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As primeiras informações sobre estes rituais de caium foram divulgadas pelo religioso
Fernão de Cardim no século XVI. Contava-se que o jovem índio só poderia alcançar a
condição de casado depois de participar de uma bebedeira coletiva para festejar sua
virilidade. A maioria das vezes tais cerimoniais acabavam em grandes orgias, nas quais
homens e mulheres dançavam lascivamente até consumar o ato sexual. Quando uma tribo
decidia pela realização de uma festa como esta, que na data acertada, acorriam em massa
na aldeia para dançar. De véspera os índios se enfeitavam e com chocalhos nas mãos,
rodeavam as cabanas a dançar, cantar infatigavelmente a noite inteira. Durante a
festividade os homens, ao canto de hinos, recebiam das mulheres uma cuia cheia de cuaim.
Os homens mais velhos observavam à distância a cerimônia, fumando sossegadamente seus
cachimbos e deliberando sobre assuntos pendentes da tribo, depois já terem sorvido o seu
quinhão de bebida. Aos anciões era dedicada uma atenção especial, o mais idoso era sempre
o primeiro a ser atendido.Enquanto todos cantam, assobiam, agitam os maricás, alguns
exclamam palavras de ânimo, exaltação, buscando incentivo para suas próximas batalhas.
As mulheres igualmente aos homens podiam beber o caium. A maioria delas após o
consumo da bebida se entregavam a contorções, como se estivessem possuídas por algum
espírito. Esgotado o caium da primeira cabana, os indígenas passavam às seguintes, até que
todas estivessem vazias. Estas festividades podiam durar até três dias. Durante este período
ninguém comia, só interrompiam a beberagem para fumar cachimbo. Com tanta bebida,
era comum o aparecimento de algumas brigas. Os franceses tentaram fabricar
industrialmente o caium, mas o sucesso não foi o esperado, pois como não usaram o sistema
da mastigação, não obtinham as doses alcoólicas exatas. Durante o consumo moderado do
caium, os índios desenvolviam capacidades premonitórias. Assim, as portas da percepção
ficavam abertas aos participantes do cerimonial. Imagens de grandiosas serpentes que
devoravam homens e a própria Terra, animais monstruosos e diabólicos, dilúvios que
lambiam e arrastavam consigo a selva, luzes que surgiam inesperadamente no céu sobre os
desprotegidos índios, eram uma das visões amedrontadoras que o caim podia produzir.
Porém, nem tudo era aviso de desgraça. O caium prometia felicidade eterna para jovens
noivos, sucesso nas batalhas e saúde para os velhos. O uso desta bebida desapareceu com o
tempo e o que sabe hoje são apenas descrições dos primeiros exploradores do Brasil.
ICAMIABAS
Em torno de 400 a 600 anos atrás, existiu na região Amazônica, próximo às cabeceiras do
rio Jamundá, um reino formado somente de mulheres guerreiras, conhecidas como
Icamiabas. Elas viviam completamente isoladas, só mantendo contatos esporádicos com
homens. Em certas épocas do ano estas mulheres belas e guerreiras celebravam suas
vitórias sobre o sexo oposto. Neste dia, uma grande festividade era organizada e elas
desciam do monte onde viviam até o lago sagrado denominado "Yaci Uarua" (Espelho da
Lua). Durante a noite, quando a Lua deitava sobre o espelho d'água, as Amazonas
mergulhavam nela com seus corpos fortes e morenos. Após este ritual de purificação e
limpeza, estas deusas da Lua clamavam pela mãe do Muiraquitã. Os estudiosos folcloristas
identificaram esta entidade como uma fada, mas ela também cabe na classificação de
Grande Mãe. Era ela que entregava a cada uma daquelas mulheres uma pedra da cor
verde (jade), denominada de "Muiraquitã", onde se encontravam esculpidos estranhos
símbolos. Cada nativa trazia em seu pescoço seu talismã propiciatório de proteção material
e espiritual. Mas elas também os presenteavam àqueles que seriam os futuros pais de seus
filhos. Estes homens eram selecionados para fecundá-las e depois eram mantidas vivas as
meninas, que mantinham a continuidade da casta matriarcal das mulheres guerreiras. As
Amazonas foram vistas pela primeira vez pelo padre espanhol Gaspar de Carvajal,
cronista da expedição de Francisco de Orellana. Tal encontro ocorreu no lugar exato onde o
rio Negro encontra-se com o Amazonas e não foi muito atraente a estada para estes
exploradores. Ao chegarem à aldeia das índias, constataram que no centro de uma praça
erigia-se um ídolo, que era o símbolo de uma poderosa Senhora, Rainha de uma grande
nação de mulheres guerreiras. Uma dúzia de guerreiras investiram contra os espanhóis e
tiraram a vida de vários indígenas que os acompanhavam. Carvajal as descrevia como
sendo mulheres altas, belas, fortes, de longos cabelos negros, tez clara e que andavam
totalmente despidas, com arcos e flechas e guerreavam como dez índios. Esta descrição nos
remete a um coração de uma caçadora também solitária, Ártemis. Estas mulheres índias
representam o arquétipo mais puro e primitivo da feminilidade. Foram deusas nativas que
santificavam a solidão, a vida natural e primitiva a qual todos nós podemos retornar
quando acharmos necessário a busca de nós mesmos. Como Ártemis, elas possuem um
amor intenso pela liberdade, pela independência e pela autonomia. Um amor que pode
transparecer como agressão, pois elas sempre irão lutar para preservar sua liberdade.
BUSCAS ARQUEOLÓGICAS Dezenas de buscas arqueológicas sucederam-se no Brasil,
mas foi somente na Região Norte que os guerreiros nórdicos voltam à vida e a história. Em
torno de 1871, João Barbosa Rodrigues, um naturalista, foi designado pelo Império para
explorar as imediações dos rios Tapajós, Trombetas e Jamundá. Ele recolheu amostras
vegetais e catalogou dados etnográficos, retornando a capital no ano de 1875, publicando
em seguida, seus estudos. A região do rio Jamundá foi escolhida por ser o local onde se
presumia ser o habitat das míticas guerreiras amazonas. Nas proximidades da cidade de
Óbidos, Rodrigues encontrou vestígios de uma antiga aldeia indígena, que suspeitou ser a
tribo da qual as amazonas faziam parte. À medida que deu prosseguimento as escavações,
mais aumentavam suas esperanças. Surgiram um grande número de cerâmicas quebradas
e machados. Imediatamente Rodrigues reconheceu que os fragmentos desenterrados eram
bem semelhantes aos já encontrados no Peru e na Escandinávia. Tudo indica que realmente
existiu um elo de ligação entre a Europa e o Brasil e, existiu um povo mais civilizado do que
se suponha, habitando estas paragens. Entre eles estavam as nossas amazonas.
Foi Mavutsinim quem tudo criou; fez as primeiras panelas de barro e as primeiras armas;
a borduna, o arco preto, o arco branco e a espingarda. Tomando quatro pedaços de tronco,
resolveu criar as tribos Kamayurá, Kuikuro, Waurá e Txukahamãe. Cada uma delas
escolheu uma arma, ficando a tribo Waurá com a panela de barro. Mavutsinim pediu à
Kamayurá que tomasse a espingarda, mas esta preferiu o arco preto. Os Kuikuros ficaram
com o arco branco e os Txukahamães preferiram a borduna. A espingarda sobrou para os
homens brancos. A população aumentou em demasia e Mavutsinim resolveu separar os
grupos. Mandou que os Txukahamães fossem para bem longe, pois eram muito bravos. Os
homens brancos foram para as cidades, bem distantes das aldeias, pois tinham muitas
doenças e com as armas de fogo viviam a ameaçar a vida dos outros grupos.Desta forma, as
tribos puderam viver em paz.
O Menino e a Onça
Como os Caiapós conquistaram o Fogo
Há muito tempo atrás os índios não conheciam o fogo, alimentando-se de polpa de madeira,
frutos silvestres e carne, que preparavam sobre pedras aquecidas pelo sol. Certo dia, dois
meninos Caiapós caminhavam pela floresta, quando um deles percebeu sobre um rochedo
um ninho de araras vermelhas. Pediu ajuda ao companheiro para encostar um tronco na
rocha, conseguindo assim alcançar o ninho. Mas, ao subir, esbarrou numa pedra que caiu e
feriu o amigo. Com raiva o menino atingido tirou dali o tronco, deixando o outro sem meios
para descer. Após algumas horas, apareceu no local uma onça-macho que, ao ver a sombra
do menino, pode localizá-lo sobre o rochedo, ao lado do ninho das araras vermelhas,
pássaros que sabiam carregar o fogo. Em troca de ajuda, a onça pediu que este lhe jogasse
os filhotes. Concordando com a proposta o índio pode finalmente descer. Por haver
permanecido muito tempo exposto ao calor, o menino ficou muito corado, fazendo a onça
crer que se tratava do filho do Sol. Convidou-o para conhecer sua toca, onde a onça-fêmea
passava o dia assando carne ao fogo e fiando algodão. Apresentou-o a ela, pedindo que o
tratasse muito bem, e saiu em seguida para caçar. A fêmea, entretanto, pôs-se a ameaçá-lo,
rugindo e lhe mostrando os dentes. Ao saber do que ocorrera, a onça-macho resolveu
ensinar o menino a usar o arco e a flecha para que pudesse se proteger. No dia seguinte,
assim que o macho saiu, a fêmea tentou atacar o índio, que, com muita habilidade, matou a
inimiga à primeira flechada. Ao voltar, a onça-macho soube o que ocorrera, aprovando e
elogiando o menino, que facilmente tudo havia aprendido. Pediu-lhe que voltasse a sua
aldeia, levando o fuso e uma tocha, cuidando para que esta não apagasse. Regressando aos
seus, o indiozinho os ensinou a usar o fogo e depois a fiar o algodão. Em comemoração
fizeram uma grande festa, na qual o biju, mandioca, a carne e o peixe foram preparados ao
fogo, que mantiveram aceso por muito tempo, alimentando-o com lenha seca. Certo dia,
porém, a chuva apagou a chama, deixando a todos muito tristes. Então, Begorotire, o
homem chuva, desceu do céu para ensinar-lhes a produzir fogo com dois pedaços de
madeira: uma segura com o pé, onde deveria haver um orifício; a outra, encaixada na
primeira, giraria entre as mãos, até o fogo surgir. Neste dia voltou à alegria entre os índios
Caiapós.
Certo jovem, não muito belo, era admirado e desejado por todas as moças de sua tribo por
tocar flauta maravilhosamente bem. Deram-lhe então o nome de Catuboré, (flauta
encantada). Entre elas, a bela Mainá conseguiu o seu amor; casar-se-iam durante a
primavera. Certo dia, já próximo do grande dia, Catuboré foi à pesca e de lá não mais
voltou. Saindo a tribo inteira à sua procura, encontraram-no sem vida à sombra de uma
árvore, mordido por uma cobra venenosa. Sepultaram-no no próprio local. Mainá,
desconsolada, passava várias horas a chorar sua grande perda. A alma de Catuboré,
sentindo o sofrimento de sua noiva, lamentava-se profundamente pelo seu infortúnio. Não
podendo encontrar paz pediu ajuda ao Deus Tupã. Este então transformou a alma do
jovem no pássaro Irapuru, que mesmo com escassa beleza possui um canto maravilhoso,
semelhante ao som da flauta, para alegrar a alma de Mainá. O cantar do Irapuru ainda
hoje contagia com seu amor os outros pássaros e todos os seres da Natureza.
Irapuru = pássaro
Catuboré = nome índio - masculino
Mainá = nome índio - feminino
A lenda da Iara
- João Barbosa Rodrigues (1842-1909), botânico, arqueólogo, etnógrafo, grande estudioso
do folclore indígena. A lenda transcrita, comum a todo Brasil, faz parte do seu ensaio: -
Lendas, crenças e supertições - publicado na "Revista Brasileira" tomo X, pp. 35-37, Rio de
Janeiro, 1881.
Iara: Significa mãe-d'água, senhora d'água, de "í" água e "ara" senhora. A pronúncia do
"ig" do "i" (o autor escrevia "y") tem feito com que de diferentes formas se tenha escrito
essa palavra; assim temos ioara, gauara, oioara, etc.
Yara, a jovem Tupi, era a mais formosa mulher das tribos que habitavam ao longo do rio
Amazonas. Por sua doçura, todos os animais e as plantas a amavam. Mantinha-se,
entretanto, indiferente aos muitos admiradores da tribo.
Numa tarde de verão, mesmo após o Sol se pôr, Yara permanecia no banho, quando foi
surpreendida por um grupo de homens estranhos. Sem condições de fugir, a jovem foi
agarrada e amordaçada. Acabou por desmaiar, sendo, mesmo assim, violentada e atirada
ao rio.
O espírito das águas transformou o corpo de Yara num ser duplo. Continuaria humana da
cintura para cima, tornando-se peixe no restante.
Yara passou a ser uma sereia, cujo canto atrai os homens de maneira irresistível. Ao verem
a linda criatura, eles se aproximam dela, que os abraça e os arrasta às profundezas, de
onde nunca mais voltarão
Igarapé: Significa braço de rio que penetra pelo interior das terras, podendo apresentar
condições de navegabilidade, ou então originar-se de veios de nascentes em determinados
pontos. ("Vocabulário Amazonense", Alfredo da Mata, Manaus, 1939).
O OLIMPO INDÍGENA
No início, criou Tupã os céus, o espaço ilimitado, os mundos habitados, a terra, os mares e
os abismos eternos. Tudo era envolto em névoa tenebrosa e fria.
Por este tempo travou-se no elevado céu, a grande e feroz batalha entre o BEM (Tupã) e o
MAL (Anhangá). Então, saiu o poderoso senhor da eternidade a combater juntamente com
outros deuses contra o cruel senhor da morte. Tupã alcançou a vitória e lançou o terrível
inimigo nas profundezas da terra. Com o impiedoso Anhangá, foram também lançados nos
mundos subterrâneos: Jurupari que ficou sendo o mensageiro do deus cruel; Ticê, que se
tornou esposa do senhor das trevas; Xandoré (ave falconídea), o deus do ódio; Caramurú e
Boto; Abaçaí e Guandirô e muitos angás também foram atirados nos infernos.
Um dia Tupã, o poderoso deus, desceu até o centro da Brasília Terra e fez nascer as
flores, os frutos, as grandes florestas, os rios e os mares, os répteis, os animais e os
homens mortais, com espírito imortal. Neste trabalho, o sábio deus foi auxiliado por Sumá
(deusa da agricultura) e por Icatú (deus da beleza).
Santificou também o monte Araçatuba que ficou sendo a morada das divinas Parajás. E,
em seguida, dividiu o universo em três partes: Os Céus, a Terra e os Infernos.
A Terra também foi dividida em quatro partes: a Terra propriamente dita, os Mares, os Rios
e as Florestas.
Para cada uma destas divisões foram designados deuses. Mas era Tupã que orientava,
fiscalizava e exercia o domínio do universo
DEUSES DOS CÉUS
Os deuses dos céus são:
Peurê, Catú, Mutim e Nháa;
Jaci (deusa da Lua), Rainha da Noite e dos homens, que foi esposa de Tupã;
Anhum (deus da música), o deus melodioso que tocava divinamente o sacro Taré;
Caramuru, o deus dragão, que podia ser tanto bom quanto cruel, era o deus que presidia
as ondas revoltas dos grandes oceanos;
Rudá, o deus do amor;
Tambatajá (um deus de amor e protetor de todos os perigos);
Polo, o deus dos ventos e mensageiro de Tupã;
Sumá, foi ela que ensinou a arte da agricultura aos tupis;
Caupé, deusa da beleza, Afrodite-indígena;
Jururá-Açú, conta uma lenda, que por ter libertado o deus infernal, tornou-se a única deusa
que podia entrar e sair livremente dos infernos. Tupã castigou esta linda deusa
transformando-a em uma tartaruga;
Tainacam, a deusa das Constelações;
DEUSES DA TERRA
Caapora, deus guardião dos animais;
Catú, o deus outonal;
Mutin, o deus da primavera;
Peurê, o senhor do verão;
Nhará, que preside o inverno;
Guaipira, a deusa da história;
Picê, a deusa da poesia;
Biaça, a deusa da astronomia;
Açutí, a deusa da escrita;
Arapé, a deusa da dança;
Graçaí, a deusa da eloqüência;
Piná, a deusa da simpatia;
Parajás, deusas da honra, do bem e da justiça;
Aruanã, o deus da alegria e protetor dos Carajás
DEUSES DO INFERNO
Anhangá, deus das trevas, deidade suprema dos Infernos;
Ticê, esposa de Anhangá;
Guandirô, era o deus da noite, que bebia o sangue dos homens;
Xandoré, deus do ódio, lançador de raios, relâmpagos e trovões;
Tiriricas, deusas do ódio;
Pirarucú, o deus do mal que mora no fundo das águas. Conta-se que ele casou com Yara e
dessa união nasceram vários monstros;
DEUSES DAS ÁGUAS SALGADAS E DOCES
Boto, deus dos abismos e dos mares. Ele era um deus violento e irritável, não somente
agita às águas, mas também manda dos abismos dos mares, terríveis monstros que
atormentam os homens, contudo era também, o protetor das aleegres e felizes viagens
fluviais ou marítimas. No fundo do grande rio, que era o Amazonas estava o seu palácio, a
sagrada Loca;
Yara, a deusa dos serenos lagos;
As formosas Juruás;
A lendária nereida Açaí.
O Monte Iiapaba para os Tupis, era sinônimo de céu, onde os deuses julgavam a alma dos
mortos.
DEUSES DAS FLORESTAS
Curupira, deus protetor das matas;
Abeguar, deus do vôo;
Saci, o deus negro que vivia sempre alegre e outros semideuses de segunda ordem
comandados pela encantadora Araci, a deusa da aurora e das madrugadas. Foi ela que fez
nascer o lendário Juazeiro.
Texto pesquisado e desenvolvido por
Rosane Volpatto