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Medicina Legal

Alexandre Herculano
MEDICINA LEGAL

Tipos de Asfixias
(Energia de Ordem Físico-Química)

Professor: Alexandre Herculano

Professor Alexandre Herculano

@prof_herculano
Situações específicas no Enforcamento
O enforcamento é uma modalidade de asfixia
mecânica que se caracteriza pela interrupção do
ar atmosférico até as vias respiratórias, em
decorrência da constrição do pescoço por um
laço fixo, agindo o peso do próprio corpo da
vítima como força ativa.
É mais comum nos suicídios, podendo, no
entanto, ter como etiologia o acidente, o
homicídio e a execução judicial.
Chama-se de suspensão típica ou completa
aquela em que o corpo fica totalmente sem
tocar em qualquer ponto de apoio: e suspensão
atípica ou incompleta, se é apoiado pelos pés,
joelhos ou outra parte qualquer do corpo.
No enforcamento completo, os membros inferiores
estão suspensos e os superiores, colados ao corpo,
com os punhos cerrados mais ou menos fortemente.
Na forma incompleta, os membros assumem posições
as mais variadas.
A rigidez cadavérica é mais tardia no enforcamento. As manchas
de hipóstase se apresentam na metade inferior do corpo com
maior intensidade nas extremidades dos membros superiores e
inferiores, em forma de luva, o que não se configura como sinal
de enforcamento, mas que o corpo ter ficou suspenso por um
tempo para fixar essas manchas. Podem surgir algum tempo
depois as chamadas equimoses post mortem. Devido ao tempo
de suspensão e à fluidez do sangue, podem-se observar nas áreas
de manchas de hipóstase as chamadas púrpuras hipostáticas, as
quais não podem ser confundidas com petéquias hemorrágicas.
Tourdes fez referências sobre os cadáveres que demoram
suspensos no enforcamento, afirmando que a metade inferior do
corpo marcha para uma putrefação úmida, e a metade superior
para uma putrefação seca.
Sinais encontrados nos sulcos de enforcados:
✓sinal de Ponsold: livores cadavéricos, em placas, por cima e por baixo
das bordas do sulco
✓sinal de Thoinot: zona violácea ao nível das bordas do sulco
✓sinal de Azevedo-Neves: livores punctiformes por cima e por baixo das
bordas do sulco
✓sinal de Neyding: infiltrações hemorrágicas punctiformes no fundo do
sulco
✓sinal de Ambroise Paré: pele enrugada e escoriada no fundo do sulco
✓sinal de Lesser: vesículas sanguinolentas no fundo do sulco
✓sinal de Bonnet: marcas de trama do laço
✓sinal de Schulz: borda superior do sulco saliente e violácea.
Situações específicas no Estrangulamento
No estrangulamento, a morte se dá principalmente
pela constrição do pescoço por um laço acionado por
uma força estranha, obstruindo a passagem de ar aos
pulmões, interrompendo a circulação do sangue ao
encéfalo e comprimindo os nervos do pescoço. Nesse
tipo de morte, ao contrário do enforcamento, o corpo
da vítima atua passivamente e a força constrictiva do
laço age de forma ativa.
O acidente e o suicídio nesta modalidade são mais
raros. No suicídio é sempre por “torniquetes” ou
outro artifício que mantenha a pressão do laço,
pois o indivíduo perde a consciência. Mais comum
é o estrangulamento-homicídio, principalmente
quando a vítima é inferior em forças ou é tomada
de surpresa. Constitui uma forma, não muito rara,
de infanticídio. Há também o
estrangulamentosuplício, utilizado pelo carrasco,
nas sentenças por “garrote”.
O estrangulamento é sempre executado com o
auxílio de um laço, que pode ser mole (lenço,
gravata), semiduro (cinto, corda) ou duro (arame,
fio elétrico). Ele é acionado em redor do pescoço,
em forma de alça, e movido pela força muscular do
autor, cuja constrição é em sentido transversal e
alcança toda a circunferência do pescoço.
Há formas atípicas de estrangulamento, como no
chamado “golpe do pai Francisco”, em que o laço
passa pela parte anterior do pescoço da vítima,
sendo ela puxada às costas do agressor. Ou, ainda,
em situações em que o laço também passa pela
parte anterior do pescoço e a vítima é atraída à
força contra grades ou é arrastada, por exemplo.
Nestes casos o sulco é oblíquo, descontinuo e
supra-hióideo. Este é o chamado estrangulamento
atípico por alça de “laço aberto”.
Na morte por estrangulamento, três são os fatores que interferem:
• asfixia: resulta da interrupção da passagem do ar atmosférico até
os pulmões pela constrição do pescoço comprimindo a laringe.
Na morte por estrangulamento, a asfixia é mais decisiva que no
enforcamento, principalmente devido à posição do laço.
Experiências demonstram que a traqueia se oblitera com uma
pressão de 25 kg;
• compressão dos vasos do pescoço: compromete mais
intensamente as veias jugulares que artérias carótidas, e estas
menos que as artérias vertebrais, fazendo com que o sangue do
segmento cefálico fique bloqueado;
• compressão dos nervos do pescoço: tem influência mais decisiva
na morte por estrangulamento, cujo mecanismo mais bem
explicado é a inibição.
Situações específicas na Esganadura
Pela própria dinâmica da esganadura, é difícil precisar
exatamente os períodos e o tempo decorrido nestes
tipos de morte, que tanto pode ser por asfixia, como
por inibição, devido à compressão dos elementos
nervosos do pescoço. A esganadura vem sempre
acompanhada de outras lesões, principalmente as
traumáticas, provenientes de outras agressões como
ferimentos na região posterior da cabeça, equimoses
em redor da boca, escoriações nas mãos e nos
antebraços, todas elas decorrentes da luta e, por isso,
chamadas de lesões de defesa.
Na esganadura interferem, principalmente no
mecanismo de morte, a asfixia e os fenômenos
decorrentes da compressão nervosa do pescoço. A
obliteração vascular é de interesse menor. Assim, tudo
indica que na asfixia mecânica do tipo esganadura o
mecanismo de morte é sempre por anoxia anóxica
(falta de oxigênio no sangue que nutre o tecido
cerebral), por inibição reflexa (parada do coração por
inibição devido à pressão dos seios carotidianos) e,
em menor escala, por isquemia encefálica (necrose
do tecido cerebral, por falta de sangue arterial).
Situações específicas no Sufocamento
Sufocação é a modalidade de asfixia mecânica
produzida pelo impedimento da passagem do ar
respirável por meio direto ou indireto de
obstrução.
Por meio direto, entendem-se os casos devidos à
oclusão dos orifícios ou dos condutos respiratórios,
e por meio indireto, a compressão do tórax e a
sufocação posicional.
Sufocação direta. Existem as seguintes modalidades:
Sufocação por oclusão da boca e das fossas nasais: é quase
sempre de caráter criminoso e há necessidade de acentuada
desproporção de forças entre a vítima e o agente. É uma prática
muito comum no infanticídio, com a ajuda das mãos que
comprimem a face do recém-nascido, ou sob o travesseiro, e
por meio de uso de papel molhado sobre a face, como era
antigamente praticada no Japão. Outra forma criminosa nesta
modalidade é a utilização de sacos plásticos envolvendo
acabeça e presos ao pescoço, o que leva a uma morte muito
rápida, explicada não apenas pela privação do oxigênio, mas
também por um mecanismo reflexo inibidor.
Sufocação direta por oclusão das vias respiratórias:
acontece na obstrução dos condutos aéreos por corpos
estranhos, impedindo a passagem do ar até os pulmões.
É mais frequente nos acidentes, mais rara no suicídio e
mais difícil no homicídio.
Sufocação indireta
A compressão, em grau suficiente, do tórax e
abdome impede os movimentos respiratórios,
levando, em consequência, à asfixia. É sempre
acidental ou criminosa. Conhecida também
como “congestão compressiva de Perthes”.
Um dos sinais mais importantes é a máscara
equimótica da face, também conhecida como
congestão cefalocervical ou máscara equimótica
de Morestin, produzida pelo refluxo sanguíneo
da veia cava superior em face da compressão
torácica. Os pulmões se mostram distendidos
(sinal de Valentin), congestos, com sufusões
hemorrágicas subpleurais. O fígado é congesto e
o sangue do coração, escuro e fluido.
Sufocação posicional. Alguns autores, entre eles
Luis Concheiro Carro e Suárez Peñaranda, chamam
a atenção para uma forma de asfixia mecânica
produzida pela posição em que o indivíduo se
encontra no momento da morte, capaz de impedir
ou dificultar seriamente a ventilação pulmonar,
após a instauração da fadiga e da falência muscular
respiratória. Um dos exemplos desse quadro seria
a “crucificação” ou o posicionamento demorado do
indivíduo de “cabeça para baixo”.
Situações específicas no Confinamento
A teoria química acentua a acumulação do gás carbônico
e a redução do oxigênio, enquanto a teoria física afirma
que, além das alterações químicas do ar, existem o
aumento da temperatura e a saturação do ambiente por
vapores de água.
Na maioria das vezes, o confinamento é acidental,
podendo, no entanto, ser homicida ou suicida. Além dos
sinais encontrados nas asfixias em geral, podem ser vistas
algumas lesões produzidas em ações desesperadas da
vítima, como escoriações do pescoço, ferimentos da face,
lesões de defesa, desgastes das unhas e erosão das
extremidades dos dedos.
Situações específicas no Afogamento
A ação do monóxido de carbono fixando-se na
hemoglobina dos glóbulos vermelhos,impedindo o
transporte do oxigênio aos diversos tecidos,
levando, em consequência, a um tipo especial de
asfixia por caboxiemoglobinemia. Daí se admitir
não se tratar de uma morte por intoxicação,
mesmo existindo uma ação química sobre a
hemoglobina. Na verdade, o que se verifica é uma
forma de asfixia tissular.
A asfixia por monóxido de carbono é mais constante
como forma de suicídio e, mais raramente, acidental
ou homicida.
Nesse tipo de morte, encontram-se vários sinais de
grande valor, tais como rigidez cadavérica mais
tardia, pouco intensa e de menor duração,
tonalidade rósea da face (“como de vida”), manchas
de hipóstases claras, pulmões e demais órgãos de
tom carmim, sangue fluido e róseo, putrefação tardia
e, finalmente, os comemorativos da morte.
(FGV - 2012 - PC-MA - Delegado de Polícia) Na sufocação indireta por
compressão torácica, a vítima asfixia-se pela restrição aos movimentos de
inspiração e expiração.
O achado de necropsia típico desta modalidade de asfixia caracteriza-se por
A) rotura das camadas interna e externa das artérias carótidas.
B) fratura do osso hioide.
C) petéquias subpleurais e subepicárdicas.
D) máscara equimótica ou equimose cérvico-facial.
E) cogumelo de espuma eliminado pelos orifícios da face.
(FUMARC - 2014 - PC-MG - Investigador de Policia) Experimentalmente, o
enforcamento evolui em três períodos até o êxito letal. Constitui um sinal
clínico característico da evolução do seu “segundo período”:
A) Calor.
B) Convulsão.
C) Fosfeno.
D) Zumbido.
(VUNESP - 2014 - PC-SP - Médico Legista) Assinale a alternativa que contém
sinais mais comumente encontrados nas vítimas de afogamento.
A) Manchas de Tardieu, cogumelo de espuma e máscara equimótica.
B) Manchas de Paltauf, maceração da pele e cogumelo de espuma.
C) Máscara equimótica, manchas de Paltauf, pele anserina.
D) Hipóstases claras, manchas de Tardieu e cianose ungueal.
E) Lesões por animais aquáticos, cianose ungueal e hipóstases escuras.
(VUNESP - 2014 - PC-SP - Médico Legista) São características do sulco cervical
nas asfixias por enforcamento e estrangulamento, respectivamente:
A) geralmente único / frequentemente múltiplo.
B) raramente apergaminhado / frequentemente apergaminhado.
C) horizontal / oblíquo.
D) contínuo / descontínuo.
E) abaixo da cartilagem tireoide / acima da cartilagem tireoide.
(FUNCAB - 2013 - PC-ES - Médico legista) A presença no cadáver de um sulco
horizontal e contínuo no pescoço, com bordas iguais, profundidade
uniforme e não pergaminhado, situado sobre o laringe, infiltração abaixo
do sulco e sinais gerais de asfixia, todos esses elementos em conjunto
caracterizam a morte por:
A) enforcamento.
B) estrangulamento.
C) esganadura.
D) sufocação.
E) afogamento.
(UEG - 2013 - PC-GO - Delegado de Polícia) Com relação às asfixias, tem-se o
seguinte:
A) esganadura tem origem homicida, sendo rara sua forma acidental.
B) o sulco comumente encontrado nos enforcados e estrangulados é
produzido por um instrumento corto- contundente.
C) soterramento é um tipo de asfixia em que ocorre a substituição do meio
aéreo por terra.
D) estrangulamento braquial é forma comum de asfixia em suicídios e requer
desproporção de forças.
(FGV - 2012 - PC-MA - Delegado de Polícia) Na sufocação indireta por
compressão torácica, a vítima asfixia-se pela restrição aos movimentos de
inspiração e expiração.
O achado de necropsia típico desta modalidade de asfixia caracteriza-se por
A) rotura das camadas interna e externa das artérias carótidas.
B) fratura do osso hioide.
C) petéquias subpleurais e subepicárdicas.
D) máscara equimótica ou equimose cérvico-facial.
E) cogumelo de espuma eliminado pelos orifícios da face.
(FUNCAB - 2012 - PC-RO - Médico Legista) Em relação às asfixias provocadas
por modificação domeio ambiente, assinale a alternativa correta.
A) São formas desse tipo de asfixia: constrição torácica, afogamento,
soterramento.
B) No afogamento branco, é comum ser encontrada grande quantidade de
líquido nas vias respiratórias e nos pulmões.
C) São alterações externas encontradas em indivíduos afogados: cogumelo
de espuma, corpos estranhos nos sulcos ungueais, escoriações e feridas
digitais.
D) O achado de um corpo boiando na água, invariavelmente, indica
afogamento como causa da morte.
E) Na morte por soterramento, a causa de asfixia é o confinamento.
(PC-MG - 2011 - PC-MG - Delegado de Polícia) Constitui um exemplo de
asfxia mecânica pura de interesse médico-legal:
A) Sufocação direta.
B) Estrangulamento típico.
C) Enforcamento completo.
D) Esganadura antebraquial.
(2016 – Auxiliar de Legista – CEBRASPE - PCPE) O tipo de asfixia mecânica
que ocorre devido à constrição do pescoço por laço e na qual a força
atuante é o próprio peso da vítima denomina-se
A) estrangulamento.
B) sufocação direta.
C) enforcamento.
D) sufocação indireta.
E) esganadura.
(2016 – Auxiliar de Legista – CEBRASPE - PCPE) Assinale a opção que
apresenta um sinal observado na necropsia de vítimas de afogamento.
A) cadáver em posição de lutador
B) lesão de acordeão de Lacassagne
C) cogumelo de espuma
D) máscara equimótica de Morestin
E) vitriolagem
(Pericia Criminal – 2017 – Inédita) Julgue o item abaixo com base na
Asfixiologia Forense.
As manchas de hipóstase nas asfixias são precoces, abundantes e de
tonalidade escura, variando essa tonalidade, nas asfixias por monóxido de
carbono quando essas manchas assumem uma tonalidade rósea.
(Pericia Criminal – 2017 – Inédita) Nas asfixias mecânicas é possível
estabelecer um cronograma de suas diversas fases. Marque a opção
correta.
A) 1ª fase é também conhecida como “fase cerebral”.
B) 2ª fase é chamada de “respiratória”.
C) 3ª fase é também chamada da “parada cardíaca”.
D) 4ª fase conhecida como “fase de excitação cortical e medular”.
(Pericia Criminal – 2017 – Inédita) Julgue o item abaixo com base na
Asfixiologia Forense.
A classificação de Afrânio Peixoto é a que mais se aproxima do critério
médico-legal, dividindo as asfixias mecânicas em três grupos distintos, são
elas: asfixias puras; asfixias complexas e asfixias mistas.
(Pericia Criminal – 2017 – Inédita) Julgue o item abaixo com base na
Asfixiologia Forense.
O confinamento é um tipo de asfixia mecânico-complexa, caracterizado pela
permanência de um ou mais indivíduos em um ambiente restrito ou
fechado, sem condições de renovação do ar respirável, sendo consumido o
oxigênio pouco a pouco e o gás carbônico acumulado gradativamente.
(Pericia Criminal – 2017 – Inédita) Julgue o item abaixo com base na
Asfixiologia Forense.
Na asfixia por monóxido de carbono encontramos tonalidade rósea da face,
manchas de hipóstases claras, pulmões e demais órgãos de tom carmim,
sangue fluido e róseo, putrefação tardia e, finalmente, os comemorativos
da morte.
(Pericia Criminal – 2017 – Inédita) Trata de uma modalidade de asfixia
mecânica que se caracteriza pela interrupção do ar atmosférico até as vias
respiratórias, em decorrência da constrição do pescoço por um laço fixo,
agindo o peso do próprio corpo da vítima como força ativa.
A) Enforcamento
B) Estrangulamento
C) Empalamento
D) Esganadura
(Pericia Criminal – 2017 – Inédita) Julgue o item abaixo com base na
Asfixiologia Forense.
Na sufocação direta temos a compressão, em grau suficiente, do tórax e
abdome impede os movimentos respiratórios, levando, em consequência,
à asfixia.
(Pericia Criminal – 2017 – Inédita) É preciso saber que o enforcamento passa
por três períodos. São características do primeiro período, EXCETO.
A) sensação de calor
B) excitação do corpo
C) zumbidos
D) sensações luminosas na vista
(Pericia Criminal – 2017 – Inédita) Julgue o item abaixo com base na
Asfixiologia Forense.
Há casos de asfixia em que o indivíduo, ao tocar na água, morre por inibição,
constituindo os afogados brancos de Parrot, ou afogados secos.

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