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16 de Fevereiro de 2022

As asfixias mecânicas ou médico legais

M Publicado por Mariana Reina há 7 anos  65,8K visualizações

Aspectos Gerais:
A palavra “asfixia” é derivada da palavra grega asphyxia, que significa
“sem pulso” (a + sphyxia), pois anteriormente acreditava-se que nas
artérias circulava o pneuma[1]. No entanto, atualmente a asfixia é
entendida como a supressão ou retardamento da circulação do sangue.

O termo acima mencionado refere-se à situação na qual o homem é


sujeito a energias físico-químicas que impedem a passagem de ar nas
vias aéreas, causando alteração na função respiratória, de forma a
inibir a hematose, podendo levar à óbito o indivíduo.

O oxigênio chega aos tecidos por meio dos mecanismos, de acordo com
a sequência abaixo:

1) Ventilação pulmonar;

2) Hemoglobina;

3) Circulação; e

3) Trocas gasosas.
Asfixiologia:
Entende-se por Asfixologia, de acordo com entendimento médico-legal,
como a síndrome causada pela ausência de oxigênio no ar, em diversas
circunstâncias, derivado de impedimento por causa fortuita, violenta e
externa.

Desta forma, quando a asfixia é verificada, o oxigênio contido nos


pulmões é consumido, de forma que o gás carbônico é acumulado.

Fisiopatologia e Sintomatologia:
As síndromes hipoxêmicas ou anoxêmicas podem ter causas externas
ou internas.

Verifica-se que as asfixias mecânicas ocorrem mais frequentemente por


causas externas. Entretanto, é válido mencionar que por diversas
situações as trocas gasosas são obstadas em virtude de dificuldade de
oxigenação em órgãos distintos dos respiratórios, tais como o tecido,
sangue ou nervos, o que gera uma asfixia derivada de causa interna.

Conforme verificado acima, o oxigênio chega aos tecidos por meio da


ventilação pulmonar, hemoglobina, circulação e trocas gasosas. Cada
mecanismo poderá ocasionar anoxia diferente, conforme abaixo:

1. Anoxia de ventilação ou anoxica:

Pode ocorrer nas seguintes hipóteses:

a) quando há diminuição da concentração de ar no ambiente, de forma


que a hemoglobina do sangue arterial atinge nível de concentração
baixo;

b) quando é verificada compressão mecânica das vias aéreas;


c) quando há alterações na dinâmica respiratória (compressão do
tórax, pneumotórax, derrames pleurais, paralisias diafragmáticas); e

d) quando há dificuldade nas trocas gasosas alveolares (EAP, silicoses


e esclerose pulmonar).

Em tais situações, é verificada oxigenação insuficiente do sangue nos


pulmões.

2. Anoxia anêmica: é verificada quando há diminuição qualitativa


e/ou quantitativa de hemoglobina (e. G. intoxicação pelo CO2 ou
venenos meta-hemoglobinizantes, nas anemias crônicas ou nas
grandes hemorragias). Nesses casos, há diminuição da capacidade de
oxigenação do sangue.

3. Anoxia de circulação e de estase: derivada de alterações que


afetam a pequena e grande circulação (e. G. Insuficiência circulatória
periférica, embolia das artérias pulmonares e coarctação da aorta).
Desta forma, ocorrem transtornos circulatórios que dificultam ou
inviabilizam a chegada de sangue oxigenado aos capilares.

4. Anoxia tissular ou histotóxica: surge quando da queda da


tensão diferencial arteriovenosa de oxigênio ou quando ocorre a
inibição de enzimas oxidantes celulares, como nos casos de
intoxicações pelo ácido cianídrico e/ou pelo hidrogênio sulfurado.
Ocorrem em tais situações mecanismos tóxicos que impedem o
aproveitamento de oxigênio pelos tecidos.

Evolução das asfixias:


Na evolução das asfixias podem ocorrer 2 tipos de anoxias: (i) com
acapnéia (sem acúmulo de gás carbônico); ou com hipercapneia (com a
presença de gás carbônico). Na primeira hipótese são englobadas as
asfixias mecânicas e no segundo o mal das montanhas.
Na anoxia com acapneia, há a perda de CO2 derivado do aumento
da frequência respiratória, o que torna o sangue mais alcalino. Pode-se
verificar transtornos psíquicos, sensoriais, motores e com frequência
hiper-reflexia. É produzido poliglobulia e irritabilidade dos centros
nervosos, ainda com a consciência mantida. Posteriormente, a
respiração é diminuída até que em um momento há o aumento da
pressão arterial e a diminuição dos batimentos, surgindo os espasmos
musculares, convulsões e inconsciência. Depois disso, há depressão dos
centros nervosos, parada da respiração, colapso vascular, vasodilatação
profunda, relaxamento vascular, arreflexia e morte aparente de 3 (três)
minutos, até sobrevir a morte.

Na anoxia com hipercapnéia, os efeitos iniciais diferem-se da


anoxia com acapnéia, mas os momentos finais são semelhantes. Isto se
explica em razão da hipercapnéia atuar sobre os centros nervosos, o
que aumenta as reações próprias da anoxia, principalmente no que se
refere à taquicardia e a pressão arterial, bem como as convulsões
tônico-clônicas oriundas da ação excitadora do gás carbônico. Nesta
forma de asfixia, consome-se o oxigênio existente nos pulmões e no
sangue, ao mesmo tempo em que o CO2 progressivamente se acumula.

Com todas essas alterações fisiológicas, é possível se estabelecer um


cronograma, estabelecendo-se suas diversas fases da asfixia com o
aparecimento das manifestações clínicas:

1ª fase

Fase cerebral

Surgimento de enjoos, vertigens, sensação de angústia e lipotimias. Em


cerca de um minuto e meio, ocorre a perda do conhecimento de forma
brusca e rápida, surgindo bradipnéia taquisfigmia.

2ª fase

Fase de excitação cortical e medular


Caracterizada convulsões generalizadas e contração dos músculos
respiratórios e faciais, além de relaxamento dos esfíncteres com
emissão de matéria fecal e urina devido aos movimentos peristálticos
do intestino e da bexiga. Há também a presença de bradicardia e
aumento da pressão arterial.

3ª fase

Fase respiratória

Verifica-se lentidão e superficialidade dos movimentos respiratórios e


insuficiência ventricular direita, o que contribui para acelerar o
processo de morte.

4ª fase

Fase cardíaca

sofrimento do miocárdio, quando os batimentos do coração são lentos,


arrítmicos e quase imperceptíveis ao pulso, embora possam persistir
por algum tempo até a parada dos ventrículos em diástole e somente as
aurículas continuam com alguma contração, mas incapazes de
impulsionar o sangue.

Características Gerais das Asfixias


Mecânicas:
Características que podem originar um diagnóstico se verificadas em
conjunto. No entanto, os sinais verificados não são constantes,
tampouco patognomônico. Em outras palavras, as características são
abundantes e variáveis, sendo divididas de acordo com a situação, em
internas e externas.

Sinais internos:
Equimoses viscerais (ou Manchas de Tardieu):

Equimoses puntiformes dos pulmões e do coração. São pequenas e


localizam-se geralmente sobre a pleura visceral, no pericárdio, no
pericrânio e, em crianças, no timo. São manchas de tonalidade
violácea, de número variável, esparsas ou em aglomerações. São mais
comuns na infância e na adolescência.

Aspectos do sangue:

Tonalidade do sangue negra, exceto quando a morte se deu por


monóxido de carbono, na qual a tonalidade será acarminado. Não é
encontrado no coração coágulos cruóricos (negros) ou fibrinosos
(brancos) e a fluidez, embora de alto valor do diagnóstico, não constitui
sinal patognomônico.

Congestão polivisceral:

Os órgãos que se apresentam mais congestos são o fígado e o


mesentério, sendo que o baço, na maioria das vezes, se mostra com
pouco sangue devido as suas contrações durante a asfixia (Sinal de
Étienne Martin).

Distensão e edema dos pulmões:

Presença de quantidade relativa de sangue líquido espumoso nos


pulmões.

Sinais externos:

Manchas de hipóstase:

Precoces, abundantes e de tonalidade escura, variando essa tonalidade,


nas asfixias por monóxido de carbono.

Congestão da face:
Sinal constante e frequente em tipos especiais de asfixia, especialmente
na compressão torácica, ocasionando a máscara equimótica da face,
por estase mecânica da veia cava superior.

Equimoses da pelé e das mucosas:

Arredondadas e de pequenas dimensões, formando agrupamentos em


determinadas regiões, principalmente na face, no tórax e pescoço,
tomando tonalidade mais escura nas áreas de declive. As equimoses
das mucosas são encontradas mais frequentemente na conjuntiva
palpebral e ocular, nos lábios e, mais raramente, na mucosa nasal.

Fenômenos cadavéricos:

Livores de decúbito mais extensos, escuros e precoces. O esfriamento


do cadáver se verifica em proporção mais lenta; a rigidez cadavérica,
ainda que mais lenta, mostra-se intensa e prolongada e a putrefação é
muito mais precoce mais acelerada que nas demais causas de morte.

Cogumelo de espuma:

Formado por uma bola de finas bolhas de espuma que cobre a boca e as
narinas que continua pelas vias aéreas inferiores.

Projeção da língua e exoftalmia:

Verificados comumente nas asfixias mecânicas. No entanto, podem ser


verificados os sinais em cadáveres por causa diversa.

Afogamento:

Modalidade de asfixia mecânica, originada pela entrada de um meio


líquido ou semi-líquido nas vias respiratórias, impedindo a passagem
do ar até os pulmões.

Fisiopatologia e sintomas:
A morte por afogamento geralmente passa por 3 fases:

(i) fase de defesa (dividida em dois períodos: o de surpresa e o de


dispneia); (ii) fase de resistência (caracterizada pela parada dos
movimentos respiratórios como mecanismo de defesa); e (iii) fase de
exaustão (término da resistência pela exaustão e início de inspiração
profunda e do processo de asfixia, com perda de consciência,
insensibilidade e morte). Tourdes descreve 3 períodos no afogamento
experimental em animais:

1) Período de resistência ou de dispnéia:

Após uma inspiração de surpresa, retém, energicamente a respiração,


procurando ao mesmo tempo defender-se, enquanto a consciência
permanece lúcida, conservando os movimentos reflexos.

2) Período de grandes inspirações e convulsões:

É caracterizado por uma série de inspirações profundas com


penetração violenta de líquidos nos pulmões e perda da consciência.

3) Período de morte aparente:

Ausência da respiração e dos reflexos, perda da sensibilidade; o


coração permanece batendo até surgir à morte real.

Sinais cadavéricos do afogado:


A) Sinais externos:

1.Pelé anserina: ocorre com a contração dos músculos eretores dos


pêlos, tornando os folículos salientes, devido à rigidez cadavérica;

2.Retração do mamilo, do pênis e do saco escrotal;


3.Temperatura baixa da pelé: os corpos dos afogados têm a
temperatura diminuída rapidamente, devido ao equilíbrio térmico no
meio líquido;

4.Maceração da epiderme: localizam-se principalmente nas mãos e


nos pés, destacando-se como se fossem verdadeiros dedos de luva,
inclusive desprendendo-se das unhas;

5.Tonalidade mais clara dos livores cadavéricos: atingem


tonalidade rósea;

6.Erosão dos dedos e presença de corpos estranhos sob as


unhas: ocorre pela resistência do indivíduo ao se debater no plano
mais profundo da água;

7.Mancha verde de putrefação: localiza-se na parte inferior do


pescoço;

8.Equimose da face das conjuntivas: a região ocular recebe


tonalidade avermelhada;

9.Lesões post mortem produzidas por animais aquáticos:


ocorre devido ao tempo que o cadáver permanece em ambiente
aquático;

10.Embebição cadavérica: os tecidos ficam mergulhados,


dificultando a desidratação.

B) Sinais internos:

1.Presença de líquido nas vias respiratórias;

2.Presença de corpos estranhos no líquido das vias


respiratórias dos afogados macro e microscópicos;
3.Diluição do sangue: esse fenômeno é devido à entrada de água no
sistema circulatório;

4.Lesões dos pulmões: os pulmões podem encontrar-se


aumentados, crepitantes e distendidos, e com enfisema aquoso e
equimoses subpleurais;

5.Presença de líquidos no ouvido médio;

6.Presença de líquidos no sistema digestivo: encontra-se no


estômago e nas primeiras alças do intestino delgado, sob a forma de
conteúdo espumoso;

7.Hemorragia etmoidal: zona azulada no compartimento anterior


da base do crânio de cada lado;

8.Hemorragia temporal: zona azulada na face ântero-superior da


parte petrosa do osso temporal;

9.Exame radiológico: mostra a opacidade dos seios maxilares, como


prova de reação vital.

10.Exame histológico: do pulmão do afogado.

11.Sinais gerais de asfixia: congestão polivisceral, equimoses nos


músculos do pescoço e do tórax.

12.Laboratório: existem exames laboratoriais considerados


indispensáveis no estudo do afogado. A princípio no caso de cadáver
putrefeito ou desconhecido, no sentido de descobrir uma identificação.
Depois, os chamados exames específicos, com o propósito de
diagnosticar o próprio afogamento, do tipo de líquido e, quando
possível, também, o local onde se verificou o afogamento;
Putrefação e flutuação dos afogados: o cadáver que é retirado da
água sofre com o ar, uma aceleração do processo putrefativo. Numa
primeira fase, em virtude da densidade do corpo ser maior que a do
líquido de imersão, a tendência do cadáver é ir para o fundo. Numa
segunda fase, com o aparecimento dos gases da putrefação, o cadáver
flutuará. Numa terceira fase, com a rotura dos tecidos moles e o
esvaziamento dos gases, a densidade do corpo volta a prevalecer sobre
a da água e ocorre a segunda imersão. Finalmente numa quarta fase,
com a diminuição do peso específico do corpo, o cadáver voltará a
superfície, ocorrendo a segunda flutuação.

Causas jurídicas de morte no afogamento: Em muitas


oportunidades, a tarefa de determinar se o afogamento foi causado por
homicídio, suicídio ou acidente passa a ser o mais importante. Essa é
uma questão que nem sempre pode ser respondida pelos legistas, mas
sim pela perícia criminal, junto das provas obtidas durante a
investigação.

Diagnóstico do afogamento: há três ocasiões no afogamento que se


tornam importantes num estudo médico-legal. Primeiramente, se a
morte ocorreu por afogamento típico, se foi de modo natural ou
violenta. Depois, se o indivíduo morreu dentro da água ou se o cadáver
foi colocado no meio líquido para simular um afogamento.

Local do afogamento: Nem sempre o local de onde é retirado o


cadáver corresponde ao local onde se verificou o afogamento. Isso
dependerá de um estudo maior, que dependerá, principalmente, das
correntes aquáticas.

Cronologia do afogamento: É muito importante saber o tempo de


permanência do cadáver dentro da água e sua transformação após a
morte. Isso é feito analisando o estado de maceração e do estágio de
putrefação cadavérica, levando-se em conta que nos afogados esses
processos são sempre mais rápidos.

Enforcamento:
O enforcamento é uma modalidade de asfixia mecânica que se
caracteriza pela interrupção do ar atmosférico até as vias respiratórias,
em decorrência da constrição do pescoço por um laço fixo, agindo o
peso do próprio corpo da vitima como força ativa. É mais comum em
suicídios, entretanto nada impede ocorrer acidentes, ou até mesmo
homicídio. A morte pode ocorrer por oclusão da traquéia, por
compressão dos vasos do pescoço, por estimulação do pneumogástrico,
por inibição nervosa ou por herniação bulba.

Modo de Execução:
Deve-se considerar: a natureza e disposição do laço, o ponto de
inserção superior e o ponto de suspensão do corpo.

O laço que aperta do pescoço pode ser de várias naturezas; e podemos


classificá-los de acordo com sua consistência: os chamados laços
moles, constituídos por lençóis, cortinas e gravatas; os chamados laços
duros, constituídos por cordões, cordas, e fios de arame; e os chamados
semirrígidos, como os cintos de couro. Sua disposição é sempre em
torno do pescoço, sendo mais frequente a presença de uma única volta,
porém existem casos onde são encontradas várias voltas. A posição é
sempre na parte posterior ou lateral e, muito raramente o nó pode
assumir uma posição anterior do pescoço.

São múltiplos os locais que servem como ponto de apoio para prender
o laço, desde telhados, ramos de árvores, trinco de portas, entre outros.

Chama-se de suspensão típica ou completa aquela em que o corpo


fica totalmente sem tocar em qualquer ponto de apoio; e suspensão
atípica ou incompleta, quando se apoia parcialmente os pés,
joelhos, ou qualquer outra parte do corpo.

Evolução:
As lesões por enforcamento dependerão da gravidade, que podem ser
classificadas como lesão local ou à distância, que determinará a
velocidade da morte por enforcamento.

De acordo a evolução da lesão surgem fenômenos apresentados


durante o enforcamento:

· Período Inicial – Começa com o corpo, abandonado e sob ação de


seu próprio peso, levando a constrição do pescoço, zumbidos,
sensações luminosas na vista, sensação de calor e perda da consciência
produzida pela interrupção da circulação cerebral.

·Período intermediário – Caracteriza-se por convulsões e excitação


do corpo proveniente dos fenômenos respiratórios, pela
impossibilidade de entrada e saída de ar, diminuindo o oxigênio
(hipoxemia) e aumentando o gás carbônico (hipercapnéia). Associa-se
a esses fenômenos a pressão do feixe vásculo-nervoso do pescoço,
comprimindo o nervo vago.

Período final: Surgem sinais de morte aparente ate o aparecimento


da morte real, com cessação da respiração da circulação.

Fenômenos da sobrevivência:Existem casos de pessoas que ao


serem retiradas ainda com vida, morrem depois sem voltar à
consciência devido ao grande sofrimento cerebral. Ou ainda que,
mesmo recobrando a consciência, tornam-se fatais algum tempo
depois. Por fim existem os que sobrevivem acompanhados de uma ou
outra desordem. Tais manifestações podem ser locais ou gerais:

Locais: O sulco, tumefeito e violáceo, escoriando ou lesando


profundamente a pelé. Dor, afasia e disfagia relativas à compressão dos
órgãos cervicais e congestão dos pulmões.

Gerais: São referentes aos fenômenos asfíxicos e circulatórios,


levando, às vezes, ao coma, amnésia, perturbações psíquicas, ligadas a
confusão mental e à depressão; paralisia da bexiga, do reto e da uretra.
Tempo necessário para morte no enforcamento: Será variável
de indivíduo para indivíduo. A morte pode ser rápida, por inibição, ou
demorar cerca de 5 a 10 minutos.

Aspecto do cadáver: A posição da cabeça se mostra voltada para o


lado contrário do nó, tocando o tórax. A face pode apresentar-se branca
ou arroxeada (variando de acordo com o grau de compressão vascular),
e equimoses palpebrais. Pode se verificar a presença de líquido ou
sangue pela boca e narinas. A língua é cianótica e sempre projetada
além das arcadas dentárias e os olhos protusos. No enforcamento
completo, os membros inferiores estão suspensos e os superiores,
colados ao corpo, com os punhos cerrados mais ou menos fortemente.
Na forma incompleta os membros assumem as mais variadas posições.

A rigidez cadavérica é mais tardia no enforcamento. As manchas de


hipóstase se apresentam na metade inferior do corpo com maior
intensidade nas extremidades dos membros, surgindo também
equimoses post mortem. Devido ao tempo de suspensão e a fluidez do
sangue, podem-se observar as áreas manchas de hipóstases as
chamadas púrpurashipostásticas, as quais podem ser confundidas com
petéquias hemorrágicas.

Sinais Externos: A maior evidência está no sulco do pescoço, de


suma importância no diagnóstico do enforcamento. Estão presentes em
todos os casos, exceto nas suspensões de curta duração, nos laços
excessivamente moles ou quando é introduzido, entre o laço e o
pescoço, um corpo mole. Na maioria das vezes, sulco é único, podendo,
no entanto, apresentar-se duplo, triplo ou múltiplo quando esse laço
envolve várias vezes o pescoço. O sulco situa-se na posição superior do
pescoço, mais alta do que o ponto onde fixou primeiro laço, para depois
deslizar até o ponto de apoio da cabeça, dirigindo em sentido do nó,
obliquamente, de baixo para cima e de diante para trás (sulco típico).
Quanto mais delgado o laço mais profundo o sulco, levando-se em
consideração, ainda, o tempo de permanência do corpo sob a ação do
laço.

Sinais encontrados nos sulcos dos enforcados:


·Sinal de Thoinot: zona violácea ao nível das bordas do sulco.

·Sinal de Ponsold: livores cadavéricos em placas, por cima e por


baixo das bordas do sulco.

·Sinal de Neyding: infiltrações hemorrágicas punctiformes ao fundo


do sulco.

·Sinal de Azevedo-Neves: livores punctiformes por cima e por baixo


das bordas do sulco.

·Sinal de Bonnet: marca de trama no laço

·Sinal de Ambroise Paré: pelé enrugada e escoriada no fundo do


sulco.

·Sinal de Lesser: vesículas sanguinolentas no fundo do sulco.

·Sinal de Schulz: borda superior do sulco saliente e violácea.

Não confundir o sulco dos enforcados com o sulco natural do pescoço


das crianças, com sulcos produzidos pela gravata, com os sulcos
patológicos, com o sulco dos adultos obesos e com os sulcos artificiais
causados pelo laço das gravatas apertadas.

Sinais Internos:

Os sinais internos existem em grande número, e podem ser divididos


em:

1) Sinais Locais

·Lesões dos vasos: incidem sobre as artérias. Excepcionalmente


podem incidir sobre as veias. O Sinal de Amussat, constituído da
secção transversal da túnica íntima da artéria carótida, é comum nas
proximidades de sua bifurcação. Essas roturas podem ser únicas ou
múltiplas, superficiais ou profundas, visíveis a olho nu ou não. São
mais encontradas nos laços finos e duros. O referido sinal é mais
encontrado na artéria do lado oposto do nó.

·Lesões na parte profundada pelé e da tela subcutânea do


pescoço: caracterizada por sufusões hemorrágicas da parte profunda
da pelé e da tela subcutânea. Essas alterações são mais frequentes e
intensas no lado contrário ao nó.

·Lesões da coluna vertebral: nos casos de queda brusca do corpo,


podem surgir fraturas ou luxações de vértebras cervicais.

·Lesões do aparelho laríngeo:fratura das cartilagens tireóide e


cricóide, e fratura do osso hióide.

2) Sinais a Distância

São encontrados das asfixias em geral, como congestão polivisceral,


sangue fluido e escuro, pulmões distendidos, equimoses viscerais e
espuma sanguinolenta na traquéia e nos brônquios.

Mecanismos da morte por enforcamento:

Morte por asfixia mecânica: naturalmente, é levado a pensar que a


ação do laço no pescoço interrompe a passagem de ar respirável aos
pulmões. Porém existem argumentos que fogem a esse princípio:

1) Nos cadáveres enforcados, nem sempre se encontram as lesões


típicas de asfixia;

2) A constrição do laço não se manifesta exatamente sobre a traquéia e


a laringe, e sim muito mais acima.

3) Certas observações experimentais demonstram que mesmo os


animais traqueostomizados e, por conseguinte, com passagem de ar
livre, morrem invariavelmente por enforcamento. Então pensamos que
se o indivíduo morre por asfixia mecânica no enforcamento, não é
precisamente por constrição da laringe e da traquéia, e sim por outro
mecanismo de asfixia, como obstrução das vias respiratórias pelo
rechaçamento da base da língua para cima e para trás, por ação do
próprio laço sobre a parede posterior da laringe.

Morte por obstrução da circulação: Interrupção da circulação


venosa pela constrição do laço no pescoço contribui apenas no
fenômeno da constrição da face. Sem dúvidas o mais importante é a
obstrução da passagem de sangue arterial pelas carótidas, acarretando
em perturbações cerebrais pela anóxia.

Morte por inibição devido à compressão dos elementos


nervosos do pescoço: O laço exerce pressão sobre o feixe vásculo-
nervoso do pescoço. Principalmente o nervo vago. Isso de demonstra
basicamente nos casos de sobrevivência nos quais se manifestam sinais
laríngeos ou manifestações cardíacas e respiratórias observadas pela
compressão daquele nervo ou dos seios carotídeos.

Estrangulamento:

No estrangulamento, a morte se dá pela constrição do pescoço por um


laço acionado por uma força estranha, obstruindo a passagem de ar aos
pulmões, interrompendo a circulação do sangue ao encéfalo e
comprimindo os nervos do pescoço. Nesse tipo de morte, ao contrario
do enforcamento, o corpo da vitima atua passivamente e a força
constritiva do laço age de forma ativa.

O acidente e o suicídio nesta modalidade são raríssimos. Mais comum


é o estrangulamento-homicidio, principalmente quando a vítima é
inferior em forças ou é tomada de surpresa. Constitui uma forma não
muito rara de infanticídio.

Sintomatologia: No estrangulamento, os sintomas são variados


conforme a sua maneira: lenta, violenta ou contínua. Normalmente, o
estrangulamento passa por três períodos: resistência, perda da
consciência e convulsões, asfixia e morte aparente. Depois, surge a
morte real.

Sinais:

A) Sinais externos:

1) Aspecto da face e do pescoço: A face no estrangulamento


geralmente se mostra tumefeita e violácea devido à obstrução quase
sempre completa da circulação venosa e arterial; os lábios e as orelhas
arroxeados, podendo surgir espuma rósea ou sanguinolenta das
narinas e boca. A língua se projeta alem das arcadas dentarias e é
extremamente escura. Dos meatos acústicos externos, poderá fluir
sangue. Equimoses de pequenas dimensões na face, nas conjuntivas,
pescoço e face anterior do tórax.

2) Sulco: Quanto mais consistente e duro for o laço, mais constante é


o sulco. Pode ser único, duplo ou múltiplo. A direção é diferente do
enforcamento, pois se apresenta no sentido horizontal, podendo, no
entanto, ser ascendente ou descendente, como nos casos de homicídio,
em que o agente puxa o laço para trás e para cima. Sua profundidade é
uniforme e não há descontinuidade, podendo verificar-se a
superposição do sulco onde a parte do laço se cruza. As bordas são
cianóticas e elevadas, e o leito é deprimido e apergaminhado.
Geralmente o sulco está situado por baixo da cartilagem tireóide. Não é
raro se encontrarem nas proximidades do sulco do estrangulamento
rastros ou estrias ungueais.

B) Sinais internos:

Lesões nos planos profundos do pescoço:

a)Infiltração hemorrágica dos tecidos moles do pescoço: A


tela subcutânea e a musculatura subjacente ao sulco apresentam-se
infiltradas por sangue. Essas lesões, quando se trata de
estrangulamento, pelo fato de o laço imprimir força de mesma
intensidade em torno do pescoço e agir em sentido horizontal,
apresentam a mesma distribuição e altura em todo o perímetro nos
planos internos do pescoço.

b) Lesões da laringe:Podem acarretar lesões nas cartilagens tireóide


e cricóide e no osso hióide.

c) Lesões à distância:Estão representadas pelos sinais clássicos de


asfixia vistos no estudo geral sobre o tema.

d) Lesões das artérias carótidas: Manifestadas


macroscopicamente quase sempre em ambos os lados, na túnica
íntima, pelos sinais de Amussat e Lesser (roturas transversais) e, na
túnica adventícia, pelos sinais de Friedberg (infiltração hemorrágica) e
de Étienne Martin (rotura transversal). Pelas mesmas razoes alegadas
para os tecidos moles do pescoço, essas lesões arteriais têm, em quase
todas às vezes, a mesma intensidade e se colocam numa mesma altura.

Fisiopatologia: Na morte por estrangulamento, três são os fatores


que interferem:

1.Compressão dos vasos do pescoço: Compromete mais


intensamente as veias jugulares que as artérias carótidas, e estas
menos que as artérias vertebrais, fazendo com que o sangue do
segmento cefálico fique bloqueado.

2.Compressão dos nervos do pescoço: tem influência mais


decisiva na morte por estrangulamento, cujo mecanismo mais bem
explicado é a inibição.

3.Asfixia:Resulta da interrupção da passagem do ar atmosférico ate os


pulmões pela constrição do pescoço comprimindo a laringe. Na morte
por estrangulamento, a asfixia é mais decisiva que no enforcamento,
principalmente devido à posição do laço. Experiências demonstram
que a traquéia se oblitera com uma pressão de 25kg.
Enforcamento

Estrangulamento

Força

para cima

variável

Sulco

acima da laringe

alto

interrompido no nó

pergaminhado

profundidade variável

direção oblíqua ascendente

sobre o laringe

baixo

contínuo

não pergaminhado - escoriado

profundidade uniforme

direção horizontal
Violência

sem outros sinais

sinais de violência

Fraturas

laringe

hióide

lig. Intervertebrais

raras

Cianose

bloqueio carotídeo

menos comum

sem bloqueio carotídeo

cianose cérvico-facial

congestão meníngica

congestão cerebral

equimose palpebral

equimose conjuntival

Esganadura:
É um tipo de asfixia mecânica que se verifica pela constrição do
pescoço pelas mãos, ao obstruir a passagem do ar atmosférico pelas
vias respiratórias até os pulmões. É sempre homicida, sendo
impossível a forma suicida ou acidental.

Sintomatologia: Pela própria dinâmica da esganadura, é difícil


precisar exatamente os períodos e o tempo decorrido nestes tipos de
morte, que tanto pode ser por asfixia, como por inibição, devido à
compressão dos elementos nervosos do pescoço. A esganadura vem
sempre acompanhada de outras lesões, principalmente as traumáticas,
provenientes de outras agressões como ferimentos na região posterior
da cabeça, equimoses em redor da boca, escoriações nas mãos e nos
antebraços, todas elas decorrentes da luta e, por isso, chamadas de
lesões de defesa.

Fisiopatologia: Na esganadura, interferem, principalmente no


mecanismo de morte, a asfixia e os fenômenos decorrentes da
compressão nervosa do pescoço. A obliteração vascular é interesse
insignificante. Aqui, tudo faz crer que a asfixia é o principal elemento
responsável pelo êxito letal.

Conclusão
Entender a profundidade e complexidade por trás de cada detalhe que
passaria despercebido pela maioria das pessoas torna a figura do
médico-legista ainda mais essencial na sociedade.

No presente trabalho, inegável alegar que a asfixia pode ser


considerada um dos processos mais importantes do ponto de vista da
medicina legal.

Desta forma, foi possível compreender cada fase que o organismo


passa nos diferentes tipos de anóxia e, desta forma, encaixá-la em um
dos processos mecânicos de asfixia, sejam as produzidas por
confinamento, monóxido de carbono, sufocação, soterramento,
afogamento, enforcamento, estrangulamento e esganadura.
Assim, as diversas interpretações são absolutamente fundamentais
para esclarecer duvidas e chegar a diversas conclusões essenciais não
só legalmente, mas também socialmente, trazendo inclusive
esclarecimentos e conforto à família das vítimas, bem como
possibilitando traçar o caminho para se chegar até o suspeito do crime.

Bibliografia

FRANÇA, Genival Veloso. Medicina legal. 7 ed. Rio de Janeiro:


Guanabara koogan, 2004, págs. 116-134.

[1] FRANÇA, Genival Veloso. Medicina Legal (em português). Rio de


Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.

Disponível em: https://marianareina.jusbrasil.com.br/artigos/151861493/as-asfixias-mecanicas-


ou-medico-legais

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