Você está na página 1de 12

IAGO M.

ALMEIDA – MEDICINA – UFBA – TURMA 255 1

Asfixias mecânicas
Literalmente, asfixia significa “sem pulso”. A expressão • Anoxia de ventilação ou anóxica
científica mais correta seria anoxemia (ausência de oxigênio ➢ quando a concentração de oxigênio ↓ no
no sangue) ou hipoxemia (pouco oxigênio no sangue), ar ambiente e a hemoglobina do sangue
porém, se admitirmos em sentido amplo, o termo “asfixia” arterial atinge baixos níveis de
assume igual proporção. concentração;
➢ quando se verifica uma compressão
Asfixia, sob o ponto de vista médico-legal, é a síndrome mecânica das vias respiratórias (são as
caracterizada pelos efeitos da ausência ou baixíssima asfixias de maior interesse médico-legal);
concentração do oxigênio no ar respirável por impedimento ➢ quando há alterações na dinâmica
mecânico de causa fortuita, violenta e externa em respiratória (compressão do tórax,
circunstâncias as mais variadas. Ou a perturbação oriunda da pneumotórax, derrames pleurais,
privação, completa ou incompleta, rápida ou lenta, externa paralisias diafragmáticas, fratura múltipla
ou interna, do oxigênio. de costelas e comprometimento dos
músculos respiratórios → eletricidade,
Assim, na asfixia, consome-se o oxigênio presente nos
drogas, tétano, epilepsia, crucificação)
pulmões e acumula-se o gás carbônico que se vai formando.
➢ quando há dificuldades nas trocas gasosas
Finalmente, fica claro que as expressões hipoxemia e
alveolares (edema agudo do pulmão,
anoxemia seriam mais adequadas; no entanto, a tradição
silicoses e esclerose pulmonar)
consagrou asfixia como o termo mais usado.
• Anoxia anêmica,
FISIOPATOLOGIA E SINTOMATOLOGIA ➢ ↓ da capacidade de oxigenação do sangue
➢ diminuição qualitativa e/ou quantitativa
É necessário entender que, na respiração normal, exige-se da hemoglobina, p.ex.: e intoxicação pelo
um ambiente externo que contenha ar respirável, com CO ou de venenos, anemias crônicas ou nas
oxigênio em quantidade aproximada de 21%. orifícios e vias grandes hemorragias.
respiratórias permeáveis, elasticidade do tórax, expansão • Anoxia de circulação e de estase
pulmonar, circulação sanguínea normal, volume circulatório ➢ ↓Da chega de sangue oxigenado nos
em quantidade e qualidade suficientes para transportar capilares. P. ex.: Insuficiência circulatória
oxigênio aos tecidos e pressão atmosférica compatível com periférica, embolia das artérias
a fisiologia respiratória. pulmonares, coarctação da aorta.
• Anoxia tissular ou hitotóxica
Quando, no ar atmosférico, o oxigênio atinge 7%, surgem
➢ Mecanismos tóxicos que impedem o
distúrbios relativamente graves, sobrevindo a morte, se essa
aproveitamento do oxigênio pelos tecidos.
taxa é em torno de 3 %, ou se esse ar respirável contém
P.ex.: ↓ da tensão diferencial
grande concentração de gases irrespiráveis ou tóxicos.
arteriovenosa de O2 ou inibição de enzimas
• Normal: 21% oxidantes celulares como nos casos de
intoxicação pelo ácido cianídrico e/ou pelo
• Distúrbios graves: 7%
hidrogênio sulfurado.
• Morte 3% ou grande concentração de gases tóxicos.
Hoje já se sabe que na evolução das asfixias podem ocorrer
Desta forma, pode-se afirmar que nas síndromes
dois tipos de anoxias:
hipoxêmicas existem causas externas ou internas. As asfixias
mecânicas têm como causa mais frequente o obstáculo nas 1. Com acapneia (falta O2 sem acúmulo de CO2)
trocas gasosas pulmonares devido a causas externas. Há, no a. ↑FR, sangue +alcalino, transtornos
entanto, situações em que as dificuldades de oxigenação dos psíquicos, sensoriais e motores (marcha
tecidos não estão no aparelho respiratório, mas em outros do ébrio) e hiper-reflexia.
locais do organismo, nos tecidos, sangue ou nervos, sendo b. Depois a respiração vai ↓ até surgirem o
nestes casos uma asfixia de causa interna. ↑ da pressão arterial e a ↓dos batimentos
do pulso. Seguem-se os espasmos
De acordo com a parte do processo respiratório acometida,
musculares, convulsões e inconsciência.
podemos classificar as anoxias em:
IAGO M. ALMEIDA – MEDICINA – UFBA – TURMA 255 2

c. Em seguida, surgem depressão dos CARACTERÍSTICAS DAS ASFIXIAS MECÂNICAS


centros nervosos, parada da respiração,
EM GERAL
colapso vascular e vasodilatação profunda,
relaxamento muscular, arreflexia e morte SINAIS EXTERNOS
aparente durante três minutos, até
sobrevir a morte. • Manchas de hipóstase →São precoces, abundantes
2. Com hipercapneia (↓O2 com ↑CO2) e de tonalidade escura, variando essa tonalidade
a. observam-se efeitos diferentes da anoxia (rósea se por monóxido de carbono);
com acapneia em sua fase inicial, embora • Congestão da face → Sinal mais constante,
nos seus momentos finais as alterações e alcançando maior frequência em tipos especiais de
os transtornos sejam semelhantes. asfixias, principalmente na compressão torácica,
Principalmente no que se refere à dando em consequência a máscara equimótica da
taquicardia e à pressão arterial e às face (máscara equimótica de Morestin ou
convulsões tônico-clônicas provenientes cianosecervicofacial de Le Dentut)
da ação excitadora do gás carbônico.
Nesta forma de asfixia, consome-se o
oxigênio existente nos pulmões e no
sangue, ao mesmo tempo em que o CO2
progressivamente se acumula.

No primeiro caso se enquadram as asfixias mecânicas e no


segundo o mal das alturas ou mal das montanhas.

CRONOGRAMA E FASES CLÍNICAS NAS ASFIXIAS


MECÂNICAS
• Equimoses da pele e das mucosas → Na pele, são
arredondadas e de pequenas dimensões, formando
1ª FASE (FASE CEREBRAL)
agrupamentos em determinadas regiões (face,
• Enjoos, vertigem, sensação de angústia e lipotimias. tórax e pescoço), tonalidade mais escura nas partes
• 1min e ½ perda do conhecimento e bradipneia de declive. As equimoses das mucosas são
• Duração 1 a 2min encontradas mais frequentemente na conjuntiva
palpebral e ocular, nos lábios e, mais raramente, na
2ª FASE (FASE DE EXCITAÇÃO CORTICAL E MEDULAR ) mucosa nasal.

• Convulsões generalizadas e contrações dos


músculos respiratórios e da face,
• Relaxamento dos esfíncteres (fezes e urina)
• Bradicardia e ↑PA

3ª FASE (FASE RESPIRATÓRIA)


• Lentidão e superficialidade dos movimentos
respiratórios,
• Insuficiência ventricular direita
• Duração 1 a 2min;

Essas equimoses são muito importantes para o diagnóstico


4ª FASE (FASE CARDÍACA); post mortem da asfixia mecânica, mesmo que elas possam
• Sofrimento miocárdico (batimentos lentos, surgir em outras formas de morte, como, por exemplo, na
arrítmicos e quase imperceptíveis ao pulso), insuficiência cardíaca aguda, embolia pulmonar, transtorno
embora possam persistir por algum tempo até a da coagulação sanguínea, entre outras.
parada ventricular em diástole e somente as
• Fenômenos cadavéricos
aurículas continuam com alguma contração, mas
➢ os livores de decúbito são mais extensos,
sem conseguir bombear.
mais escuros e mais precoces;
• Duração 3 a 5min.
IAGO M. ALMEIDA – MEDICINA – UFBA – TURMA 255 3

➢ o esfriamento do cadáver se verifica em C. Transformação do meio gasoso em meio liquido


proporção mais lenta; (afogamento);
➢ a rigidez cadavérica, mesmo sendo mais D. Transformação do meio gasoso em meio sólido ou
lenta, mostra-se intensa e prolongada; e pulverulento (soterramento)
➢ a putrefação é muito mais precoce e mais
acelerada que nas demais causas de ASFIXIAS COMPLEXAS
morte.
Constrição das vias respiratórias com anoxemia e excesso de
• Cogumelo de espuma → bola de finas bolhas de
gás carbônico, interrupção da circulação cerebral e inibição
espuma que cobre a boca e as narinas e se continua
por compressão dos elementos nervosos do pescoço
pelas vias respiratórias inferiores. É mais comum
nos afogados, mas pode surgir em outras formas A. Constrição passiva do pescoço exercida pelo peso
de asfixias mecânicas, no edema agudo do pulmão do corpo (enforcamento);
e nos casos de morte precedida de grandes B. Constrição ativa do pescoço exercida pela força
convulsões. muscular (estrangulamento);
• Projeção da língua e exoftalmia → comum das
asfixias, mas cadáveres putrefeitos na fase gasosa ASFIXIAS MISTAS
também podem ter.
São as que se confundem e se superpõem, em graus
SINAIS INTERNO variados, aos fenômenos circulatórios, respiratórios e
nervosos (esganadura).
• Equimoses viscerais → Manchas de tardieu.
Tonalidade violácea. Comuns na infância e ASFIXIAS
adolescência e, mais raras no adulto e velho.
ASFIXIA POR CONFI NAMENTO

O confinamento é um tipo de asfixia mecânico-pura,


caracterizado pela permanência de um ou mais indivíduos
em um ambiente restrito ou fechado, sem condições de
renovação do ar respirável, sendo consumido o oxigênio
pouco a pouco e o gás carbônico acumulado
gradativamente.
• Aspecto do sangue → escuro e líquido, não se
Teoria química → acumulo CO2 e ↓ O2
encontrando no coração os coágulos cruóricos
(negros) e fibrinosso (brancos) Teoria física → ↑ temperatura e da saturação de vapores de
• Congestão visceral → Fígado e mesentério são os H2O.
que mais apresenta congestão, sendo que o baço
costuma mostrar pouco sangue devido às suas Pode ser acidental, homicida ou suicida.
contrações durante a asfixia.
→podem ser vistas algumas lesões produzidas em ações
• Distensão e edema dos pulmões.
desesperadas da vítima, como escoriações do pescoço,
ferimentos da face, lesões de defesa, desgastes das unhas e
CLASSIFICAÇÃO MEDCO-LEGAL
erosão das extremidades dos dedos.
ASFIXIAS PURAS
ASFIXIA POR MONÓXIDO DE CARBONO
Manifestadas pela anoxemia e hipercapenia
A ação do monóxido de carbono (CO) fixando-se na
A. Asfixia em ambientes por gases irrespiráveis hemoglobina dos glóbulos vermelhos, impedindo o
a. Confinamento transporte do oxigênio aos diversos tecidos, levando, em
b. Asfixia por monóxido de carbono consequência, a um tipo especial de asfixia por
c. Asfixia por outros vícios de ambientes caboxiemoglobinemia. É uma asfixia tissular.
B. Obstrução à penetração do ar nas vias respiratórias:
→Encontram-se vários sinais de grande valor, tais como
a. Sufocação direta (obstrução da boca e das
rigidez cadavérica mais tardia, pouco intensa e de menor
narinas pelas mãos ou das vias
duração, tonalidade rósea da face (“como de vida”),
respiratórias mais inferiores);
manchas de hipóstases claras, pulmões e demais órgãos de
b. Sufocação indireta (compressão do tórax)
IAGO M. ALMEIDA – MEDICINA – UFBA – TURMA 255 4

tom carmim, sangue fluido e róseo, putrefação tardia e, →Nos casos de morte por gás lacrimogêneo, o exame
finalmente, os comemorativos da morte. histopatológico pode evidenciar necrose da mucosa
respiratória e edema do pulmão, e, principalmente, o exame
O monóxido de carbono poderá ser pesquisado por meio de toxicológico tem importância considerável pela
reações químicas especiais, permitindo-se a dosagem e possibilidade da evidência do tipo do composto químico
coeficientes de saturação, tendo-se, porém, o cuidado de utilizado nesse tipo de gás.
obter o sangue nas cavidades cardíacas ou em outras
vísceras, pois a morte poderá ter-se verificado em situações SUFOCAÇÃO DIRETA
diferentes e o corpo ter sido colocado em um ambiente em
que exista um gás.
POR OCLUSÃO DA BOCA E DAS FOSSAS NASAIS
• Testes para determinação de CO2: Quase sempre de caráter criminoso e há necessidade de
➢ prova de Katayama acentuada desproporção de forças entre a vítima e o agente.
➢ prova de Liebmann É uma prática muito comum no infanticídio, com a ajuda das
➢ prova de Kunckel e Weltzel mãos que comprimem a face do recém-nascido, ou sob o
➢ prova de Stockis travesseiro, e por meio de uso de papel molhado sobre a
➢ espectroscopia. face.
▪ O processo consiste em levar-se o
sangue ao espectroscópio,
POR OCLUSÃO DAS VIAS RESPIRATÓRIAS
observando-se duas faixas
escuras: carboxihemoglobina e Acontece na obstrução dos condutos aéreos por corpos
hemoglobina oxicarbonada. estranhos, impedindo a passagem do ar até os pulmões. É
mais frequente nos acidentes, mais rara no suicídio e mais
difícil no homicídio.
ABSORÇÃO POST MORTEM DO M ONÓXIDO DE
CARBONO
Existem casos registrados na literatura médico-legal de
O monóxido de carbono pode penetrar no sangue depois da asfixia por obstrução mecânica das vias respiratórias
morte, e isso deverá ser levado em conta para afastar decorrente da aspiração de goma de mascar. Não é rara,
possíveis causas de erro. Para prevenir-se, basta recolher o também, a morte nessa circunstância por aspiração de
sangue do coração, dos grandes vasos ou das vísceras. corpos estranhos os mais variados, até de porções
alimentares que penetram na laringe, matando por asfixia,
ASFIXIA POR OUTROS VÍCIOS DE AMBIENTES principalmente, crianças.

A morte por asfixia também pode advir em ambientes Acrescentem-se ainda a aspiração de vômitos dos
saturados por outros gases, tais como os de iluminação, de debilitados, a obstrução por prótese dentária e a “queda da
esgoto e de fossas, de pântano e, principalmente, por língua” nos vitimados por descarga elétrica, por crises
agentes irritantes, como gás de pimenta e gás lacrimogêneo. epilépticas ou nos comatosos.

Spray de pimenta → Na maioria das vezes essa substância →Sinais cadavéricos


causa danos superficiais nas conjuntivas, sensação de
intenso ardor em olhos, nariz e boca e uma sensação de • Sinais locais:
náuseas e vômito, sintomas esses que podem desaparecer ➢ marcas ungueais em redor dos orifícios
dentro de uma hora. nasais da boca nos casos de sufocação
pelas mãos, faltando, no entanto, quando
Gás lacrimogênio → dentro do conjunto dos “agentes o agressor usa objetos moles
irritantes”, é uma denominação comum dada a todo agente ➢ lesões da mucosa labial pelo traumatismo
químico capaz de causar uma incapacidade temporária desta sobre os dentes.
através do efeito irritativo sobre os olhos (daí o termo ➢ o corpo estranho causador de sufocação
lacrimogêneo) ou do sistema respiratório, também utilizado na árvore respiratória.
para dispersar grupos contestadores ou em situação de • Sinais de asfixia: Os clássicos já descritos
motim. Entre esses compostos, os mais comuns são o
• Sinais específicos: O corpo estranho obstruindo
brometo de benzilo e o gás CS (clorobenzilideno
malononitrilo). Tido como não letal por sua baixa toxicidade
e por ter efeito passageiro, tem no entanto contribuído para
danos como náuseas e vômitos e, em casos mais raros, até a
morte.
IAGO M. ALMEIDA – MEDICINA – UFBA – TURMA 255 5

SUFOCAÇÃO INDIRETA suicida, sendo a situação mais frequente o desmoronamento


ou o desabamento.
A compressão, em grau suficiente, do tórax e abdome
impede os movimentos respiratórios, levando, em O diagnóstico se faz pelo estudo dos comemorativos e do
consequência, à asfixia. É sempre acidental ou criminosa. local, pela presença de substâncias estranhas, sólidas ou
semissólidas, principalmente pulverulentas, no interior das
LESÕES ANATOMOPATOLÓGICAS vias respiratórias, na boca, no esôfago e estômago e, ainda,
pelos sinais gerais de asfixia.
Em alguns casos, surgem lesões no esqueleto torácico e nas
vísceras, sendo as manifestações de asfixia inaparentes. A presença desse material estranho nas
vias respiratórias e digestivas é do mais alto
→ Um dos sinais mais importantes é a máscara equimótica valor no diagnóstico, porque depende
da face, também conhecida como congestão cefalocervical essencialmente do ato vital de respiração e
ou máscara equimótica de Morestin. deglutição, não podendo, portanto,
introduzirem-se tais substâncias post
mortem.

AFOGAMENTO

Afogamento é um tipo de asfixia mecânica, produzido pela


penetração de um meio líquido ou semilíquido nas vias
respiratórias, impedindo a passagem do ar até os pulmões.

→Os pulmões se mostram distendidos (sinal de Valentin), O termo “submersão”, largamente usado, não é correto, em
congestos, com sufusões hemorrágicas subpleurais. O fígado virtude de fornecer uma ideia de morte por imersão
é congesto e o sangue do coração, escuro e fluido. completa do corpo, sendo que basta que os orifícios
respiratórios estejam em contato com líquido.
SUFOCAÇÃO POSICIONAL
Pode ser acidental, suicida ou homicida.
Alguns autores chamam a atenção para uma forma de asfixia
mecânica produzida pela posição em que o indivíduo se
FISIOPATOLOGIA E MECANISMO DE MORTE
encontra no momento da morte, capaz de impedir ou
dificultar seriamente a ventilação pulmonar, após a A morte por afogamento geralmente passa por três fases ou
instauração da fadiga e da falência muscular respiratória. períodos: fase de defesa, fase de resistência e fase de
Um dos exemplos desse quadro seria a “crucificação” ou o exaustão.
posicionamento demorado do indivíduo de “cabeça para
A primeira fase tem dois períodos: o de surpresa e o de
baixo”.
dispneia. A segunda fase está representada pela parada dos
Diferem-se pela ausência das lesões traumáticas que se movimentos respiratórios como mecanismo de defesa. A
verificam na compressão do tórax ou do abdome. terceira fase é na qual termina a resistência pela exaustão e
começa uma inspiração profunda, iniciando-se o processo de
O mecanismo de morte seria a fadiga aguda dos músculos da asfixia com perda de consciência, insensibilidade (às vezes,
respiração, seguida de apneia e anoxia. Favorecem tais convulsões) e morte.
ocorrências a embriaguez, a debilitação e a idade avançada.
Há, no entanto, casos em que o indivíduo, ao tocar na água,
Para seu diagnóstico, deve-se levar em conta o fato de o morre por inibição, constituindo os afogados brancos de
cadáver ser encontrado em uma posição que dificulte ou Parrot, ou afogados secos, necessitando, para isso, de uma
inviabilize a ventilação pulmonar, de o indivíduo não poder predisposição constitucional, lesões cardiovasculares
livrar-se daquela posição, de serem evidenciados os sinais agravadas pela ação térmica ou nos estados tímico-
gerais de asfixia e, também, de se excluir de outras causas linfáticos. Nessa modalidade de afogamento, não se
de morte violenta ou por antecedentes patológicos. encontra nenhum sinal de asfixia.

SOTERRAMENTO O afogamento verdadeiro dos afogados úmidos ou afogados


azuis é caracterizado pela penetração de líquidos nas vias
É uma forma de asfixia mecânica motivada por obstrução respiratórias e asfixia consequente, pode variar em dois
das vias respiratórias por terra ou substâncias pulverulentas. grupos:
É, na sua maioria, acidental e, muito raramente, homicida ou
IAGO M. ALMEIDA – MEDICINA – UFBA – TURMA 255 6

1. forma rápida: o indivíduo submerge rapidamente, ➢ Cogumelo de espuma → de tonalidade


permanecendo no interior da água, sucedendo-se branca ou rósea sobre boca e narina,
as fases de asfixia em um período de +/- 5 min. estendendo-se o líquido até a trqueia e os
2. forma lenta: neste tipo de afogamento, a vítima brônquios. Sal formação depende da
luta, reage, vai ao fundo, retorna à superfície várias entrada de agua no interior das VA.
vezes, morrendo depois de grande resistência.

Água doce vs salgada

Nos casos de afogamento em água doce, que é hipotônica


em relação ao plasma, ela é absorvida rapidamente nos
alvéolos passando para a circulação pulmonar e provocando
hemodiluição e hipervolemia. Quando o afogamento é em ➢ Erosão dos dedos e presença de corpos
água salgada, que é hipertônica em relação ao plasma, estranhos sob as unhas → erosão por se
ocorre de forma diferente, pois o líquido ocupa os alvéolos debater e grãos de areia ou lama sob as
aumentando em muito a osmolaridade do sangue, que atrai unhas.
a água das vias respiratórias para a circulação pulmonar, ➢ Equimoses da face das conjuntivas
provocando hipovolemia, hemoconcentração e edema ➢ Manchas verdes de putrefação
pulmonar. ➢ Lesões post mortem produzidas por
animais aquáticos
Crianças
➢ Embebidação cadavérica → dificulta a
Em crianças, principalmente, pode ocorrer uma situação em desidratação, inclusive alterando a rigidez
que o ritmo cardíaco diminui muito, a pressão arterial baixa cadavérica.
sensivelmente, o consumo de oxigênio é diminuído, o ➢ Dentes e unhas róseos.
metabolismo é lento, há presença de bradicardia, assistolia • Sinais internos
e fibrilação ventricular e, de forma paradoxal, mantêm-se ➢ Presença de líquido nas vias respiratórias
em sobrevivência por alguns minutos, podendo, inclusive ➢ Presença de corpos estranhos nos líquidos
recuperar-se integralmente ou com sequelas. Isso se deve, das vias respiratórias dos afogados
segundo alguns, ao chamado “reflexo mamário” que (afogados em latrinas, lamas, etc.);
consiste no espasmo da glote, desenvolvido mais ➢ Alterações e lesões pulmonares
intensamente na vida intrauterina e entre os recém nascidos ▪ Pulmões aumentados, pesados,
e lactentes, desaparecendo gradualmente na idade infantil. crepitantes e distendidos, com
enfisema aquoso (sinal de
Brouardel) e equimoses
SINAIS DO AFOGADO
subpleurais;
• Externos → São provenientes, em quase sua ➢ Diluição do sangue
totalidade, da permanência do cadáver dentro da ➢ Presença de líquidos no sistema digestivo
água e dos sinais vitais do corpo dentro da massa → conteúdo espumoso formando três
líquida: camadas a superior, espumosa; a
➢ Temperatura baixa da pele; intradérmica, aquosa e a inferior sólida
➢ Pele anserina (pele de galinha) → (Sinal de Wydler)
contração dos músculos eretores dos ➢ Presença de líquidos no ouvido médio
pelos; ➢ Presença de líquidos nas cavidades
➢ Retração do mamilo, do saco escrotal e do pleurais.
pênis; ▪ Pouco valor em cadáveres
➢ Maceração da epiderme (principalmente putrefeitos em virtude da difusão
nas mãos); post mortem.
➢ Aumento do coração
▪ ↑VF por hipervolemia e ↑
resistência vascular pulmonar
➢ Hemorragias intramusculares (Sinal de
Niles)
➢ Hemorragia etimoidal (Sinal de Vargas-
Alvarado)
IAGO M. ALMEIDA – MEDICINA – UFBA – TURMA 255 7

Estes últimos sinais perdem seu valor quando existe também natural ou violenta estão presentes e facilmente
traumatismo craniano. reconhecidos.

LABORATÓRIO CAUAS JURÍDICA


Primeiro, nos casos de cadáveres putrefeitos ou de Homicídio, suicídio ou acidente.
desconhecidos, no sentido de facultar uma identificação.
Depois, os chamados exames específicos, com o propósito CRONOLOGIA
de diagnosticar o próprio afogamento, do tipo de líquido e,
Com aproximadamente 1 mês após a morte, o cadáver
quando possível, também, o local onde se verificou o
começa a apresentar a pele pardacenta ou amarelada,
afogamento.
apergaminhada, rugosa e friável. Em torno do terceiro mês,
Não entendi muito bem essa parte podem ser encontradas sobre a pele pequenas crostas
arredondadas de sais calcários.

PUTREFAÇÃO E FLUTUAÇÃO DOS AFOGADOS


LOCAL DO AFOGAMENTO
O cadáver retirado da água sofre, com o ar atmosférico, uma
aceleração do fenômeno putrefativo. Isto se deve também à Essa é outra questão importante no estudo dos afogados,
posição do corpo submerso com a cabeça mais baixa que os pois nem sempre o local de onde é retirado o cadáver
pés. Essa posição contribui para uma congestão acentuada corresponde ao lugar onde se verificou o afogamento. Isso,
do segmento cefálico, iniciando a putrefação com o é claro, depende muito da marcha putrefativa do cadáver,
aparecimento da mancha verde na face ou nas proximidades da temperatura da água e das correntes aquáticas,
da região esternal. superficiais ou profundas.

Em uma primeira fase, em virtude de a densidade do corpo Para chegar-se a tal diagnóstico, é necessário o estudo
ser sempre maior que a do líquido de submersão, a geológico e do plâncton por levantamento microscópico ou
tendência do cadáver é ir para o fundo, contribuindo, ainda, através de cultura, nos diversos locais ou etapas de um lago
a maior ou menor quantidade de líquido ingerida. ou de um rio.

Em uma segunda fase, com o aparecimento dos gases da ENFORCAMENTO


putrefação, o cadáver flutuará, pois verificam-se o aumento
O enforcamento é uma modalidade de asfixia mecânica que
do volume do corpo, a permanência relativa do peso e a
se caracteriza pela interrupção do ar atmosférico até as vias
consequente diminuição da sua densidade.
respiratórias, em decorrência da constrição do pescoço por
Em geral, flutua com 24 h após a morte ou até 5 dias, a não um laço fixo, agindo o peso do próprio corpo da vítima como
ser que algo estranho possa ocorrer, como a destruição força ativa. É mais comum nos suicídios, podendo, no
rápida das partes moles por animais da fauna aquática, ou entanto, ter como etiologia o acidente, o homicídio e a
que o cadáver fique preso no fundo da água. No mar, ele execução judicial.
flutua mais cedo, em virtude do maior peso específico da
água salgada. MODO DE EXECUÇÃO
Há certas formas de enforcamento, como no suicídio e no
DIAGNÓSTICO DE CERTEZA DO AFOGAMENTO suplício, que seguem uma orientação mais ou menos
Há três eventualidades no afogamento que se tornam, determinada, devendo-se considerar: a natureza e
muitas vezes, importantes em um estudo médico-legal: se a disposição do laço, o ponto de inserção superior e o ponto
morte foi verdadeiramente por afogamento típico, se foi de suspensão do corpo.
natural ou violenta, estando o indivíduo dentro da água ou
O nó pode faltar, tomando a forma de alças. Poderá ser
se o cadáver foi colocado no meio líquido para simular um
corrediço, ou simplesmente fixo. Sua situação é sempre
afogamento. Por isso, o diagnóstico não pode ser feito
posterior ou lateral e, muito raramente, na porção anterior
apenas através do exame externo do cadáver.
do pescoço.
Quando a morte verificou-se há pouco tempo da perícia e
Chama-se de suspensão típica ou completa aquela em que
não há sinais de putrefação avançada, o verdadeiro
o corpo fica totalmente sem tocar em qualquer ponto de
diagnóstico não se constitui em uma tarefa mais complicada,
apoio: e suspensão atípica ou incompleta, se é apoiado
pois todos os sinais de afogamento ou de outra morte
pelos pés, joelhos ou outra parte qualquer do corpo.
IAGO M. ALMEIDA – MEDICINA – UFBA – TURMA 255 8

EVOLUÇÃO TEMPO NECESSÁRIO PARA A MORTE NO


ENFORCAMENTO
A morte por enforcamento pode surgir rápida ou
tardiamente, dependendo se as lesões foram locais ou a A morte poderá ser rápida, por inibição, ou demorar cerca
distância. de 5 a 10 min, conforme observações em enforcamentos
judiciais.
Na evolução do enforcamento, estudaremos os seguintes
fenômenos:
LESÕES ANATOMOPATOLÓGICAS
FENÔMENOS APRESENTADOS DURANTE O Na morte por enforcamento, a ação do laço sobre o pescoço
ENFORCAMENTO nos permite estudar: aspecto do cadáver, sinais externos,
sinais internos, mecanismo da morte por enforcamento e
• Primeiro período:
casos atípicos.
➢ começa quando o corpo, abandonado e
sob a ação do seu próprio peso, leva, pela
ASPECTOS DO CADÁVER
constrição do pescoço, à sensação de
calor, zumbidos, sensações luminosas na • Posição da cabeça sempre se mostra voltada para o
vista e perda da consciência produzidos lado contrário do nós, fletida para diante, com o
pela interrupção da circulação cerebral mento tocando o tórax.
• Segundo período: • A face pode apresentar-se branca ou arroxeada;
➢ caracteriza-se pelas convulsões e • A língua é cianótica e sempre está projetada além
excitação do corpo provenientes dos das arcadas dentárias;
fenômenos respiratórios, pela • No enforcamento completo, os membros inferiores
impossibilidade de entrada e saída de ar, estão suspensos e os superiores, colados ao corpo,
diminuindo o oxigênio (hipoxemia) e com os punhos cerrados mais ou menos
aumentando o gás carbônico fortemente.
(hipercapnia). • Na forma incompleta, os membros assumem
➢ Associa-se a esses fenômenos a pressão do posições variadas.
feixe vasculonervoso do pescoço, • A rigidez cadavérica é mais tardia no enforcamento.
comprimindo o nervo vago • As manchas de hipóstase se apresentam na metade
➢ Terceiro período: Sugerem sinais de morte inferior do corpo com maior intensidade nas
aparente, até o aparecimento de morte extremidades dos membros superiores e inferiores,
real, com cessação da respiração e da em forma de luva, o que não se configura como
circulação. sinal de enforcamento, mas que o corpo ter ficou
suspenso por um tempo para fixar essas manchas.
FENÔMENOS DA SOBREVIVÊNCIA • púrpuras hipostáticas
Há alguns que, ao serem retirados ainda com vida, morrem
depois sem voltar à consciência devido ao grande sofrimento SINAIS EXTERNOS
cerebral pela anoxia. Existem outros casos que, mesmo A sua maior importância está no sulco do pescoço, de capital
recobrando a consciência, tornam-se fatais algum tempo valor no diagnóstico do enforcamento. Estão presentes em
depois. Finalmente, há os que sobrevivem acompanhados de todos os casos, a não ser excepcionalmente, como nas
uma ou de outra desordem. Essas manifestações podem ser suspensões de curta duração, nos laços excessivamente
locais ou gerais: moles ou quando é introduzido, entre o laço e o pescoço, um
corpo mole.
• locais: o sulco, tumefeito e violáceo, escoriando ou
lesando profundamente a pele. Dor, afasia disfagia Em casos de múltiplos fios, o sulco principal situa-se na
relativas à compressão dos órgãos cervicais e posição superior do pescoço deslizando-se até o ponto de
congestão dos pulmões apoio com a mandíbula, dirigindo-se no sentido do nó,
• Gerais: são referentes aos fenômenos asfíxicos e obliquamente, de baixo para cima e de frente para trás. O(s)
circulatórios, levando, às vezes, ao coma, amnésia, outro(s) fica(m) mais abaixo, é(são) de menor intensidade,
perturbações psíquicas ligadas à confusão mental e não apresentando maior profundidade ou intensidade
à depressão; paralisia da bexiga, do reto e da uretra. porque é(são) produzido(s) pelo chamado “laço fraco”.
IAGO M. ALMEIDA – MEDICINA – UFBA – TURMA 255 9

▪ há a sufusão hemorrágica da
túnica externa da carótida
comum – sinal de Friedberg
➢ Lesões do aparelho laríngeo;
➢ Lesões da coluna vertebral
• Sinais dos planos profundos do pescoço (apud
Bonnet)
➢ Musculares
▪ infiltração hemorrágica nos
músculos cervicais (sinal de
Hoffmann-Haberda)
Sinais encontrados nos sulcos de enforcados:
▪ ruptura transversal, e hemorragia
• Sinal de Ponsold: livores cadavéricos, em placas, do músculo tiro-hióideo (sinal de
por cima e por baixo das bordas do sulco Lesser)
➢ Cartilagens e ossos
• Sinal de Thoinot: zona violácea ao nível das bordas
▪ hioide – fratura do corpo (sinal de
do sulco
Morgagni-Valsalva-Orfila-
• Sinal de Azevedo-Neves: livores punctiformes por
Röemmer)
cima e por baixo das bordas do sulco
▪ tireoide – fratura das apófises
• Sinal de Neyding: infiltrações hemorrágicas
superiores (sinal de Hoffmann);
punctiformes no fundo do sulco
▪ fratura do corpo (sinal deHelwig);
• Sinal de Ambroise Paré: pele enrugada e escoriada
▪ cricoide – fratura do corpo (sinal
no fundo do sulco
de Morgagni-Valsalva-Deprez)
• Sinal de Lesser: vesículas sanguinolentas no fundo
➢ ligamentos:
do sulco
▪ rupturas dos ligamentos
• Sinal de Bonnet: marcas de trama do laço
cricóideo e tireóideo (sinal de
• Sinal de Schulz: borda superior do sulco saliente e
Bonnet)
violácea.
➢ Vasculares
▪ carótida comum – ruptura da
SINAIS INTERNOS
túnica íntima em sentido
São em grande número, podendo ser divididos em sinais transversal abaixo da bifurcação
locais e a distância. (sinal de Amussat-Divergie-
Hoffmann);
• Sinais locais
▪ infiltração hemorrágica da túnica
➢ lesões da parte profunda da pele e da tela
adventícia (sinal de Friedberg);
subcutânea do pescoço.
▪ carótidas internas e externas –
▪ Caracterizadas por sufusões
ruptura das túnicas adventícias
hemorrágicas da parte profunda
(sinal de Lesser);
da pele e da tela subcutânea.
▪ jugulares interna e externa –
Podendo surgir, ainda, rupturas e
ruptura da túnica interna (sinal de
infiltrações sanguíneas do tecido
Ziemke)
muscular (sinal de Martin) e
➢ neurológicos:
equimoses retrofaríngeas.
▪ ruptura da bainha mielínica do
➢ lesões dos vasos
nervo pneumogástrico ou vago
▪ Amussat descreveu um sinal, que
(sinal de Dotto)
tem o seu nome, constituído da
• Sinais a distância
secção transversal da túnica
➢ São aqueles encontrados nas asfixias em
íntima da artéria carótida comum
geral, como congestão polivisceral, sangue
nas proximidades de sua
fluido e escuro, pulmões distendidos,
bifurcação
equimoses viscerais e espuma
▪ O desgarramento da túnica
sanguinolenta na traqueia e nos
externa é conhecido pela
brônquios.
denominação de sinal de Étienne
Martin;
IAGO M. ALMEIDA – MEDICINA – UFBA – TURMA 255 10

MECANISMO DA MORTEPOR ENFORCAMENT O interrompendo a circulação do sangue ao encéfalo e


comprimindo os nervos do pescoço. Nesse tipo de morte, ao
Pela variação sintomática do enforcamento, acredita-se nas
contrário do enforcamento, o corpo da vítima atua
possibilidades variáveis do mecanismo de morte. Hoffmann
passivamente e a força constrictiva do laço age de forma
fundamenta a morte por enforcamento em três princípios:
ativa.
• morte por asfixia mecânica:
O acidente e o suicídio nesta modalidade são mais raros.
➢ A ação do laço no pescoço interrompe a
passagem do ar respirável até os pulmões. Mais comum é o estrangulamento-homicídio,
➢ Pontos contra: principalmente quando a vítima é inferior em forças ou é
▪ nem sempre se encontram, nos tomada de surpresa. Constitui uma forma, não muito rara,
cadáveres dos enforcados, as de infanticídio. Há também o estrangulamento-suplício,
lesões típicas de asfixias; utilizado pelo carrasco, nas sentenças por “garrote”.
▪ constrição do laço não se
manifesta exatamente sobre a
MODO DE EXECUÇÃO
traqueia e a laringe, e sim muito
mais acima; O estrangulamento é sempre executado com o auxílio de um
▪ certas observações laço, que pode ser mole (lenço, gravata), semiduro (cinto,
experimentais demonstram que corda) ou duro (arame, fio elétrico). Ele é acionado em redor
mesmo os animais do pescoço, em forma de alça, e movido pela força muscular
traqueotomizados e, por do autor, cuja constrição é em sentido transversal e alcança
conseguinte, com passagem livre toda a circunferência do pescoço.
do ar morrem invariavelmente
por enforcamento. SINTOMATOLOGIA
• morte por obstrução da circulação No estrangulamento, os sintomas são variados conforme a
➢ a interrupção da circulação venosa pela sua maneira: lenta, violenta ou contínua.
constrição do laço no pescoço contribui
apenas, para alguns autores, no fenômeno Normalmente, o estrangulamento passa pelos seguintes
da congestão da face. Mais importante é, períodos: resistência, perda da consciência e convulsões,
sem dúvida, a obstrução da passagem do asfixia e morte aparente. Depois, surge a morte real.
sangue arterial pelas carótidas,
acarretando perturbações cerebrais pela SINAIS
anoxia.
• morte por inibição devido à compressão dos SINAIS EXTERNOS
elementos nervosos do pescoço:
• aspecto da face e do pescoço:
➢ o laço exerce pressão sobre o feixe
➢ a face no estrangulamento geralmente se
vasculonervoso do pescoço,
mostra tumefeita e violácea devido à
principalmente no nervo vago.
obstrução quase sempre completa da
circulação venosa e arterial;
CASOS ATÍPICOS (ASFIXIA AUTOERÓTICA OU ➢ os lábios e as orelhas arroxeados, podendo
HIPOXIFILIA) surgir espuma rósea ou sanguinolenta das
A chamada asfixia autoerótica também denominada de narinas e boca.
hipoxifilia, cuja finalidade é se alcançar a excitação sexual ➢ A língua se projeta além das arcadas
pela privação da oxigenação, sendo na maioria das vezes dentárias e é extremamente escura.
promovida pelo enforcamento, e, mais raramente, pelo ➢ Dos meatos acústicos externos, poderá
estrangulamento ou pelo uso de bolsas de plástico sobre a fluir sangue.
cabeça. Alguns desses casos o indivíduo pode perder o ➢ Equimoses de pequenas dimensões na
controle e ocorrer a morte. face, nas conjuntivas, pescoço e face
anterior do tórax
ESTRANGULAMENTO • Sulco:
➢ quanto mais consistente e duro for o laço,
No estrangulamento, a morte se dá principalmente pela
mais constante é o sulco.
constrição do pescoço por um laço acionado por uma força
➢ Sua profundidade é uniforme e não há
estranha, obstruindo a passagem de ar aos pulmões,
descontinuidade, podendo verificar-se a
IAGO M. ALMEIDA – MEDICINA – UFBA – TURMA 255 11

superposição do sulco onde a parte do laço Em geral, a morte se dá por oclusão das vias respiratórias ou
se cruza. da obstrução da circulação das carótidas, por ação da prega
➢ Não é raro se encontrarem nas do cotovelo sobre a face lateral do pescoço. A morte pode
proximidades do sulco do ser também por inibição (reflexo laríngeo-pneumogástrico),
estrangulamento rastros ou estrias síndrome conhecida por “estrangulamento branco de
ungueais. Pode ser notado o sinal de Claude Bernard-Lacassagne”, em que, por vezes, pressões
Lesser (vesículas sanguinolentas no fundo menos significativas do pescoço podem resultar em parada
do sulco) cardíaca e em que não se encontram os sinais clássicos de
asfixia. Em tais ocorrências, o difícil é precisar o diagnóstico,
SINAIS INTERNOS pois os sinais encontrados não são tão evidentes quanto os
• Lesões dos planos profundos do pescoço deixados pelo laço no estrangulamento e no enforcamento
➢ infiltração hemorrágica dos tecidos moles ou pelos dedos na esganadura.
do pescoço
Pode ainda ocorrer a morte por estrangulamento onde se
➢ lesões da laringe → podem acarretar
usa a pressão de um objeto duro, como cassetete, bastão ou
lesões nas cartilagens tireóidea e cricóidea
outro objeto similar, sobre o pescoço, onde a perícia vai
e no osso hioide. Raros no suicídio.
encontrar significativas lesões externas (esquimoses e
➢ Lesões das artérias carótidas → bilateral;
escoriações) e lesões internas (infiltração hemorrágica dos
Sinal de Amussat (rupturas transversais);
tecidos moles e muito comumente fraturas dos anéis da
Friedberg (infiltração hemorrágica) e
traqueia e da laringe), principalmente na sua região anterior.
Étienne Martin (ruptura transversal).
• Lesões a distância → sinais clássicos de asfixia. ESGANADURA

Esganadura é um tipo de asfixia mecânica que se verifica


FISIOPATOLOGIA
pela constrição do pescoço pelas mãos, ao obstruir a
Na morte por estrangulamento, três são os fatores que passagem do ar atmosférico pelas vias respiratórias até os
interferem: pulmões. É sempre homicida, sendo impossível a forma
suicida ou acidental.
1. Asfixia:
a. Na morte por estrangulamento, a asfixia é
mais decisiva que no enforcamento, SINTOMATOLOGIA
principalmente devido à posição do laço. Devido a própria dinâmica da esganadura, é difícil precisar o
2. compressão dos vasos do pescoço: período e o tempo decorrido das mortes desta natureza, as
a. compromete mais intensamente as veias quais podem ocorrer por asfixia decorrente de compressão
jugulares que artérias carótidas, e estas dos elementos nervosos do pescoço. A esganadura vem
menos que as artérias vertebrais, fazendo sempre acompanhada de outras lesões, principalmente as
com que o sangue do segmento cefálico traumáticas, provenientes de outras agressões e ferimentos
fique bloqueado na região posterior da cabeça, equimoses em redor da boca,
3. Compressão dos nervos do pescoço escoriações nas mãos, nos antebraços e no tórax, todos eles
a. tem influência mais decisiva na morte por decorrentes das manobras de imobilização e, por isso,
estrangulamento, cujo mecanismo mais chamadas de lesões de contensão.
bem explicado é a inibição.

SINAIS
ESTRANGULAMENTO ANTIBRAQUIAL
Sinais externos a distância.
A experiência demonstra que, embora em situações não tão
raras, é possível o estrangulamento através da constrição do • Congestão da face, congestão das conjuntivas,
pescoço pela ação do braço e do antebraço sobre a laringe, equimoses punctiformes da face e do pescoço.
conhecida como “golpe de gravata”.
Sinais externos locais
Sob o ponto de vista médico-legal, além do diagnóstico de
morte por estrangulamento, é muito importante que se • Os mais importantes são as escoriações produzidas
teçam considerações fundamentadas no sentido de se pelas unhas do agressor, teoricamente de forma
estabelecer com critérios bem definidos a causa jurídica de semilunar, apergaminhadas, de tonalidade pardo-
morte: se por homicídio ou acidente. amarelada, conhecidas como estigmas ou marcas
ungueais. Podem também ter a forma de rastros
IAGO M. ALMEIDA – MEDICINA – UFBA – TURMA 255 12

escoriativos. Se o criminoso usou a mão direita,


aparecem essas marcas em maior quantidade no
lado esquerdo do pescoço da vítima

Sinais locais profundos

• infiltrações hemorrágicas das estruturas profundas


do pescoço
• lesões do aparelho laríngeo por fraturas de
cartilagens tireóidea e cricóidea e dos ossos
estiloide e hioide (mais frequentes que no
estrangulamento e no enforcamento)
• lesões dos vasos do pescoço (bem mais raras)

FISIOPATO
Na esganadura interferem, principalmente no mecanismo
de morte, a asfixia e os fenômenos decorrentes da
compressão nervosa do pescoço. A obliteração vascular é de
interesse menor. Assim, tudo indica que na asfixia mecânica
do tipo esganadura o mecanismo de morte é sempre por
anoxia-anóxica (falta de oxigênio no sangue que nutre o
tecido cerebral), por inibição reflexa (parada do coração por
inibição devido à pressão dos seios carotidianos) e, em
menor escala, por isquemia encefálica (necrose do tecido
cerebral, por falta de sangue arterial).

Você também pode gostar