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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL

Asfixiologia
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ASFIXIOLOGIA

Quando se fala em asfixia, trata-se da privação de oxigênio e o principal mecanismo que


as pessoas pensam é no mecanismo respiratório: por algum motivo, o ar está impedido de
chegar até os pulmões. Esse é um dos mecanismos, mas não é o único.
Há também o mecanismo circulatório, quando o ar até chega aos pulmões, ocorre a
hematose (a troca gasosa), mas o sangue não chega ao lugar que deve chegar.
Por exemplo, quando se comprime o pescoço, além de bloquear a passagem do ar, blo-
queia-se a passagem do sangue pelas artérias carótidas e o sangue não chega ao cérebro.
Portanto, é uma asfixia pelo mecanismo, além do respiratório, circulatório, pois o oxigênio até
chega ao sangue, mas o sangue não chega ao cérebro.
Outro mecanismo é o nervoso, quando ocorre a compressão do nervo vago (o nervo que
vai para o pulmão, para o sistema respiratório) que causa uma inibição nervosa.
Esses 3 mecanismos podem atuar: respiratório, circulatório e nervoso.
Na classificação das asfixias entre puras e complexas/mistas, nas puras há apenas um
mecanismo, o respiratório, o mais comum, e nas complexas/mistas pode ocorrer a combina-
ção dos 3 mecanismos. Essa é a diferença conceitual entre as puras e as complexas/mistas.
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CLASSIFICAÇÃO

PURAS

Afogamento: substituição do ar por meio líquido (mesmo que incompleto).


O afogamento incompleto é aquele no qual não ocorre a submersão completa do indivíduo,
por exemplo, numa piscina de criança, um indivíduo cai, desmaia, com a face dentro da água.
Soterramento: substituição do ar por meio sólido pulverulento.
Sólido pulverulento pode ser terra, areia, sal, açúcar.

Substituição do ar por gases irrespiráveis

• Gás carbônico (CO2), por falta de renovação do ar: confinamento.


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Num lugar muito fechado, por exemplo, dentro de um elevador, a pessoa presa começa
a liberar gás carbônico, que sai quente do organismo, começa a transpirar, a liberar calor.
Aquele calor não sai do meio ambiente e há também o mecanismo térmico, a ação do calor
difuso sobre o indivíduo.
A substituição do ar por gases irrespiráveis ocorre com qualquer gás, mas os mais cobra-
dos em prova são o gás carbônico e o monóxido de carbono.

Monóxido de carbono: hipóstases róseas ou carmin!

O monóxido de carbono é um produto da combustão incompleta, que se liga à hemo-


globina, a proteína dentro das hemácias que transporta oxigênio, de forma irreversível, for-
mando a carboxihemoglobina, impedindo que o oxigênio se ligue àquela hemoglobina: as
células não conseguem transportar o oxigênio porque elas já estão ligadas ao monóxido
de carbono.
O que dá a cor vermelha ao sangue é a hemoglobina, que é um pigmento que emite luz,
uma faixa de onda.
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Quando a sua conformação muda, ela emite outra faixa de onda e por isso a hemoglo-
bina ligada ao oxigênio é vermelha e a não ligada ao oxigênio, a desoximioglobina, menos
oxigenada, é um pouco mais azulada. Por exemplo, na palma da mão vê-se a hemoglobina
oxigenada e, no dorso, as veias mais azuladas.
Quando se liga ao monóxido de carbono ela tem outra conformação, emite outra faixa de
luz de cor rosa ou carmin (cereja).
As hipóstases estudadas nas aulas de tanatologia são manchas que surgem no corpo,
as equimoses também são manchas que surgem por uma hemorragia, extravasamento de
sangue para a malha tecidual.
As hipóstases surgem por um mecanismo parecido ao que origina as equimoses: quando
o indivíduo morre, a circulação para e o sangue começa a fluir, por gravidade, para as regi-
ões de declive. O sangue é visto como uma mancha com uma tonalidade mais violácea, ele
é desoxigenado.
Nos casos das intoxicações por monóxido de carbono, o sangue tem a cor que a hemo-
globina adquiriu.
Sufocação direta: oclusão de orifícios e das vias respiratórias (ex.: lactentes, aspiração
de corpo estranho).
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Ninguém sabe o que é a síndrome da morte súbita do recém-nascido, mas especula-se


que, geralmente, ocorre em bebês que não dormem na posição de decúbito dorsal, dormem
de bruços ou de lado e, com menos de 1 ano de idade, o bebê não consegue nem sustentar o
pescoço, ele ainda não tem controle dos membros superiores, do tronco, não consegue ficar
ereto, por isso, de repente, ao se virar, ele fica com a face no travesseiro, não consegue se
virar e morre. Seria uma forma de sufocação acidental.
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Na aspiração de corpo estranho, o indivíduo está comendo e aspira algum alimento para
as vias respiratórias, o famoso engasgo, e é também uma forma de sufocação direta.
Sufocação indireta: prejuízo dos movimentos da caixa torácica (ex.: pisoteamento, ele-
tricidade, fratura de costelas, posicional).
Para fazer a respiração são necessários os orifícios e as vias externas, obviamente, mas
é preciso ter o movimento de expansão da caixa torácica. A inspiração ativa a respiração.
Não havendo forma de expandir a caixa torácica, não é possível fazer o movimento de
incursão, a inspiração e, posteriormente, o relaxamento dos músculos, a expiração, que é a
parte passiva da respiração.
A sufocação indireta é aquela trazida pelo prejuízo dos movimentos da caixa torácica.
Uma causa muito comum de sufocação indireta é o pisoteamento: além da ação contundente
dos pés, muitas vezes, as pessoas não conseguem respirar e morrem por sufocação indireta
como, por exemplo, na tragédia da boate Kiss, onde ocorreu um incêndio e as vítimas mor-
reram por asfixia, por intoxicação ocasionada pela substituição do ar por gases irrespiráveis,
pelo monóxido de carbono, o produto da queima incompleta. Quem não morreu queimado,
morreu intoxicado por monóxido de carbono ou então pisoteado naquela angústia de sair,
morreu por sufocação indireta, que prejudicou o movimento da caixa torácica.
Outro exemplo: fratura múltipla de costelas, que retira a possibilidade do músculo con-
trair e fazer a incursão respiratória. A fratura múltipla de costelas também pode causar uma
sufocação indireta.
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A eletricidade altera a polarização da musculatura e, às vezes, causa uma tetanização,
o músculo fica contraído e não consegue relaxar. A eletricidade pode causar tetanização da
musculatura respiratória.
Outra forma de sufocação indireta é a posicional, que é quando o indivíduo fica numa
posição desconfortável, que exige muito da musculatura respiratória até o momento em que
ela começa a fadigar. Este era o mecanismo de morte que acontecia na crucificação, uma
forma de sufocação indireta, postural.
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COMPLEXAS/MISTAS (CONSTRIÇÕES CERVICAIS)

Enforcamento: com um laço, cuja ativação se dá pelo próprio peso do corpo, sendo a
constrição do laço passiva. O que exerce a força ativa é o peso da pessoa.
Estrangulamento: com um laço, cuja ativação se dá por uma força externa, sendo a
constrição do laço ativa.
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Esganadura: pelas mãos do agressor. O instrumento que faz a constrição cervical são
as mãos do agressor.

Enforcamento, Garrote utilizado no estrangulamento, Esganadura

“Mata-leão” ou “gravata”

Não é esganadura, é estrangulamento, embora não se encaixe na definição original


do laço: é um estrangulamento antebraqueal (movimento de pinça) porque é o antebraço
do indivíduo que está fazendo o estrangulamento. Isso permite concluir que a esganadura
envolve apenas a utilização das mãos do agressor, se envolver antebraço, pé, perna, coxas,
é estrangulamento.
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Soterramento em sentido amplo

A foto ilustra um desmoronamento.

• Soterramento?
• Sufocação indireta?
• Sufocação direta?
• Confinamento?
• Ação contundente?

Do que morreu o indivíduo? Terra é um sólido pulverulento, ele morreu de soterramento?


Há um bloco de concreto, à esquerda na foto, em cima da vítima: teria morrido de sufo-
cação indireta?
Também pode ter morrido de sufocação direta, com terra caindo sobre a cabeça e o impe-
dindo de inspirar.
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Na hipótese do bloco ter caído e criado um espaço pequeno, que ainda permitiria a res-
piração, como o ar não se renovava, acumulou CO2, gás carbônico e o indivíduo poderá ter
morrido de confinamento.
Existe o soterramento no sentido estrito, que consiste na substituição do ar por meio
sólido, pulverulento e o soterramento no sentido amplo, que é o caso que a foto ilustra.
Este indivíduo chega ao IML, o legista não encontra terra nas vias respiratórias ou na
traqueia ou encontra muito pouca e ele tem que dar outra causa da morte: confinamento,
sufocação direta, sufocação indireta?
O soterramento em sentido amplo é a asfixia que cursa com todas as formas, ao mesmo
tempo: tudo contribuiu para a morte do indivíduo. A sufocação indireta é causada pelo peso,
a sufocação direta, pela oclusão e o confinamento.
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No soterramento em sentido amplo, os principais mecanismos que atuam nele são, de
fato, o soterramento em sentido estrito e a sufocação indireta porque está muita terra pesando
sobre o indivíduo, podendo ser, inclusive, uma ação contundente.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
preparada e ministrada pelo professor Francisco Helmer.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu-
siva deste material.
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