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ORGIAS RITUALÍSTICAS

As primeiras informações sobre estes rituais de caium foram divulgadas pelo religioso
Fernão de Cardim no século XVI. Contava-se que o jovem índio só poderia alcançar a
condição de casado depois de participar de uma bebedeira coletiva para festejar sua
virilidade. A maioria das vezes tais cerimoniais acabavam em grandes orgias, nas quais
homens e mulheres dançavam lascivamente até consumar o ato sexual. Quando uma tribo
decidia pela realização de uma festa como esta, que na data acertada, acorriam em massa
na aldeia para dançar. De véspera os índios se enfeitavam e com chocalhos nas mãos,
rodeavam as cabanas a dançar, cantar infatigavelmente a noite inteira. Durante a
festividade os homens, ao canto de hinos, recebiam das mulheres uma cuia cheia de cuaim.
Os homens mais velhos observavam à distância a cerimônia, fumando sossegadamente seus
cachimbos e deliberando sobre assuntos pendentes da tribo, depois já terem sorvido o seu
quinhão de bebida. Aos anciões era dedicada uma atenção especial, o mais idoso era sempre
o primeiro a ser atendido.Enquanto todos cantam, assobiam, agitam os maricás, alguns
exclamam palavras de ânimo, exaltação, buscando incentivo para suas próximas batalhas.
As mulheres igualmente aos homens podiam beber o caium. A maioria delas após o
consumo da bebida se entregavam a contorções, como se estivessem possuídas por algum
espírito. Esgotado o caium da primeira cabana, os indígenas passavam às seguintes, até que
todas estivessem vazias. Estas festividades podiam durar até três dias. Durante este período
ninguém comia, só interrompiam a beberagem para fumar cachimbo. Com tanta bebida,
era comum o aparecimento de algumas brigas. Os franceses tentaram fabricar
industrialmente o caium, mas o sucesso não foi o esperado, pois como não usaram o sistema
da mastigação, não obtinham as doses alcoólicas exatas. Durante o consumo moderado do
caium, os índios desenvolviam capacidades premonitórias. Assim, as portas da percepção
ficavam abertas aos participantes do cerimonial. Imagens de grandiosas serpentes que
devoravam homens e a própria Terra, animais monstruosos e diabólicos, dilúvios que
lambiam e arrastavam consigo a selva, luzes que surgiam inesperadamente no céu sobre os
desprotegidos índios, eram uma das visões amedrontadoras que o caim podia produzir.
Porém, nem tudo era aviso de desgraça. O caium prometia felicidade eterna para jovens
noivos, sucesso nas batalhas e saúde para os velhos. O uso desta bebida desapareceu com o
tempo e o que sabe hoje são apenas descrições dos primeiros exploradores do Brasil.

ICAMIABAS
Em torno de 400 a 600 anos atrás, existiu na região Amazônica, próximo às cabeceiras do
rio Jamundá, um reino formado somente de mulheres guerreiras, conhecidas como
Icamiabas. Elas viviam completamente isoladas, só mantendo contatos esporádicos com
homens. Em certas épocas do ano estas mulheres belas e guerreiras celebravam suas
vitórias sobre o sexo oposto. Neste dia, uma grande festividade era organizada e elas
desciam do monte onde viviam até o lago sagrado denominado "Yaci Uarua" (Espelho da
Lua). Durante a noite, quando a Lua deitava sobre o espelho d'água, as Amazonas
mergulhavam nela com seus corpos fortes e morenos. Após este ritual de purificação e
limpeza, estas deusas da Lua clamavam pela mãe do Muiraquitã. Os estudiosos folcloristas
identificaram esta entidade como uma fada, mas ela também cabe na classificação de
Grande Mãe. Era ela que entregava a cada uma daquelas mulheres uma pedra da cor
verde (jade), denominada de "Muiraquitã", onde se encontravam esculpidos estranhos
símbolos. Cada nativa trazia em seu pescoço seu talismã propiciatório de proteção material
e espiritual. Mas elas também os presenteavam àqueles que seriam os futuros pais de seus
filhos. Estes homens eram selecionados para fecundá-las e depois eram mantidas vivas as
meninas, que mantinham a continuidade da casta matriarcal das mulheres guerreiras. As
Amazonas foram vistas pela primeira vez pelo padre espanhol Gaspar de Carvajal,
cronista da expedição de Francisco de Orellana. Tal encontro ocorreu no lugar exato onde o
rio Negro encontra-se com o Amazonas e não foi muito atraente a estada para estes
exploradores. Ao chegarem à aldeia das índias, constataram que no centro de uma praça
erigia-se um ídolo, que era o símbolo de uma poderosa Senhora, Rainha de uma grande
nação de mulheres guerreiras. Uma dúzia de guerreiras investiram contra os espanhóis e
tiraram a vida de vários indígenas que os acompanhavam. Carvajal as descrevia como
sendo mulheres altas, belas, fortes, de longos cabelos negros, tez clara e que andavam
totalmente despidas, com arcos e flechas e guerreavam como dez índios. Esta descrição nos
remete a um coração de uma caçadora também solitária, Ártemis. Estas mulheres índias
representam o arquétipo mais puro e primitivo da feminilidade. Foram deusas nativas que
santificavam a solidão, a vida natural e primitiva a qual todos nós podemos retornar
quando acharmos necessário a busca de nós mesmos. Como Ártemis, elas possuem um
amor intenso pela liberdade, pela independência e pela autonomia. Um amor que pode
transparecer como agressão, pois elas sempre irão lutar para preservar sua liberdade.
BUSCAS ARQUEOLÓGICAS Dezenas de buscas arqueológicas sucederam-se no Brasil,
mas foi somente na Região Norte que os guerreiros nórdicos voltam à vida e a história. Em
torno de 1871, João Barbosa Rodrigues, um naturalista, foi designado pelo Império para
explorar as imediações dos rios Tapajós, Trombetas e Jamundá. Ele recolheu amostras
vegetais e catalogou dados etnográficos, retornando a capital no ano de 1875, publicando
em seguida, seus estudos. A região do rio Jamundá foi escolhida por ser o local onde se
presumia ser o habitat das míticas guerreiras amazonas. Nas proximidades da cidade de
Óbidos, Rodrigues encontrou vestígios de uma antiga aldeia indígena, que suspeitou ser a
tribo da qual as amazonas faziam parte. À medida que deu prosseguimento as escavações,
mais aumentavam suas esperanças. Surgiram um grande número de cerâmicas quebradas
e machados. Imediatamente Rodrigues reconheceu que os fragmentos desenterrados eram
bem semelhantes aos já encontrados no Peru e na Escandinávia. Tudo indica que realmente
existiu um elo de ligação entre a Europa e o Brasil e, existiu um povo mais civilizado do que
se suponha, habitando estas paragens. Entre eles estavam as nossas amazonas.

Sinaá - Inundação e Fim do Mundo


Sinaá, o mais poderoso pajé da tribo Juruna, era filho de mãe índia e pai onça. Do felino
herdara o poder de enxergar também pelas costas, o que lhe permitia observar tudo o que
se passava ao seu redor. Caminhava com sua gente por toda a região, ensinando a seus
companheiros serem bons e bravos. Seu povo alimentava-se de farinha de mandioca, raspa
de madeira, jabutis e sucuris, cobras imensas que habitavam na água. Certa vez, uma
enorme sucuri foi capturada e queimada por haver devorado diversos índios.
Inesperadamente brotaram de suas cinzas diversas espécies de vegetais, como a mandioca,
o milho, o cará, a abóbora, a pimenta, e algumas plantas frutíferas, até então desconhecidas
para aquela tribo. Foi um pássaro surgido do céu que os ensinou a utilizar e preparar tais
alimentos e também a fazê-los multiplicar-se. A partir daquele dia, fartas roças se
formaram. Para garantir o sustento de seu povo, Sinaá, face às fortes chuvas e à ameaça de
grande inundação, construiu uma imensa canoa, onde plantou mudas de cada espécie. Em
poucos dias o rio transbordou e a enchente cobriu toda a região, mas o grande pajé livrou
seu povo da fome. Já mais velho, Sinaá casou-se com uma aranha, que lhe teceu novas
vestes pra melhor abrigá-lo. Chegando a atingir idade bastante avançada, já ostentava
longas barbas brancas. Seus poderes, porém, permitiam-lhe remoçar a cada banho de
cachoeira, para que pudesse viver até o fim de seu povo, como tanto queria. Quando isso
ocorresse, Sinaá derrubaria a forquilha de uma enorme árvore que apontava para o céu,
sustentando-o. O céu desabaria sobre todos os povos e o mundo teria o seu fim.

Iguaçu - As Cataratas que surgiram do Amor


Distribuída em várias aldeias, às margens do sereno Rio Iguaçu, a tribo dos Caiangangs
formava uma poderosa Nação Indígena. Tinham como deuses Tupã, O Deus do Bem e
M'Boy, seu filho rebelde, o Deus do Mal. Era este o causador das doenças, tempestades, das
pagas nas plantações, além dos ataques de animais ferozes e das demais tribos inimigas. A
fim de se protegerem do Deus do Mal, em todas as primaveras, os Caiangangs a ele
ofereciam uma bela jovem como esposa, ficando esta impedida para sempre de amar
alguém. Apesar do sacrifício, esta escolha era para ela um privilégio, motivo de honra e
orgulho. Naípi, filha de um grande cacique, conhecida em todos os cantos por sua beleza,
foi desta vez a eleita. Feliz, aguardava com ansiedade o dia de tornar-se esposa do temido
Deus. Iniciaram-se assim os preparativos da grande festa. Convidados chegavam de todas
as aldeias para conhecê-la. Entre eles estava Tarobá, valentes guerreiros, famosos e
respeitados por suas vitórias. Ocorreu que, talvez pela vontade do bom Deus Tupã, Tarobá
e Naípi vieram a se apaixonar, passando a manter encontros secretos às margens do rio.
Sem ser notado, M'Boy acompanhava os acontecimentos, aumentando a sua fúria a cada
dia. Na véspera da consagração, os jovens encontraram-se novamente às margens do rio.
Tarobá preparou uma canoa para fugirem no dia seguinte, enquanto todos adormeciam,
fatigados com as danças e festejos e sob efeito das bebidas fermentadas. Iniciaram a fuga e,
já à boa distância do local M'Boy concretizou sua vingança. Lançou seu poderoso corpo no
espaço em forma de uma enorme serpente, mergulhando violentamente nas tranqüilas
águas e abrindo uma cratera no fundo do rio Iguaçu. Formaram-se assim as cataratas, que
tragaram a frágil canoa. Tarobá foi transformado em uma palmeira no alto das quedas e
Naípi em uma pedra nas profundezas de suas águas. Do alto, o jovem apaixonado
contempla sua amada, sem poder tocá-la. Restando-lhe apenas murmurar seu amor
quando a brisa lhe sacode a fronde. Em todas as primaveras lança suas flores para Naípi,
através das águas, como prova de seu amor. A jovem está sempre banhada por um véu de
águas claras e frescas, que lhe amenizam o calor de seus sentimentos. Ainda hoje, M'Boy
permanece escondido numa gruta escura, vigiando atentamente os jovens apaixonados.
Ouve-se dizer que, quando o arco-íris une a palmeira à pedra, pode-se vislumbrar uma luz
que dá forma aos dois amantes, podendo-se ouvir murmúrios de amor e lamento.

Xingu - A formação das tribos

Foi Mavutsinim quem tudo criou; fez as primeiras panelas de barro e as primeiras armas;
a borduna, o arco preto, o arco branco e a espingarda. Tomando quatro pedaços de tronco,
resolveu criar as tribos Kamayurá, Kuikuro, Waurá e Txukahamãe. Cada uma delas
escolheu uma arma, ficando a tribo Waurá com a panela de barro. Mavutsinim pediu à
Kamayurá que tomasse a espingarda, mas esta preferiu o arco preto. Os Kuikuros ficaram
com o arco branco e os Txukahamães preferiram a borduna. A espingarda sobrou para os
homens brancos. A população aumentou em demasia e Mavutsinim resolveu separar os
grupos. Mandou que os Txukahamães fossem para bem longe, pois eram muito bravos. Os
homens brancos foram para as cidades, bem distantes das aldeias, pois tinham muitas
doenças e com as armas de fogo viviam a ameaçar a vida dos outros grupos.Desta forma, as
tribos puderam viver em paz.

O Menino e a Onça
Como os Caiapós conquistaram o Fogo
Há muito tempo atrás os índios não conheciam o fogo, alimentando-se de polpa de madeira,
frutos silvestres e carne, que preparavam sobre pedras aquecidas pelo sol. Certo dia, dois
meninos Caiapós caminhavam pela floresta, quando um deles percebeu sobre um rochedo
um ninho de araras vermelhas. Pediu ajuda ao companheiro para encostar um tronco na
rocha, conseguindo assim alcançar o ninho. Mas, ao subir, esbarrou numa pedra que caiu e
feriu o amigo. Com raiva o menino atingido tirou dali o tronco, deixando o outro sem meios
para descer. Após algumas horas, apareceu no local uma onça-macho que, ao ver a sombra
do menino, pode localizá-lo sobre o rochedo, ao lado do ninho das araras vermelhas,
pássaros que sabiam carregar o fogo. Em troca de ajuda, a onça pediu que este lhe jogasse
os filhotes. Concordando com a proposta o índio pode finalmente descer. Por haver
permanecido muito tempo exposto ao calor, o menino ficou muito corado, fazendo a onça
crer que se tratava do filho do Sol. Convidou-o para conhecer sua toca, onde a onça-fêmea
passava o dia assando carne ao fogo e fiando algodão. Apresentou-o a ela, pedindo que o
tratasse muito bem, e saiu em seguida para caçar. A fêmea, entretanto, pôs-se a ameaçá-lo,
rugindo e lhe mostrando os dentes. Ao saber do que ocorrera, a onça-macho resolveu
ensinar o menino a usar o arco e a flecha para que pudesse se proteger. No dia seguinte,
assim que o macho saiu, a fêmea tentou atacar o índio, que, com muita habilidade, matou a
inimiga à primeira flechada. Ao voltar, a onça-macho soube o que ocorrera, aprovando e
elogiando o menino, que facilmente tudo havia aprendido. Pediu-lhe que voltasse a sua
aldeia, levando o fuso e uma tocha, cuidando para que esta não apagasse. Regressando aos
seus, o indiozinho os ensinou a usar o fogo e depois a fiar o algodão. Em comemoração
fizeram uma grande festa, na qual o biju, mandioca, a carne e o peixe foram preparados ao
fogo, que mantiveram aceso por muito tempo, alimentando-o com lenha seca. Certo dia,
porém, a chuva apagou a chama, deixando a todos muito tristes. Então, Begorotire, o
homem chuva, desceu do céu para ensinar-lhes a produzir fogo com dois pedaços de
madeira: uma segura com o pé, onde deveria haver um orifício; a outra, encaixada na
primeira, giraria entre as mãos, até o fogo surgir. Neste dia voltou à alegria entre os índios
Caiapós.

Mavutsinim - O primeiro Homem


No princípio existia apenas Mavutsinim, que vivia sozinho na região do Morena. Não tendo
família nem parentes, possuía apenas para si o paraíso inteiro. Um dia sentiu-se muito,
muito só. Usou então de seus poderes sobrenaturais, transformando uma concha da lagoa
em uma linda mulher e casou-se com ela. Tempos depois, nasceu seu filho. Mavutsinim, sem
nada explicar, levou a criança à mata, de onde não mais retornaram. A mãe, desconsolada
voltou para a lagoa, transformando-se novamente em concha. Apesar de ninguém haver
visto a criança, os índios acreditam que do filho de Mavutsinim tenham se originados todos
os povos indígenas. Foi também Mavutsinim que criou de um tronco de árvore a mãe dos
gêmeos: Sol - Kuát e Lua - Iaê, responsáveis por vários acontecimentos importantes na vida
dos Xinguanos, antes de se tornarem astros.

Arutsãm - O Sapo Astucioso


O sapo Arutsãm foi ao encontro de seu cunhado onça, para dele tomar emprestado um arco
e uma gaita de bambu. Aproximando-se de seu território, foi alertado por outros animais,
com ironia, do perigo que estava correndo. Mesmo assim prosseguiu. A onça mostrou-se
gentil ao recebê-lo, convidando-o para um banho no lago, cuidando, porém, para que
sempre caminhasse atrás do convidado. Arutsãm, desconfiado, manteve-se atento. Ao
anoitecer a onça esperou ansiosa que o cunhado adormecesse, aguardando o momento ideal
para devorá-lo. Arutsãm, entretanto, colocou sobre os seus, olhos de um vagalume,
ludibriando assim a onça, que o julgava acordado e não ousou atacá-lo. No dia seguinte, já
de posse do arco e da gaita, despediu-se agradecido de seu anfitrião. Esperto que era,
espalhou formigas no caminho, que, atacando a onça, faziam com que esta batesse as patas
no chão, acusando sua proximidade. Arutsãm seguia o seu caminho. Passava agora pelo
território das serpentes, a quem seu inimigo incansável pediu que o apanhassem. O astuto
sapo atraiu-as até o lago, saltando velozmente para a outra margem, escapando à sua
perseguição. Chegando à aldeia das cobras, apressou-se em quebrar todas as panelas de
barro de suas fêmeas. Ao verem o estrago, estas o perseguiram enfurecidas. Neste
momento, partiu Arutsãm para seu grande salto: como num toque mágico, pulou para a
lua, onde, zombeteiro, está eternamente a tocar sua gaita. Ainda hoje, em noites claras, a
onça contempla a lua, lamentando o fracasso do seu plano traidor.

Mandioca - O Pão Indígena


Mara era uma jovem índia, filha de um cacique, que sonhava com o amor e um casamento
feliz. Em noites quentes, enquanto todos dormiam, deitava-se na rede ao relento e ficava a
contemplar a lua, alimentando seu desejo de tornar-se esposa e mãe. Porém, não havia na
tribo jovem algum a quem daria seu coração. Certa noite, Mara adormeceu na rede e teve
um sonho estranho. Um jovem loiro e belo descia da lua e dizia que a amava. O sonho
repetiu-se muitas vezes e ela acabou por apaixonar-se. Entretanto, não o contou a ninguém.
O jovem, depois de haver conquistado seu coração, desapareceu de seus sonhos como por
encanto, deixando-a mergulhada em profunda tristeza. Passado algum tempo, a filha do
cacique, embora virgem, percebeu que esperava um filho. Contou então a seus pais o que
sucedera: a mãe deu-lhe seu apoio, mas o severo pai, não acreditando no que ouvira, passou
a desprezá-la. Para a surpresa de todos, Mara deu à luz uma linda menina, de pele muito
alva e cabelos tão loiros quanto a luz do luar. Deram-lhe o nome de Mandi e na tribo era
adorada como uma divindade. Pouco tempo depois, a menina adoeceu e acabou falecendo,
deixando a todos amargurados. Somente seu avô, que nunca aceitara a netinha, manteve-se
indiferente. Mara sepultou a filha em sua oca por não querer separar-se dela.
Desconsolada, chorava todos os dias de joelhos diante do local, deixando cair leite de seus
seios na sepultura. Talvez assim a filhinha voltasse à vida, pensava. Até que um dia surgiu
uma fenda na terra de onde brotou um arbusto. A mãe surpreendeu-se; talvez o corpo da
filha desejasse dali sair. Resolveu então remover a terra, encontrando apenas raízes muito
brancas, como Mandi, que ao serem raspadas exalavam um aroma agradável. Naquela
mesma noite, o jovem loiro apareceu em sonho ao cacique, revelando a razão do
nascimento de Mandi. Sua filha não mentira. A criança havia vindo a Terra para ter seu
corpo transformado no principal alimento indígena. O jovem ensinou-lhe como preparar e
cultivar o vegetal. No dia seguinte, o cacique reuniu toda a tribo e, abraçando a filha,
contou a todos o que acontecera. O novo alimento recebeu o nome de Mandioca, pois
Mandi fora sepultada na oca.

Irapuru - O canto que encanta

Certo jovem, não muito belo, era admirado e desejado por todas as moças de sua tribo por
tocar flauta maravilhosamente bem. Deram-lhe então o nome de Catuboré, (flauta
encantada). Entre elas, a bela Mainá conseguiu o seu amor; casar-se-iam durante a
primavera. Certo dia, já próximo do grande dia, Catuboré foi à pesca e de lá não mais
voltou. Saindo a tribo inteira à sua procura, encontraram-no sem vida à sombra de uma
árvore, mordido por uma cobra venenosa. Sepultaram-no no próprio local. Mainá,
desconsolada, passava várias horas a chorar sua grande perda. A alma de Catuboré,
sentindo o sofrimento de sua noiva, lamentava-se profundamente pelo seu infortúnio. Não
podendo encontrar paz pediu ajuda ao Deus Tupã. Este então transformou a alma do
jovem no pássaro Irapuru, que mesmo com escassa beleza possui um canto maravilhoso,
semelhante ao som da flauta, para alegrar a alma de Mainá. O cantar do Irapuru ainda
hoje contagia com seu amor os outros pássaros e todos os seres da Natureza.
Irapuru = pássaro
Catuboré = nome índio - masculino
Mainá = nome índio - feminino

Coacyaba - O primeiro beija-flor


Os índios do Amazonas acreditam que as almas dos mortos transformam-se em borboletas.
Por este motivo, elas voam de flor em flor, alimentando-se e fortalecendo-se com o mais
puro néctar, para suportarem a longa viagem até o céu.
Coacyaba, uma bondosa índia, ficara viúva muito cedo, passando a viver exclusivamente
para fazer sua filhinha Guanamby feliz. Todos os dias passeava com a menina pelas
Campinas de flores, entre pássaros e borboletas. Desta forma pretendia minimizar a falta
que o esposo lhe fazia.Mesmo assim, angustiada, acabou por falecer.
Guanamby ficou só e seu único consolo era visitar o túmulo da mãe, implorando que esta
também a levasse para o céu. De tanta tristeza e solidão, a criança foi enfraquecendo cada
vez mais e também morreu. Entretanto, sua alma não se tornou borboleta, ficando
aprisionada dentro de uma flor próxima à sepultura da mãe, para com isto permanecer a
seu lado.
Enquanto isto, Coacyaba, em forma de borboleta, voava entre as flores, colhendo seu
néctar. Ao aproximar-se da flor onde estava Guanamby, ouviu um choro triste, que logo
reconheceu. Mas como frágil borboleta, não teria forças para libertar a filhinha. Pediu
então ao Deus Tupã que fizesse dela um pássaro veloz e ágil, que pudesse levar a filha para
o céu. Tupã atendeu ao pedido, transformando-a num beija-flor, podendo assim realizar o
seu desejo.
Desde então, quando morre uma criança índia órfã de mãe, sua alma permanece guardada
dentro de uma flor, esperando que a mãe, em forma de beija-flor, venha buscá-la, para
juntas voarem ao céu, onde estarão eternamente.

A lenda da Iara
- João Barbosa Rodrigues (1842-1909), botânico, arqueólogo, etnógrafo, grande estudioso
do folclore indígena. A lenda transcrita, comum a todo Brasil, faz parte do seu ensaio: -
Lendas, crenças e supertições - publicado na "Revista Brasileira" tomo X, pp. 35-37, Rio de
Janeiro, 1881.

Iara: Significa mãe-d'água, senhora d'água, de "í" água e "ara" senhora. A pronúncia do
"ig" do "i" (o autor escrevia "y") tem feito com que de diferentes formas se tenha escrito
essa palavra; assim temos ioara, gauara, oioara, etc.
Yara, a jovem Tupi, era a mais formosa mulher das tribos que habitavam ao longo do rio
Amazonas. Por sua doçura, todos os animais e as plantas a amavam. Mantinha-se,
entretanto, indiferente aos muitos admiradores da tribo.
Numa tarde de verão, mesmo após o Sol se pôr, Yara permanecia no banho, quando foi
surpreendida por um grupo de homens estranhos. Sem condições de fugir, a jovem foi
agarrada e amordaçada. Acabou por desmaiar, sendo, mesmo assim, violentada e atirada
ao rio.
O espírito das águas transformou o corpo de Yara num ser duplo. Continuaria humana da
cintura para cima, tornando-se peixe no restante.
Yara passou a ser uma sereia, cujo canto atrai os homens de maneira irresistível. Ao verem
a linda criatura, eles se aproximam dela, que os abraça e os arrasta às profundezas, de
onde nunca mais voltarão

Igarapé: Significa braço de rio que penetra pelo interior das terras, podendo apresentar
condições de navegabilidade, ou então originar-se de veios de nascentes em determinados
pontos. ("Vocabulário Amazonense", Alfredo da Mata, Manaus, 1939).

O OLIMPO INDÍGENA
No início, criou Tupã os céus, o espaço ilimitado, os mundos habitados, a terra, os mares e
os abismos eternos. Tudo era envolto em névoa tenebrosa e fria.
Por este tempo travou-se no elevado céu, a grande e feroz batalha entre o BEM (Tupã) e o
MAL (Anhangá). Então, saiu o poderoso senhor da eternidade a combater juntamente com
outros deuses contra o cruel senhor da morte. Tupã alcançou a vitória e lançou o terrível
inimigo nas profundezas da terra. Com o impiedoso Anhangá, foram também lançados nos
mundos subterrâneos: Jurupari que ficou sendo o mensageiro do deus cruel; Ticê, que se
tornou esposa do senhor das trevas; Xandoré (ave falconídea), o deus do ódio; Caramurú e
Boto; Abaçaí e Guandirô e muitos angás também foram atirados nos infernos.
Um dia Tupã, o poderoso deus, desceu até o centro da Brasília Terra e fez nascer as
flores, os frutos, as grandes florestas, os rios e os mares, os répteis, os animais e os
homens mortais, com espírito imortal. Neste trabalho, o sábio deus foi auxiliado por Sumá
(deusa da agricultura) e por Icatú (deus da beleza).
Santificou também o monte Araçatuba que ficou sendo a morada das divinas Parajás. E,
em seguida, dividiu o universo em três partes: Os Céus, a Terra e os Infernos.
A Terra também foi dividida em quatro partes: a Terra propriamente dita, os Mares, os Rios
e as Florestas.
Para cada uma destas divisões foram designados deuses. Mas era Tupã que orientava,
fiscalizava e exercia o domínio do universo
DEUSES DOS CÉUS
Os deuses dos céus são:
Peurê, Catú, Mutim e Nháa;
Jaci (deusa da Lua), Rainha da Noite e dos homens, que foi esposa de Tupã;
Anhum (deus da música), o deus melodioso que tocava divinamente o sacro Taré;
Caramuru, o deus dragão, que podia ser tanto bom quanto cruel, era o deus que presidia
as ondas revoltas dos grandes oceanos;
Rudá, o deus do amor;
Tambatajá (um deus de amor e protetor de todos os perigos);
Polo, o deus dos ventos e mensageiro de Tupã;
Sumá, foi ela que ensinou a arte da agricultura aos tupis;
Caupé, deusa da beleza, Afrodite-indígena;
Jururá-Açú, conta uma lenda, que por ter libertado o deus infernal, tornou-se a única deusa
que podia entrar e sair livremente dos infernos. Tupã castigou esta linda deusa
transformando-a em uma tartaruga;
Tainacam, a deusa das Constelações;
DEUSES DA TERRA
Caapora, deus guardião dos animais;
Catú, o deus outonal;
Mutin, o deus da primavera;
Peurê, o senhor do verão;
Nhará, que preside o inverno;
Guaipira, a deusa da história;
Picê, a deusa da poesia;
Biaça, a deusa da astronomia;
Açutí, a deusa da escrita;
Arapé, a deusa da dança;
Graçaí, a deusa da eloqüência;
Piná, a deusa da simpatia;
Parajás, deusas da honra, do bem e da justiça;
Aruanã, o deus da alegria e protetor dos Carajás
DEUSES DO INFERNO
Anhangá, deus das trevas, deidade suprema dos Infernos;
Ticê, esposa de Anhangá;
Guandirô, era o deus da noite, que bebia o sangue dos homens;
Xandoré, deus do ódio, lançador de raios, relâmpagos e trovões;
Tiriricas, deusas do ódio;
Pirarucú, o deus do mal que mora no fundo das águas. Conta-se que ele casou com Yara e
dessa união nasceram vários monstros;
DEUSES DAS ÁGUAS SALGADAS E DOCES
Boto, deus dos abismos e dos mares. Ele era um deus violento e irritável, não somente
agita às águas, mas também manda dos abismos dos mares, terríveis monstros que
atormentam os homens, contudo era também, o protetor das aleegres e felizes viagens
fluviais ou marítimas. No fundo do grande rio, que era o Amazonas estava o seu palácio, a
sagrada Loca;
Yara, a deusa dos serenos lagos;
As formosas Juruás;
A lendária nereida Açaí.
O Monte Iiapaba para os Tupis, era sinônimo de céu, onde os deuses julgavam a alma dos
mortos.
DEUSES DAS FLORESTAS
Curupira, deus protetor das matas;
Abeguar, deus do vôo;
Saci, o deus negro que vivia sempre alegre e outros semideuses de segunda ordem
comandados pela encantadora Araci, a deusa da aurora e das madrugadas. Foi ela que fez
nascer o lendário Juazeiro.
Texto pesquisado e desenvolvido por
Rosane Volpatto

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