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AURICULOTERAPIA:

PERCEPÇÕES E PERSPECTIVAS A PARTIR DO CURSO DE FORMAÇÃO

Sandra Corradini

Realizar esse curso de auriculoterapia representou o início da concretização de um


desejo por uma maior aproximação da Medicina Tradicional Chinesa, o qual há algum tempo
já se fazia presente. Atualmente, como graduanda em fisioterapia, esse desejo tornou-se ainda
mais latente, bastante fomentado pelo conhecimento de que a acupuntura é uma prática
reconhecida como legítima na área fisioterapeutica. Nesse sentido, a oportunidade de realizar
esse curso há quatro meses tornou-se uma possibilidade de iniciar especialização numa área a
qual acredito ter bastante afinidade pessoal e que futuramente contribuirá para minha atuação
profissional, uma vez que a auriculoterapia, como um ramo da acupuntura, é vista como um
recurso terapêutico, podendo ser utilizada como tanto na promoção da saúde, como na
prevenção e no tratamento das mais diversas patologias.
Ao longo do curso, foi perceptível a evolução conhecimento adquirido. O conhecimento
foi sendo construído gradativamente, na medida em que as aulas eram disponibilizadas e
visualizadas no site, e a teoria colocada em prática. Vale ressaltar a contribuição do grupo
virtual para a complementaridade das informações teóricas e a construção do raciocínio
segundo a lógica da Medicina Tradicional Chinesa. Estas organizaram-se dinamicamente,
respaldadas na experiência de cada membro do grupo, ao passo das postagens e dos
comentários compartilhados, das dúvidas esclarecidas pelo professor e, sobretudo, das
intervenções por ele realizadas sobre a prática individual vivenciada, materializada nas fotos
postadas. Poder observar e raciocinar em cima dos diversos casos colocados em foco no grupo
virtual favoreceu a construção de um olhar mais abrangente, para além da medicina moderna
(ocidental), e a estabelecer novas conexões relacionadas à queixa ou à patologia do paciente,
ao diagnóstico e ao tratamento propriamente dito.
No entanto, como sabemos, enfocar uma patologia como um desequilíbrio energético
funcional, tal qual propõe a Medicina Tradicional Chinesa, requer, sem dúvidas, um
redimensionamento na compreensão acerca do corpo e de seu funcionamento, bem como dos
conceitos de saúde e de doença, o que, certamente, não ocorre da noite para o dia, nem mesmo
em quatro meses ou um ano, sendo necessários um período mais extenso de tempo e estudos
mais aprofundados na área. Nesse sentido, esse curso dá inicio a uma longa jornada de
vivência e de estudos em filosofia e Medicina Tradicional Chinesa, sem os quais parece ser
impraticável realizar qualquer atividade terapêutica de qualidade no campo da saúde e da
fisioterapia, mais especificamente, no caso de o profissional querer atuar com os métodos da
Medicina Tradicional Chinesa. Assim como afirma o professor Ernesto Garcia (2014) em sua
aula introdutória do curso de Medicina Tradicional Chinesa, é um erro conceitual achar que a
acupuntura, bem como as demais técnicas relacionadas à Medicina Tradicional Chinesa, pode
ser praticada com eficácia desassociada de seus fundamentos fisiológicos e filosóficos. De
acordo com o professor, esse erro é bastante comum no ocidente e o que se vê com freqüência
são diagnósticos elaborados segundo os critérios da medicina moderna e, a partir destes, a
execução de terapêuticas da Medicina Tradicional Chinesa desconectadas de seus
fundamentos básicos. Posso dizer que, apesar de sua fala reafirmar o que anteriormente já era
sabido, esse foi meu maior aprendizado nesse curso e, certamente, por muitos anos, será a
minha batalha diária, uma vez que minhas vivência e formação se dão num ambiente
totalmente diverso ao da cultura oriental.
Como técnica terapêutica, percebo que a auriculoterapia não se aprende isolando-se a
teoria da prática, de modo a reconhecer a extrema importância e necessidade da vivência da
aplicação das sementes e das agulhas nesse curso de formação. A cada novo caso, paciente,
consulta e aplicação, reitera-se o conhecimento aprendido, aprende-se mais e a compreender e
a tratar o individuo como um todo integrado, vivente e parte inseparável do ambiente em que
vive, cujo estado de saúde ou síndrome diagnosticada não podem ser vistos como entidades
fixas, nem desvinculados de seu contexto histórico, social e cultural, o qual é dinâmico e está
em contínua reconfiguração. Nesse contexto, ressalto a contribuição desse curso no sentido de
reconhecer a necessidade de compreender o tratamento auricular como um conjunto de
intervenções flexível que visa o equilíbrio energético funcional e que deve ser mutável de
acordo com as características apresentadas pelo paciente, por entendê-lo como ser sensível e
em constante transformação.
Sem dúvidas, o tempo e a dedicação são requisitos importantes que perpassam os
diversos aspectos inerentes à atuação terapêutica de qualidade no campo da acupuntura
auricular, seja no que se refere à consolidação do conhecimento teórico-prático aqui
apreendido, como à busca de novos conhecimentos na área, à reflexão continua acerca da
própria prática profissional e, entre outros, e não menos importante, à compreensão do
paciente como sujeito sensível, ativo e responsável pela sua própria saúde e pelos modos de se
relacionar consigo mesmo, com o outro e com as coisas no mundo. Assim, os limites da
atuação terapêutica, redesenhados a todo momento, passa necessariamente, e minimamente,
por dois eixos, terapeuta e paciente, estando diretamente implicados à relação que estes
estabelecem entre si. Nesse sentido, cabe a nós, terapeutas, decidir com quais olhos e sob
quais perspectivas analisar as situações que nos são apresentadas, como se posicionar frente a
elas e, a partir daí, qual o melhor caminho a seguir.

O homem superior ao ouvir sobre o Caminho


Esforça-se para poder realizá-lo
O homem mediano ao ouvir sobre o Caminho
Às vezes o resguarda, às vezes o perde
O homem inferior ao ouvir sobre o Caminho
Trata-o às gargalhadas
Se não fosse tratado às gargalhadas
Não seria suficiente para ser o Caminho.

Lao Tse
(Tao Te Ching, O livro do Caminho da Virtude, cap. 41)

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