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Enforcados, Afogados e Queimados

Um guia para exame de local de morte com


afogados, enforcados e queimados
(revisado)

Paulo Ricardo Ost Frank


Perito Criminal
Porto Alegre, 2019
Sobre o Autor

O Eng. Mecânico Paulo Frank ocupa o cargo de Perito Criminal no


Instituto-Geral de Perícias (IGP-RS) desde 2004, onde já atuou na Divisão de
Engenharia de Porto Alegre, no Posto de Criminalística de Caxias de Sul, na
Seção de Levantamento de Locais de Porto Alegre, como Diretor do
Departamento de Criminalística, e no Posto de Criminalística de Santa Cruz
do Sul. Atuou também na Divisão de Balística de Porto Alegre na área de
funcionamento de armas de fogo.
O Perito Criminal Paulo Frank é docente da disciplina de
Criminalística na ACADEPOL – Academia de Polícia do Estado do RGS.
Formado em Engenharia Mecânica pela Escola de Engenharia – EE UFRGS,
tornou-se Especialista em Segurança Pública e Direitos Humanos pelo
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas – IFCH UFRGS e Mestre em
Ciências dos Materiais pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências dos
Materiais, PPGCIMAT UFRGS.
E-mail: pauloostfrank@hotmail.com
Comentários:
“Um excelente Engenheiro e Perito Criminal. Experiente e
responsável. Tive o privilégio de ser seu colega no IGP.do RS. Um guerreiro
pela perícia criminal quando membro de nossa associação de Criminalística.
Um irmão e parceiro que trabalhou em nossa equipe de perícia em local de
morte, sendo meu colega no plantão, onde atendemos centenas de locais de
morte violenta, e ainda tem larga experiencia em outras áreas da perícia
criminal oficial. Quando assumi de Diretor Geral do IGP o escolhi para
comandar o Departamento de Criminalística, onde, como Diretor de nosso
amado DC, foi fundamental na implementação de grandes projetos na área
de Criminalística do RS , que junto com toda nossa equipe de gestão e
projetos, realizou um dos maiores "cases" nacionais de reestruturação e
reaparelhamento de um órgão pericial oficial de natureza criminal no Brasil
no período 2015 até 2017. Convido a todos a conhecer este case a equipe
que realizou e este brilhante perito, gestor e amigo Paulo Frank.”
Assinado: Perito Criminal Cleber Muller
Diretor Geral do IGP (2015-2018).
Atual assessor especial do Ministério Público do RS e coordenador
do GAT
ÍNDICE GERAL
Sumário
Sobre o Autor
I. Perícia Criminal em Mortes por Asfixia
Introdução
Sufocamento
Confinamento
Sufocamento Propriamente Dito
Sufocamento por Oclusão Interna
Asfixia Mecânica
Asfixia mecânica combinada com sufocamento
Sufocamento por gases
Estrangulamento
Enforcamento
Estrangulamento com laço
Estrangulamento manual (esganadura)
Asfixia química
Tópicos Especiais
Em Prisões e Instituições Psiquiátricas
Crianças e Adolescentes
Asfixia Erótica
II. Corpos Humanos em Incêndios
Monóxido de Carbono
Corpos em Incêndios
III. Afogados
Aspectos Gerais
Vestígios no Corpo
Achados Externos
Achados Internos
Afogamento “Seco”
Águas Frias e Hipotermia
Algas e Testes de Laboratório
Suicídios e Homicídios por Afogamento
Grupos de Risco
Referências
Prólogo
A morte por asfixia mecânica vitimou 145.892 pessoas no Brasil
durante a década de 2007 até 2016. Na maior parte dos casos, tratava-se de
evidentes casos de afogamentos acidentais ou de suicídios por enforcamento.
Do total, apenas 683 casos foram reportados como homicídios
(Datasus), o que leva a suspeitar a existência de muitos casos com
classificação equivocada.
Este trabalho pretende ser, nos limites da sua abordagem, uma
introdução à perícia criminal, para formação de profissionais da segurança
pública, da justiça e todos os outros que, genericamente, são chamados de
operadores do Direito.
Este documento também poderá ser útil para profissionais da perícia
que já estejam laborando em crimes contra a vida e desejam revisar e
aprofundar os seus conhecimentos.
Perícia Criminal em Mortes por Asfixia
Introdução
No dicionário de ciências forenses de Brenner, temos para asfixia
uma dupla definição. Pode tanto ser uma condição na qual a troca de
oxigênio e de dióxido de carbono nos pulmões é ausente ou impedida ou a
falta de oxigênio ou excesso de dióxido de carbono no sangue, ambas
podendo levar à morte.
Asfixia vem do grego ásfygmi (άσφυγμη), que quer dizer falta de
pulso. O termo é, evidentemente, impróprio, mas é usado internacionalmente
para designar a morte provocada pela incapacidade das células de receberem
ou de utilizarem o oxigênio. A falta de oxigênio pode ser parcial (hipóxia) ou
total (anoxia). Os sinais clássicos de asfixia são a congestão visceral, a
formação de petéquias (Figura 1) e a cianose. Estes fenômenos são,
entretanto, inespecíficos e ocorrem em outros tipos de morte (Di Maio & Di
Maio, 2001, p. 259).
Petéquias são pequenas manchas puntiformes produzidos pela ruptura
de pequenos vasos, predominantemente vênulas de pequeno porte. A ruptura
parece ser mecânica e é causada por súbito aumento da pressão intravascular.
As petéquias são mais encontradiças na pleura e no epicárdio. Nas mortes por
estrangulamento, as petéquias são vistas na conjuntiva e na esclerótica.
Entretanto, elas são inespecíficas, podendo ser vistas em uma série de outras
situações não necessariamente fatais (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 244).
Petéquias também podem se desenvolver post mortem em áreas do
corpo posicionadas em altura inferior, por exemplo, nas pernas de um
enforcado, ou num braço pendente para um lado da cama. Nestes casos a
força da gravidade causa congestionamento intravascular e ruptura dos
pequenos vasos. Se as petéquias se tornam maiores e confluentes, elas podem
assumir o aspecto de equimoses (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 244). Alguns
autores se referem às petéquias post mortem como manchas de Tardieu
(Figura 2).
Figura 1 Petéquias na conjuntiva (Wagner, 2009, p. 71)
A cianose é, naturalmente, inespecífica, pois é encontrada em uma
série de outros quadros. A coloração peculiar é causada por um aumento da
desoxihemoglobina, ou hemoglobina reduzida, que não carrega nem oxigênio
e nem dióxido de carbono e possui coloração azulada (ciano) (Di Maio & Di
Maio, 2001, p. 244).
Nas mortes por asfixia também pode causar sangramento no nariz e
na boca, sendo uma das causas apontadas o rompimento dos capilares nas
vias aéreas.
Figura 2 Petéquias post mortem em enforcado com suspensão completa. Algumas delas apresentam
confluência (Barreto, 2019)
As mortes por asfixia podem tanto ser suicídios, homicídios ou
acidentes. Segundo a fonte norte-americana consultada, o homicídio por
asfixia é relativamente incomum naquela nação, existindo, nos que ocorrem,
um predomínio de estrangulamento com laço seguido por esganadura. Na
década de 1990, foram registrados uma média de 286 estrangulamentos
(manuais ou com laço) por ano nos Estados Unidos e uma média de outros
107 casos definidos como homicídio por asfixia de um modo geral (Di Maio
& Di Maio, 2001, pp. 244-259).
Segundo Di Maio (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 244), as mortes por
asfixia podem ser agrupadas em três categorias:

1. Sufocamento
1.1. Confinamento
1.2. Sufocamento Propriamente Dito
1.3. Sufocamento por Oclusão Interna
1.4. Asfixia mecânica
1.5. Asfixia mecânica combinada com sufocamento
1.6. Sufocamento por gases
2. Estrangulamento
2.1. Enforcamento
2.2. Estrangulamento com laço
2.3. Estrangulamento manual
3. Asfixia química
Sufocamento
Nas mortes por sufocamento, o oxigênio é impedido de entrar em
contato com o sangue para troca gasosa. Existem, grosso modo, seis formas
de sufocamento:
1. Confinamento
2. Sufocamento Propriamente Dito
3. Sufocamento por Oclusão Interna
4. Asfixia mecânica
5. Asfixia mecânica combinada com sufocamento
6. Sufocamento por gases
Os achados de autopsia em sufocamentos podem ser muito sutis ou
inexistentes, o que torna o exame do local da morte, ou a ela relacionados,
ainda mais importante (Catanese, 2010, p. 373).
Confinamento
Na asfixia por aprisionamento em ambientes fechados, a morte é
causada por falta de oxigênio no local. Estas mortes são quase que
exclusivamente acidentais. Em um aprisionamento deste tipo, os indivíduos
se encontram presos em um recinto vedado ou relativamente hermético.
Inicialmente, há oxigênio suficiente para respirar. No entanto, o oxigênio
acaba se esgotando. Um exemplo particularmente infeliz disso foram os casos
de crianças presas nas geladeiras de nossos avós, que tinham fechadura
externa. No imaginário popular, também existe o pesadelo de ser enterrado
vivo e morrer aprisionado dentro do caixão. Suicídios ou homicídios por
aprisionamento são raros, mas podem acontecer (Di Maio & Di Maio, 2001,
p. 259).
Em nosso Estado, existem rumores sobre mortes, em épocas
passadas, provocadas pelo confinamento de pessoas detidas em viaturas ou
cafuas, mas não tivemos acesso a nenhuma pesquisa sobre o assunto.
Entretanto, tal prática já pertence à história da América Latina, com o
episódio do massacre do brigue Palhaço, em Belém do Pará, quando, na noite
de 16 de outubro de 1823, após a tomada de Belém pelas tropas da Corte do
Rio de Janeiro, 257 prisioneiros foram confinados no porão do navio de
guerra Brigue Palhaço ou Brigue São José Diligente, tendo sido a escotilha
vedada com cal virgem. Na manhã do dia seguinte, foram retirados dali um
homem consciente, quatro moribundos e duzentos e cinquenta e dois mortos.
As investigações oficiais concluíram que as vítimas haviam se matado por
estrangulamento, isentando de culpa a linha de comando (Campos, 2006)
Em outro tipo de confinamento, a vítima entra de maneira inadvertida
em uma área onde há deficiência de oxigênio. Esta deficiência pode ser
provocada pelo deslocamento do oxigênio por outros gases, mas
normalmente ela se deve a processos biológicos que existam no local, como a
de grãos ou outros vegetais. Assim, existem relatam duas mortes ocorridas
por falta de oxigênio em caixa de água (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 245).
O percentual normal de volume de oxigênio na atmosfera é de
20,946%, mas, num caso estudado de morte de pessoa em caixa de água, a
percentagem de volume foi de 9,6%. Esta atmosfera letal foi causada por
microrganismos, como fungos e alguns vegetais presentes nas paredes, na
abóbada e nos sedimentos no piso. Os processos metabólicos destes fungos e
plantas resultaram na diminuição do oxigênio no ar presente, com a produção
de dióxido de carbono. Assim, este gás, que normalmente é encontrado na
proporção de 0,033% do volume no ar, neste caso, foi mensurado em 7,0%.
Entretanto, deve-se deixar claro que as mortes não foram causadas pelo
excesso de dióxido de carbono, mas pela falta de oxigênio. Em concentrações
de oxigênio de 10% a 15% já há deficiência de julgamento e de coordenação
motora. A perda de consciência ocorre na faixa de 8 a 10% e a morte ocorre
com taxas menores de 8% em volume. Em ambientes com concentrações
menores do que 4 a 6%, a perda de consciência se dá em 40 segundos e a
morte, em alguns minutos (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 246).
Nos óbitos por confinamento, a causa da morte não pode ser
determinada apenas pela autópsia, pois todos os achados no corpo não serão
específicos para este tipo de morte. Assim, o exame apurado e cuidadoso do
local da morte não poderia ser negligenciado (Di Maio & Di Maio, 2001, p.
246).
Sufocamento Propriamente Dito
Na asfixia por sufocamento propriamente dito, a morte é causada pela
obstrução ou oclusão das vias aéreas externas, ou seja, o nariz e a boca.
Mortes deste tipo são geralmente homicídios ou suicídios, podendo também
ocorrer em acidentes, como no caso de crianças brincando com sacos
plásticos (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 246) (Figura 3).

Figura 3 Vias aéreas superiores

A forma mais comum de suicídios por esse tipo de morte é a inserção


de um saco plástico na cabeça, com vedação no pescoço ou não. Se o filme
plástico for bastante fino, ele adere ao rosto com a inspiração, obstruindo a
entrada de ar para o nariz. Estes tipos de saco são, normalmente, os
responsáveis pela morte acidental, quando disponíveis para bebês e crianças.
A pesquisa tem observado que petéquias no rosto, na esclera e na conjuntiva
são virtualmente inexistentes. Já petéquias no epicárdio e na pleura são, às
vezes, presentes. Para estabelecer este tipo de morte e poder afirmar algo
sobre a natureza do evento (acidente, homicídio ou suicídio), é necessário um
exame no local do óbito, pois a simples autópsia pode não ser conclusiva (Di
Maio & Di Maio, 2001, p. 246) (Figura 4) (Figura 5).

Figura 4 (A) Suicídio de mulher idosa. (B) Deficiente mental de 43 anos, que “brincou” de enrolar fita
adesiva no seu rosto (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 247)
Amordaçamentos podem causar morte por asfixia devido à obstrução
do nariz e da boca, embora esta não seja exatamente a intenção do assaltante.
Normalmente, é colocada uma mordaça ao redor do rosto. As vítimas são
geralmente idosas ou pessoas que são mais suscetíveis à hipóxia. Mucos e
fluidos podem se acumular nas cavidades nasais e nas vias aéreas, o que
contribui para a asfixia. Entretanto, o esclarecimento da causa é feito pelo
encontro de uma mordaça na cena do crime e da sua associação com o caso,
pois é bastante provável que o exame de autópsia não tenha condições de
afirmar, com certeza, que houve amordaçamento (Di Maio V. J., 2000, p.
249).
Nos homicídios por sufocamento, os utensílios utilizados são
travesseiros, almofadas (Figura 5), cobertas de cama, colchões ou as próprias
mãos. Bebês podem ser colocados em sacos plásticos. As vítimas tendem a
ser muito jovens, muito idosas ou muito debilitadas. É extremamente difícil
sufocar um adulto no pleno controle das suas faculdades mentais (Di Maio &
Di Maio, 2001, p. 249).
Quando um travesseiro é utilizado para a prática de um crime deste
tipo, ele é colocado sobre o rosto e empurrado para baixo. Isso provoca a
obstrução do nariz e da boca e a consequente morte. Normalmente, não há
marcas no rosto, nem congestão e nem petéquias, com lesões de abrasão
somente ocorrendo se a vítima teve condições de opor alguma resistência
mais severa. Existe também a possibilidade de ataque com a vítima em
decúbito ventral, opondo-se o rosto da vítima contra um travesseiro ou
colchão (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 249). Wagner observa que o
sufocamento de uma criança é exame de muita dificuldade, visto a ausência
de vestígios de luta ou defesa (Wagner, 2009, p. 97) (Figura 5).

Figura 5 Um bebê de 2 meses sufocado pelo pai. Ausência de petéquias na face, na esclera e na
conjuntiva (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 249).
Sufocamento por Oclusão Interna
São os populares “engasgados”. Neste tipo de asfixia, o bloqueio é
provocado pela obstrução dentro das vias aéreas. A morte pode ser natural,
por homicídio ou por acidente. Mortes naturais deste tipo podem ser
observadas em vários quadros patológicos. Em tais circunstâncias, os
indivíduos podem literalmente morrer na frente dos socorristas. A morte
acidental também pode ter muitas causas, como reação medicamentosa não
esperada, intoxicação de vapor e outras (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 249).
Homicídios por este tipo de asfixia são incomuns. Ocasionalmente, a
literatura mostra recém-nascidos mortos pela introdução de papel higiênico
em sua boca. Adultos podem morrer em assaltos com a prática da introdução
de pano na boca da vítima para silenciá-la. Nestes casos, a morte ocorre
sempre que o pano se deslocar dentro da boca e causar oclusão (Di Maio &
Di Maio, 2001, p. 249).
Contudo, a maior parte deste tipo de morte é acidental. Em 1997,
houve cerca de 3.300 mortes nos Estados Unidos atribuídas à inalação
involuntária de alimentos ou de outros objetos resultando em obstrução das
vias aéreas. Em crianças ocorre mais frequentemente através da introdução na
boca de pequenos objetos, que acabam se alojando na laringe. Em adultos, o
caso de asfixia conhecido por “engasgamento”, normalmente envolve
alimentos, às vezes associados com a intoxicação alcoólica, senilidade,
dentaduras e próteses mal ajustadas. (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 252).
Ocasionalmente, este tipo de morte pode ocorrer quando o indivíduo
cai em silos ou montes de material particulado fino, como farinhas e
serragem, ocorrendo a inalação deste material e o consequente bloqueio das
vias aéreas por este material.
Nas encostas da Serra do Mar, muitas vítimas de enxurradas podem
ter morrido por oclusão das vias aéreas por terra e lama.
Recentemente, vimos este tipo de morte no rompimento de barragens
com rejeitos de mineração e lama no estado de Minas Gerais, nos casos de
Mariana e Brumadinho, cada um deles com centenas de mortos. Infelizmente,
temos a perspectiva de novos eventos, dada a existência de dezenas deste tipo
de estruturas no país (Figura 6).
Figura 6 Trabalho de bombeiro em Brumadinho https://www.emaisgoias.com.br
Asfixia Mecânica
Neste tipo de asfixia, a pressão que impede a respiração é exercida de
fora para dentro. Em grande parte, são acidentes, mas homicídios podem
ocorrer. Para efeitos meramente didáticos pode ser dividida em três tipos (Di
Maio & Di Maio, 2001, p. 256):
1. Asfixia Traumática
2. Asfixia Posicional
3. Esmagamento
Asfixia Traumática
A asfixia traumática ocorre quando um um peso de monta pressiona
para baixo o abdomen ou toráx de um indivíduo. É comum, na forma,
acidental, em que indivíduos são vítimados quando estão sob um veículo,
realizando manutenção de forma insegura. Na autópsia, o achados incluem
congestionamento na cabeça, no pescoço e no tronco superior, com
numerosas petéquias nestas áreas, na esclera e na conjuntiva. Muitas vezes,
não há evidências de traumas, apesar do forte peso sobre o peito.
Sobreviventes podem restar com comprometimento da visão. : Raramente é
homicídio. Di Maio cita um caso, onde a geladeira foi colocada sobre um
indivíduo (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 256).
Outros exemplos desse tipo de morte por asfixia são pessoas
comprimidas dentro de um veículo acidentado ou vítimas de explosões ou
desabamentos (Wagner, 2009, p. 100).
Podemos citar, ainda, a caso de asfixia traumática, onde um bebê de 5
meses foi morto por um píton. A serpente envolveu-se em torno do bebê,
apertando-o cada vez mais quando ele exalava. Após a morte da criança, o
animal tentou engolir o corpo da vítima a partir da cabeça, deixando ali
marcas dos seus dentes. Na autópsia, não foram encontradas petéquias,
hemorragias ou hematomas, possivelmente, porque o animal aumenta um
pouco mais a pressão cada vez que a vítima expele o ar dos pulmões,
diferenciando este tipo de asfixia dos demais (Di Maio & Di Maio, 2001, p.
256). Os sertões da América do Sul produzem eventualmente mortos por
jiboias, cobra que utiliza a mesma tática da serpente píton.
Um tipo semelhante de morte, não necessariamente classificada nesta
categoria, pode ocorrer pela ação de descargas elétricas no corpo. Nestes
casos, temos a paralisia dos músculos do tórax (Catanese, 2010, p. 354).
Asfixia Posicional
Segundo Wagner, corpos encontrados em posições estranhas
merecem uma atenção especial, principlamente se forem obesos, no sentido
de se verificar se o torax poderia exercer os movimentos necessários para
processar a respiração (Wagner, 2009, p. 17). A obesidade mórbida é um
fator que, por si só, se faz capaz de promover a asfixia posicional, segundo
Catanese (Catanese, 2010, p. 5).
A asfixia posicional é quase sempre um acidente e está, muito
frequentemente, associada à intoxicação por álcool ou outros estados
alterados de consciência. Nestes casos, o indivíduo fica imobilizado em
espaços restritos, de onde não mais consegue sair, o que prejudica os
movimentos respiratórios, dando causa à morte (Di Maio & Di Maio, 2001,
p. 256). Entretanto, existem casos suspeitos, relatados na literatura, de
indivíduos, principalmente obesos, que faleceram após serem algemados com
as mãos nas costas, interligadas com algemas nos pés. Tal prática é capaz de
restringir os movimentos respiratórios.

Crucificação
A crucificação era uma forma de pena de morte comum no Império
Romano, sendo tecnicamente uma forma de asfixia. A vítima era
normalmente pregada no travessão pelos punhos e não pelas mãos, conforme
a tradicional representação da morte de Jesus. Os pés eram pregados no poste
vertical. A morte era causada por hipovolemia, no caso de os pregos
atingirem alguma artéria de maior calibre, desidratação e asfixia. O peso do
corpo sobre os braços estendidos tornava difícil a respiração, o que, após
algumas horas levava a insuficiência respiratória e morte (Di Maio & Di
Maio, 2001, p. 289).
No século XXI esta forma de morte e tortura voltou a ter interesse
técnico pelo surgimento de caso no Oriente Médio.
Esmagamento
Esmagamentos normalmente ocorrem em tumultos, quando o tórax
da vítima é comprimido pelo empilhamento de um ser humano sobre o outro.
Di Maio cita como exemplo brigas de torcidas organizadas. (Di Maio & Di
Maio, 2001, p. 256) (Figura 7). Este tipo de morte é também encontrado em
execuções grupais dentro de celas profissionais, conforme o conhecimento do
autor.

Figura 7 Cenas de Heysel Park (Liverpool x Juventus) em 29 de maio de 1985, 39 mortos.


Asfixia mecânica combinada com sufocamento
A combinação de esmagamento com sufocamento pode ocorrer em
casos de crianças que dormem com adultos, às vezes, sob o efeito de álcool
ou outras drogas, com o adulto mudando sua posição durante o sono e
asfixiando a criança. Tais situações, caso não se tenha investigado o contexto
, podem ser tratadas erroneamente como síndrome de morte súbita infantil
(Di Maio & Di Maio, 2001, p. 256). A possiblidade desta ocorrência aumenta
em se tratando de visitas domiciliares, onde se improvisa um leito para o
casal hóspede.
Como os resultados conclusivos da autópsia, nestes casos, são
precários, deve ser analisado também o ambiente onde a criança faleceu. Um
levantamento claro da cena e uma reprodução a partir da observação dos
livores e áreas com congestão podem trazer resultados mais úteis (Horswell,
2003, p. 151).
Um caso
Um bebê de sexo masculino, tez clara, cabelos escuros, sem sinais
particulares, foi encontrado sem vida no leito com seus pais, em residência na
região metropolitana de Porto Alegre. A criança jazia em decúbito dorsal
sobre o lençol, com os membros inferiores e a parte do tronco cobertos por
um cobertor de lã. O corpo estava posicionado no quarto superior direito da
cama, com a cabeça voltada para a cabeceira e os pés para a direção oposta.
Os membros inferiores estavam levemente fletidos e com os joelhos sem
contato com o lençol. O membro superior esquerdo estava fletido e com a
mão junto à cabeça. O membro superior direito estava estendido e paralelo à
linha raquidiana do tronco. O rosto estava voltado para a direita.
Na hemiface direita do rosto e no dorso do corpo, o livor mortis
estava estabelecido, com zonas claras que indicavam a área do corpo em
contato com o substrato. O pescoço se apresentava, externamente, sem
vestígios visíveis de esganadura.
Sobre a cama, junto à cabeceira, havia um travesseiro com fronha
verde à direita, um travesseiro com fronha lilás à esquerda e um travesseiro
com fronha rosa ao centro).
Sob o travesseiro de fronha rosa, havia um travesseiro de criança de
coloração branca sobre uma chupeta para bebês de coloração branca, com
uma correntinha de plástico de coloração verde, um pano de formato
quadricular de coloração amarela (provavelmente o tradicional “cheirinho”).
Abaixo destes achados, havia uma coberta de bebê dobrada de coloração azul
e uma toalha de banho pequena de coloração azul, havia sujidade de sangue
por contato na toalha.
Uma das hipóteses a ser considerada no caso em tela seria uma das
diversas formas de “morte natural no berço”, o que será devidamente tratado
pelo Legista.
Outra possibilidade, dada à presença de sangue e muco nas narinas,
seria a morte por asfixia. Nesta hipótese, afastamos o enforcamento, a
esganadura e o estrangulamento por absoluta falta de vestígios materiais,
restando o sufocamento.
Pelos achados no local, não podemos excluir nem a hipótese de morte
natural (disto falará o Legista), nem a hipótese de homicídio e, tampouco, a
possibilidade de acidente (Figura 8, Figura 9).

Figura 8 Leito de caso de sufocamento Foto do Autor


Figura 9 Rosto com livores fixados na hemiface direita, indicando compressão contra algum apoio
desde o queixo até a têmpora. Foto do Autor
Sufocamento por gases
As mortes por gases asfixiantes são causadas, não pela natureza
tóxica do gás, mas pelo deslocamento de oxigênio da atmosfera. O dióxido de
carbono e o metano são os dois gases asfixiantes mais comuns. Ambos são,
essencialmente, atóxicos e inodoros e são encontradas, naturalmente, em
esgotos e minas de carvão e, artificialmente, em instalações petrolíferas e
petroquímicas. O metano é o principal constituinte (94-96%) do gás natural
da Bolívia e com o aumento do seu uso, este tipo de morte tende a aumentar.
A redução do oxigênio atmosférico a menos de 25% do normal (5-6% em
volume de oxigênio) pelo deslocamento do oxigênio por gases inertes, produz
inconsciência em segundos e morte em questão de minutos. A determinação
da causa de morte em tais casos é através do conhecimento das circunstâncias
que cercaram a morte, pois a simples autópsia pode não ter condições de falar
sobre qual o gás que causou o deslocamento do oxigênio; também os exames
de sangue não ajudam muito, uma vez que a presença de dióxido de carbono
é normal na corrente sanguínea . Já a presença de metano indica apenas que o
indivíduo esteve exposto a uma atmosfera com este gás (Di Maio & Di Maio,
2001, p. 259).
Em incêndios, o fogo pode consumir o oxigênio disponível, causando
a morte. Como exemplo histórico, temos as bombas incendiárias, que
obrigavam os abrigados em bunkers ou porões a subirem para a superfície. O
mesmo pode ocorrer em minas, túneis e outros ambientes mal ventilados.
Nestes casos, é necessário cuidado adicional para proteger a equipe de perícia
(Wagner, 2009, p. 98).
Outro gás que pode causar sufocamento é o óxido nitroso (N2O). Não
é propriamente uma droga, pois não causa dependência química, mas possui
o efeito de produzir euforia, sensação de flutuar e riso. É vendido em tubos
de spray. O problema pode ocorrer quando a vítima coloca um saco plástico
sobre a cabeça para utilizar ao máximo o gás. Isto pode provocar
deslocamento do oxigênio e, eventualmente, morte (Wagner, 2009, p. 98).
Em se tratando de gases nobres, o hélio é usado para diluir O2 em
equipamentos de mergulho e para inflar balões. O Argônio e o Neônio são
utilizados na indústria de iluminação. Eventualmente, podem ocorrer
acidentes nos ambientes em que estes gases são utilizados em escala
industrial (Diaz , 2006, p. 400).
O Nitrogênio é utilizado na indústria de fertilizantes, na crio cirurgia,
no congelamento, para diluição de O2 em mergulho e para “hibernar”
máquinas e equipamentos; o nitrogênio também pode causar deslocamento de
oxigênio (Diaz , 2006, p. 400).
Estrangulamento
Estrangulamento é uma forma de asfixia caracterizada pela oclusão
das veias e artérias existentes no pescoço, que irrigam a cabeça (Figura 22,
Figura 23), bem como a oclusão das vias aéreas. Para a fonte consultada,
existem três formas de estrangulamento (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 249):
1. Enforcamento;
2. Estrangulamento com laço (o nosso estrangulamento);
3. Estrangulamento manual (a nossa esganadura) (Di Maio & Di
Maio, 2001, p. 249)
Para este mesmo autor, praticamente todos os enforcamentos são
suicídios e todos os estrangulamentos ou esganaduras são homicídios. Em
números totais, o assassinato por compressão do pescoço não é muito comum
nos Estados Unidos. As médias da década de 1990 são de 286 por ano, com
uma variação de 366 a 211 (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 259). Em todas as
três formas de compressão do pescoço, a morte se dá por hipóxia secundária
à compressão e, consequentemente, oclusão dos vasos que fornecem sangue
ao cérebro, os quais são: as artérias carótidas internas, as artérias vertebrais,
as pequenas artérias espinais e as conexões entre a carótida externa e as
artérias subclávias (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 259).

Enforcamento
Para Di Maio, enforcamento é uma forma de estrangulamento, que
ele define como a forma de asfixia caracterizada pela obstrução parcial ou
total das vias respiratórias (Figura 10) venosas e arteriais do pescoço pela
aplicação de pressão externa, produzida pela ação da gravidade (Di Maio &
Di Maio, 2001, p. 262).
No enforcamento, a asfixia é produzida pela compressão ou
constrição das estruturas do pescoço (Figura 12) por uma laçada, que é
apertada exclusivamente pela ação da força da gravidade atuando sobre o
corpo, ou o corpo atado a algum volume adicional, como nos casos de
enforcamentos judiciais. Pode haver suspensão completa ou suspensão
incompleta. Praticamente todos os enforcamentos são suicidas.
Enforcamentos acidentais são raros e homicídios são mais raros ainda. A
morte é causada pela oclusão dos vasos que irrigam ou drenam o sangue
destinado ao cérebro, levando à falta de oxigênio neste órgão. Obstrução das
vias aéreas também pode ocorrer através da compressão da traqueia ou pelo
deslocamento para acima da língua. Entretanto, o bloqueio das vias aéreas
superiores não é condição necessária para produzir o enforcamento (Di Maio
& Di Maio, 2001, p. 262).
Fraturas são raras nos enforcamentos extrajudiciais e, são, segundo
(Di Maio & Di Maio, 2001, p. 262), pitorescos em indivíduos com doenças
degenerativas na coluna óssea ou em combinações de suspensão. Nos
enforcamentos judiciais, a altura da queda combinada com o uso de pesos
pode provocar esta lesão ou até mesmo a decapitação (Di Maio & Di Maio,
2001, p. 262).
A pressão necessária para comprimir a veia jugular é de 210 Pascal;
para as artérias carótidas, 530 Pascal; para as artérias vertebrais, a
compressão exige 3160 Pascal; e, para a traqueia, são necessárias 1580 Pascal
(Polson, Gee, & Knight, 1985). Devido à pequena quantidade de pressão
necessária para comprimir as artérias carótidas, é possível o enforcamento
com a vítima sentada, ajoelhada (Figura 11) ou deitada. O peso da cabeça
(4,5 – 5,5 kg) contra um laço é suficiente para obstruir as artérias carótidas e
causar a morte. Di Maio afirma ter visto casos em que as vítimas se
enforcaram com cordas amarradas em cabeceiras de cama com o cônjuge
dormindo ao lado (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 262).
Figura 10 Enforcamento com suspensão incompleta. Foto do Autor
Por outro lado, a traqueia é formada por uma cartilagem robusta e,
para obstruí-la, é necessário um laço bastante apertado. De qualquer forma,
esta obstrução não é necessária para provocar a morte e esta condição
normalmente não se observa em enforcamentos sem precipitação (Wagner,
2009, p. 94).
Figura 11 Suspensão incompleta com vítima em genuflexão (Rodrigues)
A percentagem do peso corporal envolvido para apertar o laço é
estimada na tabela abaixo (Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 71-72):

Apoio % do peso do corpo


Completamente suspenso 100%
Apoiado na ponta dos pés (dedos) 98%
Apoiado na planta dos pés >65%
Ajoelhado com as nádegas abaixadas 74%
Ajoelhado com as nádegas retas 64%
Sentado com o tronco inclinado 32%
Sentado com o tronco ereto 17,5%
Reclinado, decúbito ventral 18,3%
Reclinado, decúbito dorsal 9,7%
Em estudos sobre enforcamentos na Austrália e na Irlanda do Norte,
temos que menos da metade dos corpos estavam em suspensão completa.
Cerca de 40% das vítimas estavam apoiadas nos pés. Já vítimas deitadas
foram observadas em 1% dos casos. As percentagens apresentadas são
semelhantes na Austrália e na Irlanda do Norte (Shkrum & Ramsay, 2007,
pp. 71-72).
Em outro estudo, foi verificado o peso necessário para comprimir ou
danificar as seguintes estruturas do pescoço: veia jugular: 2kg; carótida: 2,5-
10kg; membrana tireóidea: 10kg, traqueia: 15kg; artéria vertebral: 8,2-30kg;
fratura cartilagem tireoide: 14,3kg, fratura na cartilagem crinoide: 18,8kg
(Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 71-72). Estes dados, se confrontados com o
peso do corpo e com a tabela anterior, podem trazer algum esclarecimento
adicional sobre a posição na qual foi feito o enforcamento.
Praticamente todos os enforcamentos são suicidas. Dependendo das
áreas do país estudado (Estados Unidos) e o sexo da vítima, enforcamento é o
segundo ou o terceiro tipo mais popular de suicídio. Em alguns casos muito
raros, casais se enforcam em conjunto na mesma corda, ou com animais de
estimação. Fisher, comenta que, no suicídio por enforcamento, com bastante
frequência, cordas improvisadas podem se rasgar e o suicida tomba no solo,
mas pode vir a repetir a tentativa com outra corda e em outro local da
edificação, o que requer um levantamento paciente, pois podem existir lesões
e sangramentos decorrentes da primeira tentativa. Neste caso aparecem
vestígios do perambular da vítima pela casa; contudo , as feridas, as marcas
de sangue e a desordem na cena podem ser incorretamente interpretadas
como sinais de luta (Fisher, 2003, p. 459).
Aspectos Externos do Enforcamento
Em suicídio típico por enforcamento, a vítima coloca um laço com
um nó corrediço ao redor do pescoço, fixando a outra extremidade da corda a
um suporte fixo e deixa que o peso, parcial ou total do corpo, puxe o mesmo
para baixo, obstruindo as estruturas do pescoço até à perda da consciência,
seguida de morte. Como a corda propriamente dita, uma variedade de
materiais similares também se entende, como cintos, fios elétricos, fiação de
computador, panos, tiras de sacolas, correntes, guias de cães, et cetera. Ou
seja, a vítima se enforca com o que tem à mão.
Um achado quase obrigatório é um sulco no pescoço, ascendente,
com interrupção possível no nó. Este sulco, geralmente, é inclinado de
maneira ascendente até o ponto de suspensão, ou seja, o nó. O ponto de
suspensão é geralmente na região posterior ou na lateral do pescoço, mas
existe também a suspensão frontal (Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 80-83).
Com a ação do peso do corpo, a corda desliza normalmente para
acima da laringe, parando quando encontrar o queixo, sendo este local uma
localização típica do sulco (Finkbeiner, Ursell, & Davis, 2009, p. 274).
A clareza e a configuração do sulco dependem do material utilizado.
Uma corda fará um sulco com profundidade e bordas bem delimitadas,
muitas vezes com a impressão espelhada do seu padrão. O sulco tem,
inicialmente, um aspecto de pergaminho amarelo pálido, com um aro
congestionado. Com o passar das horas, o sulco seca e a cor evolui para
marrom escuro. Se a ligadura é feita com um material macio, o sulco pode ser
pouco definido, claro e desprovido de contusões e escoriações. Em alguns
casos, a margem inferior do sulco é pálida, com um tom avermelhado na
margem superior (Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 65,83).
O sulco é mais profundo para cordas estreitas e corpos pendurados há
várias horas. Entretanto, no caso de vítimas que tiveram o laço desfeito logo
após a morte, o sulco pode ser pequeno ou mesmo não existir. Em corpos
pendurados em intervalo de dias, existe virtual alongamento do pescoço
(Catanese, 2010, p. 374). Como tempo mínimo para a formação do sulco,
temos relato de formação já com 25 minutos após a pessoa ter sido vista pela
última vez com vida (Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 65,83) (Figura 12).

Figura 12 Sulco de enforcado com fiação (Catanese, 2010, p. 374)


Sulcos de coloração vermelha ou rosa sugerem uma hemorragia ante
mortem, mas também podem ser causados simplesmente devido à
compressão post mortem do sangue (Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 65,83).
Escoriações e contusões adjacentes ao sulco são suspeitas de
estrangulamento. Bolhas post mortem foram observadas na pele nas laterais
do sulco (Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 65,83).
Quanto à posição, o sulco se situa, na maioria dos casos, acima ou
junto à proeminência da cartilagem tireoide (pomo de Adão), em contraste
com a ligadura de estrangulamento, onde o sulco fica situado geralmente
abaixo da cartilagem tireoide, com o material do laço e o tipo de suspensão
influenciando a posição do sulco. Um estudo mostrou que os sulcos, nos
casos de suspensão total com laço de cordas plásticas, estavam acima da
cartilagem tireóide, mas nas mortes envolvendo laços de algodão e suspensão
incompleta, o sulco estava abaixo desta mesma cartilagem. Já em crianças
suspensas em seus berços, observou-se o sulco ao nível da cartilagem. Uma
área desgastada abaixo de um sulco pode indicar derrapagem para cima do
laço, achado este que é mais provável quando a suspensão é completa.
Enforcamentos com duplo enlace podem produzir um sulco horizontal e
outro ascendente, mas é importante que se tenha cautela, pois esta
configuração também pode ser um homicídio mascarado de suicídio (Figura
13) (Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 65-83).
O padrão do laço, normalmente, fica estampado no sulco e este
possui uma largura um pouco menor do que aquele. Material fibroso pode ser
transferido para a pele da vítima. Se a vítima é retirada do laço e sobrevive
por um determinado período, pode existir a cicatrização dos ferimentos. Se a
morte se deu pelo estímulo do nervo vago, os sinais de compressão podem
não existir. Alguns vestígios de compressão podem se atenuar ou desaparecer
depois de algumas horas após a remoção do laço, e, nos casos em que a roupa
acompanha a corda, vestígios de compressão também podem ser vistos nas
axilas ou em outras áreas do corpo (Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 65-83).
O sulco, em geral, tem uma aparência típica. A maior pressão é
exercida no ponto oposto ao de suspensão; portanto, o sulco é mais profundo
nesta região. Se o laço é suficientemente fino, ele pede estar invaginado na
região de maior pressão. É normal o sulco se desvanecer ou mesmo
desaparecer na região do nó. Sulcos de profundidade uniforme podem ser
originados de estrangulamento. As bordas do sulco são geralmente franzidas
na direção em que a corda escorregou no momento do aperto. Nos
enforcamentos nas posições horizontais ou inclinadas, o sulco pode ser mais
horizontal, o que lhe confere certa semelhança com o sulco de um
estrangulamento (Fisher, 2003, p. 460).
Figura 13 Homicídio mascarado de suicídio (Shkrum & Ramsay, 2007, p. 84)

Na maioria dos enforcamentos suicidas, a corda é constituída por um


único laço. Menos comuns, mas não raros, são os enforcamentos com dois
laços, resultando em dois sulcos, que podem ser paralelos ou não. Entre os
dois sulcos pode existir uma faixa hemorrágica. Por outro lado, se o laço for
feito com um cinto, geralmente teremos dois sulcos paralelos
correspondentes às bordas do mesmo, o que pode levar a uma confusão com
a morte por dois laços (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 262).
Oclusão venosa e oclusão incompleta da carótida também podem
causar cianose da face e do pescoço. Em contraste, palidez facial é observada
quando há obstrução arterial total e obviamente venosa, como nos casos de
suspensão. Pode haver congestionamento e edema da conjuntiva e saída de
muco seco com manchas de sangue nas narinas e nos cantos da boca (Shkrum
& Ramsay, 2007, pp. 65,83).
Nas extremidades distais do corpo do enforcado, ocorre acúmulo de
sangue post mortem, o que pode romper os pequenos vasos, mesmo sem
pressão arterial, criando pequenas áreas de sangramento. São as chamadas
manchas de Tardieu, que medem cerca 1,5mm de diâmetro e que não devem
ser confundidas com as petéquias ante mortem já citadas, causadas por um
aumento súbito da pressão arterial (Dix, 1999, p. 83).
Com o enforcamento, a língua é deslocada para parte da frente da
boca, projetando-se, e, muitas vezes, provoca a abertura da boca, com
exposição da porção anterior da língua – língua procidente. Com a boca
aberta temos o ressecamento post mortem da língua e dos lábios, provocando
a típica coloração escura dos mesmos (Figura 14). Vestígio semelhante se dá
por envenenamento por substâncias tóxicas. Também vômito pode ser
encontrado nas vias aéreas e extravasar pelo nariz e pela boca quando a corda
é retirada do pescoço da vítima (Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 65,83).

Figura 14 Língua procidente e com ponta ressecada (Barreto, 2019)

Se uma corda macia, como uma toalha, é usada para o laço e se esta
for cortada logo após a morte, então temos a possibilidade de não se
encontrar o sulco previsto. Independentemente do tipo de corda, quanto
maior o tempo de suspensão, maior a profundidade do sulco. Em raras
ocasiões podem ser encontrados arranhões acima e abaixo do sulco,
provocados pela tentativa do suicida de retirar a corda (Di Maio & Di Maio,
2001, p. 262).
Na maioria dos enforcamentos o rosto resta pálido e a língua é
saliente e escurecida pelo ressecamento. Exceções a esta regra, geralmente,
envolvem corpos parcialmente suspensos, onde o nó é apertado apenas pelo
peso da cabeça ou da cabeça e do tronco. Nestes casos, enquanto as artérias
carótidas e as jugulares são completamente oclusadas, as artérias vertebrais
continuam a abastecer de sangue a cabeça, o que irá produzir congestão na
face e petéquias (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 262).
Em enforcamentos, o sangue flui pela gravidade para as áreas
inferiores do corpo, geralmente antebraços, mãos e pernas. Com o passar das
horas, hemorragias puntiformes e as manchas de Tardieu, causadas pela
ruptura hidrostática dos vasos, serão vistas (Di Maio & Di Maio, 2001, p.
262).
Para efeitos de laudo, antes da remoção da corda do pescoço, deve-se
registrar em detalhes a natureza, a composição, a largura, o modo de
aplicação, a localização e o tipo de nó. Após a remoção, a marca do laço no
pescoço deve também ser minuciosamente descrita. Deve-se descrever a
direção do sulco (obliquamente para cima, horizontal, etc), se é contínuo ou
interrompido, sua cor, as suas dimensões (profundidade e largura), se existem
ferimentos distintos do padrão de ligadura, as áreas do pescoço envolvidas.
Geralmente, com exceção para os sulcos, não existem outras lesões no corpo.
Se outros vestígios estiverem presentes, a medicina legal deverá dizer, se for
possível, se eles foram auto-induzidos ou ocorrerram durante a fase
convulsiva anterior a morte, se foram produzidos quando o corpo foi
resgatado ou durante a tentativa de reanimação ou, mesmo, se foram
produzidos por terceiros durante ou antes do ato que culminou na morte,
levantando, nestes casos, a suspeita de homicídio (Di Maio & Di Maio, 2001,
p. 263).
No exame das estruturas internas do pescoço, em mais da metade dos
casos não são encontrados ferimentos. De uma série de 83 enforcamentos
consecutivos examinados por Di Maio, apenas dez vítimas (12%)
apresentavam fraturas nas estruturas do pescoço. Nove destas fraturas eram
na cartilagem tireoide; nenhuma fratura nos hioides e uma fratura na coluna
cervical. Este último caso envolveu uma mulher obesa, com alterações
artríticas nas vértebras cervicais e com enforcamento por suspensão total.
Petéquias na conjuntiva ou na esclerótica estavam presentes em 21 dos 83
casos (25,3%), dos quais quatro com fraturas e seis com hemorragia no
pescoço. A ausência de petéquias na maioria dos enforcamentos é explicada
pela obstrução completa no sistema arterial; portanto, não haveria acúmulo
de sangue na cabeça e nem aumento da pressão arterial; consequentemente,
não haveria a formação de petéquias. Um filete de saliva seca, é comum fluir
de um canto da boca e fluidos orgânicos podem estar presentes nas narinas
(Di Maio & Di Maio, 2001, p. 263).
A baixa incidência de fraturas, observadas por Di Maio, também foi
observada por Feigin. Em um estudo retrospectivo de 307 enforcamentos,
acidentais e suicidas, as fraturas nas estruturas do pescoço estavam presentes
em apenas 29 dos casos (9,5%). Em três casos, houve fratura na coluna
cervical; em 14 casos houve fraturas confinadas à cartilagem tireoide; em 9
casos houve fratura hioide, o que desmente em parte o senso comum, que
prevê fratura neste osso para os casos de enforcamento. A respeito de
correlações, a única observada é que a probabilidade de fraturas aumenta com
a idade (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 263).
Uma pesquisa bastante antiga, mas ainda útil, foi realizada sobre o
“enforcamento” de cadáveres. Entre 1817 e 1855, Casper fez experimentos
com a suspensão por um laço no pescoço em 23 corpos. Ele concluiu que
marcas do nó, idênticas aos dos enforcados em vida, poderiam ser produzidas
em até 2 horas depois da morte. Assim, a mera existência do sulco no
pescoço não significa, necessariamente, que a vítima foi pendurada viva em
uma corda (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 271).
O cadáver de uma pessoa enforcada por suspensão completa tem um
padrão de decomposição diferente do que resta no solo, devido a muitos
fatores, dentre os quais, a diferente fauna que irá colonizar a carcaça, pela
ausência da fauna exclusiva do solo (Figura 15), e alterações no processo de
desidratação. Goff e Lord (1994) observaram, no Havaí, que a maior
desidratação produz uma limitação das atividades das moscas, reduzindo o
número de insetos, influenciando as espécies que colonizam os restos mortais
e seus períodos de colonização. Outro trabalho, também no Havaí, onde foi
comparada uma carcaça de porco pendurada e outra no solo, mostraram que a
decomposição foi retardada no porco pendurado e que o principal local de
atividade de insetos era a zona do solo abaixo da carcaça, onde caía o
chorume e outros detritos (Byrd & Castner, 2009, p. 232).
Figura 15 Fauna aérea: Ataque por mosca varejeira ou berneira, usual no Sul do Brasil. Fotografia de
Fotógrafo Criminalístico Eduardo Barreto

Nós e Cordas
O laço da corda que prende o corpo deve ser examinado de imediato
e a origem do material utilizado deve ser determinada tão rapidamente quanto
possível. Se uma ou ambas as extremidades da corda tiverem vestígios de
corte recente, então os outros segmentos devem ser procurados na cena do
crime, pois a ausência dos mesmos, se ocorrer, deve ser elucida. Também
deve-se procurar o instrumento (tesoura, faca, et cetera) utilizado para o
corte (Fisher, 2003, p. 463).
Para termos um suicídio por enforcamento, a vítima deve ter dois
objetivos: um objeto com o qual seja possível fazer um laço e um ponto onde
amarrá-lo. Além disso, o indivíduo deve ser capaz de posicionar-se de
maneira que o próprio peso possa ser utilizado para tensionar o laço e aplicar
pressão sobre o pescoço (Stark, 2005, p. 341). Uma parte necessária do
trabalho de perícia em enforcamentos consiste em demonstrar que a vítima
tinha condições, ou não, de executar os laços e identificar os móveis ou
artefatos utilizados numa eventual escalada (Figura 16).
Em casos onde a corda é retirada por familiares e afins, normalmente,
é fácil descobrir se a corda foi utilizada para o enforcamento através do
padrão da corda estampado no sulco do pescoço. Em casos de dúvida,
entretanto, fragmentos de tecido humano podem ser procurados na corda e
coletados para um eventual confronto de DNA. (Shkrum & Ramsay, 2007,
pp. 70-77).
Ao se fazer o levantamento de uma cena de enforcamento, é
importante que o Perito tenha familiaridade com os tipos de nós mais
utilizados. Deve-se perguntar se a vítima tinha condições de fazer aquele nó.
Deve-se desconfiar, por exemplo, de nós habilmente executados,
principalmente se houver suspeita de estado alterado de consciência (Fisher,
2003, p. 463).

Figura 16 O Perito deve verificar se havia condições para escalada da vítima. Foto do Autor

O laço é construído a partir de qualquer material que esteja à mão. Os


mais comuns são cordas, cabos elétricos e cintos. Os internos em prisões,
clínicas e hospitais usam roupas rasgadas em tiras, ou não. Ocasionalmente,
para evitar o arrependimento, a vítima coloca as duas mãos no laço ou amarra
as mesmas (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 262).

Figura 17 Tradicional nó de forca (fixo), com suas sete voltas, muito usado por suicidas, talvez por
imitação dos enforcamentos judiciais. Foto do Autor
Após o enforcamento, o laço pode ser alterado, ou seja, separado do
corpo ou simplesmente cortado por familiares e/ou policiais. O laço pode ser
de apenas uma volta ou de múltiplas voltas, ocorrendo desde nós simples ou
até bem elaborados, alguns imitando os tradicionais nós de enforcamento
judicial. Um estudo australiano mostrou que os nós foram fixos em 25% dos
casos e corrediços nos restantes. Outro estudo, na Irlanda do Norte, mostrou
que 69,5% das vítimas utilizou um nó corrediço, 8,6% um nó fixo e 10,5%
apenas um enlace no pescoço (Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 70-77). Quanto
ao cabelo, Srivastava e Simon observaram, em estudos diferentes, que cabelo
preso pelo laço é um vestígio que deve exigir uma atenção maior, pela
possibilidade de homicídio mascarado de suicídio, em princípio por não ser
hábito dos suicidas acomodar o nó da maneira mais confortável e isto implica
em soltar os cabelos por cima da corda (Srivastava, Das Gupta, & Tripathi,
1987, pp. 8:220–224) (Simon, 1998, pp. 43:1119–1123).
Na hora de se retirar o cadáver, os nós não devem ser desfeitos,
exceto nos casos em que a vida ainda possa ser salva. Para retirar a corda de
um cadáver, deve-se cortá-la ao pescoço com o cuidado devido para não
produzir uma nova lesão; caso, mesmo assim, uma lesão seja produzida neste
momento, esta deve ser imediatamente documentada com fotografia e
descrita no laudo (Fisher, 2003, p. 464).
A vítima pode tentar “proteger” o pescoço com enchimentos, como
travesseiros, ou o laço pode ser colocado sobre a roupa. Às vezes, a primeira
laçada pode se romper e a vítima providenciar uma segunda. Também pode
acontecer que alguns dedos fiquem presos entre a corda e o pescoço. Estes
casos não devem ser interpretados como tentativa de se retirar a corda, mas,
sim, de que eles ficaram presos no momento em que a vítima estava
acomodando a corda ao pescoço (Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 70-77)
(Fisher, 2003, p. 460).
Em casos raros, o laço no pescoço é apertado com o auxílio de um
peso suspenso ou a corda é tracionada por elementos externos, como um
carro em movimento ou animais domésticos de grande porte no meio rural
(Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 70-77).
No caso de corpos em suspensão completa, em caso de suicídios,
deve existir uma rota que tenha possibilitado a escalada da vítima, tais como
mesas, cadeiras, escadas, móveis, pedras. A cena deve ser examinada com
cuidado, a fim de determinar se a escalada era possível pela vítima e nas
condições em que ela se encontrava antes do enforcamento. Em casos de
árvores, as marcas da escalada são normalmente visíveis nas cascas, limo,
folhas caídas, galhos quebrados, além da presença de matéria orgânica da
árvore nos pés, mãos, vestes ou calçados da vítima (Figura 18, Figura 19).
Uma atenção especial deve ser dada para móveis ou cadeiras que podem ter
sido movidos de forma inadvertida antes da chegada da equipe que vai
examinar a cena (Fisher, 2003, p. 460).
Figura 18 Em enforcamentos em parques ou matagais é normal que a vítima não tenha outro modo de
fixar a corda a não ser escalando a árvore (Barreto, 2019)

Figura 19 Escalada em árvores com aderência de ramo de parasito que cresce no tronco na mão da
vítima. Fotografia de Fotógrafo Criminalístico Eduardo Barreto
Mãos amarradas não são necessariamente indicativas de homicídio,
pois a vítima pode atar suas mãos nas costas com a ideia de impedir uma
tentativa de desistência do enforcamento. As mãos podem ser atadas com
cordas e fitas adesivas; até mesmo algemas já foram utilizadas. Estas
ligaduras são normalmente aplicadas de maneira fácil e frouxa (Shkrum &
Ramsay, 2007, pp. 70-77).
No suicídio por enforcamento, as vítimas destras costumam situar o
nó no lado direito do pescoço e os canhotos, no lado esquerdo. A reversão
destas posições é fato suspeito, que merece um estudo mais aprofundado
(Fisher, 2003, p. 461).
Ao trabalhar num caso de enforcamento, o Perito deve ter em mente
que a autópsia raramente pode concluir se o caso é homicídio ou suicídio.
Como regra, a tipificação só poderá ser estabelecida após o levantamento no
local, a autópsia e a investigação policial (Fisher, 2003, p. 461).
Aspectos Internos do Enforcamento
Pela suspensão total através de nó corrediço, um indivíduo saudável
perde a consciência dentro de 15-20 segundos e sofre danos cerebrais
irreversíveis no prazo de 4 a 6 minutos. No caso de suspensão incompleta, se
pode levar mais tempo (Catanese, 2010, p. 373).
Em se tratando de exame experimental com laringes humanas frescas
(Figura 20), temos que fraturas nas cartilagens tireoide e crinoide ocorrem
com a aplicação de forças estáticas de 15,8 e 20,8kg (Shkrum & Ramsay,
2007, p. 72). Já cenas dinâmicas (velocidades até 18km/h) causam fraturas
com forças, em média, 30% menores. Colapso estrutural iminente das vias
respiratórias (Figura 3) foi observado com a aplicação de uma força média de
55kg.

Figura 20 Osso Hioide (Livescience)

Nos casos em que, junto do enforcamento, há precipitação, mesmo


que de uma pequena altura, como, por exemplo, cordas fixadas em galhos de
árvore, barrotes de telhados (Figura 21) e outros, é normal que a altura
produza força suficiente para fraturar a vértebra cervical superior e o osso
hióide, resultando em lesão medular com a parada cardíaca e respiratória. O
mesmo se dá nos casos de execução por forca nos países onde há este tipo de
pena de morte (Catanese, 2010, p. 373).
Figura 21 Corda fixada em barrote de telhado. Foto do Autor
De longe, o enforcamento é o tipo mais comum de morte por
compressão do pescoço e consiste na compressão do pescoço por um laço,
que é apertado unicamente pela ação da força da gravidade sobre o corpo, o
que causa a obstrução parcial ou total das estruturas do pescoço, incluindo aí
os vasos sanguíneos e as vias aéreas.
As artérias carótidas, em virtude da sua localização, são facilmente
comprimidas por pressão direta na frente do pescoço. Em contraste, as
artérias vertebrais são protegidas e, portanto, resistentes à pressão direta, mas
podem ser obstruídas por flexão lateral grave ou rotação do pescoço. Ambas
as situações podem ocorrer num enforcamento. O montante da pressão
necessária para a oclusão das artérias carótidas (Figura 23) é de,
aproximadamente, 530 Pascal e para as artérias vertebrais é de 3200 Pascal.
A oclusão das artérias carótidas causa inconsciência em um tempo médio de
10s. Se a pressão for imediatamente liberada, a consciência é recuperada em
10 a 12s (Di Maio & Di Maio, 2001, pp. 259-260).
Figura 22 Veias jugulares
A drenagem venosa é feita, principalmente, por meio das veias
jugulares e das cervicais. As veias internas são pouco afetadas por pressão
externa. Em contrapartida, a pressão necessária para a oclusão da veia jugular
é de apenas 210 Pascal (Di Maio & Di Maio, 2001, pp. 259-260).
Hemorragias na laringe e nos tecidos moles que recobrem a coluna
cervical são reportadas em alguns casos. Em praticamente todos os casos
fatais de morte por estrangulamento manual (esganadura) ocorre formação de
petéquias na membrana conjuntiva; entretanto; a presença de petéquias, por si
só, não indica morte por compressão no pescoço (Figura 24), pois estas
podem aparecer em outros pathos, incluindo doenças naturais. Em um estudo
com 79 vítimas sobreviventes de tentativas de estrangulamento (no caso,
estrangulamento e esganadura), as petéquias nas conjuntivas foram
observadas em 14 vítimas, inclusive em 8 destas que perderam a consciência
(Harm T & Rajs J, 1981, pp. 18:101-123).
Figura 23 Principais artérias do pescoço

Figura 24 Petéquia na região orbital (Shkrum & Ramsay, 2007, p. 38)


Também é possível que um indivíduo pendurado em uma posição
sentada ou deitada, com oclusão parcial das estruturas do pescoço, possa
erguer-se e deixar-se cair algumas vezes antes de perder a consciência. Desta
forma irá ocorrer diferentes graus sucessivos de pressão, ocasionando mais de
uma marca paralela ou sobreposta à anterior antes da perda de consciência.
Estes vestígios são bastante semelhantes aos que são produzidos num caso de
estrangulamento (Catanese, 2010, p. 373). Nestas condições, o laço irá
pressionar as estruturas do pescoço de maneira diferenciada, pois, para
ocorrer oclusão das vias venonas, é necessário um mínimo de pressão; o
mesmo não ocorre com o sistema arterial e as vias aéreas (Dix, 1999, p. 98).
Quando a circulação venosa está obstruída, porém sem oclusão das
artérias, ocorre um aumento da pressão arterial e dos batimentos cardiacos,
podendo ocasionar a ruptura dos capilares e dos pequenos vasos sanguíneos,
produzindo petéquias, que são lesões ante mortem. Se este processo continua,
a hemorragia aumenta e as petéquias podem se tornar confluentes. As
petéquias também podem ser encontradas na face, especialmente na testa, e
ao redor dos olhos (Dix, 1999, p. 99). Este fenômeno é mais evidente dentro
da esclera e da conjuntiva. Estes resultados são mais característicos de
estrangulamento, mas podem ser vistos neste tipo de enforcamento
(Catanese, 2010, p. 373).
Conforme Shkrum, a distribuição de petéquias é tipicamente nos
olhos, na pele do rosto e no pescoço acima do laço. Petéquias nas pálpebras
foram vistas em 27% dos casos e petéquias na conjuntiva/esclera em 33% dos
enforcamentos em um estudo. Em ambas as localizações, foram reportados
18% dos casos. As petéquias são uma indicação clara de que a vítima estava
viva quando a suspensão, ou o estrangulamento, ocorreu, mas a ausência
delas não indica, de modo algum, o contrário. A presença delas varia se a
suspensão for parcial ou total. A sua formação depende de uma série de
fatores, tais como a tensão e a duração da aplicação inicial do laço, a pressão
devido ao peso corporal e a ausência de um nó corrediço, em casos de
suspensão parcial (Shkrum & Ramsay, 2007, p. 83).
Na morte por estrangulamento, a pressão sobre o pescoço é aplicada
com um laço, que é tensionado por outra força que não a da gravidade. Essa
força é geralmente a mão do assassino, considerando-se que, na grande
maioria dos casos de estrangulamento, estamos falando de homicídios.
Segundo Di Maio, o estrangulamento é o tipo de método mais comum de
homicídios por asfixia, seguido bem de perto pelo estrangulamento manual
(esganadura). O autor cita um estudo de uma série de 133 homicídios
causados por estrangulamentos e esganaduras, sendo que os primeiros
representavam 48 das mortes (Di Maio V. J., 2000, pp. 21(1):1-4). As
mulheres predominavam como vítimas, tanto nos estrangulamentos, como
nas esganaduras. Das 48 vítimas de estrangulamento, 27 eram do sexo
feminino e 21 do sexo masculino. Di Maio aponta como o motivo mais
comum para o estrangulamento de mulheres, o ataque sexual. Suicídios e
acidentes são raros e o mecanismo da morte é o mesmo que em enforcamento
não judicial, com a oclusão das artérias e a consequente hipóxia no cérebro.
Se o assassino lograr manter uma pressão constante, a consciência da vítima é
perdida em 10 a 15 segundos (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 276).
O ato de estrangulamento, salvo nos filmes sobre a máfia siciliana,
geralmente não é premeditado, não é rápido e leva risco de lesão para o
agressor, devido à possibilidde de luta. Nesse caso, a presença de petéquias é
esperada. Não raras vezes, é precedido, ou mesmo seguido, de relação sexual,
forçada ou consentida. Exames para a procura de vestígos desta relação são
obrigatórios nestes casos (Catanese, 2010, p. 374).
Em contraste com a morte por enforcamento com suspensão
completa, o rosto e o pescoço acima do laço aparecem nitidamente
congestionados, com hemorragia na esclera e petéquias na conjuntiva.
Petéquias de bom tamanho também podem ser observadas na face,
principalmente nas regiões periorbitais. Na experiência de Di Maio, petéquias
estão presentes em 86% dos casos de estrangulamentos (Di Maio V. J., 2000,
pp. 21(1):1-4). A presença de congestão no rosto, petéquias e hemorragia na
esclera ocorrem por oclusão dos vasos venosos, causando aumento da pressão
arterial intravascular, congestão e ruptura dos vasos (Di Maio & Di Maio,
2001, p. 276). Sobre as petéquias, Wagner observou que elas são mais
comuns do que nos outros tipos de asfixia (Wagner, 2009, p. 95).
Os laços utilizados podem ser cabos elétricos, gravatas, cordas, cabos
de telefones, mangueiras. O aparecimento de uma marca de aperto no
pescoço é sujeita a muitos fatores, como por exemplo, a natureza da “corda”,
o montante da resistência pela vítima e a quantidade de força usada pelo
assassino. A marca pode ser tênue, quase invisível, ou mesmo ausente em
crianças ou adultos deficientes, especialmente se o laço for de material
macio, como, por exemplo, uma toalha, ou removido imediatamente após a
morte. Como os sulcos de enforcados, eles têm inicialmente uma aparência
amarelada, que evolui para o marrom escuro (Di Maio & Di Maio, 2001, p.
276).
Como as pessoas, normalmente, têm o pescoço levemente pendente
para frente, no caso de ataque pelas costas existe a tendência de que o laço
esteja ligeiramente mais baixo na nuca do que na face anterior do pescoço, o
que evidentemente também pode ocorrer com enforcamentos horizontais. Por
outro lado, se o agressor for de altura bastante superior à da vítima, o laço
tenderá a ser ascendente em direção à nuca (Fisher, 2003, p. 462).
Enforcamentos Judiciais
Em enforcamentos judiciais, a morte é causada por fratura-luxação
das vértebras cervicais superiores. Normalmente, o nó é colocado sob a
orelha esquerda e, como menos frequência, sob o queixo. Um alçapão é
aberto e o condenado cai de uma altura pré-determinada pelo seu peso. Se ele
cair de uma altura insuficiente, morrerá por oclusão venosa e arterial, ao
invés de quebrar o pescoço; se a altura for exagerada, ocorrerá a decapitação.
Neste tipo de enforcamento, a vítima, para abruptamente no final da sua
queda, com a fratura da coluna e lesão na medula (Di Maio & Di Maio, 2001,
p. 271).
Em enforcamentos judiciais, a consciência é perdida imediatamente,
embora o coração possa continuar a bater de 8 a 20 minutos após a queda.
Também podem ocorrer contrações musculares faciais, espasmos, convulsões
no tronco e nos membros e violentos movimentos respiratórios durante deste
período. Em enforcamentos não-judiciais, onde o mecanismo de morte é a
asfixia, se não houver suspensão total com a oclusão das artérias carótidas e
vertebrais, Rossen et al afirmam que a vítima irá perder a consciência
somente após 5–11segundos. Se a oclusão for apenas nas artérias carótidas, a
inconsciência irá ocorrer apenas após 10-15 segundos (Di Maio & Di Maio,
2001, p. 271).
Estrangulamento com laço
Nos estrangulamentos, em contraste com os enforcamentos, a marca
do laço normalmente circunda o pescoço em um plano horizontal, muitas
vezes sobreposta à laringe ou à traqueia superior. Quando o laço for um fio
ou um cabo, a circuncisão do pescoço é completa. Pode haver um hiato no
sulco, normalmente na nuca, onde ficam as mãos do agressor. Além da marca
do laço, podemos ter escoriações e contusões na pele do pescoço, causadas
tanto pela mão do agressor como pela mão da vítima, numa tentativa de
remover o laço ou aliviar a pressão (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 276).

Figura 25 Estrangulamento (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 276)


Lesões nas partes internas do pescoço são exceção e não a regra no
caso de estrangulamentos. Em um estudo com 48 estrangulamentos, Di Maio
observou que houve apenas seis casos de fraturas no osso hioide ou na
cartilagem tireoide ou em ambos (12,5%), sendo cinco do sexo masculino e
apenas um do sexo feminino (Di Maio V. J., 2000, pp. 21(1):1-4).
O suicídio por estrangulamento é raro. Nesses casos, a vítima aperta
seu pescoço com alguma espécie de travamento no laço, mas, como demora
de 10 a 15 segundos para perder a consciência, há muito tempo de agonia
para ser suportada e sobrevém o arrependimento (Di Maio V. J., 2000, pp.
21(1):1-4).
Estrangulamento acidental por ligadura é raro, mas é possível ocorrer
quando uma peça do vestuário se emaranha em uma máquina rotativa.
Mesmo nestes casos, a morte mais provável é por outro tipo de lesão. Da
literatura se sabe que Isadora Duncan morreu de asfixia acidental quando seu
lenço ficou preso em um automóvel (Habal M , Meguid, & Murray, 1972, pp.
221:1269,1270).
Mesmo com o avanço da decomposição, as marcas de
estrangulamento tendem a se conservar e se manterem reconhecíveis. A
maior resistência à decomposição parece se dar pela compressão dos vasos e
tecidos da área, restringindo o acesso de bactérias. Em crianças ou em idosos,
ocorrem marcas posicionais no pescoço que podem ser confundidas com
vestígios de estrangulamento, como, por exemplo, as dobrinhas no pescoço
dos bebês. Recém-nascidos podem ainda apresentar petéquias devido à
compressão do tórax no parto normal (Di Maio V. J., 2000, pp. 21(1):1-4).
Vítimas de estrangulamento homicida são, muitas vezes, encontradas
com cabelo nas mãos. Esse cabelo é, entretanto, na maior parte das vezes, da
própria vítima, principalmente nos casos de mulheres; entretanto, deve ser
coletado, pois sempre existe a possibilidade de alguns fios de cabelo serem
do agressor. As unhas devem também ser examinadas, pois podem conter
DNA do agressor, obtidos normalmente na luta que antecede o enlace do
pescoço da vítima (Di Maio V. J., 2000, pp. 21(1):1-4).
Estrangulamento manual (esganadura)
A esganadura é produzida pela pressão das mãos, do antebraço ou de
outro membro, comprimindo as estruturas internas do pescoço. O mecanismo
de morte é a oclusão das artérias carótidas, mas a oclusão da via aérea pode
desempenhar um papel acessório. Virtualmente, todos os casos de
estrangulamento manual são homicídios, pois o suicídio por esganadura é
tecnicamente impossível, uma vez que, com a perda da consciência, a pressão
das mãos irá cessar. Di Maio cita a esganadura como o segundo método mais
comum de asfixia homicida. Em um estudo realizado, o autor verificou que a
proporção das vítimas de estrangulamento manual era de 27 mulheres para 14
homens. O motivo foi estupro em 14 dos casos, contra 10 casos de violência
doméstica e 3 por motivos diversos (Di Maio V. J., 2000, pp. 21(1):1-4).
No estrangulamento manual, o rosto normalmente fica congestionado
e cianótico, com a formação de petéquias na conjuntiva e na esclera. No
estudo de Di Maio foram encontradas petéquias na conjuntiva ou na
esclerótica em 89% dos casos pesquisados, que se mostraram maiores e mais
numerosas naqueles em que houveram luta entre a vítima e o assaltante. A
formação de edema pulmonar também pode se fazer presente, com a
formação de espuma nas narinas ou na boca (Figura 26).
Na maioria dos casos de esganadura, o assaltante usa mais força do
que é necessária para dominar e matar sua vítima. Assim, as marcas desta
violência estarão visíveis na região do pescoço, geralmente caracterizadas por
múltiplas lesões irregulares e anguladas, contusões ou esfolamentos ao redor
do pescoço. As marcas podem ser curvilíneas, correspondentes às unhas, e o
seu número pode variar de poucas até muitas (Catanese, 2010, p. 374).
Normalmente existem escoriações provocadas pelas unhas. Apenas raramente
não há presença destes vestígios. Dependendo da idade da vítima, pode haver
fratura do osso hioide ou da cartilagem tireoide. Conforme aumenta a idade, a
calcificação destas estruturas aumenta e temos maior tendência para fraturas,
que são mais comuns em indivíduos acima de 30 anos de idade (Di Maio &
Di Maio, 2001, p. 283).
Figura 26 Espuma formada por muco na boca, após a manipulação do corpo pela Perícia. Porto Alegre,
RS. Foto do autor.
A incidência de fraturas na esganadura é alta, principalmente se uma
autópsia cuidadosa for feita. Nos 41 casos de estrangulamento manual
estudados por Di Maio, a incidência de fraturas foi de 68,1% (28 casos), com
100% no sexo masculino (14 dos 14 casos) e 52% (14 dos 27 casos) nas
vítimas femininas (Di Maio V. J., 2000, pp. 21(1):1-4). Harm e Rajs
relataram uma incidência de 70% nos seus 20 casos pesquisados. Simpson e
Knigh encontraram fraturas em 92% dos 25 casos estudados (Harm T & Rajs
J, 1981, pp. 18:101-123). Nos casos estudados por Di Maio, das 14 mulheres
com fraturas: todas tiveram fraturas no osso hioide; somente no osso hioide
(5 casos); em combinação com fratura na cartilagem tireoide (4 casos); em
combinação com o conjunto crinoide (3 casos); tanto na tireoide, como na
crinoide (2 casos). Dos 14 homens, 10 tinham fraturas no osso hioide; apenas
no osso hioide (4 casos); em combinação com outras estruturas (6 casos);
dois tiveram fraturas limitadas à cartilagem tireoide; e dois com fraturas
limitadas à cartilagem cricoide. A forma em U do osso hioide o torna bastante
suscetível à fratura por compressão (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 285)
(Figura 27).
Figura 27 Lesões provocadas pelos dedos e unhas em caso de esganadura (Di Maio & Di Maio, 2001,
p. 281)
Vários métodos de esganadura são observados, cada qual produz seus
próprios de vestígios. A forma mais simples é o ataque pela frente com o uso
de apenas uma mão. Este método de ataque deixa como vestígios pequenas
contusões e eritemas em associação com as marcas dos dedos, que não o
polegar, em um dos lados do pescoço, com a provável presença de eritema ou
contusão e, mais incomum, uma marca de unha causada pelo polegar no
outro lado do pescoço. Se a mão direita for utilizada, esta marca do polegar
estará no lado direito do pescoço; se a esquerda for utilizada, a marca estará
no lado esquerdo. Se as duas mãos forem utilizadas e o ataque for de frente,
os vestígios já descritos irão se sobrepor; entretanto, será bastante difícil
precisar se o ataque se deu realmente com as duas mãos ou se foi alternado.
Uma variação do ataque com as duas mãos pela frente envolve o uso de
pressão aplicada pelos dois polegares sobre o centro do pescoço ou nos
flancos da laringe ou traqueia. A pressão dos dedos resulta em manchas
eritematosas ou contusões (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 286) (Figura 28).
Se a vítima é atacada por trás, as lesões provocadas pelas pontas dos
dedos são geralmente encontradas na parte da frente do pescoço e a ação dos
polegares se concentra na nuca. A presença de lesões apenas de um lado do
pescoço indica uso de somente uma das mãos (Di Maio & Di Maio, 2001, p.
286).
Figura 28 Vestígios de esganadura (Wagner, 2009, p. 95)
Um método menos comum de estrangulamento, porém relatado por
Di Maio, é um ataque frontal utilizando-se a palma da mão para aplicar
pressão sobre o pescoço, sem usar as pontas dos dedos, tendo como vítimas
eletivas adultos embriagados e crianças (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 286).
Harm e Rajs classificaram as marcas de unhas no pescoço em três
tipos: Marcas de impressão, marcas de garras e arranhões:
Marcas de impressão são produzidas pela pressão das unhas contra a
epiderme em um ângulo de aproximadamente 90 graus e, normalmente, são
levemente curvas, acompanhando o desenho da unha.
Marcas de garras são lesões que lembram a forma de um U, com o
comprimento variando de 3 a 4mm até alguns centímetros. Estas lesões são
formadas pelo contato da unha tangenciando a pele (Di Maio & Di Maio,
2001, p. 286)
Marcas do tipo arranhão são aquelas que são produzidas quando as
unhas atacam a pele em um ângulo reto e, a seguir, correm sobre a mesma,
produzindo escoriações lineares de até 1,0cm de largura (Di Maio & Di
Maio, 2001, p. 287).
.
Lesões no Autores
Um trabalho de Harm e Rajs apresenta uma abordagem incomum,
mas bastante instigante, sobre lesões; não nas vítimas, mas nos agressores. Os
autores estudaram 37 casos fatais de estrangulamento: 20 manuais
(esganaduras), 12 com laço (estrangulamento) e 5 com ambos os meios.
Destes 37 casos, em 20 foi possível o exame do agressor. Destes, 13 (65%)
dos casos apresentaram lesões. Curiosamente, a presença ou ausência destas
lesões não estava correlacionada com a presença de lesões de defesa nas
vítimas, pois entre as vítimas dos 13 agressores que estavam lesionados,
apenas 6 apresentavam lesões de defesa nas mãos ou nos braços (Harm T &
Rajs J, 1981, pp. 18:101-123) . Marcas de unhas (impressões, marcas de
garras e arranhões) constituíam 82% das lesões sofridas pelos 13 assaltantes,
com 18% de lesões diversas. Setenta por cento dessas marcas de unhas
estavam no dorso das mãos e nos antebraços, com concentração nos dedos
indicadores e polegares, com uma concentração secundária no rosto e no
ombro direito (Harm T & Rajs J, 1981, pp. 18:101-123). Desta forma é útil
para a persecução penal cotejar os resultados da necropsia com os resultados
dos exames de corpo de deleto nos suspeitos da agressão.
Asfixia química
Na asfixia química, a inalação de um composto gasoso causa morte,
pois impede o uso do oxigênio a nível celular. Os asfixiantes químicos mais
comuns são o monóxido de carbono, o cianeto de hidrogênio e o cianeto de
sódio. Os compostos de cianeto são de potente ação venenosa, podendo
produzir hipóxia celular ao se combinarem com o ferro da hemoglobina. Os
cianetos são utilizados na fotografia, em gravuras, galvanoplastias e
laboratórios químicos. A maioria das mortes causadas pela ingestão de
cianeto são suicídios e envolvem pessoas que trabalham em laboratórios nos
quais o produto está disponível. É um dos métodos favoritos de suicídio para
os que trabalham com química. Estes compostos são inofensivos até que
entram em contato com ácido, momento em que há produção de gás cianeto
de hidrogênio. Se o cianeto de hidrogênio é inalado, a vítima irá apresentar
uma cor rosa brilhante para o sangue. A inalação deste gás em uma pequena
sala, em concentrações muito elevadas, pode produzir colapso imediato e
morte, mas isto é exceção, pois geralmente a morte ocorre somente após
alguns minutos, como se observou nas câmaras de gás dos campos de
extermínio dos nazistas (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 290).
O sulfeto de hidrogênio (H2S), ácido sulfídrico, é o famoso cheiro de
ovo podre produzido pela fermentação de matéria orgânica. Em geral, as
mortes são acidentais. Uma curiosidade acerca desse gás é que em
concentrações maiores ele pode produzir paralisia nos nervos olfativos e fazer
com que a vítima não se aperceba do seu cheiro nauseabundo. No cadáver,
apresenta cianose (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 291).
Segundo Wagner (2009), apesar de existirem casos de mortes por
H2S e cianetos, o principal causador de asfixia é o velho e conhecido
monóxido de carbono (CO) (Wagner, 2009, p. 96). Os tipos de mortes são,
normalmente:
mortes são normalmente do tipo listado abaixo:
Suicídio: Geralmente executado com um motor de combustão interna
ligado em ambiente fechado, mas as condições devem ser verificadas com
rigor para não excluir de forma leviana a hipótese de acidente.
Acidente: eletrodomésticos com queimadores combinados com
ambiente fechado são causas deste tipo de morte, além das que são
provocadas pelo CO de incêndios.
Tópicos Especiais
Em Prisões e Instituições Psiquiátricas
Shkrum & Ramsay fizeram um levantamento de diversos estudos
relacionados a suicídios de prisioneiros e observaram que todas as formas de
morte são possíveis quando a vítima está na prisão. Reclusos têm uma maior
taxa de suicídio do que a população geral. Na cadeia, o risco de suicídio é
aumentado devido à natureza transitória da população e o fato de que a prisão
é uma experiência nova para muitos. Embora alguns estudos tenham
mostrado que as vítimas de suicídio na prisão eram presas por crimes não
violentos, outros observaram que a detenção por crimes contra as pessoas
(por exemplo, assaltos à mão armada, assassinato, estupro) predomina.
Também a expectativa de uma longa pena de prisão é um estressor possível.
Outro estudo revelou que pelo menos 75% das vítimas de suicídio em prisão
tinham antecedentes psiquiátricos. A maioria dos suicídios ocorre no
primeiro e no segundo dia de encarceramento. Outras lesões são comuns, mas
o enforcamento é o tipo mais provável. Roupa de cama, quando existe, é
comumente usada como laço nas prisões (Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 70-
77).
Shkrum & Ramsay observaram que os prisioneiros suicidas tinham
tendência para o ato, independentemente de terem sido encarcerados. Esse
parecer foi corroborado por um estudo realizado no Texas, no qual pelo
menos metade dos presos vítimas de suicídio fez uma tentativa anterior à
prisão e cerca de dois terços tinham feito pelo menos uma tentativa já durante
a sua prisão e dois terços dos prisioneiros tinham histórico de abuso de álcool
e outras drogas. A dificuldade de acesso ao álcool e a drogas pode reduzir a
capacidade do recluso para lidar com o stress da cadeia. A maioria (60%) dos
prisioneiros vitimados, em um estudo britânico (Shkrum & Ramsay, 2007,
pp. 75-77), matou-se dentro os primeiros 3 meses de prisão. Outros trabalhos
têm mostrado que muitos suicídios por enforcamento tendem a acontecer
entre a meia-noite e 8h, quando a fiscalização é reduzida. Em alguns suicídios
que ocorrem durante o dia, o preso tem a expectativa de socorro, com a ideia
de forçar uma transferência. Um preso também pode encenar um
enforcamento para provocar uma hospitalização, com a finalidade de fuga ou
mudança de ambiente. De acordo com a tendência dos suicídios em geral, a
maioria das vítimas são do sexo masculino e menores de 35 anos de idade,
espelhando a realidade da população carcerária. Diversos outros meios de
suicídio são tentados na cadeia, mas o enforcamento ocupa o primeiríssimo
lugar. Em outro estudo, 95% dos suicidas em uma instituição psiquiátrica de
segurança máxima americana se enforcaram (Shkrum & Ramsay, 2007, pp.
75-77).
Mortes nas prisões exigem uma perícia cuidadosa devido às
prováveis alegações públicas de homicídio ou incapacidade dos estado em
prestar cuidados ao apenado (Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 75-77). No Brasil
sempre temos que considerar que o enforcamento é um meio típico de morte
para “jurados” dentro do presídio e, nestes casos, a passividade da vítima
diante da inutilidade de lutar contra muitos não deixa vestígios de violência,
sendo facilmente confundido com um suicídio.
Nas instituições psiquiátricas, as taxas de suicídio envolvendo
especialmente os esquizofrênicos são maiores do que na população geral. Os
suicídios são frequentemente cometidos durante as saídas do hospital para
visitas ou logo após uma saída não oficial. Métodos violentos, por exemplo,
enforcamento e precipitação, são os preferidos. Suicídios são quase
imprevisíveis neste tipo de situação, pois o paciente não dá aviso prévio e,
muitas vezes, a morte ocorre após uma aparente melhora clínica (Shkrum &
Ramsay, 2007, pp. 75-77).

Crianças e Adolescentes
Suicídios por enforcamento são raros em crianças, mas existem.
Shkrum e Ramsay, ao levantarem trabalhos acadêmicos sobre suicídios
infantis, encontraram um estudo australiano que observou que apenas 3,7%
de uma série de 298 mortes por enforcamento ocorreram com crianças de 12
anos de idade ou menos. Um caso de suicídio de criança de 8 anos de idade
foi documentado em um estudo americano e outro estudo registrou o
enforcamento de um menino de 9 anos de idade. Na Irlanda do Norte foi
registrado um caso com uma vítima de 7 anos de idade. Levantamentos
escoceses e turcos mostraram uma idade mínima de 11 anos e uma
predominância do sexo masculino. As razões para o suicídio infantil incluem
desgosto profundo contra os pais, tentativa para ganhar mais afeto e até
mesmo a ideia de se juntar novamente a um parente próximo recentemente
falecido (Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 75-77).
Nos Estados Unidos as leis que facilitam uso de armas impactam na
frequência do uso destas para o suicídio de adolescentes, mas o enforcamento
é o método mais frequente. Vários estudos indicam que é comum encontrar
adolescentes suicidas com famílias desestruturadas e/ou portadores de
transtornos psiquiátricos, abuso de álcool e outras drogas, histórico de
ameaças e tentativas de suicídio e comportamento antissocial. Bilhetes de
despedida foram deixados em até um terço dos casos. A cena é, geralmente,
no lar. A maioria das mortes não é testemunhada por algum adulto, mas
outras crianças podem estar presentes na cena, em alguns casos (Shkrum &
Ramsay, 2007, pp. 75-77).
Em se tratando de acidentes, um estudo na Escócia mostrou uma taxa
de 0,7 mortes por enforcamento acidental para cada 100.000 crianças por
ano. Enforcamentos de crianças menores de 6 anos são geralmente
acidentais. Algumas mortes por enforcamento de crianças na faixa de 6 a 12
anos ficam na zona cinzenta entre o acidente e o suicídio, pois crianças nesta
idade ainda não têm uma noção clara do que é morrer (Shkrum & Ramsay,
2007, pp. 75-77).
De modo geral, Shkrum & Ramsay apresentam o seguinte quadro:
Crianças de 1 ano de idade ou menos (que não andam) podem ficar
penduradas pelo pescoço no berço ou no carrinho de bebê. Igualmente podem
ficar enlaçadas pela roupa, por fraldas, cinta elástica e cordinhas de chupetas
(Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 75-77).
Crianças com idade de 1-3 anos (capazes de andar) podem ficar
suspensas pela cabeça em camas ou cadeira alta, por exemplo. Outros casos
envolvem o enlaçamento por cintos de segurança, roupas, fraldas, cordinhas
de chupeta, cabos de cortina, varais desmontáveis, fiações elétricas expostas
ou corda de balanço (Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 75-77).
Temos ainda os casos de enforcamento no vidro (elétrico ou não) de
automóveis ou entre a tampa e o corpo de baús, caixas e arcas de brinquedos
(Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 75-77).
Toda e qualquer morte no berço requer mais cuidado na perícia pelos
fatores emocionais envolvidos; um deles é a pressa em apontar culpados. De
qualquer maneira, uma boa inspeção nas condições de entorno é necessária
para afastar ou não a possibilidade de enforcamento ou outro tipo de asfixia
acidental.
Crianças mais velhas e em grupo podem produzir acidentes em
brincadeiras de laço, peão boiadeiro, rodeio ou cowboy, sendo igualmente
possíveis brincadeiras com enforcamentos, saltos de pequena altura de camas
e de móveis que tenham algum material para produzir um laço. Também
ocorrem acidentes com o enlace do pescoço em janelas ou enforcamento em
equipamentos de playground (Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 75-77) (Figura
29).
Homicídios de crianças por enforcamento são raros e o levantamento
na literatura inclui uma menina de 8 anos enforcada em área aberta, duas
crianças de 2 e 5 anos de idade em enforcamento duplo e uma menina de 4
anos encontrada pendurada em uma maçaneta. Nos casos pesquisados havia
evidências de agressão sexual (Shkrum & Ramsay, 2007, p. 77).

Figura 29 Menina morta por enforcamento em vidro de carro (Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 75-77)

Asfixia Erótica
Talvez mereça uma nota especial este tipo de asfixia, que a rigor,
pode ser praticada com técnicas variadas.
Segundo Lee (2003), apesar do aprofundamento do conhecimento
científico sobre mortes por asfixia erótica, o levantamento da cena de crime
nesse tipo de situação pode ser bastante complicado, devido à sua natureza
incomum. Algumas cenas deste tipo têm a participação de mais de uma
pessoa, embora trate-se de uma atividade geralmente solitária. No caso da
participação de parceiro(s), a diferenciação entre acidente e homicídio é
particularmente difícil. Horswell (2003) citou um exemplo dessa situação,
relatando um estudo australiano sobre a morte por asfixia de uma mulher
encontrada em um motel. Seu parceiro declarou morte acidental. As
circunstâncias somente foram esclarecidas com ajuda de depoimentos de
parceiros anteriores, que relataram as mesmas práticas rituais. O tipo de
prática descrito no estudo é mais comum entre os homens, mas não se podem
excluir as mulheres, como ficou claro no exemplo citado. Os achados de
necropsia são os mesmos para qualquer outro tipo de asfixia mecânica, mas
os achados da perinecroscopia são a alta incidência de nudez ou travestismo,
evidência de masturbação, estímulo anal, brinquedos sexuais, literatura
pornográfica ou sobre a prática e, às vezes, equipamentos e dispositivos
complexos para a produção da asfixia (Horswell, 2003, pp. 254-255).
O objetivo da prática é incrementar o prazer durante a masturbação
ou a prática sexual. Segundo Wagner (2009), as vítimas são geralmente do
sexo masculino e a cena se compõe da vítima nua, ou com roupas eróticas,
cercada, muitas vezes, de material pornográfico e artigos eróticos. O sistema
de pressão pode ser elaborado com algum mecanismo de “segurança”. Como
por oclusão da jugular pode-se perder a consciência entre 15 a 20 segundos, a
vítima pode equivocadamente desmaiar e depois se asfixiar. Uma toalha ou
algum dispositivo macio é frequentemente colocado entre o laço e o pescoço
para prevenir lesões (Wagner, 2009, pp. 107-109). Geberth (2003) reporta
casos, nos Estados Unidos, onde vítimas masculinas utilizavam roupas
femininas (Figura 30) e, não raras vezes, filmavam o ato (Geberth, Sex-
Related Homicide and Death Investigation Practical and Clinical
Perspectives, 2003, p. 42).
Figura 30 Homem travestido e morto em prática de masturbação com enlaçamento do pescoço
(Geberth, Sex-Related Homicide and Death Investigation Practical and Clinical Perspectives, 2003, p.
157)
II. Corpos Humanos em Incêndios
Monóxido de Carbono
Como o Monóxido de Carbono é o principal gás que causa
sufocamento, pois incêndios são grandes produtores deste gás e de suas
vítimas, iremos tratar dele nesta secção.
Monóxido de carbono (CO) é um dos produtos da queima
incompleta( 2C + O2 = 2CO + calor) de um combustível que contenha
Carbono (quase todos encontrados em ambiente doméstico). A combustão
completa ( C + O2 = CO2 + calor) produz Dióxido de Carbono (CO2), mas a
pobreza de Oxigênio geralmente produz certo percentual de monóxido de
carbono, ou seja, a reação não se dá de forma completa. Na prática, a não ser
em condições de laboratório, não existe queima completa e incêndios em
ambientes confinados ou com pouca ventilação geram sempre queima
incompleta; portanto, monóxido de carbono.
O monóxido de carbono tem uma afinidade muito grande com a
hemoglobina; cerca de 210 vezes maior que a do oxigênio, o que explica a
grande toxidez deste gás (Redsicker & O’Connor, 1985, p. 219) e que torna
esta intoxicação a causa mais comum de morte em incêndios. A concentração
de apenas 1,3% de monóxido de carbono no ar atmosférico pode causar
inconsciência após duas ou três inspirações e morte após alguns minutos. A
morte por intoxicação com monóxido de carbono tem a característica de
produzir livor mortis na cor vermelho-cereja (Figura 31) e produzir esta
coloração nos órgãos internos e no tecido muscular.
Conforme Fischer (2003), concentrações acima de 0,01% em volume
já podem prejudicar o ser humano e, acima de 0,2%, podem ser perigosas
para a própria vida. A exposição contínua a um ambiente assim pode produzir
a morte dentro de uma hora. Se a concentração aumenta para 0,5% ou mais,
dá-se a inconsciência depois de alguns minutos e, a seguir, a morte. Com
concentrações mais elevadas, a inconsciência vem de imediato (Fisher, 2003,
p. 471).
Figura 31 Livor vermelho cereja causado por Monóxido de Carbono
O grande perigo do monóxido de carbono provém do fato de os
sentidos humanos não darem aviso a tempo suficiente de evitar a morte.
Gradualmente, a pessoa fica sonolenta e confusa, e os membros tornam-se
insensíveis. Quando a vítima começa a perceber o perigo, já é, geralmente,
tarde demais, pois o corpo já está tão fraco que a vítima, talvez, não pode
mais ser capaz de se mover para a segurança. Em muitos casos de intoxicação
por monóxido de carbono, o cadáver é encontrado perto de uma porta ou
janela, mas em posição que mostra ter sido incapaz de abri-la ou não ter
chegado a pensar em quebrar o vidro (Fisher, 2003, p. 471).
O consumo de álcool e outras drogas potencializam os efeitos do
monóxido de carbono, pois, quando a vítima está sob o seu efeito, o oxigênio
transportado para o cérebro é limitado. Quando a vítima inala o monóxido de
carbono, este substitui o oxigênio rapidamente, já restrito no sangue, e a
inconsciência e a morte se dão bem mais rapidamente do que numa situação
normal (Redsicker & O’Connor, 1985, p. 219).
Na autópsia, seria aconselhável testar o nível de carboxihemoglobina
(monóxido de carbono presente na hemoglobina). A presença de
carboxihemoglobina no sangue é um elemento muito importante para
determinar se a vítima estava viva antes ou durante o incêndio. Sua
concentração é dada em termos de percentual de saturação. Esta presença é,
geralmente, devido à inalação de monóxido de carbono produzido pelo
incêndio. Entretanto, a simples presença de carboxihemoglobina em taxas
baixas não comprova a morte por intoxicação por monóxido de carbono no
caso de corpos queimados (Redsicker & O’Connor, 1985, p. 219)
A intoxicação por monóxido de carbono provoca uma progressão dos
sintomas variáveis de acordo com a idade do indivíduo, sua saúde e o
percentual do gás no sangue. Os fumantes podem ter taxas de até 10% de
saturação. Níveis entre 10% e 20% causam dores de cabeça, náuseas e
vômitos em adultos saudáveis, mas podem causar a morte em crianças ou os
adultos com doenças cardíacas ou pulmonares. Em adultos saudáveis, 50% de
monoxido de carbono é normalmente fatal (Wagner, 2009, p. 98).
Taxas menores que 10% também ocorrem mesmo em não fumantes,
pois é possível a absorção de monóxido de carbono, em um cadáver, por
outros métodos que não a respiração; assim, corpos de pessoas mortas, antes
de um incêndio e submetidos à exposição dos gases, podem apresentar
contaminação mesmo não sendo fumantes.
Pelo visto nos parágrafos anteriores, conclui-se que taxas de
saturação de carboxihemoglobina menores que 10% apontam fortemente para
morte anterior ao incêndio.
Outro aspecto a salientar é que uma vítima de incêndio não precisa
estar, necessariamente, com alguma queimadura; basta que a mesma esteja
em algum local confinado e seja intoxicada por monóxido de carbono
oriundo de uma queima incompleta (Figura 32). Para que isto ocorra, não é
necessário um grande incêndio.
Além dos incêndios propriamente ditos, a intoxicação por monóxido
de carbono pode ser causada por suicídio, usando-se para isto qualquer fonte
de combustão, geralmente gás ou motor de automóvel disponível em
ambiente confinado. Acidentes também podem ocorrer com mais frequência
no inverno, onde a necessidade de aquecimento é satisfeita com ambiente
fechado.
Figura 32 Vítimas de intoxicação em um incêndio (Dix, 1999, p. 122)
Aquecedores a gás, fornos de fogão, aquecedores de água, fogões a
lenha e até mesmo lareiras podem provocar intoxicações.
A diferença entre um acidente e um suicídio provocado desta maneira
é, muitas vezes, difícil de se estabelecer. A morte acidental por monóxido de
carbono nem sempre é de fácil caracterização na cena do crime. Um estudo
realizado por Risser et al. constatou que cerca de 40 por cento das
intoxicações acidentais por monóxido de carbono não foram reconhecidas na
cena. Essa taxa diminui ainda mais no caso de vítimas idosas, já que, com a
idade, há aumento da redução da concentração de carboxihemoglobina letal
(Horswell, 2003, p. 140).
Corpos em Incêndios
Apenas a autópsia pode determinar de forma taxativa a causa da
morte e dos ferimentos em uma pessoa que teve o corpo exposto à ação de
chamas, mas, normalmente a morte se dá por asfixia com fumaça, com
monóxido de carbono ou por trauma pela ruína de vigas, paredes, forros e
móveis. Assim, geralmente, a vítima já está morta quando as chamas
começaram a consumir o corpo (Fisher, 2003, p. 467). Entretanto, num
quadro onde o Laudo do Legista com as informações que determinaram a
causa mortis pode levar semanas até estar disponível, o Perito que faz o
exame na cena de morte deve formular suas próprias impressões para avaliar
e examinar este tipo de local. Desta forma, alguns conhecimentos sobre a
dinâmica deste tipo de morte podem ser bastante úteis.
Na avaliação de um incêndio com vítimas, um dos vestígios mais
importantes são os restos dos corpos humanos, pois os mesmos são de difícil
queima e é bastante comum que, ao final do sinistro, a combustão dos
mesmos seja parcial. Até mesmo na cremação para fins de funeral, onde o
corpo é exposto às chamas durante aproximadamente duas horas, os dentes
normalmente permanecem inteiros.
O estado final de um corpo encontrado morto na cena do fogo é
bastante variável. Ele pode estar relativamente intacto, com as áreas cobertas
pelas roupas relativamente protegidas e as demais apenas cobertas por
fuligem. Pode apresentar áreas queimadas, que são classificadas, de maneira
tradicional, em primeiro grau ou superficial da pele (“vermelhidão”, eritema);
segundo grau ou intermediária, ou seja, estendendo-se mais profundamente
na derme e caracterizada por bolhas; terceiro grau (necrose total da epiderme
no ponto queimado); e quarto grau, com a incineração de músculos e tecidos
adjacentes à pele. Como se trata de morte, podemos ter também a
carbonização extensa e, mesmo, a desintegração do cadáver (Shkrum &
Ramsay, 2007, p. 185). Esta desintegração pode ser maximizada, se ele for
removido da cena por pessoal sem treinamento adequado ou, mesmo, pelos
técnicos de combate ao fogo.
Bohnert et al, sintetizaram, em 1998, os principais efeitos do calor
sobre um corpo humano:

Os efeitos do calor sobre o corpo (Apreciação Externa e Interna) (Fairgrieve,


2008, p. 42)
Efeitos do Calor Achados Externos Achados Internos
Queima Queimaduras na pele; Queima e consumo interno de
Alterações nos órgãos e ossos.
cabelos; Edema, sangramento das
Consumo pelo fogo mucosas e
descolamento das mucosas das
vias aéreas.

Alterações de conteúdo Bolhas na pele. Vaporização de fluidos


e distribuição de corporais, a ruptura da
tecidos fluidos parede abdominal,
prolapso das alças intestinais,
extravasamento de fluidos pela
boca e pelo nariz, hematomas
devido ao calor,
acumulação de gordura nas
cavidades do corpo,
vasos e coração.
Alterações de tamanho Tensão e fissuras Encolhimento dos órgãos.
nos tecidos na pele,
protrusão da língua,
petéquias no
pescoço e
na cabeça. Posição de
pugilista.

Abaixo, temos uma tabela apresentada por Redsicker e O’Connor,


com a gradação de queima para cadáveres expostos a temperatura de 680ºC.

Taxa de Queima do Corpo Humano (Redsicker & O’Connor, 1985, p. 214)


680ºC 10 min – Braços queimados
14 min – Pernas queimadas
15 min – Ossos da face e dos braços expostos.
20 min – Costelas e crânio à mostra.
25 min – Ossos do tornozelo expostos.
35 min – Todos os ossos dos membros inferiores à mostra.

Outros estudos com cremação de corpos de pessoas idosas, em


temperaturas entre 670°C a 810°C mostraram que o grau de destruição é
relacionado diretamente com o tempo de exposição ao calor. Após cerca de
10 minutos, os corpos passaram a mostrar a já citada posição de pugilista,
decorrente da contração dos músculos mais longos. Em 20 minutos tivemos a
carbonização da face e das extremidades. Após 20 minutos, apareceram
fissuras na calota craniana, com a separação da sutura coronal, devido ao
aumento da pressão intracraniana pela produção de vapores. A pele da
cabeça, do tronco e dos membros é consumida, resultando em carbonização
dos músculos subjacentes. Os ossos das extremidades dos membros se
tornam visíveis e as mãos são destruídas ou gravemente queimadas. Em cerca
de 30 minutos, as fraturas do crânio aumentam e ocorre, em alguns casos, a
desarticulação do mesmo em fragmentos (Shkrum & Ramsay, 2007, p.
185). Nesta altura, o cérebro já está com sua superfície externa
carbonizada. A caixa torácica e as e cavidades abdominais são abertas, com a
destruição do esterno e a calcinação das extremidades das costelas, com
danos nos órgãos internos. Cremação dos antebraços e fraturas nos ossos
longos. Após 40 minutos, a calota craniana é destruída, bem como a porção
distal dos braços, com exposição dos úmeros. Após 50 minutos, os braços
desaparecem completamente e os fêmures ficam reduzidos a cotos
queimados. O rosto se desintegra e a base do crânio fica exposta. Após 60
minutos, os órgãos internos se reduzem a cinzas e os membros
desaparecem. Após 1 hora e trinta minutos, ocorre fragmentação do tronco e,
após uma cremação de 2-3 h, o corpo está reduzido a ossos fragmentados e
outros tecidos. Neste ponto, cabe observar que as tradicionais “cinzas” que a
família de um morto recebe para espalhar em algum local relacionado com o
falecido, são estes restos e os do caixão moídos em um moinho (Scott &
Eigen, 1980, p. 7).
A observação de padrões diferentes de queima, como, por exemplo,
maior queima no tronco do que nos membros, requer certa atenção no sentido
de pesquisar o que pode ter ocorrido para a produção desta queima
diferenciada.
As temperaturas em incêndios residenciais podem se aproximar das
atingidas nos fornos crematórios, mas a carbonização completa é incomum
em incêndios em edificações, pois a intervenção de bombeiros e o
esgotamento do combustível significam que a maioria dos incêndios não
tenha a duração suficiente para a total cremação do corpo. Ao contrário de
um forno crematório, onde a chama é contínua e distribuída uniformemente
sobre o corpo, em um incêndio real as temperaturas flutuam e partes do
cadáver não são expostas diretamente às chamas (por exemplo, pressionado
contra algum piso), sendo, assim, relativamente protegidas. Na maioria dos
casos, a carbonização é muito menor do lado do corpo não exposto ao fogo
(Shkrum & Ramsay, 2007, p. 185).
No exame da cena, uma eterna questão que surge é se a vítima
faleceu devido ao incêndio ou se já estava morta quando ele começou. Se já
estava morta, temos a possibilidade de homicídio seguido de incêndio para
apagar vestígios ou outro motivo qualquer. No entanto, nunca se deve
esquecer que é perfeitamente possível que uma pessoa tenha morte natural e
permaneça algum equipamento com capacidade de produzir incêndio em
funcionamento.
Para avaliar se a morte teria sido anterior ao incêndio, a primeira
coisa que o Perito deve observar durante o exame é se a vítima está virada
para cima ou para baixo (decúbito dorsal ou ventral), pois, exceto as
encontrados em camas ou sofás, a maioria das vítimas de incêndio jazem em
decúbito ventral, pois é bastante provável que uma pessoa que agoniza em
um recinto cheio de fumaça irá se curvar ou engatinhar antes de morrer e,
assim, cair para a frente. Disto resulta uma maior probabilidade de encontrar-
se o corpo na posição de decúbito ventral, ou assemelhado. Por outro lado,
também é razoável se esperar que aquelas vítimas que dormiam e foram
sufocadas restem em decúbito dorsal (Shkrum & Ramsay, 2007, p. 185).
O fato de se encontrar a vítima em decúbito dorsal não é,
evidentenmente, conclusivo, mas faz merecer uma atenção adicional na busca
de outros vestígios que possam apontar para uma morte anterior ao evento.
Gebert (2006) aponta uma abordagem prática para traçar hipóteses de
investigação sobre a morte ser anterior ao incêndio ou não (Geberth,
Practical homicide investigation: tactics, procedures, and forensic techniques,
2006, p. 348). Segundo o autor, deve-se observar alguns aspectos que são
fundamentais para se definir se a vítima estava viva no início do incêndio:
- Manchas de fumaça podem ser encontrados ao redor do nariz, no
nariz, na boca e nas vias aéreas superiores;
- O sangue vai ter níveis elevados de monóxido de carbono
(carboxihemoglobina);
- Formação de bolhas e vermelhidão na pele marginal às mesmas;
- Posição de pugilista;
- Soluções de continuidade na pele, com semelhança a ferimentos.
A exposição do cadáver humano a altas temperaturas por um
prolongado período de tempo provoca a contração dos músculos longos dos
membros, o que produz o deslocamento destes membros para próximo do
corpo. Assim, a vítima de incêndio é geralmente encontrada com os braços e
as pernas fletidas, no que parece ser uma pose de pugilista (Figura 33) ou em
posição fetal. As mãos podem assumir uma posição de concha ou de garra.
Esta movimentação se dá de forma gradual e não espasmódica, segundo
Redsicker (Redsicker & O’Connor, 1985, p. 213).
A ausência da posição de boxeador em um corpo que foi exposto ao
calor de um incêndio pode ser um fato suspeito, pois uma das razões para que
ela não ocorra é o estabelecimento de rigor mortis antes do incêncio. Neste
caso, a vítima já estaria morta previamente ao início do fogo (Redsicker &
O’Connor, 1985, p. 214).
Se a vítima estava viva no início do incêndio é muito provável que
tenha inalado fumaça ou fuligem; assim, o corpo deve mostrar vestígios de
fumaça e fuligem em torno da boca e do nariz, indicando que a respiração
continuou durante o incêndio. Isto, evidentemente, se o rosto não estiver
cremado (Redsicker & O’Connor, 1985, p. 214).
Devido à ação do calor, o organismo humano irá formar vesículas (as
populares bolhas) na pele como parte do sistema natural de defesa do
organismo. Estas são as vesículas ante mortem. Entretanto, existem as
vesículas pos mortem. A distinção exata entre os dois tipos só pode ser feita
na autópsia. Há, no entanto, algumas diferenças entre elas que podem ser
detectadas no exame visual. As vesículas post mortem são geralmente
limitadas em tamanho e podem conter apenas ar ou ar misturado com uma
pequena quantidade de fluído corpóreo. Já as vesículas ante mortem são
maiores em tamanho e contêm uma mistura complexa de fluídos. A bolha
cercada por um anel rosa ou vermelho pode ser indicativo de ocorrência
anterior à morte, pois o anel é o resultado de uma reação inflamatória e,
portanto, de ser vivo (Redsicker & O’Connor, 1985, p. 214).
Figura 33 Posição de boxeador (Dix, 1999, p. 119)
Em alguns casos, o padrão de carbonização é invertido, ou seja, há
destruição do tronco, porém com preservação relativa dos membros.
Geralmente, estes casos estão associados com danos mínimos por fogo no
recinto e mulheres idosas e obesas como vítimas. O quadro fez surgir a
especulação de “combustão humana espontânea”, mas o que se tem na prática
são casos de morte natural próxima a uma fonte externa de ignição (por
exemplo, cigarros, lareiras, velas, fogões, aquecedores de ambiente, et
cetera). Nestes casos, se ocorrer a queima de roupas, tecidos ou carpete, por
pelo menos 15 minutos em contato com a pele do abdômen, esta se rompe e
passa a liberar gordura subcutânea derretida, que é o tecido humano mais
inflamável. Se a gordura é absorvida por um tecido poroso, a combinação irá
funcionar como um pavio de uma vela de sebo, mantendo a chama e
derretendo mais gordura, retroalimentando o processo. Este tipo de incêndio
geralmente não irá produzir calor suficiente para inflamar os móveis
adjacentes, mantendo-se restrito ao corpo. Embora a temperatura necessária
para inflamar a gordura humana seja cerca de 250°C, o efeito pavio irá
permitir a combustão em recintos à temperatura ambiente. Nestes casos, as
extremidades distais dos membros, por conterem menos gordura, em
comparação com os troncos obesos dessas vítimas, não irão queimar, mesmo
com o torso ardendo (Shkrum & Ramsay, 2007, p. 187).
As roupas normalmente queimam com temperaturas superiores a
225°C e, dependendo do tipo de vestimenta, sintética por exemplo, corpos
vestidos podem ser destruídos mais rapidamente do que os não vestidos
(Shkrum & Ramsay, 2007, p. 185).
Outro aspecto importante a ser analizado são as fraturas no crânio.
No caso, há que se tomar cuidado para não confundir fraturas devido ao
incêndio com eventuais fraturas anteriores. A diferença é se a fratura é
implosiva ou explosiva.
Uma fratura implosiva pode ter sido causada por uma queda, mas
também pode ter como origem uma agressão prévia, devendo a causa exata
ser mais tarde vista no exame de autópsia. Já uma fratura explosiva é,
geralmente, com a devida exceção das causadas por projéteis (saída e “buraco
de mina”), consequência natural do fogo. O cérebro é composto em grande
parte por água e pode ferver e produzir vapores suficientes para explodir o
crânio, quando exposto ao fogo. Estas fraturas podem seguir a linha de solda
entre os ossos, por serem estes os pontos onde se espera menor resistência
mecânica. Este fenômeno é mais comum em crianças e jovens que ainda não
desenvolveram completamente estas soldas. Em idosos, estas suturas, estão,
entretanto, bastante mineralizadas e resistentes.
A fontanela, a popular “moleira” , junção incompleta entre os
parietais, é o ponto mais fraco do crânio de uma criança ou jovem e, portanto,
o ponto mais provável para a fratura explosiva.
Também são encontrados padrões de fraturas circulares na calota do
crânio que não seguem as linhas de sutura (Redsicker & O’Connor, 1985, p.
214).
Nos incêndios, o cabelo das vítimas pode mudar de cor antes da
carbonização; cabelos grisalhos ficam aloirados a cerca de 120 ° C, enquanto
o cabelo castanho pode assumir uma tonalidade avermelhada perto dos 200 °
C, o cabelo loiro pode tornar-se cinzento e o cabelo preto, o mais comum,
não muda de cor, o mesmo ocorrendo com cabelos pintados. Acima de 260
Cº começa a ocorrer a carbonização e a destruição do cabelo (Redsicker &
O’Connor, 1985, p. 233).
Figura 34 Suturas naturais do crânio.
Os ossos são um tecido, e, como todo tecido vivo, é composto de
células, como diferencial de existir uma matriz intercelular. Essa matriz é
composta de materiais orgânicos, principalmente de colágeno (~ 20%), e sais
inorgânicos de cálcio e fosfato. A queima direta do osso vai ocorrer
primeiramente nas áreas que estão mais próximos à superfície do corpo. Estas
áreas incluem extremidades e as juntas de um modo geral. As áreas com
maior densidade de tecido mole serão queimadas mais tarde e as que estão
isoladas do fogo, como as costas e nádegas (se o corpo está em decúbito
dorsal), serão as últimas a queimar. Em outras palavras, os pontos de contato
que o corpo tenha com o solo ou outro objeto sofrerão atrasos na queima e na
carbonização. Com a eliminação dos tecidos moles macroscópicos (ou seja, a
epiderme, derme, hipoderme, tecido adiposo, músculo e outros tecidos
conectivos moles) o osso passará a sofrer as alterações induzidas pelo calor
que incluem a desidratação, o consumo da parte orgânica, fraturas,
empenamentos e mudanças de cor.
Os ossos e os dentes são restos normalmente presentes na cena de
crime com incêndio e o aspecto macroscópico das diferentes cores
encontradas nos achados foi pesquisado por Lisowski, 1968; Bonucci e
Graziani, 1975; Gejvall, 1969; Heglar, 1984; Shipman et al. 1984; Mayne,
1990; Mayne, Correa, 1997. Acredita-se que a cor do osso remanescente
pode fornecer informações relativas à condição física do mesmo e ao
contexto da queimadura. A tabela abaixo no fornece um resumo das
interpretações para as várias cores encontradas nos ossos cremados
(Fairgrieve, 2008, pp. 46-47).

Interpretação para Cores de Ossos Queimados (Fairgrieve, 2008, pp. 47-48).


Cor Interpretação Referências
Marrom Descoloração da hemoglobina ou do solo. Gejvall, 1969;
Lisowski, 1968.
Preto Osso carbonizado devido à queima em Herrmann, 1970.
ambiente pobre em oxigênio.
Cinza-azul, cinza Pirólise dos compostos orgânicos. Dokládal, 1969,
1970
Branco Calcinação, perda completa da porção Mayne, Correia,
orgânica e fusão de sais do osso. 1997
Outras cores: verde, amarelo, Queima na presença de Dunlop, 1978;
rosa e vermelho. metais, incluindo o cobre, Gejvall,
bronze ou de ferro.

Com a exposição direta dos ossos começa o processo de mudança de


cor. Num primeiro momento o osso assume uma coloração âmbar, pois os
componentes orgânicos do osso não foram completamente eliminados. Na
verdade, o periósteo ainda pode estar intacto em algumas áreas. No entanto,
como o processo continua, o osso começa a escurecer. Nesta fase, o periósteo
é completamente eliminado e o fogo degrada os componentes inorgânicos do
osso. A mudança para cor preta indica que o osso atingiu uma temperatura de
cerca de 300 º C (Fairgrieve, 2008, p. 48).
A mudança para a cor cinza indica que o osso atingiu uma
temperatura de pelo menos 600 º C. Esta cor cinza é uma evidência de que a
parte orgânica do osso é lixiviada para fora dele.
Com o aumento do calor, o osso pode assumir um aspecto azul-
acinzentado que eventualmente pode se transformar em branco. Para atingir
esta coloração o osso necessita ser exposto à temperatura de pelo menos 800 º
C. É claro que o osso pode atingir temperaturas superiores a 800 º C, mas a
cor branca é a cor final deste processo (Fairgrieve, 2008, p. 49).
Os ossos do corpo, em especial os longos, quando expostos ao calor,
podem apresentar diversos tipos de fraturas.
Fraturas do tipo pátina são um tipo de fratura que é observada na
superfície dos ossos, geralmente nos ossos chatos, mas também ocorrem na
superfície dos ossos longos. São fissuras finas que não penetram até a
cavidade interna.

Figura 35 Fratura do tipo Pátina (Fairgrieve, 2008, p. 50)


Fraturas longitudinais são as que ocorrem ao longo do eixo de um
osso longo e podem penetrar até a cavidade interna, estas fraturas seguem a
orientação das fibras de colágeno constituintes dos ossos.
Fraturas curvilíneas são aquelas se produzem transversalmente aos
ossos longos ou de maneira oblíqua. Estas fraturas podem ir até a cavidade e
produzir, assim, uma transecção completa do osso.
Finalmente, as fraturas de laminação aparecem como uma escamação
ao longo da superfície dos ossos.

Figura 36 Fratura longilínea em osso longo (Fairgrieve, 2008, p. 51)


Figura 37 Fratura curvilínea (Fairgrieve, 2008, p. 51)
III. Afogados
Aspectos Gerais

Figura 38 No perído pesquisado de 10 anos (2008-2017) temos o expressivo número de 64.506 casos
(Ministério da Saúde, Brasil, 2019)

Destes afogamentos, temos um por cento do total qualificado como


homicídio e dois por cento como suícídio, não parecendo à primeira vista
uma forma muito usual para se cometer assasinatos ou de morrer pelas
próprias mãos. Entretanto, o alto percentual de indefinidos (dez por cento),
leva-nos a suspeitar que o assunto mereça mais atenção, ou mais pesquisas,
dos órgãos da polícia judiciária.
Igualmente, o elevado número destas mortes por acidentes (56.046,
no período pesquisado) (Ministério da Saúde, Brasil, 2019) levanta a hipótese
de situação de homicídio culposo, exigindo da perícia criminal investigação
sobre eventual negligência ou imperícia de terceiros.
Neste sentido, a perícia criminal, em casos de afogamentos, deve se
preocupar também com o entorno da cena e não somente com o cadáver,
contrariando a prática usal de tratar caso como mero recolhimento de
cadáver, delegando ao legista a maior responsabilidade pelo trabalho (Figura
39).
Figura 39 Corpo de mulher semi-submerso. A área imprópria para banho e a ausência de roupas
sugerem morte não acidental. A presença de galhos e ramos sugere corpo arrastado pela água em valo
com mudança drástica de nível com a chuva (Barreto, 2019).

A morte por afogamento é definida como uma morte devido à


submersão em um líquido com quadro de hipoxemia e irreversível anóxia
cerebral (Di Maio & Di Maio, 2001). Entretanto, apenas para efeitos de
sistematização, colocaremos afogamento como aquele tipo de asfixia que é
produzida pela oclusão das vias respiratórias por água. É correto dizer que
afogamento é mais complexo do que isto, mas, para escopo deste trabalho,
essa classificação é suficientemente boa.
Para cada corpo encontrado na água, abrem-se as perguntas clássicas
sobre o cadáver: De que morreu? Como morreu? Quem o matou? A
morte na água não é simples e nem uniforme, pois, para complicar o quadro,
nem todo o corpo recuperado da água é vítima de afogamento. Na prática da
perícia criminal, essas perguntas básicas podem ser assim reformuladas:
1. Será que a morte ocorreu antes ou depois da entrada na água?
2. A causa da morte é afogamento? Se não, qual foi a causa da morte?
3. Por que a vítima entrou na água?
4. Por que a vítima foi incapaz de sobreviver na água?
É de se notar que a primeira e a segunda perguntas são da alçada da
medicina legal, mas a perícia criminal entra nas outras duas, além de dar
algum subsídio para as duas primeiras, pois o diagnóstico de afogamento é
descrito na literatura como um dos mais difíceis na literatura do campo da
medicina forense e de fato, o exame externo e os resultados da autópsia não
são, na maioria dos casos, específicos e as investigações laboratoriais
apresentam discussões controversas na comunidade científica (Audrey
Farrugia & Ludes, 2011)
A fim de responder a estas perguntas é necessário correlacionar
informações sobre as circunstâncias anteriores à morte, incluindo o histórico
médico do falecido, as circunstâncias de recuperação do corpo da água, a
autópsia e as análises laboratoriais correlatas, com a devida coleta de água do
local onde o corpo foi encontrado. Infelizmente, nem sempre a autópsia pode
apontar com certeza absoluta a causa da morte e o diagnóstico de afogamento
é largamente dado por exclusão; assim, outros achados, por exemplo, a
investigação de como a vítima entrou na água, podem ser de importância
magna para tipificar o ocorrido.
O afogamento é, evidentemente, a principal causa da morte na água,
mas não é a única. Assim, outras causas não podem ser afastadas de imediato.
Na prática, podemos dizer que todas as formas de morte são possíveis antes
de o corpo restar na água, da mesma maneira que todas as mortes são
possíveis antes de um corpo ser encontrado sobre a terra (Shkrum & Ramsay,
2007, p. 246). O afogamento em si ocorre quando a água ou outro líquido é
inalado, enchendo os espaços alveolares e impedindo a troca gasosa
(Catanese, 2010, p. 375). Informações importantes sobre as circunstâncias
anteriores, ou seja, onde iniciou o processo e onde a vítima ficou submersa,
são lacunas em muitos casos. Alguns estudos na Carolina do Norte indicam
que havia testemunhas em apenas metade a três quartos dos afogamentos
pesquisados (Shkrum & Ramsay, 2007, p. 244), o que não significa dizer que
o testemunho não seja confuso, incompleto ou, eventualmente, falso.
Como o afogamento é definido classicamente como a entrada ou a
aspiração de líquido através do nariz e da boca para o trato respiratório, essa
definição, exclui, a rigor, os “afogamentos” causados pela aspiração de
vômito, sangue, saliva, bile, ou mecônio. Contudo, para os efeitos práticos da
criminalística, podem ser tratados como tais, não havendo a necessidade de se
criar mais uma classe de asfixia (Pearn J. , Pathophysiology of drowning,
1985, pp. 586-588).
A imersão completa do corpo não é necessária para o afogamento.
Um bebê, um ancião, um deficiente ou mesmo um adulto em estado alterado
de consciência podem se afogar, ou serem afogados, em uma lâmina pequena
de água, bastando para isto que o nariz e a boca estejam cobertos pelo líquido
(Pearn & Nixon, Bathtub immersion accidents involving children, 1977, pp.
211-213). Como exemplo do citado, temos, em nossa casuística, uma mulher
que foi arremessada para fora de automóvel em evento de acidente de trânsito
e faleceu por afogamento com apenas a cabeça imersa em um pequeno
córrego.
A principal consequência orgânica de um afogamento é a hipóxia
aguda ou a anóxia. O volume e a composição do líquido onde a vítima se
afoga irão determinar os mecanismos fisiopatológicos que levarão à hipóxia e
à parada cardíaca. Entretanto, a simples aspiração de água (”água nos
pulmões”) pode se dar na fase agônica de outros tipos de morte, naturais ou
não naturais, desde que ocorridas em meio aquático, existindo, inclusive, as
hipóteses de entrada de água post mortem e os chamados afogamentos
“secos”, como veremos adiante. Na autópsia, o diagnóstico de afogamento
exige, portanto, a exclusão destas outras possibilidades (Shkrum & Ramsay,
2007, pp. 242-256) (Geberth, Practical homicide investigation: tactics,
procedures, and forensic techniques, 2006, p. 345).
A autópsia é essencial na determinação da causa e da maneira da
morte, mas não é a única fonte de conhecimento sobre um afogado. A
sentença de que a vítima estava viva ao entrar na água e, provavelmente,
tenha se afogado será baseada em vários achados internos e externos,
juntamente com a análise das circunstâncias da morte (Shkrum & Ramsay,
2007, pp. 242-256).
Como toda e qualquer morte, o tempo é inimigo da determinação da
sua causa. Um intervalo de submersão prolongada irá prejudicar os poucos
achados patológicos disponíveis.
A Perícia da morte em banheira inclui a hipótese de afogamento. É
crítico estabelecer a posição do corpo, como se encontrava o nível da água e
se o nariz e a boca estiveram totalmente submersos. Pessoas inconscientes
podem se afogar em águas bastante superficiais, desde que seja
suficientemente profunda para cobrir o nariz e a boca. A inconsciência na
sequência de um ataque epiléptico ou cardíaco, o consumo de álcool ou
drogas ou um ferimento na cabeça devido a uma queda podem levar ao
afogamento na banheira. Suicídios por afogamento na banheira são incomuns
e, nestes casos, as vítimas são frequentemente encontradas em decúbito
ventral e vestidas. Em resumo, um banheiro pode ser mais perigoso devido ao
risco de eletroplessão, queda de idosos ou intoxicação por monóxido de
carbono do que por afogamentos (Siegel, Saukko, Knupfer, & James, 2005,
p. 227).
No caso de suicídio, o afogamento associado com precipitação é
comum. Cada lugar possui, tradicionalmente, a sua “ponte dos suicidas”. No
caso de Porto Alegre, o local de eleição era a ponte sobre o rio Guaíba nas
décadas de 1960 e 1970. Depois, como toda a moda, passou.
Pessoas que tentam o suicídio saltando de uma ponte ou de um
penhasco para a água podem sofrer lesões causadas pelo choque contra as
rochas ou contra a própria água, incluindo fraturas de costelas, esterno,
coluna e lesões no coração e nos pulmões. O mergulho em águas rasas pode
resultar no impacto da testa contra o fundo e perda da consciência. Achados
frequentes nestes casos são hemorragias nos músculos do pescoço, com ou
sem fratura associada das vértebras cervicais, e hematomas e escoriações na
face ou na testa (Siegel, Saukko, Knupfer, & James, 2005, pp. 227-229).
A morte pela prática de mergulho é virtualmente inexistente no Rio
Grande do Sul pela não popularidade deste esporte e pela falta de atividade
econômica offshore, além da pesca. Entretanto, este quadro pode mudar com
a instalação eventual de plataformas de pesquisa de hidrocarbonetos ao longo
da costa ou obras de infraestrutura.
Conforme James (Siegel, Saukko, Knupfer, & James, 2005, pp. 229-
227), a maioria das mortes em mergulho tem como vítima os que o praticam
atividade recreativa. As causas mais comuns de morte são por afogamento e
barotrauma, sendo necessária a realização de perícia especializada nos
equipamentos utilizados para procura de falhas em ambos os casos.
Vestígios no Corpo
Achados Externos
Todos os corpos recuperados da água, independentemente da causa
mortis, apresentam achados pos mortem semelhantes, resultantes da imersão
no meio líquido. Um dos achados mais comuns é a maceração da pele, que
passa a ter um aspecto de descascada, inchada e enrugada, como resultado do
aumento da hidratação da epiderme. A maceração (Figura 43) aparece em
primeiro lugar nas extremidades dos dedos das mãos e dos pés. Na mão,
segue a seguinte ordem: palmas, dorso dos dedos e dorso da mão. Quando
plenamente desenvolvida, é mais marcante nas palmas das mãos e nas plantas
dos pés. Em água quente, as alterações iniciais podem ser vistas dentro de
uma hora. Geralmente, ocorrem mudanças perceptíveis por qualquer pessoa
no período de 24-48h, mas esses processos podem ser atrasados em vários
dias em águas muito frias, como as da costa do Rio Grande do Sul no inverno
(Siegel, Saukko, Knupfer, & James, 2005, p. 229). Com o desenvolvimento
da putrefação, a epiderme, incluindo as unhas, descasca como uma luva ou
uma meia (Figura 40, Figura 41), podendo ocasionar o escalpelamento da
vítima (Figura 42). As impressões digitais podem ser obtidas trabalhando-se
com esta luva. Cicatrizes e tatuagens são facilmente vistas. Ocasionalmente,
bactérias invadem a derme após um período de imersão de, pelo menos, 1 a 2
semanas, podendo produzir padrões de pigmentação e causando, às vezes,
confusão com tatuagem (Siegel, Saukko, Knupfer, & James, 2005, p. 229).
Figura 40 Epiderme do pé direito descascada em afogado

Figura 41 Epiderme da mão descascada (luva) (Barreto, 2019)

Um corpo mergulhado em água geralmente se decompõe mais


lentamente, porque a temperatura da água é mais fria do que a do ar à sua
volta e também pela pobreza de oxigênio no meio aquático. Como o corpo
humano tem o peso específico maior do que o da água, ele afunda
inicialmente. Uma vez submerso, o corpo se move na posição de cabeça para
baixo (Figura 44, Figura 45), o que, às vezes, resulta na abrasão da testa em
contato com o fundo do leito. Após um período de 3 a 4 dias na água morna,
e cerca de uma semana na água fria, o corpo retorna à superfície, devido à
formação de gases da putrefação. Às vezes, a pele e os tecidos se rompem,
liberando gases e o corpo afunda novamente. Este processo pode ser repetido
algumas vezes (Fisher, 2003, p. 229) (Figura 44, Figura 45).

Figura 42 Perda de cabelos em corpo de mulher imerso em córrego (Barreto, 2019)

Hobischak e Anderson, no Canadá (Hobischak & Anderson, 1999,


pp. 32:97–106), observaram o problema da falta de padronização dos
descritos nos achados de decomposição humana em corpos resgatados da
água e uma completa falta de evidência entomológica reconhecida e
estudada. Em um esforço para melhorar esta situação, Petrik et al realizaram
um estudo para documentar a decomposição humana nos corpos recuperados
dos mais variados ambientes de água doce. As recuperações foram
registradas por vídeo e fotografias. Estados de decomposição, características
da água, o grau de antropofagia e de colonização da fauna foram registrados
. Em todos os casos, verificou-se que a data da morte oficial da vítima foi
arbitrada pelas autoridades a partir de dados testemunhais sobre o último
relato de encontro com vida, ao invés de se basearem nas características de
decomposição ou da fauna (Petrik, Hobischak, & Anderson, 2004, pp. 9-
17).
Figura 43 Maceração em mão de mulher (Barreto, 2019)

Figura 44 Posição típica de afogado em livre flutuação com as áreas sujeitas a lesões post mortem em
corpos submersos (Fisher, 2003, p. 441)
Figura 45 Corpo em livre flutuação (Barreto, 2019)

Em outros estudos (Anderson & Hobischak, Determination of time


of death for humans discovered in saltwater using aquatic organism
succession and decomposition rates. Technical Report TR-09-2002 , 2002)
(Anderson & Hobischak, Decomposition of carrion in the marine
environment in British Columbia, Canada, 2004, pp. 118:206–9), observaram
a decomposição de carcaças de suínos em ambiente marinho, perto de
Vancouver. Doze porcos foram colocados em duas profundidades: 7,6m e
15,2m. Cada carcaça foi amarrada com corda e fixada a uma âncora, feita de
blocos de concreto. A corda permitia a carcaça flutuar ou afundar livremente,
porém sem ser arrastada por correntes, marés ou ventos. Seis carcaças foram
colocadas na primavera e seis no outono, três em cada profundidade. As
carcaças foram observadas, filmadas e fotografadas.
Figura 46 Decomposição de Afogado (Geberth, Practical homicide investigation: tactics, procedures,
and forensic techniques, 2006, p. 346)
Todas as carcaças flutuaram num primeiro momento, mas afundaram
em algumas horas e, na fase gasosa da decomposição, todas voltaram a
flutuar. Em alguns casos, as carcaças mantiveram gases no estômago, que as
fizeram flutuar além da fase gasosa propriamente dita. Uma grande variedade
de artrópodes foi atraída para as carcaças, alguns para a devorarem, outros
para procurar abrigo e também foram observados os que lá estavam para se
alimentar dos primeiros e dos segundos (Anderson & Hobischak,
Determination of time of death for humans discovered in saltwater using
aquatic organism succession and decomposition rates. Technical Report TR-
09-2002 , 2002, pp. 118:206–9). A população foi significativamente maior
nas carcaças que estavam na profundidade de 15,2m do que nas que estavam
a 7,6m, e, também, diferenças de espécies colonizadoras foram observadas.
A estação do ano teve uma forte influência na diversidade e
quantidade de fauna colonizadora, com números bem maiores de espécies nas
carcaças da primavera do que as encontradas nas carcaças do inverno
(Shkrum & Ramsay, 2007, p. 246).
Um corpo em água normalmente afunda. Alguns corpos podem
flutuar, porque o peso específico de um cadáver está muito perto do da água
e pequenas variações, como a do ar preso na roupa, tem um efeito
considerável sobre a flutuabilidade. Uma vez depositado no fundo, o corpo
permanecerá lá até a formação do gás da putrefação, que irá diminuir o peso
especifíco e, consequente, provocará a volta do cadáver à tona. Vestuário e
pertences pesados podem atrasar o processo, mas não irão, normalmente
impedir que o corpo volte para a superfície. A principal determinante da taxa
de putrefação é a temperatura da água; logo, em águas profundas e muito
frias o corpo pode nunca voltar a flutuar, pois será consumido pela fauna
aquática antes de se putrefar. Na água, o corpo normalmente flutua com a
face para baixo e com a cabeça, os braços e as pernas em nível inferior ao
tronco. Por conseguinte, o livor mortis será mais proeminente nos membros,
na cabeça, no pescoço e na região anterior do tórax. Os processos de
decomposição, quando eles se desenvolvem, serão mais proeminentes dentro
dessas áreas de lividez (Siegel, Saukko, Knupfer, & James, 2005, p. 229)
(Figura 47, Figura 48).

Figura 47 Corpo submerso com apenas a mão em contato com o ar. Notar a diferença de decomposição
(Dix, 1999, p. 68)

Figura 48 Corpo submerso com o dorso em contato com o ar. Ver diferença de decomposição (Barreto,
2019)
A posição de flutuação de um corpo à deriva ao longo de um curso
de água ou sujeito ao vagar de ondas, marés ou correntes costeiras poderá
apresentar um padrão de lesões post mortem, que refletirá a sua posição
flutante. Abrasões poderão ser encontradas na testa, nos pontos proeminetes
da face, na região anterior do tronco, o dorso das mãos e a região anterior das
pernas. O corpo pode ser atacado por tubarões, por peixes pequenos ou outra
fauna selvagem. As partes moles do rosto, como os olhos, por exemplo, são
particularmente vulneráveis a peixes e crustáceos. Lesões post mortem
podem também ser inadvertidamente produzidas durante a recuperação do
corpo usando ganchos ou cordas. Lesões post-mortem em áreas de lividez
ainda não permanentes podem sangrar, simulando feridas antemortem
(Siegel, Saukko, Knupfer, & James, 2005, p. 230)
Um dos achados externos mais comuns no afogado é a presença de
espuma esbranquiçada, resultado da mistura do muco com a água, na boca,
no nariz e na tráqueia (Geberth, Practical homicide investigation: tactics,
procedures, and forensic techniques, 2006, p. 245).
Achados Internos
Alguns resultados da autópsia são típicas, mas não especifícos, de
afogamento e também não presentes em todos os afogamentos. A observação
simultânea de espuma no nariz e na boca (Figura 49), líquido espumoso nas
vias aéres e enfisema aquoso nos pulmões são indicativos muito fortes de
afogamento, mas, infelizmente, esta combinação se encontra presente em
apenas 10% dos casos entendidos como afogamento. A freqüência destes
achados diminui significativamente com o aumento do tempo imersão pós-
morte, como conseqüência do desenvolvimento da putrefação. A espuma,
geralmente de coloração esbranquiçada, é vista exalando da boca e das
narinas e é encontrada na traquéia e brônquios principais. Às vezes, é
também misturada com sangue, apresentando uma cor do róseo ao vermelho.
A composição da mesma é uma mistura de ar, muco, fluido de edema
pulmonar e, em menor medida, água inalada, mesclados pelo esforço
respiratório; sendo assim, é produto de um processo vital, ou seja, a pessoa
ainda vivia quando a espuma se produziu, sendo um fenômeno ante mortem.
No entanto, a espuma não é específica para o afogamento e é encontrado em
outros casos, como edema pulmonar grave, overdose de heroína ou
insuficiência cardíaca congestiva. Sem a mistura com água, espuma é
também vista em casos de ferimento no pulmão. Em um corpo na água, a
espuma persiste até que ele seja destruído pela putrefação, que irá substuí-la
por um líquido marrom-avermelhado, malcheiroso, contendo bolhas de gases
da putrefação. (Siegel, Saukko, Knupfer, & James, 2005, p. 230).

Figura 49 Espuma
Os pesos dos pulmões de afogados em água doce e os dos afogados
em água salgada não são estatisticamente diferentes. A média do peso
combinado dos dois pulmões em afogamento em qualquer um dos meios é de
aproximadamente 1.4 kg, com um desvio padrão de 400 g. Este levantamento
também indica, daí o elevado desvio padrão, que não há aumento de peso dos
pulmões em cerca de 10 a 15% dos afogamentos, os quais são caracterizados
como “afogamentos secos” por vários autores. No período imediatamente
post mortem há extravasamento de líquido. O peso dos pulmões após o
afogamento é significativamente influenciado pelo sexo e pela idade da
vítima (Siegel, Saukko, Knupfer, & James, 2005, p. 231).
Material, como areia, lodo, conchas e ervas daninhas podem ser
encontrados nas vias aéreas, pulmões, estômago e duodeno de corpos
retirados da água. Estes materiais podem entrar pela faringe e daí passar para
a traqueia e para o restante do sistema respiratório durante a imersão post
mortem. É possível que pequenas quantidades destes materiais podem entrar
no esôfago e no estômago, no caso de corpos na água que não afogados, mas
é improvável que alcancem os bronquíolos e alvéolos em quantidades
significativas se a morte não for por afogamento. Assim, para corpos
recuperados dentro de 24 horas após a submersão, o achado de material
estranho de forma abundante geralmente distribuído dentro dos alvéolos
fornece fortes indícios de imersão ainda com vida e, consequentemente,
afogamento.
Encontrar grandes quantidades de areia nas vias aéreas superiores
aumenta a probabilidade de inalação de água com areia em suspensão,
situação típica produzida por ondas em praias de mar aberto. Nestas
circunstâncias, a morte é muito rápida e a presença de grandes quantidades
destes detritos e de água dentro do estômago sugere fortemente a imersão
durante a vida. Após a submersão, a vítima pode tentar parar a respiração por
tanto tempo quanto for possível, processo este que será interrompido por um
uma aspiração involuntária e com ingestão de água; assim, a ingestão de
grandes quantidades de água só é susceptível de ser encontrada naqueles que
tentaram estender apneia voluntariamente. A ausência do meio de
afogamento no estômago sugere uma morte rápida por afogamento ou uma
morte por outras causas, tais como parada cardíaca ou a morte antes da
entrada na água. Em casos mais raros, ervas daninhas, galhos e outros
materiais podem ser encontrados nas mãos da vítima. Este processo também
pode se dar por espasmo cadavérico (rigor mortis instantâneo), mas fornece
uma boa evidência de que a vítima estava viva, consciente e lutando no
momento da submersão (Siegel, Saukko, Knupfer, & James, 2005, p. 231).
Vítimas lutando violentamente para sobreviver na água podem
apresentar contusão ou ruptura dos músculos, principalmente na cintura, no
pescoço e no peito. Estas lesões são fortes indicativos de que a vítima entrou
viva na água, mas não devem ser confundidas com eventos de agressão ante
mortem (Siegel, Saukko, Knupfer, & James, 2005, p. 231).
Afogamento “Seco”
Morrer na água não significa, necessariamente, afogamento. Em até
15% dos casos ocorre o chamado afogamento seco. Trata-se de contusão na
cabeça ou outro órgão, no mergulho, choque térmico pela entrada em água
muito fria, estimulação do nervo vago ou outras causas. Nestes casos, a
entrada de água nos pulmões é mínima; daí uma das ideias para o nome de
afogamento seco. Neste tipo de vítima é provável um maior período de
flutuação do cadáver (Rebmann, Edward, & Marcella, 2000, p. 161) (Figura
50).

Figura 50 https://www.checkupnewsroom.com/dry-drowning-and-children-what-parents-should-know/
Não há aumento de peso dos pulmões em cerca de 10 a 15% dos
afogamentos, os quais são caracterizados como “afogamentos secos” por
vários autores. Pounder, entretanto, entende que esta terminologia é confusa e
ilusória, não a recomendando “In the past, these cases were often
characterized as ‘dry drowning’, a confusing and misleading terminology that
is not recommended” (Siegel, Saukko, Knupfer, & James, 2005, p. 230).
A ocorrência de grave espasmo glótico foi pensada como mecanismo
possível para a prevenção de entrada de água nos pulmões (Shkrum &
Ramsay, 2007, pp. 244, 254).
Testemunhas descreveram situações em que as vítimas estavam
nadando, boiando ou se atirando na água e simplesmente afundaram sem se
debater. Nestes casos, mesmo com a remoção imediata e trabalhos de
reanimação, a morte parece ter sido imediata. Em um estudo de 34 casos
deste tipo, para os quais foi possível obter informações, apenas quatro
indivíduos voltaram à tona. A quantidade de água aspirada é muito pequena e
a parada cardíaca respiratória parece ter impedido a aspiração de mais
líquido. Uma súbita entrada de uma pequena quantidade de água no pulmão
pode estimular o nervo vago a produzir uma parada cardíaca imediata. A
síndrome afeta particularmente a meia-idade ou homens mais velhos que
tenham ingerido etanol (Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 244, 254).
Afogamento Tardio
Nos casos de recuperados de afogamento, as complicações
pulmonares podem surgir sem perda de consciência ou cessação da
respiração. Danos nos alvéolos podem se desenvolver em até 12 horas após
um incidente de quase afogamento. Mesmo após ser “salva” a vítima
permanece com risco de aspiração do conteúdo gástrico. A aspiração e a
inalação de material estranho podem contribuir para o surgimento de
infecções e morte por septicemia (DeNicola, Falk, Swanson, Gayle, &
Kissoon, 1997, pp. 13:477-502). Cerca de um terço de todos os sobreviventes
deste tipo de evento apresenta ter de moderada a grave lesão cerebral. É
bastante possível que a lesão cerebral possa ser classificada como dano
permanente à vítima, gerando ação do estado ou da própria vítima, no caso de
outro ter dado causa ao evento (Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 244-254).

Afogamento Secundário: Alguma literatura se refere a afogamento


secundário quando o mesmo é decorrência de um evento anterior, como, por
exemplo, a queda de um veículo na água e morte por afogamento dos seus
ocupantes (Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 244, 254).
Somos da opinião, entretanto, que a utilidade desta classificação seria
meramente didática.
Colapso pós-resgate, com morte, pode ocorrer durante ou logo após o
resgate das vítimas de imersão em água fria (Shkrum & Ramsay, 2007, pp.
253-254). Isso tem sido observado em água até 18°C. Como processo
apontado, temos a compressão pela água das veias periféricas dos membros
inferiores e a redistribuição do sangue para a parte superior do corpo. Com o
aumento do volume de sangue na parte central, temos eventual diurese e
hipovolemia. A vasoconstrição periférica agrava este fenômeno. Igualmente,
quando um indivíduo é içado, o corpo sente os efeitos da gravidade,
ocorrendo acúmulo de sangue venoso nas extremidades inferiores por retorno
cardíaco e dificuldade de circulação para o cérebro. O esforço físico da
vítima em auxiliar o resgate pode agravar o quadro (Shkrum & Ramsay,
2007, p. 254).

Águas Frias e Hipotermia


A imersão súbita em água fria produz uma queda brusca na
temperatura da pele e inicia um conjunto de reflexos no sistema
cardiorrespiratório, dentre eles, a sensação de falta de ar e a diminuição
acentuada do tempo de retenção de ar nos pulmões, com o aumento da
possibilidade de inspiração de água em locais agitados ou com turbulência e
possível arritmia, particularmente em pessoas na meia-idade, idosos ou
enfermos cardiovasculares. Estes fatores podem explicar os afogamentos em
distâncias relativamente próximas da margem ou de algum ponto seguro
(Siegel, Saukko, Knupfer, & James, 2005, p. 228).
Prolongada imersão em água fria traz o risco de hipotermia, que é
definida pela temperatura corporal profunda, não a da pele, inferior a 35° C.
Em condições de laboratório, com a cabeça para fora da água (sim, a pesquisa
encontrou voluntários), a temperatura corporal profunda de um adulto
vestindo roupas agasalhos sobre a roupa comum cai para 35ºC, limite adotado
pela pesquisa, após 1h em imersão em água a 5ºC; após 2 h em água a 10ºC;
e, depois de 3 a 6 horas em água a 15ºC. Tempos inferiores a estes tornam a
hipotermia (Figura 51) improvável em adultos vestidos e sadios. Entretanto,
por razões éticas, não foram feitas experiências de imersão em água fria em
crianças, velhos, doentes e mulheres grávidas. Por outro lado, como a cabeça
é rica em suprimento de sangue, em águas abertas, com vento e com maior
condição de evaporação, estes tempos podem ser inferiores, pois a cabeça
estará molhada. Redução do fluxo sanguíneo para a pele, vasoconstrição
periférica e aumento da produção de calor pelos tremores são mecanismos
para conservar o calor. As informações de levantamentos históricos sugerem
que 90 a 120 min é o limiar de sobrevivência na água a 0ºC (Shkrum &
Ramsay, 2007, pp. 244, 254).
O álcool, apesar de seu efeito vasodilatador, não parece aumentar a
perda de calor; por outro lado, os indivíduos pesquisados relatam que se
sentiram mais quentes com a ingestão de bebida e apresentaram redução dos
tremores de frio durante e após a submersão (Shkrum & Ramsay, 2007, pp.
252-254).
Com a queda da temperatura corporal para 34° a 30° C, o nível de
consciência diminui progressivamente e é provável que comece a aspiração
de água, a menos que a cabeça da vítima seja mantida acima da água por um
colete salva-vidas. Se a pessoa não morrer afogada, a partir de 28ºC os
processos cardíacos que a irão levar à morte começarão a se manifestar
(Siegel, Saukko, Knupfer, & James, 2005, p. 228), a natação tornar-se-á
ineficaz (Shkrum & Ramsay, 2007, p. 254), ocorrerá fibrilação ventricular e a
atividade cerebral cessará a 22°C.

Figura 51 Hipotermia em senil. Uma praia do Guaíba. As setas apontam depósito de areia do lago que
mudou de nível. A medida entre a areia e o nível no momento do exame, comparada com as tábuas de
altura do porto, foi usada para estimar a hora da morte. Foto do Autor
Algas e Testes de Laboratório
As dificuldades inerentes da autópsia de corpos recuperados da água
levaram à busca de diagnósticos de laboratório. Foram tentadas análises de
deslocamento de fluídos e eletrólitos, peso específico do sangue e outros, mas
todos estes testes, apesar de ajudarem, não podem ser considerados
definitivos. Atualmente, temos apenas um teste de ampla aceitação, que é o
teste de diatomáceas. Diatomáceas, ou Bacillariophyceae, são uma classe de
microscópicas algas unicelulares, das quais cerca de 15 000 espécies são
conhecidas, que vivem tanto na água doce, como na água do mar. A estrutura
das células das diatomáceas é única, pois elas secretam um esqueleto rígido
externo, feito de sílica, que é quimicamente inerte e quase indestrutível,
sendo resistente aos ácidos fortes. A classificação das diatomáceas é baseada
na sua estrutura de sílica. Durante o afogamento, as diatomáceas presentes no
meio poderão entrar na circulação sistêmica, após passar pelos pulmões, e se
alojarem nos tecidos, como os da medula óssea. Os tecidos do pulmão não
devem ser utilizados para testes, pois são facilmente contaminados pos
mortem, não havendo grande diferença entre afogados e corpos mortos caídos
na água, quanto ao aspecto da presença de diatomáceas. Este teste, no caso de
afogamento, baseia-se na busca destas algas na medula óssea e na
comparação destas com as da água onde a vítima teria se afogado; o que
reforça a importância da coleta de amostra de água dos possíveis locais de
afogamento. Dadas as devidas precauções para evitar a contaminação, este
teste é evidência comprobatória forte de morte por afogamento, valendo
também para corpos já em decomposição, desde que não tenha ocorrido
mutilação dos ossos do cadáver (Siegel, Saukko, Knupfer, & James, 2005, p.
232).
Um ramo da Biologia é de especial interesse para o estudo de
afogados: A Limnologia. Este é o nome da disciplina que originalmente se
concentrava no estudo dos lagos de água doce, mas hoje se estende para os
lagos, lagoas, reservatórios, rios, açudes, represas, riachos, brejos, áreas
inundáveis, águas subterrâneas, águas temporárias, nascentes e fitotelmos.
Essa disciplina pode ser útil para a associação de vítimas e suspeitos de
assassinato a um determinado local de afogamento ou de deposição de um
cadáver, com a necessária pesquisa de material nas roupas ou nos sapatos,
por exemplo, ou de constatação de diatomáceas no corpo (Coyle, 2005, pp.
15, 143).
Em particular, as plantas aquáticas, por exemplo, algas e diatomáceas
(Figura 52), são úteis para ligar suspeitos a um crime ou para estabelecer que
o afogamento ocorreu em água doce, água tratada ou salgada, pois, como já
foi dito, as diatomáceas são facilmente identificadas e classificadas. As
populações de diatomáceas podem variar sazonalmente. Em climas mais
frios, podem ocorrer em grandes expansões no início da primavera. Após essa
expansão, ocorre uma mortandade, mas os seus “esqueletos” de sílica
permanecem na água durante o verão, devido à natural dificuldade de
decomposição das suas paredes. Cada tipo de diatomácea em uma forma
característica e índice de refração próprio, dada a composição de sílica, que
ajuda na identificação das diferentes espécies presentes no cadáver ou na
cena. Em um estudo de 771 casos, no Canadá, as diatomáceas foram
encontradas em 28% dos casos de afogamento em água doce, mas raramente
foram encontrados em afogamentos em água tratada.

Figura 52 Diatomáceas Marinhas (Wikipedia Foundation), autor Prof. Gordon T. Taylor, Stony Brook
University
Como exemplo de estudo de caso concreto de uso do conhecimento
de Limnologia, temos um caso de 1991, onde dois jovens foram atacados por
assaltantes enquanto pescavam em um lago em Connecticut (Coyle, 2005, p.
173). Os rapazes foram amarrados com fita adesiva, espancados e arrastados
para dentro da lagoa para se afogarem. Um dos garotos conseguiu se libertar,
salvar a si e ao amigo. Depois de muitas horas de investigação criminal, três
suspeitos foram presos. Para ligação dos suspeitos com a cena do crime, os
investigadores aproveitaram a presença de sedimentos nos calçados das
vítimas e dos agressores. Uma análise microscópica das amostras de cada par
de calçado, além de exemplos de referência da lagoa, mostrou a presença das
mesmas espécies de algas e semelhante padrão de distribuição de cada uma
delas. Estes resultados apoiaram a posição de que todas as amostras eram
originadas a partir de um mesmo local de água doce (Coyle, 2005, pp. 172-
173).
Diatomáceas são microrganismos eucariontes unicelulares que
ocorrem nos mais diversos ambientes úmidos e aquáticos, suspensos na
coluna d´água ou aderidos a diversos substratos: macrófitas (epifíticas),
rochas (epilíticas), animais (epizóicas), grãos de areia (episâmicas),
sedimento (epipélicas). São fotossintetizantes, possuindo clorofilas do tipo a
e c, mas poucas espécies são capazes de resistir heterotroficamente a
condições de pouca luz e de baixa disponibilidade de matéria orgânica. A
principal característica morfológica das diatomáceas é a parede celular
impregnada de sílica (SIO2.nH2O), envolvida por uma fina camada de
matéria orgânica, conhecida como FRÚSTULA (Cavalcante, 2019) . Esta
estrutura é particularmente útil, pois estes organismos deixam como rastros
da sua colonização a estrutura externa de sílica, como ocorre quando entram
em contato com a corrente sanguínea (Figura 53).

Figura 53 Valvas de diatomáceas marinhas em lâmina confeccionada pelo espanhol Muñoz Moraton,
coleção do Prof. Hermes Moreira-Filho .Foto de Kaoli Cavalcante (Cavalcante, 2019).

O veredicto de morte por afogamento tende a ser dado por exclusão.


Com exceção da presença de diatomáceas na medula óssea, não há testes
específicos definitivos para demonstrar que uma pessoa morreu afogada. Para
se chegar a tal conclusão é importante o estudo e a investigação do local do
encontro do cadáver, do local que ele teria iniciado a sua jornada na água e do
caminho que ele teria percorrido. Espumas no nariz e na boca podem estar
presentes e o enrugamento da pele das mãos e dos pés é bastante típico.
Vestígios de traumas externos ao corpo, com características ante mortem, são
sugestivos de algum tipo de morte violenta que não o afogamento. Quanto às
lesões post mortem, devemos lembrar que estas podem ser produzidas até
mesmo pelo resgate do cadáver (Dix, 1999, p. 101).
Um corpo na água também está exposto a danos de vários agentes,
por exemplo: hélices de barcos podem produzir lesões e até mesmo seccionar
o corpo em dois. Outras lesões possíveis são produzidas por choques contra
molhes, instalações offshore ou rochas; assim, a existência destas lesões não
deve ser interpretada como luta. Lesões abrasivas se apresentam na testa, nos
joelhos e no dorso das mãos, provocadas pela abrasão do corpo contra o
fundo do curso de água ou do mar (Fisher, 2003, p. 101) (Figura 54 Ataques
de tubarão a cadáver (Siegel, Saukko, Knupfer, & James, 2005, p. 1470).).

Figura 54 Ataques de tubarão a cadáver (Siegel, Saukko, Knupfer, & James, 2005, p. 1470).
O conhecimento dos eventos e das reações durante um afogamento é
baseado em relatos de testemunhas, estudos em humanos e experimentos em
animais (Modell, Bellefleur M, & Davis, 1999, pp. 1119-23). Assim,
sabemos que, quando ocorre a imersão, a vítima, se sóbria, detém
voluntariamente a sua respiração. Um grande volume de água pode ser
ingerido, causando vômito e risco de aspiração do conteúdo gástrico. Luta,
com a vítima se debatendo na água, ocorre na maioria dos casos, sendo,
porém, menos esperadas em crianças, que podem afundar calmamente. A
reação normal de prender a respiração persiste até que haja um desejo
incontrolável de respirar e ocorra um suspiro involuntário, motivado pela
necessidade de eliminar dióxido de carbono. Durante o período em que a
respiração está trancada, a vítima é incapaz de pedir ajuda. A duração média,
em voluntários, da capacidade de prender a respiração é de apenas 1,5 min
para indivíduos com algum treino e de 1 min para pessoas comuns. Estudos
indicam que a capacidade de prender a respiração é reduzida em água fria
(Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 242-256) .
Em animais, temos experiências onde eles foram completamente
submersos e incapacitados de voltar para a superfície. A submersão inicial é
seguida pela luta do animal contra a situação e tentativa e voltar à tona. A
respiração cessa até que a acumulação de dióxido de carbono obriga a
inspiração, seguindo a inalação de água, tosse, vômito, perda de consciência,
movimentos respiratórios involuntários e a morte depois de alguns minutos.
Por analogia, entende-se que estas fases são válidas para os seres humanos,
mas somente podem ser aplicadas, com significativo grau de certeza, para
aqueles indivíduos que foram submersos e se mostraram incapazes de
retornar para a superfície. Para o ser humano que se debate na água e tenta
nadar, o processo será, certamente, diferenciado (Siegel, Saukko, Knupfer, &
James, 2005, p. 229).
Após a entrada da água inalada no espaço alveolar dos pulmões,
trocas de fluídos e eletrólitos, devido às diferenças no gradiente osmótico
entre a água do alvéolo e a do sangue, passarão a acontecer. A água doce é
hipotônica e com menor concentração de sódio em relação ao sangue; isto é
importante, pois o resultado da inalação de água doce leva água dos alvéolos
para o sangue e de sódio do sangue para os alvéolos. O resultado é a
hemodiluição, a hipervolemia e a hiponatremia com hemólise associados à
hiperpotassemia. No caso da água do mar, é justamente o contrário, pois esta
é hipertônica em relação ao sangue, resultando em fluxo de água do sangue
para os alvéolos e de sódio e magnésio dos alvéolos para o sangue.
Consequentemente, há hemoconcentração, hipovolemia e hipernatremia
(Siegel, Saukko, Knupfer, & James, 2005, p. 229).
Tanto a água doce como a água salgada causam danos nos alvéolos,
destruindo a sua superfície e induzindo um edema pulmonar, com o
extravasamento de líquido rico em proteínas para os espaços alveolares
(Siegel, Saukko, Knupfer, & James, 2005, p. 229), mas as mudanças no
volume de sangue e concentração nos seus eletrólitos, ao contrário do que se
observou em experimentos com afogamentos de animais, geralmente não são
significativos o suficiente para produzir certeza de diagnóstico nos casos reais
de afogamento (Orlowski, 1987, pp. 75-92). Outros estudos, entretanto, em
vítimas de afogamento em água doce e salgada, mostraram que 15% dos
indivíduos tinha inalado mais de 22ml de água por kg de massa corpórea,
causando alterações significativas nos níveis de cloro no ventrículo esquerdo
(a pequena circulação), mas fibrilação ventricular causada por distúrbio
eletrolítico é achado incomum na clínica. Por outro lado, deve-se considerar
que mudanças no volume intravascular em afogamentos em água doce ou
salgada é um processo e, portanto, transitório no contexto de corpos
submersos (Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 247-256).
Edema pulmonar ocorre não apenas em água salgada, mas também
em água doce; entretanto, parcela da água doce pode ser absorvida
rapidamente na circulação por osmose, pois o sangue tem uma concentração
salina bem maior que a água doce. Isto diverge do senso comum, que diz que
os afogados, necessariamente, “têm água no pulmão”. A hipóxia é também
aumentada pela obstrução de vias aéreas por espuma (líquido de edema
misturado com água e ar), muco e material extracorpóreo (Shkrum &
Ramsay, 2007, pp. 247-256).
Nos estudos, não foi detectada diferença significativa na sobrevida
em afogamentos de água doce ou salgada; no entanto, os serviços de
emergência podem ser melhores em áreas costeiras com praias, em
comparação com as áreas de água interior.
O impulso irresistível para respirar é estimulado por uma combinação
do aumento do dióxido de carbono arterial (PaCO2) com a diminuição de
oxigênio arterial (PaO2). A pressão de PaCO2 média neste momento da
respiração forçada é de 60 mmHg e a PaO2 é de cerca de 80 mmHg. A prática
da hiperventilação reduz a PaCO2 para menos que 50 mmHg, possibilitando
maior tempo dentro da água (Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 247-256).
Uma parte importante do exame de autópsia é a exclusão de doença
que poderia causar a morte quando a vítima estava dentro da água (Siegel,
Saukko, Knupfer, & James, 2005, pp. 229, 394).
Suicídios e Homicídios por Afogamento
Conforme Fisher (Fisher, 2003, p. 406), afogamento, junto com
enforcamento, tiro de arma de fogo, envenenamento, precipitação de altura e
corte de artérias são as formas mais comuns de suicídio.
Nos casos de afogamento, a questão é, em geral, se o caso foi suicídio
ou acidente (Fisher, 2003, p. 466). Se existirem lesões acessórias que
sugerem escorregamento sobre pedras ou tentativa de saída, como abrasões
nas mãos e unhas ou até mesmo dedos quebrados, temos um indicativo de
acidente (Fisher, 2003, p. 466); por outro lado, a vítima de suicídio pode
mudar de ideia já dentro da água e se lesionar ao tentar sair.
Homicídios por afogamento são incomuns e, para serem efetuados,
exigem disparidade física entre o agressor e a vítima ou a incapacitação desta
por bebida, doenças ou drogas. Em alguns casos e circunstâncias especiais, a
vítima pode ser atacada com completa surpresa, o que dispensaria a vantagem
física. Em casos de suicídio, podemos encontrar os bolsos cheios de pedras
(“âncoras” improvisadas) ou as mãos ou pés amarrados; nesses casos, as
amarras devem ser examinadas para se determinar se elas poderiam ser feitas
pela própria vítima. Estas amarras são, portanto, possíveis tanto no suicídio
quanto no homicídio (Fisher, 2003, p. 466). Podendo haver também o uso
concomitante de outros métodos suicidas, como álcool, drogas ou corte de
pulsos.
Nos casos encontrados na literatura, as evidências produzidas pelos
próprios suicidas têm se mostrado os indícios mais importantes na elucidação
dos quadros. Temos como exemplos: testemunhas, bilhetes, histórias de
ideação suicida, doença terminal, comportamentos bizarros recentes,
depressão e histórico de lesões auto infligidas. Achados de apoio à tese de
suicídio são observações de roupas e pertences pessoais encontrados
empilhados ou ordenados à margem da água, um conjunto de pegadas
sugerindo entrada deliberada na água, histórico de problemas psiquiátricos
(Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 240-246). Entretanto, todo o cuidado é pouco,
pois algum eventual interessado na morte da vítima pode ter conhecimento do
seu histórico e simular situações de eventual falta de cuidados para disfarçar
um homicídio (Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 240-246).
Missliwetz relata que o afogamento pela introdução de água nas vias
áreas superiores é técnica relatada para assassinato de doentes ou idosos
terminais na Áustria. Diversos casos foram observados em assassinatos
seriais por enfermeiros ou enfermeiras (Missliwetz, 1994, pp. 194:1-7).
Fisher, por sua vez, coloca o afogamento como uma das práticas peculiares
para o caso de Infanticídio (Fisher, 2003, p. 466).
Grupos de Risco
A maioria das vítimas de afogamento é de jovens adultos e crianças
que morrem acidentalmente. Entre os adultos, há uma predominância de
homens, como em todo o tipo de morte forçada, e há uma forte associação
com o consumo de álcool (Siegel, Saukko, Knupfer, & James, 2005, p. 227).
Levantamentos diferentes confirmam uma predominância do sexo masculino,
com mais de 65% dos casos. Este fato sugere que os homens têm uma maior
facilidade em assumir riscos na água. Muitos nadadores que se afogam são
adolescentes (Davis & Smith, 1985, pp. 739-742) (DeNicola, Falk, Swanson,
Gayle, & Kissoon, 1997, pp. 13:477-502). Drogas e álcool são bastante
encontrados na morte de adolescentes, especialmente quando falta a
supervisão de um adulto (Wintemute, Kraus, Teret, & Wright, 1990, pp.
80:1068–1070). A maioria das vítimas de afogamento podia nadar, o que
sugere que outros fatores podem estar envolvidos (Press, Walker, &
Crawford, 1968, pp. 58:2275–2289). Outras atividades associadas com
afogamento incluem banho, pesca, canoagem e barco a motor. Afogamento
de homens mais velhos são frequentemente associados a determinadas
actividades, como pesca e motonáutica (Patetta & Biddinger, 1988, pp.
103:406-411). A maioria destes indivíduos vitimados não estavam vestindo
coletes salva-vidas (Wirthwein, Barnard, & Prahlow, 2002, pp. 47:131-22)
(Hedberg, et al., 1984, pp. 75:218–222). Vítimas também ocorrem em
transporte de passageiros, aí envolvendo superlotação ou velocidade
imprudente (MacLachlan, 1984, pp. 75:218-222). Em todo o caso, é
necessário excluir a possibilidade de a vítima ter entrado na água com o fito
do suicídio (Wirthwein, Barnard, & Prahlow, 2002, pp. 47:131-136).
Afogamentos em piscinas públicas, com ou sem salva-vidas, são mais
raros e, geralmente, envolvem adolescentes, mas há também registros de
crianças e de adultos (Pearn & Nixon, 1997, pp. 307-309).
As crianças estão sob maior risco de afogamento quando são menores
de 4 anos. Já os jovens apresentam maior risco na faixa dos 15-19 anos. Essas
idades particulares refletem a incapacidade dos pequenos para entender ou
lidar com os riscos apresentados pela água. Já na faixa de 15–19 anos, o
resultado é indicativo do comportamento de risco, muito comum nesta idade.
No caso de crianças, não se pode descartar a hipótese de homicídio por adulto
ou por grupo de outras crianças e adolescentes (Byard & Lipsett, 1999).
Outros estudos independentes comprovam que as crianças são grupo
de risco para afogamento (Jumbelic & Chambliss, 1990, pp. 1952-1953). As
crianças, particularmente aquelas menores de 2 anos, são vulneráveis, pois
suas habilidades motoras não estão plenamente desenvolvidas e elas não tem
habilidade para lidar com situações perigosas na água. Elas não podem gritar
muito alto e são geralmente incapazes de nadar ou mesmo de “boiar” e de
lutar contra a situação (Byard & Lipsett, 1999, pp. 328-332) (Kibel, Nagel,
Myers, & Cywes, 1990, pp. 418-421). No Rio Grande do Sul os afogamentos
são fenômenos sazonais ligados ao verão e às férias escolares. De um modo
geral, a temporada da mortandade de crianças por afogamento abre em
dezembro para terminar em meados de março.
Crianças pequenas estão particularmente em risco de afogamento em
piscinas e banheiras quando desacompanhadas. Pais e responsáveis podem ter
uma falsa ideia de segurança se a criança estiver acompanhada de irmão mais
velho ou com as tradicionais boias. Ambos os casos são ilusórios, pois irmãos
mais velhos podem tender a procurar o seu nível de segurança e não o da
criança e as “boinhas”, além de não serem salva-vidas, podem levar a criança
a flutuar num nível mais fundo (Byard & Lipsett, 1999).
Nas residências particulares, piscinas e banheiras são aparelhos
perigosos para as crianças (Byard & Lipsett, 1999, pp. 328-332) (Jumbelic &
Chambliss, 1990, pp. 1952-1953) (Davis & Smith, 1985, pp. 739-742) (Kibel,
Nagel, Myers, & Cywes, 1990, pp. 418-421). Crianças com menos de 1 ano
de idade correm o risco de afogamento em banheiras de qualquer tamanho,
inclusive nas infantis. Já para crianças de mais de um ano, o risco maior é em
piscinas. Pesquisas mostram que o risco é maior nas piscinas enterradas que
nas elevadas em relação ao solo (Pearn & Nixon, 1997, pp. 3:307-312).
Outros estudos indicam que o risco é maior nos seis primeiros meses após a
instalação da piscina (Wintemute, Drake, & Wright, Immersion events in
residential swimming pools. Evidence for an experience effect, 1991). Não é
necessário que as crianças estejam tomando banho; elas podem simplesmente
estar brincando perto da borda (Byard & Lipsett, 1999, pp. 328-332) (Patetta
& Biddinger, 1988). Um cenário similar é visto com crianças brincando na
margem da praia onde se quebram as ondas (Pearn, et al., 1979, pp. 450-454).
Piscinas com cobertas de lona são um perigo em potencial, pois as crianças
podem ter a ilusão de caminhar em segurança sobre as mesmas (DeNicola,
Falk, Swanson, Gayle, & Kissoon, 1997, pp. 477-502) (Figura 55).

Figura 55 https://www.splashmagazine.com.au/westmeadn-childrens-hospital-to-study-child-drowning
Na verdade, nenhuma criança deveria ser deixada perto da água sem
a presença de um adulto expressamente designado para cuidá-la. Sugere-se
até mesmo que o risco aumenta com a presença de um irmão mais forte e
mais ativo. As chamadas cadeiras de banho, também podem colocar a criança
em risco, pois são instáveis e podem virar com a criança nela alojada.
O tempo médio em que as crianças se afogam após serem
negligenciadas tem sido citado como menores de 5 min; entretanto, este
tempo, informado por quem deveria estar em vigília, pode estar sendo
subestimado (Byard & Lipsett, 1999).
A presença de um adulto vigiando é relativizada, pois se a falta de
supervisão de um adulto em torno das piscinas, especialmente aquelas em
residências particulares, foi observada em muitos casos (Cass, Ross, & Lam,
1996 , pp. 610-612), a supervisão de um adulto não dá garantia de segurança,
pois a mesma esteve presente em 84% dos incidentes em piscinas, mas
apenas 18% destes adultos testemunharam a entrada da criança na água,
sugerindo fortemente falta de atenção e dificuldade de concentração na tarefa
(Fergusson & Horwood, 1884).
A falta de cercas em torno das piscinas também é um fator de risco
(Davis & Smith, 1985, pp. 739-742) (Kibel, Nagel, Myers, & Cywes, 1990,
pp. 418-421) (Pearn & Nixon, Swimming pool immersion accidents: an
analysis from the Brisbane drowning study, 1977, pp. 777-779) (Fergusson
& Horwood, 1884) (Pitt & Balanda, 1991, pp. 661-665) (Pearn & Nixon,
Prevention of childhood drowning accidents. Med. J. Aust. 1:616–618, 1977.,
1977, pp. 616-618) (Pearn & Nixon, Swimming pool immersion accidents:
an analysis from the Brisbane drowning study, 1977, pp. 307-309). As cercas
também podem ser inadequadas, por exemplo, sem tranca no portão ou
portão facilmente aberto (Cass, Ross, & Lam, 1996 ). A presença de cercas
inadequadas pode dar aos pais a falsa sensação de segurança, diminuindo a
sua vigilância e retardando o tempo da tentativa de socorro (Pearn & Nixon,
1997, pp. 432-437).
. Baldes e similares são perigosos, pois o centro de gravidade de uma
criança é mais alto do que o de um adulto, devido ao peso desproporcional da
cabeça. Desta maneira, a criança pode tombar de cabeça para baixo dentro do
vasilhame. Mortes semelhantes já foram reladas em vasos sanitários
(Fergusson & Horwood, 1884, pp. 777-779) (Byard & Lipsett, 1999) e alguns
estudos têm observado uma elevada incidência de afogamentos em baldes
(Byard & Lipsett, 1999, pp. 328-332) (Jumbelic & Chambliss, 1990, pp.
1952-1953) (Davis & Smith, 1985, pp. 739-742) (Kibel, Nagel, Myers, &
Cywes, 1990, pp. 418-421). Crianças, devido ao peso da cabeça, tem o seu
centro de gravidade mais alto que o dos adultos e são propensas a emborcar
neles (Mann, Weller, & Rauchschwalbe, 1992, pp. 1068-1071) (Jumbelic &
Chambliss, 1990, pp. 1952-1953). A idade de risco para esta situação é de 8 a
15 meses (Scott & Eigen, 1980, pp. 282-284). Na maioria dos casos, os
baldes envolvidos eram utilizados para limpeza geral ou para fraldas sujas e
eram preenchidos com pelo menos 10% da capacidade, geralmente com água
(Mann, Weller, & Rauchschwalbe, 1992, pp. 1068-1071) (Jumbelic &
Chambliss, 1990, pp. 1952-1953). Alguns tinham detergentes ou água
sanitária (Mann, Weller, & Rauchschwalbe, 1992, pp. 1068-1071). A altura
dos baldes variava de 34 a 38 cm e a altura da vítima variava de 67 a 79 cm
(Mann, Weller, & Rauchschwalbe, 1992, pp. 1068-1071) (Byard & Lipsett,
1999, pp. 328-332) (Jumbelic & Chambliss, 1990, pp. 1952-1953). A
situação se torna mais perigosa quando baldes ao alcance de crianças
contenham, por exemplo, brinquedos ou roupas que possam atrair a sua
atenção (Mann, Weller, & Rauchschwalbe, 1992, pp. 1068-1071).
Após a primeira inspiração de água se segue a apneia e nova
aspiração de água, com a vítima ofegante sob a água por vários minutos,
culminando com parada respiratória e morte, se uma reanimação não for
providenciada. O tempo para o estabelecimento de danos cerebrais
irreversíveis é muito variável e dependente da idade e da temperatura da
água. As tabulações destes tempos são, entretanto, oriundas de testemunhos e
são estimados na melhor das hipóteses. De qualquer forma, em temperaturas
da água acima de 15-20°C, temos um tempo de 3-10 minutos para o
surgimento destas lesões, Por outro lado, mostrando que o assunto é
complexo, temos relatos de sobrevivência de crianças com retorno da função
neurológica normal após 50-40 min de imersão em água a 0-15°C,
temperaturas compatíveis com o inverno no Sul, o que indica que ainda existe
esperança de salvamento, mesmo em casos de submersão por mais de 10
minutos (Shaw & Briede, 1989). Um estudo de imersões em banheiras
mostrou que as mortes ocorreram com tempo de 3 a 20 minutos, porém com
uma média de apenas 5 minutos (Pearn & Nixon, Bathtub immersion
accidents involving children, 1977).
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Índice de Figuras
Figura 1 Petéquias na conjuntiva (Wagner, 2009, p. 71)
Figura 2 Petéquias post mortem em enforcado com suspensão
completa. Algumas delas apresentam confluência (Barreto, 2019)
Figura 3 Vias aéreas superiores
Figura 4 (A) Suicídio de mulher idosa. (B) Deficiente mental de 43
anos, que “brincou” de enrolar fita adesiva no seu rosto (Di Maio & Di
Maio, 2001, p. 247)
Figura 5 Um bebê de 2 meses sufocado pelo pai. Ausência de
petéquias na face, na esclera e na conjuntiva (Di Maio & Di Maio, 2001, p.
249).
Figura 6 Trabalho de bombeiro em Brumadinho
https://www.emaisgoias.com.br
Figura 7 Cenas de Heysel Park (Liverpool x Juventus) em 29 de maio
de 1985, 39 mortos.
Figura 8 Leito de caso de sufocamento Foto do Autor
Figura 9 Rosto com livores fixados na hemiface direita, indicando
compressão contra algum apoio desde o queixo até a têmpora. Foto do Autor
Figura 10 Enforcamento com suspensão incompleta. Foto do Autor
Figura 11 Suspensão incompleta com vítima em genuflexão
(Rodrigues)
Figura 12 Sulco de enforcado com fiação (Catanese, 2010, p. 374)
Figura 13 Homicídio mascarado de suicídio (Shkrum & Ramsay,
2007, p. 84)
Figura 14 Língua procidente e com ponta ressecada (Barreto, 2019)
Figura 15 Fauna aérea: Ataque por mosca varejeira ou berneira, usual
no Sul do Brasil. Fotografia de Fotógrafo Criminalístico Eduardo Barreto
Figura 16 O Perito deve verificar se havia condições para escalada da
vítima. Foto do Autor
Figura 17 Tradicional nó de forca (fixo), com suas sete voltas, muito
usado por suicidas, talvez por imitação dos enforcamentos judiciais. Foto do
Autor
Figura 18 Em enforcamentos em parques ou matagais é normal que a
vítima não tenha outro modo de fixar a corda a não ser escalando a árvore
(Barreto, 2019)
Figura 19 Escalada em árvores com aderência de ramo de parasito
que cresce no tronco na mão da vítima. Fotografia de Fotógrafo
Criminalístico Eduardo Barreto
Figura 20 Osso Hioide (Livescience)
Figura 21 Corda fixada em barrote de telhado. Foto do Autor
Figura 22 Veias jugulares
Figura 23 Principais artérias do pescoço
Figura 24 Petéquia na região orbital (Shkrum & Ramsay, 2007, p. 38)
Figura 25 Estrangulamento (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 276)
Figura 26 Espuma formada por muco na boca, após a manipulação do
corpo pela Perícia. Porto Alegre, RS. Foto do autor.
Figura 27 Lesões provocadas pelos dedos e unhas em caso de
esganadura (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 281)
Figura 28 Vestígios de esganadura (Wagner, 2009, p. 95)
Figura 29 Menina morta por enforcamento em vidro de carro
(Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 75-77)
Figura 30 Homem travestido e morto em prática de masturbação com
enlaçamento do pescoço (Geberth, Sex-Related Homicide and Death
Investigation Practical and Clinical Perspectives, 2003, p. 157)
Figura 31 Livor vermelho cereja causado por Monóxido de Carbono
Figura 32 Vítimas de intoxicação em um incêndio (Dix, 1999, p. 122)
Figura 33 Posição de boxeador (Dix, 1999, p. 119)
Figura 34 Suturas naturais do crânio.
Figura 35 Fratura do tipo Pátina (Fairgrieve, 2008, p. 50)
Figura 36 Fratura longilínea em osso longo (Fairgrieve, 2008, p. 51)
Figura 37 Fratura curvilínea (Fairgrieve, 2008, p. 51)
Figura 38 No perído pesquisado de 10 anos (2008-2017) temos o
expressivo número de 64.506 casos (Ministério da Saúde, Brasil, 2019)
Figura 39 Corpo de mulher semi-submerso. A área imprópria para
banho e a ausência de roupas sugerem morte não acidental. A presença de
galhos e ramos sugere corpo arrastado pela água em valo com mudança
drástica de nível com a chuva (Barreto, 2019).
Figura 40 Epiderme do pé direito descascada em afogado
Figura 41 Epiderme da mão descascada (luva) (Barreto, 2019)
Figura 42 Perda de cabelos em corpo de mulher imerso em córrego
(Barreto, 2019)
Figura 43 Maceração em mão de mulher (Barreto, 2019)
Figura 44 Posição típica de afogado em livre flutuação com as áreas
sujeitas a lesões post mortem em corpos submersos (Fisher, 2003, p. 441)
Figura 45 Corpo em livre flutuação (Barreto, 2019)
Figura 46 Decomposição de Afogado (Geberth, Practical homicide
investigation: tactics, procedures, and forensic techniques, 2006, p. 346)
Figura 47 Corpo submerso com apenas a mão em contato com o ar.
Notar a diferença de decomposição (Dix, 1999, p. 68)
Figura 48 Corpo submerso com o dorso em contato com o ar. Ver
diferença de decomposição (Barreto, 2019)
Figura 49 Espuma
Figura 50 https://www.checkupnewsroom.com/dry-drowning-and-
children-what-parents-should-know/
Figura 51 Hipotermia em senil. Uma praia do Guaíba. As setas
apontam depósito de areia do lago que mudou de nível. A medida entre a
areia e o nível no momento do exame, comparada com as tábuas de altura do
porto, foi usada para estimar a hora da morte. Foto do Autor
Figura 52 Diatomáceas Marinhas (Wikipedia Foundation), autor Prof.
Gordon T. Taylor, Stony Brook University
Figura 53 Valvas de diatomáceas marinhas em lâmina confeccionada
pelo espanhol Muñoz Moraton, coleção do Prof. Hermes Moreira-Filho .Foto
de Kaoli Cavalcante (Cavalcante, 2019).
Figura 54 Ataques de tubarão a cadáver (Siegel, Saukko, Knupfer, &
James, 2005, p. 1470).
Figura 55 https://www.splashmagazine.com.au/westmeadn-childrens-
hospital-to-study-child-drowning

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