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19 de Março de 2024

Asfixiologia Forense
Criminalistica
Publicado por Ana Carolina Zillo há 3 anos

RESUMO

Este trabalho apresenta como objetivo a compreensão da a apli-


cação da Medicina Legal na identificação e elucidação dos ilíci-
tos penais por meio do estudo da Asfixiologia Forense.

Trata-se de uma área da medicina legal que estuda as asfixias de


um modo geral.

Tem por objetivo reconhecer e analisar os diagnósticos médico-


legais nos fenômenos cadavéricos imediatos e consecutivos, bem
como nos fenômenos transformativos, e nas lesões produzidas
intra-vitam e post-mortem.

Visa identificar e interpretar as perícias médicos-legais, tendo


por base o conhecimento dos conceitos, terminologias e técnicas
médico-legais.

Visa conhecer a relação entre a Medicina e o Direito, identificar


os documentos médicos-legais e as suas devidas utilizações e
necessidades.

SUMÁRIO
ASFIXIOLOGIA FORENSE

Introdução 5

Fases da asfixia 6

Diagnóstico 7

Classificação das asfixias 10

Enforcamento 11

Estrangulamento 13

Esganadura 14

Sufocação 15

Afogamento 18

Soterramento 23

Confinamento 24

Gases Tóxicos 25

Conclusão 28

Referencias Bibliográficas 29

INTRODUÇÃO

A Asfixiologia Forense é um ramo da medicina legal, que estuda


as asfixias. Que é uma síndrome clínica resultante da hipoxemia
ou anoxemia consecutiva a uma ação externa súbita e violenta
que impede a ventilação pulmonar.

A palavra asfixia advém do grego (sem) sphyksis (pulso), que os


antigos achavam que as artérias se encontravam o elemento (es-
pirito) da vida. Com o passar do tempo, esse entendimento mu-
dou, fixando outro significado que é a supressão da respiração.

A morte ocorre em asfixia quando as causas são de origem in-


terna, como asma, pneumonia, enfisema, insuficiência cardíaca,
etc. Essas Interessam a medicina clínica. Já as causas de origem
externa interessam a medicina legal.

A asfixia pode levar a morte, á sequelas, amnésias, convulsões e


a paralisias. Ou a um resultado menos agressivo, permitindo ao
indivíduo se recuperar completamente.

O nosso direito penal, trata do homicídio decorrente de asfixia


como um meio cruel, uma vez que exige do agente um tempo de
5 minutos até produzir o resultado morte. Tempo em que pode-
ria arrepender-se e susta-la.

As condições para a respiração normal são: O equilíbrio percen-


tual gasoso adequado, a permeabilidade dos orifícios das vias
aéreas, permeabilidade das vias aéreas, movimentos respirató-
rios e hemodinâmica da circulação e bioquímica do sangue
corretas

FASES DAS ASFIXIAS

Dispneia inspiratória

O indivíduo está consciente, e faz um grande esforço para rece-


ber oxigênio. Decorre da Hipoxemia (baixa concentração de oxi-
gênio no sangue arterial). Dura cerca de um minuto.
Dispneia expiratória

O indivíduo perde parte da consciência e pode vir a convulsio-


nar, devido a hipercapnia (alta concentração de gás carbônico).
Dura cerca de três minutos.

Esgotamento

Ocorre uma parada respiratória aparente, e então uma parada


respiratória definitiva, levando a morte. Dura cerca de 3
minutos.

DIAGNÓSTICO

Não existem sinais exclusivos da asfixia, mas que combinados


com outras patologias caracterizam a morte por asfixia.

Os sinais externos costumam ser por:

Manchas de hipóstase

O indivíduo morre e, em consequência da morte, o coração não


bate. O sangue contido nos pequenos vasos próximos à pele,
com a morte, acumula-se, por força gravitacional, nas regiões de
maior declive. Se o morto está em pé (enforcado), o sangue vai
para as extremidades (mãos, pés, pernas). Se o morto está dei-
tado, as manchas tendem a se formar nas costas, se ele estiver
em decúbito dorsal, ou no tórax, se ele estiver em decúbito ven-
tral. Nas regiões de apoio, o sangue não chega, portanto, não se
formam as manchas nessas regiões. Essas manchas começam a
se formar 1 ou 2 horas depois da morte. Nos casos de asfixia, as
manchas hipostásicas são mais marcadas (pronunciadas) e mais
precoces, porque o sangue está sem oxigênio, com gás carbô-
nico. O sangue venoso (com gás carbônico) é mais escuro, por
isso que as manchas hipostásicas são mais visíveis nos asfixia-
dos. São, também, mais precoces, porque, em decorrência do
aumento da pressão, há um acúmulo muito maior de sangue nas
extremidades.

Cianose

Face, rosto, parte alta do pescoço nos asfixiados são cianóticos.


Encontradas em certos tipos especiais de asfixia, como na esga-
nadura, na estrangulação e na compressão torácica. A cianose é
uma tonalidade azulada da pele e mucosas.

Equimose

Manchas na pele, em consequência do aumento da pressão, os


vasos se rompem formando as manchas equimóticas. Arredon-
dadas e diminutas, localizam-se na pele das pálpebras, pescoço,
face e tórax, e nas mucosas exteriores das conjuntivas, dos lá-
bios e, menos comumente, das asas do nariz.

Espuma

De aspecto semelhante a um cogumelo sanguinolento exteriori-


zado pela boca e/ou pelo nariz, manifesta-se frequentemente
nos casos de submersão, podendo faltar em outros tipos de
asfixia.

Procidência da língua

Encontradiça no enforcamento e no estrangulamento em que a


língua escurecida é projetada além das arcadas dentárias; pode,
também, esporadicamente, ocorrer no afogamento, no início da
putrefação.

Livor cadavérico
Aparece precocemente. É rosado na submersão, devido às modi-
ficações do sangue ocorridas nessa síndrome, vermelho vivo
quando o agente é o óxido de carbono, e escuro nas asfixias me-
cânicas em geral.

Os sinais internos, por sua vez, são mais comuns em todas as


asfixias, sendo:

Os caracteres do sangue

Abrangem o aspecto, cor e fluidez. Na morte por asfixia o san-


gue é fluido e de cor negra. Fazem exceção os que sucumbiram
sob o efeito do monóxido de carbono, ficando a cor do sangue
vermelho vivo e os afogados que ingeriram grande quantidade
de líquido, com a cor rosada.

Equimoses viscerais

Conhecidas vulgarmente por petéquias, são também chamadas


manchas de Tardieu. As manchas de Tardieu são petéquias vio-
láceas, em pequeno número - três ou quatro -, ou aglomeradas
em grande quantidade, recobrindo a superfície pleural, interlo-
bares e basilares dos pulmões, do pericrânio e, nos recém-nasci-
dos, do timo. As manchas de Paltauf são equimoses viscerais
nos pulmões dos afogados.

Congestão polivisceral

Quase todos os órgãos do corpo são passíveis de congestão nos


diferentes tipos de asfixia. O fígado e o os rins são os de maior
interesse na asfixia.

Maior quantidade de sangue nos órgãos


Órgãos que normalmente contêm sangue, como o fígado, ficam
muito cheios. Esse mesmo aumento da pressão, durante a asfi-
xia, pode provocar um aumento de sangue nos alvéolos dos pul-
mões e pode ocorrer ruptura de vasos dos alvéolos; por isso é
comum a secreção sanguinolenta nos casos de asfixia.

CLASSIFICAÇÃO DAS ASFIXIAS

a) Por constrição do pescoço: Enforcamento, Esganadura


ou Estrangulamento.

b) Por alteração do meio ambiente: Afogamento, Soterra-


mento, Confinamento, Gases Tóxicos.

c) Obstaculização a passagem de ar para os pulmões:


Sufocação direta, Sufocação indireta.

ENFORCAMENTO

O enforcamento, é realizado por corda/laço/fita que é acionado


pelo próprio peso da pessoa. Podendo ser completo, aquele que
o indivíduo fica totalmente suspenso no ar. Ou indireto, que
parte do corpo fica apoiada em algum objeto. Bastando um peso
de 2kg para atingir as veias jugulares.

Enforcamento é a constrição do pescoço por um instrumento


chamado laço e a força que constrange é a do próprio indivíduo.

No enforcamento, a força constritiva é o próprio peso do indiví-


duo. 15 kg são suficientes para que ocorra o enforcamento.

No enforcamento e no estrangulamento, o laço que circunda o


pescoço, levando o indivíduo à morte por asfixia, deixa uma
marca característica, que se chama sulco. É uma marca, em
baixo relevo, do material utilizado no laço que provocou o enfor-
camento, que desenha o instrumento que constringiu o pescoço,
caracterizando o sulco.

Além do sulco, embaixo da pele há lesões: hemorragias e fratu-


ras em cartilagens, ruptura de vasos, nervos achatados e secção
da artéria carótida, que recebe o nome de sinal de Amussat.

A principal causa jurídica do enforcamento é por suicídio, visto


que o homicídio é pouco frequente, pois se necessita de uma
grande desproporção de forças, ou inconsciência da vítima.

Há dois tipos de enforcamento:

a) Suspensão completa

Quando há uma distância considerável entre o corpo e o chão. O


corpo, verticalizado, fica solto no espaço, sem contato com o
plano de sustentação.

b) Suspensão incompleta

Quando o corpo não fica inteiramente pendurado. Ex.: amarrar


o laço numa janela.

Nas asfixias por enforcamento, o mecanismo é misto, pois, além


da constrição das vias respiratórias, constringe-se, também, a
circulação sanguínea e o sistema nervoso que comanda a respi-
ração e os batimentos cardíacos.

c) Fases da morte por enforcamento

· Fase da resistência: agitação; o indivíduo tem alucinações, vi-


são turva, torpor, perda da consciência (quase coma). Essa fase
dura de 40 a 80 segundos.
· Fase da agitação: ausência de consciência, convulsões intensas,
alterações na cor da pele, língua protusa, olhos esoftalmos. Essa
fase dura de 3 a 5 minutos.

· Fase de prostração ou morte aparente: o coração bate e essa


fase pode durar até 10 minutos.

No enforcamento, o sulco é oblíquo ascendente, tem profundi-


dade variável, é interrompido no nó, fica por cima da cartilagem
tireóidea.

Para identificar qual o tipo de enforcamento ocorreu existem si-


nais internos e sinais externos. Os sinais internos podem
ser: infiltração sanguínea nos tecidos subjacentes do sulco, fra-
tura óssea hioide, fratura ou luxação cervical quando a queda do
corpo, ruptura transversa da túnica interna da carótida primi-
tiva (é o sinal de Amussat), infiltração sanguínea da túnica ex-
terna dos vasos do pescoço (é o sinal de Friedberg).

Já os sinais externos, podem ser: sulco obliquo incompleto de


profundidade variável no pescoço (o sulco, ascendente, inter-
rompe-se no local do nó. É mais profundo no lado oposto ao nó
e desaparece ao seu nível, cabeça pende oposta ao nó, livores de
hipóstase situados nas partes pendentes quando a suspensão
permanecer por várias horas, globos oculares e língua prociden-
tes e cianose de face discreta.

ESTRANGULAMENTO

No estrangulamento, que também é uma constrição por um


laço, a força constritiva é externa. O que constringe é o laço, aci-
onado por uma força externa, geralmente homicida.
Para determinar se a causa da morte foi enforcamento ou es-
trangulamento, é necessário a análise das características do
sulco deixado pelo laço.

No estrangulamento, o Sulco é horizontal, tem profundidade


uniforme, não é interrompido e fica no meio do pescoço.

O homicídio é a causa jurídica mais frequente do estrangula-


mento, a morte acidental é rara.

Os principais sinais externos do estrangulamento são:

a) Sulco horizontal completo com a mesma profundidade (o


sulco pode se único ou múltiplo), é totalmente fechado, porque
não apresenta nó que impeça seu fechamento total.

b) Face tumefeita e com cianose acentuada (a tumefação e a cia-


nose são mais acentuadas que o enforcamento, pois a força que
oclui os vasos cervicais não é suficiente para fechar as artérias
cervicais, e então, enquanto as jugulares estão ocluídas, conti-
nua chegando sangue a cabeça. Como não há retorno do sangue,
produz-se o grande edema facial com cianose intensa.

c) Equimose na face e conjuntivas (são pequenas e em grande


quantidade)

d) Exoftalmia e procidência da língua (bem mais acentuadas


que o enforcamento)

Os sinais internos são:

a) Sinais gerais de asfixias, infiltração dos tecidos subjacentes ao


laço, fratura ou não o hioide, e sinal de Amussat e Friedberg.
O mecanismo da morte do estrangulamento é o mesmo do
enforcamento.

ESGANADURA

Esganadura é a constrição do pescoço por um membro do corpo


humano: mãos, pés, cotovelos, joelhos.

A esganadura é sempre um homicídio, porque a força constritiva


será sempre um segmento do corpo humano.

Na esganadura, sempre há disparidade de forças entre os


sujeitos.

Os principais sinais externos são:

a) Presença de equimoses, escoriações, hematomas, e feridas


contusas no pescoço. As escoriações tem a forma semilunar,
provocada pelas unhas do agressor. Encontram-se frequente-
mente lesões de defesa e também lesões na boca e narina.

Já os sinais internos são:

a) Infiltração sanguínea, nos tecidos subcutâneos. Mais acentu-


ada que nas outras formas de asfixia por constrição do pescoço.

b) Fraturas de hioide e apófise estiloide e cartilagens tireoide e


cricóide podem ocorrer.

c) Sinais gerais de asfixias

A morte por esganadura é discutível sobre o mecanismo envol-


vido, a morte por mecanismo nervoso é pouco provável, alguns
autores defendem ao mecanismo respiratório e outros ao
vascular.
A causa jurídica da morte é praticamente só homicida, existindo
raríssimos casos de suicidas.

SUFOCAÇÃO

É a asfixia mecânica provocada pela obstaculização direta ou in-


direta à penetração do ar atmosférico nas vias respiratórias ou
por permanência forçada em espaço fechado.

Sufocação direta

A sufocação direta compreende as seguintes modalidades:

a) Oclusão dos orifícios externos respiratórios: Pelo emprego da


mão ou de corpos moles, é de etiologia sempre criminosa, pois
supõe acentuada desproporção de forças entre o agressor e a ví-
tima, sendo praticada usualmente no infanticídio.

b) Oclusão das vias respiratórias: Frequentemente acidental por


aspiração brusca de corpos estranhos (dentaduras, porções de
alimentos, rolha de garrafa, bolinhas de gude), na árvore respi-
ratória, impedindo a passagem do oxigênio até os pulmões e de-
sencadeando êxito letal por asfixia, pode excepcionalmente ser
autocida.

Os sinais cadavéricos locais, discretos e inconstantes, são repre-


sentados pelas equimoses nos lábios, sinais de dentes na mu-
cosa labial interna e marcas ungueais nas proximidades da boca
e das fossas nasais, nos casos de sufocação manual, podendo
não existir quando o agente emprega corpos moles (travessei-
ros, panos), e provável fratura de dentes e hemorragias puncti-
formes oriundas da introdução forçada do corpo estranho den-
tro da boca.
Valor probatório diagnóstico é o achado necroscópico do corpo
estranho causador da sufocação encravado no interior das vias
aéreas, conjuntamente com os sinais clássicos já relatados nas
asfixias em geral.

Sufocação indireta

Diz respeito a todo e qualquer fenômeno que comprima o tórax,


impedindo a sua expansão (ex.: acidente de veículos, homicídio,
estouro de pessoas contra a parede, morte por pisoteamento
contínuo entre os seres humanos).

Há uma compressão do tórax ou abdômen, que impede a respi-


ração, provocando a asfixia.

Afundamento de tórax

Fraturas múltiplas nas costas que bloqueiam a respiração, pro-


vocando a morte por asfixia.

Paralisia espástica

É a contratura dos músculos. Ocorre nos casos de morte por


eletroplessão.

Alguns tóxicos também podem levar a esse estado. O tétano é


também outra causa da paralisia espástica (um veneno que leva
a essa paralisia é a estricnina).

Paralisia flácida

A paralisia flácida é causada por substância vegetal, utilizada


pelos índios da Amazônia, de nome curare. O curare é utilizado,
também, nas anestesias.
Outra hipótese remota, mas que também pode ocasionar parali-
sia flácida, é o traumatismo de medula (raquimedular).

Asfixias por Parada Respiratória Central ou Cerebral

Traumatismo crânio-encefálico

O traumatismo crânio-encefálico pode ser ocasionado por uma


pancada violenta na cabeça, que afunda o cérebro. Esse trauma-
tismo lesa os centros de comando e o indivíduo para de respirar.

Eletroplessão

A carga elétrica leva à parada cerebral ocasionada por hemorra-


gia das meninges, das paredes ventriculares, do bulbo e da me-
dula espinhal.

Asfixias por Paralisia Central

Depressão do sistema nervoso central

É ocasionada por drogas que levam o sistema nervoso a parar. O


modelo clássico inclui as substâncias barbitúricas, álcool e over-
dose por cocaína (asfixia por depressão do sistema nervoso
central).

AFOGAMENTO

Afogamento é a asfixia no meio líquido: pode ser água, tanque


de Coca-Cola, álcool, gasolina etc.

Num primeiro momento, o afogado tem a fase de surpresa: fica


agitado e segura ao máximo a respiração. Quando não aguenta
mais, respira profundamente inundando os pulmões de água.
Entra em concussão e morte aparente. Após isso, o coração bate
por mais ou menos 9 minutos.

Sinais externos atípicos:

São os que se manifestam também em outras formas de morte


que não o afogamento, em que o cadáver permanece por qual-
quer motivo submerso por certo período de tempo.

a) Pele anserina ou "pele de galinha" - É determinada pela


saliência dos folículos pilosos pela contração dos músculos ere-
tores cutâneos. Situam-se frequentemente nos ombros, na re-
gião lateral das coxas e dos antebraços, constituindo o sinal de
Bernt.

b) Retração dos mamilos - Tem significado idêntico ao da


pele anserina.

c) Retração dos testículos e do pênis - Provocada pelo de-


sequilíbrio térmico inicial entre o corpo e a massa líquida.

d) Temperatura baixa da pele - Tem valor relativo.

e) Maceração epidérmica - Mais acentuada nas mãos e nos


pés, por embebição da pele, destacando-se por grandes retalhos,
ou quando nas mãos, em dedos de luva junto com as unhas.

f) Rigidez cadavérica precoce.

g) Cor da face - Será lívida ou azulada nos afogados brancos


de Parrot, e cianosada nos mortos por submersão-asfixia.

h) Queda fácil dos pêlos nos que permaneceram du-


rante algum tempo submersos.
i) Destruição frequente das partes moles e cartilagino-
sas, como boca, supercílios, pálpebras, globos ocula-
res, nariz e pavilhões auditivos, por animais da fauna
aquática, como peixes, siris e outros crustáceos.

j) Projeção da língua além das arcadas dentárias é fre-


quente no início da putrefação.

k) Presença de erosões das polpas digitais e entre os


dedos e, sob as unhas, de lama ou grãos de areia e, nos
lábios, de corpos estranhos inerentes à massa líquida
onde ocorreu a submersão.

l) Lesões de arrasto (Simonin) - São consequentes ao roçar,


no leito dos rios, da fronte, mãos, joelhos e pododáctilos, nos
afogados que permanecem submersos em decúbito ventral em
movimentos de vaivém, pelo impulso das águas. Evidentemente,
nas vítimas que, submersas, adotam a posição de decúbito dor-
sal em opistótono, as lesões de arrasto serão encontradas na re-
gião occipital e nos calcanhares.

Sinais externos típicos - Caracterizam a asfixia-submersão:

a) "Cabeça de negro" É própria dos afogados por submersão


em estado de putrefação; a pele da cabeça adquire cor verde e
bronzeada.

b) Tonalidade vermelho-clara dos livores cadavéricos –


Determinada pelas alterações do sangue na asfixia-submersão,
localiza-se comumente nas regiões mais declives do corpo (ca-
beça, pescoço, metade superior do tronco, mãos e pés), po-
dendo, em alguns.
c) Cogumelo de espumas - Consequente ao arejamento do
muco misturado à água na traquéia e nos brônquios, somente se
forma nos indivíduos que reagiram energicamente dentro
d'água e aparecem sobre a boca e narinas dos que cedo foram
dela retirados.

d) Putrefação - Lenta enquanto a vítima está submersa, evolui


rapidamente se o corpo é posto em contato com o meio exterior.
Inicia-se pela parte superior do tórax, face e depois cabeça e
progride em direção descendente comprometendo todo o corpo,
que assume forma gigantesca, lembrando balão inflado, de plás-
tico. O enfisema putrefativo distendendo exageradamente o
aparelho genital masculino confere ao pênis e às bolsas escrotais
dimensões descomunais.

Sinais internos de afogamento

a) Inundação das vias aéreas com líquido: as pessoas se


afogam em vários tipos de líquido. A presença desses líquidos
não deve ser, apenas, uma constatação pericial. Por meio do lí-
quido pode-se analisar o meio aquático em que o indivíduo se
afogou. Ex.: o indivíduo pode ter sido morto em uma banheira e
ter o seu corpo jogado no mar. A presença do líquido serve, tam-
bém, para esclarecer, exatamente, o lugar onde ocorreu o afoga-
mento. Mesmo se tratando de afogamento em água doce com
posterior remoção do cadáver para um rio, também de água
doce, há diferenciação entre os líquidos.

b) Lesão dos pulmões: apresenta um pontilhado de manchas


chamadas de manchas de Tardieu. Quando o processo de afoga-
mento é mais demorado, essas manchas podem ser grandes, re-
cebendo o nome de manchas de Pautalf. Quando o indivíduo as-
pira uma grande quantidade de água, rompem-se os alvéolos e o
líquido passa pelo espaço intra-alveolar. Os pulmões, então, en-
chem-se de água, inchando-se. Isso se chama enfisema aquoso
ou sinal de Brouardel. Nas mortes agônicas, os pulmões tornam-
se extremamente estendidos. O pulmão adquire um volume
maior, às expensas do líquido que está nas vias. A distensão dos
pulmões não se dá só em virtude do líquido que está dentro
dele, mas também porque o pulmão ainda estava cheio de ar.
Forma-se, então, uma mistura borbulhante de água e ar.

Isso explica o fato de que, ao retirar o cadáver da água, forma-se


um cogumelo de espuma. A pressão atmosférica age na mistura
de ar e água, formando o cogumelo.

c) Presença de líquidos no aparelho digestivo: o indiví-


duo também engole água, além de inspirá-la. A trompa de Eus-
táquio liga a faringe ao ouvido médio; nos afogamentos, há pre-
sença de líquido no ouvido médio, que chegou até lá pela
trompa de Eustáquio.

Um cadáver dentro da água, pela sua densidade, tende a afun-


dar. Durante as primeiras 24 horas, o cadáver fica submerso,
depois disso ele vem à tona, porque o processo da putrefação
humana, na sua segunda fase, produz uma enorme quantidade
de gases (fase gasosa). Esses gases fazem com que o cadáver ve-
nha para a superfície.

Pela análise do sangue, pode-se, também, dizer em qual tipo de


líquido ocorreu o afogamento.

Mecanismos jurídicos da morte por afogamento

Acidente, suicídio e homicídio são os principais. A hipótese de


afogamento por acidente configura a maior parte dos casos.

Tecnicamente, não existe suicídio por afogamento. É comum


encontrar nesses afogados sinais de luta pela sobrevivência. Es-
ses casos recebem o nome de suicídio acidental.
Permanecido na água o morto por afogamento, quando retirado,
há uma violentíssima aceleração do processo de putrefação.

Nos cadáveres cuja pele não está íntegra, não há compartimen-


tação de gases e é mais difícil de se encontrar o cadáver.

O diagnóstico do afogamento quando recente não é difícil po-


rém quando já se instalou a putrefação, torna-se difícil e muitas
vezes impossível saber se o indivíduo se afogou ou se já foi ati-
rado morto dentro d’água.

Sempre que houver morte por afogamento, deve-se fazer o teste


do plâncton. O plâncton são animais, vegetais e substancias mi-
nerais microscópicos que vivem em suspensão na água que a
pessoa aspira ao afoga-se e que se alojam nos alvéolos pulmona-
res. Para fazer o teste, simplesmente tira-se um fragmento do
pulmão, este enviado para o laboratório.

Sobre o tempo de submersão e flutuação do indivíduo é difícil


de ser avaliado o tempo em que o cadáver ficou dentro d’água.
Sendo que a temperatura da água á de extrema importância,
pois acelera a putrefação. Quando o corpo é retirado da água a
decomposição acelera-se mais ainda.

Quando o indivíduo se afoga, ele inicialmente se afunda, pas-


sado um tempo, por volta de 1-5 dias ele volta a flutuar. Isso
ocorre devido a putrefação. Que o torna menos denso do que a
água.

O problema médico legal do afogamento é que a necropsia do


afogado normalmente não oferece elementos para esclarecer a
causa jurídica de morte. Quando um corpo é retirado da água,
necessita-se saber se houve afogamento real ou se ele foi jogado
no mar já sem vida. Quando é recente não há dificuldade de se
saber, quando existe a putrefação, na maioria das vezes é impos-
sível de se saber.

SOTERRAMENTO

É a asfixia no meio terroso, é uma asfixia clássica. Ocorre a sufo-


cação direta, indireta, mais a imersão em meio não respirável
(sólido). É possível, também, o soterramento em grãos (soja,
trigo etc.).

É a asfixia provocada pela substituição do meio gasoso por um


meio sólido pulverulento, geralmente areia, talco, cimento, fari-
nha, etc.

O soterramento pode ter dois sentidos, o estrito que se refere a


substituição o meio aéreo, por um meio pulverulento. E no sen-
tido amplo, nos casos em que há desmoronamento ou desaba-
mento, e o indivíduo é coberto por terra e outros materiais. Nes-
ses casos, a morte se dá geralmente por esmagamento, trauma-
tismos cranianos, hemorragias, etc.

Sinais externos e internos:

a) Presença de corpos estranhos na boca, narinas, traqueias e


brônquios.

b) Sinais gerais de asfixiais.

A maior causa jurídica da morte é o acidente, não se excluindo


que alguém seja enterrado vivo, como crianças.

CONFINAMENTO
A modalidade mais comum de confinamento é o das pessoas
que, num ambiente compartimentado, têm o sangue enrique-
cido por monóxido de carbono. Ex.: num comboio de trem a car-
vão, fechado sem oxigênio, o indivíduo morre asfixiado.

A cor da hemoglobina é mais avermelhada. O sangue não tem a


coloração forte das outras asfixias, porque não foi asfixiado com
gás carbônico, mas com monóxido de carbono.

Confinamentos podem ocorrer com grupos de pessoas num


compartimento onde não há renovação do ar. As pessoas se asfi-
xiam com o próprio gás carbônico: é a asfixia clássica.

O confinamento pode se dar em ambientes em que a mistura at-


mosférica é pobre em oxigênio: confinamento por inadequação
da mistura oxigenatória (ex.: cabine de avião).

O confinamento em ambiente com gás também é outra causa de


asfixia.

Sinais internos e externos:

a) Sinais gerais de asfixias

b) Eventualmente, pode haver lesões tipo escoriações ou equi-


moses nas mãos, antebraços, ou face na tentativa desesperada
de tentar sair do local onde se encontra.

A causa jurídica da morte geralmente é acidental. Como crian-


ças esquecidas dentro de carros, presos amontoados no interior
de camburões.

GASES TÓXICOS

Gases de combate
1) Gases lacrimogêneos - São assim denominados porque,
em contato com os olhos, não se diluem nas secreções que ba-
nham o globo ocular, causando, inicialmente, leve sensação de
formigamento reflexo nas pálpebras e, dentro do primeiro mi-
nuto após a explosão, intenso lacrimejamento acompanhado de
cefaléia, fadiga, vertigens e irritação das vias aéreas superiores e
da pele.Em altas concentrações pode matar.

2) Gases esternutatórios - Causam irritação das vias aéreas


superiores, efeitos sobre as terminações nervosas e sintomas de
intoxicação arsenical. São responsáveis por tosse violenta, espir-
ros, rinite, fotofobia, conjuntivite, náuseas, vômitos, dores torá-
cicas e abdominais, cefaléia, irritação da pele, astenia, sudorese,
poliúria, dilatação capilar e destruição epitelial na traquéia e nos
brônquios. O mais letal gás esternutatório é o etildicloroarsina.
Em altas concentrações pode matar

3) Gases vesicantes - Condenados pela Convenção de Gené-


bra. O mais importante gás vesicante é a iperita ou gás mos-
tarda. O gás mostarda atua sobre a pele, olhos e aparelho respi-
ratório. Na pele exposta duas a dez horas ao gás mostarda surge
eritema, às vezes acompanhado de erupção puntiforme, e, pos-
teriormente, flictenas contendo líquido seroso claro que, rom-
pendo-se, deixam entrever tecido subjacente vermelho e hemor-
rágico. As lesões dérmicas, amiúde, assentam-se na face, no
ânus e nas bolsas escrotais, onde o epitélio é mais espesso. Os
olhos lacrimejam, as pálpebras edemaciam, as conjuntivas infla-
mam. Causa cefaléia, sede intensa, mal-estar, vertigens, tontu-
ras, vômitos e diarréias, arritmia cardíaca, podendo a morrer
por broncopneumonia. Em altas concentrações pode matar.

4) Gases sufocantes - Descreveremos apenas a ação intoxi-


cante do cloro. Ela manifesta-se por dor intensa, espasmo larín-
geo e da musculatura brônquica, dispnéia, hipotensão arterial,
cianose, náuseas, vômitos, sincope, inconsciência, falência do
ventrículo esquerdo e morte por edema agudo do pulmão.
Gases tóxicos

Consideraremos aqui o ácido cianídrico e o monóxido de


carbono.

1) Ácido cianidrico - A inalação de vapores de ácido ciani-


drico ou ácido prússico acarreta a morte dentro de poucos mi-
nutos até 3 horas. Causa vertigens, hiperpnéia, cefaléia, taqui-
cardia, cianose, inconsciência, convulsões e morte por asfixia. O
ácido cianidrico é empregado por vários Estados americanos ob-
jetivando executar criminosos, como forma de pena capital.

2) Monóxido de carbono - O monóxido de carbono inalado é


absorvido pelos alvéolos e logo reage quimicamente com a he-
moglobina do sangue formando a carboxiemoglobina (HbCO),
que impede o processamento normal da hematose, causando
anoxia em nível tissular e não envenenamento, pois esse gás não
é, em si mesmo, tóxico para as células.

O ofendido apresenta edema cerebral, cefaléia intensa, vasodila-


tação cutânea, zumbidos, tosse, batimentos dolorosos nas têm-
poras, escotomas, náuseas, vômitos, síncope, taquisfigmia, ta-
quipnéia, debilidade muscular e paralisia dos membros inferio-
res que impede a vítima de fugir do perigo, convulsões intermi-
tentes, coma, podendo evoluir para a morte.

Gases industriais

Mais importantes que os vapores nitrosos é o formeno, metano,


grisu ou gás dos pântanos, que interessa particularmente à In-
fortunística Acidentária, responsável que é pelas explosões e su-
focação dos obreiros que trabalham no interior das minas. Pro-
vocam dispnéia, irritação intensa da laringe, da traquéia, dos
brônquios e dos pulmões.
Gases anestésicos

Interessam à Medicina Legal, principalmente no que diz res-


peito à responsabilidade dos anestesiologistas, não se devendo
pensar, aqui, apenas no sentido de incriminá-los, pois casos há
de imprevisíveis acidentes anestésicos, amiúde, erroneamente
rotulados como choques anafiláticos, ou os próprios, que podem
levar o paciente à morte, independentemente da competência
do profissional.

CONCLUSÃO

A Medicina Legal é uma ciência auxiliar do Direito Penal, por-


tanto, auxiliam outros operadores do Direito, na fase proces-
sual, tanto na defesa (patronos), como na acusação, (elementos
probantes à formação da opinio delicti, e como titular possa
propor a competente Ação Penal), expondo diretrizes, na busca
da verdade real e, propiciando assim, uma persecução penal,
através de uma sentença justa, dando origem a uma possível
condenação sem margem de erro.

A asfixiologia forense trata-se de uma área da medicina legal


que estuda as asfixias de um modo geral.

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS:

Woelfert, Alberto Jorge Testa. INTRODUÇÃO A MEDICINA


LEGAL. São Paulo, Editora UBRA, 2003.

GALVÃO, Luis Carlos Cavalcante. Medicina Legal. 1ª ed. São


Paulo: Editora Santos, 2008.

CARDOSO, Leonardo Mendes. Medicina Legal para o Acadê-


mico de Direito. 2ª ed. Belo Horizonte: Editora Del Rey, 2009.
Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/asfixiologia-forense/1118515160

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