto: Elza Cohen
a autora:
Tainá
Produtora cultural e mestre em
Geogra a pela UFMG. Se dedica
desde 2009 na pesquisa e extensão
etnográ ca com comunidades tradi-
cionais e cultura popular.
Conheceu o Agbe em 2014, através
de uma o cina de confecção do
instrumento em Belo Horizonte. O
aprendizado da o cina a aproximou
do Maracatu de Baque Virado, mani-
festação da qual é brincante desde
então.
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Contar histórias é a mais antiga das artes e
possibilita o resgate da memória cultural e
afetiva. Não temos pretensão cientí ca
tampouco somos detentores de uma única
verdade. Mas com todo respeito a origem e
ancestralidade que envolve o tema pedimos
licença. Queremos apenas dividir com você
esses contos sobre o Agbê que estavam
dispersos, mas que agora foram reunidos neste
livro.
Tainá Bulhões