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1. Sufocamento
1.1. Confinamento
1.2. Sufocamento Propriamente Dito
1.3. Sufocamento por Oclusão Interna
1.4. Asfixia mecânica
1.5. Asfixia mecânica combinada com sufocamento
1.6. Sufocamento por gases
2. Estrangulamento
2.1. Enforcamento
2.2. Estrangulamento com laço
2.3. Estrangulamento manual
3. Asfixia química
Sufocamento
Nas mortes por sufocamento, o oxigênio é impedido de entrar em
contato com o sangue para troca gasosa. Existem, grosso modo, seis formas
de sufocamento:
1. Confinamento
2. Sufocamento Propriamente Dito
3. Sufocamento por Oclusão Interna
4. Asfixia mecânica
5. Asfixia mecânica combinada com sufocamento
6. Sufocamento por gases
Os achados de autopsia em sufocamentos podem ser muito sutis ou
inexistentes, o que torna o exame do local da morte, ou a ela relacionados,
ainda mais importante (Catanese, 2010, p. 373).
Confinamento
Na asfixia por aprisionamento em ambientes fechados, a morte é
causada por falta de oxigênio no local. Estas mortes são quase que
exclusivamente acidentais. Em um aprisionamento deste tipo, os indivíduos
se encontram presos em um recinto vedado ou relativamente hermético.
Inicialmente, há oxigênio suficiente para respirar. No entanto, o oxigênio
acaba se esgotando. Um exemplo particularmente infeliz disso foram os casos
de crianças presas nas geladeiras de nossos avós, que tinham fechadura
externa. No imaginário popular, também existe o pesadelo de ser enterrado
vivo e morrer aprisionado dentro do caixão. Suicídios ou homicídios por
aprisionamento são raros, mas podem acontecer (Di Maio & Di Maio, 2001,
p. 259).
Em nosso Estado, existem rumores sobre mortes, em épocas
passadas, provocadas pelo confinamento de pessoas detidas em viaturas ou
cafuas, mas não tivemos acesso a nenhuma pesquisa sobre o assunto.
Entretanto, tal prática já pertence à história da América Latina, com o
episódio do massacre do brigue Palhaço, em Belém do Pará, quando, na noite
de 16 de outubro de 1823, após a tomada de Belém pelas tropas da Corte do
Rio de Janeiro, 257 prisioneiros foram confinados no porão do navio de
guerra Brigue Palhaço ou Brigue São José Diligente, tendo sido a escotilha
vedada com cal virgem. Na manhã do dia seguinte, foram retirados dali um
homem consciente, quatro moribundos e duzentos e cinquenta e dois mortos.
As investigações oficiais concluíram que as vítimas haviam se matado por
estrangulamento, isentando de culpa a linha de comando (Campos, 2006)
Em outro tipo de confinamento, a vítima entra de maneira inadvertida
em uma área onde há deficiência de oxigênio. Esta deficiência pode ser
provocada pelo deslocamento do oxigênio por outros gases, mas
normalmente ela se deve a processos biológicos que existam no local, como a
de grãos ou outros vegetais. Assim, existem relatam duas mortes ocorridas
por falta de oxigênio em caixa de água (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 245).
O percentual normal de volume de oxigênio na atmosfera é de
20,946%, mas, num caso estudado de morte de pessoa em caixa de água, a
percentagem de volume foi de 9,6%. Esta atmosfera letal foi causada por
microrganismos, como fungos e alguns vegetais presentes nas paredes, na
abóbada e nos sedimentos no piso. Os processos metabólicos destes fungos e
plantas resultaram na diminuição do oxigênio no ar presente, com a produção
de dióxido de carbono. Assim, este gás, que normalmente é encontrado na
proporção de 0,033% do volume no ar, neste caso, foi mensurado em 7,0%.
Entretanto, deve-se deixar claro que as mortes não foram causadas pelo
excesso de dióxido de carbono, mas pela falta de oxigênio. Em concentrações
de oxigênio de 10% a 15% já há deficiência de julgamento e de coordenação
motora. A perda de consciência ocorre na faixa de 8 a 10% e a morte ocorre
com taxas menores de 8% em volume. Em ambientes com concentrações
menores do que 4 a 6%, a perda de consciência se dá em 40 segundos e a
morte, em alguns minutos (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 246).
Nos óbitos por confinamento, a causa da morte não pode ser
determinada apenas pela autópsia, pois todos os achados no corpo não serão
específicos para este tipo de morte. Assim, o exame apurado e cuidadoso do
local da morte não poderia ser negligenciado (Di Maio & Di Maio, 2001, p.
246).
Sufocamento Propriamente Dito
Na asfixia por sufocamento propriamente dito, a morte é causada pela
obstrução ou oclusão das vias aéreas externas, ou seja, o nariz e a boca.
Mortes deste tipo são geralmente homicídios ou suicídios, podendo também
ocorrer em acidentes, como no caso de crianças brincando com sacos
plásticos (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 246) (Figura 3).
Figura 4 (A) Suicídio de mulher idosa. (B) Deficiente mental de 43 anos, que “brincou” de enrolar fita
adesiva no seu rosto (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 247)
Amordaçamentos podem causar morte por asfixia devido à obstrução
do nariz e da boca, embora esta não seja exatamente a intenção do assaltante.
Normalmente, é colocada uma mordaça ao redor do rosto. As vítimas são
geralmente idosas ou pessoas que são mais suscetíveis à hipóxia. Mucos e
fluidos podem se acumular nas cavidades nasais e nas vias aéreas, o que
contribui para a asfixia. Entretanto, o esclarecimento da causa é feito pelo
encontro de uma mordaça na cena do crime e da sua associação com o caso,
pois é bastante provável que o exame de autópsia não tenha condições de
afirmar, com certeza, que houve amordaçamento (Di Maio V. J., 2000, p.
249).
Nos homicídios por sufocamento, os utensílios utilizados são
travesseiros, almofadas (Figura 5), cobertas de cama, colchões ou as próprias
mãos. Bebês podem ser colocados em sacos plásticos. As vítimas tendem a
ser muito jovens, muito idosas ou muito debilitadas. É extremamente difícil
sufocar um adulto no pleno controle das suas faculdades mentais (Di Maio &
Di Maio, 2001, p. 249).
Quando um travesseiro é utilizado para a prática de um crime deste
tipo, ele é colocado sobre o rosto e empurrado para baixo. Isso provoca a
obstrução do nariz e da boca e a consequente morte. Normalmente, não há
marcas no rosto, nem congestão e nem petéquias, com lesões de abrasão
somente ocorrendo se a vítima teve condições de opor alguma resistência
mais severa. Existe também a possibilidade de ataque com a vítima em
decúbito ventral, opondo-se o rosto da vítima contra um travesseiro ou
colchão (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 249). Wagner observa que o
sufocamento de uma criança é exame de muita dificuldade, visto a ausência
de vestígios de luta ou defesa (Wagner, 2009, p. 97) (Figura 5).
Figura 5 Um bebê de 2 meses sufocado pelo pai. Ausência de petéquias na face, na esclera e na
conjuntiva (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 249).
Sufocamento por Oclusão Interna
São os populares “engasgados”. Neste tipo de asfixia, o bloqueio é
provocado pela obstrução dentro das vias aéreas. A morte pode ser natural,
por homicídio ou por acidente. Mortes naturais deste tipo podem ser
observadas em vários quadros patológicos. Em tais circunstâncias, os
indivíduos podem literalmente morrer na frente dos socorristas. A morte
acidental também pode ter muitas causas, como reação medicamentosa não
esperada, intoxicação de vapor e outras (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 249).
Homicídios por este tipo de asfixia são incomuns. Ocasionalmente, a
literatura mostra recém-nascidos mortos pela introdução de papel higiênico
em sua boca. Adultos podem morrer em assaltos com a prática da introdução
de pano na boca da vítima para silenciá-la. Nestes casos, a morte ocorre
sempre que o pano se deslocar dentro da boca e causar oclusão (Di Maio &
Di Maio, 2001, p. 249).
Contudo, a maior parte deste tipo de morte é acidental. Em 1997,
houve cerca de 3.300 mortes nos Estados Unidos atribuídas à inalação
involuntária de alimentos ou de outros objetos resultando em obstrução das
vias aéreas. Em crianças ocorre mais frequentemente através da introdução na
boca de pequenos objetos, que acabam se alojando na laringe. Em adultos, o
caso de asfixia conhecido por “engasgamento”, normalmente envolve
alimentos, às vezes associados com a intoxicação alcoólica, senilidade,
dentaduras e próteses mal ajustadas. (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 252).
Ocasionalmente, este tipo de morte pode ocorrer quando o indivíduo
cai em silos ou montes de material particulado fino, como farinhas e
serragem, ocorrendo a inalação deste material e o consequente bloqueio das
vias aéreas por este material.
Nas encostas da Serra do Mar, muitas vítimas de enxurradas podem
ter morrido por oclusão das vias aéreas por terra e lama.
Recentemente, vimos este tipo de morte no rompimento de barragens
com rejeitos de mineração e lama no estado de Minas Gerais, nos casos de
Mariana e Brumadinho, cada um deles com centenas de mortos. Infelizmente,
temos a perspectiva de novos eventos, dada a existência de dezenas deste tipo
de estruturas no país (Figura 6).
Figura 6 Trabalho de bombeiro em Brumadinho https://www.emaisgoias.com.br
Asfixia Mecânica
Neste tipo de asfixia, a pressão que impede a respiração é exercida de
fora para dentro. Em grande parte, são acidentes, mas homicídios podem
ocorrer. Para efeitos meramente didáticos pode ser dividida em três tipos (Di
Maio & Di Maio, 2001, p. 256):
1. Asfixia Traumática
2. Asfixia Posicional
3. Esmagamento
Asfixia Traumática
A asfixia traumática ocorre quando um um peso de monta pressiona
para baixo o abdomen ou toráx de um indivíduo. É comum, na forma,
acidental, em que indivíduos são vítimados quando estão sob um veículo,
realizando manutenção de forma insegura. Na autópsia, o achados incluem
congestionamento na cabeça, no pescoço e no tronco superior, com
numerosas petéquias nestas áreas, na esclera e na conjuntiva. Muitas vezes,
não há evidências de traumas, apesar do forte peso sobre o peito.
Sobreviventes podem restar com comprometimento da visão. : Raramente é
homicídio. Di Maio cita um caso, onde a geladeira foi colocada sobre um
indivíduo (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 256).
Outros exemplos desse tipo de morte por asfixia são pessoas
comprimidas dentro de um veículo acidentado ou vítimas de explosões ou
desabamentos (Wagner, 2009, p. 100).
Podemos citar, ainda, a caso de asfixia traumática, onde um bebê de 5
meses foi morto por um píton. A serpente envolveu-se em torno do bebê,
apertando-o cada vez mais quando ele exalava. Após a morte da criança, o
animal tentou engolir o corpo da vítima a partir da cabeça, deixando ali
marcas dos seus dentes. Na autópsia, não foram encontradas petéquias,
hemorragias ou hematomas, possivelmente, porque o animal aumenta um
pouco mais a pressão cada vez que a vítima expele o ar dos pulmões,
diferenciando este tipo de asfixia dos demais (Di Maio & Di Maio, 2001, p.
256). Os sertões da América do Sul produzem eventualmente mortos por
jiboias, cobra que utiliza a mesma tática da serpente píton.
Um tipo semelhante de morte, não necessariamente classificada nesta
categoria, pode ocorrer pela ação de descargas elétricas no corpo. Nestes
casos, temos a paralisia dos músculos do tórax (Catanese, 2010, p. 354).
Asfixia Posicional
Segundo Wagner, corpos encontrados em posições estranhas
merecem uma atenção especial, principlamente se forem obesos, no sentido
de se verificar se o torax poderia exercer os movimentos necessários para
processar a respiração (Wagner, 2009, p. 17). A obesidade mórbida é um
fator que, por si só, se faz capaz de promover a asfixia posicional, segundo
Catanese (Catanese, 2010, p. 5).
A asfixia posicional é quase sempre um acidente e está, muito
frequentemente, associada à intoxicação por álcool ou outros estados
alterados de consciência. Nestes casos, o indivíduo fica imobilizado em
espaços restritos, de onde não mais consegue sair, o que prejudica os
movimentos respiratórios, dando causa à morte (Di Maio & Di Maio, 2001,
p. 256). Entretanto, existem casos suspeitos, relatados na literatura, de
indivíduos, principalmente obesos, que faleceram após serem algemados com
as mãos nas costas, interligadas com algemas nos pés. Tal prática é capaz de
restringir os movimentos respiratórios.
Crucificação
A crucificação era uma forma de pena de morte comum no Império
Romano, sendo tecnicamente uma forma de asfixia. A vítima era
normalmente pregada no travessão pelos punhos e não pelas mãos, conforme
a tradicional representação da morte de Jesus. Os pés eram pregados no poste
vertical. A morte era causada por hipovolemia, no caso de os pregos
atingirem alguma artéria de maior calibre, desidratação e asfixia. O peso do
corpo sobre os braços estendidos tornava difícil a respiração, o que, após
algumas horas levava a insuficiência respiratória e morte (Di Maio & Di
Maio, 2001, p. 289).
No século XXI esta forma de morte e tortura voltou a ter interesse
técnico pelo surgimento de caso no Oriente Médio.
Esmagamento
Esmagamentos normalmente ocorrem em tumultos, quando o tórax
da vítima é comprimido pelo empilhamento de um ser humano sobre o outro.
Di Maio cita como exemplo brigas de torcidas organizadas. (Di Maio & Di
Maio, 2001, p. 256) (Figura 7). Este tipo de morte é também encontrado em
execuções grupais dentro de celas profissionais, conforme o conhecimento do
autor.
Enforcamento
Para Di Maio, enforcamento é uma forma de estrangulamento, que
ele define como a forma de asfixia caracterizada pela obstrução parcial ou
total das vias respiratórias (Figura 10) venosas e arteriais do pescoço pela
aplicação de pressão externa, produzida pela ação da gravidade (Di Maio &
Di Maio, 2001, p. 262).
No enforcamento, a asfixia é produzida pela compressão ou
constrição das estruturas do pescoço (Figura 12) por uma laçada, que é
apertada exclusivamente pela ação da força da gravidade atuando sobre o
corpo, ou o corpo atado a algum volume adicional, como nos casos de
enforcamentos judiciais. Pode haver suspensão completa ou suspensão
incompleta. Praticamente todos os enforcamentos são suicidas.
Enforcamentos acidentais são raros e homicídios são mais raros ainda. A
morte é causada pela oclusão dos vasos que irrigam ou drenam o sangue
destinado ao cérebro, levando à falta de oxigênio neste órgão. Obstrução das
vias aéreas também pode ocorrer através da compressão da traqueia ou pelo
deslocamento para acima da língua. Entretanto, o bloqueio das vias aéreas
superiores não é condição necessária para produzir o enforcamento (Di Maio
& Di Maio, 2001, p. 262).
Fraturas são raras nos enforcamentos extrajudiciais e, são, segundo
(Di Maio & Di Maio, 2001, p. 262), pitorescos em indivíduos com doenças
degenerativas na coluna óssea ou em combinações de suspensão. Nos
enforcamentos judiciais, a altura da queda combinada com o uso de pesos
pode provocar esta lesão ou até mesmo a decapitação (Di Maio & Di Maio,
2001, p. 262).
A pressão necessária para comprimir a veia jugular é de 210 Pascal;
para as artérias carótidas, 530 Pascal; para as artérias vertebrais, a
compressão exige 3160 Pascal; e, para a traqueia, são necessárias 1580 Pascal
(Polson, Gee, & Knight, 1985). Devido à pequena quantidade de pressão
necessária para comprimir as artérias carótidas, é possível o enforcamento
com a vítima sentada, ajoelhada (Figura 11) ou deitada. O peso da cabeça
(4,5 – 5,5 kg) contra um laço é suficiente para obstruir as artérias carótidas e
causar a morte. Di Maio afirma ter visto casos em que as vítimas se
enforcaram com cordas amarradas em cabeceiras de cama com o cônjuge
dormindo ao lado (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 262).
Figura 10 Enforcamento com suspensão incompleta. Foto do Autor
Por outro lado, a traqueia é formada por uma cartilagem robusta e,
para obstruí-la, é necessário um laço bastante apertado. De qualquer forma,
esta obstrução não é necessária para provocar a morte e esta condição
normalmente não se observa em enforcamentos sem precipitação (Wagner,
2009, p. 94).
Figura 11 Suspensão incompleta com vítima em genuflexão (Rodrigues)
A percentagem do peso corporal envolvido para apertar o laço é
estimada na tabela abaixo (Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 71-72):
Se uma corda macia, como uma toalha, é usada para o laço e se esta
for cortada logo após a morte, então temos a possibilidade de não se
encontrar o sulco previsto. Independentemente do tipo de corda, quanto
maior o tempo de suspensão, maior a profundidade do sulco. Em raras
ocasiões podem ser encontrados arranhões acima e abaixo do sulco,
provocados pela tentativa do suicida de retirar a corda (Di Maio & Di Maio,
2001, p. 262).
Na maioria dos enforcamentos o rosto resta pálido e a língua é
saliente e escurecida pelo ressecamento. Exceções a esta regra, geralmente,
envolvem corpos parcialmente suspensos, onde o nó é apertado apenas pelo
peso da cabeça ou da cabeça e do tronco. Nestes casos, enquanto as artérias
carótidas e as jugulares são completamente oclusadas, as artérias vertebrais
continuam a abastecer de sangue a cabeça, o que irá produzir congestão na
face e petéquias (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 262).
Em enforcamentos, o sangue flui pela gravidade para as áreas
inferiores do corpo, geralmente antebraços, mãos e pernas. Com o passar das
horas, hemorragias puntiformes e as manchas de Tardieu, causadas pela
ruptura hidrostática dos vasos, serão vistas (Di Maio & Di Maio, 2001, p.
262).
Para efeitos de laudo, antes da remoção da corda do pescoço, deve-se
registrar em detalhes a natureza, a composição, a largura, o modo de
aplicação, a localização e o tipo de nó. Após a remoção, a marca do laço no
pescoço deve também ser minuciosamente descrita. Deve-se descrever a
direção do sulco (obliquamente para cima, horizontal, etc), se é contínuo ou
interrompido, sua cor, as suas dimensões (profundidade e largura), se existem
ferimentos distintos do padrão de ligadura, as áreas do pescoço envolvidas.
Geralmente, com exceção para os sulcos, não existem outras lesões no corpo.
Se outros vestígios estiverem presentes, a medicina legal deverá dizer, se for
possível, se eles foram auto-induzidos ou ocorrerram durante a fase
convulsiva anterior a morte, se foram produzidos quando o corpo foi
resgatado ou durante a tentativa de reanimação ou, mesmo, se foram
produzidos por terceiros durante ou antes do ato que culminou na morte,
levantando, nestes casos, a suspeita de homicídio (Di Maio & Di Maio, 2001,
p. 263).
No exame das estruturas internas do pescoço, em mais da metade dos
casos não são encontrados ferimentos. De uma série de 83 enforcamentos
consecutivos examinados por Di Maio, apenas dez vítimas (12%)
apresentavam fraturas nas estruturas do pescoço. Nove destas fraturas eram
na cartilagem tireoide; nenhuma fratura nos hioides e uma fratura na coluna
cervical. Este último caso envolveu uma mulher obesa, com alterações
artríticas nas vértebras cervicais e com enforcamento por suspensão total.
Petéquias na conjuntiva ou na esclerótica estavam presentes em 21 dos 83
casos (25,3%), dos quais quatro com fraturas e seis com hemorragia no
pescoço. A ausência de petéquias na maioria dos enforcamentos é explicada
pela obstrução completa no sistema arterial; portanto, não haveria acúmulo
de sangue na cabeça e nem aumento da pressão arterial; consequentemente,
não haveria a formação de petéquias. Um filete de saliva seca, é comum fluir
de um canto da boca e fluidos orgânicos podem estar presentes nas narinas
(Di Maio & Di Maio, 2001, p. 263).
A baixa incidência de fraturas, observadas por Di Maio, também foi
observada por Feigin. Em um estudo retrospectivo de 307 enforcamentos,
acidentais e suicidas, as fraturas nas estruturas do pescoço estavam presentes
em apenas 29 dos casos (9,5%). Em três casos, houve fratura na coluna
cervical; em 14 casos houve fraturas confinadas à cartilagem tireoide; em 9
casos houve fratura hioide, o que desmente em parte o senso comum, que
prevê fratura neste osso para os casos de enforcamento. A respeito de
correlações, a única observada é que a probabilidade de fraturas aumenta com
a idade (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 263).
Uma pesquisa bastante antiga, mas ainda útil, foi realizada sobre o
“enforcamento” de cadáveres. Entre 1817 e 1855, Casper fez experimentos
com a suspensão por um laço no pescoço em 23 corpos. Ele concluiu que
marcas do nó, idênticas aos dos enforcados em vida, poderiam ser produzidas
em até 2 horas depois da morte. Assim, a mera existência do sulco no
pescoço não significa, necessariamente, que a vítima foi pendurada viva em
uma corda (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 271).
O cadáver de uma pessoa enforcada por suspensão completa tem um
padrão de decomposição diferente do que resta no solo, devido a muitos
fatores, dentre os quais, a diferente fauna que irá colonizar a carcaça, pela
ausência da fauna exclusiva do solo (Figura 15), e alterações no processo de
desidratação. Goff e Lord (1994) observaram, no Havaí, que a maior
desidratação produz uma limitação das atividades das moscas, reduzindo o
número de insetos, influenciando as espécies que colonizam os restos mortais
e seus períodos de colonização. Outro trabalho, também no Havaí, onde foi
comparada uma carcaça de porco pendurada e outra no solo, mostraram que a
decomposição foi retardada no porco pendurado e que o principal local de
atividade de insetos era a zona do solo abaixo da carcaça, onde caía o
chorume e outros detritos (Byrd & Castner, 2009, p. 232).
Figura 15 Fauna aérea: Ataque por mosca varejeira ou berneira, usual no Sul do Brasil. Fotografia de
Fotógrafo Criminalístico Eduardo Barreto
Nós e Cordas
O laço da corda que prende o corpo deve ser examinado de imediato
e a origem do material utilizado deve ser determinada tão rapidamente quanto
possível. Se uma ou ambas as extremidades da corda tiverem vestígios de
corte recente, então os outros segmentos devem ser procurados na cena do
crime, pois a ausência dos mesmos, se ocorrer, deve ser elucida. Também
deve-se procurar o instrumento (tesoura, faca, et cetera) utilizado para o
corte (Fisher, 2003, p. 463).
Para termos um suicídio por enforcamento, a vítima deve ter dois
objetivos: um objeto com o qual seja possível fazer um laço e um ponto onde
amarrá-lo. Além disso, o indivíduo deve ser capaz de posicionar-se de
maneira que o próprio peso possa ser utilizado para tensionar o laço e aplicar
pressão sobre o pescoço (Stark, 2005, p. 341). Uma parte necessária do
trabalho de perícia em enforcamentos consiste em demonstrar que a vítima
tinha condições, ou não, de executar os laços e identificar os móveis ou
artefatos utilizados numa eventual escalada (Figura 16).
Em casos onde a corda é retirada por familiares e afins, normalmente,
é fácil descobrir se a corda foi utilizada para o enforcamento através do
padrão da corda estampado no sulco do pescoço. Em casos de dúvida,
entretanto, fragmentos de tecido humano podem ser procurados na corda e
coletados para um eventual confronto de DNA. (Shkrum & Ramsay, 2007,
pp. 70-77).
Ao se fazer o levantamento de uma cena de enforcamento, é
importante que o Perito tenha familiaridade com os tipos de nós mais
utilizados. Deve-se perguntar se a vítima tinha condições de fazer aquele nó.
Deve-se desconfiar, por exemplo, de nós habilmente executados,
principalmente se houver suspeita de estado alterado de consciência (Fisher,
2003, p. 463).
Figura 16 O Perito deve verificar se havia condições para escalada da vítima. Foto do Autor
Figura 17 Tradicional nó de forca (fixo), com suas sete voltas, muito usado por suicidas, talvez por
imitação dos enforcamentos judiciais. Foto do Autor
Após o enforcamento, o laço pode ser alterado, ou seja, separado do
corpo ou simplesmente cortado por familiares e/ou policiais. O laço pode ser
de apenas uma volta ou de múltiplas voltas, ocorrendo desde nós simples ou
até bem elaborados, alguns imitando os tradicionais nós de enforcamento
judicial. Um estudo australiano mostrou que os nós foram fixos em 25% dos
casos e corrediços nos restantes. Outro estudo, na Irlanda do Norte, mostrou
que 69,5% das vítimas utilizou um nó corrediço, 8,6% um nó fixo e 10,5%
apenas um enlace no pescoço (Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 70-77). Quanto
ao cabelo, Srivastava e Simon observaram, em estudos diferentes, que cabelo
preso pelo laço é um vestígio que deve exigir uma atenção maior, pela
possibilidade de homicídio mascarado de suicídio, em princípio por não ser
hábito dos suicidas acomodar o nó da maneira mais confortável e isto implica
em soltar os cabelos por cima da corda (Srivastava, Das Gupta, & Tripathi,
1987, pp. 8:220–224) (Simon, 1998, pp. 43:1119–1123).
Na hora de se retirar o cadáver, os nós não devem ser desfeitos,
exceto nos casos em que a vida ainda possa ser salva. Para retirar a corda de
um cadáver, deve-se cortá-la ao pescoço com o cuidado devido para não
produzir uma nova lesão; caso, mesmo assim, uma lesão seja produzida neste
momento, esta deve ser imediatamente documentada com fotografia e
descrita no laudo (Fisher, 2003, p. 464).
A vítima pode tentar “proteger” o pescoço com enchimentos, como
travesseiros, ou o laço pode ser colocado sobre a roupa. Às vezes, a primeira
laçada pode se romper e a vítima providenciar uma segunda. Também pode
acontecer que alguns dedos fiquem presos entre a corda e o pescoço. Estes
casos não devem ser interpretados como tentativa de se retirar a corda, mas,
sim, de que eles ficaram presos no momento em que a vítima estava
acomodando a corda ao pescoço (Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 70-77)
(Fisher, 2003, p. 460).
Em casos raros, o laço no pescoço é apertado com o auxílio de um
peso suspenso ou a corda é tracionada por elementos externos, como um
carro em movimento ou animais domésticos de grande porte no meio rural
(Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 70-77).
No caso de corpos em suspensão completa, em caso de suicídios,
deve existir uma rota que tenha possibilitado a escalada da vítima, tais como
mesas, cadeiras, escadas, móveis, pedras. A cena deve ser examinada com
cuidado, a fim de determinar se a escalada era possível pela vítima e nas
condições em que ela se encontrava antes do enforcamento. Em casos de
árvores, as marcas da escalada são normalmente visíveis nas cascas, limo,
folhas caídas, galhos quebrados, além da presença de matéria orgânica da
árvore nos pés, mãos, vestes ou calçados da vítima (Figura 18, Figura 19).
Uma atenção especial deve ser dada para móveis ou cadeiras que podem ter
sido movidos de forma inadvertida antes da chegada da equipe que vai
examinar a cena (Fisher, 2003, p. 460).
Figura 18 Em enforcamentos em parques ou matagais é normal que a vítima não tenha outro modo de
fixar a corda a não ser escalando a árvore (Barreto, 2019)
Figura 19 Escalada em árvores com aderência de ramo de parasito que cresce no tronco na mão da
vítima. Fotografia de Fotógrafo Criminalístico Eduardo Barreto
Mãos amarradas não são necessariamente indicativas de homicídio,
pois a vítima pode atar suas mãos nas costas com a ideia de impedir uma
tentativa de desistência do enforcamento. As mãos podem ser atadas com
cordas e fitas adesivas; até mesmo algemas já foram utilizadas. Estas
ligaduras são normalmente aplicadas de maneira fácil e frouxa (Shkrum &
Ramsay, 2007, pp. 70-77).
No suicídio por enforcamento, as vítimas destras costumam situar o
nó no lado direito do pescoço e os canhotos, no lado esquerdo. A reversão
destas posições é fato suspeito, que merece um estudo mais aprofundado
(Fisher, 2003, p. 461).
Ao trabalhar num caso de enforcamento, o Perito deve ter em mente
que a autópsia raramente pode concluir se o caso é homicídio ou suicídio.
Como regra, a tipificação só poderá ser estabelecida após o levantamento no
local, a autópsia e a investigação policial (Fisher, 2003, p. 461).
Aspectos Internos do Enforcamento
Pela suspensão total através de nó corrediço, um indivíduo saudável
perde a consciência dentro de 15-20 segundos e sofre danos cerebrais
irreversíveis no prazo de 4 a 6 minutos. No caso de suspensão incompleta, se
pode levar mais tempo (Catanese, 2010, p. 373).
Em se tratando de exame experimental com laringes humanas frescas
(Figura 20), temos que fraturas nas cartilagens tireoide e crinoide ocorrem
com a aplicação de forças estáticas de 15,8 e 20,8kg (Shkrum & Ramsay,
2007, p. 72). Já cenas dinâmicas (velocidades até 18km/h) causam fraturas
com forças, em média, 30% menores. Colapso estrutural iminente das vias
respiratórias (Figura 3) foi observado com a aplicação de uma força média de
55kg.
Crianças e Adolescentes
Suicídios por enforcamento são raros em crianças, mas existem.
Shkrum e Ramsay, ao levantarem trabalhos acadêmicos sobre suicídios
infantis, encontraram um estudo australiano que observou que apenas 3,7%
de uma série de 298 mortes por enforcamento ocorreram com crianças de 12
anos de idade ou menos. Um caso de suicídio de criança de 8 anos de idade
foi documentado em um estudo americano e outro estudo registrou o
enforcamento de um menino de 9 anos de idade. Na Irlanda do Norte foi
registrado um caso com uma vítima de 7 anos de idade. Levantamentos
escoceses e turcos mostraram uma idade mínima de 11 anos e uma
predominância do sexo masculino. As razões para o suicídio infantil incluem
desgosto profundo contra os pais, tentativa para ganhar mais afeto e até
mesmo a ideia de se juntar novamente a um parente próximo recentemente
falecido (Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 75-77).
Nos Estados Unidos as leis que facilitam uso de armas impactam na
frequência do uso destas para o suicídio de adolescentes, mas o enforcamento
é o método mais frequente. Vários estudos indicam que é comum encontrar
adolescentes suicidas com famílias desestruturadas e/ou portadores de
transtornos psiquiátricos, abuso de álcool e outras drogas, histórico de
ameaças e tentativas de suicídio e comportamento antissocial. Bilhetes de
despedida foram deixados em até um terço dos casos. A cena é, geralmente,
no lar. A maioria das mortes não é testemunhada por algum adulto, mas
outras crianças podem estar presentes na cena, em alguns casos (Shkrum &
Ramsay, 2007, pp. 75-77).
Em se tratando de acidentes, um estudo na Escócia mostrou uma taxa
de 0,7 mortes por enforcamento acidental para cada 100.000 crianças por
ano. Enforcamentos de crianças menores de 6 anos são geralmente
acidentais. Algumas mortes por enforcamento de crianças na faixa de 6 a 12
anos ficam na zona cinzenta entre o acidente e o suicídio, pois crianças nesta
idade ainda não têm uma noção clara do que é morrer (Shkrum & Ramsay,
2007, pp. 75-77).
De modo geral, Shkrum & Ramsay apresentam o seguinte quadro:
Crianças de 1 ano de idade ou menos (que não andam) podem ficar
penduradas pelo pescoço no berço ou no carrinho de bebê. Igualmente podem
ficar enlaçadas pela roupa, por fraldas, cinta elástica e cordinhas de chupetas
(Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 75-77).
Crianças com idade de 1-3 anos (capazes de andar) podem ficar
suspensas pela cabeça em camas ou cadeira alta, por exemplo. Outros casos
envolvem o enlaçamento por cintos de segurança, roupas, fraldas, cordinhas
de chupeta, cabos de cortina, varais desmontáveis, fiações elétricas expostas
ou corda de balanço (Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 75-77).
Temos ainda os casos de enforcamento no vidro (elétrico ou não) de
automóveis ou entre a tampa e o corpo de baús, caixas e arcas de brinquedos
(Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 75-77).
Toda e qualquer morte no berço requer mais cuidado na perícia pelos
fatores emocionais envolvidos; um deles é a pressa em apontar culpados. De
qualquer maneira, uma boa inspeção nas condições de entorno é necessária
para afastar ou não a possibilidade de enforcamento ou outro tipo de asfixia
acidental.
Crianças mais velhas e em grupo podem produzir acidentes em
brincadeiras de laço, peão boiadeiro, rodeio ou cowboy, sendo igualmente
possíveis brincadeiras com enforcamentos, saltos de pequena altura de camas
e de móveis que tenham algum material para produzir um laço. Também
ocorrem acidentes com o enlace do pescoço em janelas ou enforcamento em
equipamentos de playground (Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 75-77) (Figura
29).
Homicídios de crianças por enforcamento são raros e o levantamento
na literatura inclui uma menina de 8 anos enforcada em área aberta, duas
crianças de 2 e 5 anos de idade em enforcamento duplo e uma menina de 4
anos encontrada pendurada em uma maçaneta. Nos casos pesquisados havia
evidências de agressão sexual (Shkrum & Ramsay, 2007, p. 77).
Figura 29 Menina morta por enforcamento em vidro de carro (Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 75-77)
Asfixia Erótica
Talvez mereça uma nota especial este tipo de asfixia, que a rigor,
pode ser praticada com técnicas variadas.
Segundo Lee (2003), apesar do aprofundamento do conhecimento
científico sobre mortes por asfixia erótica, o levantamento da cena de crime
nesse tipo de situação pode ser bastante complicado, devido à sua natureza
incomum. Algumas cenas deste tipo têm a participação de mais de uma
pessoa, embora trate-se de uma atividade geralmente solitária. No caso da
participação de parceiro(s), a diferenciação entre acidente e homicídio é
particularmente difícil. Horswell (2003) citou um exemplo dessa situação,
relatando um estudo australiano sobre a morte por asfixia de uma mulher
encontrada em um motel. Seu parceiro declarou morte acidental. As
circunstâncias somente foram esclarecidas com ajuda de depoimentos de
parceiros anteriores, que relataram as mesmas práticas rituais. O tipo de
prática descrito no estudo é mais comum entre os homens, mas não se podem
excluir as mulheres, como ficou claro no exemplo citado. Os achados de
necropsia são os mesmos para qualquer outro tipo de asfixia mecânica, mas
os achados da perinecroscopia são a alta incidência de nudez ou travestismo,
evidência de masturbação, estímulo anal, brinquedos sexuais, literatura
pornográfica ou sobre a prática e, às vezes, equipamentos e dispositivos
complexos para a produção da asfixia (Horswell, 2003, pp. 254-255).
O objetivo da prática é incrementar o prazer durante a masturbação
ou a prática sexual. Segundo Wagner (2009), as vítimas são geralmente do
sexo masculino e a cena se compõe da vítima nua, ou com roupas eróticas,
cercada, muitas vezes, de material pornográfico e artigos eróticos. O sistema
de pressão pode ser elaborado com algum mecanismo de “segurança”. Como
por oclusão da jugular pode-se perder a consciência entre 15 a 20 segundos, a
vítima pode equivocadamente desmaiar e depois se asfixiar. Uma toalha ou
algum dispositivo macio é frequentemente colocado entre o laço e o pescoço
para prevenir lesões (Wagner, 2009, pp. 107-109). Geberth (2003) reporta
casos, nos Estados Unidos, onde vítimas masculinas utilizavam roupas
femininas (Figura 30) e, não raras vezes, filmavam o ato (Geberth, Sex-
Related Homicide and Death Investigation Practical and Clinical
Perspectives, 2003, p. 42).
Figura 30 Homem travestido e morto em prática de masturbação com enlaçamento do pescoço
(Geberth, Sex-Related Homicide and Death Investigation Practical and Clinical Perspectives, 2003, p.
157)
II. Corpos Humanos em Incêndios
Monóxido de Carbono
Como o Monóxido de Carbono é o principal gás que causa
sufocamento, pois incêndios são grandes produtores deste gás e de suas
vítimas, iremos tratar dele nesta secção.
Monóxido de carbono (CO) é um dos produtos da queima
incompleta( 2C + O2 = 2CO + calor) de um combustível que contenha
Carbono (quase todos encontrados em ambiente doméstico). A combustão
completa ( C + O2 = CO2 + calor) produz Dióxido de Carbono (CO2), mas a
pobreza de Oxigênio geralmente produz certo percentual de monóxido de
carbono, ou seja, a reação não se dá de forma completa. Na prática, a não ser
em condições de laboratório, não existe queima completa e incêndios em
ambientes confinados ou com pouca ventilação geram sempre queima
incompleta; portanto, monóxido de carbono.
O monóxido de carbono tem uma afinidade muito grande com a
hemoglobina; cerca de 210 vezes maior que a do oxigênio, o que explica a
grande toxidez deste gás (Redsicker & O’Connor, 1985, p. 219) e que torna
esta intoxicação a causa mais comum de morte em incêndios. A concentração
de apenas 1,3% de monóxido de carbono no ar atmosférico pode causar
inconsciência após duas ou três inspirações e morte após alguns minutos. A
morte por intoxicação com monóxido de carbono tem a característica de
produzir livor mortis na cor vermelho-cereja (Figura 31) e produzir esta
coloração nos órgãos internos e no tecido muscular.
Conforme Fischer (2003), concentrações acima de 0,01% em volume
já podem prejudicar o ser humano e, acima de 0,2%, podem ser perigosas
para a própria vida. A exposição contínua a um ambiente assim pode produzir
a morte dentro de uma hora. Se a concentração aumenta para 0,5% ou mais,
dá-se a inconsciência depois de alguns minutos e, a seguir, a morte. Com
concentrações mais elevadas, a inconsciência vem de imediato (Fisher, 2003,
p. 471).
Figura 31 Livor vermelho cereja causado por Monóxido de Carbono
O grande perigo do monóxido de carbono provém do fato de os
sentidos humanos não darem aviso a tempo suficiente de evitar a morte.
Gradualmente, a pessoa fica sonolenta e confusa, e os membros tornam-se
insensíveis. Quando a vítima começa a perceber o perigo, já é, geralmente,
tarde demais, pois o corpo já está tão fraco que a vítima, talvez, não pode
mais ser capaz de se mover para a segurança. Em muitos casos de intoxicação
por monóxido de carbono, o cadáver é encontrado perto de uma porta ou
janela, mas em posição que mostra ter sido incapaz de abri-la ou não ter
chegado a pensar em quebrar o vidro (Fisher, 2003, p. 471).
O consumo de álcool e outras drogas potencializam os efeitos do
monóxido de carbono, pois, quando a vítima está sob o seu efeito, o oxigênio
transportado para o cérebro é limitado. Quando a vítima inala o monóxido de
carbono, este substitui o oxigênio rapidamente, já restrito no sangue, e a
inconsciência e a morte se dão bem mais rapidamente do que numa situação
normal (Redsicker & O’Connor, 1985, p. 219).
Na autópsia, seria aconselhável testar o nível de carboxihemoglobina
(monóxido de carbono presente na hemoglobina). A presença de
carboxihemoglobina no sangue é um elemento muito importante para
determinar se a vítima estava viva antes ou durante o incêndio. Sua
concentração é dada em termos de percentual de saturação. Esta presença é,
geralmente, devido à inalação de monóxido de carbono produzido pelo
incêndio. Entretanto, a simples presença de carboxihemoglobina em taxas
baixas não comprova a morte por intoxicação por monóxido de carbono no
caso de corpos queimados (Redsicker & O’Connor, 1985, p. 219)
A intoxicação por monóxido de carbono provoca uma progressão dos
sintomas variáveis de acordo com a idade do indivíduo, sua saúde e o
percentual do gás no sangue. Os fumantes podem ter taxas de até 10% de
saturação. Níveis entre 10% e 20% causam dores de cabeça, náuseas e
vômitos em adultos saudáveis, mas podem causar a morte em crianças ou os
adultos com doenças cardíacas ou pulmonares. Em adultos saudáveis, 50% de
monoxido de carbono é normalmente fatal (Wagner, 2009, p. 98).
Taxas menores que 10% também ocorrem mesmo em não fumantes,
pois é possível a absorção de monóxido de carbono, em um cadáver, por
outros métodos que não a respiração; assim, corpos de pessoas mortas, antes
de um incêndio e submetidos à exposição dos gases, podem apresentar
contaminação mesmo não sendo fumantes.
Pelo visto nos parágrafos anteriores, conclui-se que taxas de
saturação de carboxihemoglobina menores que 10% apontam fortemente para
morte anterior ao incêndio.
Outro aspecto a salientar é que uma vítima de incêndio não precisa
estar, necessariamente, com alguma queimadura; basta que a mesma esteja
em algum local confinado e seja intoxicada por monóxido de carbono
oriundo de uma queima incompleta (Figura 32). Para que isto ocorra, não é
necessário um grande incêndio.
Além dos incêndios propriamente ditos, a intoxicação por monóxido
de carbono pode ser causada por suicídio, usando-se para isto qualquer fonte
de combustão, geralmente gás ou motor de automóvel disponível em
ambiente confinado. Acidentes também podem ocorrer com mais frequência
no inverno, onde a necessidade de aquecimento é satisfeita com ambiente
fechado.
Figura 32 Vítimas de intoxicação em um incêndio (Dix, 1999, p. 122)
Aquecedores a gás, fornos de fogão, aquecedores de água, fogões a
lenha e até mesmo lareiras podem provocar intoxicações.
A diferença entre um acidente e um suicídio provocado desta maneira
é, muitas vezes, difícil de se estabelecer. A morte acidental por monóxido de
carbono nem sempre é de fácil caracterização na cena do crime. Um estudo
realizado por Risser et al. constatou que cerca de 40 por cento das
intoxicações acidentais por monóxido de carbono não foram reconhecidas na
cena. Essa taxa diminui ainda mais no caso de vítimas idosas, já que, com a
idade, há aumento da redução da concentração de carboxihemoglobina letal
(Horswell, 2003, p. 140).
Corpos em Incêndios
Apenas a autópsia pode determinar de forma taxativa a causa da
morte e dos ferimentos em uma pessoa que teve o corpo exposto à ação de
chamas, mas, normalmente a morte se dá por asfixia com fumaça, com
monóxido de carbono ou por trauma pela ruína de vigas, paredes, forros e
móveis. Assim, geralmente, a vítima já está morta quando as chamas
começaram a consumir o corpo (Fisher, 2003, p. 467). Entretanto, num
quadro onde o Laudo do Legista com as informações que determinaram a
causa mortis pode levar semanas até estar disponível, o Perito que faz o
exame na cena de morte deve formular suas próprias impressões para avaliar
e examinar este tipo de local. Desta forma, alguns conhecimentos sobre a
dinâmica deste tipo de morte podem ser bastante úteis.
Na avaliação de um incêndio com vítimas, um dos vestígios mais
importantes são os restos dos corpos humanos, pois os mesmos são de difícil
queima e é bastante comum que, ao final do sinistro, a combustão dos
mesmos seja parcial. Até mesmo na cremação para fins de funeral, onde o
corpo é exposto às chamas durante aproximadamente duas horas, os dentes
normalmente permanecem inteiros.
O estado final de um corpo encontrado morto na cena do fogo é
bastante variável. Ele pode estar relativamente intacto, com as áreas cobertas
pelas roupas relativamente protegidas e as demais apenas cobertas por
fuligem. Pode apresentar áreas queimadas, que são classificadas, de maneira
tradicional, em primeiro grau ou superficial da pele (“vermelhidão”, eritema);
segundo grau ou intermediária, ou seja, estendendo-se mais profundamente
na derme e caracterizada por bolhas; terceiro grau (necrose total da epiderme
no ponto queimado); e quarto grau, com a incineração de músculos e tecidos
adjacentes à pele. Como se trata de morte, podemos ter também a
carbonização extensa e, mesmo, a desintegração do cadáver (Shkrum &
Ramsay, 2007, p. 185). Esta desintegração pode ser maximizada, se ele for
removido da cena por pessoal sem treinamento adequado ou, mesmo, pelos
técnicos de combate ao fogo.
Bohnert et al, sintetizaram, em 1998, os principais efeitos do calor
sobre um corpo humano:
Figura 38 No perído pesquisado de 10 anos (2008-2017) temos o expressivo número de 64.506 casos
(Ministério da Saúde, Brasil, 2019)
Figura 44 Posição típica de afogado em livre flutuação com as áreas sujeitas a lesões post mortem em
corpos submersos (Fisher, 2003, p. 441)
Figura 45 Corpo em livre flutuação (Barreto, 2019)
Figura 47 Corpo submerso com apenas a mão em contato com o ar. Notar a diferença de decomposição
(Dix, 1999, p. 68)
Figura 48 Corpo submerso com o dorso em contato com o ar. Ver diferença de decomposição (Barreto,
2019)
A posição de flutuação de um corpo à deriva ao longo de um curso
de água ou sujeito ao vagar de ondas, marés ou correntes costeiras poderá
apresentar um padrão de lesões post mortem, que refletirá a sua posição
flutante. Abrasões poderão ser encontradas na testa, nos pontos proeminetes
da face, na região anterior do tronco, o dorso das mãos e a região anterior das
pernas. O corpo pode ser atacado por tubarões, por peixes pequenos ou outra
fauna selvagem. As partes moles do rosto, como os olhos, por exemplo, são
particularmente vulneráveis a peixes e crustáceos. Lesões post mortem
podem também ser inadvertidamente produzidas durante a recuperação do
corpo usando ganchos ou cordas. Lesões post-mortem em áreas de lividez
ainda não permanentes podem sangrar, simulando feridas antemortem
(Siegel, Saukko, Knupfer, & James, 2005, p. 230)
Um dos achados externos mais comuns no afogado é a presença de
espuma esbranquiçada, resultado da mistura do muco com a água, na boca,
no nariz e na tráqueia (Geberth, Practical homicide investigation: tactics,
procedures, and forensic techniques, 2006, p. 245).
Achados Internos
Alguns resultados da autópsia são típicas, mas não especifícos, de
afogamento e também não presentes em todos os afogamentos. A observação
simultânea de espuma no nariz e na boca (Figura 49), líquido espumoso nas
vias aéres e enfisema aquoso nos pulmões são indicativos muito fortes de
afogamento, mas, infelizmente, esta combinação se encontra presente em
apenas 10% dos casos entendidos como afogamento. A freqüência destes
achados diminui significativamente com o aumento do tempo imersão pós-
morte, como conseqüência do desenvolvimento da putrefação. A espuma,
geralmente de coloração esbranquiçada, é vista exalando da boca e das
narinas e é encontrada na traquéia e brônquios principais. Às vezes, é
também misturada com sangue, apresentando uma cor do róseo ao vermelho.
A composição da mesma é uma mistura de ar, muco, fluido de edema
pulmonar e, em menor medida, água inalada, mesclados pelo esforço
respiratório; sendo assim, é produto de um processo vital, ou seja, a pessoa
ainda vivia quando a espuma se produziu, sendo um fenômeno ante mortem.
No entanto, a espuma não é específica para o afogamento e é encontrado em
outros casos, como edema pulmonar grave, overdose de heroína ou
insuficiência cardíaca congestiva. Sem a mistura com água, espuma é
também vista em casos de ferimento no pulmão. Em um corpo na água, a
espuma persiste até que ele seja destruído pela putrefação, que irá substuí-la
por um líquido marrom-avermelhado, malcheiroso, contendo bolhas de gases
da putrefação. (Siegel, Saukko, Knupfer, & James, 2005, p. 230).
Figura 49 Espuma
Os pesos dos pulmões de afogados em água doce e os dos afogados
em água salgada não são estatisticamente diferentes. A média do peso
combinado dos dois pulmões em afogamento em qualquer um dos meios é de
aproximadamente 1.4 kg, com um desvio padrão de 400 g. Este levantamento
também indica, daí o elevado desvio padrão, que não há aumento de peso dos
pulmões em cerca de 10 a 15% dos afogamentos, os quais são caracterizados
como “afogamentos secos” por vários autores. No período imediatamente
post mortem há extravasamento de líquido. O peso dos pulmões após o
afogamento é significativamente influenciado pelo sexo e pela idade da
vítima (Siegel, Saukko, Knupfer, & James, 2005, p. 231).
Material, como areia, lodo, conchas e ervas daninhas podem ser
encontrados nas vias aéreas, pulmões, estômago e duodeno de corpos
retirados da água. Estes materiais podem entrar pela faringe e daí passar para
a traqueia e para o restante do sistema respiratório durante a imersão post
mortem. É possível que pequenas quantidades destes materiais podem entrar
no esôfago e no estômago, no caso de corpos na água que não afogados, mas
é improvável que alcancem os bronquíolos e alvéolos em quantidades
significativas se a morte não for por afogamento. Assim, para corpos
recuperados dentro de 24 horas após a submersão, o achado de material
estranho de forma abundante geralmente distribuído dentro dos alvéolos
fornece fortes indícios de imersão ainda com vida e, consequentemente,
afogamento.
Encontrar grandes quantidades de areia nas vias aéreas superiores
aumenta a probabilidade de inalação de água com areia em suspensão,
situação típica produzida por ondas em praias de mar aberto. Nestas
circunstâncias, a morte é muito rápida e a presença de grandes quantidades
destes detritos e de água dentro do estômago sugere fortemente a imersão
durante a vida. Após a submersão, a vítima pode tentar parar a respiração por
tanto tempo quanto for possível, processo este que será interrompido por um
uma aspiração involuntária e com ingestão de água; assim, a ingestão de
grandes quantidades de água só é susceptível de ser encontrada naqueles que
tentaram estender apneia voluntariamente. A ausência do meio de
afogamento no estômago sugere uma morte rápida por afogamento ou uma
morte por outras causas, tais como parada cardíaca ou a morte antes da
entrada na água. Em casos mais raros, ervas daninhas, galhos e outros
materiais podem ser encontrados nas mãos da vítima. Este processo também
pode se dar por espasmo cadavérico (rigor mortis instantâneo), mas fornece
uma boa evidência de que a vítima estava viva, consciente e lutando no
momento da submersão (Siegel, Saukko, Knupfer, & James, 2005, p. 231).
Vítimas lutando violentamente para sobreviver na água podem
apresentar contusão ou ruptura dos músculos, principalmente na cintura, no
pescoço e no peito. Estas lesões são fortes indicativos de que a vítima entrou
viva na água, mas não devem ser confundidas com eventos de agressão ante
mortem (Siegel, Saukko, Knupfer, & James, 2005, p. 231).
Afogamento “Seco”
Morrer na água não significa, necessariamente, afogamento. Em até
15% dos casos ocorre o chamado afogamento seco. Trata-se de contusão na
cabeça ou outro órgão, no mergulho, choque térmico pela entrada em água
muito fria, estimulação do nervo vago ou outras causas. Nestes casos, a
entrada de água nos pulmões é mínima; daí uma das ideias para o nome de
afogamento seco. Neste tipo de vítima é provável um maior período de
flutuação do cadáver (Rebmann, Edward, & Marcella, 2000, p. 161) (Figura
50).
Figura 50 https://www.checkupnewsroom.com/dry-drowning-and-children-what-parents-should-know/
Não há aumento de peso dos pulmões em cerca de 10 a 15% dos
afogamentos, os quais são caracterizados como “afogamentos secos” por
vários autores. Pounder, entretanto, entende que esta terminologia é confusa e
ilusória, não a recomendando “In the past, these cases were often
characterized as ‘dry drowning’, a confusing and misleading terminology that
is not recommended” (Siegel, Saukko, Knupfer, & James, 2005, p. 230).
A ocorrência de grave espasmo glótico foi pensada como mecanismo
possível para a prevenção de entrada de água nos pulmões (Shkrum &
Ramsay, 2007, pp. 244, 254).
Testemunhas descreveram situações em que as vítimas estavam
nadando, boiando ou se atirando na água e simplesmente afundaram sem se
debater. Nestes casos, mesmo com a remoção imediata e trabalhos de
reanimação, a morte parece ter sido imediata. Em um estudo de 34 casos
deste tipo, para os quais foi possível obter informações, apenas quatro
indivíduos voltaram à tona. A quantidade de água aspirada é muito pequena e
a parada cardíaca respiratória parece ter impedido a aspiração de mais
líquido. Uma súbita entrada de uma pequena quantidade de água no pulmão
pode estimular o nervo vago a produzir uma parada cardíaca imediata. A
síndrome afeta particularmente a meia-idade ou homens mais velhos que
tenham ingerido etanol (Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 244, 254).
Afogamento Tardio
Nos casos de recuperados de afogamento, as complicações
pulmonares podem surgir sem perda de consciência ou cessação da
respiração. Danos nos alvéolos podem se desenvolver em até 12 horas após
um incidente de quase afogamento. Mesmo após ser “salva” a vítima
permanece com risco de aspiração do conteúdo gástrico. A aspiração e a
inalação de material estranho podem contribuir para o surgimento de
infecções e morte por septicemia (DeNicola, Falk, Swanson, Gayle, &
Kissoon, 1997, pp. 13:477-502). Cerca de um terço de todos os sobreviventes
deste tipo de evento apresenta ter de moderada a grave lesão cerebral. É
bastante possível que a lesão cerebral possa ser classificada como dano
permanente à vítima, gerando ação do estado ou da própria vítima, no caso de
outro ter dado causa ao evento (Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 244-254).
Figura 51 Hipotermia em senil. Uma praia do Guaíba. As setas apontam depósito de areia do lago que
mudou de nível. A medida entre a areia e o nível no momento do exame, comparada com as tábuas de
altura do porto, foi usada para estimar a hora da morte. Foto do Autor
Algas e Testes de Laboratório
As dificuldades inerentes da autópsia de corpos recuperados da água
levaram à busca de diagnósticos de laboratório. Foram tentadas análises de
deslocamento de fluídos e eletrólitos, peso específico do sangue e outros, mas
todos estes testes, apesar de ajudarem, não podem ser considerados
definitivos. Atualmente, temos apenas um teste de ampla aceitação, que é o
teste de diatomáceas. Diatomáceas, ou Bacillariophyceae, são uma classe de
microscópicas algas unicelulares, das quais cerca de 15 000 espécies são
conhecidas, que vivem tanto na água doce, como na água do mar. A estrutura
das células das diatomáceas é única, pois elas secretam um esqueleto rígido
externo, feito de sílica, que é quimicamente inerte e quase indestrutível,
sendo resistente aos ácidos fortes. A classificação das diatomáceas é baseada
na sua estrutura de sílica. Durante o afogamento, as diatomáceas presentes no
meio poderão entrar na circulação sistêmica, após passar pelos pulmões, e se
alojarem nos tecidos, como os da medula óssea. Os tecidos do pulmão não
devem ser utilizados para testes, pois são facilmente contaminados pos
mortem, não havendo grande diferença entre afogados e corpos mortos caídos
na água, quanto ao aspecto da presença de diatomáceas. Este teste, no caso de
afogamento, baseia-se na busca destas algas na medula óssea e na
comparação destas com as da água onde a vítima teria se afogado; o que
reforça a importância da coleta de amostra de água dos possíveis locais de
afogamento. Dadas as devidas precauções para evitar a contaminação, este
teste é evidência comprobatória forte de morte por afogamento, valendo
também para corpos já em decomposição, desde que não tenha ocorrido
mutilação dos ossos do cadáver (Siegel, Saukko, Knupfer, & James, 2005, p.
232).
Um ramo da Biologia é de especial interesse para o estudo de
afogados: A Limnologia. Este é o nome da disciplina que originalmente se
concentrava no estudo dos lagos de água doce, mas hoje se estende para os
lagos, lagoas, reservatórios, rios, açudes, represas, riachos, brejos, áreas
inundáveis, águas subterrâneas, águas temporárias, nascentes e fitotelmos.
Essa disciplina pode ser útil para a associação de vítimas e suspeitos de
assassinato a um determinado local de afogamento ou de deposição de um
cadáver, com a necessária pesquisa de material nas roupas ou nos sapatos,
por exemplo, ou de constatação de diatomáceas no corpo (Coyle, 2005, pp.
15, 143).
Em particular, as plantas aquáticas, por exemplo, algas e diatomáceas
(Figura 52), são úteis para ligar suspeitos a um crime ou para estabelecer que
o afogamento ocorreu em água doce, água tratada ou salgada, pois, como já
foi dito, as diatomáceas são facilmente identificadas e classificadas. As
populações de diatomáceas podem variar sazonalmente. Em climas mais
frios, podem ocorrer em grandes expansões no início da primavera. Após essa
expansão, ocorre uma mortandade, mas os seus “esqueletos” de sílica
permanecem na água durante o verão, devido à natural dificuldade de
decomposição das suas paredes. Cada tipo de diatomácea em uma forma
característica e índice de refração próprio, dada a composição de sílica, que
ajuda na identificação das diferentes espécies presentes no cadáver ou na
cena. Em um estudo de 771 casos, no Canadá, as diatomáceas foram
encontradas em 28% dos casos de afogamento em água doce, mas raramente
foram encontrados em afogamentos em água tratada.
Figura 52 Diatomáceas Marinhas (Wikipedia Foundation), autor Prof. Gordon T. Taylor, Stony Brook
University
Como exemplo de estudo de caso concreto de uso do conhecimento
de Limnologia, temos um caso de 1991, onde dois jovens foram atacados por
assaltantes enquanto pescavam em um lago em Connecticut (Coyle, 2005, p.
173). Os rapazes foram amarrados com fita adesiva, espancados e arrastados
para dentro da lagoa para se afogarem. Um dos garotos conseguiu se libertar,
salvar a si e ao amigo. Depois de muitas horas de investigação criminal, três
suspeitos foram presos. Para ligação dos suspeitos com a cena do crime, os
investigadores aproveitaram a presença de sedimentos nos calçados das
vítimas e dos agressores. Uma análise microscópica das amostras de cada par
de calçado, além de exemplos de referência da lagoa, mostrou a presença das
mesmas espécies de algas e semelhante padrão de distribuição de cada uma
delas. Estes resultados apoiaram a posição de que todas as amostras eram
originadas a partir de um mesmo local de água doce (Coyle, 2005, pp. 172-
173).
Diatomáceas são microrganismos eucariontes unicelulares que
ocorrem nos mais diversos ambientes úmidos e aquáticos, suspensos na
coluna d´água ou aderidos a diversos substratos: macrófitas (epifíticas),
rochas (epilíticas), animais (epizóicas), grãos de areia (episâmicas),
sedimento (epipélicas). São fotossintetizantes, possuindo clorofilas do tipo a
e c, mas poucas espécies são capazes de resistir heterotroficamente a
condições de pouca luz e de baixa disponibilidade de matéria orgânica. A
principal característica morfológica das diatomáceas é a parede celular
impregnada de sílica (SIO2.nH2O), envolvida por uma fina camada de
matéria orgânica, conhecida como FRÚSTULA (Cavalcante, 2019) . Esta
estrutura é particularmente útil, pois estes organismos deixam como rastros
da sua colonização a estrutura externa de sílica, como ocorre quando entram
em contato com a corrente sanguínea (Figura 53).
Figura 53 Valvas de diatomáceas marinhas em lâmina confeccionada pelo espanhol Muñoz Moraton,
coleção do Prof. Hermes Moreira-Filho .Foto de Kaoli Cavalcante (Cavalcante, 2019).
Figura 54 Ataques de tubarão a cadáver (Siegel, Saukko, Knupfer, & James, 2005, p. 1470).
O conhecimento dos eventos e das reações durante um afogamento é
baseado em relatos de testemunhas, estudos em humanos e experimentos em
animais (Modell, Bellefleur M, & Davis, 1999, pp. 1119-23). Assim,
sabemos que, quando ocorre a imersão, a vítima, se sóbria, detém
voluntariamente a sua respiração. Um grande volume de água pode ser
ingerido, causando vômito e risco de aspiração do conteúdo gástrico. Luta,
com a vítima se debatendo na água, ocorre na maioria dos casos, sendo,
porém, menos esperadas em crianças, que podem afundar calmamente. A
reação normal de prender a respiração persiste até que haja um desejo
incontrolável de respirar e ocorra um suspiro involuntário, motivado pela
necessidade de eliminar dióxido de carbono. Durante o período em que a
respiração está trancada, a vítima é incapaz de pedir ajuda. A duração média,
em voluntários, da capacidade de prender a respiração é de apenas 1,5 min
para indivíduos com algum treino e de 1 min para pessoas comuns. Estudos
indicam que a capacidade de prender a respiração é reduzida em água fria
(Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 242-256) .
Em animais, temos experiências onde eles foram completamente
submersos e incapacitados de voltar para a superfície. A submersão inicial é
seguida pela luta do animal contra a situação e tentativa e voltar à tona. A
respiração cessa até que a acumulação de dióxido de carbono obriga a
inspiração, seguindo a inalação de água, tosse, vômito, perda de consciência,
movimentos respiratórios involuntários e a morte depois de alguns minutos.
Por analogia, entende-se que estas fases são válidas para os seres humanos,
mas somente podem ser aplicadas, com significativo grau de certeza, para
aqueles indivíduos que foram submersos e se mostraram incapazes de
retornar para a superfície. Para o ser humano que se debate na água e tenta
nadar, o processo será, certamente, diferenciado (Siegel, Saukko, Knupfer, &
James, 2005, p. 229).
Após a entrada da água inalada no espaço alveolar dos pulmões,
trocas de fluídos e eletrólitos, devido às diferenças no gradiente osmótico
entre a água do alvéolo e a do sangue, passarão a acontecer. A água doce é
hipotônica e com menor concentração de sódio em relação ao sangue; isto é
importante, pois o resultado da inalação de água doce leva água dos alvéolos
para o sangue e de sódio do sangue para os alvéolos. O resultado é a
hemodiluição, a hipervolemia e a hiponatremia com hemólise associados à
hiperpotassemia. No caso da água do mar, é justamente o contrário, pois esta
é hipertônica em relação ao sangue, resultando em fluxo de água do sangue
para os alvéolos e de sódio e magnésio dos alvéolos para o sangue.
Consequentemente, há hemoconcentração, hipovolemia e hipernatremia
(Siegel, Saukko, Knupfer, & James, 2005, p. 229).
Tanto a água doce como a água salgada causam danos nos alvéolos,
destruindo a sua superfície e induzindo um edema pulmonar, com o
extravasamento de líquido rico em proteínas para os espaços alveolares
(Siegel, Saukko, Knupfer, & James, 2005, p. 229), mas as mudanças no
volume de sangue e concentração nos seus eletrólitos, ao contrário do que se
observou em experimentos com afogamentos de animais, geralmente não são
significativos o suficiente para produzir certeza de diagnóstico nos casos reais
de afogamento (Orlowski, 1987, pp. 75-92). Outros estudos, entretanto, em
vítimas de afogamento em água doce e salgada, mostraram que 15% dos
indivíduos tinha inalado mais de 22ml de água por kg de massa corpórea,
causando alterações significativas nos níveis de cloro no ventrículo esquerdo
(a pequena circulação), mas fibrilação ventricular causada por distúrbio
eletrolítico é achado incomum na clínica. Por outro lado, deve-se considerar
que mudanças no volume intravascular em afogamentos em água doce ou
salgada é um processo e, portanto, transitório no contexto de corpos
submersos (Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 247-256).
Edema pulmonar ocorre não apenas em água salgada, mas também
em água doce; entretanto, parcela da água doce pode ser absorvida
rapidamente na circulação por osmose, pois o sangue tem uma concentração
salina bem maior que a água doce. Isto diverge do senso comum, que diz que
os afogados, necessariamente, “têm água no pulmão”. A hipóxia é também
aumentada pela obstrução de vias aéreas por espuma (líquido de edema
misturado com água e ar), muco e material extracorpóreo (Shkrum &
Ramsay, 2007, pp. 247-256).
Nos estudos, não foi detectada diferença significativa na sobrevida
em afogamentos de água doce ou salgada; no entanto, os serviços de
emergência podem ser melhores em áreas costeiras com praias, em
comparação com as áreas de água interior.
O impulso irresistível para respirar é estimulado por uma combinação
do aumento do dióxido de carbono arterial (PaCO2) com a diminuição de
oxigênio arterial (PaO2). A pressão de PaCO2 média neste momento da
respiração forçada é de 60 mmHg e a PaO2 é de cerca de 80 mmHg. A prática
da hiperventilação reduz a PaCO2 para menos que 50 mmHg, possibilitando
maior tempo dentro da água (Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 247-256).
Uma parte importante do exame de autópsia é a exclusão de doença
que poderia causar a morte quando a vítima estava dentro da água (Siegel,
Saukko, Knupfer, & James, 2005, pp. 229, 394).
Suicídios e Homicídios por Afogamento
Conforme Fisher (Fisher, 2003, p. 406), afogamento, junto com
enforcamento, tiro de arma de fogo, envenenamento, precipitação de altura e
corte de artérias são as formas mais comuns de suicídio.
Nos casos de afogamento, a questão é, em geral, se o caso foi suicídio
ou acidente (Fisher, 2003, p. 466). Se existirem lesões acessórias que
sugerem escorregamento sobre pedras ou tentativa de saída, como abrasões
nas mãos e unhas ou até mesmo dedos quebrados, temos um indicativo de
acidente (Fisher, 2003, p. 466); por outro lado, a vítima de suicídio pode
mudar de ideia já dentro da água e se lesionar ao tentar sair.
Homicídios por afogamento são incomuns e, para serem efetuados,
exigem disparidade física entre o agressor e a vítima ou a incapacitação desta
por bebida, doenças ou drogas. Em alguns casos e circunstâncias especiais, a
vítima pode ser atacada com completa surpresa, o que dispensaria a vantagem
física. Em casos de suicídio, podemos encontrar os bolsos cheios de pedras
(“âncoras” improvisadas) ou as mãos ou pés amarrados; nesses casos, as
amarras devem ser examinadas para se determinar se elas poderiam ser feitas
pela própria vítima. Estas amarras são, portanto, possíveis tanto no suicídio
quanto no homicídio (Fisher, 2003, p. 466). Podendo haver também o uso
concomitante de outros métodos suicidas, como álcool, drogas ou corte de
pulsos.
Nos casos encontrados na literatura, as evidências produzidas pelos
próprios suicidas têm se mostrado os indícios mais importantes na elucidação
dos quadros. Temos como exemplos: testemunhas, bilhetes, histórias de
ideação suicida, doença terminal, comportamentos bizarros recentes,
depressão e histórico de lesões auto infligidas. Achados de apoio à tese de
suicídio são observações de roupas e pertences pessoais encontrados
empilhados ou ordenados à margem da água, um conjunto de pegadas
sugerindo entrada deliberada na água, histórico de problemas psiquiátricos
(Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 240-246). Entretanto, todo o cuidado é pouco,
pois algum eventual interessado na morte da vítima pode ter conhecimento do
seu histórico e simular situações de eventual falta de cuidados para disfarçar
um homicídio (Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 240-246).
Missliwetz relata que o afogamento pela introdução de água nas vias
áreas superiores é técnica relatada para assassinato de doentes ou idosos
terminais na Áustria. Diversos casos foram observados em assassinatos
seriais por enfermeiros ou enfermeiras (Missliwetz, 1994, pp. 194:1-7).
Fisher, por sua vez, coloca o afogamento como uma das práticas peculiares
para o caso de Infanticídio (Fisher, 2003, p. 466).
Grupos de Risco
A maioria das vítimas de afogamento é de jovens adultos e crianças
que morrem acidentalmente. Entre os adultos, há uma predominância de
homens, como em todo o tipo de morte forçada, e há uma forte associação
com o consumo de álcool (Siegel, Saukko, Knupfer, & James, 2005, p. 227).
Levantamentos diferentes confirmam uma predominância do sexo masculino,
com mais de 65% dos casos. Este fato sugere que os homens têm uma maior
facilidade em assumir riscos na água. Muitos nadadores que se afogam são
adolescentes (Davis & Smith, 1985, pp. 739-742) (DeNicola, Falk, Swanson,
Gayle, & Kissoon, 1997, pp. 13:477-502). Drogas e álcool são bastante
encontrados na morte de adolescentes, especialmente quando falta a
supervisão de um adulto (Wintemute, Kraus, Teret, & Wright, 1990, pp.
80:1068–1070). A maioria das vítimas de afogamento podia nadar, o que
sugere que outros fatores podem estar envolvidos (Press, Walker, &
Crawford, 1968, pp. 58:2275–2289). Outras atividades associadas com
afogamento incluem banho, pesca, canoagem e barco a motor. Afogamento
de homens mais velhos são frequentemente associados a determinadas
actividades, como pesca e motonáutica (Patetta & Biddinger, 1988, pp.
103:406-411). A maioria destes indivíduos vitimados não estavam vestindo
coletes salva-vidas (Wirthwein, Barnard, & Prahlow, 2002, pp. 47:131-22)
(Hedberg, et al., 1984, pp. 75:218–222). Vítimas também ocorrem em
transporte de passageiros, aí envolvendo superlotação ou velocidade
imprudente (MacLachlan, 1984, pp. 75:218-222). Em todo o caso, é
necessário excluir a possibilidade de a vítima ter entrado na água com o fito
do suicídio (Wirthwein, Barnard, & Prahlow, 2002, pp. 47:131-136).
Afogamentos em piscinas públicas, com ou sem salva-vidas, são mais
raros e, geralmente, envolvem adolescentes, mas há também registros de
crianças e de adultos (Pearn & Nixon, 1997, pp. 307-309).
As crianças estão sob maior risco de afogamento quando são menores
de 4 anos. Já os jovens apresentam maior risco na faixa dos 15-19 anos. Essas
idades particulares refletem a incapacidade dos pequenos para entender ou
lidar com os riscos apresentados pela água. Já na faixa de 15–19 anos, o
resultado é indicativo do comportamento de risco, muito comum nesta idade.
No caso de crianças, não se pode descartar a hipótese de homicídio por adulto
ou por grupo de outras crianças e adolescentes (Byard & Lipsett, 1999).
Outros estudos independentes comprovam que as crianças são grupo
de risco para afogamento (Jumbelic & Chambliss, 1990, pp. 1952-1953). As
crianças, particularmente aquelas menores de 2 anos, são vulneráveis, pois
suas habilidades motoras não estão plenamente desenvolvidas e elas não tem
habilidade para lidar com situações perigosas na água. Elas não podem gritar
muito alto e são geralmente incapazes de nadar ou mesmo de “boiar” e de
lutar contra a situação (Byard & Lipsett, 1999, pp. 328-332) (Kibel, Nagel,
Myers, & Cywes, 1990, pp. 418-421). No Rio Grande do Sul os afogamentos
são fenômenos sazonais ligados ao verão e às férias escolares. De um modo
geral, a temporada da mortandade de crianças por afogamento abre em
dezembro para terminar em meados de março.
Crianças pequenas estão particularmente em risco de afogamento em
piscinas e banheiras quando desacompanhadas. Pais e responsáveis podem ter
uma falsa ideia de segurança se a criança estiver acompanhada de irmão mais
velho ou com as tradicionais boias. Ambos os casos são ilusórios, pois irmãos
mais velhos podem tender a procurar o seu nível de segurança e não o da
criança e as “boinhas”, além de não serem salva-vidas, podem levar a criança
a flutuar num nível mais fundo (Byard & Lipsett, 1999).
Nas residências particulares, piscinas e banheiras são aparelhos
perigosos para as crianças (Byard & Lipsett, 1999, pp. 328-332) (Jumbelic &
Chambliss, 1990, pp. 1952-1953) (Davis & Smith, 1985, pp. 739-742) (Kibel,
Nagel, Myers, & Cywes, 1990, pp. 418-421). Crianças com menos de 1 ano
de idade correm o risco de afogamento em banheiras de qualquer tamanho,
inclusive nas infantis. Já para crianças de mais de um ano, o risco maior é em
piscinas. Pesquisas mostram que o risco é maior nas piscinas enterradas que
nas elevadas em relação ao solo (Pearn & Nixon, 1997, pp. 3:307-312).
Outros estudos indicam que o risco é maior nos seis primeiros meses após a
instalação da piscina (Wintemute, Drake, & Wright, Immersion events in
residential swimming pools. Evidence for an experience effect, 1991). Não é
necessário que as crianças estejam tomando banho; elas podem simplesmente
estar brincando perto da borda (Byard & Lipsett, 1999, pp. 328-332) (Patetta
& Biddinger, 1988). Um cenário similar é visto com crianças brincando na
margem da praia onde se quebram as ondas (Pearn, et al., 1979, pp. 450-454).
Piscinas com cobertas de lona são um perigo em potencial, pois as crianças
podem ter a ilusão de caminhar em segurança sobre as mesmas (DeNicola,
Falk, Swanson, Gayle, & Kissoon, 1997, pp. 477-502) (Figura 55).
Figura 55 https://www.splashmagazine.com.au/westmeadn-childrens-hospital-to-study-child-drowning
Na verdade, nenhuma criança deveria ser deixada perto da água sem
a presença de um adulto expressamente designado para cuidá-la. Sugere-se
até mesmo que o risco aumenta com a presença de um irmão mais forte e
mais ativo. As chamadas cadeiras de banho, também podem colocar a criança
em risco, pois são instáveis e podem virar com a criança nela alojada.
O tempo médio em que as crianças se afogam após serem
negligenciadas tem sido citado como menores de 5 min; entretanto, este
tempo, informado por quem deveria estar em vigília, pode estar sendo
subestimado (Byard & Lipsett, 1999).
A presença de um adulto vigiando é relativizada, pois se a falta de
supervisão de um adulto em torno das piscinas, especialmente aquelas em
residências particulares, foi observada em muitos casos (Cass, Ross, & Lam,
1996 , pp. 610-612), a supervisão de um adulto não dá garantia de segurança,
pois a mesma esteve presente em 84% dos incidentes em piscinas, mas
apenas 18% destes adultos testemunharam a entrada da criança na água,
sugerindo fortemente falta de atenção e dificuldade de concentração na tarefa
(Fergusson & Horwood, 1884).
A falta de cercas em torno das piscinas também é um fator de risco
(Davis & Smith, 1985, pp. 739-742) (Kibel, Nagel, Myers, & Cywes, 1990,
pp. 418-421) (Pearn & Nixon, Swimming pool immersion accidents: an
analysis from the Brisbane drowning study, 1977, pp. 777-779) (Fergusson
& Horwood, 1884) (Pitt & Balanda, 1991, pp. 661-665) (Pearn & Nixon,
Prevention of childhood drowning accidents. Med. J. Aust. 1:616–618, 1977.,
1977, pp. 616-618) (Pearn & Nixon, Swimming pool immersion accidents:
an analysis from the Brisbane drowning study, 1977, pp. 307-309). As cercas
também podem ser inadequadas, por exemplo, sem tranca no portão ou
portão facilmente aberto (Cass, Ross, & Lam, 1996 ). A presença de cercas
inadequadas pode dar aos pais a falsa sensação de segurança, diminuindo a
sua vigilância e retardando o tempo da tentativa de socorro (Pearn & Nixon,
1997, pp. 432-437).
. Baldes e similares são perigosos, pois o centro de gravidade de uma
criança é mais alto do que o de um adulto, devido ao peso desproporcional da
cabeça. Desta maneira, a criança pode tombar de cabeça para baixo dentro do
vasilhame. Mortes semelhantes já foram reladas em vasos sanitários
(Fergusson & Horwood, 1884, pp. 777-779) (Byard & Lipsett, 1999) e alguns
estudos têm observado uma elevada incidência de afogamentos em baldes
(Byard & Lipsett, 1999, pp. 328-332) (Jumbelic & Chambliss, 1990, pp.
1952-1953) (Davis & Smith, 1985, pp. 739-742) (Kibel, Nagel, Myers, &
Cywes, 1990, pp. 418-421). Crianças, devido ao peso da cabeça, tem o seu
centro de gravidade mais alto que o dos adultos e são propensas a emborcar
neles (Mann, Weller, & Rauchschwalbe, 1992, pp. 1068-1071) (Jumbelic &
Chambliss, 1990, pp. 1952-1953). A idade de risco para esta situação é de 8 a
15 meses (Scott & Eigen, 1980, pp. 282-284). Na maioria dos casos, os
baldes envolvidos eram utilizados para limpeza geral ou para fraldas sujas e
eram preenchidos com pelo menos 10% da capacidade, geralmente com água
(Mann, Weller, & Rauchschwalbe, 1992, pp. 1068-1071) (Jumbelic &
Chambliss, 1990, pp. 1952-1953). Alguns tinham detergentes ou água
sanitária (Mann, Weller, & Rauchschwalbe, 1992, pp. 1068-1071). A altura
dos baldes variava de 34 a 38 cm e a altura da vítima variava de 67 a 79 cm
(Mann, Weller, & Rauchschwalbe, 1992, pp. 1068-1071) (Byard & Lipsett,
1999, pp. 328-332) (Jumbelic & Chambliss, 1990, pp. 1952-1953). A
situação se torna mais perigosa quando baldes ao alcance de crianças
contenham, por exemplo, brinquedos ou roupas que possam atrair a sua
atenção (Mann, Weller, & Rauchschwalbe, 1992, pp. 1068-1071).
Após a primeira inspiração de água se segue a apneia e nova
aspiração de água, com a vítima ofegante sob a água por vários minutos,
culminando com parada respiratória e morte, se uma reanimação não for
providenciada. O tempo para o estabelecimento de danos cerebrais
irreversíveis é muito variável e dependente da idade e da temperatura da
água. As tabulações destes tempos são, entretanto, oriundas de testemunhos e
são estimados na melhor das hipóteses. De qualquer forma, em temperaturas
da água acima de 15-20°C, temos um tempo de 3-10 minutos para o
surgimento destas lesões, Por outro lado, mostrando que o assunto é
complexo, temos relatos de sobrevivência de crianças com retorno da função
neurológica normal após 50-40 min de imersão em água a 0-15°C,
temperaturas compatíveis com o inverno no Sul, o que indica que ainda existe
esperança de salvamento, mesmo em casos de submersão por mais de 10
minutos (Shaw & Briede, 1989). Um estudo de imersões em banheiras
mostrou que as mortes ocorreram com tempo de 3 a 20 minutos, porém com
uma média de apenas 5 minutos (Pearn & Nixon, Bathtub immersion
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Índice de Figuras
Figura 1 Petéquias na conjuntiva (Wagner, 2009, p. 71)
Figura 2 Petéquias post mortem em enforcado com suspensão
completa. Algumas delas apresentam confluência (Barreto, 2019)
Figura 3 Vias aéreas superiores
Figura 4 (A) Suicídio de mulher idosa. (B) Deficiente mental de 43
anos, que “brincou” de enrolar fita adesiva no seu rosto (Di Maio & Di
Maio, 2001, p. 247)
Figura 5 Um bebê de 2 meses sufocado pelo pai. Ausência de
petéquias na face, na esclera e na conjuntiva (Di Maio & Di Maio, 2001, p.
249).
Figura 6 Trabalho de bombeiro em Brumadinho
https://www.emaisgoias.com.br
Figura 7 Cenas de Heysel Park (Liverpool x Juventus) em 29 de maio
de 1985, 39 mortos.
Figura 8 Leito de caso de sufocamento Foto do Autor
Figura 9 Rosto com livores fixados na hemiface direita, indicando
compressão contra algum apoio desde o queixo até a têmpora. Foto do Autor
Figura 10 Enforcamento com suspensão incompleta. Foto do Autor
Figura 11 Suspensão incompleta com vítima em genuflexão
(Rodrigues)
Figura 12 Sulco de enforcado com fiação (Catanese, 2010, p. 374)
Figura 13 Homicídio mascarado de suicídio (Shkrum & Ramsay,
2007, p. 84)
Figura 14 Língua procidente e com ponta ressecada (Barreto, 2019)
Figura 15 Fauna aérea: Ataque por mosca varejeira ou berneira, usual
no Sul do Brasil. Fotografia de Fotógrafo Criminalístico Eduardo Barreto
Figura 16 O Perito deve verificar se havia condições para escalada da
vítima. Foto do Autor
Figura 17 Tradicional nó de forca (fixo), com suas sete voltas, muito
usado por suicidas, talvez por imitação dos enforcamentos judiciais. Foto do
Autor
Figura 18 Em enforcamentos em parques ou matagais é normal que a
vítima não tenha outro modo de fixar a corda a não ser escalando a árvore
(Barreto, 2019)
Figura 19 Escalada em árvores com aderência de ramo de parasito
que cresce no tronco na mão da vítima. Fotografia de Fotógrafo
Criminalístico Eduardo Barreto
Figura 20 Osso Hioide (Livescience)
Figura 21 Corda fixada em barrote de telhado. Foto do Autor
Figura 22 Veias jugulares
Figura 23 Principais artérias do pescoço
Figura 24 Petéquia na região orbital (Shkrum & Ramsay, 2007, p. 38)
Figura 25 Estrangulamento (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 276)
Figura 26 Espuma formada por muco na boca, após a manipulação do
corpo pela Perícia. Porto Alegre, RS. Foto do autor.
Figura 27 Lesões provocadas pelos dedos e unhas em caso de
esganadura (Di Maio & Di Maio, 2001, p. 281)
Figura 28 Vestígios de esganadura (Wagner, 2009, p. 95)
Figura 29 Menina morta por enforcamento em vidro de carro
(Shkrum & Ramsay, 2007, pp. 75-77)
Figura 30 Homem travestido e morto em prática de masturbação com
enlaçamento do pescoço (Geberth, Sex-Related Homicide and Death
Investigation Practical and Clinical Perspectives, 2003, p. 157)
Figura 31 Livor vermelho cereja causado por Monóxido de Carbono
Figura 32 Vítimas de intoxicação em um incêndio (Dix, 1999, p. 122)
Figura 33 Posição de boxeador (Dix, 1999, p. 119)
Figura 34 Suturas naturais do crânio.
Figura 35 Fratura do tipo Pátina (Fairgrieve, 2008, p. 50)
Figura 36 Fratura longilínea em osso longo (Fairgrieve, 2008, p. 51)
Figura 37 Fratura curvilínea (Fairgrieve, 2008, p. 51)
Figura 38 No perído pesquisado de 10 anos (2008-2017) temos o
expressivo número de 64.506 casos (Ministério da Saúde, Brasil, 2019)
Figura 39 Corpo de mulher semi-submerso. A área imprópria para
banho e a ausência de roupas sugerem morte não acidental. A presença de
galhos e ramos sugere corpo arrastado pela água em valo com mudança
drástica de nível com a chuva (Barreto, 2019).
Figura 40 Epiderme do pé direito descascada em afogado
Figura 41 Epiderme da mão descascada (luva) (Barreto, 2019)
Figura 42 Perda de cabelos em corpo de mulher imerso em córrego
(Barreto, 2019)
Figura 43 Maceração em mão de mulher (Barreto, 2019)
Figura 44 Posição típica de afogado em livre flutuação com as áreas
sujeitas a lesões post mortem em corpos submersos (Fisher, 2003, p. 441)
Figura 45 Corpo em livre flutuação (Barreto, 2019)
Figura 46 Decomposição de Afogado (Geberth, Practical homicide
investigation: tactics, procedures, and forensic techniques, 2006, p. 346)
Figura 47 Corpo submerso com apenas a mão em contato com o ar.
Notar a diferença de decomposição (Dix, 1999, p. 68)
Figura 48 Corpo submerso com o dorso em contato com o ar. Ver
diferença de decomposição (Barreto, 2019)
Figura 49 Espuma
Figura 50 https://www.checkupnewsroom.com/dry-drowning-and-
children-what-parents-should-know/
Figura 51 Hipotermia em senil. Uma praia do Guaíba. As setas
apontam depósito de areia do lago que mudou de nível. A medida entre a
areia e o nível no momento do exame, comparada com as tábuas de altura do
porto, foi usada para estimar a hora da morte. Foto do Autor
Figura 52 Diatomáceas Marinhas (Wikipedia Foundation), autor Prof.
Gordon T. Taylor, Stony Brook University
Figura 53 Valvas de diatomáceas marinhas em lâmina confeccionada
pelo espanhol Muñoz Moraton, coleção do Prof. Hermes Moreira-Filho .Foto
de Kaoli Cavalcante (Cavalcante, 2019).
Figura 54 Ataques de tubarão a cadáver (Siegel, Saukko, Knupfer, &
James, 2005, p. 1470).
Figura 55 https://www.splashmagazine.com.au/westmeadn-childrens-
hospital-to-study-child-drowning