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ASFIXIOLOGIA FORENSE

INTRODUÇÃO
A Asfixiologia Forense é um ramo da medicina legal, que estuda as asfixias. Que é
uma síndrome clínica resultante da hipoxemia ou anoxemia consecutiva a uma ação
externa súbita e violenta que impede a ventilação pulmonar.

A palavra asfixia advém do grego (sem) sphyksis (pulso), que os antigos achavam que
as artérias se encontravam o elemento (espirito) da vida. Com o passar do tempo, esse
entendimento mudou, fixando outro significado que é a supressão da respiração.

A morte ocorre em asfixia quando as causas são de origem interna, como asma,
pneumonia, enfisema, insuficiência cardíaca, etc. Essas Interessam a medicina clínica.
Já as causas de origem externa interessam a medicina legal. A asfixia pode levar a
morte, á sequelas, amnésias, convulsões e a paralisias. Ou a um resultado menos
agressivo, permitindo ao indivíduo se recuperar completamente.

As condições para a respiração normal são: O equilíbrio percentual gasoso adequado,


a permeabilidade dos orifícios das vias aéreas, permeabilidade das vias aéreas,
movimentos respiratórios e hemodinâmica da circulação e bioquímica do sangue
corretas
FASES DAS ASFIXIAS
Dispneia inspiratória
O indivíduo está consciente, e faz um grande esforço para receber oxigênio. Decorre
da Hipoxemia (baixa concentração de oxigênio no sangue arterial). Dura cerca de um
minuto.
Dispneia expiratória
O indivíduo perde parte da consciência e pode vir a convulsionar, devido a
hipercapnia (alta concentração de gás carbônico). Dura cerca de três minutos.

Esgotamento
Ocorre uma parada respiratória aparente, e então uma parada respiratória definitiva,
levando a morte. Dura cerca de 3 minutos.

DIAGNÓSTICO
Não existem sinais exclusivos da asfixia, mas que combinados com outras patologias
caracterizam a morte por asfixia.

Os sinais externos costumam ser por:

Livor mortis ou manchas hipostáticas: aparecem precocemente, são abundantes e de


tonalidade escura. Quando se localizam na face dorsal e nos membros inferiores são
mais extensas.

 Cianose na face ou máscara equimótica: é um sinal que surge geralmente nas


sufucações, mas pode surgir nas outras formas de asfixia.

 Equimoses e ou petéquias na pele e mucosas: podem surgis em qualquer região


do corpo, surgem predominantemente na face, pescoço e torax. Não são sinais muito
frequente. Ao nível das mucosas são sinais mais constantes, predominantemente na
mucosa conjuntival palpebral e ocular, lábios, etc. (colocar foto).
 Fenómenos cadávericos: o esfriamento geralmente é mais lento; a rigidez
cadavérica também é lenta mas depois de instalada é muito intensa e prolongada; a
putrefacção geralmente é precoce e rápida.

 Cogumelo de espuma: é uma bola de finas bolinhas de secreção espumosa na boca


e narinas que se extende até as vias respiratórias inferiores. É um sinal frequente e
tipico nas vítimas por afogamento, pode aparecer noutras formas de asfixia em que é
precedido de edema pulmonar agudo e severo.

 Projecção da língua e Exoftalmia: mais frequente nas asfixias complexas e


mistas.

Sinais Internos:

 Petéquias ou Equimoses viscerais: são designadas por manchas de Tardieu,


descritas por este autor em 1847 num caso de Infanticídio, tem forma de cabeça de
alfinete.

Estão sempre presentes em todos os tipos de asfixia mecânicas e também nas asfixias
clínicas, predominantemente nos pulmões ao nível da pleura visceral, coração no
epicardio e ao nível do timo.

 Aspecto do sangue: geralmente há fluidez do sangue e é de cor escura.

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 Congestão polivisceral: em todos os orgãos.

 Edema pulmonar: os pulmões estão distentidos, congestionados e edemaciados

CLASSIFICAÇÃO DAS ASFIXIAS


a) Por constrição do pescoço: Enforcamento, Esganadura ou Estrangulamento.
b) Por alteração do meio ambiente: Afogamento, Soterramento, Confinamento,
Gases Tóxicos.
c) Obstaculização a passagem de ar para os pulmões: Sufocação direta, Sufocação
indireta.
ENFORCAMENTO
Enforcamento é a constrição do pescoço por um instrumento chamado laço e a força
que constrange é a do próprio indivíduo.

O enforcamento, é realizado por corda/laço/fita que é acionado pelo próprio peso da


pessoa. Podendo ser completo, aquele que o indivíduo fica totalmente suspenso no ar.
Ou indireto, que parte do corpo fica apoiada em algum objeto. Bastando um peso de
2kg para atingir as veias jugulares.

No enforcamento, a força constritiva é o próprio peso do indivíduo. 15 kg são


suficientes para que ocorra o enforcamento.

Além do sulco, embaixo da pele há lesões: hemorragias e fraturas em cartilagens,


ruptura de vasos, nervos achatados e secção da artéria carótida, que recebe o nome de
sinal de Amussat.

A principal causa jurídica do enforcamento é por suicídio, visto que o homicídio é


pouco frequente, pois se necessita de uma grande desproporção de forças, ou
inconsciência da vítima.

Há dois tipos de enforcamento:


a) Suspensão completa
Quando há uma distância considerável entre o corpo e o chão. O corpo, verticalizado,
fica solto no espaço, sem contato com o plano de sustentação.

b) Suspensão incompleta

Quando o corpo não fica inteiramente pendurado. Ex.: amarrar o laço numa janela.
Nas asfixias por enforcamento, o mecanismo é misto, pois, além da constrição das
vias respiratórias, constringe-se, também, a circulação sanguínea e o sistema nervoso
que comanda a respiração e os batimentos cardíacos.

c) Fases da morte por enforcamento


· Fase da resistência: agitação; o indivíduo tem alucinações, visão turva, torpor, perda
da consciência (quase coma). Essa fase dura de 40 a 80 segundos.

· Fase da agitação: ausência de consciência, convulsões intensas, alterações na cor da


pele, língua protusa, olhos esoftalmos. Essa fase dura de 3 a 5 minutos.

Fase de prostração ou morte aparente: o coração bate e essa fase pode durar até 10
minutos.

No enforcamento, o sulco é oblíquo ascendente, tem profundidade variável, é


interrompido no nó, fica por cima da cartilagem tireóidea.

Para identificar qual o tipo de enforcamento ocorreu existem sinais internos e sinais
externos. Os sinais internos podem ser: infiltração sanguínea nos tecidos subjacentes
do sulco, fratura óssea hioide, fratura ou luxação cervical quando a queda do corpo,
ruptura transversa da túnica interna da carótida primitiva (é o sinal de Amussat),
infiltração sanguínea da túnica externa dos vasos do pescoço (é o sinal de Friedberg).
Já os sinais externos, podem ser: sulco obliquo incompleto de profundidade variável
no pescoço (o sulco, ascendente, interrompe-se no local do nó. É mais profundo no
lado oposto ao nó e desaparece ao seu nível, cabeça pende oposta ao nó, livores de
hipóstase situados nas partes pendentes quando a suspensão permanecer por várias
horas, globos oculares e língua procidentes e cianose de face discreta.

ESTRANGULAMENTO
No estrangulamento, que também é uma constrição por um laço, a força constritiva é
externa. O que constringe é o laço, acionado por uma força externa, geralmente
homicida.
Para determinar se a causa da morte foi enforcamento ou estrangulamento, é
necessário a análise das características do sulco deixado pelo laço.

No estrangulamento, o Sulco é horizontal, tem profundidade uniforme, não é


interrompido e fica no meio do pescoço.

O homicídio é a causa jurídica mais frequente do estrangulamento, a morte acidental é


rara.

Os principais sinais externos do estrangulamento são:


a) Sulco horizontal completo com a mesma profundidade (o sulco pode se único ou
múltiplo), é totalmente fechado, porque não apresenta nó que impeça seu fechamento
total.

b) Face tumefeita e com cianose acentuada (a tumefação e a cianose são mais


acentuadas que o enforcamento, pois a força que oclui os vasos cervicais não é
suficiente para fechar as artérias cervicais, e então, enquanto as jugulares estão
ocluídas, continua chegando sangue a cabeça. Como não há retorno do sangue,
produz-se o grande edema facial com cianose intensa.

c) Equimose na face e conjuntivas (são pequenas e em grande quantidade)

d) Exoftalmia e procidência da língua (bem mais acentuadas que o enforcamento)

Os sinais internos são:


a) Sinais gerais de asfixias, infiltração dos tecidos subjacentes ao laço, fratura ou não
o hioide, e sinal de Amussat e Friedberg.

O mecanismo da morte do estrangulamento é o mesmo do enforcamento.

ESGANADURA
Esganadura é a constrição do pescoço por um membro do corpo humano: mãos, pés,
cotovelos, joelhos.

A esganadura é sempre um homicídio, porque a força constritiva será sempre um


segmento do corpo humano.

Na esganadura, sempre há disparidade de forças entre os sujeitos.

Os principais sinais externos são:


a) Presença de equimoses, escoriações, hematomas, e feridas contusas no pescoço. As
escoriações tem a forma semilunar, provocada pelas unhas do agressor. Encontram-se
frequentemente lesões de defesa e também lesões na boca e narina.

Já os sinais internos são:


a) Infiltração sanguínea, nos tecidos subcutâneos. Mais acentuada que nas outras
formas de asfixia por constrição do pescoço.

b) Fraturas de hioide e apófise estiloide e cartilagens tireoide e cricóide podem


ocorrer.

c) Sinais gerais de asfixias

A morte por esganadura é discutível sobre o mecanismo envolvido, a morte por


mecanismo nervoso é pouco provável, alguns autores defendem ao mecanismo
respiratório e outros ao vascular.

A causa jurídica da morte é praticamente só homicida, existindo raríssimos casos de


suicidas.

SUFOCAÇÃO
É a asfixia mecânica provocada pela obstaculização direta ou indireta à penetração do
ar atmosférico nas vias respiratórias ou por permanência forçada em espaço fechado.
Sufocação direta
A sufocação direta compreende as seguintes modalidades:

a) Oclusão dos orifícios externos respiratórios: Pelo emprego da mão ou de corpos


moles, é de etiologia sempre criminosa, pois supõe acentuada desproporção de forças
entre o agressor e a vítima, sendo praticada usualmente no infanticídio.

b) Oclusão das vias respiratórias: Frequentemente acidental por aspiração brusca de


corpos estranhos (dentaduras, porções de alimentos, rolha de garrafa, bolinhas de
gude), na árvore respiratória, impedindo a passagem do oxigênio até os pulmões e
desencadeando êxito letal por asfixia, pode excepcionalmente ser autocida.

Os sinais cadavéricos locais, discretos e inconstantes, são representados pelas


equimoses nos lábios, sinais de dentes na mucosa labial interna e marcas ungueais nas
proximidades da boca e das fossas nasais, nos casos de sufocação manual, podendo
não existir quando o agente emprega corpos moles (travesseiros, panos), e provável
fratura de dentes e hemorragias punctiformes oriundas da introdução forçada do corpo
estranho dentro da boca.

Valor probatório diagnóstico é o achado necroscópico do corpo estranho causador da


sufocação encravado no interior das vias aéreas, conjuntamente com os sinais
clássicos já relatados nas asfixias em geral.

Sufocação indireta
Diz respeito a todo e qualquer fenômeno que comprima o tórax, impedindo a sua
expansão (ex.: acidente de veículos, homicídio, estouro de pessoas contra a parede,
morte por pisoteamento contínuo entre os seres humanos).

Há uma compressão do tórax ou abdômen, que impede a respiração, provocando a


asfixia.

Afundamento de tórax
Fraturas múltiplas nas costas que bloqueiam a respiração, provocando a morte por
asfixia.

Paralisia espástica

É a contratura dos músculos. Ocorre nos casos de morte por eletroplessão.

Alguns tóxicos também podem levar a esse estado. O tétano é também outra causa da
paralisia espástica (um veneno que leva a essa paralisia é a estricnina).

Paralisia flácida

A paralisia flácida é causada por substância vegetal, utilizada pelos índios da


Amazônia, de nome curare. O curare é utilizado, também, nas anestesias.

Outra hipótese remota, mas que também pode ocasionar paralisia flácida, é o
traumatismo de medula (raquimedular).

Asfixias por Parada Respiratória Central ou Cerebral

Traumatismo crânio-encefálico

O traumatismo crânio-encefálico pode ser ocasionado por uma pancada violenta na


cabeça, que afunda o cérebro. Esse traumatismo lesa os centros de comando e o
indivíduo para de respirar.

Eletroplessão

A carga elétrica leva à parada cerebral ocasionada por hemorragia das meninges, das
paredes ventriculares, do bulbo e da medula espinhal.

Asfixias por Paralisia Central


Depressão do sistema nervoso central

É ocasionada por drogas que levam o sistema nervoso a parar. O modelo clássico
inclui as substâncias barbitúricas, álcool e overdose por cocaína (asfixia por depressão
do sistema nervoso central).

AFOGAMENTO
Afogamento é a asfixia no meio líquido: pode ser água, tanque de Coca-Cola, álcool,
gasolina etc.

Num primeiro momento, o afogado tem a fase de surpresa: fica agitado e segura ao
máximo a respiração. Quando não aguenta mais, respira profundamente inundando os
pulmões de água. Entra em concussão e morte aparente. Após isso, o coração bate por
mais ou menos 9 minutos.

Sinais externos atípicos:


São os que se manifestam também em outras formas de morte que não o afogamento,
em que o cadáver permanece por qualquer motivo submerso por certo período de
tempo.

a) Pele anserina ou "pele de galinha" - É determinada pela saliência dos folículos


pilosos pela contração dos músculos eretores cutâneos. Situam-se frequentemente nos
ombros, na região lateral das coxas e dos antebraços, constituindo o sinal de Bernt.
b) Retração dos mamilos - Tem significado idêntico ao da pele anserina.
c) Retração dos testículos e do pênis - Provocada pelo desequilíbrio térmico inicial
entre o corpo e a massa líquida.
d) Temperatura baixa da pele - Tem valor relativo.
e) Maceração epidérmica - Mais acentuada nas mãos e nos pés, por embebição da
pele, destacando-se por grandes retalhos, ou quando nas mãos, em dedos de luva junto
com as unhas.
f) Rigidez cadavérica precoce.
g) Cor da face - Será lívida ou azulada nos afogados brancos de Parrot, e cianosada
nos mortos por submersão-asfixia.
h) Queda fácil dos pêlos nos que permaneceram durante algum tempo
submersos.
i) Destruição frequente das partes moles e cartilaginosas, como boca, supercílios,
pálpebras, globos oculares, nariz e pavilhões auditivos, por animais da fauna
aquática, como peixes, siris e outros crustáceos.
j) Projeção da língua além das arcadas dentárias é frequente no início da
putrefação.
k) Presença de erosões das polpas digitais e entre os dedos e, sob as unhas, de
lama ou grãos de areia e, nos lábios, de corpos estranhos inerentes à massa
líquida onde ocorreu a submersão.
l) Lesões de arrasto (Simonin) - São consequentes ao roçar, no leito dos rios, da
fronte, mãos, joelhos e pododáctilos, nos afogados que permanecem submersos em
decúbito ventral em movimentos de vaivém, pelo impulso das águas. Evidentemente,
nas vítimas que, submersas, adotam a posição de decúbito dorsal em opistótono, as
lesões de arrasto serão encontradas na região occipital e nos calcanhares.
Sinais externos típicos - Caracterizam a asfixia-submersão:
a) "Cabeça de negro" É própria dos afogados por submersão em estado de
putrefação; a pele da cabeça adquire cor verde e bronzeada.
b) Tonalidade vermelho-clara dos livores cadavéricos – Determinada pelas
alterações do sangue na asfixia-submersão, localiza-se comumente nas regiões mais
declives do corpo (cabeça, pescoço, metade superior do tronco, mãos e pés), podendo,
em alguns.
c) Cogumelo de espumas - Consequente ao arejamento do muco misturado à água na
traquéia e nos brônquios, somente se forma nos indivíduos que reagiram
energicamente dentro d'água e aparecem sobre a boca e narinas dos que cedo foram
dela retirados.
d) Putrefação - Lenta enquanto a vítima está submersa, evolui rapidamente se o corpo
é posto em contato com o meio exterior. Inicia-se pela parte superior do tórax, face e
depois cabeça e progride em direção descendente comprometendo todo o corpo, que
assume forma gigantesca, lembrando balão inflado, de plástico. O enfisema
putrefativo distendendo exageradamente o aparelho genital masculino confere ao
pênis e às bolsas escrotais dimensões descomunais.
Sinais internos de afogamento
a) Inundação das vias aéreas com líquido: as pessoas se afogam em vários tipos de
líquido. A presença desses líquidos não deve ser, apenas, uma constatação pericial.
Por meio do líquido pode-se analisar o meio aquático em que o indivíduo se afogou.
Ex.: o indivíduo pode ter sido morto em uma banheira e ter o seu corpo jogado no
mar. A presença do líquido serve, também, para esclarecer, exatamente, o lugar onde
ocorreu o afogamento. Mesmo se tratando de afogamento em água doce com posterior
remoção do cadáver para um rio, também de água doce, há diferenciação entre os
líquidos.
b) Lesão dos pulmões: apresenta um pontilhado de manchas chamadas de manchas
de Tardieu. Quando o processo de afogamento é mais demorado, essas manchas
podem ser grandes, recebendo o nome de manchas de Pautalf. Quando o indivíduo
aspira uma grande quantidade de água, rompem-se os alvéolos e o líquido passa pelo
espaço intra-alveolar. Os pulmões, então, enchem-se de água, inchando-se. Isso se
chama enfisema aquoso ou sinal de Brouardel. Nas mortes agônicas, os pulmões
tornam-se extremamente estendidos. O pulmão adquire um volume maior, às expensas
do líquido que está nas vias. A distensão dos pulmões não se dá só em virtude do
líquido que está dentro dele, mas também porque o pulmão ainda estava cheio de ar.
Forma-se, então, uma mistura borbulhante de água e ar.
Isso explica o fato de que, ao retirar o cadáver da água, forma-se um cogumelo de
espuma. A pressão atmosférica age na mistura de ar e água, formando o cogumelo.

c) Presença de líquidos no aparelho digestivo: o indivíduo também engole água,


além de inspirá-la. A trompa de Eustáquio liga a faringe ao ouvido médio; nos
afogamentos, há presença de líquido no ouvido médio, que chegou até lá pela trompa
de Eustáquio.
Um cadáver dentro da água, pela sua densidade, tende a afundar. Durante as primeiras
24 horas, o cadáver fica submerso, depois disso ele vem à tona, porque o processo da
putrefação humana, na sua segunda fase, produz uma enorme quantidade de gases
(fase gasosa). Esses gases fazem com que o cadáver venha para a superfície.

Pela análise do sangue, pode-se, também, dizer em qual tipo de líquido ocorreu o
afogamento.
Mecanismos jurídicos da morte por afogamento
Acidente, suicídio e homicídio são os principais. A hipótese de afogamento por
acidente configura a maior parte dos casos.

Tecnicamente, não existe suicídio por afogamento. É comum encontrar nesses


afogados sinais de luta pela sobrevivência. Esses casos recebem o nome de suicídio
acidental.

Permanecido na água o morto por afogamento, quando retirado, há uma violentíssima


aceleração do processo de putrefação.

Nos cadáveres cuja pele não está íntegra, não há compartimentação de gases e é mais
difícil de se encontrar o cadáver.

O diagnóstico do afogamento quando recente não é difícil porém quando já se instalou


a putrefação, torna-se difícil e muitas vezes impossível saber se o indivíduo se afogou
ou se já foi atirado morto dentro d’água.

Sempre que houver morte por afogamento, deve-se fazer o teste do plâncton. O
plâncton são animais, vegetais e substancias minerais microscópicos que vivem em
suspensão na água que a pessoa aspira ao afoga-se e que se alojam nos alvéolos
pulmonares. Para fazer o teste, simplesmente tira-se um fragmento do pulmão, este
enviado para o laboratório.

Sobre o tempo de submersão e flutuação do indivíduo é difícil de ser avaliado o tempo


em que o cadáver ficou dentro d’água. Sendo que a temperatura da água á de extrema
importância, pois acelera a putrefação. Quando o corpo é retirado da água a
decomposição acelera-se mais ainda.

Quando o indivíduo se afoga, ele inicialmente se afunda, passado um tempo, por volta
de 1-5 dias ele volta a flutuar. Isso ocorre devido a putrefação. Que o torna menos
denso do que a água.
O problema médico legal do afogamento é que a necropsia do afogado normalmente
não oferece elementos para esclarecer a causa jurídica de morte. Quando um corpo é
retirado da água, necessita-se saber se houve afogamento real ou se ele foi jogado no
mar já sem vida. Quando é recente não há dificuldade de se saber, quando existe a
putrefação, na maioria das vezes é impossível de se saber.

SOTERRAMENTO
É a asfixia no meio terroso, é uma asfixia clássica. Ocorre a sufocação direta, indireta,
mais a imersão em meio não respirável (sólido). É possível, também, o soterramento
em grãos (soja, trigo etc.).

É a asfixia provocada pela substituição do meio gasoso por um meio sólido


pulverulento, geralmente areia, talco, cimento, farinha, etc.

O soterramento pode ter dois sentidos, o estrito que se refere a substituição o meio
aéreo, por um meio pulverulento. E no sentido amplo, nos casos em que há
desmoronamento ou desabamento, e o indivíduo é coberto por terra e outros materiais.
Nesses casos, a morte se dá geralmente por esmagamento, traumatismos cranianos,
hemorragias, etc.

Sinais externos e internos:


a) Presença de corpos estranhos na boca, narinas, traqueias e brônquios.
b) Sinais gerais de asfixiais.
A maior causa jurídica da morte é o acidente, não se excluindo que alguém seja
enterrado vivo, como crianças.

CONFINAMENTO
A modalidade mais comum de confinamento é o das pessoas que, num ambiente
compartimentado, têm o sangue enriquecido por monóxido de carbono. Ex.: num
comboio de trem a carvão, fechado sem oxigênio, o indivíduo morre asfixiado.
A cor da hemoglobina é mais avermelhada. O sangue não tem a coloração forte das
outras asfixias, porque não foi asfixiado com gás carbônico, mas com monóxido de
carbono.

Confinamentos podem ocorrer com grupos de pessoas num compartimento onde não
há renovação do ar. As pessoas se asfixiam com o próprio gás carbônico: é a asfixia
clássica.

O confinamento pode se dar em ambientes em que a mistura atmosférica é pobre em


oxigênio: confinamento por inadequação da mistura oxigenatória (ex.: cabine de
avião).

O confinamento em ambiente com gás também é outra causa de asfixia.

Sinais internos e externos:


a) Sinais gerais de asfixias

b) Eventualmente, pode haver lesões tipo escoriações ou equimoses nas mãos,


antebraços, ou face na tentativa desesperada de tentar sair do local onde se encontra.

A causa jurídica da morte geralmente é acidental. Como crianças esquecidas dentro de


carros, presos amontoados no interior de camburões.

GASES TÓXICOS
Gases de combate
1) Gases lacrimogêneos - São assim denominados porque, em contato com os olhos,
não se diluem nas secreções que banham o globo ocular, causando, inicialmente, leve
sensação de formigamento reflexo nas pálpebras e, dentro do primeiro minuto após a
explosão, intenso lacrimejamento acompanhado de cefaléia, fadiga, vertigens e
irritação das vias aéreas superiores e da pele.Em altas concentrações pode matar.
2) Gases esternutatórios - Causam irritação das vias aéreas superiores, efeitos sobre
as terminações nervosas e sintomas de intoxicação arsenical. São responsáveis por
tosse violenta, espirros, rinite, fotofobia, conjuntivite, náuseas, vômitos, dores
torácicas e abdominais, cefaléia, irritação da pele, astenia, sudorese, poliúria, dilatação
capilar e destruição epitelial na traquéia e nos brônquios. O mais letal gás
esternutatório é o etildicloroarsina. Em altas concentrações pode matar
3) Gases vesicantes - Condenados pela Convenção de Genébra. O mais importante
gás vesicante é a iperita ou gás mostarda. O gás mostarda atua sobre a pele, olhos e
aparelho respiratório. Na pele exposta duas a dez horas ao gás mostarda surge eritema,
às vezes acompanhado de erupção puntiforme, e, posteriormente, flictenas contendo
líquido seroso claro que, rompendo-se, deixam entrever tecido subjacente vermelho e
hemorrágico. As lesões dérmicas, amiúde, assentam-se na face, no ânus e nas bolsas
escrotais, onde o epitélio é mais espesso. Os olhos lacrimejam, as pálpebras
edemaciam, as conjuntivas inflamam. Causa cefaléia, sede intensa, mal-estar,
vertigens, tonturas, vômitos e diarréias, arritmia cardíaca, podendo a morrer por
broncopneumonia. Em altas concentrações pode matar.
4) Gases sufocantes - Descreveremos apenas a ação intoxicante do cloro. Ela
manifesta-se por dor intensa, espasmo laríngeo e da musculatura brônquica, dispnéia,
hipotensão arterial, cianose, náuseas, vômitos, sincope, inconsciência, falência do
ventrículo esquerdo e morte por edema agudo do pulmão.
Gases tóxicos
Consideraremos aqui o ácido cianídrico e o monóxido de carbono.

1) Ácido cianidrico - A inalação de vapores de ácido cianidrico ou ácido prússico


acarreta a morte dentro de poucos minutos até 3 horas. Causa vertigens, hiperpnéia,
cefaléia, taquicardia, cianose, inconsciência, convulsões e morte por asfixia. O ácido
cianidrico é empregado por vários Estados americanos objetivando executar
criminosos, como forma de pena capital.
2) Monóxido de carbono - O monóxido de carbono inalado é absorvido pelos
alvéolos e logo reage quimicamente com a hemoglobina do sangue formando a
carboxiemoglobina (HbCO), que impede o processamento normal da hematose,
causando anoxia em nível tissular e não envenenamento, pois esse gás não é, em si
mesmo, tóxico para as células.
O ofendido apresenta edema cerebral, cefaléia intensa, vasodilatação cutânea,
zumbidos, tosse, batimentos dolorosos nas têmporas, escotomas, náuseas, vômitos,
síncope, taquisfigmia, taquipnéia, debilidade muscular e paralisia dos membros
inferiores que impede a vítima de fugir do perigo, convulsões intermitentes, coma,
podendo evoluir para a morte.

Gases industriais
Mais importantes que os vapores nitrosos é o formeno, metano, grisu ou gás dos
pântanos, que interessa particularmente à Infortunística Acidentária, responsável que é
pelas explosões e sufocação dos obreiros que trabalham no interior das minas.
Provocam dispnéia, irritação intensa da laringe, da traquéia, dos brônquios e dos
pulmões.

Gases anestésicos
Interessam à Medicina Legal, principalmente no que diz respeito à responsabilidade
dos anestesiologistas, não se devendo pensar, aqui, apenas no sentido de incriminá-
los, pois casos há de imprevisíveis acidentes anestésicos, amiúde, erroneamente
rotulados como choques anafiláticos, ou os próprios, que podem levar o paciente à
morte, independentemente da competência do profissional.

CONCLUSÃO
A Medicina Legal é uma ciência auxiliar do Direito Penal, portanto, auxiliam outros
operadores do Direito, na fase processual, tanto na defesa (patronos), como na
acusação, (elementos probantes à formação da opinio delicti, e como titular possa
propor a competente Ação Penal), expondo diretrizes, na busca da verdade real e,
propiciando assim, uma persecução penal, através de uma sentença justa, dando
origem a uma possível condenação sem margem de erro.
A asfixiologia forense trata-se de uma área da medicina legal que estuda as asfixias de
um modo geral.
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS:
Woelfert, Alberto Jorge Testa. INTRODUÇÃO A MEDICINA LEGAL. São Paulo,
Editora UBRA, 2003.
GALVÃO, Luis Carlos Cavalcante. Medicina Legal. 1ª ed. São Paulo: Editora Santos,
2008.
CARDOSO, Leonardo Mendes. Medicina Legal para o Acadêmico de Direito. 2ª ed.
Belo Horizonte: Editora Del Rey, 2009.

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