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Os deuses africanos vieram para esse continente através dos negros escravos, que
aqui chegando
estabeleceram uma grande legião de seguidores, da cultura e religião Afro. A
internet por ser um
veículo de grande penetração e informação, tem ajudado a divulgar e esclarecer os
verdadeiros
objetivos e dogmas do Candomblé, até então mal compreendidos e interpretados. Com
isso, novos
adeptos de todas as camadas sociais vem sendo atraídos a esse maravilhoso mundo dos
deuses
africanos. O Candomblé é uma religião brasileira, oficialmente reconhecida, que
presta culto aos
deuses que nos legaram os africanos que para aqui vieram no séc. XVI. É o termo
genérico que
define o coletivo de nações (tribos) africanas, no Brasil. Em nosso país, essas
nações foram
denominadas como; Jeje, Ketu, Angola, Nagôs, Xambá, Igexá, etc. Apesar de ser
divididos em
diversas nações, o Candomblé mantém uma unidade no âmago de sua originalidade, que
acredito
ser da época pré-histórica. A finalidade dessa home page é dar uma parcela de
contribuição para o
melhor conhecimento da cultura dos povos africanos que deram origem ao culto dos
Voduns no
Brasil, colocando para os leitores e pesquisadores o resultados das minhas
pesquisas investigativas
para achar minhas raízes, histórias e tradições no Brasil e na África. Graças a
Deus e aos deuses,
tive oportunidade de entrar em contato com algumas pessoas do Benin e EUA que se
tornaram meus
amigos e têm me ajudado muito nesse trabalho enviando-me material de pesquisas e
respondendo as
minhas indagações. Também no Brasil, encontrei pessoas de conhecimento e boa
vontade, que
deram sua contribuição. Penso que é chegada à hora do povo Jeje se unir e começar a
SOMAR. A
divisão quase extinguiu nossa nação. Vamos aprender juntos a lindíssima cultura dos
Voduns.
Agradeço a todos que de alguma forma me forneceram subsídios para que essa home
page se
tornasse uma realidade. Peço que me auxiliem enviando suas críticas e sugestões
através de um e-
mail ou assinando meu bookmark.
O Jeje Na África
A história do desenvolvimento do império crescente do Dahomey é indispensável para
compreendermos os Voduns, precisamente a quebra e a migração do Ewe/Fon. Alguns
estudiosos da
cultura africana achavam que todos os Voduns cultuados em Dahomey eram deuses
originários dos
yorubanos. Um equívoco! Trata-se simplesmente de uma troca de atributos culturais
de cada região.
Em todas as regiões, os deuses africanos são louvados, sejam ancestrais ou vindos
de outras regiões,
mas preferencialmente cada região cultua seus próprios deuses, os ancestrais. Os
deuses
estrangeiros podem ser aceitos inteiramente nos santuários dos Voduns locais,
embora permaneçam
sempre como estrangeiros. O mesmo tratamento é dado em terras yorubanas aos Voduns
originários
de outras regiões. Dahomey, cuja capital era Abomey, foi o principal reino da
história do atual
Benin. Seu poderio militar formado por bravos guerreiros e amazonas era temido por
todos os
reinos vizinhos que foram sendo conquistados. O exército do rei era dividido em
duas partes: o
regimento permanente e o regimento das coletas tribais (prisioneiro). Esses
prisioneiros eram
treinados para serem guerreiros do rei e as mulheres, em especial, eram enviadas ao
regimento das
amazonas onde aprendiam a lutar. Os prisioneiros que se negavam a aderir as causas
do rei eram
sumariamente executados ou vendidos como escravos. Os chefes das tribos
conquistadas ficavam
reservados para serem executados durante o festival anual de ancestrais, em memória
dos reis
mortos. Suas cabeças eram decapitadas e seu sangue oferecido aos falecidos reis.
Essa pratica
aconteceu do séc. XVI até o séc. XVII. O reino de Dahomey foi o maior exportador de
escravos
para o nome mundo. Adja-Tado foi quem começou esse grande império de Dahomey.
Primeiro
conquistou a cidade de Adja onde se tornou rei, casou e teve 3 filhos. Quando seus
filhos já eram
guerreiros, Adja-Tado foi a Allada junto com eles e estabeleceu o reino de Allada.
Seus filhos se
dividiram e estabeleceram reinos separados e tornaram-se reis. O primogênito
Zozergbe foi rei de
Porto Novo, o segundo filho foi sucessor de Adja-Tado no trono de Allada e o
terceiro filho, Aklim
fundou o que mais tarde seria o principal reino da região. Aklin foi para Ghana e
Bahicon (agora
Benin, sul-central), com seu exército, e estabeleceu uma outra dinastia, a cidade
de Abomey, que foi
a capital do império militar, conhecida como Dahomey. Dahomey foi governada por um
total de
treze reis divinizados, por quase dois séculos. Agassu, que era um dos líderes do
império, dizia ser
filho de um leopardo com a princesa de Tado, Aligbonon. Ela teria sido encantada
por esse leopardo
originando o nascimento de Agassou. Agassou teve três filhos e deu início a uma
linhagem de
homens leopardo
O Jeje No Brasil
Djedje (jeje) é uma palavra de origem yoruba que significa estrangeiro, forasteiro
e estranho; que
recebeu uma conotação pejorativa como "inimigo", por parte dos povos conquistados
pelos reis de
Dahomey e seu exército. Quando os conquistadores eram avistados pelos nativos de
uma aldeia,
muitos gritavam dando o alarme "Pou okan, djedje hum wa!" (olhem, os jejes estão
chegando!).
Quando os primeiros daomeanos chegaram ao Brasil como escravos, aqueles que já
estavam aqui
reconheceram o inimigo e gritaram "Pou okan, djedje hum wa!"; e assim ficou
conhecido o culto
dos Voduns no Brasil "nação Jeje". Dentre os daomeanos escravizados, uma mulher
chamada
Ludovina Pessoa, natural da cidade Mahi (marri), foi escolhida pelos Voduns para
fundar três
templos na Bahia. Ela fundou: um templo para Dan; "Ceja Hundê", mais conhecido como
o
"terreiro do Ventura" ou "Axé Pó Zehen" (pó zerrêm) em Cachoeira de São Felix; um
templo para
Hevioso "Zoogodo Bogun Male Hundô" em Salvador e um templo para Ajunsun que não se
sabe
porque não foi fundado. Esse é o segmento jeje-mahi do povo Fon. O templo de
Ajunsun/Sakpata
foi fundado mais tarde pela africana Gaiacu Satu, em Cachoeira de São Felix e
recebeu o nome de
Axé Pó Egi, mais conhecido por Corcunda de Ayá. São os Jejes Savalu ou Savaluno.
Sakpata era rei
da cidade Savalu/África, segundo alguns historiadores, Sakpata foi o único rei que
preferiu o exílio
a se render aos conquistadores de Dahomey. O dialeto dos savalus também é o Fon. No
Maranhão
encontramos a Casa das Minas fundada por Maria Jesuína, segundo informação de
Sergio Ferreti.
Creio que esta casa dispensa comentários, pois é com certeza a mais conhecida casa
de jeje do
Brasil. Esse é o segmento do povo Jeje-Mina.
Ainda no Maranhão encontramos a casa Fanti-Ashanti fundada por Euclides Menezes
Ferreira. Esse
é o segmento jeje-Fanti-Ashanti do povo Akan vindo de Ghana.
No Rio de Janeiro, foi fundado pela africana Gaiaku Rosena, natural de Allada, o
"Terreiro do Pó
Dabá" no bairro da Saúde, que foi herdado por sua filha Adelaide do Espírito Santo,
mais conhecida
como Mejitó que transferiu a casa de santo para o bairro Coelho da Rocha. Depois
veio
Antonio.Pinto de Oliveira. "Tata Fomutinho" que fundou o Ceja Nassó, no bairro de
Santo Cristo,
depois mudou-se para Madureira na Estrada do Portela, depois para São João de
Meriti onde
finalmente se estabeleceu na Rua Paraíba. Dizem os mais velhos, que Mejitó, ajudou
muito Tata
Fomutinho no começo de sua vida de santo aqui no Rio de Janeiro. Tata Fomutinho
deixou uma
legião de filhos, netos e bisnetos. Dentre esses, meu pai Jorge de Yemanja que
fundou o Kwe Ceja
Tessi, Pai Zezinho da Boa Viagem que fundou o Terreiro de Nossa Senhora dos
Navegantes, Tia
Belinha que fundou a Colina de Oxosse e Amaro de Xangô que é aquele tio que está
sempre
disposto a nos atender e nos ajudar com suas memórias e conhecimentos.
Vodum
Vodou - Vodoun - Vodum - Voodoo - Voudun - Vodu - Vudu - Hoodoo - etc. A palavra
vodou é de
origem Ewe/Fon e significa força divina, espírito, força espiritual. É usada pelo
povo do oeste da
África para designar os deuses e ancestrais divinizados. No século XVIII o rei
Agajá consolidou as
crenças de vários clãs e aldeias, formando um "sistema espiritual dos Voduns". Isso
gerou uma
enorme variação do termo, devido a quantidade de dialetos usados por esses clãs e
aldeias, que
somado a influência francesa, passaram a falar como entendiam. Essa diversificação
fonética dá-se
também por conta dos idiomas de pesquisadores que "invadiram" a África, em busca de
conhecimento sobre o Vodou. No Brasil, por exemplo, usamos o fonema Vodum.
A palavra Hoodoo não é uma variante de Vodou. O Hoodoo é uma sociedade haitiana
similar as que
existem no Benin (Sociedade do Bo) e Ghana (Sociedade Jou-Jou), onde pessoas são
preparadas
para ler oráculos e fazer fórmulas mágicas usando elementos da flora, da fauna e do
mineral. Como
sou brasileira usarei daqui por diante o termo "Vodum". Quando foi estabelecido o
grande reino de
Dahomey, lá não existia o culto de Voduns. Nessa época, o atual rei sentia a
necessidade de uma
assistência espiritual que o ajudasse a combater os problemas que o atormentava.
Mandou chamar
um bokono (adivinho) e pediu que esse consultasse os oráculos.
A conselho dos oráculos mandou vir de diversas regiões os Voduns e construiu seus
templos. Com
isso Dahomey passou a sitiar diversos clãs e aldeias de Voduns. Anos mais tarde, o
rei Agajá fez a
consolidação, como já foi dito. No período da escravidão, muitos daomeanos foram
levados para o
novo mundo e com eles a cultura e o culto dos Voduns. Os Voduns cultuados no Brasil
são
originário da África, sua práticas e tradições se mantiveram intacta como era no
Dahomey (atual
Benin) desde o começo dos tempos.
A nação Jeje sofreu por alguns anos uma queda em seus cultos, devido a falta de
informações. Os
mais antigos preferiram levar para o túmulo seus conhecimentos a passá-los aos que
poderiam
perpetuar os Voduns no Brasil. Dos filhos de Jeje que ficaram perdidos, sem
conhecimento sobre
Voduns, uns mudaram de nação e outros resolveram investigar, buscar, pesquisar suas
origens e
levantar a bandeira da nação. Hoje, graças a essas pessoas, a nação Jeje voltou a
crescer e a seguir a
cultura que foi deixada pelos escravos. Hoje, encontramos kwes e pessoas que
realmente sabem o
Culto dos Voduns, esses aprenderam na "própria carne" a passar seus conhecimentos e
não deixar
que nossa nação venha a sofrer novos abalos ou quedas.
Com a proliferação de estudos e pesquisas sobre os Voduns, alguns dos mais velhos
que ainda estão
vivos resolveram colaborar e nos passar alguns conhecimentos. A primeira coisa que
os adeptos do
Jeje devem aprender é a diferença entre Voduns e Orixás, (esse assunto vocês
encontram no tópico
Jeje África). Vodum é Vodum, Orixá é Orixá; Oya não é Vodum Jô. Aziri não é Oxum,
Naetê não é
Yemanja, etc. Assim como na África, também fazemos Orixás dentro dos templos de
Vodum, mas
isso não os transforma em Voduns, eles são considerados deuses estrangeiros,
aceitos em nossos
templos. Esses Orixás são tão respeitados e venerados quanto os Voduns.
Não existe discriminação nenhuma em relação aos dois deuses (Voduns/Orixás). Em
templos de
Orixás, também encontramos Voduns feitos, a única diferença é que no Jeje, não
mudamos os
nomes dos Orixás. Para nós Oya, Yansã são conhecida exatamente como Oya, Yansã. Já
os Voduns
em templos de Orixás mudam de nome, por exemplo, Vodum Dan/Bessen recebe o nome de
Oxumarê, Sakpata recebe o nome de Omolu, etc. Esse diferença também é registrada na
Nigéria,
então, não é "coisa de brasileiro". Falar sobre os Voduns é uma tarefa de muita
responsabilidade. No
meu caso é o resultado de 30 anos vividos dentro do culto, somado as minhas
pesquisas e estudos.
Os Voduns são agrupados por famílias; Savaluno, Dambirá, Davice, Hevioso; que se
subdividem
em linhagens. A sociedade daomeana é patrilinear e polígena, isto é, dá-se por
linha paterna; o
homem é casado com diversas mulheres. A sociedade organiza-se em sibs, grupos de
irmãos que
têm a mesma mãe e o mesmo pai, sem base territorial própria e subdividem-se em
famílias. No
Brasil, as casas de santo cultuam todas as famílias, porém, os Voduns são
interligados entre si com
comportamentos, costumes, gostos e atitudes sempre gerados pelo ancestre ou chefe
de da casa.
Em minhas pesquisas encontrei mais de 450 Voduns; alguns cultuados no Brasil outros
não.
Acredito que com esse resgate poderemos ampliar nossos cultos e voltar a
reverenciar Voduns, que
tinham desaparecido devido a falta de informações, assim como admitir em nossos
templos esses
Voduns encontrados. O Brasil herdou vastos panteões de divindades que ficaram
regionalizados de
maneira que somente alguns Voduns tiveram domínio nacional A cultura dos Voduns é
belíssima;
penso que todos nós, filhos da nação Jeje, devemos procurar aprender cada dia mais.
Afirmo que, os
maiores fundamentos de Voduns estão embutidos nessa cultura. Comprovem!...
DAN YEWA FA
HEVIOSO AVEJI DA
NANÃ
Vodum Dan/Bessen
Aido Wedo(aidô uêdô) e Dambala são para o povo Jeje os maiores deuses.
Aido Wedo é o arco-íris e Dambala a sua imagem refletida nas águas oceânicas.
O Dangbé é a serpente sagrada que representa o espírito de Vodum Dan.
Na África esse Vodum é conhecido como DA.
Dada - Termo pelo qual o Vodum Dan é louvado. A coroa de Dan é chamada de Coroa de
Dada.
Dan tanto pode ser um Vodum masculino quanto pode ser um Vodum feminino, porém para
tratá-lo,
fazê-lo ou assentá-lo temos que cuidar sempre do casal. Como dizem os antigos
"cobra não anda
sozinha, seu parceiro esta sempre por perto".
Dambala também é conhecida como Daidah (daídar) - A "Cobra-Mãe". Essa Vodum não
pode ser
feita em mais de duas pessoas num mesmo país. Os velhos vodunos contam que ela é
originária da
Palestina. Em uma outra versão, encontramos Daidah como Lilith, a primeira mulher
de Adão.
No Brasil encontramos cerca de 48 Voduns Dans, na África encontramos muito mais que
isso. Essa
família é muito grande.
Dan é um Vodum muito exigente em seus preceitos, muito orgulhoso e teimoso. Quando
tratado
corretamente, dá tudo aos seus filhos e a casa de santo, mas se tratado de maneira
errada ou se for
esquecido castiga severamente. Vodum Dan é muito fiel a casa e a mãe/pai de santo
que o fez.
Os símbolos de Dan, são: o arco-íris, a serpente pithon, o traken ou draka,
patokwe, o dahun , a
..takara. e o ason (assôm). Seu principal atinsa (atinsá) dentro de uma casa de
Santo é denominado
Dan-gbi , que é onde o arco-íris se encontra com a terra ("panela lendária do
tesouro!"). Dan usa
muitos brajás feitos de búzios. As aighy (aigri), são importantissimas em seus
assetamentos e
atinsas.
Para nós, Vodum Aido Wedo é o verdadeiro deus da vidência, é ele junto com Vodum
Fa, quem dá
aos bakonos o poder do oráculo, assim como deu a Yewa e a Legba.
Aido Wedo e Dambala são quem sustentam o mundo e quando eles se agitam provocam
catástrofes
como os terremotos. Eles fazem parte da criação do mundo, pois vieram ajudar Nana
Buluku nessa
tarefa.
Nos arcos-íris da lua e do sol também encontramos Voduns Dan.
Ao se iniciar um filho de Dan, preceitos são feitos para que esse Vodum venha
sempre em forma
humana e nunca em forma de serpente, pois entendemos que na forma humana ele é
menos
perigoso e entende melhor os homens, podendo assim atender suas necessidades e
suprí-las. Na
forma de serpente torna-se muito perigoso.
De modo geral os filhos de Dan são muito chegado a doenças, principalmente de
olhos. São pessoas
vaidosas, ambiciosas, "perigosas", espertas e inteligentes. São muito dedicados ao
santo e
dificilmente saem da casa onde foram feitos.
Vestem branco em sua grande maioria. Alguns usam cores verde bem clarinho,
prateado, ou tecido
liso com o arco-íris estampado. Seus fios de conta variam de acordo com cada Vodum,
não existe
um modelo padrão.
Sua louvação principal é: A Hho bo boy = "Salve o rei cobra" ( Hho = rei, bo boy =
Dans, serpentes,
cobras).
Abaixo citarei alguns Voduns Dans.
Aido Wedo - (encontramos várias formas de escrever o nome dele) - Deus do Arco-
íris
Ojiku - masculino, mora junto com Yewa na parte branca do arco-íris e reina
no
arco-íris da lua, também junto com Yewa.
Vocabulário
traken ou draka - ferramenta pequena que Dan tras nas mãos
takara - arma que Dan tras nas mãos, parecendo um pequena espada, com
feitio
próprio.
ason (assôm) - chocalho feito com uma cabaça e com as vertebras de cobra
Voduns Yewa
Yewa é um vodum feminino da família Dambirá. Filha de Toy Azonze e Dambala, irmã de
Boçalabê nasceu para ser o símbolo da pureza e da beleza dos deuses. Do nascimento
a fase adulta
Yewa viveu na família de Dan onde representava a faixa branca do arco-íris onde
também mora
Ojiku. Recebeu de Dan Wedo o poder da vidência, da riqueza, e todos os corais que
existiam no mar
que ela pegava com seu arpão.
A beleza física de Yewa encantava a todos que olhassem em seus olhos, mas essa
nunca se
encantava com ninguém pois era o símbolo da virgindade e da pureza. Muitos homens
se
apaixonaram por ela e todos foram punidos pelos deuses pois sabiam que era proibido
amar a
grande Virgem.
Yewa adorava ver o por do sol e sempre saía a passear pelos campos floridos
acompanhada por dois
bravos guardiões que não permitiam que ninguém se aproximasse dela. Era um casal de
gansos
branco, lindos e majestosos. Certo dia, estava Yewa a apreciar o por do sol, quando
uma galinha, se
aproveitando da distração dos gansos, aproximou-se e ciscou muita terra sobre as
vestes brancas de
Yewa, essa se enfureceu e amaldiçoou a galinha e daí para frente nunca mais quis
ver uma em sua
frente como também resolveu mudar suas roupas para as cores do por do sol.
Certo dia, Yewa avistou um belo homem, um guerreiro e se encantou por ele.
Yewa enfrentou e desafiou todos os deuses por amor a esse homem e teve como castigo
o exílio. Foi
expulsa da família de Dan e considerada a cobra má. Durante seu exílio, Yewa teve
que fugir e
esconder-se da fúrias dos deuses.
Em sua primeira fuga, Yewa contou com a ajuda de um grande caçador e guerreiro,
Odé, que a
escondeu nas profundeza das matas escuras, em terras yorubanas.
Vendo-se em um lugar sombrio e sem recursos de sobrevivência a sua disposição, Yewa
aceitou um
ofá que Odé ofereceu-lhe. Aprendeu a caçar junto com ele e com os demais caçadores.
A beleza de Yewa encantava e perturbava Odé e aos demais que viviam nas matas, pois
eles sabiam
que não podiam se apaixonar por ela, temiam a fúrias dos deuses. Odé então, fez
para Yewa uma
coroa de dans e folhas de palmeiras desfiadas. Mandou que ela a coloca-se, assim
ninguém se
aproximaria dela com medo das dans e as folhas desfiadas da palmeira esconderiam
sua beleza
contagiante. Yewa gostou do presente pois viu nesse, a possibilidade de esconder-se
dos deuses e
livrar-se de sua fúria.
Com o uso dessa coroa Yewa pode sair da escuridão das matas e ir apreciar o que
mais ela amava e
representava ... o por do sol. Faltava-lhe seus guardiões, pediu ajuda a Odé e esse
caçou para ela um
casal de gansos negros, pois foram os únicos que encontrara. E assim, Yewa passou a
ver e a viver o
por do sol novamente em seu exílio.
Passado um tempo, Toy Azonze foi aos deuses pedir por sua filha Yewa que já tinha
sido por demais
castigada. Depois de muitos pedidos e oferendas aos deuses, esses concederam a
Azonze a guarda
de Yewa que deveria morar com ele. Azonze embrenhou-se nas matas a procura de sua
filha e a
encontrou junto a Odé.
Como agradecimento por tudo que fez por Yewa, Toy Azonze deu a Odé um par de
chifres e o poder
de chamá-lo e aos espíritos da caça quando assim precisasse.
Yewa foi morar no reino dos mortos junto com Azonze e com esse passou a exigir o
cumprimento
da moral e dos bons costumes. Em sua nova morada Yewa recebeu o caracolo/aracolê
onde guarda
os segredos dos ancestrais e os invoca quando é necessário, e o eruxim com o qual
espanta os egum
para o caminho de Oya. Sempre que possível, Yewa engana Eku e salva uma vida.
Yewa é um Vodum raríssimo de ser encontrado no TA (cabeça) de alguém. A feitura de
Yewa deve
ser sempre em TA de virgens e nunca em TA de homens.
Por ter o poder da vidência, Yewa tem o poder de nos livrar do "olho grande" e das
invejas. Quem
sabe cuidar desse Vodum, se livra facilmente dos invejosos.
Encontramos Yewa tanto nas águas quanto nas matas e mundos subterrâneos (aquático e
terrestre),
mas seu local preferido é sempre o horizonte, onde o por do sol faz o encontro dos
dois mundos e o
céu se encontra com a terra, "Isso é Yewa" dizem os antigos.
Ojiku é um Vodum Dam que sempre é muito confundido com Yewa, assim como Boçalabê
que é
sua irmã. Ojiku é considerado a Cobra branca e Boçalabê é uma Vodum das água doces,
muito
confundida com Oxum. Em muitas pesquisas e entrevistas que fizemos pudemos
constatar a
confusão e controvérsias que as pessoas fazem em relação a Yewa e esses dois
Voduns.
Voduns
Tohossou
Vodum Protetor dos Deficientes Físicos e Mentais
Por séculos, em todo o mundo, as crianças nascidas em circunstâncias especiais,
eram mortas pois
eram segregadas e rotuladas como seres de mau agouro, diabos ou que perpetuavam a
miséria e o
sofrimento de suas famílias, tornando-se assim, um estôrvo para seus pais. Eles
eram assassinados,
conforme estabelecido pelo grupo, para serem poupados de uma vida com olhares fixos
e rejeições
sociais.
Não havia nenhuma recompensa em sacrificar uma vida familiar cuidando dessas
crianças
carregadas de circunstâncias tão especiais.
Esta situação também estava presente na cultura dahomeana, até que um Vodum
especial, nomeou
Tohossou para encarregar-se de mudar essa situação.
Os Tohossous são congregados de antepassados reais que surgiram durante o reinado
do Rei Akaba,
o segundo rei do Dahomey (1685-1708). Eram conhecidos como "as crianças e o
guardião dos três
rios", um lugar onde todos os antepassados viviam, e todos que morriam passavam a
viver neste
sagrado reino subaquático.
Este Tohossou foi considerado muito poderoso e, frequentemente, era chamado para
batalhas
quando tudo já havia falhado, pois era um vencedor certo com uma rajada de sua
poderosa espada.
O Tohossou é agrupado com o "Neusewe" dahomeano, grupo da maioria dos mais antigos
antepassados, hoje conhecido como "Loko".
A primeira criança nascida com má formação física e a fazer parte desse grupo foi
Zomadonu, filho
mais velho Acoicinacaba.
Zomadonu é quem comanda este poderoso grupo de Trowo (espíritos ancestrais) . Para
este grupo
eram feitos sacrifícios e honras especiais.
Infelizmente, foi durante o reinado do rei Glele que deu-se a maior perseguição às
famílias dessas
crianças. Elas eram sacrificadas afim de poupar o reinado e suas famílias.
O mais significativo, é que esses antepassados reais eram, frequentemente,
ignorados e
negligenciados pelos próprios reis. Muitas tentativas foram feitas por esses
antepassados para
atrairem a atenção dos reis em incentivá-los a dar-lhes as homenagens como era a
tradição, mas os
reis se recusavam veementemente, então esses antepassados se tornaram enfurecidos.
Um dia, irritados, desceram na corte real, nos corpos dos adultos fisicamente mal
formados e
começaram a destruição, a devastação e a exalarem um cheiro forte e desagradável e,
acima de
tudo, muita confusão e desespero, destruindo a corte e vilas inteiras.
Imediatamente o rei chamou os bakonons de Fa para verificarem qual era o problema e
o que
poderia ser feito para acalmar esses espíritos poderosos e irritados.
Após um consulta cuidadosa, Tohossou começou a falar. Além de exigirem que todos os
reis
erguessem um santuário ao Vodum maior, Zomadonu, para que eles lhes pagassem as
devidas
homenagens, exigiram também que a repercussão da "fama" que os física e mentalmente
abalados
tinham fosse cessada. Declarou ainda que daquele momento em diante eles eram os
seus guardiões
protetores. Por último, propôs que, aqueles que nascessem naquelas condições, suas
famílias
deveriam erguer um pequeno santuário em suas casas e, os que assim fizessem, seriam
recompensados e abençoados com prosperidades especiais.
Hoje, no Benin e em Togo, as crianças que nascem com má formação física ou
deficiências mental
têm uma cerimônia especial e, em suas casas, um pequeno altar é consegrado aos
Tohossous.
Assim, em vez de trazerem desgraças financeira e emocional às suas famílias, trazem
bençãos.
Aqueles que ficam incapacitados devido a idade, ferimentos ou doenças, também ficam
sob a
proteção dos Tohossous.
Voduns Sakpatá
Para o povo Jeje, Sakpatá foi trazido para o Dahomey, por Agajá, no século XVIII,
vindo da cidade
de Dassa Zoumé, mais precisamente, da aldeia de Pingine Vedji.
Todos os Voduns, pertencentes ao panteão de Sakpatá, são da família Dambirá.
Nesse panteão temos vários Voduns. O mais velho que se tem notícia é Toy Akossu, no
transe, ele
se mantém deitado na azan (esteira). Dizem os mais velhos, que Toy Akossu é o
patrono dos
cientistas, ele dá à eles inspirações para a descoberta das fórmulas mágicas que
curarão as doenças e
as pestes. Ele é a própria "doença e cura", como também um excelente conselheiro.
Toy Azonce é um outro Vodum velho, porém mais novo que Toy Akossu. Seu assentamento
fica em
local bem isolado do Kwe, sendo proibido tocá-lo. Somente UMA pessoa designada por
ele mesmo
pode tratar desse assentamento. É Toy Azonce quem sempre faz todas as honras para
seu irmão Toy
Akossu, quando ele está em terra.
Toy Abrogevi é um Vodum velho, filho de Toy Akossu, que gosta de comer quiabo com
dendê,
paçoca de gergelim e fumar cachimbo de barro. Toy Abrogevi gosta muito de Badé e se
tornou
muito amigo dele. Foi com Badé que aprendeu a comer e a gostar de quiabo.
São tantos Voduns desse panteão que seria praticamente impossível descrever cada um
aqui.
Esses Voduns são rigorosos no que tange a moral e os bons costumes. Nunca admitem
falhas morais
dentro dos kwes e, quem faz essa fiscalização para eles é Ewá, filha de Toy Azonce.
As cores de contas e roupas usadas por esses Voduns podem variar de acordo com o
gosto de cada
um. Todos usam roupas feitas de palha da costa sendo umas mais curtas e outras mais
compridas.
Sakpatá usa todas as cores e o estampado, sempre com a presença das cores escuras.
Símbolo fortemente ligado a Sakpatá, a palha da costa é a fibra da ráfia, obtida de
palmas novas,
extraídas de uma palmeira cujo nome científico é raphia vinifera. No Brasil, recebe
o nome de
Jupati. A palmeira é considerada a "esteira da Terra".
A palha da costa, tendo sua origem na palmeira, ganha o simbolismo universal de
ascensão, de
regenerescência e da certeza da imortalidade da alma e da ressurreição dos mortos.
Um símbolo da
alma. Além de proteger a vulnerabilidade do iniciado, sua utilização também é
reservada aos deuses
ancestrais, numa reafirmação de sua ancestralidade, eternização e transcendência.
Os Sakpatás podem trazer nas mãos o xaxará, ou o bastão, a lança, o illewo ou
ainda, uma pequena
espada. A maioria deles gostam de manter o rosto coberto pela palha da costa,
outros gostam de
mostrar o rosto. Todos gostam muito de usar búzios e chaorôs (guizos).
O búzio, simboliza a origem da manifestação, o que é confirmado pela sua relação
com as águas e
seu desenvolvimento espiralóide a partir de um ponto central. Simboliza as grandes
viagens, as
grandes evoluções, interiores e exteriores.
É associado as divindades ctonianas, deuses do interior da terra. Por extensão, o
búzio simboliza o
mundo subterrâneo e suas divindades.
O chaorô (guizo), tem simbologia aproximada a do sino, sobretudo pela percepção do
som.
Simboliza o ouvido e aquilo que o ouvido percebe, o som, que é reflexo da vibração
primordial. A
repercussão do chaorô é o som sutil da revelação, a repercussão do Poder divino na
existência.
Muitas vezes têm por objetivo fazer perceber o som das leis a serem cumpridas.
Universalmente, tem um poder de exorcismo e de purificação, afasta as influências
malignas ou,
pelo menos, adverte da sua aproximação. Sem dúvida, simboliza o apelo divino ao
estudo da lei, a
obediência à palavra divina, sempre uma comunicação entre o céu e a terra, tendo
também o poder
de entrar em relação com o mundo subterrâneo.
O lakidibá, fio de conta de Sakpatá, é feito do chifre do búfalo. Tem o sentido de
eminência, de
elevação, símbolo de poder, um emblema divino. Ele evoca o prestígio da força
vital, da criação
periódica, da vida inesgotável, da fecundidade. Devemos lembrar que chifre, em
hebraico
"querem", quer dizer, ao mesmo tempo, chifre, poder e força.
O lakidibá não sugere apenas a potência, é a própria imagem do poder que Sakpatá
tem sobre a vida
e a morte. Na conjunção do lakidibá e do deus Sakpatá, descobrimos um processo de
anexação da
potência, da exaltação, da força, das quatro direções do espaço, da ambivalência.
Encontramos o lakidibá em duas cores: preto e branco. Ele também contém a bondade,
a calma, a
força, a capacidade de trabalho e de sacrifício pacífica do chifre do búfalo, de
onde origina-se.
Rústico, pesado e selvagem, o búfalo é também considerado divindade da morte, um
significado de
ordem espiritual, um animal sagrado.
Na África, o búfalo (assim como o boi), é considerado um animal sagrado, oferecido
em sacrifício,
ligado a todos os ritos de lavoura e fecundação da terra.
O lakidibá é entregue ao adepto somente na obrigação de sete anos.
Presença certa em tudo ligado a Sakpatá, o duburu (pipoca) representaria as doenças
de pele
eruptivas, cujo aspecto lembra os grãos se abrindo. Jogar o duburu assumi o valor e
o aspecto de
uma oferenda, destreza e resistência. O ato de jogar se mostra sempre , de modo
consciente ou
inconsciente, como uma das formas de diálogo do homem com o invisível. Tem por alvo
firmar
uma atmosfera sagrada e restabelecer a ordem habitual das coisas, é
fundamentalmente um símbolo
de luta, contra a morte, contra os elementos hostis, contra si mesmo.
Os narrunos para esses Voduns devem sempre ser feitos com o sol forte e cada um
deles especifica
o que querem comer. Isso quer dizer que, não existe uma única maneira de agradá-
los. Eles não
gostam de barulho de fogos de artifícios.
Uma vez por ano, os Kwes fazem um banquete para as Divindades do Panteão de
Sakpatá, onde
devemos comer, dançar e cantar junto com os Voduns.
Os demais Voduns do panteão da terra, sempre são convidados a compartilhar desse
banquete. Os
jejes acreditam que, com essa cerimônia oferecida a essas divindades, todas as
doenças são
despachadas do caminho do Kwe e de seus filhos.
Esse banquete é colocado dentro do peji ou do quarto onde mora Sakpatá e os demais
Voduns de
seu panteão. Toda a comunidade vêm saudar o Deus da varíola e seus descendentes,
comer e dançar
junto com eles e, ali mesmo, é servido o banquete para todos os presentes.
Após essa cerimônia, Sakpatá e os demais Voduns, vestem suas roupas de festa e vão
para a Sala
(barracão) comemorarem seu grande dia, junto com a comunidade que os aguardam.
Quando
entram na Sala, todos gritam louvores à eles, dançam e cantam, louvando o Deus da
varíola, que
traz a cura de todas as doenças.
Suas danças e cânticos lembram sempre os doentes, as doenças e a cura das mesmas.
Algumas
falam das lutas que esses Voduns enfrentaram com a rejeição das comunidades com sua
presença e
outras falam das vitórias que tiveram sobre todas as comunidades que a eles vieram
pedir ajuda.
Os Sakpatás trabalham muito e têm um importantíssimo papel nas feituras de Voduns.
Do início ao
fim de uma ahama (barco de yaô), eles atuam com rigidez e vigor, mantendo o bom
andamento,
principalmente dos bons costumes morais e, cobram "feio" caso alguém cometa alguma
falha. Eles
são, na verdade, as testemunhas de uma feitura. Após a feitura, se um filho negar
alguma coisa que
tenha sido feita, eles são os primeiros a cobrarem desse vodunci a mentira que ele
está dizendo,
assim como também cobram a quebra de segredos.
Todas as folhas refrescantes para ferimentos, pertencem a esses Voduns.
Vale alertar que existem Orixás e Inkices também ligados a cura e doenças porém,
não são os
mesmos deuses que os Voduns da família Dambirá, da nação Jeje. Muitas confusões são
feitas e,
encontramos várias bibliografias relatando origens, especificações e costumes que
nada têm a ver
com o Vodum Sakpatá.
Voduns Aveji Da
Ligadas as tempestades, raios, furacões, redemoinhos, ciclones, tufões, maremotos,
erupções
vulcânicas, aos ancestrais e a guerra, todas as Voduns guerreiras são conhecidas
como Aveji da. Até
mesmo Oya dos yorubanos, é assim denominada em território daometano.
Erroneamente, no Brasil, algumas pessoas feita de Oya se intitulam filhas de Vodum
Jò. Digo
erroneamente porque Oya é um Orixá yorubano e Vodum Jò é um ToVodum do panteão de
Aveji-da,
assim como Jò Massahundo também.
Aveji-da é o Deus/Deusa das tempestades e dos ventos.
Podemos encontrar as Aveji-da tanto na família Dambirà quanto na família Heviosso.
As Aveji-da, da família Dambirà estão ligadas diretamente ao cultos dos akututos,
sendo que cada
uma tem sua função. Algumas reinam na fronteira do djenukom com o aikungúmã, outras
nos
ekúchomê, outras no hou, ôtan e tódôum., outras em humahuan, outras junto com Naê
Nana, outras
junto aos kpame e "possuídos" - essas, "talvez", sejam as que mais trabalham
(opinião minha) -
outras se encarregam, junto com Exu, de levar os ebós e pedidos feitos pelo povo
encarnado e
desencarnados, a quem de direito e tentam trazer as soluções para cada um -
normalmente
conseguem. Enfim, é uma infinidade de atribuições que essas Voduns têm, todas
sempre em prol
daqueles que pedem e precisam do auxílio delas, sejam encarnados ou desencarnados.
Todas essas Voduns, são temidas e respeitadas por akututòs. Elas têm todos os
poderes sobre o reino
dos mortos e junto com Sakpata e Nae Nana, controlam a vida e a morte.
As Aveji-da da família Heviosso, estão mais ligadas aos fenômenos da natureza, como
o furacão,
ciclone, maremotos, erupções vulcânicas, etc. onde os eguns recém desencarnados
nesses fenômeno
são encaminhados imediatamente por elas as Guerreiras dos cultos de akututòs, pois
Heviosso e
demais Sobos não abrem suas portas para ekùs, dessa forma o trabalho delas tem que
ser rápido e
eficiente, para não contrariar o grande Heviosso.
Contam os velhos Vodunos e Bakonos que a fúria de Aveji-da e de Heviosso contra as
heresias
humanas é que provocam esses fenômeno onde muitos sucumbem. Nessas ocasiões é que
devemos
recorrer a Velha Vodum Guerreira que com sua sabedoria e magia sabe aplacar a fúria
dos deuses e
acalma-los.
Essa Velha Vodum Guerreira mora junto com as demais Yamis e todas as Aveji-da
prestam culto a
mesma e tomam seus conselhos e usam sua magia quando precisam. Ela é um velha
Aveji-da que se
esconde nas sombras e adora a noite. Os pássaros são seu encanto. Junto com Ágüe
visita os kwes
em sua rondam noturna e se encontrar demandas ela ai se detem nos para ajudar ou
cobrar.
A fúria dessa Vodum destrói os inimigos e fecha um kwe. Dificilmente um kwe fechado
por ela
consegue se reerguer. Somente através de Baba Egum se consegue chegar a ela para
aplacar sua
fúria. As Aveji-da são mulheres muito vaidosas, gostam do belo, adoram a natureza,
apreciam
quando suas filhas imitam suas vaidades.
São todas muito vaidosas e autoritárias, não gostam de receber ordem de ninguém
principalmente
dos homens, mas quando fazem suas vontades e caprichos tornam-se dócies e
carinhosas. São muito
maternais, perdoam com facilidade seus filhos e os defende com toda a garra de
guerreiras. Gostam
de disputar com os Voduns Guerreiros quem luta melhor e esses sempre acabam cedendo
aos
encantos dessas mulheres que os encantam com sua magia e beleza. As Aveji-da comem
cabra ou
cabrito, galinha, galo, d'angola, pombo e outros bichos.
Gostam de abara, acarajé, alapadá, quiabada, inhame, peixe, acarajés recheado com
quiabo - existe
um infinidade de comidas para elas - Seus apetrechos são o erugim, adaga, espada de
lança curta
com a ponta em forma de meia lua, faca, chicote, chifre de búfalo e de boi,
fogareiro de ferro, abano
de palha, abano confeccionado em tecidos finos ou pena (leque), abanos
confeccionados em
madeira, bonecas(fetiche), maruo... Usam todas as cores em suas vestimentas.
Seus colares ou fios de conta são das mais variadas cores e formato. Gostam de
todos os metais,
sendo que o ferro, o cobre e a prata são seus preferidos. Vale ressaltar que a
confecção de
apetrechos,vestimentas e fios de contas são determinados pelas próprias Voduns,
portanto não existe
uma "receita" para esses itens. As Oyas feitas dentro do culto de Voduns aderem
todas as
características das nativas, porém recebem também o que lhes são de direito dentro
de suas origens.
Vocabulário:
djenukom - céu (orum)
aikungúmã - terra (aiye)
ekúchomê - cemitério
tódôum -rio
hou - mar
ôtan - lago, lagoa
ahuan - guerra, batalha
humahuan - campo de batalha (guerra)
kpame - doentes, enfermos
akututòs - ancestrais, egungum ekùs - eguns
A Orige de Fa
A ORIGEM DE FA - O SISTEMA DAHOMEANO DE ADVINHAÇÃO
Gbadu nasceu após os gêmeos Agbe e Naete. Possui dezesseis olhos e é um deus
andrógino.
Mawu designou-o a viver no alto de uma árvore de palma, no Orum, a fim de observar
os reinos do
mar, da terra e do céu. Mais tarde, Mawu lhe diria os deveres que deveria executar.
Gbadu está sempre na árvore.
A noite, quando dorme, seus olhos se fecham e depois não pode abri-los sozinho.
Legba foi
encarregado por Mawu, para escalar a árvore de palma, a cada manhã, para abrir os
olhos de seu
irmão.
Quando Legba escala a árvore de palma, pergunta primeiro a Gbadu que olhos deseja
ter aberto, se
os detrás, da frente, da direita ou da esquerda. Ao ouvir a pergunta, Gabdu presta
atenção ao reino
do mar, da terra e do céu; não quer falar porque outros podem ouvir.
Em resposta a Legba, põe semente da palma em sua mão. Se colocar uma semente,
significa que
deseja abrir um de seus olhos e se forem duas sementes, Gabdu deseja que dois de
seus olhos sejam
abertos.
Quando Legba abre seus olhos, ele mesmo olha bem de perto o que está acontecendo no
mar e na
terra e prometeu a Gbadu, a quem nós também chamamos de Fa, que relataria tudo à
ele, inclusive o
que acontece no domínio de Mawu, o Orum. E dests maneira aconteceu.
Depois de um tempo, Gbadu começou a gerar crianças. A primeira criança era Minona,
uma filha. A
segunda criança também era uma filha. Todas as outras crianças eram filhos e foram
chamados de:
Aovi, Abi, Duwo, Kiti, Agbankwe e Zose.
Um dia, Gabadu confidenciou a Legba que estava incomodado porque Mawu ainda não
tinha lhe
designado seu trabalho.
O único que conhecia a língua de Mawu era Legba e este prometeu a Gbadu que o
ensinaria.
Algum tempo após isto, Legba disse a Mawu que havia uma grande guerra na terra, no
mar e no céu
e que, se Gbadu ficasse apenas olhando do alto, esses três reinos seriam logo
destruídos.
A água do mar não sabia seu lugar e a chuva não soube cair.
Isto estava acontecendo porque os donos daqueles reinos não compreendiam a língua
de Mawu.
Mawu perguntou: "O que deve ser feito?". Legba disse que o melhor seria enviar
Gbadu à terra.
Mas Mawu respondeu: "Não, deixe Gbadu permanecer aqui, mas darei a compreensão de
minha
língua à alguns homens na terra, dessa maneira, os homens saberão o futuro e como
comportarem-
se".
Mawu mandou Legba encontrar três filhos de Gabdu.
Antes que essas crianças de Gabdu fossem para a terra, Mawu entregou as chaves do
futuro para
Gabdu. Disse-lhe que aquela era uma casa com dezesseis portas e que cada uma
correspondia aos
olhos de Gabdu.
A árvore de palma em que Gbadu descansou foi chamada de Fa. Assim, quando Gbadu
recebeu as
chaves, Mawu disse que Legba era o "inspetor" do mundo e que desejava que Gbadu
fosse o
intermediário entre os três reinos e ela mesma.
Quando os homens desejarem saber o futuro a fim de guiarem suas ações, deveriam
pegar as
sementes e jogá-las aleatoriamente e isto abriria os olhos de Gbadu que corresponde
ao número de
sementes e a ordem em que caíram. Porque as sementes abririam o olho que
correspondesse a uma
porta na casa do futuro, o destino para quem fossem jogadas poderia ser visto.
O que cada casa do futuro continha foi ensinado às três crianças que foram enviadas
à terra.
As crianças escolhidas para ligarem a terra Gbadu e Legba, consequentemente a Mawu,
foram
Duwo, Kiti e Zose.
Trouxeram sementes da palma com elas, mostrando aos homens como usá-las. Ensinaram
e
disseram a cada homem o que era seu sekpoli (destino). Disseram que o sekpoli é a
alma que Mawu
deu a tudo, mas antes de chamar esta alma, deve-se abrir os olhos de Gbadu. É
necessário saber o
número de olhos de Gbadu que estão abertos antes de chamar esta alma, de modo que
se um homem
souber o número de linhas que o Fa seguiu para ele, sabia seu sekpoli.
Foi dito que nenhum santuário era necessário para a adoração de sekpoli porque o
próprio corpo
humano já é seu santuário.
Quando os três tinham terminado de ensinar aos homens, voltaram ao céu.
Mais tarde, Mawu enviou todas as crianças de Gbadu à terra. Foram conduzidos por
Legba, que os
instalou.
Quando voltaram, Zose recebeu o título de Faluwono, também conhecido como Bakonon,
que quer
dizer "possuidor dos segredos de Fa", que Gbadu tinha lhe dado.
Minona tornou-se uma deusa e reside na casa das mulheres, onde ela tece algodão em
seu eixo.
Duwo recebeu o nome de Bokodaho. Reside nas casas de Pa (crianças de Agbadu),
enquanto Kiti e
Duwo foram ajudar Zose, que é Faluwono, fazer seu trabalho.
Zose joga as sementes da palma. Ele tem somente um pé e, no começo, quando traçava
linhas do
destino, as pessoas não acreditavam nele.
Seu irmão, Aovi, o azarado, foi encarregado de fazer com que as pessoas
respeitassem o culto.
Hoje, se o Fa disser algo e você não fizer, chama-se Aovi para puni-lo. Então você
deve respeitar o
Fa.
Pa fez uma figura pequena de argila de Legba e colocou-a de um lado de sua casa ,
Aghannukwe.
Abi foi chamado para dar a Minona a mesma função que Aovi tem para o Fa.
Abi é cinzas, combustão. É isso que faz com que as mulheres respeitem Minona.
Quando uma mulher cozinha e Minona está irritada com ela, o fogo queima-a ou sua
casa pega
fogo.
E é por esta razão, que quando na cerâmica é ateado fogo está se chamando Abi,
porque as cinzas, a
combustão, são abundantes.
Pouco a pouco as pessoas começaram a compreender o "novo sistema" e porque Aovi é
muito
severo, o culto passou a ser respeitado.
Assim, o culto do Fa espalhou-se em toda parte.
Um dia, veio na terra visitar o culto do Fa com Gbadu. Como era seu hábito,
compartilharam da
mesma esteira para dormir. Mas, tarde da noite, levantou-se secretamente e foi à
Minona.
Entretanto, Gbadu acordou e descobriu que Legba o tinha enganado com sua própria
filha.
Discutiram e foram para o Orum levar o caso a Mawu.
Legba não admitiu que tinha dormido com Minona. Mawu então, mandou que se despisse.
Quando
estava nú, Mawu viu que seu pênis estava ereto e disse: "Você me enganou e deitou-
se com sua
irmã. Por este motivo eu ordeno que seu pênis será sempre ereto e você não poderá
mais saciar-se".
Legba mostrou indiferença a esta punição porque jogou com Gbadu antes que Mawu o
repreendesse, ordenando que seu pênis ficasse ereto para sempre, assim já sabia o
que ia acontecer.
É por esta razão, que as danças de Legba são semelhantes a este acontecimento,
tentando-se ver o
que toda mulher tem na mão.
Nohê
Aikunguman
(Mãe terra)
No culto dos Voduns, Nohê Aikunguman é a base de tudo que é fundamento. Acreditamos
que
somente Aikunguman pode sustentar uma base sólida para apoiar e firmar um templo de
Voduns.
Temos vários Voduns que pertencem ao panteão de Aikunguman, porém existem aqueles
cuja a
tarefa primordial é o culto a mesma. Dependendo do que se pretende fazer, invocamos
o Vodum
correspondente. Como exemplo podemos citar:
Vodum Aizam - considerada a patrona dos grandes mercados. - Ë costume em todo
Benin, quando
nasce uma criança, levar a mesma ao mercado e lá fazer os mlenmlen (orikis) e
oferendas à Aizan,
pois acreditam que esse ritual dará muito boa sorte à vida da criança. Esse
procedimento também se
dá aos casais de noivos. Os familiares das duas partes ser reúnem e vão juntos com
os noivos ao
mercado. Nos dois casos, tanto a criança quanto os noivos trazem para casa um pouco
de terra e a
coloca no solo de suas casas para que a fartura e a prosperidade façam sempre parte
de suas vidas.
Vodum Aizam tem uma grande família e cada um dos membros reina em uma parte da
terra,
inclusive o mundo ctônico (subterrâneo) e abissal (subterrâneo aquático).
Vodum Intoto - É um Sakpata que não é feito no Ori de ninguém, assim como Aizan.
Saber plantar,
cuidar, zelar esse Vodum é "garantir a vida" dentro da casa de santo. Intoto é
responsável pela
putrefação das carnes e dos alimentos em geral; por essa razão temos que saber
cultuá-lo abaixo do
solo para que essa atribuição dele só ocorra em seu mundo e nunca no nosso.
Vodum Agué - Dono de todos os segredos das folhas, este Vodum tem um papel
importantíssimo
dentro do culto Aikunguman pois é ele quem a fertiliza e a alimenta com suas
sementes e magias.
Em uma casa de santo cabe a ele levar o "sabor" de cada vodunci e o apresentar à
Aikunguman na
passagem de sua vida profana para a religiosa, isso é, no seu renascimento.
Vodum Guiogu - O dono da faka (faca) e das grandes guerras. Seu papel é
importantíssimo no culto
de Aikunguman, é ele quem dá à mesma o kun (sangue) dos animais sacrificados. Junto
com Vodum
Yian, Guiogu garante que o kun humano não será derramado dentro daquela casa.
Baseados nessa pequena explanação, podemos entender o porquê de usarmos "poeiras",
"terras" de
determinados lugares para fazermos assentamentos de Santos e Legbas. Como eu disse,
cada
membro da família de Aizam, rege um local - feira-livre, mercados, açougue, bancos,
cemitérios,
estradas, rios, mar, cachoeira, etc.
Para nós filhos do Culto Vodum, Aizan é a principal deusa da terra, ela é a própria
terra.
Nanã
Nanã é considera por todos os adeptos do Culto Vodum como a grande Mãe Universal
que criou o
mundo e deu vida aos Voduns. É chamada carinhosamente de vó Misan (missam).
Senhora da lama, matéria primordial e fecunda da qual o homem em especial, foi
tirado. Mistura de
água e terra, a lama une o princípio receptivo e matricial (a terra) ao princípio
dinâmico da mutação
e das transformações. Sua ligação com a água e a lama, associa Nanã à agricultura,
a fertilidade e
aos grãos (vide simbologia dos grãos e favas).
Nanã tem os mais variados nomes de acordo com o dialeto usado: Bouclou, Buukun,
Buruku, etc.
Em Dahomey, na cidade de Domê onde está localizado seu principal templo, Ela é
conhecida como
Nanã Buruku (lê-se, buluku).
No Brasil, também existem variações de nomes para Nanã: Buruku, Naê Naité,
Yabainha, Naê,
Anabiocô, etc.
Nanã representa a dogbê (vida) e a doku (morte). Ela recebe em seu seio os ghedes
(mortos) e os
prepara para o leko (lêcô - retorno, renascimento)
Quando uma mulher não consegue engravidar, recorre a Nanã que ensina a "fórmula
mágica", o
remédio de ervas que deve tomar, os ebós e oferendas que devem ser feitos.
Se um doente recorre a Nanã, imediatamente obtém o remédio curador.
Na África quando uma família ou alguém obtém um favor de Nanã, fica com o
compromisso de
oferecer um membro da família ao culto de Nanã e esse, após sua iniciação, receberá
na frente de
seu nome a palavra Nanã; assim como a criança que nasce com a ajuda da Grande Mãe
também.
Todos os sacerdotes e sacerdotisas de Nanã têm na frente de seus nomes a palavra
Nanã.
Nanã é a maior conhecedora do uso terapêutico das ervas. Alguns de seus sacerdotes
e sacerdotisas
são preparados para serem curandeiros. Em Ghana existe a Sociedade dos Jou-Jou, em
Allada e
Dahomey a Sociedade do Bo, etc.. Nessas sociedades as pessoas escolhidas são
preparadas para a
prática da medicina através das ervas. Nanã diz que além do uso terapêutico das
folhas e de alguns
produtos animais, as doenças devem que ser tratadas em sua origem espiritual, para
que a cura seja
concretizada. É lastimável que no Brasil essa parte do culto a Nanã não tenha sido
trazida. Em
outros países como Estados Unidos, Canadá, Jamaica e Haiti encontramos essa
prática.
O Culto de iniciação de uma filha ou filho de Nanã requer uma série de cuidados
especiais, tanto na
África, como no Brasil. Para mim, esse é o mais difícil culto de Vodum. Nanã Buruku
não é feita na
cabeça de ninguém.
Existem vários Voduns da linhagem de Nanã Buruku, que são feitos nos iniciados.
Todos esses
Voduns seguem a tradição de Nanã Buruku e são tão exigentes quanto Ela.
Para iniciar um processo de feitura de uma Nanã, é exigido a abstinência de sexo,
bebidas alcoolicas
e outros prazeres carnais, pelo menos dois meses antes (na África são exigidos 3
meses), de todos
que irão participar do processo de renascimento do iniciado. Nesse período, são
feitos vários ebós
no iniciado e alguns poucos nos participantes e na casa de santo.
A bogami (bôgâmi - menstruação) é outro beko de Nanã. Se durante o processo de
iniciação a
vodunsi ficar menstruada, deve ser afastada imediatamente de Nanã e ficar reclusa
em um lugar
especial, fora do templo, até que cesse esse período.
Na África as mulheres menstruada são proibidas de entrar no Templo de Nanã ou de
participar de
qualquer preceito, seja de rituais ou simplesmente fazer uma comida de santo. Nanã
diz que a
bogami é um sangue impuro e aconselha as mulheres não cozinharem para seus maridos
nesse
período.
Por ter muita ligação com egungum é necessário saber tratar muito bem de Buku,
entidade
assistente de Nanã e Sakpata. Em uma feitura, não é permitido a sua presença, mas,
ele deve ficar
aposto, sua função será tomar conta de todos, para que nenhuma exigência da Grande
Mãe seja
desobedecida, principalmente a abstinência de sexo.
Assim como Buku, Legba Aghamasa (agramassá) devem ser tratados corretamente para
garantir a
paz, tranqüilidade e segurança nos rituais e preceitos. Ebós e oferendas
específicas devem ser feitos
para essas duas entidades.
Os ancestrais dos Voduns, do iniciado, dos participantes e da casa de santo não
podem ser
esquecidos em hipótese alguma!
Antes, durante e depois da iniciação de uma Nanã devemos fazer muitos ebós,
oferendas e
preceitos. Uma Nanã bem feita é caminho de prosperidade e crescimento para a casa
de santo, do
iniciado e dos participantes.
De acordo com a Vodum Nanã que está sento feita ou cultuada é que se determina, se
comerá bichos
macho ou fêmea. Existem Voduns dessa linhagem que não comem bicho de quatro pés,
outros
preferem comer somente o Igby. Nanã Buruku, por exemplo, não gosta de muito kun
(sangue)
Vários textos têm sido publicados, citando o carneiro como o bicho oferecido a
Nanã, mas, se
observarmos as fotos que acompanham esses texto, veremos que se trata de cabra e
cabritos. O
sacrifício de carneiro é o maior beko (kisila) de Nanã. Para essa Vodum, o carneiro
é um bicho
sagrado e não deve ser sacrificado.
O não uso da faca e outros metais nos nahunos e preceitos de Nanã devem-se ao fato
de Ela ser
muito mais velha que esses metais. Por seu caráter conservador, quando o ferro e
outros metais
apareceram, ela preferiu manter o que já conhecia em seus ritos.
Vejamos abaixo alguns dos Voduns da linhagem de Buruku. e algumas curiosidade
ligadas a Grande
Mãe.
Nanã Densu ou apenas Densu - Segundo os Fons esse Vodum é um deus andrógino e seria
o lado
macho ou marido de Buruku. É muito cultuado nos rituais de Mami Wata onde é
considerado o
maior de todos os deuses, os Fons o compara a Olokun. Muitos antropólogos têm
atribuído
erronêamente Densu a um deus hindu, devido seus fetíches e assentamentos
apresentarem três
cabeças. Esse Vodum é muito rico e farto. Costuma presentear seus adeptos com suas
riquezas. Não
é feito na cabeça de ninguém. Nanã Asuo Gyebi (assuô giêbi) - Vodum masculino
velho, que habita
os rios. Muito popular em Ghana e tido como o protetor das crianças africanas que
foram
escravizadas. Esse Vodum pediu aos seus sacerdotes que o levasse para os países
onde os africanos
foram escravizados afim de que pudesse resgatar suas crianças. Ele já foi assentado
em templos de
Akonedi nos Estados Unidos e no Canadá.
Nanã Esi Ketewa (êssi quetêuá) - Vodum feminina muito velha, cultuada em Ghana,
Cotonou e
Allada. Dizem os mais velhos que essa Vodum morreu de parto e que por isso a missão
dela é
proteger e tratar as mulheres grávidas assim como seus filhos
Nanã Adade Kofi (adadê côfi) - Vodum masculino, tem a função de proteger e defender
todos os
templos de Nanã. É um Vodum guerreiro, ligado ao ferro e outros metais. Cultuado em
Ghana,
Allada, Cotonou, Porto Novo, etc. É o Vodum da força e perseverança. Sua espada é
usada pelos
adeptos de Nanã, para prestarem juramentos de obediência, submissão e devoção a
Grande Mãe.
Nanã Tegahe (têgarê) - Vodum feminina jovem, cultuada em Ghana. Tem o poder de
tirar feitíços
das pessoas e lugares. Tem grande conhecimento no uso terapêuticos e ritualísticos
das ervas. Muito
alegre e faceira, gosta de dançar e cantar, mas fica muito séria e aborrecida
quando encontra
malfeitores e ladrões; ela os mata.
Nanã Obo Kwesi (obó cuêssi) - Vodum feminina guerreira, cultuada na região Fanti em
Ghana.
Protege e ajuda os kuhatô (pobres) e os azon (doentes). Detesta quem faz aze (azê -
bruxarias) ou
qualquer mau a um ser humano.
Nanã Tongo ou Nanã Wango (tongô/uangô) - Vodum feminina, cultuada em Togo. Grande
curandeira, trata das pessoas com ervas, ebós e gri-gris. É uma grande Azeto (azétó
- feiticeira) e
seu culto talvez seja um dos mais complexo. Em seus nahunos, os sacerdotes prostam-
se no chão ao
lado dos bichos mortos e fingem estarem mortos também, assim permanecem até que
Wango
incorpore em um deles e os ressuscite. Todos levantam, os bicho são suspensos e
preparados. Nanã
Tongo dança com muita alegria, vestida em suas roupas confeccionadas com as peles
dos bichos
sacrificados para ela. Seus adeptos costumam presentear Wango com muitas jóias,
enfeites, roupas e
talismãs que a agradam. Antes de começar os nahunos para Wango, corujas são atadas
às árvores.
Nanã Akonedi Abena - Vodum feminina jovem, cultuada em diversas partes da África.
Seu principal
templo fica em Later, cidade de Ghana. Quando Akonedi chega ela percorre a vila,
esconde-se em
arbustos e sobe em telhados à procura de feitíços, feiticeiros e malfeitores.
Atende os moradores
locais, fazendo libações e curando os doentes. Em Ghana é considerada a Deusa da
Justiça Seu
corpo é coberto com um pó branco sagrado, usa saia de palha, seu rosto é
descoberto, na cabeça usa
um torço, no corpo muitos brajás e nas mãos trás um feixe de lenha. Sua dança é
selvagem e
desenvolve-se dentro de um quadrado divino, dividido em outros quadrados menores
feito com
riscos do mesmo pó que cobre seu corpo. Esse conjunto de quadrado também é usado
por suas
sacerdotisas durante as danças. Seu assentamento fica em um buraco dentro da terra,
ficando
somente a tampa deste aparecendo. Os sacerdote e adeptos de Akonedi carregam-na nos
ombros
numa espécie de desfile, para que todos possam admirar e louvar a grande deusa da
Justiça. Terça-
feira é o dia consagrado a essa Vodum. O Culto de Akonedi foi levado para alguns
países, a pedido
dos governantes desses. Quem levou o culto de Akonedi para o novo mundo foi a maior
autoridade
religiosa do culto, Nanã Oparebea Akua Okomfohemma, falecida em 1995. Mmoetea -
Aldeia de
pigmeus que vivem nas florestas de Ghana. Formam uma sociedade secreta
especializada no uso
das ervas para diversos fins. Desenvolveram a capacidade de curar qualquer doença
física, mental e
espiritual. Trabalham com os espíritos da natureza e seu maior deus é Nanã. Os
espíritos da floresta
deram aos Mmoeta o poder de ler a mente dos homens e dos animais. São grandes
curandeiros e
poderosos feiticeiros.
Buku - Assistente de Nanã e Sakpata que mata os doentes infectados pela varíola.
"Toma conta e
presta conta" do comportamento moral das pessoas durante os cultos de Nanã e
Sakpata.
Legba Aghamasa - Vodum Legba masculino, reina nos portais da morte onde reside Nanã
Buruku.
Odom - Bolsa feita com pele de cabra não curtida, enfeitada com búzios, penas e
sangue. Nessa
bolsa são colocados os gris-gris venenoso e não venenoso que decidem uma questão de
justiça.
Quando duas pessoas brigam pela mesma "coisa" e recorrem a Nanã para saber quem tem
razão, sua
sacerdotisa pede um galo a cada um dos queixosos, quando esses animais chegam,
esses gris-gris
são oferecido aos animais. O galo que comer o venenoso, o dono dele perde a causa.
Além desses
gri-gris, outros segredos de Nanã são guardados na Odom. A Odom fica sempre nos pés
do
assentamento de Nanã, nunca vai a público e não pode jamais ser tocada por homens.
Abuk
(abuquê) - De acordo com a cultura Fon, foi a primeira mulher a surgir. Patrona das
mulheres e dos
jardins, seu fetíche é uma pequena serpente. (teria alguma coisa a ver com Nanã?!!)
Asase (assassê) - Deusa da criação dos homens e receptadora dos mesmos na morte.
Cultura
Ashanti. (Seria a mesma Buruku?!)
Atori (atôli) - Vara ou haste simbólica de Nanã, representa seus filhos mortos e os
ancestrais.
Todos esses Voduns usam muitos kpolis (quipôlis - búzios) e palha, dificilmente
cobrem seus rostos.
Falar ou escrever sobre Nanã é uma tarefa das mais difíceis, pois são tantas as
história a ser
contadas, que somente um livro poderia caber.
Todos os adeptos do Culto Vodum, devem prestar muita reverência a Nanã. Em seus
cânticos e
danças devemos nos alegrar e nos sentirmos honrados em poder, aqui no Brasil,
participar dessa
parte que na África é reservada somente aos seus sacerdotes e sacerdotisas.
Aho bo boy Naê!!
Eku e a Avun
No culto dos Voduns, Eku é visto como um Deus acompanhado sempre de um avun. Essa é
uma das
razões que, dentro dos Templos de Voduns, a entrada desse animal é proibida. Porém,
os sacerdotes
reservam uma área fora dos templos, onde esses animais são criados para que sejam
os guardiões
das almas, impedindo-as de entrarem nos Templos além de encaminhá-las. Os Vodunos,
Bokonos,
Ahougans, Sofós, Vodunsis e outros, acreditam que Vodum Ewa sempre espreita o
temido Deus Eku
para que esse nunca pegue ninguém desprevenido, além de sempre tentar desviá-lo de
seu caminho.
Os velhos Vodunos contam-nos várias histórias para justificar a proibição de avuns
em Templos
Voduns. Vejamos algumas delas:
1 - Um dia, Aveheketi estava pescando e enchendo um balaio com muitos uhui, que
levaria para sua
aldeia, para saciar a fome dos seus. Daí, enquanto ele estava distraído em sua
pescaria, os avuns
vieram e sem que ele os visse, devoraram todos os uhui. Quando Aveheketi terminou
sua pescaria e
voltou-se para o balaio, o encontrou vazio e ainda pode avistar os avuns se
afastando com seus uhui.
Desse dia em diante, Aveheketi proibiu a presença de avuns em seus domínios, ato
esse que foi
seguido por toda a sua família que é a de Heviosso. Nos kwes de Jeje,
principalmente aqueles
regidos por Heviosso ou mesmo Xangô, é proibido a presença de avuns. Aveheketi diz
que em
Kwes que tem avuns, nenhum membro da família Heviosso comparece.
2 - Um avun roubou o fogo de Dan, de Dan Wedo, das divindades celestes ou do
Grande-Espírito
para trazê-lo na ponta de sua husi, e por isso, os Voduns têm pavor de avuns.
3 - A repulsa ao avun nos Templos dos Voduns, é a interdição implacável sofrida por
esse animal,
pelos muçulmanos, povo que muito influenciou a cultura africana. Eles fazem do
avun, a imagem
daquilo que a criação comporta de mais vil. O avun, devorador de oku é um animal
impuro. Por
essa razão também, acreditam que os deuses jamais entram em um Templo onde se
encontra um
avun. Não há, sem dúvida, mitologia alguma que não tenha associado o avun à morte,
aos infernos,
ao mundo subterrâneo, aos impérios invisíveis regidos pelas divindades ctonianas ou
selênicas. A
primeira função mítica do avun universalmente atestada, é a de guia do homem na
noite da iku,
após ter sido seu companheiro no dia da vida. Vemos, em muitas culturas, o avun
emprestar seu
rosto a todos os grandes guias de almas. Têm por missão aprisionar ou destruir os
inimigos da luz e
guardar as Portas dos locais sagrados, reino dos okus, país de gelo e de trevas.
Algumas tradições
chegam a criar avuns especialmente destinados a acompanhar e a guiar os okus no
Além. Atribui-se
também ao avun como intercessor entre este mundo e o outro, atuando como
intermediário quando
os vivos querem interrogar os okus e as divindades subterrâneas do país dos okus.
Na África, o
avun possui a dom da clarividência e, além de sua familiaridade com iku e com as
forças invisíveis
da noite, é considerado um grande feiticeiro. É um costume africano, em seus
banquetes funerários,
oferecerem aos avuns a parte que caberia ao oku, após ter pronunciado estas
palavras: "A heaiye
hesóa iwo ho hebo Ébe ti eke oku sòa tiwo hoho ti bo" "Quando vivias, eras tu mesmo
quem comia.
Mas agora que estás morto, é tua alma que come!" Também na cultura africana,
encontramos
feiticeiros com trajes feitos de peles curtidas de avun, o que mostra o poder
divinatório outorgado a
esse animal. Em Porto Novo, Maupoil, num de seus relatos, conta que um de seus
informantes,
confiou-lhe o seguinte: a fim de reforçar o poder de seu oráculo divinatório, ele o
deixaria enterrado
durante alguns dias dentro da barriga de um avun que imolara especialmente com essa
finalidade.
Enfim, seu conhecimento do mundo do Além, bem como do mundo em que vivem os seres
humanos, faz do avun senhor e conquistador do fogo, sempre ligado a iku, a
clarividência, a
feitiçaria e as forças invisíveis.
Vocabulário
Vodunos - sacerdotes
Bakonos - sacerdote de Fá
Ahougan - sacerdote feito de Vodum
Sofó - sacerdotisa feita de Vodum vodunsis - feitos de Voduns (yao)
Avun - cão
Eku - Deus da Morte Iku - morte Husi - cauda
Uhui - peixe
Dan Wedo - Deus do arco-íris, arco-íris
Oku - cadáver, morto
Itãns
A Nação Jeje possui, em sua cultura, itans belíssimos que não poderíamos deixar de
divulgar.
Estaremos sempre disponibilizando nesta página esta cultura tão rica que a todos
encanta.
Colocaremos também belíssimos Mitos Africanos.
• Klamklamle - As Borboletas
• Os Primeiros Voduns
• Hevioso Salva Dahomey
• Mito da Serpente - Visão do Fim
• Não Devemos Quebrar Promessas Feitas aos Voduns
• O Macaco e a Tartaruga
• Anansi
• A Árvore da Vida
• A Colheita de Estrelas
• A Árvore Que Não Tinha Medo do Céu
Klamklamle
As Borboletas
Contam-nos os velhos Vodunos que Aveji-da tem, em seu touboumé, um exército de
klamklamle
que sobrevoam os mundos e voltam para contar-lhes seus feitos ao mesmo tempo que
trazem outras
klamklamle que nada mais são do que as almas que ali irão residir.
Dizem que a própria Aveji-da, quando está muito preocupada, se transforma em uma
linda
klamklam e sai pelos mundos a voar para observar melhor o djenukom e o aikungumã.
Fá disse a um bakono que sempre que uma Aveji-da recebe uma oferenda, uma klamklam
aparece
para confirmar a presença dela.
A klamklam é como Aveji-da, ligeira e inconstante. Uma ligeireza sutil, de espírito
viajante.
A klamklam brincando entre as flores é a alma da deusa nos humahuan. A deusa
acompanha o guhê
na primeira metade de seu curso visível, até o guhemê. Em seguida, desce de volta à
aikungumã
sobe a forma de uma klamklam.
Há uma associação analógica da klamklam e da chama, de suas cores e do bater de
suas asas tal
qual a duwe de Aveji-da.
Aveji-da, assim como todas as deusas do fogo, associa-se a obsidiana, uma kpe-izó,
seu emblema.
Símbolo do fogo solar e diurno, e por essa razão da alma dos achólupêle, a klamklam
é também um
símbolo do guhê-du, atravessando os mundos subterrâneos durante o seu curso
noturno. É assim,
símbolo do fogo ctoniano oculto, ligado a noção de sacrifício, de morte e de
ressurreição. É então a
klamklam, atributo das divindades ctonianas, associadas à morte. Ela ilustra, ao
mesmo tempo, a
analogia alma-borboleta e a passagem do símbolo à imagem.
O homem segue, da vida à morte, o ciclo da klamklam. Ele é, na sua infância, uma
pequena lagarta,
uma grande lagarta na sua maturidade; ele se transforma em crisálida na sua
velhice; seu túmulo é o
casulo de onde sai a sua alma que voa sob a forma de uma klamklam. A postura de
ovos dessa
klamklam é a expressão de sua reencarnação.
Dizem os velhos Vodunos:
- Ekùs ete jo nhû oku do bochiô na klamklam!
(- A alma que deixa o corpo dos mortos tem a forma de uma borboleta)
Quando uma klamklam aparece no templo dos Voduns, todos saúdam a bela Deusa do
degi, dos
johon, e das djizônukon num só grito "Ahoboboi, mikan Aveji-da!!!".
Vocabulário
klamklam - borboleta (pronuncia-se kunlamkunlam)
Klamklamle - borboletas
Touboumé - reino
Djenukom - céu (orum)
aikungumã - terra (aiye)
Humahuane - guerra, campo de batalha
Guhê - sol
Guhemê - meio-dia
Duwe - dança
Guhê-du - sol negro
kpe-izó - pedra de fogo
achólupê - soldado, guerreiro
achólupêle - soldados, guerreiros
Oku - morto, cadáver
Ete - que
Ekùs - alma, egum
jo - deixar
Nhû - corpo físico
Bochiô - forma, escultura
Na - uma (artigo)
Degi - ar
Johon - vento
Mikan - salve!
djizônukon - tempestade
Os Primeiros Voduns
De acordo com os povos Fon de Abomey, Dahomey, Mawu é um deus supremo e criador.
Mawu
representa a lua que traz a noite e a temperatura fresca, no mundo africano. Reside
no oeste e é
descrita como uma velha fria e indiferente o que é considerado pelos povos Fon,
sinônimo de
sabedoria e idade.
Alguns itans contam que Mawu tem um irmão gêmeo chamado Lisá, em outros,
encontramos que
se trata de um deus andrógino, que sua parte feminina é Mawu e a parte masculina é
Lisá. Lisá é
tido, pelos povos africanos, como feroz e áspero, residente no leste, representa o
sol.
Mawu e Lisá são considerados como uma unidade inseparável na base do universo,
representantes
do uno e da ordem. Foram trazidos por Nanã, que criou o mundo.
Quando há um eclipse do sol ou da lua, os povos de Fon acreditam que Mawu e Lisá
estão fazendo
amor. E conceberam... As primeiras crianças a nascerem, gêmeos, foi um menino
chamado Da Zodji
e
uma menina chamada Nyohwe Ananu.
O segundo a nascer, teve a mesma característica de seus pais, andrógeno, era Sobo.
O terceiro nascimento, também gemeos, foi um menino, Agbe e uma menina, Naete.
O quarto a nascer era velho e experiente.
O quinto, também era um homem, Gu. Todo em forma de corpo, não tinha cabeça. No
lugar da
cabeça, uma enorme espada saía de sua garganta e seu tronco era uma pedra.
O sexto nascimento não foi de um ser. Era Djo, o ar, a atmosfera, o necessário para
criar os homens.
O sétimo a nascer tinha chifre, era Legba. Era o preferido de Mawu, por ser o mais
novo.
Um dia, Mawu-Lisá reuniu todas as crianças a fim de dividir seus reinos.
Aos primeiros gemeos deu todas as riquezas e disse-lhes para irem habitar a terra.
Disse-lhes que a
terra era para eles.
À Sobo, Mawu disse que devia permanecer no céu porque era homem e mulher como seu
pai.
Aos gemeos Agbe e Naete, disse-lhes para irem habitar o mar, comandar as águas.
Para o quarto filho, velho e experiente, deu o comando de todos os animais e
pássaros, e disse-lhe
para viver no arbusto como um caçador.
A Gu, Mawu disse-lhe que era sua força, e era assim porque não foi lhe dado uma
cabeça como aos
outros. Por isso, a terra não permaneceria para sempre só com arbustos selvagens.
Era ele quem
ensinaria os homens a serem felizes.
À Djo, Mawu disse-lhe para viver no espaço, entre a terra e o céu. A ele confiaria
o livre arbítrio do
homem. Seus irmãos seriam invisíveis e a ele cabia vesti-los.
Depois que Mawu disse isso às crianças, ela deu aos gemeos de Sagbata a língua que
devia ser
usada na terra, e removeu de sua memória a linguagem do céu.
Deu a Hevioso a língua que ele falaria e tirou de sua memória a língua falada pelo
pai. O mesmo foi
feito para Agbe e Naete, para o mais velho e para Gu.
Agora, disse a Legba, você é a minha criança mais nova e como você é levado e nunca
soube o que
é punição, não posso transformá-lo como a seus irmãos. Ficarás sempre comigo. Seu
trabalho será
visitar todos os reinos governados por seus irmãos e dar-me ciência do que
acontece. Assim, Legba
sabe todas as línguas faladas por seus irmãos e a língua de Mawu. Legba é lingüísta
de Mawu. Se
um dos irmãos desejar falar com Mawu-Lisá, deve dar a mensagem a Legba, porque
nenhum deles
sabe mais dirigir-se a Mawu-Lisa. Por isso que Legba está em toda parte.
E é também por isso que encontramos Legba na porta de todas as casas de Vodum,
porque todos os
seres humanos e deuses devem dirigir-se a ele antes que possam se aproximarem dos
deuses.
Mito da
Serpente
Visão do Fim
O mundo foi criado por Nana Buluku, um deus que não é macho e nem fêmea. Nana
Buluku gerou
dois gêmeos, Mawu e Lisa, quem modelou o mundo com a ajuda de seus quatorze filhos,
os
Voduns, deuses menores.
Antes de Mawu ter dado vida à seus filhos, a Serpente do arco-íris já existia,
criada para servir a
Nana-Buluku. Levava o criador por toda a parte em sua boca. Rios, montanhas, entre
os vales e
curvas, exatamente o movimento circular da Serpente. Onde eles paravam pela noite,
montanhas
surgiam de esterco da Serpente. Por este motivo, quando você escava profundamente
as montanhas,
acha riquezas. Quando Nana acabou de criar o mundo, é óbvio que a terra não podia
suportar o peso
de tudo, montanhas, árvores, seres humanos e animais. O criador designou que Da
envolvesse o
mundo para mantê-lo, amortecê-lo.
Daí o costume africano do uso do torso quando estão levando uma carga pesada.
Para que Da não permanecesse no calor, Mawu criou o oceano para ele. E lá Da
permanecem desde
o início dos tempos, com sua cauda na boca. Mesmo a água mantendo-a fresca, as
vezes se desloca
em torno de si mesma tentando ficar confortável, o que causa os terremotos.
Da precisa manter-se alimentada, o que obriga a Nana e aos ferreiros forjarem
barras de ferro para
mantê-la alimentada. Mais cedo ou mais tarde o suprimento de ferro irá se esgotar e
Da não vai ter
nada o que comer. Com fome, ela vai comer sua cauda, suas convulsões serão
terríveis, toda a Terra
vai inclinar, pela sobrecarga de coisas e pessoas. A terra vai ser engolida pelo
mar.
Anansi
Anansi ou Ananse. é um heroi da cultura Ashanti, povo de Ghana, também chamado "O
Aranha".
É o intermediário do deus do Céu Nyame, seu pai, que comanda Anansi para levar
chuva para
apagar o fogo em florestas e determina os lugares que Anansi deve "fazer" barreiras
em oceanos e
rios, em grandes inundações.
Estas funções de Anansi se aproximam com as do camaleão, alguns dizem que o
camaleão roubou
as funções de Anansi.
Sua mãe, Asase Ya, é considerada, por vezes, a criadora do Sol, da Lua e das
Estrelas, bem como
aquela que instituiu a sucessão do dia e da noite. Diz-se que Asase Ya também criou
o primeiro
homem e que Nyame deu o sopro de vida.
Anansi é astucioso e matreiro. Ensinou a humanidade como semear grãos e como usar a
pá nos
campos.
Anansi é o mito africano mais popular.
Hoje, a figura de Anansi tornou-se muito conhecida entre as crianças e jovens, por
ter tido sua
performance caricaturada a uma aranha infantil, que conta histórias, mitos e
fábulas dos diversos
lugares, civilizações e culturas africana.
A Árvore da Vida
Naquele tempo - e faz tempo que ninguém sabe quando foi e nunca soube - não havia
floresta,
apenas colinas e planaltos a perder de vista, e um rio que atravessava estas terras
desoladas. Perto
do rio, onde a terra era branca, vermelha e preta, erguia-se a casa de Khmvum, o
Criador de todas as
coisas.
Foi lá que Mbere e Nkwa foram encontrá-lo um belo dia, para lhe suplicar que
criasse uma grande
floresta...
- Khmvum Bali, tu que dás a vida, bem que podia nos dar uma floresta, povoada por
milhares de
árvores... - pediuMbere, com o coração cheio de esperança.
- Khmvum Kka, tu que és o mais forte entre os fortes, por favor, nos dê uma
floresta povoada por
milhares de animais... - pediu Nkwa, com o coração cheio de sonhos.
Khmvum ouviu em silêncio, e depois alisou a barba, olhando firme para eles, com
seus olhos
escuros como a noite.
- E por que os meus filhos pigmeus estão querendo isso?
- Nós somos tão pequeninos... Os menores dos menores... - começou Mbere. - Podíamos
nos
esconder na sombra das árvores...
- E colados aos troncos enormes - continuou Nkwa - podíamos escapar dos nossos
inimigos
gigantes...
- Os gigantes receberam a força, na divisão, mas vou dar algo muito melhor aos
pigmeus...
E o Criador ergueu a mão.
- Dou a vocês a coisa vermelha, o fogo, para vocês não terem mais frio. E dou os
animais que
caminham, que pulam, que voam, que nadam, para que jamais a fome entre na barriga
de vocês. E
lhes dou todas as árvores, como abrigo e como amigas. Vocês serão os senhores da
floresta e, no
reino dela, os pigmeus estarão em casa, livres.
Mbere e Nkwa ouviam as palavras de Khmvum boquiabertos, com a impressão de estarem
vivendo
um sonho. Eles, os menores entre os homens, iam se tornar os reis da floresta!
Ardendo de impaciência e devorados pela curiosidade, viram o Criador entrar em casa
e voltar em
seguida, trazendo uma árvore minúscula, que acabara de se formar.
- Esta aqui é Tii, a ancestral da floresta. É a guardiã da coisa vermelha que
esquenta, que cozinha e
que ilumina.
E Khvum lhes ensinou a fazer o fogo nascer, esfregando dois pedaços de pau. Depois,
plantou a
arvorezinha na margem de três cores e foi se sentar, com os braços cruzados.
- Só isso? - perguntou Mbere, pensando que uma única árvore, mesmo se crescesse
muito, não era
uma floresta.
- Só isso? - repetiu Nkwa, pensando que os animais não nasciam em árvores.
O Todo-Poderoso tinha fechado os olhos.
- Depois da noite, o dia. Depois de uma nuvem, outra nuvem. Depois de uma árvore,
outra árvore...
Os dois pigmeus não perguntaram mais nada. Curvados, com a testa apoiada no chão,
rezavam para
Khmvum, quando um barulho estranho estranho os fez levantar a cabeça.
Bem ali, diante de seus olhos, Tii começava a crescer com uma velocidade
prodigiosa.
Em pouco tempo, seu tronco estava tão grande que seis pigmeus não bastariam para
rodeá-lo com
os braços. O sol do meio-dia desaparecera por trás da folhagem espessa que já
enchia de sombra as
duas margens do rio. E a árvore continuava crescendo.
Logo que a envergadura de seus galhos se estendeu pelo quatro cantos do horizonte,
Khmvum Vali,
aquele que dá a vida, aproximou-se e tocou a árvore com a palma da mão.
Tii tremeu com o choque e fez cair sobre a planície um dilúvio de grãos. Mbere e
Nkwa caíram de
joelhos, maravilhados. Num instante, cada grão dava vida a uma nova árvore. Onde
antes não havia
nada, nascia agora um mundo ao redor deles, uma floresta profunda, que crescia a
olhos vistos!
Depois, Khmvum Kka, o mais forte entre os fortes, sacudiu com as mãos o tronco da
grande
ancestral e as folhas começaram a cair de uma a uma.
Mbere e Nkwa assistiram então, fascinados, ao nascimento do mundo animal: assim que
uma folha
tocava o solo, começava a se arrastar, a saltar, a andar ... e ia crescendo e se
transformando em
serpente, em macaco, em elefante... As que ficavam dando voltas no ar logo viravam
pássaros de
todo tipo, e as que caíam no rio tornavam-se peixes, tartarugas, crocodilos... E
toda a vida da
floresta nasceu da árvore Tii.
A Colheita de Estrelas
Já havia algum tempo que Bako, o Sol, dava sinais de cansaço...
No começo, os pigmeus não prestaram muita atenção. Talvez estivesse um pouco menos
claro,
seguramente fazia menos calor que antes, mas, afinal de contas, sempre houve dias
menos bonitos
que outros, não era motivo para ninguém se apavorar.
Entretanto, depois de uma semana, mesmo os pigmeus mais otimistas tinham que
reconhecer que o
fenômeno estava continuando de uma forma anormal. Consultaram então o Nzorx, o
advinho
curandeiro, que foi consultar seu espelho de vidência. O que leu nele não devia ser
muito animador,
porque apertou as mãos sobre o seu talismã de chifre de antílope, como se quisesse
se proteger e
proteger sua tribo de uma grande desgraça.
- E então? O que foi que o espelho de vidência revelou? - perguntaram seus irmãos,
esperando o
pior.
Com um sorriso forçado, o Nzorx quis tranquilizá-los: desde que existia a memória
dos homens,
nunca o Sol deixara de brilhar. Bako era velho e robusto como o mundo, não havia
nenhuma razão
para que de repente adoecesse...
- Mas não dá para negar que Bako não anda com um aspecto muito bom - insistiu um
pigmeu, com
a voz preocupada. - Está tão pálido...
- Só um pouco de cansaço, isso passa.
- E no fim do dia está vermelho, afogueado, como se estivesse sem fôlego!
- Na certa é uma febrezinha, mas não deve ser nada grave.
No entanto, os sintomas preocupantes se multiplicavam: o calor era cada vez
menor... a luz
enfraquecia a olhos vistos... Bako cada dia deitava-se mais cedo, como se estivesse
esmagado pelo
peso de um trabalho que ficara pesado demais para ele. Então o pressentimento virou
certeza: o
estado do Sol piorava de maneira catastrófica.
- Hum... alguma coisa anormal está acontecendo... - murmurou um pigmeu, e depois
outro, e mais
outro.
- Bako só é a sombra do que era - sussurraram outros.
- E se ele apagasse?
Mal foi formulada, essa idéia lançou o terror nos espíritos. A vida era
inconcebível sem Bako para
iluminar e aquecer os humanos. Nessa noite, os pigmeus ficaram esperando o
alvorecer e tremendo:
se o Sol não comparecesse ao encontro, seria simplesmente o fim do mundo.
Como o dia demorava a aparecer! Com um atraso angustiante, o astro levantou-se mais
uma vez,
mas em que estado! Irreconhecível, lívido, gasto, subia penosamente pelo céu, mal
conseguindo
dardejar seus grandes raios...
Horrorizados, os pigmeus finalmente o viram desaparecer numa luz crepuscular de
muito mau
agouro. Desta vez, foi o pânico. O Sol morria no horizonte! Jamais teria a força de
subir novamente
ao firmamento se sua chama não fosse reavivada. Aliás, nem haveria amanhã, pois com
toda certeza
o dia não nasceria nunca mais. Era absolutamente indispensável que se tentasse
alguma coisa logo,
mas o que?
Intimado a encontrar uma solução, já que era o advinho e curandeiro, o pobre Nzrox
ergueu as mãos
para o Céu, em sinal de impotência.
- Rezemos a Khmvoum... Só ele pode curar Bako.
Khmvoum... À simples evocação do Deus supremo, os pigmeus readquiriram confiança,
tão
rapidamente quanto haviam se desesperado. Isso mesmo, apenas o Grande Caçador
celeste poderia
impedir o desastre. Bastava que ele ouvisse o pedido de socorro de seus filhos:
tudo voltaria à
ordem e...
De repente, uma risada sinistra rasgou o silêncio da noite: era Tore, o espírito da
Floresta! Só ele
poderia achar graça num momento daqueles... Pouco lhe importava que a luz
abandonasse o mundo,
ele era um pássaro noturno, um monstro da mata, que se alegrava com as trevas.
- Se a luz não voltar - balbuciou um pigmeu - o ogro Ngoogounogumbar vai devorar
nossos filhos...
- E o anão Ogrigwabibikwa vai se transformar em réptil para nos morder no escuro!
Tremendo, os pigmeus dirigiram ao céu um olhar de súplica. Entrecortada pelas
risadas de Tore, sua
prece subiu ao Céu:
Ó Sol... Ó Sol...
A morte vem, o fim já chega,
O astro cai e morre.
O fogo escurece, a mata fica negra,
A chama vai se apagar, é nossa desgraça!
É nossa desgraça... Oh! Khmvoum!
Do alto do céu, Khmvoum ouviu a voz de seus filhos e siu seu desespero.
Sem perder um minuto, pôs-se a caminho em direção ao Sol. Em sua mão direita,
brilhava o Arco-
íris. Na esquerda, tinha uma sacola enorme, que lançou sobre os ombros: a colheita
do Grande
Semeador celeste ia começar...
Khmvoum penetrou nas grandes florestas do Céu. Dirigiu-se para o oriente, lá no fim
do mundo,
onde normalmente Bako deveria reaparecer. Em sinal de aliança com seu povo, plantou
lá o Arco-
íris que, de manhã, diria que os belos dias tinham voltado e que não havia mais
nada a temer.
Depois, com passos decididos, enveredou pela Via Láctea; o caminho todo pavimentado
de estrelas.
Khmvoum deteve-se numa região celeste rica em milhões de astros, todos muito
brilhantes. Havia
tantos, de todo lado, que era só esticar a mão, colhê-los aos punhados e guardá-los
na sacola. Bem
que as estrelas, assustadas, tentavam fugir, mas não era fácil escapar ao Grande
Semeador, e elas
logo eram aprisionadas.
Khmvoum calculou o peso da sacola. Já era quase o suficiente, mais um punhado de
estrelas e
pronto. Unindo o gesto ao pensamento, agarrou um cometa que passava voando e mais
duas ou três
estrelas cadentes, para completar!
Khmvoum prestou atenção. Por cima da tempestade que rugia lá embaixo, distinguiu o
coro de seus
filhos desesperados, suplicando:
É nossa desgraça ... Oh! Khmvoum!
A morte já vem, o fim vai chegando,
A chama vai se apagar!
Para tranquilizá-los, encarrega o elefante Gor, o mensageiro celeste que fala na
tempestade, de
explicar aos pigmeus que o fim do mundo não viria nesse dia. Gor dirigiu a tromba
para a Terra,
para mandar a mensagem de esperança... Na mesma hora, atingidos por uma chuva
diluviana, os
pigmeus recitavam sua prece com fervor crescente. O alvorecer já devia estar ali...
não restava mais
muito tempo para salvar Bako. Então, quando o trovão estourou com sua força
assustadora,
acreditaram que a hora de seu fim tinha chegado. Mas o Nzorx apontou um dedo
inspirado em
direção ao céu.
- É a voz de Gor! - exultou, com o rosto encharcado de chuva. - E nos diz que
Khmvoum está à
cabeceira de Bako.
Khmvoum atravessara o espaço com grandes passadas. Bem a leste do mundo, tinha
encontrado o
astro moribundo, mais pálido que a Lua, e lançado o conteúdo de sua sacola na
fogueira quase
extinta do Sol. As estrelas crepitaram, explodiram em centelhas que se
transformaram em chamas
gigantescas. Bako foi ficando cada vez mais vermelho, como uma brasa incandescente.
A chuva de
estrelas, que não parava de cair sobre ele, o regenerou. Ele embrasou-se, inflamou-
se, reencontrou
seu esplendor original. E no oriente houve uma ebulição de calor, uma luz
ofuscante!
Lá embaixo na floresta, as risadas cruéis de Tore, o espírito da Floresta,
estrangularam-se em sua
garganta. A longa noite acabava de ter fim, a hora do grande declínio ainda não
chegara.
Saudado pelos pigmeus entusiasmados, o Sol levantou-se no horizonte. Mais brilhante
do que
nunca, rasgou o manto das trevas, furou as nuvens negras, dissipou os medos,
explodiu e
resplandeceu no dia nascente.
- Arco-íris! O Arco-íris! - entoaram os pigmeus, encantados, descobrindo o sinal de
Khmvoum a
leste do céu.
Tu que brilhas no alto bem alto,
Acima da floresta tão grande,
Arco poderoso do Grande Caçador celeste,
Diz a ele que agradecemos!
Não, Bako não se apagaria - não enquanto houvesse estrelas no céu e enquanto
Khmvoum velasse
sobre seu povo.
Texto - Franck Jouve e
Michael Welply
Tradução - Ana
Maria Machado
Yatemi
Jurema de Yansã
Instrumentos
A cultura africana é muito rica.
Neste espaço disponibilizaremos alguns dos instrumentos musicais usados em rituais
e
comemorações de nossa nação.
Para cada um deles, contamos um pouco de sua história e utilização. É, de fato, uma
viagem no
tempo e na história da cultura afro-brasileira.
DANHOUN
O danhoun pertence a família dos instrumentos de percussão. É uma série de três
tambores de
tamanhos diferentes sendo o maior chamado de hounon, o médio o sanga e o menor o
alekle. Eles
são cobertos com ráfia tingida, apenas tocados por adeptos preparados (ogans) e sua
melodia só
pode ser dançada por pessoas feitas.
Este instrumento só é tocado durante as cerimônias em honra ao deus Dan,
representado pelo arco-
íris ou por Dangbe, a cobra python, para as Tovoduns das águas doces ou para Legba,
deus dos
caminhos. Nestas cerimônias os adeptos também usam roupas de ráfia tingidas de
roxo.
A intensidade do ritmo do danhoun proporciona o transe aos voduncis.
O deus Aziza, fascinado pelo danhoun, foi o primeiro a iniciar um ogan para tocar
seu instrumento
de adoração.
Na África, tocar o danhoun para outros deuses que não os citados, é considerado
sacrilégio. Seu
caráter altamente religioso faz deste tambor um instrumento muito especial .
TATCHOOTA
tatchoota é uma espécie de gongo.
Este instrumento musical é usado, principalmente durantes os rituais fúnebres e
celebrações.
Ele difere dos outros gongos por seu tamanho e forma especiais. É composto de duas
peças
independentes sendo a primeira sempre usada no dedo indicador e a segunda,
circular, no polegar.
O tatchoota é confeccionado em ferro e, usualmente, possui 8 cm de diâmetro e 20 cm
de
comprimento. Os primeiros tatchootas a serem confeccionados pelos antigos ferreiros
reais, eram
muito maiores.
É um instrumento misterioso e maravilhoso.
O tatchoota também é utilizado pelos betamaribes (caçadores), que sinalizam um
animal abatido aos
outros betamaribes pedindo ajuda.
Na cerimônia de passagem da infância para a maturidade, o difoni, os jovens Fon
recebem um
tatchoota para simbolizar esta nova etapa de vida e saem em procissão, tocando o
instrumento.
O ritmo produzido pelo tatchoota é chamado tipenti, muito apreciado e dançado nas
cerimônias em
homenagem aos Voduns e também no fim da estação das chuvas.
Outro momento importante onde o tatchoota é tocado é no sacrifício de animais e na
entrega das
oferendas aos deuses.
GOTA
O gota, também conhecido como kago, que é a base do ritmo tchinkoume.
Inicialmente foi chamado de zin e era uma peça redonda de cerâmica, utilizado para
fornecer o
ritmo zinli, música tocada pelos antepassados que vieram de Tado, uma aldeia Mahi,
onde nasceu o
gota. Depois foi introduzido em Savalou onde era tocado quando haviam inimigos na
cidade. Daí
nasceu o ritmo particular do zin.
O material principal utilizado para confeccionar o gota é produzido pelo cabaceiro,
chamado katin
na língua Fon.
Uma pele animal seca é esticada cobrindo a abertura depois das sementes terem sido
removidas. E é
aí que o som é produzido, com batidas firmes.
Juntamente com este instrumento principal, outras duas cabaças menores, emborcadas
em
recipientes cheios de água, proporcionam um som diferente, o tohoun. Este ritmo é
dançado por
mulheres ágeis por ser um ritmo muito rápido.
O gota é tocado principalmente nas cerimônias em homenagem aos voduns, funerais e
para acalmar
os espíritos dos mortos.
Durante as cerimônias funerais toca o ritmo tchinkoume além do yonoutcho e o
ahidjekpe, que são
o primeiro e segundo estágios, respectivamente, do ritual dos mortos na tradição
Mahi. Seu som oco
e fundo representa o outro mundo para os Mahis.
Normalmente é tocado apenas por mulheres.
KANKANGUI
É também chamado de kankank, kakasi, kakati, kakake.
O kankangui é um instrumento de sopro, confeccionado em latão com aproximadamente
1,95 cm de
comprimento, bem fino e brilhante. É uma herança cultural do reino Nikki, no antigo
Dahomey.
É um instrumento sagrado e só pode ser tocado por pessoas iniciadas.
O kankangui é especial, não só por sua forma mas também pelo seu tamanho além de
produzir um
som completamente diferente dos instrumentos de sopro conhecidos.
O iniciado que toca este instrumento é chamado de kiriku e usa um bácom (espécie de
chapéu) na
cabeça.
Ele era tocado para agradar os reis e a aristocracia durante suas grandes
cerimônias e procissões
religiosas.
Ainda hoje é tocado nas procissões, festivais e cerimônias em homenagem aos Voduns.
Nas noites de quinta-feira, ele é tocado como um mensageiro sagrado, levando aos
deuses todos os
pedidos dos adeptos ao culto dos Voduns.
ADJALIN
O adjalin é um instrumento muito antigo, criado pelo grupo étnico Goun.
Ainda hoje, este instrumento é tocado em quase todas as cerimônias e rituais em
homenagem aos
Voduns. Normalmente, são os Gouns mais velhos que o tocam.
É um instrumento que exemplifica a grande imaginação e genialidade de um povo.
Confeccionado
apenas de hastes de bambu, ao olharmos o adjalin temos a impressão de estarmos
vendo uma pilha
de lenha mas, o adjalin é muito mais que isso. Tem uma forma retangular, quinze
hastes de bambu
são dispostas horizontalmente. O adjalin tem em média 65 cm de comprimento por 25
cm de
largura, e as hastes de bambu são amarradas por fibras de legumes.
O som deste instrumento é muito harmonioso, agradando à muitas pessoas. Elas são
atraídas pela
melodia suave e fascinante, encantadora, um verdadeiro som mágico.
Quando tocado junto com os tambores, não há quem resista a dançar. É, sem dúvida,
um dos
melhores instrumentos oriundos do antigo Dahomey.
ALOUNLOUN
O instrumento é chamado de alounloun e seu ritmo adjogan.
O alounloun é uma barra de ferro comprida, de um metro de comprimento, com um
alongamento,
toda trabalhada, sua parte central é de cobre e argolas deslizam para cima e para
baixo para produzir
a harmonia de sua música. Tem um cabo na forma de um pássaro, símbolo de Kokpon.
Para falar das origens deste instrumento devemos voltar na história.
No início, o alounloun era um cajado que simbolizava a força do rei de Allada. Este
cajado foi
herdado por Te-Agdanlin de seu pai Kokpon quando da disputa, entre os dois irmãos,
formaram
então os reinos de Allada e Dahomey, respectivamente, no século dezessete.
Um descendente de Te-Agdanlin, De-Gbeyon, transformou o cajado em um instrumento
musical,
durante seu reinado (1765-1775).
Naquele tempo, era usado para acompanhar canções que elogiavam o rei. Era tocado
unicamente
por mulheres.
Ele pegou o alounloun durante a migração e veio para o sul do Benin onde criou o
reino de
Hogbonou (atual Porto Novo).
Quando ele morreu, de uma geração para a outra, o alounloun sofreu várias
transformações
contando com o gosto e aspirações de cada rei. Foi realmente transformado em um
instrumento
musical pelo rei De-Gbeyon para homenagear seus antepassados. Naquela época ele não
era tocado
só para homenagear os reis mortos mas também para os reis vivos, para as ahossis
(rainhas) e na
consagração dos ministros do rei.
O alounloun foi tocado durante cinco dinastias de Porto Novo.
Hoje é tocado em muitas cerimônias em homenagem aos voduns, nos ritos fúnebres,
procissões e
festivais.
BALAFON
O verdadeiro nome deste instrumento é balan, incorretamente chamado de balafon,
palavra francesa
que indica quem toca o instrumento: balan é o instrumento, fo o tocador.
Sua forma é trapezóide e seu som melódico, ativo e excitante.
Ele é confeccionado de barras de madeira que produzem notas quando tocadas. As
barras são
dispostas paralelamente e sob ele coloca-se cabaças de vários tamanhos para criar
um sistema de
amplificação do som.
As barras são feitas de uma madeira dura chamada gouene-yori, na língua bambara e
koyehoun, em
Fon.
Os fios que seguram as barras são feitos de pele de cabra ou cervo, que é mais
resistente.
O balafon é tocado em cerimônias festivas em homenagem aos deuses, acompanhado de
outros
instrumentos.
Podemos encontrar o balafon em vários modelos.
DJEMBE
O djembe ou jeme, é um tambor com uma cabaça atada, tocado com a mão e junto com o
doudoumba, outro instrumento de percussão, fornecendo o tom baixo. O topo do djembe
é coberto
com uma pele de cabra curtida, segura por argolas de ferro anexadas por nós de
corda.
Tem um som agradável e puro. Alguns dizem que seu nome vem do som do instrumento
quando
vibra. É um instrumento muito expressivo.
O djembe deve estar sempre em um local seco e limpo.
É tocado em diversas cerimônias e rituais em homenagem aos voduns.
KPANOUHOUN
O kpanouhoun é uma espécie de tamborim tocado por vários grupos étnicos: Fon, Mahi,
Goun,
Mina, Yoruba, etc.
É composto de uma parte semelhante a um prato fundo e uma margem com buracos onde
aparecem
argolas de ferro. Uma parte da margem não contém buracos e é aí que deve ser
segurado com a mão
direita. Com a palma da mão esquerda é tocado.
Não se pode dizer com exatidão onde este instrumento se originou. Ele emite um som
muito
agradável, falicitador de nossos sonhos.
É um dos raros instrumentos tocados exclusivamente por mulheres, em cerimônias de
casamentos,
iniciações, funerais de idosos e festivais.
Pode ser acompanhado por um gongo de uma ou duas câmpulas.
SATO
O sato é um instrumento sagrado de percussão, feito de madeira e coberto de couro.
O tambor maior
mede cerca de 1,75 cm de altura.
Ele possui duas formas: uma masculina e outra feminina sendo que, ainda podemos
encontrar uma
forma hermafrodita, exibindo seus atributos sexuais na maneira de se tocar.
Este tambor é tocado com pequenas varas curvas, e emite um ritmo do mesmo nome,
durante os
festivais anuais em homenagem aos antepassados. Nesta ocasião, todos dançam o ritmo
sato, tocado
pelo tambor de mesmo nome acompanhado de outros instrumentos musicais: gbehoun,
ahlomidon,
alangandan e o gongo.
O tambor sato participa da passagem do morto do mundo visível para o invisível e é
por isso que é
tocado nos ritos funerais, para garantir a separação da alma deste mundo e sua
transição para o
outro mundo.
A ninguém é permitido olhar dentro do sato pois lá estão os espíritos dos mortos e
é por isso que ele
é guardado em posição ereta e só pode ser transportado a noite.
Este instrumento é fantástico, desafia o tempo e é imutável.
YABARA
O yabara também é chamado de mayabara (a cabaça da humanidade).
É um instrumento de percussão, sua forma e tamanho são variáveis.
Ele é confeccionado de uma cabaça e revestido por uma rede de pérolas ou sementes
de frutas,
envolvendo a cabaça até o pescoço.
Para se tocar o yabara, pega-se o pescoço da cabaça com uma das mãos e com a outra
a ponta da
rede para permitir que o som das pérolas ou sementes seja amplificado.
Este é outro instrumento bastante utilizado nas cerimônias e rituais dos Voduns.
KPEZIN
O kpezin é um instrumento importante na vida cultural e religiosa do Benin.
É um tambor em forma de pote, uma caixa de som com um longo pescoço e uma base
redonda. A
base é revestida com vime trançado e o instrumento é assentado em uma "almofada" de
casca de
bananeira seca e enrolada, presa no instrumento por fios de fibra de folhas de
bananeira.
O topo tem um diâmetro de 73 cm e é coberto por pele de antílope. Há dois tipos de
kpezin: o maior
chamado de kpezinnon e o menor kpezinvi, que podem ser tocados ao mesmo tempo.
A base do kpezin, coberta de pele, pode ser batida no centro ou nas margens para
produzir sons
diferentes durante as cerimônias especiais, exigindo muita habilidade de seus
tocadores.
O kpezin é frequentemente colocado em uma peça de madeira quando é tocado para que
as forças
dos deuses sejam "armazenadas" nos assentamentos. Da mesma maneira, ele é tocado
para os
assentamentos destes tambores que são guardados sob eles quando não estão sendo
tocados.
Ele também é tocado em cerimônias e rituais aos voduns e funerais. Nos rituais
fúnebres ele é
tocado acompanhado pelo zinli, para afastar as aflições, moléstias e ofensas.
A maior parte do tempo, os Ogans tocam o kpezin sob uma árvore.
Também é utilizado em rituais agrícolas e de purificação.
O kpezin é um instrumento muito antigo, já tocado pelos adjohoun (da cidade de
Adja), trazido de
Allada pelo rei Dakodonou, primeiro rei do Dahomey, morto em 1645.
No reinado de Glele, o kpezin também foi utilizado, inclusive para consertos em
frente ao palácio.
Tradicionalmente, o kpezin é um instrumento sagrado. Na cerimônia do aziza honou
(Aziza é o
Deus da canção, da música, dos caminhos musicais), é tocado na madrugada. Esta
cerimônia
confere grande força aos instrumentos.
GANKEKE
O gankeke é uma espécie de sino duplo sem nenhum pêndulo em seu interior, feito em
duas peças
de ferro, redondas e finas ao longo, como um funil, unidos no fim com um espaço
entre elas,
formando um cabo onde o tocador segura o instrumento. O pescoço do instrumento é
encurvado e
os tocadores dão batidinhas com uma peça de madeira. Também encontramos gankeke com
apenas
uma câmpula.
Existem gankekes de 20, 30 ou 50 cm de comprimento. Este maior é tocado
especialmente nas
cerimônias fúnebres.
Ele produz um som agradável, 'kay' 'kay' 'kay', de onde sai seu nome, acrescido de
gan, que quer
dizer ferro.
Este instrumento é tocado principalmente por homens que, numa mão têm o gankeke e
na outra o
zangbetohoun, que é um outro instrumento musical, secreto, exclusivo da sociedade
do Zangbeto.
Seu propósito está em garantir a segurança do reino.
Além de instrumento musical, o gankeke era utilizado para que as ordens do rei
fossem
comunicadas por um músico chamado kpalingan, uma espécie de repentista que vagueava
pelo
humpayme, cantando para todo o reino as ordens e notícias do rei.
O kpalingan também era responsável por cantar sobre toda a genealogia dos reis do
Dahomey.
Assim, hoje, cada cantiga, cada reverência cantada tem um significado, uma mensagem
precisa que
pode ser compreendida apenas pelos iniciados.
O gankeke também toca o ritmo gangbo, quando os Zangbeto, vigias da noite, saem em
patrulha.
O instrumento gangbo, de onde vem o ritmo de mesmo nome, também é uma espécie de
gongo
utilizado pelos Zangbeto.
Nas comunidades e cerimônias dos Voduns, o gankeke é um instrumento tocado pelas
sacerdotizas
pela manhã e a noite, nos templos de Doudoua e de Dan, para saúde ou culto de
adoração à esses
deuses, além de procissões.
Era também com o gankeke que as sacerdotizas "espantavam" a má sorte e os espíritos
ruins dos
palácio reais.
As Mãos
A mão exprime as idéias de atividade, ao mesmo tempo que as de poder e de
dominação.
Certos escritos taoístas dão à elas o sentindo do alquimista de coagulação e de
dissolução,
correspondendo a primeira fase ao esforço de concentração espiritual, a segunda à
não intervenção
ao livre desenvolvimento da experiência interior dentro de um microcosmo que escapa
ao
condicionamento espacial e temporal.
É preciso lembrar ainda que a palavra manifestação tem a mesma raiz que mão:
manifesta-se aquilo
que pode ser seguro ou alcançado pela mão.
A palavra em hebreu iad significa ao mesmo tempo mão e poder.
A mão esquerda é tradicionalmente associada com a justiça e a direita com a
misericórdia; a mão do
rigor e a da maleabilidade, o equilíbrio quando juntas.
A mão fechada é o símbolo do segredo.
A mão serve, enfim, à invocação. Por vezes ela é comparada com o olho: ela vê. É
uma
interpretação que a psicánalise reteve, considerando que a mão que aparece nos
sonhos é
equivalente ao olho. Daí o belo título: "O cego com dedos de luz".
Segundo Gregorio de Nissa, as mãos do homem estão ligadas ao conhecimento, à visão,
pois elas
têm como fim a linguagem.
As mãos têm uma "transferência" e também uma "troca" de energia.
A mão é como uma síntese, exclusivamente humana, do masculina e do feminino, ela é
passiva
naquilo que contêm e ativa no que segura.
As mãos possuem milhares de pontos ocultos de canais sutis por onde circula a
energia vital. Esses
centros de consciência, superpostos ao longo da coluna vertebral até o topo da
cabeça, podem ser
qualificados de "turbilhões de matéria etérea". Ao friccionar as mãos com os búzios
(jogo) dentro,
estamos ativando esses pontos, liberando e trocando energia, a concentração
espiritual, a
manifestação, o poder, o segredo, a invocação, o conhecimento, a visão e o
equilíbrio, para termos
como fim a "linguagem" da leitura dos búzios.
Se todos os pais/mães de santo procurassem entender mais sobre o significado de
tudo que fazem e
manipulam, com certeza o "poder" que têm em suas mãos seria muito melhor explorado
e aplicado
em beneficío de seus filhos, de si próprio e da humanidade.
O Espaço Sagrado
Ataliba Fernando Costa*
A sacralização do espaço remonta, é certo, aos primórdios do aparecimento na Terra
dos seres
humanos modernos (Homo sapiens) isso na era Cenozóica, período quaternário.O Homem
é
considerado como uma das últimas espécies a surgir no planeta, e na sua curta
trajetória sobre a
superfície deste planeta apenas ele possui as ideais condições e capacidade para
agir sobre o meio e
manipular objetos, Aguiar ao dissertar sobre as capacidades humanas afirma que o
Homem
diferencia-se das demais espécies animais, visto que só o Homem é dotado de
imaginação e
inteligência simbólicas.
Trataremos então a seguir de manipulações do Homem sobre o meio, e a sacralização
não só do
espaço, mas também do momento, de um certo momento que capturado e representado
pode trazer
presságios para um ato ou uma vida. Comentaremos sobre as mais antigas
representações
conhecidas, as gravadas nas paredes das cavernas, representações conhecidas como
arte rupestre;
além de muito estudadas em nossos dias, trazem algumas incógnitas que ainda não
foram
plenamente elucidadas. Uma delas, refere-se à dificuldade de precisar a idade
desses desenhos. No
entanto, alguns pesquisadores afirmam que desenhos como esses datam de períodos
anteriores ao
Neolítico.
Relevando os problemas de exatidão da idade dessas representações, a arte rupestre
prima por nos
fornecer, como salienta Brézillon, "informações sobre a fauna e o gênero de vida
das populações
representadas".
Estas formas primitivas de representação, feitas nas paredes das cavernas, usando
de pigmentos
extraídos da natureza e entalhes feitos com ferramentas de pedra, como muitos
pesquisadores como
Brézillon, Hauser, Garcia, Motes e outros puderam observar, não tinham nenhuma
intenção
ornamental estética, e sim um caráter místico, onde as imagens ali presentes
representavam, para o
Homem pré-histórico, amuletos; presságios positivos em suas empreitadas, uma vez
que se
encontram em salas ocultas, de difícil acesso; nunca em lugares expostos à
apreciação, como mostra
Hauser.
Sobre todo el hecho de que las pinturas estén a menudo completamente escondidas en
rincones
inaccesibles y totalmente oscuros de las cavernas, en los que hubieram podido de
ninguna manera
ser una "decoración. Tambien habla contra semejante explicación el hecho de su
superposición a la
manera de los palimpsestos, superposición que destruye de antemano toda función
decorativa; esta
superposición no era, sin embargo, necesaria, pues el pintor disponía de espacio
suficiente. El
amontonamiento de una figura sobre outra indica claramente que las pinturas no eran
creadas com
la inteción de proporcionar a los ojos un goce estético, sino persiguiendo un
propósito en el que lo
más importante era que as pinturas estuviesen situadas en ciertas cavernas y en
ciertas partes
específicas de las cavernas, indudablemente en determinados lugares considerados
como
especialmente convenientes para la magia.
De posse destas afirmações exemplificadas podemos então, concluir que poderiam ser
estes
ambientes os primeiros templos, lugares sacralizados, que manipulados pelo homem
estavam
prenhes de magia e energia possibilitadora de presságios positivos. Ainda buscando
subsídios nas
informações de Hauser, podemos também dizer que se o templo, ou seja, locais onde
tais imagens
eram impressas, o local representado também continha a energia sagrada, um local
sacro santo.
Ainda citando Hauser, quando este disserta sobre os autores das tais pinturas
rupestres podemos
apreender que os executores dessas obras deveriam possuir além das posições de
caçador e até
mesmo de geógrafo o título de sacerdote, aquele eu distinguia e prendia mentalmente
todas as
particularidades de um lugar para assim pender no templo de seu clã toda a mítica
do lugar.
1 pintor paleolítico era cazador y debia, como tal, ser um buen observador; debía
conocer los
animales y sus características, sus habituales paradas y sus emigraciones a través
de las más leves
huellas y rastros; debía tener una vista aguda para distinguir semejanzas y
diferencias.
Com essas informações podemos concluir que as representações primitivas são parte
das conquistas
do Homem, que lenta e gradativamente foi se intelectualizando e criando condições
de agir sobre o
meio, evoluindo, conseqüentemente, na forma de representar o espaço à sua volta. Os
desenhos
impressos pelo Homem primitivo, são representações do espaço no qual ele age, e,
como não
poderia deixar de ser, está cheio de elementos emocionais, um espaço relacionado
com as
necessidades e interesses do Homem pré-histórico.
Dizer que as câmaras das cavernas utilizadas pelo homem como templo, seria o
primeiro templo
seria um pouco incoerente uma vez que o divino, o sagrado estava, na realidade do
outro lado
daquelas paredes de pedra. Concluímos sim, que tais câmaras eram na realidade a
captura de
espaços especiais que deviam ser transformados e sacralizados.
Finalizando essa questão da sacralização do espaço podemos afirmar que a categoria
Espaço,
Paisagem e até mesmo Lugar (unidade elementar) servem como pano de fundo para as
atividades
humanas, portanto o profano e o sagrado coexistem, e quem transforma e dá caráter
profano ou
sagrado a um ambiente é o homem que o manipula ao se bel prazer. Citando HARVEY,
quando este
fala das classificações do espaço, este escreve:
O espaço não é nem absoluto, relativo ou relacional em si mesmo, mas pode tornar-se
em um ou em
outro, dependendo das circunstâncias. O problema da correta conceituação do espaço
é resolvido
através da prática humana em relação a ele. Em outras palavras, não há respostas
filosóficas para
questões filosóficas que surgem sobre natureza do espaço. As respostas estão na
prática humana.
Doutorado. P. 95.
É o que podemos chamar de arte ou escrita primitiva e indígena.
São motivos
geométricos representações zoomorfas e
antropomorfas.
BRÉZILLON, Michel. A Arte Rupestre Pós-glacial. IN: LEROI-GOURHA, A. et
al.. Pré
História. São Paulo: Pioneira/Edusp, 1981.
P. 298-307.
HAUSER, Arnold. História Social de la Literatura e la
Arte .. p. 29.
HARVEY, D. A Justiça Social e a Cidade. São Paulo: Hucitec,
1980, p. 5.
Yatemi
Jurema de Yansã
O Humgebê
O humgebê é o fio de contas sagrado da nação Jeje. Ele representa o elo entre o
orum e o aiye. É o
fio de conta da vida e da morte, símbolo do próprio céu, do mundo espiritual,
invisível e
transcendente. O céu cósmico particularmente em suas relações com a terra.
Somente vodunsis recebem o humgebê. Temos visto ogans e ekedis usando erradamente o
humgebê. Quando o inciado torna-se um vodunsi, ele recebe o humgebê pois acaba de
nascer no
mundo do santo. Quando o vodunsi morre, o humgebê o acompanha. Ele nos liga ao
orum, nos traz
o orum e nos leva de volta ao orum.
Temos observado, no Rio de Janeiro, erroneamente, algumas casas de Jeje darem o
humgebê aos
seus filhos somente na obrigação de sete anos. Cabe aqui uma pergunta de uma velha
Doné de
Salvador ao relatarmos esse fato: - "Oxente!!!! Vocês no Rio só nascem aos sete
anos?".
A preparação de um humgebê é igual ou maior que a feitura de um Vodum, inclui
obrigações,
currans, zandros, etc. Há necessidade também, de alguns preceitos de humdemê. O
poder do
humgebê ultrapassa a mente humana. Ele sempre nos avisa quando vai acontece algo de
muito
grave na vida daquele vodunsi ou no kwe. A voz do humgebê está num grande segredo
da nação
Jeje.
Cada humgebe confeccionado pertence àquele vodunsi e, em hipótese alguma, pode ser
usado por
outra pessoa ou tocado.
Quando um humgebê arrebenta, ele tem que passar por todo um processo especial para
ser
reenfiado.
A confecção de um humgebê segue características rígidas. Deve ter a quantidade
certa de miçangas
entre os corais e seu fechamento também é um só. Não se fecha humgebê com contas na
cor do
santo do yao e sim como um segui, como temos visto em alguns candomblés.
Também observamos humgebês enrolados no pescoço, atitude que quebra todo o seu
significado
sagrado. A quantidade de corais que compõem um humgebê, ao contrário que muitos
pensam, não é
fixa. O comprimento de um humgebê varia de acordo com a altura da pessoa, devendo
sempre estar
um pouco abaixo do umbigo.
Em alguns segmentos Jeje encontramos o humgebê composto por dois seguis, um no
fechamento e
outro no meio, o que também é correto.
O humgebê é composto de contas, corais e segui. O coral é a "árvore das águas",
participa do
simbolismo da árvore (eixo do mundo) e do simbolismo das águas profundas (origem do
mundo).
Sua cor vermelha aparenta com o sangue. Segundo uma lenda grega, o coral teria
surgido das gotas
de sangue derramado pela Medusa. O simbolismo do coral tem tando a ver com sua cor
quanto com
a rara particularidade que tem de fazer coincidir, na sua natureza, os três reinos:
animal, vegetal e
mineral. Devemos lembrar também, do simbolismo guerreiro da cor vermelha.
Como símbolo da árvore da vida e das águas profundas, faz o elo entre a vida e a
morte. Sua cor
vermelha é o símbolo universal do princípio de vida, com sua força, seu poder e seu
brilho, cor do
fogo e do sangue. Representa não a expressão, mas o mistério da vida e da morte. Um
lado seduz,
encoraja, provoca; o outro lado alerta, detém, incita à vigilância. Este é, com
efeito, a ambivalência
do vermelho do sangue profundo: escondido ele é a condição da vida; espalhado
significa a morte.
O azul do segui, é a mais profunda das cores: nele, o olhar mergulha sem encontrar
qualquer
obstáculo, perdendo até o infinito. É também a cor mais imaterial e fria e, em seu
valor absoluto, a
mais pura, à exceção do vazio total do branco neutro. O conjunto de suas aplicações
simbólicas
depende dessas qualidades fundamentais.
Aplicada a um objeto, a cor azul suaviza as formas, abrindo-as e desfazendo-as,
desmaterializa tudo
aquilo que dele se empregna. É o caminho do infinito, onde o real se torna
imaginário, um pouco
como passar para o outro lado do espelho.
O azul não é deste mundo, sugere uma idéia de eternidade tranquila e altaneira que
é sobre-humana.
É também a cor da verdade. A verdade, a morte e os deuses andam sempre juntos e é
por isso que, a
cor azul também é o limiar que separa os homens daqueles que o governam, do Além,
seu destino.
Há também um simbolismo de castração, imposição e de um longo sacrifício, um certo
heroísmo,
embutido no azul do segui.
Como podemos observar, há uma enorme simbologia religiosa e cósmica no nosso
Hungebê
Pano da Costa
Presença e distintivo do posicionamento feminino nas comunidades religiosas afro-
brasileira, o
pano-da-costa, não é apenas um complemento da indumentária da mulher; é a marca do
sentido
religioso nas ações da mulher como iniciada ou dirigente dos terreiros.
Observemos a profunda conotação sócioreligiosa desse simples pedaço de tecido, que
atua em tão
diversificadas situações, desempenhando papéis dos mais significativos e
necessários para a
sobrevivencia dos rituais africano. O pano-da costa é assim chamado por ter sido um
tipo de tecido
vindo da costa dos escravos, Costa Mina, Costa do Ouro. O tecido original foi
substituido por
outros tipos de tecidos, o que não diminui em nada as funções do pano-da-costa.
O pano-da-costa identifica a mulher feita, mesmo que ela naum esteja de roupa de
santo completa.
A situação do pano-da-costa é de maior importância, se colocarmos a presença da
mulher como
símbolo do poder sócioreligioso e arquétipo dos valores mágicos da fertilidade,
isso motivado pelas
formas anatômicas características da mulher.
O sentido protetor do pano-da-costa é outro aspecto que merece atenção. As Yaos, ao
terminar o
período de feitura começam a travar seus primeiros contatos com o mundo exterior
protegidas pelo
pano-da-costa branco, que representa o prolongamento do Ala de Oxala, envolvendo
praticamente
todo o seu corpo no grande pano-da-costa, procura manter os valores religiosos de
sua feitura
quando em contato com os valores profanos encontrados extramuros dos terreiros
Nos sirruns/axexes, a mesma proteção do pano-da-costa, ateado como capa envolvente
mágica,
aparece guardando as mulheres das presenças de egum.
Amigos, se voces podem encontrar mais informações sobre o pano-da-costa no livros O
Povo do
Santo de Raul Lody da PALLAS-Editora e Distribuidora Ltda.
Agora vamos aos meus comentarios.
O pano-da-costa é de uso exclusivo da mulher nos cultos africanos, porque uma das
principais
funções do mesmo é proteger os orgão reprodutores das mulheres, das Yamis.
Concordo com toda essa parte a cima transcrita do livro. Nos rituais de
sirrum/axexe as mulheres
usam dois panos-da-costas branco: um protegendo seus ventres e outro sobre os
ombros como uma
capa que envolve todo o seu colo e seios.
O autor fala sobre o uso de tiras amarradas na cintura pelas mulheres com
obrigações de 7 anos e
pelas ekedes. Bem ai eu discordo. Primeiro se tem que ser usado na cintura, então
que seja um
pano-da-costa enrolado e não uma tira de pano como muitas usam. O pano-da-costa
deve ter no
minino 60 cm de largura para que possa proteger os orgãos que necessitam de
proteção. As famosas
mães de santo não usam o pano- da -costa na cintura nunca.
Aqui no Rio de Janeiro convencionou-se que o pano-da-costa deve ser usado de acordo
com a idade
de santo, isto é, só usa preso acima dos seios aquelas que ainda são yaos. Esta
errado, pano-da-costa
é para ser usado dessa forma mesmo independente da idade de feitura, quando muito,
pode-se
enrolar até abaixo dos seios.
Eu mesmo muita vezes coloco meu pano-da-costa na cintura, mas coloco-o aberto e não
enrolado e
nunca o uso assim em candomble.
De alguns anos para cá os homem aderiram o pano-da-costa, mas nenhum deles até
agora explicou
o porque de usa-lo e nem podem explicar pois o mesmo é de uso exclusivamente
feminino.
Observem que as santas mulheres usam o pano-da-costa, os santos homens usam o pano-
da costa
amarrados no ombro lembrando um Alaka (esse sim pertence ao homem) ou amarrado para
tras, ou
simplesmente ficam com o peito nu adornados pelas conta e brajas.
Em algumsa casa encontramos abians usando pano da costa, esse procedimento esta
errado. As
abians ainda não tiveram seus pontos de energias abertos durante uma feitura,
portanto as mesmas
não necessitam dessa proteção ainda.
Atins
Atim no dialeto Ewe/Fongbe quer dizer árvore ou madeira. No Brasil, essa palavra é
usada para
definir porções mágicas usadas pelos vários segmentos do Candomblé.
Essas porções mágicas são mais uma das heranças que nos deixaram os africanos que
trouxeram
seus deuses para o novo mundo. São compostas de ingredientes vegetais, minerais e
animais, usadas
para várias finalidades.
Os chamados "atins de feitura", tem como finalidade purificar o corpo físico do
iniciado e ao
mesmo tempo facilitar o transe. Os africanos acreditam que, quanto mais
djasi(djassi) eles passarem
no corpo, mais aumenta a força de seu Vodum no transe.
A diferença no uso dessas porções no Brasil e na África, é que aqui são usadas
somente durante os
rituais interno e na África são usadas em público, isto é, durante os rituais e
festas é colocado um
recipiente contendo porções mágicas que os vodunsis passam com abundância em seus
corpos
quando os Voduns começam a manifestar-se em seus filho.
O djasi é muito usado em algumas regiões do Benin. Consiste em uma pasta feita com
farinha de
milho, óleo de palma e ervas sagradas.
Os Ata (atá (gengibre)), atakim (ataquim) , makun (mácum (sementes)), nhido
[(nidô), nhifo (nifô) e
nhijou(nijou) - elementos animais], nhijou toubome (nrijou-toubômê (manteiga do
reino)), nhizou
(nizou )chifre)), yicca (iicá (mandioca ralada e seca)) e o zume (zumê (matos e
folhas)); são alguns
dos gris-gris(glisglis (ingredientes para pós mágico e amuletos)) vendidos nos
mercados de todas as
cidades no Benin.
Os Gbokonans(bôcônãs), os Akpagans (apagans) e as Dehes (dérés) são alguns(as) dos
sacerdotes
responsáveis pela fabricação dessas porções mágicas. O Akpagan é uma espécie de
médico
curandeiro que conhece as propriedades terapêutica de todos os gris-gris.
Existem ainda aos porções mágicas denominadas "Zoha (zorra)", pós mágicos usados
para feitiços.
São preparados pelos sacerdo-tes e adivinhos que os usam para afastar pessoas,
desocupar casas,
desmanchar feitiços, etc. A zorra é um poderoso elemento quando bem feito e usado.
Devemos
lembrar que, feitiço, não é sinônimo de maldade ou coisa ruim. No feitiço, também
encontramos a
cura para doenças e a solução para vários problemas.
Finalizando, concluímos que os chamados atins são mais um recurso utilizados por
nós e por nossos
deuses para um intercâmbios maior entre nós e eles, como também para a solução de
vários
problemas.